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Variação linguística nos tempos bíblicos
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04022010
Variação linguística nos tempos bíblicos
Variação linguística nos tempos bíblicos
DANIVIA MATTOZO
Bacharel, mestre e doutoranda em Linguistica pela UFMG. Atua como revisora na Editora UFMG, presta serviços para a Casa Publicadora Brasileira, e dá aula de português e redação como voluntária em cursinhos comunitários.
Contato: danivia@gmail.com
o ler a Bíblia, especialmente o Antigo Testamento, muitas vezes temos a sensação de que a questão linguística não era importante ou não se mostrava relevante para o povo da época. Em verdade, nos parece que todos falavam a mesma língua. Mas, além do relato da Torre de Babel (Gn 11:9), que fala sobre a divisão das línguas, há outro relato que mostra claramente a questão da variação linguística e que confirma, inclusive, teorias atuais para explicar a variação. Veja o texto abaixo:
"Porque tomaram os gileaditas aos efraimitas os vaus do Jordão; e sucedeu que, quando algum dos fugitivos de Efraim dizia: Deixai-me passar; então os gileaditas perguntavam: És tu efraimita? E dizendo ele: Não, Então lhe diziam: Dize, pois, Chibolete; porém ele dizia: Sibolete; porque não o podia pronunciar bem; então pegavam dele, e o degolavam nos vaus do Jordão; e caíram de Efraim naquele tempo quarenta e dois mil" (Jz, 12:5, 6).
A história nos fala de dois povos, outrora unidos, agora separados geograficamente. Gileade era uma região montanhosa a leste do Jordão. Ela foi habitada por parte do povo de Israel durante a posse de Canaã, especificamente as tribos de Rubem, Gade e a meia tribo de Manassés (cf. Dt 3:12, 13), que escolheram sua herança aquém do Jordão. Efraim era uma das tribos do povo de Israel que haviam se estabelecido além do Jordão (cf. Js 16). Os povos que habitavam Gileade e Efraim tinham a mesma origem - o povo de Israel que saiu do Egito e peregrinou 40 anos no deserto. Ou seja, linguisticamente, a origem era a mesma - eles falavam a mesma língua. Mas, após a posse de Canaã, as tribos se estabeleceram em territórios distintos e ali se desenvolveram. Assim, passou a haver uma barreira geográfica separando-os (no caso de Gileade e a tribo de Efraim, havia o rio Jordão). Essa separação já ocorria há cerca de 300 anos (cf. Jz 11:26) quando se deu o episódio descrito nos versos acima.
No estudo da mudança e variação linguística, um dos fatores apontado como grande motivador da variação, e posteriormente da mudança, é a barreira linguística. Foi esse um dos principais fatores que atuaram no desenvolvimento das línguas românicas, originárias do latim. Os povos romanos foram expandindo seu império, se estabelecendo em outros territórios e, devido às barreiras geográficas, foram perdendo contato uns com os outros. Alguns, inclusive, ficaram isolados. Outro fator muito importante é a questão do contato linguístico. Em sua nova localização, esses romanos tiveram contato com outros povos, diferentes linguisticamente (povos que já habitavam a região, tribos germânicas, etc.). Tudo isso fez com que sua língua fosse evoluindo (e aqui não falo de evolução no sentido de melhora ou piora, apenas de mudança) de forma diferente de outros romanos estabelecidos em locais diferentes. Esses fatores, acrescidos de uma boa pitada de tempo, geraram o que conhecemos hoje como o português, o espanhol, o francês, o italiano, etc.
Voltando às tribos de Israel, nota-se no texto bíblico que a variação linguística não era tão grande a ponto de caracterizar línguas diferentes, como no caso dos povos romanos. Provavelmente não havia passando tempo suficiente para isso. O que se vê é apenas uma variação dialetal, como ocorre no português do Brasil, por exemplo, pois o vocabulário era o mesmo, apenas a pronúncia variava.
Aliás, aqui em nosso país vemos exatamente o mesmo tipo de variação apontada entre o povo da região de Gileade e a tribo de Efraim: a variação dos sons [s] e [∫], que equivalem a "s" e "x", falando de forma simplificada. Aqui em Minas, por exemplo, nós falamos a palavra três com som de "s" no final (trêiS); já no Rio de Janeiro, a mesma palavra é pronunciada com som de "x" (trêiX).
Não é o mesmo que ocorre no texto bíblico? Os gileaditas falavam "chibolete", mas os efraimitas não conseguiam pronunciar da mesma forma e diziam "sibolete". Isso nos permite inferir que, provavelmente, o som [∫] ou "x" não ocorria na língua dos israelitas quando saíram do Egito e que esse som foi adquirido por parte do povo, que habitou em Gileade, provavelmente por contatos linguísticos, mas não pela tribo de Efraim. Daí a diferença de dialetos.
Veja que interessante. Vemos nesse relato a Bíblia comprovando estudos de linguística e, ao mesmo tempo, sendo comprovada pela ciência, pois revela fatos que a ciência hoje confirma - como a variação entre "s" e "x" que ocorre no português.
Qual é a minha conclusão? A linguística é uma ciência fantástica... mas Deus é mais fantástico ainda!
Danívia Mattozo Wolff
DANIVIA MATTOZO
Bacharel, mestre e doutoranda em Linguistica pela UFMG. Atua como revisora na Editora UFMG, presta serviços para a Casa Publicadora Brasileira, e dá aula de português e redação como voluntária em cursinhos comunitários.
Contato: danivia@gmail.com
o ler a Bíblia, especialmente o Antigo Testamento, muitas vezes temos a sensação de que a questão linguística não era importante ou não se mostrava relevante para o povo da época. Em verdade, nos parece que todos falavam a mesma língua. Mas, além do relato da Torre de Babel (Gn 11:9), que fala sobre a divisão das línguas, há outro relato que mostra claramente a questão da variação linguística e que confirma, inclusive, teorias atuais para explicar a variação. Veja o texto abaixo:
"Porque tomaram os gileaditas aos efraimitas os vaus do Jordão; e sucedeu que, quando algum dos fugitivos de Efraim dizia: Deixai-me passar; então os gileaditas perguntavam: És tu efraimita? E dizendo ele: Não, Então lhe diziam: Dize, pois, Chibolete; porém ele dizia: Sibolete; porque não o podia pronunciar bem; então pegavam dele, e o degolavam nos vaus do Jordão; e caíram de Efraim naquele tempo quarenta e dois mil" (Jz, 12:5, 6).
A história nos fala de dois povos, outrora unidos, agora separados geograficamente. Gileade era uma região montanhosa a leste do Jordão. Ela foi habitada por parte do povo de Israel durante a posse de Canaã, especificamente as tribos de Rubem, Gade e a meia tribo de Manassés (cf. Dt 3:12, 13), que escolheram sua herança aquém do Jordão. Efraim era uma das tribos do povo de Israel que haviam se estabelecido além do Jordão (cf. Js 16). Os povos que habitavam Gileade e Efraim tinham a mesma origem - o povo de Israel que saiu do Egito e peregrinou 40 anos no deserto. Ou seja, linguisticamente, a origem era a mesma - eles falavam a mesma língua. Mas, após a posse de Canaã, as tribos se estabeleceram em territórios distintos e ali se desenvolveram. Assim, passou a haver uma barreira geográfica separando-os (no caso de Gileade e a tribo de Efraim, havia o rio Jordão). Essa separação já ocorria há cerca de 300 anos (cf. Jz 11:26) quando se deu o episódio descrito nos versos acima.
No estudo da mudança e variação linguística, um dos fatores apontado como grande motivador da variação, e posteriormente da mudança, é a barreira linguística. Foi esse um dos principais fatores que atuaram no desenvolvimento das línguas românicas, originárias do latim. Os povos romanos foram expandindo seu império, se estabelecendo em outros territórios e, devido às barreiras geográficas, foram perdendo contato uns com os outros. Alguns, inclusive, ficaram isolados. Outro fator muito importante é a questão do contato linguístico. Em sua nova localização, esses romanos tiveram contato com outros povos, diferentes linguisticamente (povos que já habitavam a região, tribos germânicas, etc.). Tudo isso fez com que sua língua fosse evoluindo (e aqui não falo de evolução no sentido de melhora ou piora, apenas de mudança) de forma diferente de outros romanos estabelecidos em locais diferentes. Esses fatores, acrescidos de uma boa pitada de tempo, geraram o que conhecemos hoje como o português, o espanhol, o francês, o italiano, etc.
Voltando às tribos de Israel, nota-se no texto bíblico que a variação linguística não era tão grande a ponto de caracterizar línguas diferentes, como no caso dos povos romanos. Provavelmente não havia passando tempo suficiente para isso. O que se vê é apenas uma variação dialetal, como ocorre no português do Brasil, por exemplo, pois o vocabulário era o mesmo, apenas a pronúncia variava.
Aliás, aqui em nosso país vemos exatamente o mesmo tipo de variação apontada entre o povo da região de Gileade e a tribo de Efraim: a variação dos sons [s] e [∫], que equivalem a "s" e "x", falando de forma simplificada. Aqui em Minas, por exemplo, nós falamos a palavra três com som de "s" no final (trêiS); já no Rio de Janeiro, a mesma palavra é pronunciada com som de "x" (trêiX).
Não é o mesmo que ocorre no texto bíblico? Os gileaditas falavam "chibolete", mas os efraimitas não conseguiam pronunciar da mesma forma e diziam "sibolete". Isso nos permite inferir que, provavelmente, o som [∫] ou "x" não ocorria na língua dos israelitas quando saíram do Egito e que esse som foi adquirido por parte do povo, que habitou em Gileade, provavelmente por contatos linguísticos, mas não pela tribo de Efraim. Daí a diferença de dialetos.
Veja que interessante. Vemos nesse relato a Bíblia comprovando estudos de linguística e, ao mesmo tempo, sendo comprovada pela ciência, pois revela fatos que a ciência hoje confirma - como a variação entre "s" e "x" que ocorre no português.
Qual é a minha conclusão? A linguística é uma ciência fantástica... mas Deus é mais fantástico ainda!
Danívia Mattozo Wolff
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