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Evolução favorece aqueles que mais lutam contra a teoria da evolução
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15042011
Evolução favorece aqueles que mais lutam contra a teoria da evolução
Evolução favorece aqueles que mais lutam contra a teoria da evolução
Para os ateus é o cúmulo da ironia. A evolução, o processo que acreditam ser o único responsável por criar a humanidade, parece estar a discriminar os não-crentes e a favorecer os religiosos.
Esta é a conclusão de um estudo realizado por Michael Blumer, um pesquisador da área das ciências sociais da Universidade de Jena, na Alemanha, divulgado recentemente no jornal inglês The Sunday Times.
A investigação, que estudou 82 países, sugere que, em escalas de tempo evolutivas de centenas ou milhares de anos, as pessoas com fortes crenças religiosas tendem a ter mais filhos (média de 2.5 crianças), ao contrário dos ateus (média de 1.7 crianças), cujas sociedades estão condenadas a desaparecer.
Para além do incentivo à procriação pelas autoridades religiosas, esta realidade comporta outros factores, tais como a sensação de dever em procriar e perpetuar a raça, bem como a partilha de crenças que facilitam a inserção dos fiéis numa comunidade, aceitando tarefas comuns e regras de comportamento.
Esta habilidade para trabalhar e viver em conjunto aumenta ainda mais as chances de sobrevivência das crianças. Todos estes argumentos entram em contradição com as opiniões dos biólogos evolucionistas (como Richard Dawkins, autor de O Gene Egoísta), que afirmam que a religião é como um vírus que infecta as pessoas.
(Fonte)
genesiscontradarwin
Segundo este estudo, o evolutivamente recomendável (para a propagação da espécie) é uma forte fé religiosa. O ateísmo aparentemente não é uma ideologia que favoreça a sobrevivência da espécie. Oh, a ironia!
Como a fé desempatou o jogo
Os antepassados humanos que desenvolveram a capacidade
de crer foram os únicos a sobreviver à Idade do Gelo. Isso
explica por que a fé resiste mesmo quando a ciência prova
que o sobrenatural nada mais é do que química e eletricidade
Okky de Souza
Em maior ou menor escala, em todas as sociedades modernas atuais as crenças estão mais vivas do que nunca. Mas isso não é um paradoxo, um contrafluxo na corrente racional vitoriosa do conhecimento humano? Não se convencionou que crença e ciência não combinam, são como óleo e água? Os dogmas milenares que orientam a fé de cristãos, judeus, muçulmanos ou budistas são todos muito respeitáveis, mas em pleno século XXI não são apenas anacronismos deslocados do mundo da razão e da tecnologia? Não. A novidade é que não existe paradoxo. Existe, sim, o reconhecimento dos limites dos dois campos da percepção humana dos fenômenos naturais.
Não passa um mês sem que saiam dos laboratórios explicações cabais sobre o que se pensava ser algo sobrenatural. O túnel de luz que as pessoas que estiveram em coma contam ter visto parecia misterioso e insondável. Esse túnel seria uma entrada entreaberta para a eternidade, que se deixava examinar de esguelha por alguém que estava prestes a abandonar o mundo material. Como se verá na pág. 82, essa e outras experiências sensoriais que se têm à beira da morte são todas reações mensuráveis e previsíveis do cérebro humano. Essa revelação torna os mistérios da vida e da morte menos espantosos? Não. Nada. Hoje soa arrogante e tola a reação dos orgulhosos astrofísicos nos anos 80, quando os satélites mandavam para a Terra sinais que confirmavam a teoria do Big Bang, a súbita explosão original que deu origem à matéria, à energia e às leis que regem a interação entre ambas: "Agora que a física já explicou como surgiu o universo, não há mais lugar para Deus". Tem chumbo trocado: quem pode imaginar uma reação mais tosca e pedestre do que dizer que a Lua perdeu o romantismo para os namorados depois que os astronautas americanos colocaram suas botas por lá? Claro que o núcleo duro da melhor ciência despreza a noção de Deus. Da mesma maneira, os metafísicos de todos os sabores e cores não enxergam utilidade alguma no método científico. O cenário atual que emana do córtex cerebral da humanidade – pelo menos da sua porção que se manifesta conectada na internet – é o de que, apesar dos avanços cada vez mais espetaculares da ciência, permanecem intactas as emoções humanas, as sensações de tremor diante do infinitamente pequeno ou do infinitamente grande. Por mais que se explique com crescente precisão como funciona o mundo natural, persiste para a maioria das pessoas a crença de que existe algo mais poderoso ainda.
Há nessa persistência, por ironia, uma explicação científica, estudada a fundo pelos cientistas. A fé, assim como as religiões criadas sobre ela, persiste por ser um componente primordial da evolução humana. Em algum momento durante a última era do gelo, que terminou 12 000 anos atrás, o homem desenvolveu o pensamento simbólico. Interessou-se em saber que tipo de força existia por trás dos fenômenos naturais. Começou a enterrar os mortos e a enfeitar seus túmulos com flores. No papel de única espécie capaz de antecipar a própria morte, o ser humano precisou vislumbrar entidades maiores e mais poderosas do que ele para conseguir suportar essa certeza. Muitos biólogos evolucionistas acreditam que as religiões – e tudo o que elas envolvem como instituições organizadas – surgiram como uma superadaptação do homem ao meio ambiente e prosperaram por conferir vantagens a seus praticantes. A crença no sobrenatural ajudou a convivência do grupo e, portanto, seria a gênese da civilização. O biólogo americano David Sloan Wilson, da Universidade Binghamton, autor do livro A Catedral de Darwin: Evolução, Religião e a Natureza da Sociedade, avalia que o impulso religioso se desenvolveu cedo na história dos hominídeos porque ele ajudava a criar grupos mais coesos, em que florescia o sentimento de fraternidade e solidariedade. "A crença foi uma arma poderosa na luta contra adversários menos unidos e menos organizados", disse Wilson a VEJA (a entrevista completa está na pág. 85).
A mais impressionante indicação de que a necessidade de cultuar um Deus está estampada na evolução humana encontra-se numa pesquisa realizada pelo biólogo molecular americano Dean Hamer, chefe do setor de estrutura genética do National Cancer Institute, e publicada em seu livro The God Gene: How Faith is Hardwired into Our Genes (O Gene de Deus: Como a Fé Está Embutida em Nossos Genes). Hamer afirma ter localizado no ser humano o gene responsável pela espiritualidade. Esse gene também teria a função de produzir os neurotransmissores que regulam o temperamento e o ânimo das pessoas. Segundo o livro do biólogo, os sentimentos profundos de espiritualidade seriam resultado de uma descarga de elementos químicos cerebrais controlados por nosso DNA.
A concepção de que a espiritualidade está gravada no genoma humano encontra eco numa das mais antigas religiões, o budismo. Seus adeptos acreditam que todo ser humano herda uma semente espiritual da pessoa que ela foi na encarnação anterior. Essa semente se combinaria a outras duas, herdadas dos pais, para formar suas características físicas e espirituais. Estudos anteriores ao de Hamer também conduzem à noção de que a espiritualidade está entranhada nos genes. No fim dos anos 70, numa pesquisa que se tornou célebre, cientistas da Universidade de Minnesota estudaram 53 pares de gêmeos univitelinos, ou seja, gerados no mesmo óvulo e com DNA idêntico, e 31 pares de gêmeos bivitelinos, gerados em óvulos diferentes. Todos os gêmeos haviam sido separados após o nascimento e criados a distância. Como se esperava, os gêmeos com DNA idêntico, mesmo privados da convivência mútua, apresentavam traços de personalidade, comportamento e hábitos muito semelhantes. Os gêmeos idênticos eram duas vezes mais propensos a cultivar a espiritualidade no mesmo grau de seu irmão do que os gêmeos bivitelinos. Já quando se analisava a tendência a praticar uma religião, os gêmeos idênticos apresentavam significativas diferenças entre si – sinal de que o hábito de rezar e freqüentar igrejas ou templos é adquirido culturalmente.
O fato de a espiritualidade acompanhar o homem em sua evolução é, provavelmente, o motivo pelo qual o conceito de Deus surge em todas as sociedades humanas desde tempos imemoriais, mesmo entre as mais isoladas. Já o divórcio entre a fé religiosa e a ciência, que hoje se encontra na ordem do dia, é um fenômeno recente. Até o fim do século XVIII, a Igreja Católica, assim como se confundia com o Estado, legitimando o poder monárquico com a bênção do poder divino, andava de braços dados com a ciência. O cisma ideológico entre fé e ciência começou no iluminismo, movimento surgido na França que pregava o uso da razão para explicar o mundo e o universo, desafiava o papel da religião na sociedade e propunha uma nova ordem social, na qual os interesses humanos estivessem no centro das decisões. Só no século XIX, quando o inglês Charles Darwin deixou o mundo atônito com sua teoria da evolução das espécies, que negava a criação bíblica, as divergências entre o mundo da ciência e o da religião assumiram contornos de guerra cultural.
Hoje se vive um equilíbrio precário entre ciência e fé. Nos Estados Unidos, apenas 3% dos cientistas mais respeitados, aqueles que pertencem aos quadros da National Academy of Sciences, acreditam em Deus. Biólogos, como o inglês Richard Dawkins, e filósofos, como o americano Daniel Dennett, escrevem livros e artigos tentando desqualificar a religião como um mal que anestesia as sociedades e as priva das virtudes da razão. Os religiosos contra-atacam ao insistir, por exemplo, que as escolas públicas americanas deixem de ensinar as teorias de Darwin e as substituam pelos ensinamentos da Bíblia. Há também personagens ilustres que tentam contemporizar, como o biólogo americano Francis Collins, que se declara cristão, diz que ciência e religião não se misturam e que se podem cultivar ambas.
É possível que a ciência e a religião nunca se reconciliem totalmente. Afinal, o mote da primeira é a dúvida, e a razão de ser da segunda, a fé. Esta resiste na natureza humana mesmo quando a ciência prova que os fenômenos sobrenaturais na verdade são uma combinação entre reações químicas e elétricas. O melhor exemplo, no Brasil, da resistência da fé é o crescimento exponencial dos rebanhos de evangélicos pentecostais e de católicos carismáticos. Ambos acreditam nas manifestações diretas de Deus, em forma de milagres, por exemplo. Recentemente, o Vaticano reconheceu o segundo dos dois milagres necessários para que frei Galvão (1739-1822), frade franciscano que nasceu em Guaratinguetá, no interior de São Paulo, seja aceito como santo, o que deve acontecer em maio, na visita do papa Bento XVI ao Brasil. A professora de química paulista Sandra Grossi de Almeida, católica e devota de Nossa Senhora, já havia perdido três bebês por causa de uma má-formação no útero, um problema congênito. Quando ficou grávida pela quarta vez uma amiga a aconselhou a fazer os rituais de frei Galvão, que consistem em tomar cápsulas de papel com uma reza escrita e fazer novenas. "Também tomava remédios receitados pelo médico. Uma coisa é você ter fé, e outra é ser ignorante e não seguir o que o médico fala", diz Sandra. "A fé e a ciência têm de caminhar juntas. Sem fé, eu não teria conseguido ter o Enzo, meu filho", ela completa.
O Brasil é terreno fértil também para as manifestações acessórias da espiritualidade, como superstições, manias, crença em amuletos, na astrologia e no feng shui. Esse é o território do artista que adiciona uma letra ao nome, do torcedor de futebol que veste uma camisa especial para assistir ao jogo de seu time e dos jovens que usam no pescoço pingentes em forma de pimenta – última moda entre os adolescentes. Como as crenças religiosas, essas manifestações não têm comprovação empírica de que funcionem. Dependem puramente da fé que se deposita nelas. O sociólogo Antônio Flávio Pierucci, da Universidade de São Paulo, autor do livro A Magia, tem uma explicação para a devoção às superstições e às manias no dias de hoje. Diz ele: "A mente humana se sente desconfortável com o acaso, ela busca explicações para todas as coisas. Daí nasceram os conceitos de sorte e de azar. Se o acaso ocorre a nosso favor, temos sorte; se ele acontece contra nós, o classificamos de azar".
A ciência já identificou um gene da espiritualidade e conseguiu mapear os circuitos neurais responsáveis pelas emoções ligadas à fé. A evolução gravou em nosso genoma a necessidade da devoção e isso ajudou a espécie a sobreviver à Idade do Gelo. Como se sabe isso? As pesquisas arqueológicas e antropológicas mostram que diversos tipos de ancestrais humanos conviviam antes da Idade do Gelo, há cerca de 30.000 anos. Quando as geleiras cederam, apenas um tipo predominava, os Cro-Magnon. Eles organizavam-se em famílias, puniam o incesto, enterravam seus mortos, enfeitavam os túmulos, pintavam as paredes das cavernas por deleite estético e espiritual...! Os religiosos enxergam nesse salto evolutivo a interferência direta de Deus nos destinos da humanidade. Os cientistas dizem que a brutal aceleração da competição por recursos escassos e a luta pela sobrevivência em condições climáticas adversas selecionaram os hominídeos de tal forma que restaram apenas aqueles que desenvolveram a capacidade de acreditar. Em quê? Acreditar que aqueles tempos duros iriam passar. Acreditar que uma força superior iria trazer de volta as temperaturas amenas.
A descoberta de um gene da espiritualidade ou os exames de imagem capazes de mostrar os circuitos neurais envolvidos nas emoções suscitadas pelas orações não encerram a busca pelas raízes da fé, uma saga que mobiliza os teólogos desde o início da civilização. Por mais atuante que seja esse gene, ele é certamente apenas um tijolo de uma catedral maior: a vida espiritual humana.
http://veja.abril.com.br/070207/p_078.shtml
Para os ateus é o cúmulo da ironia. A evolução, o processo que acreditam ser o único responsável por criar a humanidade, parece estar a discriminar os não-crentes e a favorecer os religiosos.
Esta é a conclusão de um estudo realizado por Michael Blumer, um pesquisador da área das ciências sociais da Universidade de Jena, na Alemanha, divulgado recentemente no jornal inglês The Sunday Times.
A investigação, que estudou 82 países, sugere que, em escalas de tempo evolutivas de centenas ou milhares de anos, as pessoas com fortes crenças religiosas tendem a ter mais filhos (média de 2.5 crianças), ao contrário dos ateus (média de 1.7 crianças), cujas sociedades estão condenadas a desaparecer.
Para além do incentivo à procriação pelas autoridades religiosas, esta realidade comporta outros factores, tais como a sensação de dever em procriar e perpetuar a raça, bem como a partilha de crenças que facilitam a inserção dos fiéis numa comunidade, aceitando tarefas comuns e regras de comportamento.
Esta habilidade para trabalhar e viver em conjunto aumenta ainda mais as chances de sobrevivência das crianças. Todos estes argumentos entram em contradição com as opiniões dos biólogos evolucionistas (como Richard Dawkins, autor de O Gene Egoísta), que afirmam que a religião é como um vírus que infecta as pessoas.
(Fonte)
genesiscontradarwin
Segundo este estudo, o evolutivamente recomendável (para a propagação da espécie) é uma forte fé religiosa. O ateísmo aparentemente não é uma ideologia que favoreça a sobrevivência da espécie. Oh, a ironia!
Como a fé desempatou o jogo
Os antepassados humanos que desenvolveram a capacidade
de crer foram os únicos a sobreviver à Idade do Gelo. Isso
explica por que a fé resiste mesmo quando a ciência prova
que o sobrenatural nada mais é do que química e eletricidade
Okky de Souza
Em maior ou menor escala, em todas as sociedades modernas atuais as crenças estão mais vivas do que nunca. Mas isso não é um paradoxo, um contrafluxo na corrente racional vitoriosa do conhecimento humano? Não se convencionou que crença e ciência não combinam, são como óleo e água? Os dogmas milenares que orientam a fé de cristãos, judeus, muçulmanos ou budistas são todos muito respeitáveis, mas em pleno século XXI não são apenas anacronismos deslocados do mundo da razão e da tecnologia? Não. A novidade é que não existe paradoxo. Existe, sim, o reconhecimento dos limites dos dois campos da percepção humana dos fenômenos naturais.
Não passa um mês sem que saiam dos laboratórios explicações cabais sobre o que se pensava ser algo sobrenatural. O túnel de luz que as pessoas que estiveram em coma contam ter visto parecia misterioso e insondável. Esse túnel seria uma entrada entreaberta para a eternidade, que se deixava examinar de esguelha por alguém que estava prestes a abandonar o mundo material. Como se verá na pág. 82, essa e outras experiências sensoriais que se têm à beira da morte são todas reações mensuráveis e previsíveis do cérebro humano. Essa revelação torna os mistérios da vida e da morte menos espantosos? Não. Nada. Hoje soa arrogante e tola a reação dos orgulhosos astrofísicos nos anos 80, quando os satélites mandavam para a Terra sinais que confirmavam a teoria do Big Bang, a súbita explosão original que deu origem à matéria, à energia e às leis que regem a interação entre ambas: "Agora que a física já explicou como surgiu o universo, não há mais lugar para Deus". Tem chumbo trocado: quem pode imaginar uma reação mais tosca e pedestre do que dizer que a Lua perdeu o romantismo para os namorados depois que os astronautas americanos colocaram suas botas por lá? Claro que o núcleo duro da melhor ciência despreza a noção de Deus. Da mesma maneira, os metafísicos de todos os sabores e cores não enxergam utilidade alguma no método científico. O cenário atual que emana do córtex cerebral da humanidade – pelo menos da sua porção que se manifesta conectada na internet – é o de que, apesar dos avanços cada vez mais espetaculares da ciência, permanecem intactas as emoções humanas, as sensações de tremor diante do infinitamente pequeno ou do infinitamente grande. Por mais que se explique com crescente precisão como funciona o mundo natural, persiste para a maioria das pessoas a crença de que existe algo mais poderoso ainda.
Há nessa persistência, por ironia, uma explicação científica, estudada a fundo pelos cientistas. A fé, assim como as religiões criadas sobre ela, persiste por ser um componente primordial da evolução humana. Em algum momento durante a última era do gelo, que terminou 12 000 anos atrás, o homem desenvolveu o pensamento simbólico. Interessou-se em saber que tipo de força existia por trás dos fenômenos naturais. Começou a enterrar os mortos e a enfeitar seus túmulos com flores. No papel de única espécie capaz de antecipar a própria morte, o ser humano precisou vislumbrar entidades maiores e mais poderosas do que ele para conseguir suportar essa certeza. Muitos biólogos evolucionistas acreditam que as religiões – e tudo o que elas envolvem como instituições organizadas – surgiram como uma superadaptação do homem ao meio ambiente e prosperaram por conferir vantagens a seus praticantes. A crença no sobrenatural ajudou a convivência do grupo e, portanto, seria a gênese da civilização. O biólogo americano David Sloan Wilson, da Universidade Binghamton, autor do livro A Catedral de Darwin: Evolução, Religião e a Natureza da Sociedade, avalia que o impulso religioso se desenvolveu cedo na história dos hominídeos porque ele ajudava a criar grupos mais coesos, em que florescia o sentimento de fraternidade e solidariedade. "A crença foi uma arma poderosa na luta contra adversários menos unidos e menos organizados", disse Wilson a VEJA (a entrevista completa está na pág. 85).
A mais impressionante indicação de que a necessidade de cultuar um Deus está estampada na evolução humana encontra-se numa pesquisa realizada pelo biólogo molecular americano Dean Hamer, chefe do setor de estrutura genética do National Cancer Institute, e publicada em seu livro The God Gene: How Faith is Hardwired into Our Genes (O Gene de Deus: Como a Fé Está Embutida em Nossos Genes). Hamer afirma ter localizado no ser humano o gene responsável pela espiritualidade. Esse gene também teria a função de produzir os neurotransmissores que regulam o temperamento e o ânimo das pessoas. Segundo o livro do biólogo, os sentimentos profundos de espiritualidade seriam resultado de uma descarga de elementos químicos cerebrais controlados por nosso DNA.
A concepção de que a espiritualidade está gravada no genoma humano encontra eco numa das mais antigas religiões, o budismo. Seus adeptos acreditam que todo ser humano herda uma semente espiritual da pessoa que ela foi na encarnação anterior. Essa semente se combinaria a outras duas, herdadas dos pais, para formar suas características físicas e espirituais. Estudos anteriores ao de Hamer também conduzem à noção de que a espiritualidade está entranhada nos genes. No fim dos anos 70, numa pesquisa que se tornou célebre, cientistas da Universidade de Minnesota estudaram 53 pares de gêmeos univitelinos, ou seja, gerados no mesmo óvulo e com DNA idêntico, e 31 pares de gêmeos bivitelinos, gerados em óvulos diferentes. Todos os gêmeos haviam sido separados após o nascimento e criados a distância. Como se esperava, os gêmeos com DNA idêntico, mesmo privados da convivência mútua, apresentavam traços de personalidade, comportamento e hábitos muito semelhantes. Os gêmeos idênticos eram duas vezes mais propensos a cultivar a espiritualidade no mesmo grau de seu irmão do que os gêmeos bivitelinos. Já quando se analisava a tendência a praticar uma religião, os gêmeos idênticos apresentavam significativas diferenças entre si – sinal de que o hábito de rezar e freqüentar igrejas ou templos é adquirido culturalmente.
O fato de a espiritualidade acompanhar o homem em sua evolução é, provavelmente, o motivo pelo qual o conceito de Deus surge em todas as sociedades humanas desde tempos imemoriais, mesmo entre as mais isoladas. Já o divórcio entre a fé religiosa e a ciência, que hoje se encontra na ordem do dia, é um fenômeno recente. Até o fim do século XVIII, a Igreja Católica, assim como se confundia com o Estado, legitimando o poder monárquico com a bênção do poder divino, andava de braços dados com a ciência. O cisma ideológico entre fé e ciência começou no iluminismo, movimento surgido na França que pregava o uso da razão para explicar o mundo e o universo, desafiava o papel da religião na sociedade e propunha uma nova ordem social, na qual os interesses humanos estivessem no centro das decisões. Só no século XIX, quando o inglês Charles Darwin deixou o mundo atônito com sua teoria da evolução das espécies, que negava a criação bíblica, as divergências entre o mundo da ciência e o da religião assumiram contornos de guerra cultural.
Hoje se vive um equilíbrio precário entre ciência e fé. Nos Estados Unidos, apenas 3% dos cientistas mais respeitados, aqueles que pertencem aos quadros da National Academy of Sciences, acreditam em Deus. Biólogos, como o inglês Richard Dawkins, e filósofos, como o americano Daniel Dennett, escrevem livros e artigos tentando desqualificar a religião como um mal que anestesia as sociedades e as priva das virtudes da razão. Os religiosos contra-atacam ao insistir, por exemplo, que as escolas públicas americanas deixem de ensinar as teorias de Darwin e as substituam pelos ensinamentos da Bíblia. Há também personagens ilustres que tentam contemporizar, como o biólogo americano Francis Collins, que se declara cristão, diz que ciência e religião não se misturam e que se podem cultivar ambas.
É possível que a ciência e a religião nunca se reconciliem totalmente. Afinal, o mote da primeira é a dúvida, e a razão de ser da segunda, a fé. Esta resiste na natureza humana mesmo quando a ciência prova que os fenômenos sobrenaturais na verdade são uma combinação entre reações químicas e elétricas. O melhor exemplo, no Brasil, da resistência da fé é o crescimento exponencial dos rebanhos de evangélicos pentecostais e de católicos carismáticos. Ambos acreditam nas manifestações diretas de Deus, em forma de milagres, por exemplo. Recentemente, o Vaticano reconheceu o segundo dos dois milagres necessários para que frei Galvão (1739-1822), frade franciscano que nasceu em Guaratinguetá, no interior de São Paulo, seja aceito como santo, o que deve acontecer em maio, na visita do papa Bento XVI ao Brasil. A professora de química paulista Sandra Grossi de Almeida, católica e devota de Nossa Senhora, já havia perdido três bebês por causa de uma má-formação no útero, um problema congênito. Quando ficou grávida pela quarta vez uma amiga a aconselhou a fazer os rituais de frei Galvão, que consistem em tomar cápsulas de papel com uma reza escrita e fazer novenas. "Também tomava remédios receitados pelo médico. Uma coisa é você ter fé, e outra é ser ignorante e não seguir o que o médico fala", diz Sandra. "A fé e a ciência têm de caminhar juntas. Sem fé, eu não teria conseguido ter o Enzo, meu filho", ela completa.
O Brasil é terreno fértil também para as manifestações acessórias da espiritualidade, como superstições, manias, crença em amuletos, na astrologia e no feng shui. Esse é o território do artista que adiciona uma letra ao nome, do torcedor de futebol que veste uma camisa especial para assistir ao jogo de seu time e dos jovens que usam no pescoço pingentes em forma de pimenta – última moda entre os adolescentes. Como as crenças religiosas, essas manifestações não têm comprovação empírica de que funcionem. Dependem puramente da fé que se deposita nelas. O sociólogo Antônio Flávio Pierucci, da Universidade de São Paulo, autor do livro A Magia, tem uma explicação para a devoção às superstições e às manias no dias de hoje. Diz ele: "A mente humana se sente desconfortável com o acaso, ela busca explicações para todas as coisas. Daí nasceram os conceitos de sorte e de azar. Se o acaso ocorre a nosso favor, temos sorte; se ele acontece contra nós, o classificamos de azar".
A ciência já identificou um gene da espiritualidade e conseguiu mapear os circuitos neurais responsáveis pelas emoções ligadas à fé. A evolução gravou em nosso genoma a necessidade da devoção e isso ajudou a espécie a sobreviver à Idade do Gelo. Como se sabe isso? As pesquisas arqueológicas e antropológicas mostram que diversos tipos de ancestrais humanos conviviam antes da Idade do Gelo, há cerca de 30.000 anos. Quando as geleiras cederam, apenas um tipo predominava, os Cro-Magnon. Eles organizavam-se em famílias, puniam o incesto, enterravam seus mortos, enfeitavam os túmulos, pintavam as paredes das cavernas por deleite estético e espiritual...! Os religiosos enxergam nesse salto evolutivo a interferência direta de Deus nos destinos da humanidade. Os cientistas dizem que a brutal aceleração da competição por recursos escassos e a luta pela sobrevivência em condições climáticas adversas selecionaram os hominídeos de tal forma que restaram apenas aqueles que desenvolveram a capacidade de acreditar. Em quê? Acreditar que aqueles tempos duros iriam passar. Acreditar que uma força superior iria trazer de volta as temperaturas amenas.
A descoberta de um gene da espiritualidade ou os exames de imagem capazes de mostrar os circuitos neurais envolvidos nas emoções suscitadas pelas orações não encerram a busca pelas raízes da fé, uma saga que mobiliza os teólogos desde o início da civilização. Por mais atuante que seja esse gene, ele é certamente apenas um tijolo de uma catedral maior: a vida espiritual humana.
O MESMO TEMPO NA FÉ E NA CIÊNCIA "O que Deus fazia antes de criar o Céu e a Terra? Fazia o Inferno para os que duvidam." Essa era a resposta dos bispos católicos ao tempo de Santo Agostinho (354-430). Agostinho condenava a resposta. Qual a certa? "Deus não fazia nada." Mas como o todo-poderoso se dava ao luxo de passar o tempo fazendo nada? Agostinho: "Deus não passava o tempo fazendo nada porque o tempo não existia. Deus criou o tempo." É espantoso. Dezesseis séculos depois, as melhores cabeças científicas saíram-se com a teoria do Big Bang para explicar o surgimento do universo e tudo o que ele significa – inclusive o tempo. O físico inglês Stephen Hawking rejeita a sobreposição de ciência e religião. Em seu livro Uma Breve História do Tempo, porém, Hawking é agostiniano ao sugerir que o tempo teve começo e terá fim – ou não teria uma história. |
http://veja.abril.com.br/070207/p_078.shtml
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Inscrição : 08/05/2010
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