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A poderosa deusa de Dawkins

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11022011

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A poderosa deusa de Dawkins








E mais que notória a extremada ojeriza de Richard Dawkins pela crença nos deuses. Em relação ao Deus bíblico, por exemplo, escreve ele:

“O Deus do Antigo Testamento é talvez o personagem mais desagradável da ficção: ciumento, e com orgulho; controlador mesquinho, injusto e intransigente; genocida étnico e vingativo, sedento de sangue; perseguidor misógino, homofóbico, racista, infanticida, filicida, pestilento, megalomaníaco, sadomasoquista, malévolo...” (“Deus, um Delírio”, p. 43)

Diante de tão escancarada aversão à fé religiosa, nada mais axiomático do que supor a cabal rejeição deste zoólogo por qualquer que seja o conceito de “divindade”.

Mas, será isso mesmo?

Os excertos a seguir, todos extraídos do livro “Deus, um Delírio”, se não forem uma afronta ao “óbvio” aparentemente manifesto nas premissas de Dawkins, ao menos saltam à vista para o contra-senso, para o disparate e para paradoxal no “pai dos memes”.

Ao mesmo tempo em que repele, rejeita e rechaça a idéia de deus, ele constrói ao seu próprio modo e estilo sua própria divindade. Aliás, uma divindade extremamente inspiradora, que nada deixa a dever às nove musas gregas!

Sim. A Seleção Natural, muito mais do que um princípio que supostamente explica a evolução das espécies, transformou-se para Dawkins numa versão cientificista da deidade. Ela pode tudo. Ela explica tudo. Nada há sobre a terra que não se faça passar pelo exigente crivo desta nova e formosa versão das ninfas greco-romanas a lá inglesa. Por exemplo:

1. ELE FEZ ÀS VEZES DE UM PROJETISTA:
"Longe de indicar um projetista, a ilusão de que o mundo vivo foi projetado é explicada de modo bem mais econômico e com elegância devastadora pela seleção natural darwiniana. E, embora a seleção natural por si só se limite a explicar o mundo das coisas vivas, ela nos conscientiza para a probabilidade de que haja "guindastes" explicativos comparáveis que possam nos ajudar a entender o próprio cosmos” (p. 19). / “A evolução pela seleção natural produz um excelente simulacro de design, acumulando níveis incríveis de complexidade e elegância. E entre essas eminências do pseudodesign estão os sistemas nervosos que — entre seus feitos mais modestos — manifestam comportamentos de busca a um alvo que, mesmo num inseto minúsculo, se parecem ainda mais com um míssil sofisticado guiado a calor do que com uma simples flecha indo para o alvo” (p. 91).

2. ELA FEZ A VIDA SEGUIR RUMO À ESTONTEANTE COMPLEXIDADE:
“A seleção natural é o maior guindaste de todos os tempos. Ela elevou a vida da simplicidade primeva a altitudes estonteantes de complexidade, beleza e aparente desígnio que hoje nos deslumbram” (p. 87).

3. MUITO MAIS DO QUE EXPLICAR A VIDA COMO UM TODO, ELA NOS MOTIVA A LUTAR:
“A seleção natural não só explica a vida toda; ela também nos conscientiza para o poder que a ciência tem para explicar como a complexidade organizada pode surgir de princípios simplórios, sem nenhuma orientação deliberada. A plena compreensão da seleção natural incentiva-nos a avançar corajosamente por outras áreas” (p.126).

4. PARA MELHOR ENTENDÊ-LA, FAZ-SE NECESSÁRIO IMERGIR-SE EM SEU PODER:
“No nível intelectual, suponho que ele compreendesse a seleção natural. Mas talvez seja necessário ser impregnado de seleção natural, imerso nela, nadar nela, para que se possa realmente apreciar seu poder” (p. 128).

5. ELA ANIQUILA AS EXPLICAÇÕES ALHEIAS:
“Mas a evolução darwiniana, especificamente a seleção natural, faz mais que isso. Ela destrói a ilusão do design dentro do domínio da biologia, e nos incita a desconfiar de qualquer hipótese de design também na física e na cosmologia” (p. 128).

6. ELA É A ÚNICA ALTERNATIVA A SER SEGUIDA: “O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA DA BIOLOGIA”:
“A seleção natural não é apenas uma solução parcimoniosa, plausível e elegante; é a única alternativa viável ao acaso a ter sido sugerida” (p. 131).

7. ELA É A ÚNICA SOLUÇÃO VIÁVEL
“A seleção natural é a solução verdadeira. É a única solução viável já sugerida. E não é apenas uma solução viável, é uma solução de incrível poder e elegância” (p. 132).

8. ELA CONDUZ AO APERFEIÇOAMENTO:
“A seleção natural funciona porque ela é uma avenida de mão única, cumulativa, para o aperfeiçoamento” (p. 153).

9. ELA TAMBÉM EXPLICA O UNIVERSO:
“As estrelas, como já vimos, também são precursoras do desenvolvimento de uma química interessante, e portanto da vida. Assim, sugere Smolin, houve uma seleção natural darwiniana de universos no multiverso, favorecendo diretamente a evolução da fecundidade nos buracos negros e indiretamente a produção da vida” (p. 159).

10. ELA EXPLICA AS NOSSAS DORES:
“Novamente parece óbvio, a ponto de chegar à banalidade, mas o darwiniano ainda precisa dizer com todas as letras: a seleção natural estabeleceu a percepção da dor como senha para danos corporais que representem risco à vida, e nos programou para evitá-la” (p. 180).

11. ELA MOLDA O CÉREBRO DAS CRIANÇAS:
“A seleção natural constrói o cérebro das crianças com a tendência de acreditar em tudo que seus pais ou líderes tribais lhes disserem” (p. 188).

12. ELA PREENCHE AS LACUNAS:
“Temos aqui uma coisa mais parecida com um livre mercado que com uma economia planejada. Há um açougueiro e um padeiro, mas talvez haja uma lacuna no mercado para um fabricante de velas. A mão invisível da seleção natural preenche a lacuna” (p. 210, 211).

13. ELA EXPLICA OS OUTROS DEUSES:
“Devido a esse cenário, para mim algum tipo de seleção natural memética parece oferecer uma explicação plausível para a evolução detalhada de religiões específicas” (p. 214).

14. ELA EXPLICA A FOME, O MEDO E O DESEJO:
“A seleção natural explica com facilidade a fome, o medo e o desejo sexual, que contribuem diretamente para nossa sobrevivência ou para a preservação de nossos genes” (p. 225).

15. ELA CONSPIRA NOS RELACIONAMENTOS HUMANOS:
“A seleção natural favorece os genes que predisponham os indivíduos, em relacionamentos em que haja necessidade assimétrica e oportunidade, a ajudar quando podem, e a solicitar favores quando não podem. Ela também favorece a tendência a lembrar-se de obrigações, a guardar ressentimentos, a policiar relacionamentos de troca e a punir traidores que aceitam favores, mas não os fazem quando chega sua vez” (p. 228).

16. ELA PROGRAMOU NOSSOS CÉREBROS:
“A seleção natural, nos tempos ancestrais, quando vivíamos em bandos pequenos e estáveis como o dos babuínos, programou impulsos altruístas em nosso cérebro, junto com impulsos sexuais, impulsos de fome, impulsos xenofóbicos, e assim por diante” (p. 232).

17. ELA INSTALOU “CHIPS” DE REGRAS EM NOSSOS CÉREBROS:
“A melhor maneira de a seleção natural imprimir os dois tipos de desejo nos tempos ancestrais foi instalando regras gerais no cérebro. Essas regras ainda nos influenciam hoje em dia, mesmo quando as circunstâncias as tornam inadequadas a suas funções originais” (p. 233). / “O modelo mínimo do mundo é o modelo de que nossos ancestrais precisavam para sobreviver nele. O software da simulação foi construído e aperfeiçoado pela seleção natural, e funciona melhor no mundo que nossos ancestrais da savana africana conheciam: um mundo tridimensional de objetos materiais de dimensões médias, movendo-se em velocidades médias proporcionalmente entre si” (p. 367).

E por aí vai... ((rs))

É isso!
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Fonte:
Richard Dawkins: “Deus, um Delério”. Tradução: Fernanda Ravagnani. COMPANHIA DAS LETRAS. São Paulo, 2006.
Eduardo
Eduardo

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