Acabei há momentos de ler o livro 'A Visão Apocalíptica e a Neutralização do Adventismo', do Pastor George Knight. A principal pergunta à qual se pretende dar resposta com este título é: como pode uma igreja perder a sua vivacidade, utilidade e relevância? O Pastor Knight desenvolve um raciocínio que descreve, de forma bem concreta, como, infelizmente, isso pode e está a acontecer na nossa querida igreja.

Já confessei que tenho refletido acerca daquilo que já quase se tornou um conceito: o adventismo moderno. Ora, se é moderno, é porque em algo é diferente daquele mais antigo, diria mesmo mais original. Sugeri que, nessa mudança de paradigma, poderemos até adaptar estratégias e métodos, mas não deveremos fazer o mesmo com o conteúdo da nossa mensagem, que deverá permanecer inalterável, sob risco de colocarmos em causa a nossa pregação distintiva e perdermos identidade, entre outros males consequentes. Este livro, trouxe-me ainda mais convicção acerca disso.

O Pr. Knight aborda alguns erros que legitimam o pensamento que podemos estar a perder relevância no mundo atual, tendo em conta a grande missão que nos foi atribuída. Chama-os pelo nome e apresenta soluções.

Ele defende que a maneira como temos apresentado a nossa pregação é muitas vezes desfocada do mais importante, do essencial. Por exemplo, enquanto o Apocalipse trata da revelação de Jesus, não é raro centrarmos a sua apresentação nas figuras das bestas, como se eles fossem o tema fulcral do livro. Ouro exemplo, poderia ser destacar os erros das outras religiões, descurando a apresentação da verdade bíblica como ela é, e que por si faria aquele trabalho.

Claro que todos os assuntos contidos na nossa mensagem continuam sendo fundamentais ainda hoje - o que, bem visto e acertadamente, é uma descredibilização total dos teóricos dos tempos modernos que fazem a tal adaptação da mensagem em função do ouvinte ou de eventuais reações do mesmo; tão somente, não devemos colocar a ênfase maior do nosso discurso onde a Bíblia não a coloca.

O Pr. Knight não tem qualquer problema em definir como confortável a situação de muitos que se acham no rol de membros da igreja; lamentavelmente, estão ali a cristalizar, sem qualquer tipo de produtividade (seja pessoal, ou de um ponto de vista missionário), e continuam agindo como se nada de errado se passasse.

O atual cenário mundial não passa despercebido nesta abordagem. Enquanto, quer o observemos ou andemos distraídos, se desenvolvem movimentos que culminarão nos eventos finais da história da Terra, os Adventistas devem renovar o seu compromisso e empenho na realização da tarefa para a qual foram chamados.

Mas o Pr. Knight sugere que, pelo contrário, ao lentamente se ir formatando a nossa mensagem à cultura que nos rodeia (quando deveria acontecer o oposto!), passado algum tempo ela perde o significado inicial, entrando num processo de declínio, e posterior decadência. Ou seja, perde o seu efeito, é neutralizada, torna-se estéril...

Também é tratada no livro a questão do justo equilíbrio. Sim, porque se por um lado não podemos continuar no nosso cantinho confortavelmente instalados, também não podemos sair para a rua em massa, com cartazes catastróficos anunciando que o mundo vai acabar em breve, talvez provocando nas pessoas primeiro choque, depois indiferença e até ridículo...

Também, não podemos substituir a nossa causa maior por outras que, sendo válidas, devem permanecer num papel secundário, como são as causas sociais ou humanas. O Pr. Knight identifica-as mais como resultado lógico de uma sincera conversão do que um objetivo em si.

Depois de fazer o diagnóstico, o autor não termina sem apontar o caminho a seguir: uma revitalização da (correta) visão apocalíptica, esse conceito que temos vindo a perder. No fundo, ele propõe um retorno às origens do Adventismo, salvaguardando o que fomos aprendendo ao longo do tempo. Na minha modesta opinião, o Pr. Knight está coberto de razão.

P.S.: agradeço ao irmão Marcello Flores, de S. Paulo, Brasil, pela gentileza de ter-me enviado o livro.

Comentário ao livro 'A Visão Apocalíptica e a Neutralização do Adventismo'