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O que é gnosticismo

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O que é gnosticismo  CLAUDIO%2BJORGE%2BWILLER%2BUM%2BOBSCURO%2BENCANTO%2BGNOSE%252C%2BGNOSTICISMO%2BE%2BA%2BPOESIA%2BMODERNAO que é gnosticismo  Hd-tese-disserta%25C3%25A7%25C3%25B5es

O que é gnosticismoonhecimento gnóstico

"Mas, afinal, o que foi, ou o que é o gnosticismo? Em que consiste essa teologia negativa, conforme Bloom, com seu curioso universalismo capaz de suscitar o obscuro encanto observados por Borges? É possível circunscrevê-lo, especificar seu âmbito? Em caso positivo, trata-se de atitude, doutrina filosófica ou religião autônoma? Enfim, havendo um corpus gnóstico, uma doutrina estruturada, consegue-se descrevê-la? O crescimento da bibliografia sobre gnosticismo tem relação direta com a dificuldade em responder a essas perguntas e as controvérsias suscitadas por elas. Mas há consenso quanto a algumas de suas características. Para seus estudiosos e comentaristas, gnósticos procuraram enfrentar questões fundamentais. Seu ponto de partida, para Doresse, foi:

[...]
a consideração, por parte do indivíduo, de sua situação frente aos dados imediatos do mundo inferior: o que sou em realidade? onde estou? por que e como cheguei a este mundo, onde me sinto estranho, exilado? onde estava eu e quem era eu originalmente, em minha verdadeira identidade? como voltarei àquela situação inicial e renascerei para minha perfeição perdida? Ou, conforme uma das “escrituras” gnósticas, Zostrianos:

Como poderiam existentes derivados do eon (que consiste) de derivados de um espírito invisível, o qual é um auto-originado indiviso mesmo sendo três imagens não-geradas, ter uma fonte superior à realidade e existir anteriormente [a] todos [estes (seres espirituais)], mesmo embora estando [no mundo]? [...] De que maneira realidade, que não existe, foi manifestada com poder como existente
?

Um caminho para avançar na compreensão do gnosticismo, adotado por vários de seus estudiosos, começa pelo exame do sentido dos vocábulos “gnose”, “gnósticos” e “gnosticismo”. Layton, em sua coletânea de escritos gnósticos, refere-se a um grupo antigo que se autodenominava “Gnósticos” – pessoas aptas a ter conhecimento (gnõsis) de Deus. Esclarece que, sendo gnõsis uma palavra da linguagem comum em grego, o mesmo não ocorria com seu estranho derivado, gnõstikos. Mostra haver uma distinção entre conhecimento proposicional (o eidenai grego) e a familiaridade com um objeto ou pessoa, cujo substantivo grego é gnõsis, associando-o ao inglês acquaintance. Em outras palavras, distingue o saber do conhecer; e confere a este uma conotação de proximidade ou familiaridade. Adiante, identifica gnõsis a um entendimento não-discursivo.

Também Puech observa que gnosis é palavra transitiva, que supõe um genitivo. É sempre conhecimento de algo: daí seu uso pelo gnosticismo ser estranho. Sugere identidade com o divino, a esfera superior, os mistérios, e também consigo mesmo, com a própria alma, com a centelha de luz que permanece no ser humano:

O que é, com efeito, a gnose senão – como significa seu nome grego, gnosis – “conhecimento”, ou seja, conhecimento no sentido absoluto do termo, ou, mais precisamente, um conhecimento que é, em primeiro lugar, conhecimento simultâneo e recíproco de si mesmo em Deus e de Deus em si mesmo, que permite àquele que possui esse conhecimento, o “gnóstico”, salvar-se, assegurando-lhe que pode ser salvo, que o será e que inclusive já o é
?

Trata-se de um conhecimento que não apenas eleva, mas salva, permitindo que o adepto venha a livrar-se deste mundo; ou, em algumas variantes, que também venha a transformar o mundo. Para o Zostrianos, a pessoa que se salva é a que procura compreender e, assim, descobrir a si mesma e ao intelecto. Daí a abertura de O Evangelho Segundo Tomé, freqüentemente citada, e que equivale a uma regra ou princípio geral de todo esoterismo:
Estes são os ditos obscuros que Jesus vivente pronunciou e que Dídimo Judas Tomé escreveu. E ele disse: “Quem encontrar o sentido destes ditos não provará a morte”.
É possível observar, através dessas sinopses, uma diferença fundamental com relação à doutrina cristã: a salvação não é mais conseqüência das ações e da fé, mas do conhecimento. Como esclarece Jonas: o conceito gnóstico de salvação nada tem a ver com a remissão do pecado (o próprio “pecado” não tendo lugar na doutrina gnóstica, que coloca “ignorância” em seu lugar). Pagels sintetiza: para os gnósticos a ignorância e não o pecado é que acarreta o sofrimento humano.

Até onde se pretendia chegar através do conhecimento gnóstico pode ser constatado através deste trecho de O Trovão – Intelecto Perfeito, uma das “escrituras” encontradas em Nag Hammadi:

Sou eu o aceitável em todos os assuntos;
Sou eu o falar que não pode ser restringido.
Sou eu o nome da voz, e a voz do nome.
Sou eu o sentido do texto,
E a manifestação da distinção;
[...]

Uma passagem como essa interessaria ao estudioso de filosofia e de semiologia, pois se apresenta como superação da diferença entre o signo e o significado. É a palavra que não apenas designa, mas é a coisa nomeada; a palavra mágica, plena.

A superação da distinção entre ser e perceber, representação e objeto, em uma síntese do sujeito e das coisas, também é afirmada em O Evangelho Segundo Filipe:

As pessoas não podem ver coisa alguma no mundo real, a não ser que se tornem essa mesma coisa. No reino da verdade, não é como os seres humanos no mundo, que vêem o sol sem ser o sol, e vêem o céu e a terra e assim por diante sem ser eles. Antes, se você viu qualquer coisa lá, você se tornou aquela coisa: se você viu o ungido (Cristo), você se tornou o ungido (Cristo); se você viu o [pai, você] se tornará o pai. Assim [aqui] (no mundo) você vê tudo e não [vê] a si mesmo. Mas lá, você vê a si mesmo; pois você se torna o que você vê
.

Merecem exame as conseqüências da suposição de um conhecimento intransitivo. Conhecer supõe uma relação entre duas instâncias: o sujeito cognoscente e o objeto do conhecimento. O desaparecimento de um desses termos, de um objeto delimitado, coloca o outro, o sujeito, à beira de um abismo, ou de um solipsismo. O conhecimento de tudo, do infinito, equivale ao conhecimento de nada; do próprio Nada (expressamente, em Mallarmé; antes dele, em inumeráveis místicos); à anulação de quem conhece; ou da linguagem, destruída sua referência externa, seu objeto. Uma das saídas para o impasse foi adotada por Novalis e outros representantes do que Béguin chama de tradição do romantismo interior, ao identificar o conhecimento do sujeito ao conhecimento total. É o que já está nesta versão do “conhece-te a ti mesmo” de O Livro de Tomé Lutador Escrevendo para o Perfeito: Pois aqueles que não se conhecem a si mesmos não conheceram coisa alguma. Mas aqueles que somente se conheceram a si mesmos receberam também conhecimento das profundezas da totalidade.

A conquista gnóstica do conhecimento é uma reintegração. Conforme Puech,

Conhecer-se é, com efeito, reconhecer-se, reencontrar e recuperar o verdadeiro “eu”, anteriormente obnubilado pela ignorância e pela inconsciência a que a fusão com o corpo e a matéria submete o homem: a gnosis é em realidade uma epignosis, um “reconhecimento”, uma rememoração de si mesmo
.

A salvação associada ao conhecimento ou, antes, ao reconhecimento, corresponde a abandonar definitivamente este mundo, o reino da necessidade. Por isso, não há mais lugar para a ressurreição da carne, nem para o juízo final e a vida eterna da alma individual. Algumas “escrituras” gnósticas deixam claro que o Apocalipse já aconteceu, assim descartando o segundo advento de Jesus Cristo.

Daí, dessa idéia de reintegração através da fusão com o divino, o gnosticismo postular a consubstancialidade, conforme também observa Puech:

Este é o ponto capital da doutrina, já que supõe o reconhecimento de uma consubstancialidade entre Deus e as almas: estas não são senão fragmentos da substância divina, ou, o que vem a ser o mesmo, partículas de Deus caídas aqui embaixo, unidas ao corpo e à matéria e mescladas ao Mal.
A doutrina da consubstancialidade, ou uma das suas versões, tem relevância especial no gnosticismo. Em algumas variantes, especialmente no maniqueísmo, evolui para a idéia de uma espécie de parceria entre o homem, o mundo e Deus (como será examinado no Capítulo 6º): salvar-se, elevar-se e iluminar-se tem reflexos e conseqüências no restante do universo.”

---
Fonte:
CLAUDIO JORGE WILLER UM OBSCURO ENCANTO: “GNOSE, GNOSTICISMO E A POESIA MODERNA”. (Tese de Doutorado Área: Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa. ORIENTADOR: PROF. DR. BENJAMIN ABDALA JUNIOR). Universidade de São Paulo – USP. São Paulo, 2007.

Nota:
O título e a imagem inseridos no texto não se incluem na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.

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Escrito ou postado por: Iba Mendes 0 comentários O que é gnosticismo  Icon18_email O que é gnosticismo  Icon18_edit_allbkg
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Cristãos-novos: a questão onomástica


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Origens do antijudaísmo e da inquisição em portugal: a questão onomástica

"Há uma série de mitos a serem desfeitos.

Um dos mais freqüentes erros que muitos historiadores e genealogistas cometem é generalizar que os sobrenomes de origem animal ou vegetal têm por antepassado um cristão-novo. Sobrenomes como Carvalho, Lobo, Figueira, não necessariamente são de cristãos-novos e, da mesma forma, não se pode afirmar que alguém assinando sobrenomes como Noronha, Sousa, Menezes (das mais ilustres casas portuguesas) seja necessariamente nobre.

Outro erro freqüente é o de afirmar casamento entre primos é indício de prática de cristãos-novos, e que essa relação endogâmica seria por motivos econômicos para preservar o patrimônio. Era também freqüente entre cristãos-velhos, e a relação endogâmica é igualmente notada nas famílias mais desprovidas de recursos. Afinal, era mais simples entabular casamento entre pessoas conhecidas, do mesmo grupo familiar. Sobre essa matéria foram por mim vistos diversos processos de banhos no Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo, ali denominados “dispensa matrimonial”.

Por séculos, em Portugal, os judeus assinavam nomes hebraicos. Exemplos extaídos de livros que tratam dos judeus antes da conversão forçada: Meir de Illescas, Moisés Lubel, Jacob Cohen, Judas Sassan, Abraão Abet, Abraão Negro, Isaac Beirão, José Branco, Salomão Amado, David de Leão, Moisés Franco, Isaac Saragocim, Judas Alfaqui, José Amigo, Judas Abunete, Moisés Latam, Moisés Façam, David Negro, Jacob Celamim, Isaac Navarro, Moisés Caldeirão, Manuel Romão, Isaac Samaria, Esdras Benafaçom, Isaac Pinto, Isaac Zaboca, Abraão Boino, Aziel Valentim, Judas Navarro, Haim Navarro, Salomão de Illescas, Abraão Abeacar, Samuel Caro, Moisés Tobi, Moisés Toledano, Judas Toledano, Abraão Belecide, Guedelha Cidiz, José de Leiria, Jacob Galite, David Neemias, José Gabay, Moisés Faiam, Abraão Rico-homem, Faram Crescente, Isaac Penafiel, Salomão Faiam, Nacim Vivas, Guedelha Palaçano, José Abravanel, etc. Dos nomes citados, também eram freqüentemente utilizados pelos católicos os nomes José, David e Manuel. Vale enfatizar especialmente o nome David, que em geral é atribuído, exclusivamente, a cristãos-novos.

Quando se deu a conversão forçada em Portugal, em 1497, deu-se início a uma questão secular. Os judeus teriam que trocar de nome, obrigatoriamente.Aqui repito uma pergunta da Professora Anita: “Quais os sentimentos, as emoções experimentadas pelos judeus ao deixar sua identidade, carregada durante séculos e que os ligava como a uma corrente aos seus antepassados? Ao drama da conversão e ao capítulo da destruição do judaísmo ibérico é importante adicionar pesquisas sobre o impacto que deve ter sido para os judeus abandonar os antigos vínculos nominais. É compreensível que essa «mudança» não se tenha dado de um momento para outro e deve ter ocasionado forte traumatismo”.

Mas qual adotar? O nome hebraico é que não seria possível continuar a usar. Todos que se batizaram, ou foram batizados à força, tornando-se, assim, cristãos, tiveram que adotar nomes e sobrenomes tipicamente portugueses, sempre de cristãos velhos, abandonando os anteriores. A escolha recaía sobre algo que caracterizasse o convertido, ou pela sua origem geográfica, profissão, nome da propriedade, ou/e principalmente pela adoção do sobrenome do padrinho por ocasião do batismo. Como se deu, em todos os tempos, na formação de sobrenomes.

No primeiro momento, quando milhares de judeus tiveram que encontrar outros nomes e o batismo era feito de forma caótica e coletiva, é evidente os sobrenomes devem ter surgido de forma pouca pensada, e não é crível que tivessem adotado o do padrinho, uma vez que as “conversões” foram feitas às centenas ou milhares. Não há crônicas que tratam do caso e nem tampouco havia registros paroquiais, o que só ocorreria de forma sistemática após o Concílio de Trento (1545-1563).

Segundo estudo da Professora Anita Novinsky, que catalogou 1.819 nomes de cristãos-novos presos ou acusados de judaísmo, os sobrenomes mais comuns encontrados foram, em ordem decrescente: Nunes, Henriques, Mendes, Corrêa, Lopes, Costa, Gomes, Pereira, Cardoso, Silva, Fonseca, Paredes, Álvares, Miranda, Fernandes, Azeredo, Vale, Barros, Dias, Ximenes e Furtado. A maior parte desses sobrenomes, quase a metade, eram patronímicos, ou seja, ao menos etimologicamente indicavam filiação. Melhor explican-do, Henriques- filho de Henrique, Mendes- filho de Mendo, Lopes- filho de Lopo, Gomes- filho de Gomo, Álvares- filho de Álvaro, Fernandes- filho de Fernando, Dias- filho de Diogo, Ximenes- filho de Ximene. Todos os sobrenomes acima citados são comuns entre cristãos-velhos, do que não se extrai nenhuma conclusão. A não ser uma: que não havia regra alguma.

Como uma demonstração de boa vontade, conforme disposto nas Ordenações Filipinas, foi facultado o uso de apelidos de cristãos velhos aos que adotassem a fé cristã. Assim, no livro 4º, título XCII, trata-se das penas...

Dos que tomam insígnias de armas, e dom, ou apelidos, que lhes não pertencem.: E nenhuma pessoa tome apelido de fidalgo de solar conhecido, que tenha terras com jurisdição em nossos Reinos, não lhe pertencendo, nem vindo de tal linhagem, posto que seus pais assim se chamassem, se na verdade não lhes pertencia. E quem o fizer, perderá a fazenda, a metade para quem o acusar, e a outra para os cativos; e perderá todo o privilégio, que por sua linhagem e pessoa tiver, e ficará plebeu. Porém, os que novamente se converterem à nossa Santa Fé, poderão tomar e ter em suas vidas, e traspassar a seus filhos somente, os apelidos de quaisquer linhagens, que quiserem, sem pena alguma.
Sobre a adoção de nomes pelos cristãos-novos, há um outro aspecto a ser abordado. Entre quatro paredes, no âmago do lar, os nomes eram judaicos, tal qual sua seita. Eram identidades secretas. Em casa, religião e nome judaico. Fora de casa, religião cristã e nome português para não levantar suspeitas. Tão secretas que a Professora Anita Novinsky conta um caso assaz interessante. As crianças marranas eram informadas sobre os perigos que enfrentavam por serem descendentes de judeus ao se aproximarem dos 11 e 12 anos, e conheciam os diferentes apelidos usados pela família. Um caso bastante elucidativo deu-se na Bahia, quando, no Colégio dos Jesuítas o padre perguntou a um menino qual o seu nome. Ao que o menino respondeu: “Qual deles, o de dentro ou o de fora?”.

Pelo acima exposto pode-se concluir que não é possível afirmar que um sobrenome seja, na sua origem, cristão-velho ou cristão-novo. Se assim não fosse, os senhores inquisidores fariam menção desse particular em suas investigações. Não há, em centenas de processos, quiçá milhares, dos séculos XVI ao XVIII, do Santo Ofício, de ingresso ao Santo Ofício, às ordens militares, de genere, etc., que eu pesquisei, que essa matéria tenha sido aventada. Portanto, não há o menor sentido, duzentos anos depois, procurar elaborar uma tabela ou alinhavar uma lógica, se naquele tempo, com a Inquisição no encalço dos cristãos-novos, assim não pensavam.

Nomes cristãos-velhos e cristãos-novos passavam para o feminino, quando usado em mulheres, e as pessoas acrescentavam, subtraíam, ou simplesmente mudavam totalmente os apelidos. Isso não seria demonstração de ser cristão-novo, para fugir da Inquisição. Da mesma forma não é possível dizer que, pelo fato de uma família homenagear com mais freqüência certo nome de batismo, seria uma prática cristã-nova. Vê-se o mesmo entre famílias cristãs-velhas.

O fato é que nunca houve, naqueles tempos, regra alguma para a composição de um nome inteiro. Aliás, um nome inteiro era constituído de um nome recebido por ocasião do batismo, escolhido pelos pais, e que poderia ser trocado apenas por ocasião do crisma. O sobrenome era escolhido pela própria pessoa. O número de sobrenomes variava de acordo com o tamanho do lugar e da época. Era comum, e isso não era prática exclusiva de cristão-velho ou de cristão-novo, o de lembrar nomes de batismo e às vezes nomes inteiros, de antepassados, por vezes muito distante, como bisavós ou trisavós. Quando se atribui o nome de Estêvão Ribeiro Baião Parente para um povoador da vila de São Vicente em pleno século XVI, dá para desconfiar da sua veracidade. São Vicente, naquele tempo, não passava de uma vila com apenas algumas dezenas de pessoas. Quantos Estêvãos Ribeiros deveriam haver? Mais de um? Talvez pai e filho. Para esse caso bastaria diferenciá-los por “o velho” e “o moço”, como era costume.

O que há, e isso é óbvio, que determinadas famílias em certos lugares fossem conhecidas por serem cristãs-velhas ou cristãs-novas. De famílias cristãs-novas paulistas do século XVI, por exemplo, pode ser citada a família Mendes, de São Vicente. Mesmo assim, quantos outros Mendes poderia haver naquela vila, à mesma época? Há alguns ramos que, pesquisando em qualquer lugar do Brasil, especialmente antes do século XIX, sabe-se que pode ser oriundo de São Paulo. Bons exemplos são os Taques e os Camargos. Os Taques são estudados neste trabalho (vide em Fama de Famílias Paulistas serem cristãs-novas). A família Camargo, cujos membros arrotavam sangue cristão-velho, se espalho pelo Sul do país e por Minas Gerais, onde, de tantos que eram, e tão poderosos, eram chamados de Camargos, no plural, como agora alguns assinam.”

---
Fonte:
MARCELO MEIRA AMARAL BOGACIOVAS: "TRIBULAÇÕES DO POVO DE ISRAEL NA SÃO PAULO COLONIAL”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em História Social. Orientador: Profa. Dra. Anita Novinsky). São Paulo, 2006.
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