por Darcy



Como já vimos aqui, a historicidade de qualquer evento é testada não através de convicção emocional mas com evidência histórica. A fim de verificar a historicidade da ressurreição, precisamos considerar mais um item na lista de Evidências Internas: os detalhes irrelevantes.

Evidências Internas

• Honestidade
  
• Detalhes irrelevantes
  
• Harmonia
  
• Afirmações Públicas Extraordinárias
  
• Falta de Motivação para Invenção
  

Detalhes Irrelevantes

Normalmente, quando alguém ”fabrica” uma história, inclui apenas os detalhes que contribuem para sua invenção. Já os “detalhes irrelevantes” são uma marca de autenticidade em todas as situações.


Os escritores do evangelho (especialmente João) incluem muitos elementos em sua história que são realmente irrelevantes para o quadro maior, para o todo. Observe este pequeno segmento do Evangelho de João 20:1-8 (adaptado de Gregory Boyd):

“Logo no início do primeiro dia da semana (quando? Que importa isso?), enquanto ainda estava escuro (qual a importância?), Maria Madalena (um detalhe incriminador, dado que o testemunho das mulheres era desvalorizado na cultura da época) foi ao sepulcro e viu que a pedra tinha sido removida da entrada. Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava (João — maneira modesta de se referir a si mesmo, outra marca de autenticidade) e lhes disse: “Tiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o colocaram! “(note a auto-incriminatória falta de fé aqui). Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo (que importa quem ganhou a corrida? mais um detalhe completamente irrelevante). E abaixando-se (irrelevante, mas a entrada do túmulo era baixa, um detalhe que é historicamente exato quando se trata de túmulos de pessoas ricas daquela época, do tipo em que, sabemos, Jesus foi sepultado) viu os panos de linho deixados ali, mas não entrou (porque não? detalhe irrelevante). Então Simão Pedro, que vinha correndo atrás dele, chegou e entrou no sepulcro (a coragem de Pedro se destaca em todos os relatos do Evangelho). Viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus (detalhe irrelevante e inesperado, o que Jesus estava usando?) não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte (algo irrelevante e incomum, Jesus dobrara uma parte de sua vestimenta antes de sair!). Finalmente, o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro também entrou (qual a relevância da ordem exata em que eles entraram?).

O melhor exemplo que posso pensar para ilustrar esse ponto é o do urso polar. Como assim? Ok, só aqueles que assistiram à série de televisão Lost vão entender. Na primeira temporada, havia um urso polar na série. Nós todos nos perguntávamos por que ele estava ali na ilha. Como ele foi parar lá? Qual é o significado do urso polar? Como é que vai se encaixar no quadro geral da história? Estas são questões legítimas que muitos de nós guardamos em suspense por cinco temporadas à espera de obter as respostas. No entanto, o urso polar (junto com tantos outros incidentes) nunca foi explicado. Houve um grande ”clamor” por conta das muitas perguntas que ficaram sem respostas e dos muitos detalhes irrelevantes que permaneceram irrelevantes. O motivo do protesto era legítimo porque em ficção (ou em histórias fabricadas), os detalhes nunca são irrelevantes. Eles são inseridos no roteiro e têm um propósito que apoia toda a história de ficção. No entanto, se a série Lost não fosse ficção, mas história, seria de esperar a presença dos detalhes irrelevantes. Quando presentes — ainda que isso não possa estabelecer conclusivamente a narrativa —, esses “detalhes irrelevantes” realmente apoiam a historicidade da história.


Fonte: Michael Patton (versão e adaptação de parte do original).