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"Benedikt Otzen (2003, pp.178-185), apresenta quatro características fundamentais a respeito desta facção judaica: a separação do restante da população, a prática da propriedade comum, ascese, e o rompimento com o culto ao Templo (a instituição do Mestre da Justiça).

Na leitura de Josefo, podemos, segundo Otzen (2003, pp. 178-185), ter duas visões a respeito do essenismo. A primeira seria a de um movimento que representava o lado mais nobre do judaísmo, lado mais nobre que para Schurer (1995) seria o dos fariseus. Já a segunda vertente seria a de um movimento sincrético com elementos da religião/filosofia persa, babilônica e egípcia.

Ainda tendo como base Josefo, Otzen (2003) enumera como outras características essênias: o desdém ao casamento, ordem de ancianidade e uma proposta de shabbat mais severo do que o dos outros judeus. Ver a proposta dos essênios de um shabbat mais severo do que os dos outros grupos judeus seria indício que contraria a ideia do próprio Otzen do essenismo e suas relações com as culturas pagãs orientais.

Emil Schurer (1995) nos dá uma boa visão sobre o essenismo utilizando como fontes Josefo, Philo e Plínio. Tratou, primeiro, de descrever a sociedade essênia como uma “ordem monástica” bem estruturada e hierarquizada, que pregava o seguimento mais estrito da lei mosaica, sem com isso deixar de acrescentar as interpretações de seus pais. Além disso, Schurer (1995), com base em Antiguidades Judaicas XVIII I, 22, estima que existia na Palestina um número de 4000 membros da comunidade essênia. Era característica essênia, ainda, a crença na imortalidade da alma, que sofreria as benesses ou o sofrimento eterno no outro (SCHURER, 1995). Esta crença os aproximava dos fariseus.

Compartilhamos da ideia de Emil Schurer de que a Comunidade de Qumrãn representava uma ramificação mais radical dos essênios. Segundo Schurer (1995, p.583), esta seria a corrente mais aceita uma vez que as descobertas mostram Qumrãn como um dos estabelecimentos essênios, e sua ocupação teria sido feita na mesma época de formação do grupo essênio, ou seja, entre o reinado de Jonatas e a Primeira Revolta contra os romanos. Por fim, sua vida comum descrita pelos manuscritos do Mar Morto seria muito próxima daquilo que os essênios pregavam.

A respeito do essenismo, Schurer (1995, p.568) ainda nos diz que era um movimento que não estava limitado ao deserto, sendo seus membros considerados mestres da moralidade. A luxúria, sob o ponto de vista essênio, era a corrupção do corpo e da alma, algo que deveria ser de todo o modo evitado. Assim, a saída para o deserto seria uma atitude mais exemplar do que segregacionista, e representava a não coadunação daqueles judeus ao processo de cooptação estrangeira das elites judaicas em Jerusalém.

Schurer (1995, p. 572) ainda afirma que os essênios seguiam as leis mosaicas de forma tão ou mais estrita que os fariseus, além de codificarem algumas tradições orais. Lembremos que foram os fariseus que receberam a fama de serem os mais puros e os mais estritos seguidores da lei mosaica. Tal comparação pode ser feita em relação à comunidade judaica de Jerusalém, visto que os essênios, apesar de não se concentrarem em Jerusalém, também eram vistos como seguidores estritos da Lei. Entretanto, conforme visto em Antiguidades Judaicas XVIII, I não mandavam as oferendas ao Templo de Jerusalém como deveriam ser enviadas e não respeitavam o Sumo sacerdócio. Tais atos podem ter contribuído para o aumento de prestígio dos fariseus como a facção que seguia a lei mosaica da forma mais estrita.

Assim como Schurer, John P. Meier (2004, p. 207) também considera os qumranitas como uma ramificação dos essênios, e traça a escatologia qumranita como uma característica importante desta facção. Tal escatologia essênia/qumranita era baseada na ideia de que no fim do mundo haveria a batalha entre os filhos da luz (qumranitas) e os filhos das trevas (restante da população), na qual os primeiros ganhariam para ascender ao reino dos céus. Dessa forma, concordamos com a posição de John Meier que indica que os essênios haviam rompido com os judeus que não os seguissem.

Meier (2004, p. 218) ainda enfatiza a atitude de oposição dos essênios/qumranitas em relação ao templo de Jerusalém. A separação ocorreu durante o reinado Hasmoneu, cuja dinastia não tinha direito legal ao Sumo sacerdócio, mas mesmo assim o assumiu. O Mestre-da-justiça, o líder essênio, seria, segundo Meier (2004), um Sumo sacerdote zadoqueu.

2º Os essênios faziam uma oposição aos judeus que não aceitaram seu modo de vida e àqueles que se submeteram às ordens de um Sumo sacerdócio não zadoquita.
3º. Apesar da oposição ao Sumo sacerdócio não zadoquita, enviavam as oferendas ao Templo, configurando uma posição dúbia em relação a um dos maiores símbolos do judaísmo.

Uma das questões que foram levantadas anteriormente foi a respeito do caráter judeu deste grupo. Em Ant. XVIII, 18-22 Josefo nos confirma o caráter judaico dos essênios. Desse modo, fica mais uma vez descartada a ideia de Otzen de que os essênios teriam características pagãs e orientais.

Ainda tendo como foco o caráter judeu dos essênios, Flavio Josefo, em Antiguidades Judaicas, XVIII, (18-22) aborda religiosamente este grupo, e os apresenta como judeus, pois “enviam votos de oferendas ao Templo”. Contudo, há uma oposição ao judaísmo que tem como base o Templo quando ele afirma “mas realizam seus sacrifícios empregando um ritual diferente de purificação”. Neste caso, percebemos que os essênios reafirmavam sua condição de judeus, ao mandar as oferendas, mas também se mostravam diferentes dos outros judeus, visto que enviavam oferendas em desacordo com a normas. Desse modo, reafirmavam a sua discordância em relação a um templo que consideravam impuro, não mais comandado por um zadokita.

Pelo exposto, podemos ver que os essênios apresentavam-se como contrários a qualquer governo que não fosse o de Deus, qualquer governo que não fosse o da linhagem dos Sumo sacerdotes que eles consideravam legítima, a dos zadokitas. Como o governo romano, obviamente, não era o que eles consideravam enviado por Deus, logo, não era legítimo. Desse modo, os essênios, por suas características, apresentavam-se como resistentes ao domínio romano. A resistência dos essênios aos romanos é fruto de contatos culturais, que levam a uma série de reações entre as culturas envolvidas.

Para Edward Said (1995), existem dois tipos de resistência. A resistência primária é um fenômeno físico, pois se incumbe da tarefa de defesa territorial, uma luta armada contra o agressor externo. Já na resistência secundária, segundo Said (1995), busca-se uma unidade cultural ampla dentro da comunidade invadida, fortalecendo, desse modo, os laços de união em relação à cultura invasora. Há de se contextualizar o estudo de Said dentro de sua preocupação em analisar o neo-colonialismo europeu, mesmo assim sua contribuição é muito importante para nossa pesquisa, pois dentro da conquista romana da Judeia, os judeus, mesmo fragmentados em facções distintas, tentam manter as práticas rituais que lhes permitiram manter o ideal de pertencimento ao judaísmo e a diferença em relação aos “outros”.

Portanto, a resistência essênia não foi direta aos romanos. Fundamentava-se no aspecto religioso e no fato de os romanos serem governantes estrangeiros. Tratava-se, na visão essênia, da não aprovação de um grupo, os romanos, que se apoderava do poder de forma irregular.

A saída de Jerusalém para o deserto, a não submissão às ordens vindas do Templo de Jerusalém e o envio de oferendas não condizentes com o templo, configuravam, em nosso entender, uma posição política dos essênios de não aceitação das ordens vindas de um governo que não consideravam como legítimo. Ao não aceitarem as ordens de um governo que viam como impuro, os essênios mantinham-se como a facção que seguiria de forma pura o judaísmo, ao mesmo tempo em que se posicionavam politicamente.

A característica dos essênios em se manter como os mais puros judeus, pode ser vista em Antiguidades Judaicas XVIII 18-22, na qual Josefo, a todo momento, tenta traçar os essênios como o grupo que gozava da mais alta reputação entre os judeus
18.”. Conforme Josefo apresenta em G.J. II 120-134 19, os essênios seriam únicos, pois eram portadores de uma “santidade peculiar”, e eram “campeões em fidelidade” além de se distinguirem por sua piedade e caridade.

Depreendemos do termo “santidade peculiar” uma crítica (mais uma) à sociedade judaica. Trata-se de uma passagem em que Josefo afirma que os essênios adotavam crianças para a reprodução de sua comunidade. Segundo G. J. II 120-121, os essênios escolhiam crianças, pois ainda eram pias e dóceis, e eram ensinadas de acordo com os princípios essênios. Elas eram retiradas de uma sociedade, que, segundo a facção, estava corrompida pelo poder e pela usurpação do Sumo sacerdócio. Por serem ainda muito novas, não corriam o risco de trazer consigo os males da sociedade judaica para dentro da comunidade dos essênios.

Pelo que foi exposto até aqui, os essênios caracterizavam-se pela oposição ao governo do Sumo sacerdote que estava no Templo de Jerusalém, e eram valorizados na sociedade judaica por seu apego à religião judaica. Assim, uma questão torna-se fulcral para nosso estudo. Haveria a possibilidade de aproximação entre romanos e essênios?

Partindo da perspectiva religiosa, não. Os essênios se retiraram e se opuseram à sociedade judaica de Jerusalém, adepta do judaísmo assim como eles, por não aceitarem um Sumo sacerdote que não fosse zadokita. Acreditavam que os judeus que não os seguissem estavam corrompidos. Além disso, como já foi frisado, eram considerados como “campeões de fidelidade ao judaísmo”, conforme vemos em G. J. II 134, sendo assim, seria muito difícil, senão impossível, uma maior interação com os romanos. De acordo com Josefo em G. J. II, 150-153, os essênios tinham que se lavar toda vez que tocassem em um membro júnior de sua comunidade ou em um estrangeiro, o que evidenciava com maior clareza a impossibilidade de contato entre os romanos e esta facção...

Politicamente, a relação entre romanos e essênios seria ainda mais complicada, pois se eles não aceitavam o Sumo sacerdote não zadokita, não aceitavam, em qualquer circunstância, um domínio estrangeiro. Sendo assim, seja um Sumo sacerdote não zadokita ou um governo estrangeiro, os essênios eram resistentes, e a saída para o deserto indicava essa posição política de oposição à qualquer governo que não fosse o de deus.

Um último ponto ainda seria importante, o econômico. Os essênios não faziam parte das elites judaicas, e a política romana de conquista visava à cooptação das elites nativas. Contudo, em G. J. II, 124 há uma indicação da extensão dos povoamentos essênios pela Palestina, além da já comentada reputação deste grupo para os judeus. Deste modo, concluímos que teria sido importante para os romanos formar alianças com os essênios.

Todavia, assim como a religião e, em menor grau, a política, as relações sócio econômicas essênias eram um empecilho para a aproximação romana. Em G. J. II 122-124. Nesta passagem notamos dois elementos importantes, a igualdade essênia de um lado, e a pobreza e a riqueza de outro: “os ricos, eles [os essênios] desprezam”; “você não encontrará [em um povoado essênio] pessoas distinguidas umas das outras pela riqueza”; “você não verá em lugar algum [em um povoado essênio] pobreza abjeta ou riqueza excessiva”. Com base nestas passagens notamos que os essênios não eram atraídos pelas riqueza material. Além disso, aparentavam, como indica a documentação, ser respeitados pelo restante da sociedade.

Desse modo, vemos que as vias de comunicação entre romanos e essênios estavam obstaculizadas pelo desapego dos últimos às coisas materiais, sua oposição à política judaica e por sua fidelidade ao judaísmo. Analisamos elementos característicos dos essênios que impediriam uma relação, um diálogo com os romanos quando da chegada destes, em 63 a.C. Neste contexto, afirmamos que qualquer tentativa romana de aproximação seria inócua tendo em vista o que apresentamos acima. O ideal de resistência já estava plantado nos essênios.”

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Fonte:
Jorwan Gama da Costa Junior: "Judaea Romana: negociação e resistência". (Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro – PPGHC/UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em História Comparada). Rio de Janeiro, 2010.

Nota:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.
Eduardo
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