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Um Deus Justo e Salvador
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21042011
Um Deus Justo e Salvador
Um Deus Justo e Salvador
"A Doutrina da Justificação Pela Fé Somente"
"Como eu, pecador injusto, posso ser colocado em uma posição correta diante de um Deus Santo?". Esta é basicamente a pergunta à qual a doutrina que será tratada brevemente neste artigo traz a resposta. Trataremos de uma verdade essencial à sã doutrina da salvação: a Justificação pela fé somente. Este é o artigo de fé pelo qual a Igreja permanece de pé ou cai, conforme Lutero disse. É o eixo em torno do qual toda a religião gira, como também disse Calvino.
De fato, o Apóstolo Paulo já afirmara em seu tempo que aqueles que tentam combinar Cristo às obras, e tentam unir a graça de Deus com o mérito, na justificação, estão desligados de Cristo (Gl 5.2,4). Mais ainda, ele afirmou que se deve considerar sob anátema todos quantos ensinem uma outra mensagem (cf. Gl 1.8), que distorça a doutrina da justificação pela fé somente, a qual era o cerne do Evangelho que ele próprio pregava - daí o Apóstolo chamar tal doutrina de "a verdade do evangelho" em Gl 2.5. Destarte, não devem ser considerados algo de somenos importância deslizes acerca deste ponto doutrinário.
A Reforma Protestante, do século XVI, nasceu a partir da batalha pela recuperação dessa verdade evangélica. Ao dizermos que esta foi uma verdade "recuperada", porém, faz-se necessário asseverar que não tencionamos afirmar a falsa idéia de que a Justificação pela fé somente havia sido completamente perdida na história da Igreja desde os apóstolos - uma vez que, como pode ser demonstrado, além de não ter sido inventada por Lutero, esta foi uma doutrina que já havia sido confessada anteriormente, na Igreja primitiva. Falamos recuperação, porém, no sentido de que, com a Reforma, esta doutrina gloriosa, presente nas Escrituras Sagradas, foi ensinada com claridade igual àquela em que o tema se apresenta na Bíblia - mesmo tendo vivido os reformadores numa época em que os conceitos de justificação em muito divergiam do texto bíblico.
Perto de sua morte, Lutero relembrou como, ainda sendo monge, foi impactado por esta verdade da Escritura, isto é, a verdade da Justificação Pela Fé Somente - aquele princípio que, mais adiante, seria conhecido como o princípio material da Reforma, aquilo que dá substância à fé evangélica. Segundo ele próprio, a expressão "justiça de Deus", presente em Romanos 1.17, sempre lhe foi motivo de terror. "Eu odiava esta expressão 'justiça de Deus'", disse o Rev. Dr Martinho Lutero. Tal aversão se devia ao seu entendimento desta expressão como referência à justiça mediante a qual Deus pune os pecadores injustos e ao seu reconhecimento acerca de si próprio como alguém que estava em falta com este Deus.
Embora como monge Lutero buscasse viver irrepreensivelmente, ele se percebia como um pecador diante de um Deus Santo; percebia que, por melhores que fossem as "folhas de figueira" que as suas justiças pessoais pudessem lhe prover, nada que ele fizesse seria o bastante para cobrir a sua injustiça diante do Deus que é "puríssimo de olhos", nem para satisfazer o padrão de perfeição exigido pelo Altíssimo. Passar tempos sem se alimentar ou dormir no chão frio não bastaram para comprar-lhe a paz com Deus. "Não podia acreditar que Deus era aplacado por minha satisfação", dizia aquele pecador sobre sua condição.
Após meditar dia e noite, ele descobriu o sentido da tão odiada expressão "justiça de Deus", em Rm 1.17. Pela graça de Deus, a palavra tão grandemente "odiada" passaria, desde então, a ser alvo do seu amor.
"Eu prestei atenção ao contexto das palavras, a saber, 'A justiça de Deus é revelada, como está escrito, 'O justo viverá pela fé'. Comecei, então, a entender que a justiça de Deus consiste em que o justo vive por um dom de Deus, a saber, pela fé. E este é o significado: a justiça de Deus é revelada pelo evangelho, a saber, a justiça passiva de Deus com a qual Ele nos justifica pela fé, como está escrito, 'O justo viverá pela fé'. Senti como se estivesse nascendo de novo e tivesse entrado no paraíso por portões abertos... E eu celebrei minha doce palavra com um amor tão grande quanto o ódio com o qual anteriormente odiei a expressão 'justiça de Deus'. Desta forma, aquela passagem em Paulo veio a tornar-se para mim verdadeiramente o portão do paraíso"
O que Lutero compreendera, neste momento descrito acima, é que a "justiça de Deus" não é somente algo que Deus requer, mas, também, algo que Ele próprio concede livremente àqueles que crêem no Seu Filho - a saber, "a justiça de Deus mediante a fé em Cristo, para todos e sobre todos os que crêem" (Rm 3.22). Não obstante, a doutrina bíblica da justificação em toda a sua extensão foi se tornando clara a ele somente com o tempo - após as grandes disputas procedentes da publicação das Noventa e Cinco Teses. Somente em 1535, com o seu Comentário aos Gálatas, o reformador daria uma exposição mais completa, profunda e exata acerca da justificação pela fé somente e do caráter alheio desta justiça, segundo as Escrituras.
Com o nascimento da Reforma, e o espalhar-se da mensagem da fé evangélica, e os escândalos envolvendo o clero, veio a contra-reforma católica romana. E, com ela, veio também a definição clara do que era a posição da Igreja Católica Romana acerca da Doutrina bíblica da Justificação, no Concílio de Trento. O Concílio esclareceu aquilo que, ainda hoje, é crido pelos católicos romanos acerca da justificação, através de cânones que são, segundo a definição de Roma, irrevogáveis. O Ensino Católico Romano acerca da Justificação
Roma entende que a justificação é um processo que se inicia no batismo e que se estende por toda vida. Uma graça recebida que, no entanto, pode ser perdida, e recuperada através do sacramento da penitência. Para a Igreja Romana, a justificação deve ser compreendida como a obra da graça de Deus no coração do crente, que causa uma justiça inerente, a qual, por sua vez, serve de base para a aceitação do indivíduo diante de Deus e merece a justificação final. Justiça esta que também se obtém, aumenta e preserva através das boas obras, pelos crentes, assistidos pela graça, cf. Trento, Sessão VI, Cân. 24: "Se alguém disser que a justiça recebida não se conserva nem tão pouco se aumenta perante Deus pelas boas obras, mas que as boas obras são meramente frutos e sinais da justificação que se alcançou, e que não é causa de tal aumento - seja anátema".
No âmbito soteriológico, segundo a doutrina católica romana, justificar tem a ver com "fazer justo" e não, essencialmente, com "declarar justo"; ao sustentar isto, Roma se mostra em concordância com a interpretação mais proeminente entre os mestres medievais, seguindo a tradução de Jerônimo da Vulgata Latina, na qual a palavra grega "diaikosune", cujo significado é "declarar justo", foi vertida como "justificare", que significa "tornar justo". Isto, por sua vez, aponta para a realidade de que, segundo a doutrina católica oficial, a justificação diante de Deus tem a ver com uma mudança moral que ocorre no indivíduo e não, com algo estritamente forense. Por isso, no capítulo VII da Sessão VI do Concílio de Trento, que descreve a visão católica da justificação, diz-se que: "[a justificação] não é somente uma remissão de pecados, mas também a santificação e renovação do homem interior pela voluntária recepção da graça e dos dons mediante os quais o homem injusto se torna justo...". Aqui, fica absolutamente clara a identificação entre santificação e justificação, que a teologia romana realiza.
Com efeito, o conceito de justificação forense pela fé somente, segundo o qual se diz que somos justificados pela imputação da Justiça de Cristo somente, é rejeitado de modo expresso pela Igreja Romana, nos cânones 9 e 11 da mesma Sessão acima referida: "Se alguém disser que o ímpio é justificado somente pela fé, entendendo que nada mais se exige como cooperação para conseguir a graça da justificação... que seja anátema"; "Se alguém disser que os homens são justificados somente pela imputação da justiça de Cristo... que seja anátema". Embora alguns teólogos católicos romanos de nossos dias, comprometidos com o Ecumenismo, tentem dar a entender o oposto, tais declarações são repúdios à posição protestante.
Destarte, de modo simples, poder-se-ia contrastar as visões do Catolicismo Romano e do Protestantismo ortodoxo como segue: Processo versus Ato declarativo; Justificação moral versus Justificação forense; Infusão versus Imputação; Justificação pela fé e pelas obras, inspiradas pela graça, versus Justificação mediante a fé somente, por Cristo somente. As primeiras palavras de cada uma dessas frases tendo a ver com a concepção católica e as posteriores, com a protestante. Uma Defesa Bíblica da Doutrina Evangélica da Justificação Pela Fé Somente
Uma Definição desta Doutrina bíblica. A Justificação é o ato de Salvação, da parte de Deus, mediante o qual Ele nos declara justos com base no que Cristo fez por nós (cf. At 13.39; Rm 3.22,24-26; 5.1,9-10,16-21; 8.1,33-34; 10.4; 1 Co 1.30; 2 Co 5.19,21; Ef 1.6; Fp 3.8-9, etc). Na justificação, Deus não somente perdoa os nossos pecados, imputando-os ao Cristo Crucificado (cf. Is 53.6; Rm 4.7-8,22-25; 5.18; 2 Co 5.19,21; Gl 3.13), como também nos imputa a justiça perfeita de Cristo (cf. Fp 3.8-9; Rm 5.19; 10.4; 1 Co 1.30; Jr 23.6; Is 61.10), isto é, a obediência perfeita de sua vida em perfeita consonância com a lei de Deus, na qual o Senhor Jesus cumpriu "toda a justiça" de Deus (cf. Mt 3.15) por nós.
Um Ato declarativo e não, um Processo. Uma evidência - de que nos ensinos de Cristo a justificação do pecador diante de Deus é instantânea - é a descrição feita pelo Amado Jesus da justificação de um cobrador de impostos que, após ter clamado a Deus por misericórdia, "desceu justificado"(cf. Lc 18.14); mesmo antes de crescer na graça santificante e de receber qualquer sacramento, aquele publicano recebeu de Deus a bênção da justificação, completa e definitiva. Segundo o Senhor, quando um indivíduo ouve o evangelho e crê, naquele momento, passa da morte para a vida: "Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida"(Jo 5.24). Não há processo aqui, da mesma forma como não há em qualquer lugar que a Bíblia fale da justificação diante de Deus. Deveras, não é de se admirar, diante disso, que a justificação dos crentes seja referida pelos escritores bíblicos como um evento completo, um ato divino perfeito e não, como um processo de aperfeiçoamento a ser completado no futuro - e dependente do homem. Daí ser dito que "Justificados, pois, pela fé, temos paz com Deus por intermédio do Senhor Jesus Cristo... logo, muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira" (Rm 5.1,9); e também: "Portanto, agora, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Rm 8.1). "...Agora, já não há nenhuma condenação" implica dizer, necessariamente, que a justificação já é um fato para aqueles que foram unidos a Cristo Jesus. O cristão foi transferido de um estado para outro, houve uma mudança do seu status diante de Deus; de uma posição de "condenação" para uma de "justificação" diante do Juiz do Universo, desde quando creu em Cristo, pois está escrito que "Quem nele crê não é condenado", enquanto "o que não crê já está julgado; porquanto não crê no unigênito do Filho de Deus" (Jo 3.18).
O sentido comum da palavra "justificar" nas Escrituras Sagradas. "Justificar" é uma palavra usada profusamente nas Escrituras Sagradas com um sentido forense e jamais, com o sentido de aperfeiçoamento moral. Não é por acaso que justificar, tanto no AT quanto no NT, aparece repetidas vezes contrastado com termos relativos à condenação, v. Dt 25.1; Pv 17.5; Rm 5.16,18; 8.33-34; isto ocorre porque o verbo justificar é usado pelos escritores bíblicos como o antônimo de condenar - denotando o caráter eminentemente judicial dos termos. Tal contraste estabelecido nas Escrituras é harmônico com a posição protestante (pois o oposto de condenar é "absolver" ou "declarar justo ou inocente"), mas serve de óbice para a interpretação papista, de vez que, se justificar fosse usado nas Escrituras significando "tornar justo", o seu oposto jamais seria "condenar", mas, sim, "tornar ímpio" ou "depravar" - contudo, espécie semelhante de contraste não se encontra.
O uso paulino da palavra. A palavra grega traduzida por "justificar", no NT, é dikaioo. Ela aparece cerca de 40 vezes e Paulo, quando a usava, o fazia num sentido judicial. Este parece ter sido o uso comum da palavra, na época. Tanto é assim que alguns papiros do século I apresentam a palavra supracitada referindo-se a certas decisões judiciais. De fato, mesmo outras palavras correlatas à justificação no ensino de Paulo, como logizetai, traduzida como "imputada" ou "creditada" ou "atribuída", também se tratam de termos legais - denotando, inclusive, tanto o sentido objetivo desta justificação como a verdade de que não se está tratando de uma justiça inerente ou "comunicada". Deveras, a própria Bíblia jamais fala de justificação em termos de infusão de justiça (como pretenderiam os papistas), mas, sim, em termos de imputação de justiça, cf. Rm 4.3-8,12,22-25 (tal como sustentaram os Reformadores, muito acertadamente).
Uma justiça que é extrínseca. O caráter alheio desta justiça, que demonstra ser a justificação algo extrínseco, também pode ser provado de muitos outros modos. Na passagem de Rm 4.5, vemos que Deus justifica o indivíduo não com base no fato de que ele já iniciou uma vida de santidade ou com base no fato de que ele já é santo interiormente (daí ser dito que Deus "...justifica o ímpio"), mas, sim, em função de uma justiça perfeita que lhe é externa e creditada. O que demonstra a justificação não se baseia em algo que esteja no indivíduo. Isto, aliás, harmoniza-se mui perfeitamente com Filipenses 3.8-9, onde o Apóstolo das gentes diz: "... perdi todas as coisas e as considero refugo, para ganhar a Cristo, e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, mas somente a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, através da fé". Aqui, vemos mais uma vez que a característica desta justiça, mediante a qual somos justificados, é que ela não está nós (daí ser dito "...não tendo justiça própria"), nem é fruto do nosso trabalho e piedade pessoal, mas procede de Deus e a recebemos como uma dádiva (vs. 9; cf. Rm 1.17; 3.19-22) - razão pela qual é chamada de "dom da justiça" (Rm 5.17).
Uma justiça recebida somente pela fé. Este "dom da justiça" é recebido somente pela fé. Se, por um lado, é verdade que não há uma declaração explícita da frase "justificação pela fé somente", também é verdade que este é o ensino que perpassa toda a Escritura. Não há como escapar deste ensino quando Paulo declara enfaticamente que "ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça. E por isso diz Davi ser bem-aventurado o homem a quem Deus imputa justiça, independentemente de obras", em Romanos 4.5-6. Que a fé é o único meio de justificação para Paulo fica suficientemente claro na passagem anterior, mas isto também é afirmado de outros modos. Outro modo pelo qual Paulo ensina isto é quando ele rejeita qualquer outro meio de justificação, exceto a fé. "Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei" (Rm 3.28). "... sabendo, contudo, que o homem não é justificado pelas obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus..." (Gl 2.16). E para que não se digam que tais passagens referem-se a somente uma classe de obras e que as obras não são de todo excluídas, na concepção paulina de justificação, basta que se cite passagens onde ele explicitamente faz a exclusão de qualquer tipo de obras, a exemplo de Efésios 2.8-9: "Visto que pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie". Pela graça, mediante a fé e não de obras - isto não pode significar outra coisa além de que a salvação é "somente pela graça e somente mediante a fé", visto que, se obras forem acrescentadas, não poderá mais se dizer que "não vem das obras" e nem tampouco que é "pela graça"; pois, "se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça" (Rm 11.6).
Entendendo um pouco melhor a doutrina da Justificação. A Santidade de Deus requer que Ele odeie e puna os pecados (cf. Gn 18.25; Jr 44.4; Ez 18.4; Hb 1.13; Sl 5.4-6; Rm 1.18; 2.5). Destarte, Deus puniu os pecados do Seu povo em Cristo (cf. Rm 3.25-26), a fim de permanecer justo ao justificar os crentes. Por outro lado, a natureza perfeita e santa deste Deus, refletida em Sua Lei moral, requer de nós uma perfeição (i.e., uma justiça perfeita) para que, assim, Ele possa nos declarar justos aos Seus olhos (v. Gl 3.10ss; cf. Tg 2.10; Mt 5.48). Não basta uma ausência de débito, há, pois, a necessidade de um crédito para que sejamos justificados. O problema é que nenhum de nós detém uma obediência perfeita para que a ofereçamos a Deus (v. Is 64.6; Rm 3.10,23). De fato, já nascemos pecadores e culpados diante de Deus, em função da Queda (cf. Sl 51.5; Rm 5.12). Mais ainda, não raro pecamos contra a Sua lei (cf. 1 Jo 1.10), e mesmo depois de crentes, embora estejamos crescendo em santidade, nada que possamos engendrar fará com que atinjamos uma justiça perfeita (cf. Ecl 7.20; Rm 7.14-15,18; Pv 20.9; Jó 25.4-6; Sl 143.2). Para nossa felicidade (e não é por acaso que chamamos isto de "boas novas"), Deus o Filho veio realizar aquela obra que não poderíamos fazer (cf. Mt 1.21; Lc 19.10); Ele não somente morreu em nosso favor e em nosso lugar (cf. Is 53.11-12; Mc 10.45; Rm 4.22ss; 5.8; 2 Co 5.14; Gl 3.13; Cl 2.14; 1 Tm 2.6), aplacando a ira divina (cf. 1 Jo 2.2; 4.10), como também viveu uma vida perfeita e adquiriu uma justiça perfeita diante de Deus em nosso favor (cf. Rm 5.18-19). Uma justiça que recebemos gratuitamente quando cremos (cf. Rm 3.22ss; 10.4) e que, justamente por ser perfeita, não precisa de qualquer acréscimo de nossas justiças pessoais imperfeitas para que Deus nos aceite - somos aceitos por Deus em Cristo, cf. Rm 8.1; Ef 1.6-7.
Verdadeiramente, o Senhor nosso Deus "não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniqüidades" (Sl 103.10), porque Jesus Cristo satisfez todas as exigências dos padrões divinos em nosso benefício (cf. Rm 8.3-4; 10.4; Gl 3.22-29; 4.4-5; Jo 19.30; Is 53.11-12).
Casos de salvação na Bíblia contrariam a doutrina católica romana da justificação. Dado o fato de que o padrão divino é a perfeição (cf. Mt 5.20,28), é somente se tivermos em vista a doutrina da imputação da justiça de Cristo que poderemos entender relatos como os da salvação do publicano pecador e do ex-ladrão, casos relatados respectivamente em Lc 18 e 23. Os dois indivíduos não detinham uma perfeição que lhes fosse inerente, mas foram justificados instantaneamente por Deus. Em que base Deus fez isto, afinal? Só pode tê-lo feito com base na justiça perfeita de um substituto, uma justiça imputada - assim como ocorre com todos os crentes, quando confiam em Cristo para salvação, cf. Rm 10.4; Fp 3.6-9; v.tb.1 Co 1.30; 2 Co 5.21. No caso do publicano, vemos aquele pecador sendo justificado diante de Deus mediante a fé somente, ao ter se humilhado diante de d'Ele e clamado, em fé, por misericórdia - reconhecendo, pois, a sua total impotência de salvar-se a si mesmo. Jesus, na passagem, declara que aquele homem "desceu justificado", cf. Lc 18.14 - e isto, diga-se, antes mesmo dele ter começado a crescer em santidade. Semelhantemente, no caso do ex-ladrão, vemo-lo sendo salvo sem ter feito qualquer coisa para merecer a justificação (v. Lc 23.42-43) e sem ter participado de qualquer sacramento supostamente necessário para a salvação; colocando doutro modo, vemos aquele indivíduo também sendo salvo somente por meio da fé.
Fatos como estes ainda fazem desmoronar por completo outra crença papista: a de que o batismo é a causa instrumental da justificação. Uma crença que é insustentável biblicamente, de vez que a mesma Bíblia que afirma categoricamente que "não fomos salvos pelas nossas obras de justiça" (Tt 3.5) também afirma que o batismo é, sim, uma obra de justiça (cf. Mt 3.15).
Tais casos não foram exceções por indivíduos serem salvos somente mediante a fé. De Gênesis a Apocalipse, o Evangelho perpassa as Escrituras - quer de modo mais implícito nas várias predições do Messias Redentor e da obra que Ele realizaria (AT), quer nas explanações do que este Cristo de Deus realizou (NT) para a salvação dos pecadores. E o cerne dessa mensagem a que chamamos de "boas-novas" é Deus fazendo pelo homem aquilo que este não poderia fazer por si próprio. É Deus providenciando os meios pelos quais o homem injusto pode se colocar numa posição correta diante d'Ele. No campo da justificação, é Deus providenciando uma justiça perfeita ao homem, à parte de quaisquer obras pessoais do indivíduo que crê, à parte dos esforços humanos, para que a glória da salvação seja somente d'Ele. Não admira que, quando o carcereiro de Atos 16 perguntou a Paulo e Silas o que deveria fazer para ser salvo (vs. 30), os homens de Deus tenham respondido simplesmente: "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa"(vs. 31). Deveras, tanto os santos do Antigo quanto os do Novo Testamento foram salvos somente por meio da fé; enquanto estes foram salvos mediante a fé com base no que Cristo fez (Rm 4.22-25), aqueles foram salvos mediante a fé com base naquilo que Cristo faria (Rm 4.5-6). Tanto em Rm 4.3ss quanto em Gl 3.6ss, Paulo lembra a justificação de Abraão, citando Gênesis 15.6, como o exemplo da forma como todos os crentes são justificados diante de Deus; e nesta passagem veterotestamentária citada, não encontramos Abraão "cooperando" com a graça em um processo de infusão de justiça, nem participando de um sacramento, assim como também não o vemos realizando quaisquer boas obras ou penitências; antes, é-nos dito simplesmente: "Abraão creu e isso lhe foi imputado como justiça"; bastou ele confiar nas promessas graciosas de Deus para instantaneamente ser justificado diante do Senhor. Isto é Sola Fide, e nada mais. Como também é demonstração desta mesma verdade a passagem registrada no Evangelho Segundo Marcos 2.5, quando Jesus pronuncia o perdão a um paralítico meramente porque viu sua fé: "Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Filho, os teus pecados estão perdoados". Verdadeiramente, como os profetas anunciavam, "por meio do seu nome, todo aquele que nele crê recebe a remissão de pecados" (cf. At 10.43), e "por meio dele [Cristo], todo o que crê é justificado de todas as coisas das quais vós não pudestes ser justificados pela lei de Moisés" (At 13.39).
Ademais, que a justificação é uma obra de Deus somente, à parte de qualquer obra humana, também fica claro quando, nos contextos nos quais a justificação é incluída, Deus é o agente único dela. "...Sendo justificados, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça... tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser o justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus"(Rm 3.24-26); "Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios... Deus prova seu amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue..."(Rm 5.6,8-9); "Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo" (Rm 5.17); "E aos que [Deus] predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós, o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica" (Rm 8.30-33).
Justificação não é santificação; mas isso não quer dizer que os crentes não crescem em santidade. Justificação (Rm 3.28-4.6) e Santificação (Ef 2.10; 2 Pd 3.18) são bênçãos distintas - ainda que sejam reais para todos os que são de Cristo (cf. 1 Co 6.11). Biblicamente, a justificação é a obra de Deus por nós que nos declara justos; enquanto a santificação é a obra de Deus em nós que nos faz justos. Pelos casos citados acima, bem como pelo ensino geral das Escrituras, fica patente que a santificação não é condição para justificação.
Na verdade, a santificação é o resultado da justificação. Os que forem verdadeiramente justificados crescerão em santidade. Afinal, de acordo com a Bíblia, em virtude da união com Cristo (v. Cl 1.27; Jo 15.4; 1 Co 1.30; Gl 2.20), os crentes, durante sua peregrinação neste mundo, permanecem sendo moldados à imagem do Filho de Deus (Rm 8.29), e, conquanto sejam sempre falhos na terra (cf. Pv 20.9; Sl 130.3; Jó 25.4-6; Ecl 7.20; 1 Jo 1.10), há uma transformação gradativa (2 Co 3.18), de crescimento em santidade (2 Pd 3.18), que é realidade neles e atingirá a sua plenitude na glorificação (1 Jo 3.2).
Outrossim, não discordamos dos católicos romanos que haja uma renovação moral no pecador - apenas não confundimos isto com a justificação, que é coisa distinta. Negamos, porém, que a regeneração (o ato inicial da salvação, em que Deus faz nascer de novo o pecador e o vivifica, cf. Jo 1.12-13; Ef 2.1-5; 2 Co 5.17, etc) e a santificação (o processo de crescimento em santidade) possam ser de alguma forma a base de nossa aceitação diante de Deus, porquanto "Cristo Somente" (sua satisfação pelos pecados e a justiça de sua vida) é o único fundamento da nossa relação com Deus e a causa única de nossa aceitação diante do Deus Santo, cf. Rm 4.22-25; 5.8-10,16,18; 10.3-4; 1 Co 1.30; 2 Co 5.19-21; Ef 1.6; Fp 3.8ss, etc.
A justificação não pode ser revogada ou perdida. Na mesma epístola em que o Apóstolo chama a vida eterna de um "dom gratuito"(Rm 6.23) e a justificação de "dom da justiça"(Rm 5.17), ele também diz que os dons são irrevogáveis (cf. Rm 11.29) - o que significa dizer que a vida eterna e a justificação são dons irrevogáveis. Deveras, a Escritura diz que aqueles a quem Deus justifica, a esses Ele também glorifica: "E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou"(Rm 8.30). O que a Escritura está dizendo é que todos quantos são declarados justos (justificação) decerto participarão do aspecto futuro da salvação, quando a santificação terá atingido o seu alvo e os crentes em Cristo terão sido final e completamente conformados à imagem de Cristo (cf. Rm 8.29). A idéia de uma justificação perdível, tal como Roma ensina, é estranha às Escrituras, porque esta é uma bênção que repousa completamente fora do crente, a saber, repousa em Cristo e n'Ele somente - conforme já dissemos anteriormente. Esta é a explicação bíblica para a justificação ser descrita, no presente, tão certa quanto no futuro: "Logo, muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida" (Rm 5.9-10). O ensino de Tiago acerca da fé e das obras não contradiz o de Paulo. Como entender que Paulo ensine que os homens são "justificados pela fé", e "à parte de obras", em Romanos 4 e Gálatas 3, e Tiago afirme que somos "justificados pelas obras, e não pela fé sozinha"(cf. Tg 2.14-26)? Trata-se de uma apenas aparente contradição. Mas, se cremos que os dois apóstolos em discussão estavam falando sob a inspiração do Espírito Santo, e Deus não pode falhar e nem se contradizer, segue-se que a possibilidade deles haverem efetivamente se contradito não existe realmente. Para que não haja um entendimento equivocado, que coloque em oposição Escrituras inspiradas, bastam algumas observações breves mas importantes.
Em Romanos e Gálatas, o Apóstolo Paulo está explicando como um homem pode ser declarado justo diante de Deus, isto é, como o homem pode ser transferido de um estado de condenação para um de justificação diante do tribunal de Deus. Por outro lado, o Apóstolo Tiago, em sua Epístola inspirada, está explicando o que caracteriza a fé verdadeira, como os homens demonstram ser justos diante dos homens dando prova da sua fé. Enquanto Paulo está repudiando o erro daqueles que, em seu tempo, a exemplo dos papistas de hoje, tentavam combinar a graça com as obras, a justiça de Cristo com os esforços pessoais do indivíduo, condicionando a graça a certos rituais necessários para salvação, Tiago, por sua vez, está condenando aquilo que se chama de "antinomismo" - que era aderido por pessoas que, em seu tempo, pareciam não compreender que a fé genuína é manifesta na obediência. Logo, a pergunta a que Paulo trata responder é distinta daquela que Tiago se empenha em elucidar. Paulo está elucidando a questão de "Como eu, pecador, posso ser colocado numa posição de retidão diante de Deus?"; já Tiago, diferentemente, está elucidando a questão de "Como eu posso saber que minha fé é genuína?".
Deve-se observar, ainda, que "justificar" em Tiago refere-se a algo distinto daquilo a que Paulo referencia com o termo. Em Paulo, "justificar" está se referindo unicamente à justificação "diante de Deus" (ver Gl 3.11), mas, em Tiago 2, o mesmo termo é usado em referência à justificação diante dos homens (cf. Tg 2.18, "... mostra-me a tua fé... te mostrarei a minha fé pelas minhas obras"). Justificação, no contexto de Paulo, tem a ver com o ato declarativo de Deus; mas "justificação", no contexto de Tiago, tem a ver com uma vindicação de justiça, em que o indivíduo que professa ter fé é justificado diante dos homens pelas obras. Enquanto Paulo fala do meio instrumental da salvação, Tiago está falando da evidência da fé genuína e do fruto da salvação - "porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração"(1 Sm 16.7). Deus conhece o meu coração e sabe da fé que existe nele; mas você não o conhece, portanto, as minhas obras testificam, diante de mim e de você, a existência da fé genuína. Se eu disser que creio, Deus saberá perfeitamente se falo a verdade; mas, a menos que eu mostre a você a minha fé pelas obras, jamais você saberá de tal coisa. É precisamente por isso que, embora diante de Deus sejamos justificados somente mediante a fé (no sentido de sermos colocados numa posição correta diante d'Ele), somos "justificados" diante dos homens (no sentido de que provamos nossa fé diante deles) pelas nossas obras. Para Tiago, assim como para Paulo, uma fé falsa (i.e., meramente histórica) é morta. Mas é absolutamente certo que, tanto para Paulo quanto para Tiago, a fé genuína, pela sua natureza, é uma fé viva e jamais morta, porquanto o crente verdadeiro tem pela fé a vida de sua alma (Rm 1.17), e a Cristo como a vida de sua fé (Gl 2.20).
A justificação é "pela fé" no sentido de ser "mediante a fé" e não, no sentido de ser baseada nela. As Escrituras Sagradas ensinam que os crentes são justificados dia pisteos, em Rm 3.25, que quer dizer "mediante a fé"; pistei, em Rm 3.28, que quer dizer "pela fé"; e ek pisteos, em Rm 3.30 e 5.1, que quer dizer "por fé". De fato, a própria Bíblia estabelece que a salvação é "pela graça... por meio da fé" (dia pisteos), em Ef 2.8 - denotando, assim, a função de meio instrumental que a fé possui, no que concerne ao recebimento da salvação. Mas, mesmo isto sendo verdade, jamais é dito que os crentes são justificados dia pistin, i.e, por causa da fé.
A verdade é que a fé não é uma "obra meritória" (v. Ef 2.8ss) e nem a base de nossa salvação. Não somos salvos "por causa da fé", mas por causa de Cristo somente. A suficiência da fé repousa na de Cristo; e a excelência da fé não está em Si mesma, mas em Seu objeto (v. 1 Co 1.30). De sorte que o cerne da verdade da justificação pela fé somente não é que a nossa fé seja a "maior ou mais meritória de todas as obras", mas, sim, que Cristo é suficiente para - somente por causa de quem Ele é e do que Ele fez - livrar-nos da condenação eterna e colocar-nos numa posição correta diante de Deus.
A justificação do pecador não é, pois, uma recompensa de Deus devido ao fato do indivíduo crer, mas, sim, algo que é concedido gratuitamente, à parte de qualquer obra ou merecimento humano, e que é simplesmente recebido pela fé - esta, no caso, é comparável a um "estender das mãos" da alma do crente para receber a dádiva de Deus, o "presente" da vida eterna; é também comparável a um olhar confiante da parte do crente que se volta ao Deus Salvador (v. Is 45.22), na pessoa do Mediador, o Cristo Crucificado (cf. Jo 3.14-15), e que espera n'Ele e somente n'Ele, pelas promessas do santo Evangelho, a salvação. Destarte, se somos justificados mediante a fé somente, é porque o somos por causa de Cristo Somente.
Conclusão
A Doutrina da Justificação Pela Fé Somente tem servido de conforto para os servos de Deus, em todas as épocas. A verdade de que nada daquilo que possamos fazer poderá nos justificar diante de Deus é um insulto para o homem não-cristão, para aquele que confia em sua própria justiça quanto à salvação (v. 1 Co 1.18-23). No entanto, para aqueles que foram confrontados com a ira de Deus, e que estão, por conseguinte, cônscios de sua própria pecaminosidade, esta é uma doutrina que serve para lembrá-los para onde devem olhar, quando se sentirem acusados por Satanás e aterrorizados pela lei: Cristo.
Saber que nossa posição diante de Deus não depende de nossas justiças pessoais, mas que somos justificados somente devido à satisfação que Cristo ofereceu na cruz e à obediência que Cristo cumpriu, é algo que traz paz e segurança. Na beleza do Cristo crucificado podemos encontrar cada um dos nossos pecados julgados, punidos, condenados. E na valiosíssima e puríssima justiça de Cristo, temos as "vestes" de que necessitamos para nos apresentar diante do Senhor.Leitor, caso você ainda não tenha confiado somente em Cristo para a salvação, pois até hoje confiou, pelo menos em parte, em si mesmo e em sua obediência pessoal (obras) para salvar-se; saiba que o bendito e gracioso Jesus o convida a lançar sobre Ele o seu fardo de culpa e receber d'Ele o Seu manto de justiça. E isto gratuitamente, mediante a fé somente e para sempre. "Eis, agora, o dia da salvação" - se hoje você confiar em Cristo Jesus, em Sua obra e justiça, estará conhecendo em verdade àquele Deus a quem o Seu povo chama jubilosamente de "Senhor, justiça nossa" (Jr 23.6; cf. 1 Co 1.30). Sim, você regozijará grandemente, tal como todos os que recebem de Deus a Sua justiça imputada, mediante a fé somente: "Regozijar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegra no meu Deus; porque me cobriu de vestes de salvação e me envolveu com o manto de justiça, como noivo que se adorna de turbante, como a noiva se enfeita com as suas jóias" (Is 61.10).
A salvação que lhe foi anunciada, nesta página, é realmente digna de ser chamada de "tão grande salvação" (Hb 2.3), como a chamou o escritor bíblico. Trata-se de algo eterno, que se baseia somente em Cristo, na Sua graça e é recebido mediante a fé somente. Trata-se de uma salvação que não requer um "estado de purificação dos eleitos", como um purgatório, porquanto o que verdadeiramente liberta de toda mancha de pecado é o sangue daquele "Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo"; trata-se, também, de uma salvação que não requer que você acrescente o seu mérito e a sua justiça pessoal à justiça de Cristo, para que possa ser salvo, visto que estamos falando de uma justiça perfeita, concedida mediante a fé somente. Afinal, a salvação que aqui foi tratada não é outra senão uma que foi providenciada por um Salvador, perfeito e suficiente. Que este Salvador do mundo possa ser, hoje, o seu Salvador pessoal, para a glória de Deus - esta é a nossa oração. Amém.
"Imediatamente recebi o poder para crer nisto, e os raios plenos do 'Sol da Justiça' brilharam sobre mim. Vi a suficiência da propiciação que Ele [Cristo] havia feito, meu perdão selado em Seu sangue, e toda a plenitude e perfeição de Sua justificação. Num instante, eu cri e recebi o Evangelho... Não fosse o braço do Todo-Poderoso por detrás de mim, penso que eu deveria ter morrido com gratidão e alegria. Meus olhos se encheram de lágrimas e minha voz ficou embargada de emoção; eu só podia olhar para o céu em temor silente, tomado de amor e adoração" (William Cowper, cit. "O Sorriso Escondido em Deus", de John Piper, pág.35 - Edições Vida Nova, 1ª Edição - Fevereiro de 2002).
Bibliografia
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STOTT, John. A Cruz de Cristo. São Paulo, Editora Vida, 1991.
"A Doutrina da Justificação Pela Fé Somente"
"Como eu, pecador injusto, posso ser colocado em uma posição correta diante de um Deus Santo?". Esta é basicamente a pergunta à qual a doutrina que será tratada brevemente neste artigo traz a resposta. Trataremos de uma verdade essencial à sã doutrina da salvação: a Justificação pela fé somente. Este é o artigo de fé pelo qual a Igreja permanece de pé ou cai, conforme Lutero disse. É o eixo em torno do qual toda a religião gira, como também disse Calvino.
De fato, o Apóstolo Paulo já afirmara em seu tempo que aqueles que tentam combinar Cristo às obras, e tentam unir a graça de Deus com o mérito, na justificação, estão desligados de Cristo (Gl 5.2,4). Mais ainda, ele afirmou que se deve considerar sob anátema todos quantos ensinem uma outra mensagem (cf. Gl 1.8), que distorça a doutrina da justificação pela fé somente, a qual era o cerne do Evangelho que ele próprio pregava - daí o Apóstolo chamar tal doutrina de "a verdade do evangelho" em Gl 2.5. Destarte, não devem ser considerados algo de somenos importância deslizes acerca deste ponto doutrinário.
A Reforma Protestante, do século XVI, nasceu a partir da batalha pela recuperação dessa verdade evangélica. Ao dizermos que esta foi uma verdade "recuperada", porém, faz-se necessário asseverar que não tencionamos afirmar a falsa idéia de que a Justificação pela fé somente havia sido completamente perdida na história da Igreja desde os apóstolos - uma vez que, como pode ser demonstrado, além de não ter sido inventada por Lutero, esta foi uma doutrina que já havia sido confessada anteriormente, na Igreja primitiva. Falamos recuperação, porém, no sentido de que, com a Reforma, esta doutrina gloriosa, presente nas Escrituras Sagradas, foi ensinada com claridade igual àquela em que o tema se apresenta na Bíblia - mesmo tendo vivido os reformadores numa época em que os conceitos de justificação em muito divergiam do texto bíblico.
Perto de sua morte, Lutero relembrou como, ainda sendo monge, foi impactado por esta verdade da Escritura, isto é, a verdade da Justificação Pela Fé Somente - aquele princípio que, mais adiante, seria conhecido como o princípio material da Reforma, aquilo que dá substância à fé evangélica. Segundo ele próprio, a expressão "justiça de Deus", presente em Romanos 1.17, sempre lhe foi motivo de terror. "Eu odiava esta expressão 'justiça de Deus'", disse o Rev. Dr Martinho Lutero. Tal aversão se devia ao seu entendimento desta expressão como referência à justiça mediante a qual Deus pune os pecadores injustos e ao seu reconhecimento acerca de si próprio como alguém que estava em falta com este Deus.
Embora como monge Lutero buscasse viver irrepreensivelmente, ele se percebia como um pecador diante de um Deus Santo; percebia que, por melhores que fossem as "folhas de figueira" que as suas justiças pessoais pudessem lhe prover, nada que ele fizesse seria o bastante para cobrir a sua injustiça diante do Deus que é "puríssimo de olhos", nem para satisfazer o padrão de perfeição exigido pelo Altíssimo. Passar tempos sem se alimentar ou dormir no chão frio não bastaram para comprar-lhe a paz com Deus. "Não podia acreditar que Deus era aplacado por minha satisfação", dizia aquele pecador sobre sua condição.
Após meditar dia e noite, ele descobriu o sentido da tão odiada expressão "justiça de Deus", em Rm 1.17. Pela graça de Deus, a palavra tão grandemente "odiada" passaria, desde então, a ser alvo do seu amor.
"Eu prestei atenção ao contexto das palavras, a saber, 'A justiça de Deus é revelada, como está escrito, 'O justo viverá pela fé'. Comecei, então, a entender que a justiça de Deus consiste em que o justo vive por um dom de Deus, a saber, pela fé. E este é o significado: a justiça de Deus é revelada pelo evangelho, a saber, a justiça passiva de Deus com a qual Ele nos justifica pela fé, como está escrito, 'O justo viverá pela fé'. Senti como se estivesse nascendo de novo e tivesse entrado no paraíso por portões abertos... E eu celebrei minha doce palavra com um amor tão grande quanto o ódio com o qual anteriormente odiei a expressão 'justiça de Deus'. Desta forma, aquela passagem em Paulo veio a tornar-se para mim verdadeiramente o portão do paraíso"
O que Lutero compreendera, neste momento descrito acima, é que a "justiça de Deus" não é somente algo que Deus requer, mas, também, algo que Ele próprio concede livremente àqueles que crêem no Seu Filho - a saber, "a justiça de Deus mediante a fé em Cristo, para todos e sobre todos os que crêem" (Rm 3.22). Não obstante, a doutrina bíblica da justificação em toda a sua extensão foi se tornando clara a ele somente com o tempo - após as grandes disputas procedentes da publicação das Noventa e Cinco Teses. Somente em 1535, com o seu Comentário aos Gálatas, o reformador daria uma exposição mais completa, profunda e exata acerca da justificação pela fé somente e do caráter alheio desta justiça, segundo as Escrituras.
Com o nascimento da Reforma, e o espalhar-se da mensagem da fé evangélica, e os escândalos envolvendo o clero, veio a contra-reforma católica romana. E, com ela, veio também a definição clara do que era a posição da Igreja Católica Romana acerca da Doutrina bíblica da Justificação, no Concílio de Trento. O Concílio esclareceu aquilo que, ainda hoje, é crido pelos católicos romanos acerca da justificação, através de cânones que são, segundo a definição de Roma, irrevogáveis. O Ensino Católico Romano acerca da Justificação
Roma entende que a justificação é um processo que se inicia no batismo e que se estende por toda vida. Uma graça recebida que, no entanto, pode ser perdida, e recuperada através do sacramento da penitência. Para a Igreja Romana, a justificação deve ser compreendida como a obra da graça de Deus no coração do crente, que causa uma justiça inerente, a qual, por sua vez, serve de base para a aceitação do indivíduo diante de Deus e merece a justificação final. Justiça esta que também se obtém, aumenta e preserva através das boas obras, pelos crentes, assistidos pela graça, cf. Trento, Sessão VI, Cân. 24: "Se alguém disser que a justiça recebida não se conserva nem tão pouco se aumenta perante Deus pelas boas obras, mas que as boas obras são meramente frutos e sinais da justificação que se alcançou, e que não é causa de tal aumento - seja anátema".
No âmbito soteriológico, segundo a doutrina católica romana, justificar tem a ver com "fazer justo" e não, essencialmente, com "declarar justo"; ao sustentar isto, Roma se mostra em concordância com a interpretação mais proeminente entre os mestres medievais, seguindo a tradução de Jerônimo da Vulgata Latina, na qual a palavra grega "diaikosune", cujo significado é "declarar justo", foi vertida como "justificare", que significa "tornar justo". Isto, por sua vez, aponta para a realidade de que, segundo a doutrina católica oficial, a justificação diante de Deus tem a ver com uma mudança moral que ocorre no indivíduo e não, com algo estritamente forense. Por isso, no capítulo VII da Sessão VI do Concílio de Trento, que descreve a visão católica da justificação, diz-se que: "[a justificação] não é somente uma remissão de pecados, mas também a santificação e renovação do homem interior pela voluntária recepção da graça e dos dons mediante os quais o homem injusto se torna justo...". Aqui, fica absolutamente clara a identificação entre santificação e justificação, que a teologia romana realiza.
Com efeito, o conceito de justificação forense pela fé somente, segundo o qual se diz que somos justificados pela imputação da Justiça de Cristo somente, é rejeitado de modo expresso pela Igreja Romana, nos cânones 9 e 11 da mesma Sessão acima referida: "Se alguém disser que o ímpio é justificado somente pela fé, entendendo que nada mais se exige como cooperação para conseguir a graça da justificação... que seja anátema"; "Se alguém disser que os homens são justificados somente pela imputação da justiça de Cristo... que seja anátema". Embora alguns teólogos católicos romanos de nossos dias, comprometidos com o Ecumenismo, tentem dar a entender o oposto, tais declarações são repúdios à posição protestante.
Destarte, de modo simples, poder-se-ia contrastar as visões do Catolicismo Romano e do Protestantismo ortodoxo como segue: Processo versus Ato declarativo; Justificação moral versus Justificação forense; Infusão versus Imputação; Justificação pela fé e pelas obras, inspiradas pela graça, versus Justificação mediante a fé somente, por Cristo somente. As primeiras palavras de cada uma dessas frases tendo a ver com a concepção católica e as posteriores, com a protestante. Uma Defesa Bíblica da Doutrina Evangélica da Justificação Pela Fé Somente
Uma Definição desta Doutrina bíblica. A Justificação é o ato de Salvação, da parte de Deus, mediante o qual Ele nos declara justos com base no que Cristo fez por nós (cf. At 13.39; Rm 3.22,24-26; 5.1,9-10,16-21; 8.1,33-34; 10.4; 1 Co 1.30; 2 Co 5.19,21; Ef 1.6; Fp 3.8-9, etc). Na justificação, Deus não somente perdoa os nossos pecados, imputando-os ao Cristo Crucificado (cf. Is 53.6; Rm 4.7-8,22-25; 5.18; 2 Co 5.19,21; Gl 3.13), como também nos imputa a justiça perfeita de Cristo (cf. Fp 3.8-9; Rm 5.19; 10.4; 1 Co 1.30; Jr 23.6; Is 61.10), isto é, a obediência perfeita de sua vida em perfeita consonância com a lei de Deus, na qual o Senhor Jesus cumpriu "toda a justiça" de Deus (cf. Mt 3.15) por nós.
Um Ato declarativo e não, um Processo. Uma evidência - de que nos ensinos de Cristo a justificação do pecador diante de Deus é instantânea - é a descrição feita pelo Amado Jesus da justificação de um cobrador de impostos que, após ter clamado a Deus por misericórdia, "desceu justificado"(cf. Lc 18.14); mesmo antes de crescer na graça santificante e de receber qualquer sacramento, aquele publicano recebeu de Deus a bênção da justificação, completa e definitiva. Segundo o Senhor, quando um indivíduo ouve o evangelho e crê, naquele momento, passa da morte para a vida: "Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida"(Jo 5.24). Não há processo aqui, da mesma forma como não há em qualquer lugar que a Bíblia fale da justificação diante de Deus. Deveras, não é de se admirar, diante disso, que a justificação dos crentes seja referida pelos escritores bíblicos como um evento completo, um ato divino perfeito e não, como um processo de aperfeiçoamento a ser completado no futuro - e dependente do homem. Daí ser dito que "Justificados, pois, pela fé, temos paz com Deus por intermédio do Senhor Jesus Cristo... logo, muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira" (Rm 5.1,9); e também: "Portanto, agora, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Rm 8.1). "...Agora, já não há nenhuma condenação" implica dizer, necessariamente, que a justificação já é um fato para aqueles que foram unidos a Cristo Jesus. O cristão foi transferido de um estado para outro, houve uma mudança do seu status diante de Deus; de uma posição de "condenação" para uma de "justificação" diante do Juiz do Universo, desde quando creu em Cristo, pois está escrito que "Quem nele crê não é condenado", enquanto "o que não crê já está julgado; porquanto não crê no unigênito do Filho de Deus" (Jo 3.18).
O sentido comum da palavra "justificar" nas Escrituras Sagradas. "Justificar" é uma palavra usada profusamente nas Escrituras Sagradas com um sentido forense e jamais, com o sentido de aperfeiçoamento moral. Não é por acaso que justificar, tanto no AT quanto no NT, aparece repetidas vezes contrastado com termos relativos à condenação, v. Dt 25.1; Pv 17.5; Rm 5.16,18; 8.33-34; isto ocorre porque o verbo justificar é usado pelos escritores bíblicos como o antônimo de condenar - denotando o caráter eminentemente judicial dos termos. Tal contraste estabelecido nas Escrituras é harmônico com a posição protestante (pois o oposto de condenar é "absolver" ou "declarar justo ou inocente"), mas serve de óbice para a interpretação papista, de vez que, se justificar fosse usado nas Escrituras significando "tornar justo", o seu oposto jamais seria "condenar", mas, sim, "tornar ímpio" ou "depravar" - contudo, espécie semelhante de contraste não se encontra.
O uso paulino da palavra. A palavra grega traduzida por "justificar", no NT, é dikaioo. Ela aparece cerca de 40 vezes e Paulo, quando a usava, o fazia num sentido judicial. Este parece ter sido o uso comum da palavra, na época. Tanto é assim que alguns papiros do século I apresentam a palavra supracitada referindo-se a certas decisões judiciais. De fato, mesmo outras palavras correlatas à justificação no ensino de Paulo, como logizetai, traduzida como "imputada" ou "creditada" ou "atribuída", também se tratam de termos legais - denotando, inclusive, tanto o sentido objetivo desta justificação como a verdade de que não se está tratando de uma justiça inerente ou "comunicada". Deveras, a própria Bíblia jamais fala de justificação em termos de infusão de justiça (como pretenderiam os papistas), mas, sim, em termos de imputação de justiça, cf. Rm 4.3-8,12,22-25 (tal como sustentaram os Reformadores, muito acertadamente).
Uma justiça que é extrínseca. O caráter alheio desta justiça, que demonstra ser a justificação algo extrínseco, também pode ser provado de muitos outros modos. Na passagem de Rm 4.5, vemos que Deus justifica o indivíduo não com base no fato de que ele já iniciou uma vida de santidade ou com base no fato de que ele já é santo interiormente (daí ser dito que Deus "...justifica o ímpio"), mas, sim, em função de uma justiça perfeita que lhe é externa e creditada. O que demonstra a justificação não se baseia em algo que esteja no indivíduo. Isto, aliás, harmoniza-se mui perfeitamente com Filipenses 3.8-9, onde o Apóstolo das gentes diz: "... perdi todas as coisas e as considero refugo, para ganhar a Cristo, e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, mas somente a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, através da fé". Aqui, vemos mais uma vez que a característica desta justiça, mediante a qual somos justificados, é que ela não está nós (daí ser dito "...não tendo justiça própria"), nem é fruto do nosso trabalho e piedade pessoal, mas procede de Deus e a recebemos como uma dádiva (vs. 9; cf. Rm 1.17; 3.19-22) - razão pela qual é chamada de "dom da justiça" (Rm 5.17).
Uma justiça recebida somente pela fé. Este "dom da justiça" é recebido somente pela fé. Se, por um lado, é verdade que não há uma declaração explícita da frase "justificação pela fé somente", também é verdade que este é o ensino que perpassa toda a Escritura. Não há como escapar deste ensino quando Paulo declara enfaticamente que "ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça. E por isso diz Davi ser bem-aventurado o homem a quem Deus imputa justiça, independentemente de obras", em Romanos 4.5-6. Que a fé é o único meio de justificação para Paulo fica suficientemente claro na passagem anterior, mas isto também é afirmado de outros modos. Outro modo pelo qual Paulo ensina isto é quando ele rejeita qualquer outro meio de justificação, exceto a fé. "Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei" (Rm 3.28). "... sabendo, contudo, que o homem não é justificado pelas obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus..." (Gl 2.16). E para que não se digam que tais passagens referem-se a somente uma classe de obras e que as obras não são de todo excluídas, na concepção paulina de justificação, basta que se cite passagens onde ele explicitamente faz a exclusão de qualquer tipo de obras, a exemplo de Efésios 2.8-9: "Visto que pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie". Pela graça, mediante a fé e não de obras - isto não pode significar outra coisa além de que a salvação é "somente pela graça e somente mediante a fé", visto que, se obras forem acrescentadas, não poderá mais se dizer que "não vem das obras" e nem tampouco que é "pela graça"; pois, "se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça" (Rm 11.6).
Entendendo um pouco melhor a doutrina da Justificação. A Santidade de Deus requer que Ele odeie e puna os pecados (cf. Gn 18.25; Jr 44.4; Ez 18.4; Hb 1.13; Sl 5.4-6; Rm 1.18; 2.5). Destarte, Deus puniu os pecados do Seu povo em Cristo (cf. Rm 3.25-26), a fim de permanecer justo ao justificar os crentes. Por outro lado, a natureza perfeita e santa deste Deus, refletida em Sua Lei moral, requer de nós uma perfeição (i.e., uma justiça perfeita) para que, assim, Ele possa nos declarar justos aos Seus olhos (v. Gl 3.10ss; cf. Tg 2.10; Mt 5.48). Não basta uma ausência de débito, há, pois, a necessidade de um crédito para que sejamos justificados. O problema é que nenhum de nós detém uma obediência perfeita para que a ofereçamos a Deus (v. Is 64.6; Rm 3.10,23). De fato, já nascemos pecadores e culpados diante de Deus, em função da Queda (cf. Sl 51.5; Rm 5.12). Mais ainda, não raro pecamos contra a Sua lei (cf. 1 Jo 1.10), e mesmo depois de crentes, embora estejamos crescendo em santidade, nada que possamos engendrar fará com que atinjamos uma justiça perfeita (cf. Ecl 7.20; Rm 7.14-15,18; Pv 20.9; Jó 25.4-6; Sl 143.2). Para nossa felicidade (e não é por acaso que chamamos isto de "boas novas"), Deus o Filho veio realizar aquela obra que não poderíamos fazer (cf. Mt 1.21; Lc 19.10); Ele não somente morreu em nosso favor e em nosso lugar (cf. Is 53.11-12; Mc 10.45; Rm 4.22ss; 5.8; 2 Co 5.14; Gl 3.13; Cl 2.14; 1 Tm 2.6), aplacando a ira divina (cf. 1 Jo 2.2; 4.10), como também viveu uma vida perfeita e adquiriu uma justiça perfeita diante de Deus em nosso favor (cf. Rm 5.18-19). Uma justiça que recebemos gratuitamente quando cremos (cf. Rm 3.22ss; 10.4) e que, justamente por ser perfeita, não precisa de qualquer acréscimo de nossas justiças pessoais imperfeitas para que Deus nos aceite - somos aceitos por Deus em Cristo, cf. Rm 8.1; Ef 1.6-7.
Verdadeiramente, o Senhor nosso Deus "não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniqüidades" (Sl 103.10), porque Jesus Cristo satisfez todas as exigências dos padrões divinos em nosso benefício (cf. Rm 8.3-4; 10.4; Gl 3.22-29; 4.4-5; Jo 19.30; Is 53.11-12).
Casos de salvação na Bíblia contrariam a doutrina católica romana da justificação. Dado o fato de que o padrão divino é a perfeição (cf. Mt 5.20,28), é somente se tivermos em vista a doutrina da imputação da justiça de Cristo que poderemos entender relatos como os da salvação do publicano pecador e do ex-ladrão, casos relatados respectivamente em Lc 18 e 23. Os dois indivíduos não detinham uma perfeição que lhes fosse inerente, mas foram justificados instantaneamente por Deus. Em que base Deus fez isto, afinal? Só pode tê-lo feito com base na justiça perfeita de um substituto, uma justiça imputada - assim como ocorre com todos os crentes, quando confiam em Cristo para salvação, cf. Rm 10.4; Fp 3.6-9; v.tb.1 Co 1.30; 2 Co 5.21. No caso do publicano, vemos aquele pecador sendo justificado diante de Deus mediante a fé somente, ao ter se humilhado diante de d'Ele e clamado, em fé, por misericórdia - reconhecendo, pois, a sua total impotência de salvar-se a si mesmo. Jesus, na passagem, declara que aquele homem "desceu justificado", cf. Lc 18.14 - e isto, diga-se, antes mesmo dele ter começado a crescer em santidade. Semelhantemente, no caso do ex-ladrão, vemo-lo sendo salvo sem ter feito qualquer coisa para merecer a justificação (v. Lc 23.42-43) e sem ter participado de qualquer sacramento supostamente necessário para a salvação; colocando doutro modo, vemos aquele indivíduo também sendo salvo somente por meio da fé.
Fatos como estes ainda fazem desmoronar por completo outra crença papista: a de que o batismo é a causa instrumental da justificação. Uma crença que é insustentável biblicamente, de vez que a mesma Bíblia que afirma categoricamente que "não fomos salvos pelas nossas obras de justiça" (Tt 3.5) também afirma que o batismo é, sim, uma obra de justiça (cf. Mt 3.15).
Tais casos não foram exceções por indivíduos serem salvos somente mediante a fé. De Gênesis a Apocalipse, o Evangelho perpassa as Escrituras - quer de modo mais implícito nas várias predições do Messias Redentor e da obra que Ele realizaria (AT), quer nas explanações do que este Cristo de Deus realizou (NT) para a salvação dos pecadores. E o cerne dessa mensagem a que chamamos de "boas-novas" é Deus fazendo pelo homem aquilo que este não poderia fazer por si próprio. É Deus providenciando os meios pelos quais o homem injusto pode se colocar numa posição correta diante d'Ele. No campo da justificação, é Deus providenciando uma justiça perfeita ao homem, à parte de quaisquer obras pessoais do indivíduo que crê, à parte dos esforços humanos, para que a glória da salvação seja somente d'Ele. Não admira que, quando o carcereiro de Atos 16 perguntou a Paulo e Silas o que deveria fazer para ser salvo (vs. 30), os homens de Deus tenham respondido simplesmente: "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa"(vs. 31). Deveras, tanto os santos do Antigo quanto os do Novo Testamento foram salvos somente por meio da fé; enquanto estes foram salvos mediante a fé com base no que Cristo fez (Rm 4.22-25), aqueles foram salvos mediante a fé com base naquilo que Cristo faria (Rm 4.5-6). Tanto em Rm 4.3ss quanto em Gl 3.6ss, Paulo lembra a justificação de Abraão, citando Gênesis 15.6, como o exemplo da forma como todos os crentes são justificados diante de Deus; e nesta passagem veterotestamentária citada, não encontramos Abraão "cooperando" com a graça em um processo de infusão de justiça, nem participando de um sacramento, assim como também não o vemos realizando quaisquer boas obras ou penitências; antes, é-nos dito simplesmente: "Abraão creu e isso lhe foi imputado como justiça"; bastou ele confiar nas promessas graciosas de Deus para instantaneamente ser justificado diante do Senhor. Isto é Sola Fide, e nada mais. Como também é demonstração desta mesma verdade a passagem registrada no Evangelho Segundo Marcos 2.5, quando Jesus pronuncia o perdão a um paralítico meramente porque viu sua fé: "Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Filho, os teus pecados estão perdoados". Verdadeiramente, como os profetas anunciavam, "por meio do seu nome, todo aquele que nele crê recebe a remissão de pecados" (cf. At 10.43), e "por meio dele [Cristo], todo o que crê é justificado de todas as coisas das quais vós não pudestes ser justificados pela lei de Moisés" (At 13.39).
Ademais, que a justificação é uma obra de Deus somente, à parte de qualquer obra humana, também fica claro quando, nos contextos nos quais a justificação é incluída, Deus é o agente único dela. "...Sendo justificados, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça... tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser o justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus"(Rm 3.24-26); "Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios... Deus prova seu amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue..."(Rm 5.6,8-9); "Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo" (Rm 5.17); "E aos que [Deus] predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós, o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica" (Rm 8.30-33).
Justificação não é santificação; mas isso não quer dizer que os crentes não crescem em santidade. Justificação (Rm 3.28-4.6) e Santificação (Ef 2.10; 2 Pd 3.18) são bênçãos distintas - ainda que sejam reais para todos os que são de Cristo (cf. 1 Co 6.11). Biblicamente, a justificação é a obra de Deus por nós que nos declara justos; enquanto a santificação é a obra de Deus em nós que nos faz justos. Pelos casos citados acima, bem como pelo ensino geral das Escrituras, fica patente que a santificação não é condição para justificação.
Na verdade, a santificação é o resultado da justificação. Os que forem verdadeiramente justificados crescerão em santidade. Afinal, de acordo com a Bíblia, em virtude da união com Cristo (v. Cl 1.27; Jo 15.4; 1 Co 1.30; Gl 2.20), os crentes, durante sua peregrinação neste mundo, permanecem sendo moldados à imagem do Filho de Deus (Rm 8.29), e, conquanto sejam sempre falhos na terra (cf. Pv 20.9; Sl 130.3; Jó 25.4-6; Ecl 7.20; 1 Jo 1.10), há uma transformação gradativa (2 Co 3.18), de crescimento em santidade (2 Pd 3.18), que é realidade neles e atingirá a sua plenitude na glorificação (1 Jo 3.2).
Outrossim, não discordamos dos católicos romanos que haja uma renovação moral no pecador - apenas não confundimos isto com a justificação, que é coisa distinta. Negamos, porém, que a regeneração (o ato inicial da salvação, em que Deus faz nascer de novo o pecador e o vivifica, cf. Jo 1.12-13; Ef 2.1-5; 2 Co 5.17, etc) e a santificação (o processo de crescimento em santidade) possam ser de alguma forma a base de nossa aceitação diante de Deus, porquanto "Cristo Somente" (sua satisfação pelos pecados e a justiça de sua vida) é o único fundamento da nossa relação com Deus e a causa única de nossa aceitação diante do Deus Santo, cf. Rm 4.22-25; 5.8-10,16,18; 10.3-4; 1 Co 1.30; 2 Co 5.19-21; Ef 1.6; Fp 3.8ss, etc.
A justificação não pode ser revogada ou perdida. Na mesma epístola em que o Apóstolo chama a vida eterna de um "dom gratuito"(Rm 6.23) e a justificação de "dom da justiça"(Rm 5.17), ele também diz que os dons são irrevogáveis (cf. Rm 11.29) - o que significa dizer que a vida eterna e a justificação são dons irrevogáveis. Deveras, a Escritura diz que aqueles a quem Deus justifica, a esses Ele também glorifica: "E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou"(Rm 8.30). O que a Escritura está dizendo é que todos quantos são declarados justos (justificação) decerto participarão do aspecto futuro da salvação, quando a santificação terá atingido o seu alvo e os crentes em Cristo terão sido final e completamente conformados à imagem de Cristo (cf. Rm 8.29). A idéia de uma justificação perdível, tal como Roma ensina, é estranha às Escrituras, porque esta é uma bênção que repousa completamente fora do crente, a saber, repousa em Cristo e n'Ele somente - conforme já dissemos anteriormente. Esta é a explicação bíblica para a justificação ser descrita, no presente, tão certa quanto no futuro: "Logo, muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida" (Rm 5.9-10). O ensino de Tiago acerca da fé e das obras não contradiz o de Paulo. Como entender que Paulo ensine que os homens são "justificados pela fé", e "à parte de obras", em Romanos 4 e Gálatas 3, e Tiago afirme que somos "justificados pelas obras, e não pela fé sozinha"(cf. Tg 2.14-26)? Trata-se de uma apenas aparente contradição. Mas, se cremos que os dois apóstolos em discussão estavam falando sob a inspiração do Espírito Santo, e Deus não pode falhar e nem se contradizer, segue-se que a possibilidade deles haverem efetivamente se contradito não existe realmente. Para que não haja um entendimento equivocado, que coloque em oposição Escrituras inspiradas, bastam algumas observações breves mas importantes.
Em Romanos e Gálatas, o Apóstolo Paulo está explicando como um homem pode ser declarado justo diante de Deus, isto é, como o homem pode ser transferido de um estado de condenação para um de justificação diante do tribunal de Deus. Por outro lado, o Apóstolo Tiago, em sua Epístola inspirada, está explicando o que caracteriza a fé verdadeira, como os homens demonstram ser justos diante dos homens dando prova da sua fé. Enquanto Paulo está repudiando o erro daqueles que, em seu tempo, a exemplo dos papistas de hoje, tentavam combinar a graça com as obras, a justiça de Cristo com os esforços pessoais do indivíduo, condicionando a graça a certos rituais necessários para salvação, Tiago, por sua vez, está condenando aquilo que se chama de "antinomismo" - que era aderido por pessoas que, em seu tempo, pareciam não compreender que a fé genuína é manifesta na obediência. Logo, a pergunta a que Paulo trata responder é distinta daquela que Tiago se empenha em elucidar. Paulo está elucidando a questão de "Como eu, pecador, posso ser colocado numa posição de retidão diante de Deus?"; já Tiago, diferentemente, está elucidando a questão de "Como eu posso saber que minha fé é genuína?".
Deve-se observar, ainda, que "justificar" em Tiago refere-se a algo distinto daquilo a que Paulo referencia com o termo. Em Paulo, "justificar" está se referindo unicamente à justificação "diante de Deus" (ver Gl 3.11), mas, em Tiago 2, o mesmo termo é usado em referência à justificação diante dos homens (cf. Tg 2.18, "... mostra-me a tua fé... te mostrarei a minha fé pelas minhas obras"). Justificação, no contexto de Paulo, tem a ver com o ato declarativo de Deus; mas "justificação", no contexto de Tiago, tem a ver com uma vindicação de justiça, em que o indivíduo que professa ter fé é justificado diante dos homens pelas obras. Enquanto Paulo fala do meio instrumental da salvação, Tiago está falando da evidência da fé genuína e do fruto da salvação - "porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração"(1 Sm 16.7). Deus conhece o meu coração e sabe da fé que existe nele; mas você não o conhece, portanto, as minhas obras testificam, diante de mim e de você, a existência da fé genuína. Se eu disser que creio, Deus saberá perfeitamente se falo a verdade; mas, a menos que eu mostre a você a minha fé pelas obras, jamais você saberá de tal coisa. É precisamente por isso que, embora diante de Deus sejamos justificados somente mediante a fé (no sentido de sermos colocados numa posição correta diante d'Ele), somos "justificados" diante dos homens (no sentido de que provamos nossa fé diante deles) pelas nossas obras. Para Tiago, assim como para Paulo, uma fé falsa (i.e., meramente histórica) é morta. Mas é absolutamente certo que, tanto para Paulo quanto para Tiago, a fé genuína, pela sua natureza, é uma fé viva e jamais morta, porquanto o crente verdadeiro tem pela fé a vida de sua alma (Rm 1.17), e a Cristo como a vida de sua fé (Gl 2.20).
A justificação é "pela fé" no sentido de ser "mediante a fé" e não, no sentido de ser baseada nela. As Escrituras Sagradas ensinam que os crentes são justificados dia pisteos, em Rm 3.25, que quer dizer "mediante a fé"; pistei, em Rm 3.28, que quer dizer "pela fé"; e ek pisteos, em Rm 3.30 e 5.1, que quer dizer "por fé". De fato, a própria Bíblia estabelece que a salvação é "pela graça... por meio da fé" (dia pisteos), em Ef 2.8 - denotando, assim, a função de meio instrumental que a fé possui, no que concerne ao recebimento da salvação. Mas, mesmo isto sendo verdade, jamais é dito que os crentes são justificados dia pistin, i.e, por causa da fé.
A verdade é que a fé não é uma "obra meritória" (v. Ef 2.8ss) e nem a base de nossa salvação. Não somos salvos "por causa da fé", mas por causa de Cristo somente. A suficiência da fé repousa na de Cristo; e a excelência da fé não está em Si mesma, mas em Seu objeto (v. 1 Co 1.30). De sorte que o cerne da verdade da justificação pela fé somente não é que a nossa fé seja a "maior ou mais meritória de todas as obras", mas, sim, que Cristo é suficiente para - somente por causa de quem Ele é e do que Ele fez - livrar-nos da condenação eterna e colocar-nos numa posição correta diante de Deus.
A justificação do pecador não é, pois, uma recompensa de Deus devido ao fato do indivíduo crer, mas, sim, algo que é concedido gratuitamente, à parte de qualquer obra ou merecimento humano, e que é simplesmente recebido pela fé - esta, no caso, é comparável a um "estender das mãos" da alma do crente para receber a dádiva de Deus, o "presente" da vida eterna; é também comparável a um olhar confiante da parte do crente que se volta ao Deus Salvador (v. Is 45.22), na pessoa do Mediador, o Cristo Crucificado (cf. Jo 3.14-15), e que espera n'Ele e somente n'Ele, pelas promessas do santo Evangelho, a salvação. Destarte, se somos justificados mediante a fé somente, é porque o somos por causa de Cristo Somente.
Conclusão
A Doutrina da Justificação Pela Fé Somente tem servido de conforto para os servos de Deus, em todas as épocas. A verdade de que nada daquilo que possamos fazer poderá nos justificar diante de Deus é um insulto para o homem não-cristão, para aquele que confia em sua própria justiça quanto à salvação (v. 1 Co 1.18-23). No entanto, para aqueles que foram confrontados com a ira de Deus, e que estão, por conseguinte, cônscios de sua própria pecaminosidade, esta é uma doutrina que serve para lembrá-los para onde devem olhar, quando se sentirem acusados por Satanás e aterrorizados pela lei: Cristo.
Saber que nossa posição diante de Deus não depende de nossas justiças pessoais, mas que somos justificados somente devido à satisfação que Cristo ofereceu na cruz e à obediência que Cristo cumpriu, é algo que traz paz e segurança. Na beleza do Cristo crucificado podemos encontrar cada um dos nossos pecados julgados, punidos, condenados. E na valiosíssima e puríssima justiça de Cristo, temos as "vestes" de que necessitamos para nos apresentar diante do Senhor.Leitor, caso você ainda não tenha confiado somente em Cristo para a salvação, pois até hoje confiou, pelo menos em parte, em si mesmo e em sua obediência pessoal (obras) para salvar-se; saiba que o bendito e gracioso Jesus o convida a lançar sobre Ele o seu fardo de culpa e receber d'Ele o Seu manto de justiça. E isto gratuitamente, mediante a fé somente e para sempre. "Eis, agora, o dia da salvação" - se hoje você confiar em Cristo Jesus, em Sua obra e justiça, estará conhecendo em verdade àquele Deus a quem o Seu povo chama jubilosamente de "Senhor, justiça nossa" (Jr 23.6; cf. 1 Co 1.30). Sim, você regozijará grandemente, tal como todos os que recebem de Deus a Sua justiça imputada, mediante a fé somente: "Regozijar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegra no meu Deus; porque me cobriu de vestes de salvação e me envolveu com o manto de justiça, como noivo que se adorna de turbante, como a noiva se enfeita com as suas jóias" (Is 61.10).
A salvação que lhe foi anunciada, nesta página, é realmente digna de ser chamada de "tão grande salvação" (Hb 2.3), como a chamou o escritor bíblico. Trata-se de algo eterno, que se baseia somente em Cristo, na Sua graça e é recebido mediante a fé somente. Trata-se de uma salvação que não requer um "estado de purificação dos eleitos", como um purgatório, porquanto o que verdadeiramente liberta de toda mancha de pecado é o sangue daquele "Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo"; trata-se, também, de uma salvação que não requer que você acrescente o seu mérito e a sua justiça pessoal à justiça de Cristo, para que possa ser salvo, visto que estamos falando de uma justiça perfeita, concedida mediante a fé somente. Afinal, a salvação que aqui foi tratada não é outra senão uma que foi providenciada por um Salvador, perfeito e suficiente. Que este Salvador do mundo possa ser, hoje, o seu Salvador pessoal, para a glória de Deus - esta é a nossa oração. Amém.
"Imediatamente recebi o poder para crer nisto, e os raios plenos do 'Sol da Justiça' brilharam sobre mim. Vi a suficiência da propiciação que Ele [Cristo] havia feito, meu perdão selado em Seu sangue, e toda a plenitude e perfeição de Sua justificação. Num instante, eu cri e recebi o Evangelho... Não fosse o braço do Todo-Poderoso por detrás de mim, penso que eu deveria ter morrido com gratidão e alegria. Meus olhos se encheram de lágrimas e minha voz ficou embargada de emoção; eu só podia olhar para o céu em temor silente, tomado de amor e adoração" (William Cowper, cit. "O Sorriso Escondido em Deus", de John Piper, pág.35 - Edições Vida Nova, 1ª Edição - Fevereiro de 2002).
Bibliografia
HOEKEMA, Anthony. Salvos Pela graça: A Doutrina Bíblica da Salvação. 2ª Edição Revisada. Editora Cultura Cristã, 2002
MACARTHUR, John; SPROUL, RC. BEEKE, Joel; GERSTNERr, John; ARMSTRONG, John. A Justificação Pela Fé Somente: A Marca da Vitalidade Espiritual da Igreja. São Paulo, Editora Cultura Cristã.
ARMSTRONG, John. O Mistério Católico. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2002.
LLOYD-JONES, D.Martyn. Romanos - Exposição sobre o Capítulo 8.17-38: A Perseverança Final dos Santos. São Paulo, Editora PES, 2002.
GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo, EdIções Vida Nova, 1993.
STOTT, John. A Cruz de Cristo. São Paulo, Editora Vida, 1991.
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Idade : 54
Inscrição : 08/05/2010
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