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C. S. Lewis é talvez um dos mais bem sucedidos apologistas cristãos de nosso tempo. Embora não seja um teólogo ou ministro, suas obras contêm profundos argumentos em prol da verdade das reivindicações cristãs e do significado da vida cristã. Todavia, ele abandonou a abordagem apologética do argumento teológico, após perder um debate público com a filósofa Elizabeth Anscombe, numa reunião do Oxford’s Socratic Club. Não que tenha “perdido na argumentação”, mas ele viu os limites do debate e dos argumentos em comparação às grandes idéias da vida espiritual. Lewis reconheceu que o debate é reducionista, que a disputa desperta os “vigilantes dragões” da defensividade, e que o significado nas rixas entre afirmação e contra-argumento.


Assim, o celebrado autor se voltou para a narrativa de histórias como um instrumento que comporta grandes verdades espirituais. Percebeu que contar histórias é muito útil para “roubar os vigilantes dragões do passado”, tais como o ceticismo, a defensividade despertada pelo debate e a familiaridade com as coisas religiosas que levam as pessoas a não considerá-las de modo sério.


A fim de despertar a imaginação de leitores para realidades eternas, Lewis usou a fantasia em As Crônicas de Nárnia. De modo semelhante, seu colega e amigo J.R.R.Tolkien experimentou uma história mística em O Senhor dos Anéis. Reconhecendo os limites dos argumentos lógicos como um dispositivo apologético para justificar a fé, eles fizeram um teste para ver se poderiam vencer os “vigilantes dragões” pelo uso de histórias. Lewis disse: “Eu escrivi contos de fadas porque parecia a forma ideal para o que eu tinha a dizer”. O que Lewis chama de contos de fadas e histórias de crianças pertencem ao gênero geral do romance e inclui formas literárias como mitos, fantasias, a busca por aventura e um convite para o leitor exercitar sua imaginação.


Lewis desempenhou um papel-chave na criação de Nárnia. Ele disse que todos os sete livros de Nárnia “começaram como imagens em minha cabeça” e escreveu: “O Leão teve início como uma imagem de um fauno carregando um guarda-chuva e pacotes por meio de um bosque nevado. Essa imagem estava em minha mente desde que eu tinha 16 anos de idade. Então, um dia, quando estava com 40 anos, disse a mim mesmo: ‘vamos tentar escrever uma história sobre isso’”.


Nossa cultura está inundada de imagens das mídias. Algumas delas contam uma história e outras obstruem ou poluem nossa mente e sociedade. Os filmes da Blockbuster, MTV, a mídia digital e o iPod subistituiram os livros e o debate como veículos para comunicar e persuadir. As antenas parabólicas ou as locadoras da esquina são a biblioteca que forma e expressa idéias modernas. Dificilmente podemos escapar à arremetida de histórias, música e imagem enviadas aos celulares ou transmitidas por monitores em aviões a 9.000 m de altura.


A mente pós-moderna prontamente digere essas imagens e com poucos filtros. Ela aceita a relatividade cultural e o poder da história e sua verdade pessoal, e rejeita a notação da verdade absoluta. Como resultado, a consagrada abordagem adventista para levar um descrente à conversão tem poder limitada de influência sobre a mente pós-moderna. Mas por meio de narrativas, a teologia adventista pode ser ocultada num cavalo de Tróia, colocado atrás das linhas inimigas. Comentando sobre uma de suas histórias de ficção, C.S.Lewis escreveu uma carta a um amigo: “qualquer volume de Teologia pode agora ser ‘contrabandeado’ para a mente das pessoas sob a cobertura de um romance, sem que elas se deem conta disso”.


O próprio Jesus costumava contar histórias para comunicar verdades reais e de grande significado. Por exemplo, considere a história do Bom Samaritano (Lucas 10:25-37).


Mediante essa história simples, Jesus ensinou às gerações seguintes o que significa buscar a vida eterna e a amar a Deus e ao próximo. Jesus poderia ter usado grandes argumentos teológicos desde a Criação até a Encarnação, do êxodo à restauração, de Moisés aos profetas, para provar que todos os seres humanos são iguais, que a vida eterna é dom de Deus e que o amor não conhece fronteiras. Mas Cristo escolheu desarmar Seus desafiadores contando uma história simples que ensinava essas grandes verdades, e capturava o coração e a imaginação das pessoas ao longo de história.


Isso não significa colocarmos de lado a necessidade de conhecimento bíblico. Temos que buscar a competência para interpretar corretamente as diferentes formas de literatura bíblica – salmos poéticos, registros históricos, depoimentos de testemunhas oculares, alegorias, exposição teológica etc. Para algumas pessoas, o método textual pode ainda funcionar para persuadi-las acerca das verdades eternas. Quando esse método não dá certo, você pode experimentar “roubar os vigilantes dragões do passado” por meio de narrativas. Mas para contar uma história envolvente, você tem de conhecer muito bem a história.


No último editorial, desafiei os leitores a serem críticos culturais. Esse não foi um chamado a se entregarem a uma monástica separação do mundo. Meu desafio, dessa vez, é para corajosa e criativamente redimir a cultura e influenciá-la pelo bom uso das ferramentas de comunicação e da mídia moderna.


BEARDSLEY, Lisa M. Comunique-se com a mente pós-moderna. Revista Diálogo Universitário. Vol. 21, 2009, pág. 3-4.


Fonte: Blog: Caros Timm
Eduardo
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