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04102010

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Universalismo

O universalismo mantém que todos os religiosos sinceros serão salvos. A maior parte dos universalistas cristãos vê isto como sendo efetuado por obra e mérito de Jesus. Embora haja muitas explicações diferentes sobre como isto ocorre, uma coisa é certa: no fim todos os não-evan-gelizados -- mesmo os que agora são rebeldes -- serão salvos. Uma minoria dos universalistas crê que Deus salvará todos a despeito de suas escolhas. Um número maior mantém que Deus continuará trabalhando com as pessoas até todas finalmente se convencerem de que o caminho de Deus é o melhor.

O universalismo foi advogado na igreja primitiva pelos escritos de Origens. Caiu em desfavor e foi reavivado depois da Reforma. Desde 1800 vem ganhando força tanto entre protestantes como católicos romanos. Parte desse desenvolvimento resulta da repulsa que muitos cristãos sentem ante a posição restritivista. Proponentes bem conhecidos do século 20 incluem biblicistas britânicos como William Barclay e John A. T. Robinson, bem como o teólogo norte-americano Paul Tillich.

Entre os textos favoritos dos universalistas se encontram I Timóteo 4:10, em que Paulo fala de Deus que é "Salvador de todos os homens"; Tito 2:11: "Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens"; e João 12:32, em que Jesus declara: "E Eu quando for levantado da Terra, atrairei todos a Mim mesmo."

A força da posição universalista é seu conceito de Deus. Um Ser divino que no final salva a todos pode ser visto como amoroso e longânimo.

Por outro lado, os universalistas, se tomarem a Bíblia seriamente, têm dificuldade em explicar por que Jesus manda Seus seguidores levar Sua mensagem de salvação "até os confins da Terra" (Atos 1:8) e fazer "discípulos de todas as nações" (Mateus 28:19). Por que testemunhar se todos, em toda parte, serão salvos afinal?

O texto é do Dr. Russell Shedd, escrito na Revista Enfoque:

"O ensinamento que afirma que todos os homens serão salvos pela misericórdia de Deus se chama “universalismo”. De modo crescente, o universalismo se insinua por declarações da Igreja Católica Romana, bem como alguns grupos e igrejas protestantes de linha mais liberal. Esta doutrina se mantém e se propaga pela força de dois tipos de argumentação. O primeiro, sendo teológico, apela para a razão e emoções humanas, enquanto o segundo se fundamenta em interpretações duvidosas de alguns trechos da Bíblia.

O nacionalismo judaico que dominava na época de Jesus abriu uma brecha extremamente estreita para prosélitos que renunciavam suas origens gentílicas e ingressavam dentro do povo de Deus por meio de batismo, circuncisão, sacrifício e compromisso com a Lei. Assim alcançariam o supremo benefício de ingressar no povo de Deus chamado Israel, mas não a garantia da salvação.

Os profetas do Antigo Testamento previam um tempo futuro em que o Messias viria, não apenas para trazer a salvação ao povo escolhido (Is 42.6; 49.6), mas também aos gentios. Não seria justamente a bênção que Deus deu a Abraão que se estenderia a todas as nações da terra por meio do seu descendente (Gn 12.3; Gl 3.16)? A Nova Aliança efetuada pela pessoa e obra de Jesus na cruz criou uma “raça eleita, sacerdócio real, nação santa e povo de propriedade exclusiva de Deus”, composta de judeus e gentios convertidos (1Pe 2.9).

De acordo com o Novo Testamento, a salvação de qualquer pessoa, judeu ou gentio, dependia da confissão que Jesus é Senhor (normalmente no batismo que marcava a morte e ressurreição com Cristo) e crer na ressurreição de Jesus (Rm 10.9). Todos que se arrependiam e criam eram incluídos nos salvos. A Grande Comissão que Jesus deu aos seus seguidores foi de fazer discípulos de todas as nações, batizando e ensinando-os a obedecer tudo que Jesus ensinou (Mt 28.19,20). Desta maneira, o universalismo dos profetas, no qual as nações subiriam ao monte do Senhor (Is 2.3), se cumpria no convite do Evangelho universal a todos que foram comprados para Deus pelo sangue de Jesus, os que procedem de toda tribo, língua e nação (Ap 5.9).

A doutrina ortodoxa enraizada no Novo Testamento que oferece a garantia da salvação a todos que se arrependem e crêem no Senhor Jesus não é o universalismo que ensina que todos os seres humanos serão aceitos por Deus e gozarão do benefício da morte de Jesus. O universalismo neste sentido foi condenado no Concílio de Constantinopla como uma heresia em 543 d.C. Reapareceu entre os mais extremados anabatistas, alguns Morávios e outros poucos grupos não ortodoxos. Schleiermacher, conhecido pai do liberalismo, abraçou esta posição, seguido por teólogos mais radicais como John A.T. Robinson, Paul Tillich, Rudolph Bultmann. Até o mais destacado teólogo do século 20, Karl Barth, não se posicionou contra esta esperança, mesmo sem se declarar abertamente a seu favor. Os evangélicos, porém, se opõem contundentemente a essa doutrina. Eles reconhecem no universalismo uma forma moderna da mentira de Satanás no jardim: “Certamente, não morrerás”.

“Atrairei todos a mim mesmo” (Jo 12.32). “Por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Rm 5.18). João diz que “Jesus Cristo é a luz que ilumina a todo homem” (Jo 1.9). Paulo afirma: “Porque assim como em Adão todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1Co 15.22). “A graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tito 2.11).

Mesmo que pareça convincente o argumento exegético, quem examinar mais profundamente encontrará boas razões para rejeitar a salvação universal. Considerar estes textos dentro do seu contexto mais amplo convencerá o intérprete não preconceituoso que os autores bíblicos não estão declarando a possibilidade de salvação sem fé no Senhor Jesus Cristo. Considere Hebreus 11.6 que diz que “sem fé é impossível agradar a Deus”.

O dualismo que divide toda a humanidade aparece em todo o Novo Testamento. O juiz tem sua pá na mão, limpará completamente a sua eira; “recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível” (Mt 3.11,12). Sem nascer de novo não há esperança de ver o Reino de Deus. Achar que o amor de Deus é tão extenso que ninguém pode cair fora dele, é uma crença muito conveniente para os que rejeitam o teor de todo o ensino da Bíblia. Não convém se arriscar em tão fraca esperança".


Fonte: Revista Enfoque n° 59 de Junho/2006 - Russell Shedd é PhD em Teologia do Novo Testamento e doutor em Divindade.
Eduardo
Eduardo

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