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“O Que é a Verdade?” Todos Sabemos



julho 18, 2011 por Darcy







“O que é a verdade?” Pôncio Pilatos não foi o primeiro a perguntar isso.

À primeira vista, a pergunta parece profunda. Mas, na realidade, acho que todos sabemos a resposta a esta antiga indagação. Digo isso porque todos assumimos uma certa definição de verdade em nosso discurso e em nossas ações todos os dias de nossas vidas.

Talvez o problema não seja que não saibamos o que é a verdade, mas sim que não sabemos que sabemos. E a razão porque não sabemos que sabemos é simplesmente porque não temos tirado alguns momentos necessários para refletir sobre a natureza da verdade.

Historicamente, tem havido três teorias dominantes a respeito da verdade, apresentadas pelos filósofos: 1

Primeiro, há a teoria pragmática da verdade: Verdade é aquilo que funciona. Os três grandes problemas com essa visão são os seguintes:

Problema n. 1: Este ponto de vista aparenta ser um contra senso. Por exemplo, existem algumas crenças verdadeiras que não são muito úteis (por exemplo, a crença de que o meu gato tem pêlo cinza e branco), e algumas crenças falsas que podem vir a ser muito úteis (por exemplo, a minha falsa crença de que as pessoas realmente leem meus blogs é uma motivação útil para continuar a escrevê-los).

Problema n. 2: O ponto de vista é auto-refutável. Se a verdade é o que funciona, então a teoria pragmática em si não deve ser verdade, já que a maioria dos filósofos ao longo dos tempos não se alinharam com a teoria pragmática, mas sim consideraram a teoria da correspondência como sendo muito mais útil!

Problema n. 3: o ponto de vista implica relativismo. Imagine duas pessoas que têm crenças contraditórias. Na visão pragmática, contanto que essas crenças contraditórias sejam úteis para os respectivos indivíduos que as mantêm então teríamos de concluir que elas são verdadeiras. Mas se esse for o caso, então a verdade é relativa, uma visão que em si mesma é insustentável e auto-refutável.

Em segundo lugar, há a teoria da coerência da verdade: a verdade é a consistência lógica (coerência) de um conjunto de crenças que um indivíduo sustenta. Há também três grandes problemas com essa visão:

Problema n. 1: essa visão implica que proposições contraditórias podem ser verdadeiras. Nessa perspectiva, é possível que duas pessoas diferentes mantenham crenças contraditórias, ambas sendo “verdadeiras”, desde que sejam coerentes com cada sistema individual de crença respectivamente. Isso leva à idéia absurda de que ambas as contradições podem ser verdadeiras.

Problema n. 2: pelas mesmas razões do problema 1, e como já mostrado em relação ao ponto de vista pragmático, esta visão também implica relativismo. Na visão de coerência, aquilo que é verdade o é em relação ao sistema de crenças de cada indivíduo. Duas crenças contraditórias podem ser ambas “verdadeiras”, desde que coerentes com seus respectivos sistemas. Mas o relativismo é falso. Portanto, assim como a visão pragmática, a teoria da coerência deve ser rejeitada.

Problema n. 3: esta visão, do mesmo modo que o ponto de vista pragmático, parece contra-intuitiva. A razão disso é que a teoria da coerência retira o conhecedor do mundo real. Para ele o que é verdadeiro não é aquilo que corresponde com a realidade, mas sim aquilo que é coerente com um determinado sistema de crença. Mas a maioria das pessoas intuitivamente entendem que a verdade tem algo a ver com a forma como o mundo realmente é.

Finalmente, há a teoria da verdade como correspondência: a verdade é quando uma idéia, crença, ou declaração “bate” (ou corresponde) com a forma como o mundo realmente é (a realidade).

Esta visão pode ser corretamente rotulada de visão ”senso comum” da verdade. Embora não seja explicitamente ensinada nas Escrituras, ela é presumida ao longo de ambos os Testamentos, o Antigo e o Novo. A teoria da correspondência da verdade afirma que uma idéia, crença ou afirmação é verdadeira se ela “bate” ou corresponde com a realidade. Nesse sentido, a realidade é a criadora-da-verdade e a idéia, crença, ou declaração é a portadora-da-verdade. Quando a verdade portadora (uma idéia) corresponde à verdade-criadora (realidade), então se diz que elas estão em uma “relação de correspondência adequada” e se obtém a verdade.2 Considere as seguintes afirmações:

1. Barack Obama é o atual presidente dos Estados Unidos.

2. A cidade de Los Angeles está localizada na Califórnia.

3. O aborto tira a vida de um ser humano inocente.

São estas afirmações verdadeiras? Elas são se de fato correspondem à realidade. A afirmação número 1 é verdadeira se na realidade Barack Obama for o atual presidente dos Estados Unidos. A afirmação 2 é verdadeira se de fato a cidade de Los Angeles estiver localizada na Califórnia. E a declaração 3 é verdadeira se o aborto realmente tirar a vida de um ser humano inocente. Fácil, não?
Em Favor da Correspondência

O filósofo cristão J.P. Moreland observa dois principais argumentos que têm sido apresentados em favor da teoria da correspondência da verdade: o descritivo e o dialético.3

O argumento descritivo simplesmente apresenta casos específicos que ajudam a ilustrar o conceito de verdade. Por exemplo, no caso da livraria de Moreland, um indivíduo chamado Joe tem o pensamento “o livro de Richard Swinburne A Evolução da Alma está na livraria.” Quando Joe entra na livraria e vê o livro, ele realmente vivencia a verdade, uma relação de correspondência entre o seu pensamento e a realidade. Novamente, esta é a definição “senso comum” da verdade, pois é a visão que todos pressupomos em nossas ações cotidianas e em nosso discurso, ou seja, todos assumimos a teoria da verdade como correspondência ao ler o rótulo de um remédio ou ao ligar para um número telefônico.4 Isto leva ao segundo argumento.

O argumento dialético afirma que aqueles que negam a teoria da correspondência ou apresentam teorias alternativas da verdade, pressupõem aquilo mesmo que estão tentando rejeitar, mostrando dessa forma a incoerência e a natureza auto-refutatória de sua visão alternativa. Moreland apresenta este argumento na forma de um dilema:


Aqueles que rejeitam a teoria da verdade como correspondência, das duas uma: ou consideram suas próprias declarações como verdade no sentido de correspondência ou não consideram. No primeiro caso, essas afirmações são, então, auto-refutáveis. No último caso, não há razão para aceitá-las, porque não se podem tomar suas declarações como verdadeiras.5

Em outras palavras, ou um ponto de vista proposto sobre a verdade corresponde à realidade ou não. Se isso acontecer, o argumentador pressupõe a visão de correspondência, exatamente aquilo que ele procura rejeitar quando defende uma visão alternativa. Por outro lado, se a visão proposta não corresponde à realidade, então não temos razão para aceitá-la. Em suma, quando alguém nega a teoria da verdade como correspondência admite implicitamente que sua visão não deve ser levada a sério, pois apenas uma visão que corresponde à forma como as coisas realmente são é digna de nossa atenção e crença. Ao contrário do ditado pós-moderno, a verdade não é “mais estranha do que costumava ser.” A verdade é aquilo que temos considerado desde sempre.
A Correspondência e os Cristãos

É a teoria da verdade como correspondência opcional para os cristãos? Não de acordo com o apóstolo Paulo:

E, se Cristo não foi ressuscitado, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé. E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não são ressuscitados.(1 Coríntios. 15:14-15).

Nossa crença na ressurreição não é verdadeira simplesmente porque funciona para nós (o ponto de vista pragmático), nem porque é consistente com o nosso sistema de crença (a visão de coerência). A crença cristã na ressurreição de Cristo é verdadeira porque é um fato objetivo da história que corresponde com a realidade! O filósofo cristão Douglas Groothuis conclui:


Portanto, a visão da verdade como correspondência não é simplesmente uma das muitas opções para os cristãos. É a única visão da verdade biblicamente e logicamente fundamentada, disponível e permitida. Se a negligenciarmos ou a negarmos, o fazemos em prejuízo próprio e para nossa própria tragédia.6
Fonte: Aaron (Apologetic Junkie)


________________________________________


1 Os resumos e críticas que seguem são tirados de The Love of Wisdom: A Christian Introduction to Philosophy (Nashville: B&H, 2009), 35-45 de Steven B. Cowan e S. James Spiegel.


2 J.P. Moreland, Kingdom Triangle: Recover the Christian Mind, Renovate the Soul, Restore the Spirit’s Power (Grand Rapids: Zondervan, 2007), 80


3 Ibid., 81-82.


4 Ver Scott Smith, Truth and the New Kind of Christian: The Emerging Effects of Postmodernism in the Church (Wheaton: Crossway, 2005), 174-180


5 Moreland, Kingdom Triangle, 82


6 Douglas Groothuis, Truth Decay: Defending Christianity Against the Challenges of Postmodernism (Downers Grove: InterVarsity Press, 2000), 110.
Eduardo
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