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SANSÃO E DALILA: IMPRESSÕES E ALGUMAS REFLEXÕES
Uma águia altaneira a cortar o céu, vislumbrando uma marcha de campesinos sedentos. O seu voo é enfocado de vários ângulos, lembrando o efeito time bullet inaugurado pelo filme Matrix. Assim se inicia o primeiro capítulo da minissérie Sansão e Dalila, produção da Rede Record, baseada em uma popular história bíblica. A minissérie terá dezoito capítulos. Trata-se da primeira teledramaturgia totalmente produzida em alta definição pela emissora.

Quem esperava um show de tecnologia de ponta a ponta, satisfez-se apenas parcialmente. A abertura, bastante simples, trouxe cenas em pergaminho sobre a vida de Sansão, lembrando outras produções da emissora. A novidade em relação às novelas da Record, geralmente semelhantes em temática às da Rede Globo [1], consagrada concorrente, é o fulcro religioso. Novidade porque, para uma emissora mantida pela Igreja Universal do Reino de Deus, denominação neo-pentecostal das mais influente, a Record é contrassensualmente laica! Recentemente, a partir da minissérie A história de Ester, é que a emissora de Edir Macedo vem investindo em adaptações de temas bíblicos.
Filisteus: uma ameaça?
No capítulo de estreia de Sansão e Dalila, o telespectador mais informado pode notar a dupla influência que, tudo indica, norteará a minissérie: de um lado, a tentativa louvável (ainda que nem sempre livre de equívocos culturais) de romancear o texto bíblico; do outro, a mentalidade característica da Igreja Universal sutilmente se insinuando, com direito à apologia da teologia da prosperidade e à "síndrome do fiel perseguido". Analisemos isso mais de perto.

Logo nos primeiros minutos, a opressão filisteia aparece no vídeo de forma acintosa. Os inimigos de Israel são violentos, assaltando vilas do povo de Deus e cometendo assassinatos bárbaros. Apesar de, historicamente, o período dito dos Juízes ter sido de guerras entre Israel e seus vizinhos, estudiosos apontam que a convivência entre israelitas e filisteus não era tão hostil quanto supõe a minissérie.

“A ameaça filisteia foi a de maior monta porque era insidiosa, em alguma de suas fases”, escreve o especialista Arthur E. Cundall. “Não havia a agressividade direta e cruel dos moabitas, cananeus, midianitas e amonitas: ela fora substituída pela infiltração, através do casamento misto e do comércio. O domínio filisteu sobre os povos conquistados não parecia ser oneroso, neste estágio primitivo [sic]”, conclui. [2]
Acréscimos: para o bem e para o mal
Exageros à parte, outro fator interessante que pode passar despercebido é a disposição da mãe de Sansão. Enquanto no relato bíblico a mãe do futuro Juiz de Israel é somente denominada “mulher de Manoá”, na minissérie ela recebe um nome, Zinah. Além disso, em uma cena que preludia o nascimento de Sansão, Zinah ouve de uma vizinha a seguinte alfinetada: “Se o Deus dos hebreus permitiu que você fosse uma mulher estéril, quem sabe outros deuses não a transformem em uma mulher de verdade.” Bastante ressentida, Zinah declara ao marido: “[…] da minha fé, eu não abro mão”. Quando o Anjo do Senhor lhe aparece, ele a saúda: “Tua fé me trouxe aqui”.

Sansão e Dalila Samson_blinded

Os detalhes acrescentados à história fazem forte paralelo com a história de Ana, outra mulher estéril que, após orar, é ouvida por Deus e concebe Samuel. Entrementes, a ênfase no fiel oprimido que recebe recompensa por sua fidelidade insinua uma das mensagens teológicas mais características da Igreja Universal: a confissão positiva. Esse conceito leva o fiel a se indignar com sua situação de vida e exigir de Deus a vitória para dificuldades financeiras, familiares, etc. Em seguida, ela passa a pactuar com Deus, disponibilizando seus bens para a “Obra do Senhor”, até alcançar as bênçãos divinas. Essa barganha espiritual pressupõe que toda dificuldade na vida possa ser resolvida e que o crente fiel terá todo o tipo de bênçãos que desejar. As Escrituras não enfatizam que o nascimento de Sansão fosse uma recompensa à fé de seus pais, ou mesmo que Deus prometa nos livrar de toda dificuldade. Até o exemplo de Ana é mais uma demonstração de graça da parte de Deus (que favorece além dos méritos individuais) do que evidência de compensação.

Há na trama da Record alguns outros detalhes menores, que contrariam frontalmente a narração bíblica. Sansão é retratado forte desde a infância, quando sua força aparece em conexão com a presença do Espírito Santo, que a concedia em momentos específicos. Para garantir exteriormente essa conexão, Sansão seguia um voto chamado nazireado, que, simplificadamente, consistia de três partes: (1) abstinência de uva e seus derivados, (2) ausência de contatos com animais e seres humanos já falecidos e (3) proibição de cortar o cabelo. Na minissérie, apenas o último e mais conhecido particular é ressaltado. Ainda assim, a mãe de Sansão resume acertadamente o segredo da força de Sansão (aspecto que fazia parte da “chamada” da produção): “A fonte de sua força: a fé no Senhor nosso Deus”.
Sansão e Dalila Sansao_dalila

Usando de liberdade poética, constrói-se um drama familiar envolvendo Dalila. Muito do que foi mostrado no primeiro episódio sugere uma direção perigosa: justificar o comportamento da personagem. A Bíblia trata de Dalila de forma sucinta, a despeito da mítica associação entre as duas personagens históricas. Nada indica que ela fosse bem intencionada ou mera “vítima das circunstâncias”.
Entre a telinha e as páginas
Em geral, o retrato de Sansão (interpretado por Fernando Pavão) parece bem coerente. Infelizmente, por outro lado, as personagens muitas vezes agem e se expressam como contemporâneos, não como gente do séc. XII a.C. (o que parece ser, grosso modo, um fato corriqueiro em produções de época na mídia televisiva brasileira). As ressalvas que Sansão deveria levantar entre seu povo, não ficam de fora. Um de seus irmãos afirma para Manoá que o jovem estava “mais próximo de seus inimigos do que nós”; e, em seguida, arremata: “O Deus dos hebreus estaria muito frustrado se houvesse realmente escolhido Sansão como juiz da tribo de Dã”. Por ocasião do interesse de Sansão por uma filisteia de Timna, sua mãe lhe censura: “Deus te deu a força, um dia te dará o entendimento”.

Ninguém espera de uma adaptação televisiva perfeição estética e conteúdo absolutamente fidedigno, o que seria uma utopia. Ainda é cedo para aquilatar o grau de fidelidade ao registro bíblico que se assistirá em Sansão e Dalila. Entre a telinha e as páginas da Bíblia, muita simplificação, desentendimento, adaptação e imaginação influem na construção de um enredo. Contudo, a minissérie já cumpriu o papel de chamar o telespectador refletir sobre a narrativa bíblica, patrimônio cultural que influenciou outras manifestações artísticas no Ocidente. Além disso, o texto sagrado, acima de avaliações estéticas, é relevante em sua mensagem espiritual, expressa de forma concisa e sugestiva. Sem dúvida, uma fonte de verdadeira força tantos séculos depois [3]!
Adquira Paixão Cega, o livro que conta a história de Sansão, clicando aqui.
Veja ainda: Sansão, a outra história
O herói que não vencia


[1] Para análise de um exemplo específico de similaridades entre novelas da Globo e da Record, ver Douglas Reis, Novela espírita em emissora evangélica, disponível em http://questaodeconfianca.blogspot.com/2008/06/novela-esprita-em-emissora-evanglica.html . Para outras considerações morais do remake Bela, a Feia, produzido pela Record, consultar Douglas Reis, A transformação que dá IBOPE, em http://questaodeconfianca.blogspot.com/2010/04/transformacao-que-da-ibope.html .
[2] Arthur E. Cundall e Leon Morris, Juízes e Rute – Introdução e comentário ( São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Vida Nova, 2006) 2ª reimpressão, p. 148.
[3] Um trabalho recente que trata da história de Sansão em pormenores é Douglas Reis, Paixão Cega: o herói que precisou perder a visão para enxergar (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010).


Postado por douglas reis às 23:28 0 comentários Sansão e Dalila Icon18_edit_allbkg
Marcadores: Interpretação bíblica, Sansão


SANSÃO, A OUTRA HISTÓRIA


Sansão e Dalila Sk-a-1627z


Sua sombra encobria um exército trêmulo. Durante dias, o desafio vindo das tropas inimigas ecoava nos pesadelos dos soldados israelitas. Naquela manhã, o murmúrio da chegada do campeão passou de fileira em fileira. O boato virou um alvoroço. As lanças, que até então estiveram no chão, foram alçadas, como bandeiras de vitória. Os inimigos demoraram, mas souberam. Depois viram. Os soldados de Israel cederam espaço ao recém-chegado. “Ele matou um leão com as mãos!”, comenta alguém. “Contaram que ele carregou o muro de uma cidade” , diz outro. “Soube que mil homens não foram páreo para ele”, acrescenta um filisteu, em tom de medo. Os filisteus logo viram a figura viril de Sansão aparecer do outro lado do ringue. Do lado pagão estava o desafiante. Para ele, o café da manhã consistia em mingau e soldados hebreus. Seus quase três metros de altura, herança genética de uma raça que habitara Canaã, impunham respeito. Seu nome era lendário: Golias. Faça sua aposta, a luta vai começar!

“Ei, espere um pouco!”, você protesta, “que história é essa de Sansão enfrentando Golias?” Tudo bem, eu sei. Esse fantástico confronto não está em nenhum lugar da Bíblia ou da História. Se fosse possível assistí-lo, eu estaria na primeira fila, com um saquinho de pipocas e um copo de suco. Mas esta grande luta não aconteceu, talvez, porque os dois possíveis adversários viveram em épocas diferentes. Durante o período em que Sansão julgou Israel, provavelmente nasceu o profeta Samuel. E, apenas em idade avançada, Samuel ungiu o jovem Davi para se tornar rei de Israel. Portanto, entre Sansão e Golias há um intervalo considerável de tempo.

Agora, leia o que realmente aconteceu. As lanças que, até então, estiveram no chão, continuaram no chão. Os inimigos demoraram, mas souberam. Depois viram e riram! Os soldados abriram espaço para o novato, que não parecia grande coisa. “Ele disse que matou um leão com o cajado de pastor!”, ironizou alguém. “Este pivete magricelas?”, espanta-se outro. “O futuro de nosso exército, nas mãos de um fracote?!”, mais um questiona com sarcasmo. Os filisteus logo viram o jovenzinho Davi aparecer do outro lado do ringue.

O contraste entre Golias e Sansão talvez não fosse tão grande. Dois guerreiros afamados. Máquinas de luta. Seus inimigos os temiam. Agora pense em Davi. Imagine seu rostinho sardento queimar diante dos músculos do gigante ofegante e furioso. Quem era o garoto perto de Golias? Davi e Sansão. Ambos enfrentaram os filisteus. Dois guerreiros com habilidades poéticas. Dois líderes em Israel. Também dois homens fracos diante de mulheres. Muitos pontos em comum. No entanto, Davi tem um diferencial: sua confiança em Deus. Sua integridade em servir. Davi, o homem segundo o coração de Deus. O rei mais amado de Israel não era extraordinariamente forte, mas liderou exércitos. Ele dominou os povos vizinhos de Israel, inclusive os filisteus. Quem diria que um garoto ruivinho chegaria tão longe!

Infelizmente, Sansão não chegou tão longe quanto poderia. Seu coração foi servo dos seus olhos (Jó 31:7). Ele teve a conduta ditada por paixões irrefletidas, apesar de ser o escolhido para representar a vontade do Senhor naquela época e lugar. Suas fraquezas nos dizem muito acerca de um Deus bondoso o suficiente para selecionar mesmo os imperfeitos para Seu serviço. Mas não apenas isso. O fato de Deus não ter impedido as más escolhas de Sansão, testemunha poderosamente sobre a liberdade que Ele nos dá. O supermercado em que eu e minha esposa costumamos fazer compras tem um slogan interessante: “O melhor presente é poder escolher”. Você pode estar certo de que recebeu o melhor presente do Pai .

É preciso acrescentar que o dom da escolha é maravilhoso em si, mas o seu uso irresponsável sempre acarreta riscos. Assim como Sansão, que resistiu à vontade de Deus e colheu os frutos amargos do descompromisso, nós, hoje, temos a liberdade para aceitar ou rejeitar o que o Senhor nos propõe. A bênção e a maldição, que estão diante de nós, são condicionais ao exercício do livre-arbítrio.

Aliás, compensa refletir também sobre a natureza de nossa vocação. Não fomos chamados para exercer o nazireado ou vencer exércitos estrangeiros com lanças ou espadas: “nossa luta não é contra o sangue e a carne” (Ef 6:12, ARA). Porém, em certo sentido, também somos chamados a libertar um povo. Nossos irmãos e irmãs sofrem escravizados não pelos filisteus, mas por correntes de pensamento contrárias às Escrituras. Muitos cristãos parecem não perceber que o cristianismo tem que influenciar o trabalho, os relacionamentos e a maneira de encarar a cultura. Vivem como os não cristãos. Nossa missão é influenciar a sociedade com uma mensagem de libertação. Para tanto, essa verdade precisa ser real para aqueles que pretendem compartilhá-la. Os ouvintes da mensagem desejam ver nossa integridade. Por isso, é inadimissível ter uma postura no fim de semana, quando estamos na igreja, e assumir outra na segunda-feira, quando voltamos à rotina semanal. Do campus ao templo, do sofá ao escritório, a verdade de Deus não muda. Desta forma, o desafio é viver coerentemente nossa vocação espiritual, sabendo dar a razão de nossa fé em toda situação e sob qualquer pressão.

O pensamento atual é cada vez mais hostil à religião cristã tradicional. Em grande parte, os questionamentos envolvem a aceitação de uma verdade universal, transcendente. Para a sociedade pós-moderna, verdade é algo individual: você faz a sua, eu faço a minha. Crenças religiosas são aceitas ou descartadas de acordo com a conveniência do indivíduo. Nessa linha, a aceitação da Bíblia como Palavra inspirada sofre muita resistência. Por isso, apresentar as verdades bíblicas hoje, não tem o mesmo impacto de décadas atrás. Um universitário de classe média, por exemplo, que já ouviu de seus professores sobre o evolucionismo, está familiarizado com as especulações filosóficas, e já experimentou de várias manifestações religiosas, terá dificuldade de aceitar o ensino bíblico como verdade absoluta (Jo 14:6; 17:17). Para alcançar esse público é preciso se aproximar amistosamente. Por meio de diálogos inteligentes, o cristão pode levar um secularizado a questionar seus pressupostos e manter sua mente aberta para uma apresentação racional do cristianismo. Vale lembrar que apesar de os princípios serem eternos, a mensagem deve ser contextualizada de forma relevente para alguém do século XXI.

Davi venceu os desafios de sua época. E como ele, a Bíblia registra comoventes relatos de pessoas que andaram na contramão de seu tempo. Em meio à crença em vários deuses, José testemunhou a respeito de apenas um Deus que tinha poder sobre o Egito. Ao continuar adorando Jeová na Babilônia, Daniel mostrou que o Deus do povo escravizado não era mais fraco do que as divindades pagãs. Num tempo em que muitos queriam que os pagãos conversos ao cristianismo fossem cricuncidados, Paulo defendeu que a entrada do crente na igreja de Cristo se dá unicamente pelo batismo. São muitos os que, como Davi, José, Daniel e Paulo, compreenderam e viveram os princípios bíblicos em seu tempo.

Seria ridículo que alguém, sob o pretexto de viver conforme a Bíblia, andasse por aí vestido com roupas dos tempos bíblicos, deixasse a barba imensa e segurando um cajado fosse acompanhado por uma ovelha. Mas foi exatamente o que o jornalista A. J. Jacobs fez, quando por um ano se dispôs a praticar literalmente, segundo ele, as setecentas regras de conduta que a Bíblia possui. Em seu livro The Year of Living Biblically (O ano em que vivi biblicamente), Jacobs conta como foi comer gafanhotos, apedrejar adúlteros (com pedregulhos, por brincadeira), reprimir seus impulsos sexuais (concentrando o pensamento em sua mãe), escravizar seu secretário (não o remunerando em seu estágio), entre outras peripécias.

É óbvio que a intenção de Jacobs foi satirizar os cristãos. Deus não exigiu que adotemos o estilo de vida judaico do período do Antigo Testamento, nem mesmo os costumes dos cristãos do primeiro século. Viver conforme a Bíblia é extrair dos princípios bíblicos sua aplicação para hoje. A crítica de Jacobs aos fundamentalistas cristãos, que levam ao pé da letra alguns textos bíblicos fora de seu contexto, mostra que é preciso conhecer o mínimo de interpretação bíblica e buscar a orientação do Espírito Santo, para não escorregar para o fanatismo ou esquisitices [1].

A negligência em passar tempo de qualidade com Deus para desenvolver uma visão correta sobre o que significa viver o cristianismo em nosso tempo, pode nos levar, tardiamente, como Sansão, a ver que rejeitamos maior revelação do Senhor para viver à luz da nossa velinha. O resultado, a história do nosso herói já mostrou: rebeldia é sinônimo de vida atormentada (Is 50:10, 11).

Mas, para mim e você, ainda existe tempo de ajustar o foco de nossa visão. Já escrevi em outro lugar sobre o texto de Romanos 12:2, que nos ensina três importantes passos para esse processo: (1) rejeitar as visões distorcidas deste mundo, que são contrárias à verdade bíblica; (2) renovar a mente por meio da assimilação da mensagem bíblica; e (3) experimentar e comprovar os beneficios de seguir a vontade de Deus nas situações cotidianas.

Depois de revisar o texto de Romanos em sua Bíblia, procure enxergar esses mesmos três ensinamentos no trecho abaixo: “Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade” (Ef 4:22-24). A cada dia, diversas pressões assediarão nosso poder de escolha. A dependência de Deus fará de cada decisão uma honra para Ele, quer em assuntos grandes ou pequenos. Basta desenvolver o que lamentavelmente faltou para Sansão: a visão correta.

[1] No Brasil, as ideias de Jacobs tiveram repercussão, através de duas matérias publicadas em revistas que, rotineiramente, questionam a historicidade da Bíblia e a relevância de sua mensagem. Veja Marcos Nogueira, A Bíblia como ela é, Superinteressante, novembro de 2007, p. 96-99, e Cláudio Julio Tognolli, Dá para viver segundo a Bíblia hoje?, Galileu, janeiro de 2008. Ambas as matérias foram respondidas, respectivamente, por Douglas Reis, Como viver biblicamente de verdade?, disponível em http://questaodeconfianca.blogspot.com, e por Michelson Borges, Festival de baboseiras na Galileu, disponível em www.criacionismo.com.br.


Postado por douglas reis às 17:38
Marcadores: cosmovisão, REFLEXÃO, Sansão


O Herói que não vencia

Em que tipo de herói você se apóia?

Para começar: o que é um herói em seu modo e pensar? É aquele sujeito truculento, que fala pouco, bate muito e derrete o coração das beldades de Hollywood? Seu herói tem ossos de adamantium, visão de raio X, ou vive na bat-caverna, tendo em torno de sua figura um roteiro eletrizante, um show de efeitos especiais e um orçamento de centenas de milhares de dólares?

Você acredita que para boa parte dos japoneses o herói seja o Yokozuna, alguém como Asashoryu? Se o sujeito não impressiona com seus 1,84 m de altura, certamente chama a atenção pelo peso: 146 kg! Com o título de Yokozuna (ou “campeão supremo”), o lutador de sumo de apenas 25 anos foi condecorado com uma tsuna (faixa que simboliza o seu status) e um tope de fita, que leva 20 minutos para ser amarrado na cabeça. Ele detém o título. É o campeão supremo.[1]

Curiosamente, nós também admitimos heróis bizarros. Ana Paula Sousa, em recente artigo, fez algumas considerações muito válidas sobre fama e heroísmo:

“A origem da fama, no Ocidente, é a Guerra de Tróia. Aqueles heróis exemplares, na definição de Olgária Matos, eram homens que, por um gesto heróico, se tornavam eternos e, assim, driblavam o esquecimento que a morte acarreta.
“O conceito de fama hoje em voga remonta às décadas de 50 e 60 do século XX. Até a aparição da chamada cultura pop, havia, para além do heroísmo, as figuras ilustres, sempre ligadas a alguma atividade. “Era o grande político, o grande intelectual, o grande artista. Você ainda tinha a idéia do grande. E grandes são aqueles sem os quais o mundo seria incompleto”, esclarece Olgária. Imagine, portanto, o que seria do mundo sem Luciana Gimenez, Adriane Galisteu e Kleber Bamban, ex-Big Brother, digno de menções pelos feitos do último carnaval.”
[2]

Recentemente Recebi um e-mail intitulado “Quem são nossos heróis?”


“E agora vamos falar com os nossos heróis...”
Saudação (infeliz) usada por Pedro Bial ao se dirigir aos participantes do programa Big Brother Brasil:
Se alguém se encontrar com ele, pergunte-lhe, por favor, qual a definição de “herói” no dicionário dele...
No meu, Herói é uma coisa muito diferente...”

A mensagem segue listando o nome de médicos e educadores e demais voluntários, como Vanessa Remy-Piccolo, Martial Ledecq, entre outros, que atuam no programa “Médico sem fronteiras”, em lugares carentes do mundo. Que contraste entre esses heróis e o heroísmo ánartro de um participante da “casa”.

Um herói agrega valores à sua imagem. E os heróis da mídia, que tipo de valores transmitem? Veja esta interessante análise:

"Para Miriam, o sucesso de Alemão, o vencedor do BBB7, se explica pelo fato de ele ter se destacado para o público em situações como a que defendeu Íris dos comentários agressivos do grupo ou quando se arrependeu por ter dado um beijo em Fani confessando que gostava mesmo era da ‘caipira’. Sem falar que infidelidade é um assunto com o qual o espectador se identifica. De acordo com Miriam (que em sua pesquisa – no mundo real – concluiu que 60% dos homens e 40% das mulheres são infiéis), a identificação acontece não só com o traído, mas também com o que comete a traição. ‘Dhomini está aí para comprovar’, lembra. "
[3]
Alguém passa a ser herói porque as pessoas se identificam com a sua promiscuidade difundida na mídia!

Gosto deste comentário:

“Quando a imaginação desvanece e os sonhos passam a ser construídos pelas imagens que a mídia fornece, o homem se esvazia, sem se dar conta disso. A tevê, com modelos acabados de famílias e vidas, é pródiga nisso. ‘Quando pensamos no papel que vem sendo exercido pela televisão, vemos que há um genocídio cultural no Brasil. Quando você se identifica com Adriane Galisteu... é complicado. E, em geral, quanto menos educação tem uma pessoa, mais sujeita a essas influências ela está.”
[4]

Heróis sem heroísmo algum. Com feições reluzindo por causa de holofotes, mas sem que nenhuma sombra de glória seja projetada pela luz instantânea de sua fama. Heróis que lutaram para aparecer, apenas pela emoção de aparecerem, nem precisam de um milésimo de suor para desaparecer.


Hoje os valores do heroísmo têm outro fim: comércio!

“Os jogadores de futebol hoje são os novos líderes do estilo. Ao contrário das estrelas de cinema e da música, a quem eles se juntam como ícones da moda, os jogadores têm que mostrar uma combinação de disciplina mental e física que os faz genuinamente heróicos”
[5]

Certo! Novos heróis, que servem para quê? Ícones da moda! Desde quando heroísmo tem que ver com marcas e passarelas?


Permita-me agora falar de outros heróis.

Algum herói já foi seu professor ou sentou-se ao seu lado na faculdade? Alguma vez uma heroína dividiu a sala de escritório com você? Existem heróis em sua família, na igreja ou no bairro?

Não estou me referindo aos heróis dos blockbusters. Nem penso nos que jogam no Barcelona, na Internacionale de Milao, no Internacional de Porto Alegre, no São Paulo ou em outros times de futebol. Eu estou pensando em heróis mais próximos.

Estes heróis diários não usam máscaras, todavia não são reconhecidos. Não têm superpoderes, e, ainda assim, salvam vidas. Não possuem treinamento suficiente para cumprir missões-impossívéis, mas possuem unção espiritual. Não podem dominar exércitos, mas conseguem algo maior: dominam a si mesmos.

Aqui temos um homem que teria tudo para ser um herói: seu abdômen foi cinzelado por um artífice milagroso. Seu cabelo ao vento, dividido em intermináveis tranças, flutua aerodinamicamente. Seus olhos são astutos, sua língua capaz de proferir trocadilhos que fariam um acadêmico ter matéria para uma tese em lingüística. Ele é o líder capaz de fazer uma feminista se esquecer por um momento de que os homens não prestam – ou que, ao menos, existem exceções louváveis! Sansão era isso tudo; no entanto…

Tem algo de errado com este herói! Tem de haver! Porque todo herói que se preze, por mais que sofra zombarias, caia em emboscadas, seja capturado, suporte torturas, ainda assim vence, não é? Você já assiste ao filme sabendo que, de alguma forma (que o enredo se encarregará de explicar) o herói será vitorioso. Todo herói vence.

Ninguém gasta seu tempo colando nas paredes do quarto o pôster do vice-campeão da Fórmula 1. Não se acham em nenhum site wall-papers dos boxeadores que apenas sofreram nocautes em sua carreira. Aos vencedores, as batatas. Aos perdedores, coitados!, nem lhes restam os quiabos!
Porque Sansão é um perdedor, se têm tantos atributos? Arthur E. Cundall responde essa difícil questão quando sintetizou a vida de nosso herói:

“[…] Todos os juízes foram individualistas; a maior parte deles tinha falhas de caráter. […]num grupo de indivíduos com características próprias, Sansão coloca-se numa categoria à parte. Embora dotado pelo Espírito do Senhor, e dedicado a um voto vitalício de nazireu, sua vida parece girar ao redor de relacionamentos ilícitos com prostitutas e mulheres de vida livre.[…]Sua história é triste, pela falta de disciplina e de verdadeira dedicação, enquanto o leitor fica imaginando o que poderia Sansão ter feito se seu enorme potencial tivesse sido marcado e temperado por estas qualidades mentais e espirituais. […]”
[6]

Bingo! Você percebe? Seu potencial é promissor, o momento é bom, Deus lhe deu condições, mas… Sansão não vence. Um herói que não vence.

Ok, pare um pouco neste exato momento:Queria refletir sobre os motivos que atrapalharam Sansão de vencer. E, aonde quer que você estiver lendo isso, numa cadeira reclinável em seu escritório ou mal-acomodado nos assentos do metrô, pense se as causas do fracasso de Sansão também não coincidem com as de seus fracassos.

[1] National Geografic Brasil, Julho 2006, p. 19.
2 Ana Paula de Souza, “Fama para todos”, revista Carta Capital, Março de 2007. Extraído de http://felipelemos.blogspot.com/2007_03_01_archive.html , postado em Março 14 de 2007.
[3] http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/1,,EDG77007-5856,00.html
[4] Ana Paula de Souza, idem.
[5] Calvin Klein, em Isto É Gente, 8 de Maio de 2006, Ano VII, n° 350.
[6] Arthur E. Cundall e Leon Morris, Juízes e Rute – Introdução e comentário. ( Sociedade Religiosa Vida Nova, São Paulo) 1ª edição: 1986, Reimpressões: 1992, 2006.



Postado por douglas reis às 20:36 Sansão e Dalila Icon18_edit_allbkg
Marcadores: Comportamento, Sansão, valores
Eduardo
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