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No vale da sombra da morte
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No vale da sombra da morte
No vale da sombra da morte
Fernando Brasil nasceu em Curitiba, PR, no dia 25 de julho de 1986, e está concluindo o curso de Teologia no Unasp, campus Engenheiro Coelho, SP. Suas maiores paixões são pregar e cantar. Como muitos jovens de sua idade, ele gosta de esportes, fazer amizades e viajar. Casado havia apenas três anos com Valéria, ambos tinham muitos sonhos em comum. Mas uma tragédia se abateu sobre eles. Nesta entrevista, concedida a Michelson Borges, ele conta um pouco dessa experiência amarga e de como Deus o tem ajudado a enfrentá-la.
Você nasceu numa família espírita. Sua mãe era médium. Como você se tornou adventista?
Aos 12 anos de idade, comecei a estudar na escola adventista. Por meio das amizades e dos momentos de reflexão que tínhamos ali, conheci a Igreja Adventista e o que muito me encantou foi a música sacra. O professor de religião, ao ver esse meu interesse, me levava em todas as suas pregações e pedia para que eu cantasse. Assim fui me familiarizando e sendo tocado a cada sermão. Depois de algum tempo, me afastei um pouco dos amigos da igreja, até que meu avô paterno foi diagnosticado com câncer, algo que mexeu muito comigo e me fez correr de vez para os braços de Jesus. Ao tomar essa decisão, encontrei certa resistência por parte de alguns familiares e isso me fez adiar um pouco mais a entrega total. Chegou o momento em que pensei: Não importa se alguns familiares estão contra, o que importa é fazer a vontade de Deus, e então fui batizado.
Valéria foi sua primeira namorada. Quando a conheceu e como foi o começo do namoro?
Como fazíamos parte do mesmo distrito pastoral, algumas vezes nos víamos de longe. Eu tinha vontade de falar com ela, mas ela era muito bonita e eu tinha receio de que ela não quisesse nada comigo. Minha surpresa foi que fomos estudar na mesma sala na escola adventista, cada um vindo de uma escola diferente. Quando a vi, pensei: Deus a colocou na minha sala! Alguns dias depois do começo das aulas, pedi-a em namoro e, pra minha surpresa – e para a dela também, já que nunca tinha namorado –, ela aceitou. Eu tinha 17 anos e ela, 16. Logo conversei com os pais dela e me transferi para a igreja que ele frequentava, para ajudar lá.
Fale sobre a decisão que tomaram de estudar no Unasp. Que desafios enfrentaram? Já pensavam em casamento na época?
Desde o princípio do namoro, eu falava para ela sobre a vontade de estudar Teologia, e ela tinha o sonho de estudar em um colégio interno, mas parecia algo meio distante. Fomos desafiados a ir para a colportagem, mas encontramos muitas dificuldades, o que fez com que eu desistisse da faculdade de Jornalismo (que apenas havia começado) e me dedicasse exclusivamente ao ministério da página impressa. O namoro sempre foi muito sério e planejávamos o casamento. Não passei no vestibular para Teologia, na primeira vez que o fiz. Ficamos abalados, mas continuamos firmes, colportando mais um ano sem parar e depois fomos para o Unasp: eu comecei Teologia e ela, Pedagogia.
Por que você quis cursar Teologia?
Por dois motivos: chamado e vocação. O chamado foi fortalecido com experiências espirituais marcantes e o desejo no coração de servir a Deus, levando a mensagem às pessoas. A vocação despertou no contato com os pastores e na admiração pelo trabalho deles. Ao realizar atividades pastorais ao lado de pastores amigos, isso me fez crer que tenho vocação para essa missão.
Quando descobriram que sua esposa tinha leucemia? Como receberam a notícia?
Nos casamos no dia 17 de agosto de 2008. Foi a cerimônia dos sonhos. Depois de um ano e oito meses, no fim do mês de abril, ela começou a se sentir fraca, com sensações de desmaio, e fomos ao médico. Depois de um exame de sangue, logo a transferiram ao hospital da região. Quando percebi a gravidade do caso, parecia que o mundo estava desabando na minha cabeça. Sozinhos, longe dos familiares, o que poderíamos fazer? O quadro era grave e os médicos diagnosticaram leucemia. Ela ficou decepcionada, mas confiante na cura. No momento do diagnostico, liguei para um pastor amigo meu cuja esposa estava com câncer. Ele me aconselhou a agradecer a Deus e louvá-Lo por tudo, inclusive, pela dificuldade. Então fui ao banheiro do hospital, me ajoelhei ali e orei a Deus pedindo para que Ele desse tempo para o tratamento e para que pudéssemos louvá-Lo em meio à dificuldade. Depois me dirigi à enfermaria onde a Valéria estava, abri a Bíblia em Lucas 8:43-48 e disse para ela que basta termos fé.
Fale sobre o período do tratamento. Vocês esperavam a cura, não? O que mais lhe confortou nessa época?
O medico me abordou e disse que ela teria uma semana de vida se não começasse o tratamento imediatamente, e que eu deveria estar pronto porque seria difícil, mas não impossível. O tratamento foi muito intenso e desgastante; os furos de agulhas foram muitos; as veias ficaram todas machucadas, e as reações de cinco dias de quimioterapia de 24 horas sem parar foram muito fortes. Seriam três sessões. Durante o tratamento, li a Bíblia com ela e cantava várias musicas. Ela estava muito confiante e eu também, porque, apesar das dificuldades, os médicos estavam admirados com a recuperação. Ela sentia Deus muito perto e cuidando dela, e me dizia: “Deus até pensou na lição da Escola Sabatina por mim!” O tema era fé e cura. Ela também leu o livro Uma Nova Chance, da CPB, sobre a cura de um câncer. Nessa época, muitas pessoas ajudaram. Fiquei ao lado dela o tempo todo. Sofremos juntos. Perdi quase oito quilos. A dor foi muito intensa, mas mantínhamos a confiança, porque Deus Se preocupa conosco.
A notícia da morte da sua esposa em algum momento abalou sua fé?
Quando pensamos que não conseguiremos mais continuar, Deus nos dá uma força tremenda, para mim inexplicável. Quando recebi a noticia, lembrei de como estava o relacionamento dela com Deus e fiquei confortado na certeza de que ela estará no Céu. Mas, da minha parte, pensei ter chegado a hora de mostrar o que é fé para mim e para os outros; louvar a Deus, apesar das dificuldades; sentir na pele a diferença entre a teoria e a prática. Minha fé não foi abalada, e sim fortalecida. Porque, sem fé, para onde vou correr? A saudade é a pior dor do mundo, mas a esperança é o melhor remédio.
Você diz que Deus Se aproximou mais e falou com você nesses momentos de dor.
Sim, de formas incontáveis. Ele me preparava para a dor por intermédio de pessoas e situações. Eu vi o cuidado dEle comigo e com ela. Toda vez que eu achava que não iria conseguir mais, Ele me fortalecia.
Como você concilia a dor com o texto de 1ª João 4:8, que diz que Deus é amor?
Vivemos em um mundo cheio de dificuldades em decorrência do pecado, mas Deus nos reserva uma eternidade de paz. Deus é amor e Seu propósito sempre é o de nos salvar. O que são os anos na Terra comparados à eternidade no Céu?
Há quem diga que, geralmente, quem se revolta contra Deus é aquele que apenas “filosofa” sobre a dor, não o que a sente. Você concorda?
Sim, de maneira bem racional, no momento de dor, não há para onde correr se não for para Deus. Somos impotentes, incapacitados e necessitamos do conforto e do auxilio de um Ser superior.
O que mudou em sua experiência religiosa?
Pude, de maneira prática, conhecer o Deus consolador. A teoria e a prática, quando falamos de sofrimento, estão em realidades bem distantes. Somente quem já sofreu conhece realmente a dor, e quem já foi consolado consegue falar de consolo. Tenho consolado muitas pessoas porque posso me compadecer do sofrimento delas por eu ter vivido o meu.
O que diria para alguém que está sofrendo a perda de uma pessoa amada?
Romanos 8:16 é meu texto preferido; leio-o constantemente. Deus não quer o sofrimento de ninguém. Isso é consequência do pecado. Mas os sofrimentos deste mundo não podem ser comparados com a glória do porvir. Deus tem um lugar melhor para todos nós e logo estaremos lá.
Eduardo- Mensagens : 5997
Idade : 54
Inscrição : 08/05/2010
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