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Do sábado para o domingo
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02022009
Do sábado para o domingo
DO SÁBADO PARA O DOMINGO
Uma Investigação do Surgimento da Observância do Domingo
no Cristianismo Primitivo
PONTIFICIA UNIVERSITAS GREGORIANA
FACULTAS HISTORIAE ECCLESIASTICAE
FROM SABBATH TO SUNDAY
A HISTORICAL INVESTIGATION OF THE RISE OF SUNDAY OBSERVANCE IN EARLY CHRISTIANITY
SAMUELE BACCHIOCCHI
Vidimus et aprobamus ad normam Statutorum Universitatis
Romae, ex Pontifícia Universitate Gregoriana
die 25 iunii 1974
R. P. VICENZO MONACHINO, S. I.
R. P. LUIZ MARTINEZ-FAZIO, S. I.
Imprimatur
Romae, die 16 Iunii 1975
R. P. HERVÉ CARRIER, S. I.
Rector Universitatis
Con approvazione Del Vicariato di Roma
In data 17 giugno 1975
_____________________________________________________
THE PONTIFICAL GREGORIAN UNIVERSITY PRESS, ROMA, 1977
Uma Investigação do Surgimento da Observância do Domingo
no Cristianismo Primitivo
PONTIFICIA UNIVERSITAS GREGORIANA
FACULTAS HISTORIAE ECCLESIASTICAE
FROM SABBATH TO SUNDAY
A HISTORICAL INVESTIGATION OF THE RISE OF SUNDAY OBSERVANCE IN EARLY CHRISTIANITY
SAMUELE BACCHIOCCHI
Vidimus et aprobamus ad normam Statutorum Universitatis
Romae, ex Pontifícia Universitate Gregoriana
die 25 iunii 1974
R. P. VICENZO MONACHINO, S. I.
R. P. LUIZ MARTINEZ-FAZIO, S. I.
Imprimatur
Romae, die 16 Iunii 1975
R. P. HERVÉ CARRIER, S. I.
Rector Universitatis
Con approvazione Del Vicariato di Roma
In data 17 giugno 1975
_____________________________________________________
THE PONTIFICAL GREGORIAN UNIVERSITY PRESS, ROMA, 1977
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Inscrição : 19/04/2008
Do sábado para o domingo :: Comentários
COMENTÁRIOS A RESPEITO DO LIVRO E DO AUTOR
UMA OBRA QUE SE RECOMENDA A SI MESMA. . .
“É uma obra que se recomenda a si mesma, em virtude do rico conteúdo e do vasto horizonte com que foi concebida e executada. Isto indica a habilidade singular do autor em englobar vários campos a fim de capturar aqueles aspectos e elementos relacionados ao tema em investigação.
“A orientação estritamente científica da obra não impede que o autor revele suas profundas preocupações religiosas e ecumênicas. Ciente de que a história da salvação não conhece fraturas, mas continuidade, ele encontra, na redescoberta dos valores religiosos do sábado bíblico, um auxílio para restaurar ao dia do Senhor seu antigo caráter sagrado”.
Vincenzo Monachino,
S. J. Chairman,
Departamento de História Eclesiástica.
Pontifícia Universidade Gregoriana
Redator, Miscellanea Historiae Pontificiae
UM MARCO MILENAR POR MUITO TEMPO. . .
“Para aqueles interessados em saber como o Cristianismo veio a observar o domingo como dia de adoração, em lugar do sábado, este estudo impressionante feito por um erudito Adventista do Sétimo Dia—complementando sua dissertação doutoral com um imprimatur—certamente ficará como marco milenar por muito tempo. A bibliografia de fontes principais e secundárias cobre quase 15 páginas”.
The Christian Ministry, Chicago
TENTATIVA NOVA, PESQUISADA COM PROFUNDIDADE...
“Na última década, mais ou menos, as Igrejas cristãs têm feito grandes progressos ao purificar seus catequéticos e teologia de um anti-judaísmo histórico. Porém, com exceção de alguns termos tais como “judeus perdidos”, pouca atenção tem sido dada à liturgia cristã. Pode ser que uma das mais poderosas formas de anti-judaísmo na Igreja hoje seja a própria estrutura de sua liturgia. Por isso, Do Sábado Para o Domingo deve ser recebido como uma tentativa nova, pesquisada com profundidade, para iniciar as discussões nesta área vital. É um campo que necessita de nossa atenção. E não se poderia achar melhor ponto de partida para tal exploração do que o último volume do Dr. Bacchiocchi. Eu o recomendo altamente”.
John T. Pawlikowski, OSM, Ph.D.
Chairman, Departamento de Estudos
Históricos e Doutrinários
União Teológica Católica
UMA PESQUISA COMPLETA E LABORIOSA. . .
“É uma pesquisa completa e laboriosa, a qual todo investigador, no futuro, terá que levar em consideração”.
Bruce M. Metzger
Professor do Novo Testamento
Seminário Teológico de Princeton
POSITIVA E COMPULSÓRIA. . .
“Para mim, o Dr. Samuele Bacchiocchi fez uma contribuição muito importante ao estudo de uma questão muito central na história da religião bíblica. Sua obra é um estudo bastante completo e cuidadosamente pesquisado, com cobertura completa de todas as fontes principais e da maioria das secundárias que tratam dele. Conquanto não possamos esperar que a questão se resolverá em termos puramente acadêmicos, uma avaliação positiva e compulsória da evidência deveria ser da maior importância para toda a pesquisa e estudo do assunto”.
David Noel Freedman, Professor de Estudos Bíblicos
Universidade de Michigan
Redator, Arqueólogo Bíblico
DE GRANDE VALOR PARA JUDEUS. . .
“Com laboriosa erudição, o Dr. Bacchiocchi tem reavaliado a transição da observância do sábado para o domingo na história da Igreja. Ao mesmo tempo, sua análise teológica procura levar os cristãos contemporâneos a uma apreciação do sábado bíblico, que os profetas bíblicos viam como um dia, não de mau presságio, mas de “deleite honrado e santo ao Senhor”. Contra o pano de fundo do rigor exagerado nas restrições sabáticas entre algumas seitas judaicas, agora enfatizadas pelos achados do Mar Morto, os rabinos farisaicos emergem como artistas espirituais que utilizavam os meios de comunicação de seu tempo para modelar um dia de devoção e iluminação. A contribuição de Bacchiocchi à história cristã deve provar-se de grande valor aos judeus que, de sua especial posição vantajosa, poderiam ganhar um vislumbre mais profundo de sua herança haláquica”.
Joseph M. Baugartem
Professor de Leis e Instituições Rabínicas
Baltimore Hebrew College
IMPLICAÇÕES SURPREENDENTES. . .
“O trabalho bem pesquisado e bem escrito do Dr. Bacchiocchi combina erudição, devoção e um espírito conciliatório. Ele argumenta que a compreensão do domingo como sábado cristão encontra suas raízes, não no Novo Testamento, absolutamente, mas em complexas pressões históricas e ideológicas no período patrístico. Se esta controvérsia do Sr. Bacchiocchi está correta—e acredito que esteja—então deve-se, ou segui-lo e apoiar um sábado continuado (do sétimo dia), ou estudar-se novamente os documentos principais a fim de chegar a alguma outra conclusão. Pessoalmente inclino-me para a última; seja como for, as implicações são surpreendentes, não só em virtude da própria questão sábado/domingo, mas também por causa do problema maior do relacionamento entre o Velho e o Novo Testamento.
Don A. Carson
Deão, Seminário Teológico Batista do Noroeste
Vancouver, B.C.
Redator do próximo simpósio sobre
A Questão Sábado/Domingo.
UMA OBRA QUE SE RECOMENDA A SI MESMA. . .
“É uma obra que se recomenda a si mesma, em virtude do rico conteúdo e do vasto horizonte com que foi concebida e executada. Isto indica a habilidade singular do autor em englobar vários campos a fim de capturar aqueles aspectos e elementos relacionados ao tema em investigação.
“A orientação estritamente científica da obra não impede que o autor revele suas profundas preocupações religiosas e ecumênicas. Ciente de que a história da salvação não conhece fraturas, mas continuidade, ele encontra, na redescoberta dos valores religiosos do sábado bíblico, um auxílio para restaurar ao dia do Senhor seu antigo caráter sagrado”.
Vincenzo Monachino,
S. J. Chairman,
Departamento de História Eclesiástica.
Pontifícia Universidade Gregoriana
Redator, Miscellanea Historiae Pontificiae
UM MARCO MILENAR POR MUITO TEMPO. . .
“Para aqueles interessados em saber como o Cristianismo veio a observar o domingo como dia de adoração, em lugar do sábado, este estudo impressionante feito por um erudito Adventista do Sétimo Dia—complementando sua dissertação doutoral com um imprimatur—certamente ficará como marco milenar por muito tempo. A bibliografia de fontes principais e secundárias cobre quase 15 páginas”.
The Christian Ministry, Chicago
TENTATIVA NOVA, PESQUISADA COM PROFUNDIDADE...
“Na última década, mais ou menos, as Igrejas cristãs têm feito grandes progressos ao purificar seus catequéticos e teologia de um anti-judaísmo histórico. Porém, com exceção de alguns termos tais como “judeus perdidos”, pouca atenção tem sido dada à liturgia cristã. Pode ser que uma das mais poderosas formas de anti-judaísmo na Igreja hoje seja a própria estrutura de sua liturgia. Por isso, Do Sábado Para o Domingo deve ser recebido como uma tentativa nova, pesquisada com profundidade, para iniciar as discussões nesta área vital. É um campo que necessita de nossa atenção. E não se poderia achar melhor ponto de partida para tal exploração do que o último volume do Dr. Bacchiocchi. Eu o recomendo altamente”.
John T. Pawlikowski, OSM, Ph.D.
Chairman, Departamento de Estudos
Históricos e Doutrinários
União Teológica Católica
UMA PESQUISA COMPLETA E LABORIOSA. . .
“É uma pesquisa completa e laboriosa, a qual todo investigador, no futuro, terá que levar em consideração”.
Bruce M. Metzger
Professor do Novo Testamento
Seminário Teológico de Princeton
POSITIVA E COMPULSÓRIA. . .
“Para mim, o Dr. Samuele Bacchiocchi fez uma contribuição muito importante ao estudo de uma questão muito central na história da religião bíblica. Sua obra é um estudo bastante completo e cuidadosamente pesquisado, com cobertura completa de todas as fontes principais e da maioria das secundárias que tratam dele. Conquanto não possamos esperar que a questão se resolverá em termos puramente acadêmicos, uma avaliação positiva e compulsória da evidência deveria ser da maior importância para toda a pesquisa e estudo do assunto”.
David Noel Freedman, Professor de Estudos Bíblicos
Universidade de Michigan
Redator, Arqueólogo Bíblico
DE GRANDE VALOR PARA JUDEUS. . .
“Com laboriosa erudição, o Dr. Bacchiocchi tem reavaliado a transição da observância do sábado para o domingo na história da Igreja. Ao mesmo tempo, sua análise teológica procura levar os cristãos contemporâneos a uma apreciação do sábado bíblico, que os profetas bíblicos viam como um dia, não de mau presságio, mas de “deleite honrado e santo ao Senhor”. Contra o pano de fundo do rigor exagerado nas restrições sabáticas entre algumas seitas judaicas, agora enfatizadas pelos achados do Mar Morto, os rabinos farisaicos emergem como artistas espirituais que utilizavam os meios de comunicação de seu tempo para modelar um dia de devoção e iluminação. A contribuição de Bacchiocchi à história cristã deve provar-se de grande valor aos judeus que, de sua especial posição vantajosa, poderiam ganhar um vislumbre mais profundo de sua herança haláquica”.
Joseph M. Baugartem
Professor de Leis e Instituições Rabínicas
Baltimore Hebrew College
IMPLICAÇÕES SURPREENDENTES. . .
“O trabalho bem pesquisado e bem escrito do Dr. Bacchiocchi combina erudição, devoção e um espírito conciliatório. Ele argumenta que a compreensão do domingo como sábado cristão encontra suas raízes, não no Novo Testamento, absolutamente, mas em complexas pressões históricas e ideológicas no período patrístico. Se esta controvérsia do Sr. Bacchiocchi está correta—e acredito que esteja—então deve-se, ou segui-lo e apoiar um sábado continuado (do sétimo dia), ou estudar-se novamente os documentos principais a fim de chegar a alguma outra conclusão. Pessoalmente inclino-me para a última; seja como for, as implicações são surpreendentes, não só em virtude da própria questão sábado/domingo, mas também por causa do problema maior do relacionamento entre o Velho e o Novo Testamento.
Don A. Carson
Deão, Seminário Teológico Batista do Noroeste
Vancouver, B.C.
Redator do próximo simpósio sobre
A Questão Sábado/Domingo.
PREFÁCIO
A atração que o problema da origem e observância do domingo exerceu sobre os estudantes de “História da Igreja Primitiva” nas últimas duas ou três décadas não está, de modo algum, desgastada. Isto, cremos, deve-se a duas razões principais. Por um lado, a sempre crescente não-observância do Dia do Senhor em resultado da transformação radical do ciclo semanal, causada pela complexidade da vida moderna e pelo progresso científico, tecnológico e industrial, leva a um sério reexame do significado do domingo para o cristão hoje. Para realizar uma correta reavaliação teológica do domingo é necessário investigar sua base bíblica e sua origem histórica. Por outro lado, os vários estudos sobre este assunto, embora excelentes, não oferecem uma resposta totalmente satisfatória em virtude da falta de consideração de alguns dos fatores que na Igreja dos primeiros séculos contribuíram para o surgimento e desenvolvimento de um dia de adoração diferente do sábado judaico.
Por esta razão, o novo trabalho do Dr. Samuele Bacchiocchi é muito oportuno. Ele levanta novamente o estudo deste sugestivo tema e, ao analisar criticamente os vários fatores—teológicos, políticos e pagãos—que de alguma modo influenciaram a adoção do domingo como um dia de culto cristão, ele se esforça para proporcionar um quadro completo da origem e progressiva configuração do domingo até o quarto século. É uma obra que se recomenda a si própria pelo seu rico conteúdo, o rigoroso método científico, e o vasto horizonte com o qual foi concebida e executada. Isto é uma demonstração da singular habilidade do autor em abranger vários campos a fim de captar os aspectos e elementos relacionados com o tema que está sendo investigado.
Mencionamos com prazer a tese que Bacchiocchi defende quanto ao berço do culto dominical: Para ele é mais provável que este culto tenha surgido, não na primitiva Igreja de Jerusalém, bem conhecida por sua profunda ligação às tradições religiosas dos judeus, mas na Igreja de Roma. O abandono do sábado e a adoção do domingo como o dia do Senhor são o resultado de uma interação de fatores cristãos, judaicos e pagãos. O evento da ressurreição de Cristo, ocorrido neste dia, tem naturalmente uma importância significativa. Seguindo a ordem da história da Redenção, o autor começa sua investigação com a tipologia messiânica do sábado no Velho Testamento e prossegue examinando como isto encontra seu cumprimento na missão redentora de Cristo.
A estrita orientação científica da obra não permite ao autor revelar seu profundo interesse religioso e ecumênico. Cônscio de que a história da salvação não trata de rupturas mas de continuidade, ele encontra na redescoberta dos valores religiosos do sábado bíblico uma ajuda para restaurar o antigo caráter sagrado do Dia do Senhor. Esta é, na realidade, a exortação que já no quarto século os bispos dirigiram aos crentes, ou seja, que não deviam passar os domingos em passeios ou apreciando espetáculos, mas sim santificá-los, ao assistir a celebração eucarística e praticar atos de piedade. (St. Ambrose, Exam. III 1.1)
Roma, 29 de junho de 1977
Vincenzo Monachino, S.J.
Presidente do Depto. de História Eclesiástica
da Pontifícia Universidade Gregoriana
A atração que o problema da origem e observância do domingo exerceu sobre os estudantes de “História da Igreja Primitiva” nas últimas duas ou três décadas não está, de modo algum, desgastada. Isto, cremos, deve-se a duas razões principais. Por um lado, a sempre crescente não-observância do Dia do Senhor em resultado da transformação radical do ciclo semanal, causada pela complexidade da vida moderna e pelo progresso científico, tecnológico e industrial, leva a um sério reexame do significado do domingo para o cristão hoje. Para realizar uma correta reavaliação teológica do domingo é necessário investigar sua base bíblica e sua origem histórica. Por outro lado, os vários estudos sobre este assunto, embora excelentes, não oferecem uma resposta totalmente satisfatória em virtude da falta de consideração de alguns dos fatores que na Igreja dos primeiros séculos contribuíram para o surgimento e desenvolvimento de um dia de adoração diferente do sábado judaico.
Por esta razão, o novo trabalho do Dr. Samuele Bacchiocchi é muito oportuno. Ele levanta novamente o estudo deste sugestivo tema e, ao analisar criticamente os vários fatores—teológicos, políticos e pagãos—que de alguma modo influenciaram a adoção do domingo como um dia de culto cristão, ele se esforça para proporcionar um quadro completo da origem e progressiva configuração do domingo até o quarto século. É uma obra que se recomenda a si própria pelo seu rico conteúdo, o rigoroso método científico, e o vasto horizonte com o qual foi concebida e executada. Isto é uma demonstração da singular habilidade do autor em abranger vários campos a fim de captar os aspectos e elementos relacionados com o tema que está sendo investigado.
Mencionamos com prazer a tese que Bacchiocchi defende quanto ao berço do culto dominical: Para ele é mais provável que este culto tenha surgido, não na primitiva Igreja de Jerusalém, bem conhecida por sua profunda ligação às tradições religiosas dos judeus, mas na Igreja de Roma. O abandono do sábado e a adoção do domingo como o dia do Senhor são o resultado de uma interação de fatores cristãos, judaicos e pagãos. O evento da ressurreição de Cristo, ocorrido neste dia, tem naturalmente uma importância significativa. Seguindo a ordem da história da Redenção, o autor começa sua investigação com a tipologia messiânica do sábado no Velho Testamento e prossegue examinando como isto encontra seu cumprimento na missão redentora de Cristo.
A estrita orientação científica da obra não permite ao autor revelar seu profundo interesse religioso e ecumênico. Cônscio de que a história da salvação não trata de rupturas mas de continuidade, ele encontra na redescoberta dos valores religiosos do sábado bíblico uma ajuda para restaurar o antigo caráter sagrado do Dia do Senhor. Esta é, na realidade, a exortação que já no quarto século os bispos dirigiram aos crentes, ou seja, que não deviam passar os domingos em passeios ou apreciando espetáculos, mas sim santificá-los, ao assistir a celebração eucarística e praticar atos de piedade. (St. Ambrose, Exam. III 1.1)
Roma, 29 de junho de 1977
Vincenzo Monachino, S.J.
Presidente do Depto. de História Eclesiástica
da Pontifícia Universidade Gregoriana
CAPÍTULO I- INTRODUÇÃO—A ATUAL CRISE DO DIA DO SENHOR
O ciclo de seis dias de trabalho e um de adoração e repouso, não obstante o legado da história dos hebreus, tem, felizmente, prevalecido através de quase todo o mundo. De fato, o culto judeu e cristão encontra sua expressão concreta em um dia, a cada semana, no qual a adoração a Deus torna-se possível e mais significativa pela interrupção das atividades seculares.
Recentemente, entretanto, nossa sociedade tem sofrido muitas transformações radicais, por causa de suas realizações tecnológicas, industriais, científicas e espaciais. O homem moderno, como afirma Abraham Joshua Herschel, “vive sob a tirania das coisas do espaço”.1 A crescente disposição tempo e lazer, causados pela diminuição da jornada de trabalho, tende a alterar não apenas o ciclo de seis dias de trabalho e um de repouso, como também os valores religiosos tradicionais, e até mesmo a santificação do dia do Senhor. Por esta razão o cristão hoje é tentado a considerar o tempo como uma coisa que lhe pertence, algo que ele pode utilizar para seu próprio prazer. As obrigações de culto, se não totalmente negligenciadas, são freqüentemente reduzidas e facilmente dispensadas conforme os interesses da vida. A noção bíblica do “santo sábado”, entendida como uma ocasião de cessar as atividades seculares a fim de experimentar as bênçãos da Criação-Redenção por meio da adoração a Deus e do trabalho desinteressado pelos necessitados está cada vez mais desaparecendo dos planos do cristão.
Conseqüentemente, se alguém observa a pressão que nossas instituições econômicas e industriais estão exercendo para obter a utilização máxima das instalações industriais—programando turnos de trabalho que ignoram qualquer feriado—é fácil compreender que o plano a nós transmitido de uma semana de sete dias, com o seu dia de repouso e adoração, pode sofrer alterações radicais.
O problema é constituído por uma geral concepção errônea do significado do “santo dia” de Deus. Muitos cristãos bem intencionados consideram a observância do domingo como uma HORA de adoração em vez de O SANTO DIA do Senhor. Uma vez cumpridas suas obrigações de culto, muitos, em boa consciência, gastam o restante do domingo ganhando dinheiro ou se divertindo.
Algumas pessoas, preocupadas com a profanação generalizada do dia do Senhor, estão desejando uma legislação civil que torne ilegais todas as atividades não compatíveis com o espírito do domingo.2 Para que esta legislação seja aceita até pelos não-cristãos, algumas vezes tem-se apelado para a necessidade de preservar os recursos naturais. Um dia de total descanso para homens e máquinas ajudaria a salvaguardar nossas reservas de energia e o precário meio ambiente.3 As necessidades sociais ou ecológicas, entretanto, embora possam encorajar o descanso no domingo, dificilmente conseguirão levar a uma atitude de adoração.
Não se conseguiriam melhores resultados educando nossas comunidades cristãs para que compreendessem o significado bíblico e a experiência do “santo dia” de Deus? Entretanto, para que isto seja possível, é indispensável, antes de tudo, articular claramente o fundamento teológico da observância do dia de repouso. Quais são as razões bíblica e histórica para a guarda do domingo? Pode este dia ser guardado como legítima substituição do sábado judaico? Pode o quarto mandamento ser corretamente invocado para proibir sua observância? Pode o domingo ser considerado como a hora de culto em vez de o santo dia de repouso do Senhor?4
Para dar uma resposta a esses problemas vitais é indispensável verificar, antes de mais nada “quando”, “onde”, e “por que” o domingo surgiu como um dia de culto cristão. Somente após reconstruir este quadro histórico e identificar os principais fatores que contribuíram para a origem do domingo, será possível prosseguir com a tarefa de reconsiderar a validade e o significado da observância do domingo.
O ciclo de seis dias de trabalho e um de adoração e repouso, não obstante o legado da história dos hebreus, tem, felizmente, prevalecido através de quase todo o mundo. De fato, o culto judeu e cristão encontra sua expressão concreta em um dia, a cada semana, no qual a adoração a Deus torna-se possível e mais significativa pela interrupção das atividades seculares.
Recentemente, entretanto, nossa sociedade tem sofrido muitas transformações radicais, por causa de suas realizações tecnológicas, industriais, científicas e espaciais. O homem moderno, como afirma Abraham Joshua Herschel, “vive sob a tirania das coisas do espaço”.1 A crescente disposição tempo e lazer, causados pela diminuição da jornada de trabalho, tende a alterar não apenas o ciclo de seis dias de trabalho e um de repouso, como também os valores religiosos tradicionais, e até mesmo a santificação do dia do Senhor. Por esta razão o cristão hoje é tentado a considerar o tempo como uma coisa que lhe pertence, algo que ele pode utilizar para seu próprio prazer. As obrigações de culto, se não totalmente negligenciadas, são freqüentemente reduzidas e facilmente dispensadas conforme os interesses da vida. A noção bíblica do “santo sábado”, entendida como uma ocasião de cessar as atividades seculares a fim de experimentar as bênçãos da Criação-Redenção por meio da adoração a Deus e do trabalho desinteressado pelos necessitados está cada vez mais desaparecendo dos planos do cristão.
Conseqüentemente, se alguém observa a pressão que nossas instituições econômicas e industriais estão exercendo para obter a utilização máxima das instalações industriais—programando turnos de trabalho que ignoram qualquer feriado—é fácil compreender que o plano a nós transmitido de uma semana de sete dias, com o seu dia de repouso e adoração, pode sofrer alterações radicais.
O problema é constituído por uma geral concepção errônea do significado do “santo dia” de Deus. Muitos cristãos bem intencionados consideram a observância do domingo como uma HORA de adoração em vez de O SANTO DIA do Senhor. Uma vez cumpridas suas obrigações de culto, muitos, em boa consciência, gastam o restante do domingo ganhando dinheiro ou se divertindo.
Algumas pessoas, preocupadas com a profanação generalizada do dia do Senhor, estão desejando uma legislação civil que torne ilegais todas as atividades não compatíveis com o espírito do domingo.2 Para que esta legislação seja aceita até pelos não-cristãos, algumas vezes tem-se apelado para a necessidade de preservar os recursos naturais. Um dia de total descanso para homens e máquinas ajudaria a salvaguardar nossas reservas de energia e o precário meio ambiente.3 As necessidades sociais ou ecológicas, entretanto, embora possam encorajar o descanso no domingo, dificilmente conseguirão levar a uma atitude de adoração.
Não se conseguiriam melhores resultados educando nossas comunidades cristãs para que compreendessem o significado bíblico e a experiência do “santo dia” de Deus? Entretanto, para que isto seja possível, é indispensável, antes de tudo, articular claramente o fundamento teológico da observância do dia de repouso. Quais são as razões bíblica e histórica para a guarda do domingo? Pode este dia ser guardado como legítima substituição do sábado judaico? Pode o quarto mandamento ser corretamente invocado para proibir sua observância? Pode o domingo ser considerado como a hora de culto em vez de o santo dia de repouso do Senhor?4
Para dar uma resposta a esses problemas vitais é indispensável verificar, antes de mais nada “quando”, “onde”, e “por que” o domingo surgiu como um dia de culto cristão. Somente após reconstruir este quadro histórico e identificar os principais fatores que contribuíram para a origem do domingo, será possível prosseguir com a tarefa de reconsiderar a validade e o significado da observância do domingo.
O Problema e Objetivos Deste Estudo
O problema da observância do domingo entre os cristãos primitivos tem despertado, em época recente, o interesse dos estudiosos de diferentes crenças religiosas. Os numerosos estudos científicos, inclusive várias teses doutorais, que têm aparecido nas duas últimas décadas, são uma clara evidência do renovado interesse e esforço despendido para encontrar uma resposta mais satisfatória para a questão sempre intrigante da época, lugar e causas da origem da guarda do domingo.5
Em estudos recentes, entretanto, a tendência tem sido tornar a observância do domingo ou uma criação exclusiva e original da comunidade apostólica de Jerusalém6 ou uma adaptação pagã do “dies solis-dia do sol” com a adoração ao sol a ele relacionada.7 Mas qualquer investigação e conclusão que leve em conta apenas uns poucos fatores causais é evidentemente unilateral, não equilibrada. Se reconhecemos, como J. V. Goudoever, que de “todas as partes da liturgia as festas são talvez as mais duradouras: é praticamente impossível mudar o dia e forma de comemoração”8, só podemos esperar que motivos complexos e profundos devam ter levado a maioria dos cristãos a abandonar a imemorável e notória tradição judaica da guarda do sábado em favor de um novo dia de culto. Em qualquer tentativa, portanto, de reconstruir o processo histórico da origem do domingo, deve-se dar atenção ao grande número de possíveis fatores—teológicos, sociais, políticos, pagãos—que podem ter desempenhado um menor ou maior papel ao induzir a adoção do domingo como dia de culto.
Este estudo tem dois objetivos bem definidos: Primeiro, propõe o exame das teses defendidas por inúmeros estudiosos que atribuem aos apóstolos, e até mesmo a Cristo, a iniciativa e responsabilidade de abandonar a guarda do sábado e instituir o culto dominical. Serão considerados os ensinos de Cristo quanto ao sábado, a ressurreição e aparecimentos de Cristo, a celebração eucarística e a comunidade cristã de Jerusalém, a fim de determinar que parte desempenharam, se é que desempenharam, no estabelecimento da observância do domingo. Nosso objetivo é verificar se o culto dominical começou durante o tempo dos apóstolos em Jerusalém ou se deu-se posteriormente. Esta verificação da origem histórica da guarda do domingo é de grande importância, pois ela pode explicar não apenas as causas de sua origem, mas também sua aplicabilidade aos cristãos hoje. Se o domingo é realmente o dia do Senhor, todos os cristãos, sim, toda a humanidade deveria sabê-lo.
Em segundo lugar, esta pesquisa pretende avaliar em que medida alguns fatores, como os sentimentos anti-judaicos, as atitudes repressivas que os romanos tomaram contra os judeus, a adoração ao sol e sua relação com o “dia do sol” e determinadas motivações teológicas cristãs, influíram no abandono do sábado e na adoção do domingo como o dia do Senhor pela maioria dos cristãos.
Este estudo é, portanto, uma tentativa de reconstruir um mosaico de fatores na busca de uma descrição mais exata da época e das causas que contribuíram para a adoção do domingo como o dia de adoração e repouso. Isto está em harmonia com C. W. Dugmore, que sugere que “às vezes é bom reconsiderar o que a maioria das pessoas considera como coisa definida, mesmo que não se chegue a nenhuma conclusão surpreendente”.9 Reexaminar conclusões e hipóteses aceitas, submetendo-as a um exame crítico e minucioso, não é um simples exercício acadêmico, mas uma tarefa a ser cumprida a serviço da verdade.
Nosso estudo não se preocupa com os aspectos litúrgicos ou pastorais da observância do domingo entre os primitivos cristãos, desde que tais problemas já têm sido tratados exaustivamente em recentes monografias.10 Examinaremos apenas os textos que podem ajudar a estabelecer a época e as causas formais e materiais, imediatas e remotas da origem do culto dominical. Nosso propósito limita-se ao problema das origens.
Exceto algumas referências incidentais a textos posteriores, os documentos que examinaremos estão dentro dos quatro primeiros séculos da nossa era. Testemunhos patrísticos serão examinados até este último período, a fim de verificar a validade histórica das motivações que aparecem nos inadequados documentos da primeira parte do segundo século. Este é o período no qual o culto dominical mudou de um nebuloso começo para uma prática estabelecida. Sendo este o período em que as instituições eclesiásticas ainda estavam em um estágio embrionário, o estudante que lê os poucos documentos disponíveis com os critérios eclesiológicos posteriores, pode facilmente enganar-se.
As fontes têm sido analisadas levando em conta os fatores cronológicos, históricos e geográficos. Passagens significativas têm sido submetidas a cuidadoso exame, já que freqüentemente seus problemas textuais e contextuais têm sido passados por alto ou interpretados unilateralmente. Isto produz uma impressão que não é verdadeira. N. J. White menciona por exemplo, “uma freqüente e inquestionada aplicação que a Igreja” faz da frase “dia do Senhor” para referir-se ao domingo desde os primitivos tempos apostólicos.11
Os documentos disponíveis para a presente pesquisa são de natureza heterogênea, tais como cartas, homilias e tratados. Sua procedência, autenticidade e ortodoxia nem sempre são evidentes, mas por serem tudo o que temos, algo de valor deve ser deles obtido. Conforme as regras do rigor científico, pode-se fazer objeção ao uso de um documento como, por exemplo, Pseudo-Barnabé. Entretanto, se alguém limita-se apenas à análise de documentos de arquivos, de monumentos arqueológicos e outras peças de incontestável autenticidade, é impossível fazer algum progresso real, devido à sua escassez. Por esta razão, é necessário examinar a rica literatura patrística e apócrifa, tendo em mente as suas limitações.
Este estudo representa uma extensão da tese doutoral apresentada em italiano ao Departamento de História Eclesiástica da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. O material foi substancialmente condensado e reorganizado. Esta nova apresentação é motivada pelo desejo de tornar o estudo compreensível mesmo para os leitores leigos. A discussão de questões técnicas foi colocada em notas no final dos capítulos.
Espera-se que o presente trabalho forneça aos teólogos os indispensáveis dados históricos necessários para reflexões sobre o significado do domingo, e também é de se esperar que possa despertar o interesse dos historiadores para reconsiderar a questão da origem do domingo na tentativa de chegar mais perto da “verdade”. Espera-se também que os leitores sinceros sejam estimulados, através de uma melhor compreensão do significado do santo dia de Deus, a buscar um mais profundo relacionamento com o “Senhor do sábado” (Marcos 2:28).
O problema da observância do domingo entre os cristãos primitivos tem despertado, em época recente, o interesse dos estudiosos de diferentes crenças religiosas. Os numerosos estudos científicos, inclusive várias teses doutorais, que têm aparecido nas duas últimas décadas, são uma clara evidência do renovado interesse e esforço despendido para encontrar uma resposta mais satisfatória para a questão sempre intrigante da época, lugar e causas da origem da guarda do domingo.5
Em estudos recentes, entretanto, a tendência tem sido tornar a observância do domingo ou uma criação exclusiva e original da comunidade apostólica de Jerusalém6 ou uma adaptação pagã do “dies solis-dia do sol” com a adoração ao sol a ele relacionada.7 Mas qualquer investigação e conclusão que leve em conta apenas uns poucos fatores causais é evidentemente unilateral, não equilibrada. Se reconhecemos, como J. V. Goudoever, que de “todas as partes da liturgia as festas são talvez as mais duradouras: é praticamente impossível mudar o dia e forma de comemoração”8, só podemos esperar que motivos complexos e profundos devam ter levado a maioria dos cristãos a abandonar a imemorável e notória tradição judaica da guarda do sábado em favor de um novo dia de culto. Em qualquer tentativa, portanto, de reconstruir o processo histórico da origem do domingo, deve-se dar atenção ao grande número de possíveis fatores—teológicos, sociais, políticos, pagãos—que podem ter desempenhado um menor ou maior papel ao induzir a adoção do domingo como dia de culto.
Este estudo tem dois objetivos bem definidos: Primeiro, propõe o exame das teses defendidas por inúmeros estudiosos que atribuem aos apóstolos, e até mesmo a Cristo, a iniciativa e responsabilidade de abandonar a guarda do sábado e instituir o culto dominical. Serão considerados os ensinos de Cristo quanto ao sábado, a ressurreição e aparecimentos de Cristo, a celebração eucarística e a comunidade cristã de Jerusalém, a fim de determinar que parte desempenharam, se é que desempenharam, no estabelecimento da observância do domingo. Nosso objetivo é verificar se o culto dominical começou durante o tempo dos apóstolos em Jerusalém ou se deu-se posteriormente. Esta verificação da origem histórica da guarda do domingo é de grande importância, pois ela pode explicar não apenas as causas de sua origem, mas também sua aplicabilidade aos cristãos hoje. Se o domingo é realmente o dia do Senhor, todos os cristãos, sim, toda a humanidade deveria sabê-lo.
Em segundo lugar, esta pesquisa pretende avaliar em que medida alguns fatores, como os sentimentos anti-judaicos, as atitudes repressivas que os romanos tomaram contra os judeus, a adoração ao sol e sua relação com o “dia do sol” e determinadas motivações teológicas cristãs, influíram no abandono do sábado e na adoção do domingo como o dia do Senhor pela maioria dos cristãos.
Este estudo é, portanto, uma tentativa de reconstruir um mosaico de fatores na busca de uma descrição mais exata da época e das causas que contribuíram para a adoção do domingo como o dia de adoração e repouso. Isto está em harmonia com C. W. Dugmore, que sugere que “às vezes é bom reconsiderar o que a maioria das pessoas considera como coisa definida, mesmo que não se chegue a nenhuma conclusão surpreendente”.9 Reexaminar conclusões e hipóteses aceitas, submetendo-as a um exame crítico e minucioso, não é um simples exercício acadêmico, mas uma tarefa a ser cumprida a serviço da verdade.
Nosso estudo não se preocupa com os aspectos litúrgicos ou pastorais da observância do domingo entre os primitivos cristãos, desde que tais problemas já têm sido tratados exaustivamente em recentes monografias.10 Examinaremos apenas os textos que podem ajudar a estabelecer a época e as causas formais e materiais, imediatas e remotas da origem do culto dominical. Nosso propósito limita-se ao problema das origens.
Exceto algumas referências incidentais a textos posteriores, os documentos que examinaremos estão dentro dos quatro primeiros séculos da nossa era. Testemunhos patrísticos serão examinados até este último período, a fim de verificar a validade histórica das motivações que aparecem nos inadequados documentos da primeira parte do segundo século. Este é o período no qual o culto dominical mudou de um nebuloso começo para uma prática estabelecida. Sendo este o período em que as instituições eclesiásticas ainda estavam em um estágio embrionário, o estudante que lê os poucos documentos disponíveis com os critérios eclesiológicos posteriores, pode facilmente enganar-se.
As fontes têm sido analisadas levando em conta os fatores cronológicos, históricos e geográficos. Passagens significativas têm sido submetidas a cuidadoso exame, já que freqüentemente seus problemas textuais e contextuais têm sido passados por alto ou interpretados unilateralmente. Isto produz uma impressão que não é verdadeira. N. J. White menciona por exemplo, “uma freqüente e inquestionada aplicação que a Igreja” faz da frase “dia do Senhor” para referir-se ao domingo desde os primitivos tempos apostólicos.11
Os documentos disponíveis para a presente pesquisa são de natureza heterogênea, tais como cartas, homilias e tratados. Sua procedência, autenticidade e ortodoxia nem sempre são evidentes, mas por serem tudo o que temos, algo de valor deve ser deles obtido. Conforme as regras do rigor científico, pode-se fazer objeção ao uso de um documento como, por exemplo, Pseudo-Barnabé. Entretanto, se alguém limita-se apenas à análise de documentos de arquivos, de monumentos arqueológicos e outras peças de incontestável autenticidade, é impossível fazer algum progresso real, devido à sua escassez. Por esta razão, é necessário examinar a rica literatura patrística e apócrifa, tendo em mente as suas limitações.
Este estudo representa uma extensão da tese doutoral apresentada em italiano ao Departamento de História Eclesiástica da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. O material foi substancialmente condensado e reorganizado. Esta nova apresentação é motivada pelo desejo de tornar o estudo compreensível mesmo para os leitores leigos. A discussão de questões técnicas foi colocada em notas no final dos capítulos.
Espera-se que o presente trabalho forneça aos teólogos os indispensáveis dados históricos necessários para reflexões sobre o significado do domingo, e também é de se esperar que possa despertar o interesse dos historiadores para reconsiderar a questão da origem do domingo na tentativa de chegar mais perto da “verdade”. Espera-se também que os leitores sinceros sejam estimulados, através de uma melhor compreensão do significado do santo dia de Deus, a buscar um mais profundo relacionamento com o “Senhor do sábado” (Marcos 2:28).
NOTAS E REFERÊNCIAS
1. Abraham Joshua Heschel, The Sabbath, its Meaning for Modern Man, 1951, p. 10. O mesmo autor salienta a noção de que o judaísmo é uma religião do tempo que frisa a santificação do tempo (ibid. p. 8).
2. Sobre o desenvolvimento histórico da legislação dominical ver: H. Gruber, Geist und Buchstabe der Sonntagsruhe, 1958, que traça tal desenvolvimento até à Idade Média. Um tratamento similar é dispensado por J. Kelly, Forbidden Sunday and Feast-Day Occupations, dissertação, Catholic University of America, 1943. Para uma opinião puritana, ver J. Bohmer, Der Christliche Sonntag nach Ursprung und Geschichte, 1951. Ronald Goetz “An Eschatological Manifesto”, The Christian Century 76 (2 de novembro de 1960): 1275, argumenta que o princípio da separação entre Igreja e estado é negligenciado pelos defensores das leis dominicais (cf. John Gilmary Shea, “The Observance of Sunday and Civil Laws for its Enforcement”. The American Catholic Quarterly Review, 8, (1883): 152ss.
3. Harold Linsell vai mais longe ao propor que o domingo seja um dia nacional de repouso em seu editorial na Christianity Today de 7 de maio de 1976, intitulado “The Lord’s Day and Natural Resources”. Ele afirma que a única maneira de se conseguir o duplo objetivo da observância do domingo e conservação de energia seria “pela força de uma sanção legislativa através dos representantes eleitos pelo povo”. A oposição dos sabatistas ao editorial, que consideram a proposta de Lindsell como uma violação dos direitos garantidos aos americanos pela primeira emenda da Constituição, aparentemente levou o editor a apresentar uma contraproposta em outro editorial na mesma revista de 5 de novembro de 1976. Conforme a nova proposta de Lindsell, o sábado e não o domingo deve ser considerado como um dia de repouso para todas as pessoas. Os adventistas do sétimo dia rejeitaram enfaticamente mesmo a última proposta, baseando-se em que a observância obrigatória de qualquer dia da semana seria um fardo e privaria alguns segmentos da população da liberdade religiosa (cf. Leo R. van Dolson, “Color the Blue Laws Green”, Liberty, 72 (1977): 30.
4. W. Rordorf, Sunday. The History of the Day of Rest and Worship in the Earliest Centuries of The Christian Church, 1968 (daqui por diante citado apenas como Sunday), p. 296, sustenta que “com certeza até o quarto século a idéia de repouso não influiu absolutamente nada no domingo cristão”. Uma vez que na opinião de Rordorf o repouso dominical não era um componente original ou indispensável do culto dominical, mas uma imposição imperial (p. 168), ele levanta a possibilidade de ser esta “uma solução ideal por fazer coincidir o dia de repouso e o dia de culto” (p. 299). Ele prefere atribuir ao domingo uma exclusiva função de culto que pode ser realizada na assembléia da comunidade cristã, em qualquer momento do dia, para a celebração eucarística.
5. Os seguintes são alguns dos mais recentes e importantes estudos: W. Rordorf, Sunday; pelo mesmo autor, “Le Dimanche, jour du culte et jour du repos dans l’Eglise primitive”, Le Dimenche, Lex Orandi 39, 1965, pp. 91-111; Sabbat et dimanche dans l’Eglise ancienne, 1972; C. S. Mosna, “Storia della domenica dalle origini fino agli inizi del V Secolo”, Analecta Gregoriana, vol. 170, 1969; J. Daniélou, “Le dimanche comme huitième jour”, Le Dimanche, Lex Orandi 39, 1965, pp. 61-89.
6. Esta exclusiva introdução reflete-se, por exemplo, na metodologia de W. Rordorf, quando declara que “em principio há duas possíveis soluções para este problema: ou nós concluímos que a observância do domingo teve origem no Cristianismo, e neste caso temos que procurar saber que fatores contribuíram para o seu surgimento; ou estamos convencidos de que a Igreja Cristã adotou sua observância do domingo buscando-a em outra fonte. Devemos chegar a uma ou outra conclusão em nossa pesquisa da origem da observância cristã do domingo, pois ela não pede ter sido ao mesmo tempo legada e adotada pelos cristãos”. (Sunday, p. 180). Rordorf defende tenazmente a primeira solução, mas seu método e conclusões são criticados até mesmo por C. S. Mosna (ver nota 8). Semelhantemente J. Daniélou escreve: “O domingo é uma criação puramente cristã, ligado ao fato histórico da Ressurreição do Senhor” (Bible and Liturgy, pp. 222 e 242). Este aspecto é examinado nos capítulos 3, 5 e 9.
7. Ver, por exemplo, H. Gunkel, Zum religionsgeschichtlichen Verstandnis des Neuen Testaments, 1910, pp. 74ss.; A. Loisy, Les Mysteres paiens, 1930, pp. 223ss; também Les Evangiles synoptiques, 1907, 1, pp. 177ss.; R. L. Odom, Sunday in Roman Paganism, 1944; P. Cotton, From Sabbath to Sunday, 1933, pp. 130ss.
8. J. V. Goudoever, Biblical Calendars, 1959, p. 151. C. S. Mosna critica W. Rordorf por dar “ao surgimento da festividade dominical uma origem demasiadamente cristã, esquecendo outros elementos úteis e destacando-o de seu contexto judeu” (Storia della domenica, pp. 41 e 5);
9. C. W. Dugmore (nota 7), p. 274.
10. Para os aspectos pastorais da observância do domingo ver V. Monacchino, “La Cura pastorale a Milano, Cartagine e Roma nel secolo IV”, Analecta Gregoriana 41, 1947; e “S. Ambrogio e la cura pastorale a Milano nel secolo IV, 1973”; C. S. Mosna, Storia della domenica, parte IV, trata dos aspectos litúrgico e pastoral do domingo tanto no Oriente como no Ocidente; para a questão do repouso no domingo, ver H. Huber, Spirito e lettera del riposo domenicale, 1961; J. Duval, “La Doctrine de l’Eglise sur le travail dominical et son evolution”, La Maison-Dieu 83 (1965): 106ss.; L. Vereecke, “Le Repos du dimanche”, Lumière et vie 58 (1962): 72ss.
11. A Dictionary of the Bible, ed. James Hastings, 1911, s.v. “Lord’s Day”, por N. J. White.
1. Abraham Joshua Heschel, The Sabbath, its Meaning for Modern Man, 1951, p. 10. O mesmo autor salienta a noção de que o judaísmo é uma religião do tempo que frisa a santificação do tempo (ibid. p. 8).
2. Sobre o desenvolvimento histórico da legislação dominical ver: H. Gruber, Geist und Buchstabe der Sonntagsruhe, 1958, que traça tal desenvolvimento até à Idade Média. Um tratamento similar é dispensado por J. Kelly, Forbidden Sunday and Feast-Day Occupations, dissertação, Catholic University of America, 1943. Para uma opinião puritana, ver J. Bohmer, Der Christliche Sonntag nach Ursprung und Geschichte, 1951. Ronald Goetz “An Eschatological Manifesto”, The Christian Century 76 (2 de novembro de 1960): 1275, argumenta que o princípio da separação entre Igreja e estado é negligenciado pelos defensores das leis dominicais (cf. John Gilmary Shea, “The Observance of Sunday and Civil Laws for its Enforcement”. The American Catholic Quarterly Review, 8, (1883): 152ss.
3. Harold Linsell vai mais longe ao propor que o domingo seja um dia nacional de repouso em seu editorial na Christianity Today de 7 de maio de 1976, intitulado “The Lord’s Day and Natural Resources”. Ele afirma que a única maneira de se conseguir o duplo objetivo da observância do domingo e conservação de energia seria “pela força de uma sanção legislativa através dos representantes eleitos pelo povo”. A oposição dos sabatistas ao editorial, que consideram a proposta de Lindsell como uma violação dos direitos garantidos aos americanos pela primeira emenda da Constituição, aparentemente levou o editor a apresentar uma contraproposta em outro editorial na mesma revista de 5 de novembro de 1976. Conforme a nova proposta de Lindsell, o sábado e não o domingo deve ser considerado como um dia de repouso para todas as pessoas. Os adventistas do sétimo dia rejeitaram enfaticamente mesmo a última proposta, baseando-se em que a observância obrigatória de qualquer dia da semana seria um fardo e privaria alguns segmentos da população da liberdade religiosa (cf. Leo R. van Dolson, “Color the Blue Laws Green”, Liberty, 72 (1977): 30.
4. W. Rordorf, Sunday. The History of the Day of Rest and Worship in the Earliest Centuries of The Christian Church, 1968 (daqui por diante citado apenas como Sunday), p. 296, sustenta que “com certeza até o quarto século a idéia de repouso não influiu absolutamente nada no domingo cristão”. Uma vez que na opinião de Rordorf o repouso dominical não era um componente original ou indispensável do culto dominical, mas uma imposição imperial (p. 168), ele levanta a possibilidade de ser esta “uma solução ideal por fazer coincidir o dia de repouso e o dia de culto” (p. 299). Ele prefere atribuir ao domingo uma exclusiva função de culto que pode ser realizada na assembléia da comunidade cristã, em qualquer momento do dia, para a celebração eucarística.
5. Os seguintes são alguns dos mais recentes e importantes estudos: W. Rordorf, Sunday; pelo mesmo autor, “Le Dimanche, jour du culte et jour du repos dans l’Eglise primitive”, Le Dimenche, Lex Orandi 39, 1965, pp. 91-111; Sabbat et dimanche dans l’Eglise ancienne, 1972; C. S. Mosna, “Storia della domenica dalle origini fino agli inizi del V Secolo”, Analecta Gregoriana, vol. 170, 1969; J. Daniélou, “Le dimanche comme huitième jour”, Le Dimanche, Lex Orandi 39, 1965, pp. 61-89.
6. Esta exclusiva introdução reflete-se, por exemplo, na metodologia de W. Rordorf, quando declara que “em principio há duas possíveis soluções para este problema: ou nós concluímos que a observância do domingo teve origem no Cristianismo, e neste caso temos que procurar saber que fatores contribuíram para o seu surgimento; ou estamos convencidos de que a Igreja Cristã adotou sua observância do domingo buscando-a em outra fonte. Devemos chegar a uma ou outra conclusão em nossa pesquisa da origem da observância cristã do domingo, pois ela não pede ter sido ao mesmo tempo legada e adotada pelos cristãos”. (Sunday, p. 180). Rordorf defende tenazmente a primeira solução, mas seu método e conclusões são criticados até mesmo por C. S. Mosna (ver nota 8). Semelhantemente J. Daniélou escreve: “O domingo é uma criação puramente cristã, ligado ao fato histórico da Ressurreição do Senhor” (Bible and Liturgy, pp. 222 e 242). Este aspecto é examinado nos capítulos 3, 5 e 9.
7. Ver, por exemplo, H. Gunkel, Zum religionsgeschichtlichen Verstandnis des Neuen Testaments, 1910, pp. 74ss.; A. Loisy, Les Mysteres paiens, 1930, pp. 223ss; também Les Evangiles synoptiques, 1907, 1, pp. 177ss.; R. L. Odom, Sunday in Roman Paganism, 1944; P. Cotton, From Sabbath to Sunday, 1933, pp. 130ss.
8. J. V. Goudoever, Biblical Calendars, 1959, p. 151. C. S. Mosna critica W. Rordorf por dar “ao surgimento da festividade dominical uma origem demasiadamente cristã, esquecendo outros elementos úteis e destacando-o de seu contexto judeu” (Storia della domenica, pp. 41 e 5);
9. C. W. Dugmore (nota 7), p. 274.
10. Para os aspectos pastorais da observância do domingo ver V. Monacchino, “La Cura pastorale a Milano, Cartagine e Roma nel secolo IV”, Analecta Gregoriana 41, 1947; e “S. Ambrogio e la cura pastorale a Milano nel secolo IV, 1973”; C. S. Mosna, Storia della domenica, parte IV, trata dos aspectos litúrgico e pastoral do domingo tanto no Oriente como no Ocidente; para a questão do repouso no domingo, ver H. Huber, Spirito e lettera del riposo domenicale, 1961; J. Duval, “La Doctrine de l’Eglise sur le travail dominical et son evolution”, La Maison-Dieu 83 (1965): 106ss.; L. Vereecke, “Le Repos du dimanche”, Lumière et vie 58 (1962): 72ss.
11. A Dictionary of the Bible, ed. James Hastings, 1911, s.v. “Lord’s Day”, por N. J. White.
SINTESE DO LIVRO
COMO A MUDANÇA OCORREU?
Samuele Bacchiocchi, Ph. D.
Professor Jubilado de Teologia e História Eclesiástica, Universidade Andrews
Freqüentemente as pessoas me pedem um sumário conciso e simples das descobertas de minha investigação de como o sábado foi mudado para o domingo na igreja primitiva durante meu período de estudos doutorais de cinco anos na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Itália. Eles se queixam com razão que minha dissertação é muito puxada em termos de tempo e concentração. Preferem uma explicação mais simples que possam compartilhar mais prontamente com pessoas interessadas. Para atender essa demanda tento nesta conferência apresentar os pontos altos de minha pesquisa, numa maneira simples e bem-estruturada. Para efeito de brevidade omiti algumas referências de notas de rodapé. Os leitores interessados encontrarão toda a documentação em From Sabbath to Sunday [Do sábado para o domingo].1 Sintam-se livres para imprimir, usar e distribuir o texto deste estudo em qualquer formato que julgarem necessário para seus esforços de divulgação das informações nele contidas.
ESCLARECIMENTO IMPORTANTE
Constantino não introduziu a observância dominical. Ele simplesmente tornou o Dia do Sol um feriado civil por promulgar a famosa Lei Dominical de 321 AD. A razão por que Constantino fez do domingo um feriado civil é simplesmente porque naquele tempo o Dia do Sol havia se tornado popular tanto entre os pagãos quanto entre os cristãos. Isso é indicado pela própria linguagem da legislação: “No venerável Dia do Sol . . .”2 É evidente que na época o dia do sol já era “venerável”, ou seja, popular e respeitado.
O processo que levou à adoção do dia do sol como um feriado civil para todo o Império Romano começou na primeira parte do segundo século, quando o dia do sol foi avançado do segundo dia da semana para a posição de primeiro e mais importante dia semanal. Esse processo é discutido no capítulo 8 de From Sabbath to Sunday, e a isso se fará breve alusão no final desta conferência. Há indicações bastante convincentes de que quando os romanos avançaram o dia do sol para o primeiro e mais importante dia da semana, os cristãos gentios, que tiveram uma formação pagã, foram influenciados a adotar o mesmo dia do sol, a fim de mostrar separação dos judeus e identificação com os romanos. Para dizê-lo de modo diferente, eles decidiram estar politicamente corretos com a adoção do dia do sol, antes que serem biblicamente corretos observando o sábado do sétimo dia.
A guarda do sábado é comparada nas Escrituras a fidelidade a Deus, e a profanação do sábado a apostasia. Mediante o profeta Ezequiel Deus lamenta: “a casa de Israel se rebelou contra mim no deserto . . . profanaram grandemente os meus sábados” (Eze. 20:13). A razão para essa equação não é difícil de ver. Uma pessoa que ignora o Senhor em Seu santo dia, por fim ignorará o Senhor todo dia.
Em vista da importância vital que o sábado desempenha na experiência religiosa do povo de Deus, haveria de ser muito surpreendente se o Maligno não tivesse se metido com o mandamento do sábado durante os três primeiros séculos. Por levar muitos cristãos a rejeitarem o sábado logo após o início do cristianismo, o diabo teve êxito em promover falsos tipos de culto. Nunca devemos esquecer que o Grande Conflito em grande medida centraliza-se sobre adoração: ou seja, a verdadeira adoração versus a falsa adoração. E o sábado é essencial para a adoração, porque nos convida a adorar a Deus por consagrar nosso tempo e vida a Ele numa forma especial todo sétimo dia.
Constantino não introduziu a observância dominical. Ele simplesmente tornou o Dia do Sol um feriado civil por promulgar a famosa Lei Dominical de 321 AD. A razão por que Constantino fez do domingo um feriado civil é simplesmente porque naquele tempo o Dia do Sol havia se tornado popular tanto entre os pagãos quanto entre os cristãos. Isso é indicado pela própria linguagem da legislação: “No venerável Dia do Sol . . .”2 É evidente que na época o dia do sol já era “venerável”, ou seja, popular e respeitado.
O processo que levou à adoção do dia do sol como um feriado civil para todo o Império Romano começou na primeira parte do segundo século, quando o dia do sol foi avançado do segundo dia da semana para a posição de primeiro e mais importante dia semanal. Esse processo é discutido no capítulo 8 de From Sabbath to Sunday, e a isso se fará breve alusão no final desta conferência. Há indicações bastante convincentes de que quando os romanos avançaram o dia do sol para o primeiro e mais importante dia da semana, os cristãos gentios, que tiveram uma formação pagã, foram influenciados a adotar o mesmo dia do sol, a fim de mostrar separação dos judeus e identificação com os romanos. Para dizê-lo de modo diferente, eles decidiram estar politicamente corretos com a adoção do dia do sol, antes que serem biblicamente corretos observando o sábado do sétimo dia.
A guarda do sábado é comparada nas Escrituras a fidelidade a Deus, e a profanação do sábado a apostasia. Mediante o profeta Ezequiel Deus lamenta: “a casa de Israel se rebelou contra mim no deserto . . . profanaram grandemente os meus sábados” (Eze. 20:13). A razão para essa equação não é difícil de ver. Uma pessoa que ignora o Senhor em Seu santo dia, por fim ignorará o Senhor todo dia.
Em vista da importância vital que o sábado desempenha na experiência religiosa do povo de Deus, haveria de ser muito surpreendente se o Maligno não tivesse se metido com o mandamento do sábado durante os três primeiros séculos. Por levar muitos cristãos a rejeitarem o sábado logo após o início do cristianismo, o diabo teve êxito em promover falsos tipos de culto. Nunca devemos esquecer que o Grande Conflito em grande medida centraliza-se sobre adoração: ou seja, a verdadeira adoração versus a falsa adoração. E o sábado é essencial para a adoração, porque nos convida a adorar a Deus por consagrar nosso tempo e vida a Ele numa forma especial todo sétimo dia.
DO SÁBADO PARA O DOMINGO: COMO A MUDANÇA OCORREU?
Dr. Samuele Bacchiocchi
Poucos assuntos têm sido tão calorosamente debatidos na história cristã quanto a mudança do dia de repouso e adoração do sábado para o domingo no cristianismo primitivo. Mais de 3.000 dissertações e tratados foram publicados sobre este assunto desde o tempo da Reforma. Uma razão destacada para esse incessante interesse na origem histórica do domingo tem sido a necessidade de definir a natureza da observância dominical em seu relacionamento com o sábado. O debate muitas vezes gira em torno dessa questão fundamental: Originou-se o domingo como uma continuação do sábado e, conseqüentemente, devia ser observado como um DIA de repouso e adoração a exemplo do sábado? Ou acaso o domingo começou como uma instituição cristã inteiramente nova, radicalmente diferente do sábado, e conseqüentemente devia ser observado mas como uma HORA do culto semanal?
Os cristãos têm estado igualmente divididos em sua resposta a estas perguntas. Por um lado, há aquelas igrejas que seguem a tradição calvinista que vê o domingo como o sábado cristão, e assim para ser observado como um DIA SANTO de descanso e culto ao Senhor. Por outro lado, existem aquelas igrejas que seguem as tradições católica e luterana que vêem o domingo como diferente do sábado, e assim para ser observado primariamente como a hora semanal de culto.
A atual crise da observância do domingo tem despertado um renovado interesse pela questão da origem do domingo e sua relação para com o sábado. Dirigentes eclesiásticos católicos e protestantes estão profundamente preocupados com o alarmante declínio na freqüência à igreja. Na Itália, de onde procedo, estima-se que somente 5% dos católicos assistem regularmente à missa aos domingos. Cerca de 95% dos católicos vão à igreja três vezes na vida: quando nascem, se casam e morrem [o autor usa e expressão cômica em inglês: “when they are hatched, matched and dispatched”--quando são chocados, acasalados e despachados]. A situação é essencialmente a mesma na maioria dos países ocidentais onde a assistência à igreja atinge menos de 10% da população cristã. A freqüência chocantemente baixa à igreja é vista pelos líderes eclesiásticos como uma ameaça à sobrevivência não só de suas igrejas, mas do próprio cristianismo. Afinal de contas, a essência do cristianismo é um relacionamento com Deus e se os cristãos ignoram o Senhor no dia que eles consideram o Dia do Senhor, as chances são de que ignorarão o Senhor todos os dias da semana.
Agudamente cientes das implicações da crise da observância dominical para o futuro das igrejas cristãs numerosos dirigentes eclesiásticos e eruditos estão reexaminando a história e teologia do domingo num esforço para promover mais eficazmente sua observância. Como já feito notar, uma questão relevante abordada em recentes dissertações, livros e artigos, é o relacionamento entre o sábado e o domingo.
Dr. Samuele Bacchiocchi
Poucos assuntos têm sido tão calorosamente debatidos na história cristã quanto a mudança do dia de repouso e adoração do sábado para o domingo no cristianismo primitivo. Mais de 3.000 dissertações e tratados foram publicados sobre este assunto desde o tempo da Reforma. Uma razão destacada para esse incessante interesse na origem histórica do domingo tem sido a necessidade de definir a natureza da observância dominical em seu relacionamento com o sábado. O debate muitas vezes gira em torno dessa questão fundamental: Originou-se o domingo como uma continuação do sábado e, conseqüentemente, devia ser observado como um DIA de repouso e adoração a exemplo do sábado? Ou acaso o domingo começou como uma instituição cristã inteiramente nova, radicalmente diferente do sábado, e conseqüentemente devia ser observado mas como uma HORA do culto semanal?
Os cristãos têm estado igualmente divididos em sua resposta a estas perguntas. Por um lado, há aquelas igrejas que seguem a tradição calvinista que vê o domingo como o sábado cristão, e assim para ser observado como um DIA SANTO de descanso e culto ao Senhor. Por outro lado, existem aquelas igrejas que seguem as tradições católica e luterana que vêem o domingo como diferente do sábado, e assim para ser observado primariamente como a hora semanal de culto.
A atual crise da observância do domingo tem despertado um renovado interesse pela questão da origem do domingo e sua relação para com o sábado. Dirigentes eclesiásticos católicos e protestantes estão profundamente preocupados com o alarmante declínio na freqüência à igreja. Na Itália, de onde procedo, estima-se que somente 5% dos católicos assistem regularmente à missa aos domingos. Cerca de 95% dos católicos vão à igreja três vezes na vida: quando nascem, se casam e morrem [o autor usa e expressão cômica em inglês: “when they are hatched, matched and dispatched”--quando são chocados, acasalados e despachados]. A situação é essencialmente a mesma na maioria dos países ocidentais onde a assistência à igreja atinge menos de 10% da população cristã. A freqüência chocantemente baixa à igreja é vista pelos líderes eclesiásticos como uma ameaça à sobrevivência não só de suas igrejas, mas do próprio cristianismo. Afinal de contas, a essência do cristianismo é um relacionamento com Deus e se os cristãos ignoram o Senhor no dia que eles consideram o Dia do Senhor, as chances são de que ignorarão o Senhor todos os dias da semana.
Agudamente cientes das implicações da crise da observância dominical para o futuro das igrejas cristãs numerosos dirigentes eclesiásticos e eruditos estão reexaminando a história e teologia do domingo num esforço para promover mais eficazmente sua observância. Como já feito notar, uma questão relevante abordada em recentes dissertações, livros e artigos, é o relacionamento entre o sábado e o domingo.
Dois Pontos de Vista Concernentes à Origem do Domingo
Para declarar sumariamente, há dois principais pontos de vista hoje concernentes à origem histórica do domingo e seu relacionamento com o sábado bíblico. O ponto de vista antigo e tradicional, que pode ser identificado desde o cristianismo primitivo, sustenta que há uma descontinuidade radical entre o sábado e o domingo, e, conseqüentemente, o domingo não é o sábado. Os dois dias diferem em origem, significado e experiência. O ponto de vista mais recente, que é articulado pelo próprio Papa João Paulo II em sua Carta Pastoral Dies Domini, mantém que o domingo começou como a incorporação e “expressão plena” do sábado e, conseqüentemente, deve ser observado como um imperativo bíblico, com suas raízes no próprio mandamento do sábado.3
Segundo o ponto de vista tradicional, que tem sido sustentado pela Igreja Católica e aceito por aquelas denominações protestantes que seguem a tradição luterana, o sábado foi uma instituição mosaica temporária dada aos judeus, ab-rogada por Cristo e, em conseqüência, não mais vigente hoje. Os cristãos adotaram a observância do domingo, não como uma continuação do sábado bíblico, mas como uma nova instituição estabelecida pela Igreja para celebrar a Ressurreição por meio da celebração da Santa Ceia.
Essa posição tradicional tem sido mantida pela Igreja Católica, que reivindica a responsabilidade por mudar o sábado para o domingo. Por exemplo, Tomás de Aquino (1225-1274 AD), considerado o maior teólogo católico que já viveu, declara explicitamente: “A observância do Dia do Senhor tomou o lugar da observância do sábado, não por virtude do preceito [bíblico] mas por instituição da Igreja”.4 Tal ponto de vista tem sido reiterado ao longo dos séculos em catecismos católicos oficiais onde uma declaração semelhante a esta é geralmente encontrada: “Observamos o domingo em lugar do sábado porque a Igreja Católica, em virtude de sua autoridade, transferiu a solenidade do sábado para o domingo”.5
Recentemente, contudo, tem surgido eruditos tanto católicos quanto protestantes que argumentam por uma origem apostólica para a observância do domingo. Segundo esses estudiosos, os próprios apóstolos escolheram o primeiro dia da semana como o novo sábado cristão no próprio início do cristianismo a fim de comemorar a ressurreição de Cristo.
Essa opinião é defendida em grande extensão pelo Papa João Paulo II em sua Carta Pastoral Dies Domini (O Dia do Senhor), que foi promulgada em 31 de maio de 1998. Nesse extenso documento (mais de 40 páginas) o Papa faz um ardente apelo para um reavivamento da observância do domingo apelando ao imperativo moral do mandamento do sábado. Para o Papa, o domingo deve ser observado, não meramente como uma instituição estabelecida pela Igreja Católica, mas como um imperativo moral do Decálogo. A razão é que o domingo supostamente se originou como a incorporação e “plena expressão” do sábado e, por conseqüência, deve ser observado como o sábado bíblico.
João Paulo se desvia da tradicional posição católica presumivelmente porque deseja desafiar os cristãos a respeitarem o domingo, não meramente como uma instituição da Igreja Católica, mas como um mandamento divino. Ademais, por enraizar a guarda do domingo no mandamento do sábado, o Papa oferece as mais vigorosas razões morais para instar os cristãos a “assegurarem que a legislação civil respeite seu dever de manter o domingo santo”.6
As tentativas feitas pelo Papa e outros dirigentes eclesiásticos para fundamentar a observância do domingo no mandamento do sábado suscita esta importante indagação: “Se se espera que os cristãos observem o domingo como o sábado bíblico, por que não deviam observar logo o sábado?” O que havia de errado com o sábado bíblico que careceu de ser mudado para o domingo? Aplicar o mandamento do sábado à observância do primeiro dia da semana, o domingo, pode ser confuso, para dizer o mínimo, porque o quarto mandamento estabelece a observância do sétimo dia, não do primeiro dia. Essa confusão pode explicar por que muitos cristãos não levam a sério a observância do domingo.
Para declarar sumariamente, há dois principais pontos de vista hoje concernentes à origem histórica do domingo e seu relacionamento com o sábado bíblico. O ponto de vista antigo e tradicional, que pode ser identificado desde o cristianismo primitivo, sustenta que há uma descontinuidade radical entre o sábado e o domingo, e, conseqüentemente, o domingo não é o sábado. Os dois dias diferem em origem, significado e experiência. O ponto de vista mais recente, que é articulado pelo próprio Papa João Paulo II em sua Carta Pastoral Dies Domini, mantém que o domingo começou como a incorporação e “expressão plena” do sábado e, conseqüentemente, deve ser observado como um imperativo bíblico, com suas raízes no próprio mandamento do sábado.3
Segundo o ponto de vista tradicional, que tem sido sustentado pela Igreja Católica e aceito por aquelas denominações protestantes que seguem a tradição luterana, o sábado foi uma instituição mosaica temporária dada aos judeus, ab-rogada por Cristo e, em conseqüência, não mais vigente hoje. Os cristãos adotaram a observância do domingo, não como uma continuação do sábado bíblico, mas como uma nova instituição estabelecida pela Igreja para celebrar a Ressurreição por meio da celebração da Santa Ceia.
Essa posição tradicional tem sido mantida pela Igreja Católica, que reivindica a responsabilidade por mudar o sábado para o domingo. Por exemplo, Tomás de Aquino (1225-1274 AD), considerado o maior teólogo católico que já viveu, declara explicitamente: “A observância do Dia do Senhor tomou o lugar da observância do sábado, não por virtude do preceito [bíblico] mas por instituição da Igreja”.4 Tal ponto de vista tem sido reiterado ao longo dos séculos em catecismos católicos oficiais onde uma declaração semelhante a esta é geralmente encontrada: “Observamos o domingo em lugar do sábado porque a Igreja Católica, em virtude de sua autoridade, transferiu a solenidade do sábado para o domingo”.5
Recentemente, contudo, tem surgido eruditos tanto católicos quanto protestantes que argumentam por uma origem apostólica para a observância do domingo. Segundo esses estudiosos, os próprios apóstolos escolheram o primeiro dia da semana como o novo sábado cristão no próprio início do cristianismo a fim de comemorar a ressurreição de Cristo.
Essa opinião é defendida em grande extensão pelo Papa João Paulo II em sua Carta Pastoral Dies Domini (O Dia do Senhor), que foi promulgada em 31 de maio de 1998. Nesse extenso documento (mais de 40 páginas) o Papa faz um ardente apelo para um reavivamento da observância do domingo apelando ao imperativo moral do mandamento do sábado. Para o Papa, o domingo deve ser observado, não meramente como uma instituição estabelecida pela Igreja Católica, mas como um imperativo moral do Decálogo. A razão é que o domingo supostamente se originou como a incorporação e “plena expressão” do sábado e, por conseqüência, deve ser observado como o sábado bíblico.
João Paulo se desvia da tradicional posição católica presumivelmente porque deseja desafiar os cristãos a respeitarem o domingo, não meramente como uma instituição da Igreja Católica, mas como um mandamento divino. Ademais, por enraizar a guarda do domingo no mandamento do sábado, o Papa oferece as mais vigorosas razões morais para instar os cristãos a “assegurarem que a legislação civil respeite seu dever de manter o domingo santo”.6
As tentativas feitas pelo Papa e outros dirigentes eclesiásticos para fundamentar a observância do domingo no mandamento do sábado suscita esta importante indagação: “Se se espera que os cristãos observem o domingo como o sábado bíblico, por que não deviam observar logo o sábado?” O que havia de errado com o sábado bíblico que careceu de ser mudado para o domingo? Aplicar o mandamento do sábado à observância do primeiro dia da semana, o domingo, pode ser confuso, para dizer o mínimo, porque o quarto mandamento estabelece a observância do sétimo dia, não do primeiro dia. Essa confusão pode explicar por que muitos cristãos não levam a sério a observância do domingo.
As Conclusões de Minha Pesquisa
Para encontrar uma resposta a estas perguntas quanto ao tempo, lugar, causas e conseqüências da mudança do sábado para o domingo no cristianismo primitivo, passei cinco anos na Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, examinando os antigos documentos cristãos para a minha dissertação doutoral. Os resultados de minha investigação foram publicados em minha tese From Sabbath to Sunday: A Historical Investigation of the Rise of Sunday Observance in Early Christianity [Do Sábado para o Domingo: Uma Investigação Histórica do Surgimento da Observância do Domingo no Cristianismo Primitivo]. A dissertação foi publicada em 1997 pela gráfica da Universidade com o imprimatur católico oficial. O Papa Paulo VI concedeu-me uma medalha de ouro por ter alcançado a distinção acadêmica máxima, summa cum laude, nessa pesquisa e no trabalho escolar. Neste artigo tentarei compartilhar alguns dos pontos altos de minha investigação.
Para efeito de brevidade, permitam-me expor de início a conclusão da pesquisa. Objetivamente, minha análise dos dados bíblicos e históricos indica que a mudança do sábado para o domingo não se deu no princípio do cristianismo por autoridade de Cristo ou dos apóstolos que supostamente escolheram o primeiro dia da semana como o novo sábado cristão para celebrar a ressurreição de Cristo. Antes, a mudança começou cerca de um século após a morte de Cristo durante o reinado do imperador romano Adriano (cerca de 135 AD), em resultado de uma interação de fatores políticos, sociais, pagãos e religiosos. Essencialmente, foi a necessidade de evitar a repressiva legislação antijudaica promulgada em 135 AD pelo Imperador Adriano que levou o bispo de Roma a ser o pioneiro em mudar o sábado para o domingo, e a Páscoa para o domingo de Páscoa. Essas mudanças destinavam-se a mostrar a separação e diferenciação dos cristãos para com os judeus numa época em que as práticas religiosas judaicas eram proibidas pelo governo romano.7
As implicações dessa conclusão são que a mudança do sábado para o domingo não foi meramente uma alteração de nomes ou números, mas uma mudança de significado, autoridade e experiência. Para ajudá-los a ver como cheguei a esta conclusão, eu os conduzirei a seguir passo a passo através das partes principais de minha pesquisa. Começamos por examinar primeiro o suposto papel de Cristo, de Sua ressurreição e da igreja de Jerusalém na mudança do sábado para o domingo. Daí prosseguiremos na consideração da influência fundamental da igreja de Roma e a adoração do sol na adoção do domingo.
Para encontrar uma resposta a estas perguntas quanto ao tempo, lugar, causas e conseqüências da mudança do sábado para o domingo no cristianismo primitivo, passei cinco anos na Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, examinando os antigos documentos cristãos para a minha dissertação doutoral. Os resultados de minha investigação foram publicados em minha tese From Sabbath to Sunday: A Historical Investigation of the Rise of Sunday Observance in Early Christianity [Do Sábado para o Domingo: Uma Investigação Histórica do Surgimento da Observância do Domingo no Cristianismo Primitivo]. A dissertação foi publicada em 1997 pela gráfica da Universidade com o imprimatur católico oficial. O Papa Paulo VI concedeu-me uma medalha de ouro por ter alcançado a distinção acadêmica máxima, summa cum laude, nessa pesquisa e no trabalho escolar. Neste artigo tentarei compartilhar alguns dos pontos altos de minha investigação.
Para efeito de brevidade, permitam-me expor de início a conclusão da pesquisa. Objetivamente, minha análise dos dados bíblicos e históricos indica que a mudança do sábado para o domingo não se deu no princípio do cristianismo por autoridade de Cristo ou dos apóstolos que supostamente escolheram o primeiro dia da semana como o novo sábado cristão para celebrar a ressurreição de Cristo. Antes, a mudança começou cerca de um século após a morte de Cristo durante o reinado do imperador romano Adriano (cerca de 135 AD), em resultado de uma interação de fatores políticos, sociais, pagãos e religiosos. Essencialmente, foi a necessidade de evitar a repressiva legislação antijudaica promulgada em 135 AD pelo Imperador Adriano que levou o bispo de Roma a ser o pioneiro em mudar o sábado para o domingo, e a Páscoa para o domingo de Páscoa. Essas mudanças destinavam-se a mostrar a separação e diferenciação dos cristãos para com os judeus numa época em que as práticas religiosas judaicas eram proibidas pelo governo romano.7
As implicações dessa conclusão são que a mudança do sábado para o domingo não foi meramente uma alteração de nomes ou números, mas uma mudança de significado, autoridade e experiência. Para ajudá-los a ver como cheguei a esta conclusão, eu os conduzirei a seguir passo a passo através das partes principais de minha pesquisa. Começamos por examinar primeiro o suposto papel de Cristo, de Sua ressurreição e da igreja de Jerusalém na mudança do sábado para o domingo. Daí prosseguiremos na consideração da influência fundamental da igreja de Roma e a adoração do sol na adoção do domingo.
JESUS E A ORIGEM DO DOMINGO
Um ponto de vista popular defendido por vários eruditos é de que Cristo preparou o terreno para o abandono do sábado e adoção do domingo em seu lugar por Suas reivindicações messiânicas e Seu método provocativo de observar o sábado, o que causou considerável controvérsia com os líderes religiosos de Seu tempo. Um exemplo digno de nota deste ponto de vista é o simpósio From Sabbath to the Lord’s Day [Do Sábado Para o Dia do Senhor], produzido por sete eruditos americanos e britânicos e patrocinado pela Tyndale Fellowship for Biblical Research em Cambridge, Inglaterra.8 Os autores mantêm que Cristo transcendeu a lei do sábado por suas reivindicações messiânicas. Ele agiu contra as tradições sabáticas prevalecentes a fim de propiciar a Seus seguidores a liberdade de reinterpretar o sábado e escolher um novo dia de culto, mais bem adequado a expressar sua nova fé cristã.
O problema fundamental com este ponto de vista popular é que interpreta distorcidamente as controvertidas atividades e ensinos de Cristo no sábado que foram claramente designadas, não a anular, mas a esclarecer a intenção divina do quarto mandamento. Cristo agiu deliberadamente contra as falsas concepções prevalecentes a respeito do sábado, não para dar fim a sua observância, mas para restaurar o propósito para o dia intencionado por Deus. Deve-se notar que toda vez que era acusado de violar o sábado, Cristo rejeitava e refutava tal acusação. Ele Se defendia e a Seus discípulos da acusação de quebrantarem o sábado apelando às Escrituras: “Não lestes . . .” (Mat. 12:3-5).
A intenção dos ensinos e atividades provocantes de Cristo no sábado não era para preparar o caminho para o abandono do sábado e adoção da observância do domingo, mas para revelar o verdadeiro significado e função do sábado--um dia “para fazer o bem” (Mat. 12:12), “para salvar vida” (Mar. 3:4), para libertar pessoas de escravidão espiritual e física (Lucas 13: 12,16), e para revelar “misericórdia” acima de religiosidade (Mat. 12:7). Um cuidadoso estudo desses pronunciamentos de Jesus sobre o sábado claramente demonstra que Jesus não tinha intenção de ab-rogar o sábado. Desejava era esclarecer o divino propósito do sábado--um dia para celebrar o amor redentor e criativo de Deus por oferecer um serviço vivo e amorável às pessoas necessitadas.
Um ponto de vista popular defendido por vários eruditos é de que Cristo preparou o terreno para o abandono do sábado e adoção do domingo em seu lugar por Suas reivindicações messiânicas e Seu método provocativo de observar o sábado, o que causou considerável controvérsia com os líderes religiosos de Seu tempo. Um exemplo digno de nota deste ponto de vista é o simpósio From Sabbath to the Lord’s Day [Do Sábado Para o Dia do Senhor], produzido por sete eruditos americanos e britânicos e patrocinado pela Tyndale Fellowship for Biblical Research em Cambridge, Inglaterra.8 Os autores mantêm que Cristo transcendeu a lei do sábado por suas reivindicações messiânicas. Ele agiu contra as tradições sabáticas prevalecentes a fim de propiciar a Seus seguidores a liberdade de reinterpretar o sábado e escolher um novo dia de culto, mais bem adequado a expressar sua nova fé cristã.
O problema fundamental com este ponto de vista popular é que interpreta distorcidamente as controvertidas atividades e ensinos de Cristo no sábado que foram claramente designadas, não a anular, mas a esclarecer a intenção divina do quarto mandamento. Cristo agiu deliberadamente contra as falsas concepções prevalecentes a respeito do sábado, não para dar fim a sua observância, mas para restaurar o propósito para o dia intencionado por Deus. Deve-se notar que toda vez que era acusado de violar o sábado, Cristo rejeitava e refutava tal acusação. Ele Se defendia e a Seus discípulos da acusação de quebrantarem o sábado apelando às Escrituras: “Não lestes . . .” (Mat. 12:3-5).
A intenção dos ensinos e atividades provocantes de Cristo no sábado não era para preparar o caminho para o abandono do sábado e adoção da observância do domingo, mas para revelar o verdadeiro significado e função do sábado--um dia “para fazer o bem” (Mat. 12:12), “para salvar vida” (Mar. 3:4), para libertar pessoas de escravidão espiritual e física (Lucas 13: 12,16), e para revelar “misericórdia” acima de religiosidade (Mat. 12:7). Um cuidadoso estudo desses pronunciamentos de Jesus sobre o sábado claramente demonstra que Jesus não tinha intenção de ab-rogar o sábado. Desejava era esclarecer o divino propósito do sábado--um dia para celebrar o amor redentor e criativo de Deus por oferecer um serviço vivo e amorável às pessoas necessitadas.
A RESSURREIÇÃO E A ORIGEM DO DOMINGO
Um ponto de vista comum entre observadores do domingo é que este foi adotado pela igreja apostólica para comemorar a ressurreição de Cristo. O próprio Papa apela à ressurreição e aparecimento de Jesus no domingo em sua Carta Pastoral Dies Domini a fim de argumentar pela origem apostólica do domingo. Numerosos eruditos católicos e protestantes têm escrito em defesa do mesmo ponto de vista.
Por exemplo, em sua dissertação doutoral Storia della Domenica [História do domingo], Corrado Mosna, um estudante jesuíta da Pontifícia Universidade Gregoriana, que trabalhou sob a direção do Prof. Vincenzo Monachino, S. J., (o mesmo professor que monitorou minha dissertação) conclui: “Portanto, podemos concluir com certeza que o evento da Ressurreição determinou a escolha do domingo como o novo dia de culto para a primeira comunidade cristã”.9 Em semelhante linha de pensamento o Cardeal Jean Daniélou escreveu: “O Dia do Senhor é uma instituição cristã; sua origem deve ser encontrada unicamente no fato da ressurreição de Cristo no dia seguinte ao sábado”.10
A despeito de sua popularidade, a alegação de que a ressurreição de Cristo no primeiro dia da semana provocou a mudança do culto no sábado para o domingo carece de apoio tanto bíblico quanto histórico. Um cuidadoso estudo de todas as referências à Ressurreição revela a incomparável importância do evento, mas não propicia qualquer indicação com respeito a uma dia especial para comemorá-lo. O Novo Testamento não atribui qualquer significado litúrgico ao dia da ressurreição de Cristo simplesmente porque a Ressurreição foi vista como uma realidade existencial experimentada por viver vitoriosamente pelo poder do Salvador Ressurreto, não como uma prática litúrgica associada ao culto dominical.
Permitam-me mencionar brevemente sete principais razões que desautorizam o suposto papel da ressurreição de Cristo na adoção da observância dominical:
(1) Nenhuma Ordem de Cristo ou dos Apóstolos. Não há mandamento de Cristo ou dos apóstolos concernente a uma celebração semanal ou anual da ressurreição de Cristo. Temos as ordens no Novo Testamento que dizem respeito ao batismo (Mat. 28:19-20), à Ceia do Senhor (Mar. 14:24-25; 1 Cor. 11:23-26) e lava-pés (João 13:14-15), mas não há ordenança ou mesmo qualquer sugestão para celebrar a ressurreição de Cristo num domingo semanal ou num domingo de Páscoa anual.
(2) Jesus Não Fez Qualquer Tentativa de Instituir um Memorial de Sua Ressurreição. Se Jesus desejasse que o dia da Ressurreição se tornasse um dia memorial e de culto, Ele teria Se aproveitado do dia em que se ergueu da tumba para estabelecer tal memorial. É importante observar que as instituições divinas como o sábado, batismo, Santa Ceia, todas remontam sua origem a um ato divino que os estabeleceu. Mas sobre o dia da Ressurreição Cristo não realizou qualquer ato para instituir um memorial que a celebrasse.
Se Jesus desejasse memorializar o dia de Sua ressurreição, muito provavelmente teria dito às mulheres e discípulos quando ressurgiu: “Vinde à parte e celebremos Minha Ressurreição!” Em vez disso Ele disse às mulheres: “Ide avisar a meus irmãos que se dirijam à Galiléia” (Mat. 28:10) e aos discípulos: “Ide. . . fazei discípulos . . . batizando-os” (Mat. 28:19). Nenhuma dessas declarações do Salvador ressurreto revela intenção de memorializar a Ressurreição por tornar o domingo o novo dia de descanso e culto.
A razão é que nosso Salvador desejava que Seus seguidores vissem a Ressurreição como uma realidade existencial a ser experimentada diariamente pelo viver vitorioso mediante o poder de Sua ressurreição, antes que por um evento litúrgico/religioso a ser celebrado no domingo. Paulo expressa a esperança de “conhecer o poder da sua ressurreição” (Fil. 3:10), mas ele nunca menciona o seu desejo de celebrar a ressurreição de Cristo no domingo ou no domingo de Páscoa.
(3) O Domingo Nunca é Chamado “Dia da Ressurreição”. O domingo nunca é chamado no Novo Testamento de “Dia da Ressurreição”. É coerentemente designado de “primeiro dia da semana”. As referências ao domingo como dia da ressurreição primeiro aparecem na primeira parte do quarto século, especificamente nos escritos de Eusébio de Cesaréia. Por esse tempo o domingo havia se tornado associado com a Ressurreição e conseqüentemente foi referido como “Dia da Ressurreição”. Mas este fato histórico ocorreu vários séculos após o começo do cristianismo.
(4) O Domingo-Ressurreição Pressupõe Trabalho, Não Repouso ou Adoração. O domingo-ressurreição pressupõe trabalho, antes que descanso e culto, porque não assinala o término do ministério terreno de Cristo, que findou numa sexta-feira à tarde quando o Salvador declarou: “Está consumado” (João 19:30), e daí descansou na tumba segundo o mandamento. Em vez disso, a Ressurreição assinala o início do novo ministério intercessório de Cristo (Atos 1:8; 2:33), o qual, à semelhança do primeiro dia da criação, pressupõe trabalho, e não descanso.
(5) A Ceia do Senhor Não Foi Celebrada no Domingo em Honra da Ressurreição. Em sua dissertação Sunday: The History of the Day of Rest and Worship in the Earliest Centuries of the Christian Church [Domingo: A História do Dia de Repouso e Adoração Nos Primeiros Séculos da Igreja Cristã] Willy Rordorf argumenta que o domingo se tornou o Dia do Senhor porque esse foi o dia em que a Ceia do Senhor era celebrada.11 Este ponto de vista carece de suporte bíblico e histórico. Historicamente sabemos que os cristãos não podiam celebrar a Ceia do Senhor numa base regular aos domingos à noite porque tais reuniões eram proibidas pela lei romana da hetariae--que impedia todos os tipos de refeições comunitárias à noite. O governo romano temia que tais reuniões noturnas se tornassem ocasiões para tramas políticas.
A fim de evitar as batidas da polícia romana, os cristãos alteravam regularmente o tempo e lugar da celebração da Ceia do Senhor. Finalmente, mudaram o serviço sagrado da noite para a manhã. Isso explica por que Paulo é tão específico quanto ao modo de celebrar a Santa Ceia, mas vago quanto à questão do tempo da assembléia. Notem que quatro vezes ele repete a mesma frase: “quando vos reunis” (1 Cor. 11:18, 20, 33, 34). Esta linguagem deixa implícito tempo indefinido, mais provavelmente porque não havia um dia instituído para a celebração da Santa Ceia.
Se, como alguns eruditos pretendem, a Ceia do Senhor era celebrada no domingo à noite, como parte do culto do Dia do Senhor, Paulo dificilmente teria deixado de mencionar o caráter sagrado do tempo em que se reuniam. Isso fortaleceria o seu apelo para uma atitude de mais reverência durante a participação na Ceia do Senhor. A falha de Paulo em mencionar o “domingo” como o tempo da reunião ou o uso do adjetivo “do Senhor-kuriakê” para caracterizar o dia como “dia do Senhor” (como ele fez com referência à Ceia do Senhor), demonstra que o apóstolo não atribuía qualquer significação religiosa ao domingo.
(6) A Ceia do Senhor Comemora o Sacrifício de Cristo, Não Sua Ressurreição. Muitos cristãos hoje consideram a Santa Ceia como o centro de seu culto dominical em honra à Ressurreição. Mas na igreja apostólica, a Santa Ceia não era celebrada no domingo, como acabamos de ver, e não se relacionava com a Ressurreição. Paulo, por exemplo, que alega transmitir o que “recebeu do Senhor” (1 Cor. 11:23), explicitamente declara que o rito comemorava, não a ressurreição de Cristo, mas Seu sacrifício e Segunda Vinda (“anunciais a morte do Senhor até que Ele venha”--1 Cor. 11:26).
Semelhantemente, a Páscoa, celebrada hoje por muitos cristãos no Domingo de Páscoa, era observado durante os tempos apostólicos, não no domingo para comemorar a Ressurreição, mas segundo a data bíblica de 14 de Nisã, primariamente como um memorial do sofrimento e morte de Cristo. Contrariamente ao que muita gente pensa, o domingo de Páscoa era desconhecido da igreja apostólica. Foi introduzido e promovido pela Igreja de Roma no segundo século a fim de mostrar separação e diferenciação da Páscoa judaica. O resultado foi a bem-conhecida controvérsia sobre a data da Páscoa que finalmente levou o bispo Vítor de Roma a excomungar os cristãos asiáticos (cerca de 191 AD) por recusarem adotar o domingo de Páscoa. Essas indicações mostram que a ressurreição de Cristo no primeiro dia da semana não influenciou a igreja apostólica a adotar o domingo semanal e a Páscoa anual para celebrar tal evento.
(7) A Ressurreição Não é a Razão Dominante Para a Observância do Domingo nos Documentos Mais Antigos. As mais antigas referências explícitas à observância do domingo se encontram nos escritos de Barnabé (cerca de 135 AD) e Justino Mártir (cerca de 150 AD). Ambos esses autores de fato mencionam a Ressurreição, mas somente como a segunda de duas razões, importante, mas não predominante. A primeira motivação teológica de Barnabé para a guarda do domingo é escatológica, ou seja, o fato de que o domingo é o “oitavo dia” e representaria “o início de outro mundo”.12 A noção de que o domingo era o “oitavo dia” foi mais tarde abandonada porque não faz sentido falar em “oitavo dia” numa semana de sete dias. A primeira razão de Justino para a assembléia dos cristãos no Dies Solis-o dia do sol, é a inauguração da criação: “Domingo é o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas em matéria prima, criou o mundo”.13 Essas razões foram finalmente abandonadas em favor da Ressurreição que se tornou a razão primária para a observância do domingo.
As sete razões dadas acima são suficientes para desacreditar a alegação de que a ressurreição de Cristo no primeiro dia da semana causou o abandono do sábado e a adoção do domingo. A verdade é que inicialmente a Ressurreição era celebrada existencialmente, antes que liturgicamente, ou seja, por uma maneira vitoriosa de vida, não mediante um dia especial de adoração.
Um ponto de vista comum entre observadores do domingo é que este foi adotado pela igreja apostólica para comemorar a ressurreição de Cristo. O próprio Papa apela à ressurreição e aparecimento de Jesus no domingo em sua Carta Pastoral Dies Domini a fim de argumentar pela origem apostólica do domingo. Numerosos eruditos católicos e protestantes têm escrito em defesa do mesmo ponto de vista.
Por exemplo, em sua dissertação doutoral Storia della Domenica [História do domingo], Corrado Mosna, um estudante jesuíta da Pontifícia Universidade Gregoriana, que trabalhou sob a direção do Prof. Vincenzo Monachino, S. J., (o mesmo professor que monitorou minha dissertação) conclui: “Portanto, podemos concluir com certeza que o evento da Ressurreição determinou a escolha do domingo como o novo dia de culto para a primeira comunidade cristã”.9 Em semelhante linha de pensamento o Cardeal Jean Daniélou escreveu: “O Dia do Senhor é uma instituição cristã; sua origem deve ser encontrada unicamente no fato da ressurreição de Cristo no dia seguinte ao sábado”.10
A despeito de sua popularidade, a alegação de que a ressurreição de Cristo no primeiro dia da semana provocou a mudança do culto no sábado para o domingo carece de apoio tanto bíblico quanto histórico. Um cuidadoso estudo de todas as referências à Ressurreição revela a incomparável importância do evento, mas não propicia qualquer indicação com respeito a uma dia especial para comemorá-lo. O Novo Testamento não atribui qualquer significado litúrgico ao dia da ressurreição de Cristo simplesmente porque a Ressurreição foi vista como uma realidade existencial experimentada por viver vitoriosamente pelo poder do Salvador Ressurreto, não como uma prática litúrgica associada ao culto dominical.
Permitam-me mencionar brevemente sete principais razões que desautorizam o suposto papel da ressurreição de Cristo na adoção da observância dominical:
(1) Nenhuma Ordem de Cristo ou dos Apóstolos. Não há mandamento de Cristo ou dos apóstolos concernente a uma celebração semanal ou anual da ressurreição de Cristo. Temos as ordens no Novo Testamento que dizem respeito ao batismo (Mat. 28:19-20), à Ceia do Senhor (Mar. 14:24-25; 1 Cor. 11:23-26) e lava-pés (João 13:14-15), mas não há ordenança ou mesmo qualquer sugestão para celebrar a ressurreição de Cristo num domingo semanal ou num domingo de Páscoa anual.
(2) Jesus Não Fez Qualquer Tentativa de Instituir um Memorial de Sua Ressurreição. Se Jesus desejasse que o dia da Ressurreição se tornasse um dia memorial e de culto, Ele teria Se aproveitado do dia em que se ergueu da tumba para estabelecer tal memorial. É importante observar que as instituições divinas como o sábado, batismo, Santa Ceia, todas remontam sua origem a um ato divino que os estabeleceu. Mas sobre o dia da Ressurreição Cristo não realizou qualquer ato para instituir um memorial que a celebrasse.
Se Jesus desejasse memorializar o dia de Sua ressurreição, muito provavelmente teria dito às mulheres e discípulos quando ressurgiu: “Vinde à parte e celebremos Minha Ressurreição!” Em vez disso Ele disse às mulheres: “Ide avisar a meus irmãos que se dirijam à Galiléia” (Mat. 28:10) e aos discípulos: “Ide. . . fazei discípulos . . . batizando-os” (Mat. 28:19). Nenhuma dessas declarações do Salvador ressurreto revela intenção de memorializar a Ressurreição por tornar o domingo o novo dia de descanso e culto.
A razão é que nosso Salvador desejava que Seus seguidores vissem a Ressurreição como uma realidade existencial a ser experimentada diariamente pelo viver vitorioso mediante o poder de Sua ressurreição, antes que por um evento litúrgico/religioso a ser celebrado no domingo. Paulo expressa a esperança de “conhecer o poder da sua ressurreição” (Fil. 3:10), mas ele nunca menciona o seu desejo de celebrar a ressurreição de Cristo no domingo ou no domingo de Páscoa.
(3) O Domingo Nunca é Chamado “Dia da Ressurreição”. O domingo nunca é chamado no Novo Testamento de “Dia da Ressurreição”. É coerentemente designado de “primeiro dia da semana”. As referências ao domingo como dia da ressurreição primeiro aparecem na primeira parte do quarto século, especificamente nos escritos de Eusébio de Cesaréia. Por esse tempo o domingo havia se tornado associado com a Ressurreição e conseqüentemente foi referido como “Dia da Ressurreição”. Mas este fato histórico ocorreu vários séculos após o começo do cristianismo.
(4) O Domingo-Ressurreição Pressupõe Trabalho, Não Repouso ou Adoração. O domingo-ressurreição pressupõe trabalho, antes que descanso e culto, porque não assinala o término do ministério terreno de Cristo, que findou numa sexta-feira à tarde quando o Salvador declarou: “Está consumado” (João 19:30), e daí descansou na tumba segundo o mandamento. Em vez disso, a Ressurreição assinala o início do novo ministério intercessório de Cristo (Atos 1:8; 2:33), o qual, à semelhança do primeiro dia da criação, pressupõe trabalho, e não descanso.
(5) A Ceia do Senhor Não Foi Celebrada no Domingo em Honra da Ressurreição. Em sua dissertação Sunday: The History of the Day of Rest and Worship in the Earliest Centuries of the Christian Church [Domingo: A História do Dia de Repouso e Adoração Nos Primeiros Séculos da Igreja Cristã] Willy Rordorf argumenta que o domingo se tornou o Dia do Senhor porque esse foi o dia em que a Ceia do Senhor era celebrada.11 Este ponto de vista carece de suporte bíblico e histórico. Historicamente sabemos que os cristãos não podiam celebrar a Ceia do Senhor numa base regular aos domingos à noite porque tais reuniões eram proibidas pela lei romana da hetariae--que impedia todos os tipos de refeições comunitárias à noite. O governo romano temia que tais reuniões noturnas se tornassem ocasiões para tramas políticas.
A fim de evitar as batidas da polícia romana, os cristãos alteravam regularmente o tempo e lugar da celebração da Ceia do Senhor. Finalmente, mudaram o serviço sagrado da noite para a manhã. Isso explica por que Paulo é tão específico quanto ao modo de celebrar a Santa Ceia, mas vago quanto à questão do tempo da assembléia. Notem que quatro vezes ele repete a mesma frase: “quando vos reunis” (1 Cor. 11:18, 20, 33, 34). Esta linguagem deixa implícito tempo indefinido, mais provavelmente porque não havia um dia instituído para a celebração da Santa Ceia.
Se, como alguns eruditos pretendem, a Ceia do Senhor era celebrada no domingo à noite, como parte do culto do Dia do Senhor, Paulo dificilmente teria deixado de mencionar o caráter sagrado do tempo em que se reuniam. Isso fortaleceria o seu apelo para uma atitude de mais reverência durante a participação na Ceia do Senhor. A falha de Paulo em mencionar o “domingo” como o tempo da reunião ou o uso do adjetivo “do Senhor-kuriakê” para caracterizar o dia como “dia do Senhor” (como ele fez com referência à Ceia do Senhor), demonstra que o apóstolo não atribuía qualquer significação religiosa ao domingo.
(6) A Ceia do Senhor Comemora o Sacrifício de Cristo, Não Sua Ressurreição. Muitos cristãos hoje consideram a Santa Ceia como o centro de seu culto dominical em honra à Ressurreição. Mas na igreja apostólica, a Santa Ceia não era celebrada no domingo, como acabamos de ver, e não se relacionava com a Ressurreição. Paulo, por exemplo, que alega transmitir o que “recebeu do Senhor” (1 Cor. 11:23), explicitamente declara que o rito comemorava, não a ressurreição de Cristo, mas Seu sacrifício e Segunda Vinda (“anunciais a morte do Senhor até que Ele venha”--1 Cor. 11:26).
Semelhantemente, a Páscoa, celebrada hoje por muitos cristãos no Domingo de Páscoa, era observado durante os tempos apostólicos, não no domingo para comemorar a Ressurreição, mas segundo a data bíblica de 14 de Nisã, primariamente como um memorial do sofrimento e morte de Cristo. Contrariamente ao que muita gente pensa, o domingo de Páscoa era desconhecido da igreja apostólica. Foi introduzido e promovido pela Igreja de Roma no segundo século a fim de mostrar separação e diferenciação da Páscoa judaica. O resultado foi a bem-conhecida controvérsia sobre a data da Páscoa que finalmente levou o bispo Vítor de Roma a excomungar os cristãos asiáticos (cerca de 191 AD) por recusarem adotar o domingo de Páscoa. Essas indicações mostram que a ressurreição de Cristo no primeiro dia da semana não influenciou a igreja apostólica a adotar o domingo semanal e a Páscoa anual para celebrar tal evento.
(7) A Ressurreição Não é a Razão Dominante Para a Observância do Domingo nos Documentos Mais Antigos. As mais antigas referências explícitas à observância do domingo se encontram nos escritos de Barnabé (cerca de 135 AD) e Justino Mártir (cerca de 150 AD). Ambos esses autores de fato mencionam a Ressurreição, mas somente como a segunda de duas razões, importante, mas não predominante. A primeira motivação teológica de Barnabé para a guarda do domingo é escatológica, ou seja, o fato de que o domingo é o “oitavo dia” e representaria “o início de outro mundo”.12 A noção de que o domingo era o “oitavo dia” foi mais tarde abandonada porque não faz sentido falar em “oitavo dia” numa semana de sete dias. A primeira razão de Justino para a assembléia dos cristãos no Dies Solis-o dia do sol, é a inauguração da criação: “Domingo é o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas em matéria prima, criou o mundo”.13 Essas razões foram finalmente abandonadas em favor da Ressurreição que se tornou a razão primária para a observância do domingo.
As sete razões dadas acima são suficientes para desacreditar a alegação de que a ressurreição de Cristo no primeiro dia da semana causou o abandono do sábado e a adoção do domingo. A verdade é que inicialmente a Ressurreição era celebrada existencialmente, antes que liturgicamente, ou seja, por uma maneira vitoriosa de vida, não mediante um dia especial de adoração.
JERUSALÉM E A ORIGEM DO DOMINGO
Intimamente relacionada com o suposto papel da Ressurreição ocorre a opinião popular de que a igreja em Jerusalém foi a pioneira em abandonar o sábado para adotar o domingo. Dediquei o capítulo 5--“Jerusalém e a Origem do Domingo”--de minha dissertação a uma detida análise desse ponto de vista. Minha investigação revela que esta visão popular repousa sobre três principais pressupostos equivocados:
O Domingo Começou em Jerusalém Porque Ali Foi Onde Cristo Ressuscitou
Primeiramente, presume-se que Jerusalém deve ser o berço da observância do domingo, porque foi o lugar onde Jesus ergueu-Se dos mortos no primeiro dia da semana. Alega-se que imediatamente após a ressurreição de Cristo, os apóstolos “não mais se sentiam à vontade no culto sabático judaico”14 e conseqüentemente passaram a instituir o culto dominical a fim de comemorar a ressurreição de Cristo por uma liturgia cristã distinta.
Como já demonstramos, esse pressuposto carece de suporte bíblico e histórico porque na igreja apostólica a Ressurreição era vista como uma realidade existencial experimentada por viver vitoriosamente pelo poder do Salvador Ressurreto, e não uma prática litúrgica associada com o culto do domingo. Fizemos notar anteriormente que nada no Novo Testamento prescreve ou mesmo sugere a comemoração da ressurreição de Jesus no domingo. O próprio nome “Dia da Ressurreição” não aparece na literatura cristã até o princípio do quarto século.
Se a primitiva igreja de Jerusalém foi pioneira e promovia a guarda do domingo por não mais sentir-se à vontade com a observância do sábado judaico, seria natural esperar encontrar em tal igreja uma ruptura imediata das tradições e culto religiosos judaicos. Contudo, o que se deu foi exatamente o oposto disso. Tanto o livro de Atos dos Apóstolos quanto vários documentos judaico-cristãos claramente revelam que a composição étnica e orientação teológica da igreja de Jerusalém eram profundamente judaicas. Lucas caracteriza a igreja de Jerusalém como composta por cristãos “zelosos pela lei” (Atos 21:20). Esta é uma precisa descrição que dificilmente permite ver o abandono de um dos principais preceitos da lei, qual seja, o sábado, tão firmemente observado pelos judeus, de modo até exagerado, o que levou Cristo a intervir para corrigir as distorções aplicadas ao mandamento (ver Mateus 12:12).
Paulo Aprendeu Sobre a Observância do Domingo de Dirigentes Judaicos
O segundo pressuposto equivocado é que Paulo aprendeu sobre a observância do domingo dos líderes apostólicos da igreja de Jerusalém e ensinou-o a seus conversos gentios. A razão dada para esse pressuposto é que Paulo dificilmente poderia ter sido pioneiro do abandono do sábado e adoção do domingo sem suscitar a oposição de seus irmãos judeus. A ausência de qualquer eco de controvérsia é interpretada como significando que Paulo aceitou a observância do domingo como ensinada a ele pelos irmãos judeus, e promoveu essa prática entre as igrejas gentias que estabeleceu.
Em seu livro The Lord’s Day [O dia do senhor], Paul Jewett observa, por exemplo: “Se Paulo tivesse introduzido o culto dominical entre os gentios, parece provável que a oposição judaica teria acusado a sua temeridade em pôr de lado a lei do sábado, como foi o caso com referência ao rito da circuncisão (Atos 21:21)”. A ausência de tal oposição é interpretada por Jewett como indicativo de que Paulo aceitou e promoveu a observância do domingo como ensinada a ele pelos irmãos judaicos.15
Esse pressuposto está correto em manter que Paulo não poderia ter sido o pioneiro da observância do domingo sem suscitar a oposição dos irmãos judeus, mas está incorreto em sugerir que os irmãos judeus ensinaram a Paulo a observância do domingo. A verdade é que os cristãos judeus, como veremos agora, eram profundamente comprometidos com a observância da lei em geral e do sábado em particular. A ausência de qualquer controvérsia entre Paulo e os irmãos judeus indica, muito mais, que o sábado nunca se tornou uma disputa na igreja apostólica porque era fielmente observado por todos os cristãos.
Somente a Apostólica Igreja de Jerusalém Poderia Mudar o Sábado para o Domingo
O terceiro pressuposto equivocado é de que somente a igreja de Jerusalém, que foi a igreja-mãe da cristandade, teria reunido autoridade e respeito suficientes para persuadir todas as igrejas cristãs espalhadas por todo o Império Romano para mudar seu dia semanal de culto do sábado para o domingo. Igrejas menos influentes nunca poderiam ter realizado essa mudança.
O problema fundamental com esse pressuposto é não reconhecer a composição judaica e orientação teológica da igreja de Jerusalém. De todas as igrejas cristãs, a de Jerusalém era a única que se compunha quase exclusivamente de judeus cristãos que eram zelosos na observância da lei em geral, e do sábado em particular.
Apego à lei. O apego da igreja de Jerusalém à lei mosaica é refletida nas decisões do primeiro concílio de Jerusalém realizado entre 49-50 AD (ver Atos 15). A isenção da circuncisão foi concedida somente “aos irmãos dentre os gentios” (Atos 15:23). Nenhuma concessão é feita para os cristãos judeus, que deviam continuar a circuncidar os seus filhos.
Ademais, a isenção dos gentios da prática da circuncisão não subentende que estavam livres da observância da lei em geral, e do sábado em particular. Isto é claramente indicado pelo fato de que se esperava que os gentios observassem as quatro leis mosaicas com respeito ao “forasteiro” que habitasse entre os israelitas. Essas leis se acham em Levítico 17 e 18 e são citadas na decisão do Concílio de Jerusalém: “Que vos abstenhais das cousas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas” (Atos 15:29). Essa preocupação do Concilio de Jerusalém quanto à contaminação ritual e leis alimentares reflete seu contínuo apego às leis mosaicas.
Esta conclusão é apoiada pela razão dada por Tiago ao requerer que os gentios observassem as quatro leis mosaicas concernentes aos “forasteiros”. “Porque Moisés tem, em cada cidade desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados” (Atos 15:21). Todos os intérpretes reconhecem que tanto em sua proposta quanto em sua justificativa, Tiago reafirma a natureza vigente da lei mosaica que era costumeiramente ensinada cada sábado na sinagoga.
A Última Visita de Paulo. Luz adicional é propiciada pela última visita de Paulo a Jerusalém. O apóstolo foi informado por Tiago e pelos anciãos que milhares de judeus conversos eram “todos zelosos pela lei” (Atos 21:20). Os mesmos líderes então pressionaram Paulo a provar às pessoas que ele também “vivia em observância da lei” (Atos 21-24), submetendo-se a um rito de purificação no Templo. À luz desse profundo compromisso à observância da lei, dificilmente se poderia conceber que a igreja de Jerusalém tivesse ab-rogado um de seus principais preceitos--a guarda do sábado--e foi pioneira na observância do domingo para substituir o sábado.
Intimamente relacionada com o suposto papel da Ressurreição ocorre a opinião popular de que a igreja em Jerusalém foi a pioneira em abandonar o sábado para adotar o domingo. Dediquei o capítulo 5--“Jerusalém e a Origem do Domingo”--de minha dissertação a uma detida análise desse ponto de vista. Minha investigação revela que esta visão popular repousa sobre três principais pressupostos equivocados:
O Domingo Começou em Jerusalém Porque Ali Foi Onde Cristo Ressuscitou
Primeiramente, presume-se que Jerusalém deve ser o berço da observância do domingo, porque foi o lugar onde Jesus ergueu-Se dos mortos no primeiro dia da semana. Alega-se que imediatamente após a ressurreição de Cristo, os apóstolos “não mais se sentiam à vontade no culto sabático judaico”14 e conseqüentemente passaram a instituir o culto dominical a fim de comemorar a ressurreição de Cristo por uma liturgia cristã distinta.
Como já demonstramos, esse pressuposto carece de suporte bíblico e histórico porque na igreja apostólica a Ressurreição era vista como uma realidade existencial experimentada por viver vitoriosamente pelo poder do Salvador Ressurreto, e não uma prática litúrgica associada com o culto do domingo. Fizemos notar anteriormente que nada no Novo Testamento prescreve ou mesmo sugere a comemoração da ressurreição de Jesus no domingo. O próprio nome “Dia da Ressurreição” não aparece na literatura cristã até o princípio do quarto século.
Se a primitiva igreja de Jerusalém foi pioneira e promovia a guarda do domingo por não mais sentir-se à vontade com a observância do sábado judaico, seria natural esperar encontrar em tal igreja uma ruptura imediata das tradições e culto religiosos judaicos. Contudo, o que se deu foi exatamente o oposto disso. Tanto o livro de Atos dos Apóstolos quanto vários documentos judaico-cristãos claramente revelam que a composição étnica e orientação teológica da igreja de Jerusalém eram profundamente judaicas. Lucas caracteriza a igreja de Jerusalém como composta por cristãos “zelosos pela lei” (Atos 21:20). Esta é uma precisa descrição que dificilmente permite ver o abandono de um dos principais preceitos da lei, qual seja, o sábado, tão firmemente observado pelos judeus, de modo até exagerado, o que levou Cristo a intervir para corrigir as distorções aplicadas ao mandamento (ver Mateus 12:12).
Paulo Aprendeu Sobre a Observância do Domingo de Dirigentes Judaicos
O segundo pressuposto equivocado é que Paulo aprendeu sobre a observância do domingo dos líderes apostólicos da igreja de Jerusalém e ensinou-o a seus conversos gentios. A razão dada para esse pressuposto é que Paulo dificilmente poderia ter sido pioneiro do abandono do sábado e adoção do domingo sem suscitar a oposição de seus irmãos judeus. A ausência de qualquer eco de controvérsia é interpretada como significando que Paulo aceitou a observância do domingo como ensinada a ele pelos irmãos judeus, e promoveu essa prática entre as igrejas gentias que estabeleceu.
Em seu livro The Lord’s Day [O dia do senhor], Paul Jewett observa, por exemplo: “Se Paulo tivesse introduzido o culto dominical entre os gentios, parece provável que a oposição judaica teria acusado a sua temeridade em pôr de lado a lei do sábado, como foi o caso com referência ao rito da circuncisão (Atos 21:21)”. A ausência de tal oposição é interpretada por Jewett como indicativo de que Paulo aceitou e promoveu a observância do domingo como ensinada a ele pelos irmãos judaicos.15
Esse pressuposto está correto em manter que Paulo não poderia ter sido o pioneiro da observância do domingo sem suscitar a oposição dos irmãos judeus, mas está incorreto em sugerir que os irmãos judeus ensinaram a Paulo a observância do domingo. A verdade é que os cristãos judeus, como veremos agora, eram profundamente comprometidos com a observância da lei em geral e do sábado em particular. A ausência de qualquer controvérsia entre Paulo e os irmãos judeus indica, muito mais, que o sábado nunca se tornou uma disputa na igreja apostólica porque era fielmente observado por todos os cristãos.
Somente a Apostólica Igreja de Jerusalém Poderia Mudar o Sábado para o Domingo
O terceiro pressuposto equivocado é de que somente a igreja de Jerusalém, que foi a igreja-mãe da cristandade, teria reunido autoridade e respeito suficientes para persuadir todas as igrejas cristãs espalhadas por todo o Império Romano para mudar seu dia semanal de culto do sábado para o domingo. Igrejas menos influentes nunca poderiam ter realizado essa mudança.
O problema fundamental com esse pressuposto é não reconhecer a composição judaica e orientação teológica da igreja de Jerusalém. De todas as igrejas cristãs, a de Jerusalém era a única que se compunha quase exclusivamente de judeus cristãos que eram zelosos na observância da lei em geral, e do sábado em particular.
Apego à lei. O apego da igreja de Jerusalém à lei mosaica é refletida nas decisões do primeiro concílio de Jerusalém realizado entre 49-50 AD (ver Atos 15). A isenção da circuncisão foi concedida somente “aos irmãos dentre os gentios” (Atos 15:23). Nenhuma concessão é feita para os cristãos judeus, que deviam continuar a circuncidar os seus filhos.
Ademais, a isenção dos gentios da prática da circuncisão não subentende que estavam livres da observância da lei em geral, e do sábado em particular. Isto é claramente indicado pelo fato de que se esperava que os gentios observassem as quatro leis mosaicas com respeito ao “forasteiro” que habitasse entre os israelitas. Essas leis se acham em Levítico 17 e 18 e são citadas na decisão do Concílio de Jerusalém: “Que vos abstenhais das cousas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas” (Atos 15:29). Essa preocupação do Concilio de Jerusalém quanto à contaminação ritual e leis alimentares reflete seu contínuo apego às leis mosaicas.
Esta conclusão é apoiada pela razão dada por Tiago ao requerer que os gentios observassem as quatro leis mosaicas concernentes aos “forasteiros”. “Porque Moisés tem, em cada cidade desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados” (Atos 15:21). Todos os intérpretes reconhecem que tanto em sua proposta quanto em sua justificativa, Tiago reafirma a natureza vigente da lei mosaica que era costumeiramente ensinada cada sábado na sinagoga.
A Última Visita de Paulo. Luz adicional é propiciada pela última visita de Paulo a Jerusalém. O apóstolo foi informado por Tiago e pelos anciãos que milhares de judeus conversos eram “todos zelosos pela lei” (Atos 21:20). Os mesmos líderes então pressionaram Paulo a provar às pessoas que ele também “vivia em observância da lei” (Atos 21-24), submetendo-se a um rito de purificação no Templo. À luz desse profundo compromisso à observância da lei, dificilmente se poderia conceber que a igreja de Jerusalém tivesse ab-rogado um de seus principais preceitos--a guarda do sábado--e foi pioneira na observância do domingo para substituir o sábado.
Acaso o Domingo se Originou na Palestina Após 70 AD?
As evidências acima expostas levaram alguns eruditos a argumentar que a observância do domingo começou na Palestina em tempo ligeiramente posterior, ou seja, após a destruição romana do Templo em 70 AD. Presumem que a fuga dos cristãos de Jerusalém para Pela, bem como o impacto psicológico da destruição do Templo, afastou os cristãos dos regulamentos judaicos tais como a guarda do sábado.
Esse pressuposto é desacreditado pelos testemunhos tanto de Eusébio quanto de Epifânio que nos informam que a igreja de Jerusalém após 70 AD e até o cerco de Jerusalém por Adriano, em 135 AD, era composta e administrada por conversos judeus, os quais se caracterizavam como “zelosos para insistirem na observância literal da lei”.16
A continuação da observância do sábado entre os cristãos palestinos, conhecidos como nazarenos, é evidenciada pelo testemunho de um historiador palestino do quarto século, Epifânio. Ele nos conta que os nazarenos, “descendentes diretos da comunidade primitiva” de Jerusalém, insistiam e persistiam na observância da guarda do sábado do sétimo dia até seu próprio tempo, ou seja, cerca de 350 AD.17 Eu me recordo vividamente da alegria que senti quando dei com este testemunho de Epifânio. Ansiosamente mostrei este documento a meu professor jesuíta, Vincenzo Monachino, que o leu detidamente, e daí exclamou: “Este é o golpe de morte na teoria que faz de Jerusalém o berço da observância do domingo”.
Meu professor de imediato entendeu que se os descendentes diretos da igreja de Jerusalém persistiram na observância do sábado até pelo menos o quarto século, então a igreja de Jerusalém dificilmente poderia ter sido pioneira no abandono do sábado e adoção do domingo durante o tempo apostólico. De todas as igrejas cristãs, a igreja de Jerusalém era tanto étnica como teologicamente a mais próxima e a mais leal às tradições judaicas, e destarte a que teria menor probabilidade de mudar o dia do sábado.
ROMA E A ORIGEM DO DOMINGO
Tendo provado para satisfação de meu professor que a igreja de Jerusalém devia ser excluída como tendo sido o local de origem da observância dominical, prossegui considerando a igreja que maior probabilidade poderia ter iniciado a referida mudança. No decurso de minha investigação descobri evidências cumulativas apontando à igreja de Roma. Foi nessa igreja que encontrei as condições sociais, religiosas e políticas que tornaram conveniente ao bispo de Roma promover o abandono da observância do sábado e a adoção do culto dominical, em seu lugar.
(1) Predomínio dos Conversos Gentios. Em primeiro lugar, a igreja de Roma era composta predominantemente de conversos gentios. Paulo em sua epístola à igreja de Roma afirma explicitamente: “Dirijo-me a vós outros que sois gentios” (Romanos 11:13). Isto significa que enquanto a igreja de Jerusalém era composta quase exclusivamente de cristãos judeus que estavam profundamente comprometidos com suas tradições religiosas, como a observância do sábado, a igreja de Roma compunha-se sobretudo de conversos gentios que foram influenciados por práticas pagãs tais como a adoração do sol, com o seu dia do sol.
(2) A Diferenciação Inicial Com Relação aos Judeus. Em segundo lugar, descobri que a membresia predominantemente gentílica aparentemente contribuiu para uma diferenciação bem cedo dos cristãos com relação aos judeus em Roma. Isso é indicado pelo fato de que em 65 AD Nero culpou os cristãos pela queima de Roma, conquanto o distrito judaico de Trastevere não houvesse sido tocado pelo fogo. Este fato sugere que por 65 AD os cristãos em Roma não mais eram percebidos como uma seita judaica pelas autoridades romanas, mas como um movimento religioso distinto. Muito provavelmente a razão disso é que por essa época os cristãos de Roma não mais participavam nos cultos da sinagoga. Este não era o caso na Palestina onde os cristãos freqüentavam os serviços da sinagoga até o fim do primeiro século, o que se evidencia pelo fato de que a fim de manter os cristãos longe dos cultos na sinagoga, as autoridades rabínicas introduziram pelo ano 90 AD a maldição aos cristãos a ser recitada durante o serviço religioso.
(3) Preeminência da Igreja de Roma. Uma terceira e importante consideração é a “autoridade preeminente” (potentior principalitas) exercida pelo bispo de Roma após a destruição de Jerusalém em 70 AD. Sendo o bispo da capital do Império Romano, o bispo de Roma assumiu a liderança da comunidade cristã em geral. Sua liderança é reconhecida, por exemplo, por Inácio, Policarpo, Irineu, todos os quais viveram no segundo século. Provas tangíveis da liderança do bispo de Roma são suas intervenções contra movimentos sectários como o marcionismo e o montanismo.
Mais importante ainda para nossa investigação é o papel do bispo de Roma em dar início e promover a mudança do festival do sábado para o jejum do sábado, bem como a mudança da data da Páscoa para o domingo de Páscoa. Retornaremos brevemente a este ponto. A estas alturas é suficiente fazer observar que o bispo de Roma emergiu à posição de liderança após a destruição de Jerusalém em 70 AD. Ele era o único que reunia suficiente autoridade para influenciar a maioria dos cristãos a adotar novas observâncias religiosas, tal como o domingo semanal e o domingo de Páscoa anual.18
(4) Medidas Antijudaicas repressivas. Para apreciar por que o bispo de Roma estaria na vanguarda do abandono do sábado e adoção do domingo é importante considerar um quarto importante fator, qual seja, as medidas repressivas de caráter fiscal, militar, político e religioso impostos pelos romanos sobre os judeus, a começar com a Primeira Revolta Judaica contra Roma em 66 AD e culminando com a Segunda Revolta Judaica em 135 AD. Essas medidas, que foram introduzidas pelo governo romano para punir os judeus em vista de suas violentas rebeliões em vários lugares do Império, foram especialmente sentidas na cidade de Roma, que tinha uma vasta população judaica.
Fiscalmente, os judeus eram sujeitos a um imposto discriminatório (o fiscus judaicus), introduzido por Vespasiano e aumentado primeiro por Domiciano (81-96 AD), depois por Adriano. Significava que os judeus tinham de pagar um imposto meramente por serem judeus. Militarmente, Vespasiano e Tito esmagaram a Primeira Revolta judaica (66-70 AD) e Adriano, a Segunda Revolta Judaica (132-135 AD). Religiosamente, Vespasiano (69-79 AD) aboliu o Sinédrio e o ofício do Sumo Sacerdote.
Essas medidas repressivas contra os judeus foram sentidas intensamente em Roma, que tinha uma grande população judaica. De fato, a crescente hostilidade da população romana contra os judeus forçou o Imperador Tito, conquanto “a contragosto” (invitus), a pedir à judia Berenice, irmã de Herodes, a jovem, com quem desejava se casar, a deixar Roma.
(5) Propaganda Antijudaica. Um quinto e significativo fator é a propaganda antijudaica por um bom número de autores romanos que começaram a depreciar os judeus racial e culturalmente, zombando especialmente da guarda do sábado e da circuncisão como supertições judaicas degradantes. Esses autores faziam pouco especialmente da guarda do sábado como exemplo da preguiça dos judeus. Literatura antijudaica zombadora pode ser encontrada nos escritos de Sêneca (65 AD), Pérsio (34-62 AD), Petrônio (ca. 66 AD), Quintiliano (ca. 35-100 AD), Marcial (ca. 40-104 AD), Plutarco (ca.46-119 AD), Juvenal (125 AD) e Tácito (ca. 55-120 AD), todos eles residentes de Roma na maior parte de suas vidas profissionais.
(6) A Legislação de Adriano. O sexto e mais decisivo fator que influenciou a mudança do dia de culto do sábado para o domingo é a legislação antijudaica e anti-sabática promulgada pelo Imperador Adriano em 135 AD. Adriano chegou ao ponto de tornar fora da lei a prática da religião judaica em geral, e da observância do sábado em particular em 135 AD.
Essa legislação antijudaica repressiva foi promulgada por Adriano após três anos de luta sangrenta (132-135 AD) para esmagar a revolta judaica. Suas legiões romanas sofreram muitas perdas. Quando o Imperador finalmente capturou Jerusalém, ele decidiu tratar do problema judaica de modo radical. Matou milhares de judeus e levou milhares deles como escravos para Roma. Tornou Jerusalém uma colônia romana à qual chamou Aelia Capitolina. Ele proibiu os judeus e os cristãos judeus de jamais entrarem na cidade. Mais importante ainda para nossa investigação é que Adriano baniu a prática da religião judaica em geral, e do sábado em particular por todo o Império.
Não é de surpreender que os judeus considerem a Adriano e Hitler como os dos homens mais odiados de sua história. Ambos compartilham a infame distinção de desejarem erradicar a religião judaica e o povo judeu. Adriano tentou abolir o judaísmo como religião e Hitler tentou liquidar os judeus como um povo.
Quando aprendi a respeito da legislação antijudaica e anti-sabática de Adriano, indaguei-me: Como os cristãos, especialmente os que viviam em Roma sob a atenção imediata do Imperador, reagiram a tal legislação? Preferiram permanecer fiéis a sua observância do sábado, mesmo se significasse serem punidos como judeus, ou abandonaram a guarda do sábado a fim de deixar claro às autoridades romanas sua separação e diferenciação dos judeus? A resposta é simples: Muitos cristãos mudaram o tempo e maneira de observância de duas instituições associadas com o judaísmo, ou seja, o sábado e o domingo de Páscoa. Em breve reveremos que o sábado foi alterado para o domingo e a Páscoa para o Domingo de Páscoa a fim de evitar qualquer semelhança com o judaísmo.
(7) A Teologia Cristã de Desprezo Pelos Judeus. Para entender o que contribuiu para essas mudanças históricas, precisamos mencionar um sétimo importante fator, qual seja, o desenvolvimento de uma teologia cristã de desprezo pelos judeus. Isto é o que se passou: quando a religião judaica em geral, e o sábado em particular, foram postos fora da lei pelo governo romano e passou a ser objeto de zombaria de escritores romanos, todo um conjunto de literatura cristã chamada Adversus Judaeos (contra os judeus) começou a aparecer. Seguindo o caminho dos autores romanos, autores cristãos desenvolveram uma teologia “cristã” de separação dos judeus e desprezo por eles. Costumes característicos dos judeus como a circuncisão e a guarda do sábado foram proclamados como sinais da depravação judaica.
A condenação da guarda do sábado como sinal de impiedade judaica contribuiu para a adoção da observância do domingo a fim de esclarecer às autoridades romanas a separação dos cristãos do judaísmo e identificação com o paganismo romano. Essa mudança histórica do sábado para a observância do domingo foi iniciada pela igreja de Roma--predominantemente gentílica que, como feito notar antes, assumiu a liderança das comunidades cristãs após a destruição de Jerusalém em 70 AD. Para apreciar como a igreja de Roma se empenhou em afastar os cristãos da observância sabática e incentivar o culto aos domingos mencionaremos brevemente as medidas teológicas, sociais e litúrgicas tomadas pela igreja de Roma.
As evidências acima expostas levaram alguns eruditos a argumentar que a observância do domingo começou na Palestina em tempo ligeiramente posterior, ou seja, após a destruição romana do Templo em 70 AD. Presumem que a fuga dos cristãos de Jerusalém para Pela, bem como o impacto psicológico da destruição do Templo, afastou os cristãos dos regulamentos judaicos tais como a guarda do sábado.
Esse pressuposto é desacreditado pelos testemunhos tanto de Eusébio quanto de Epifânio que nos informam que a igreja de Jerusalém após 70 AD e até o cerco de Jerusalém por Adriano, em 135 AD, era composta e administrada por conversos judeus, os quais se caracterizavam como “zelosos para insistirem na observância literal da lei”.16
A continuação da observância do sábado entre os cristãos palestinos, conhecidos como nazarenos, é evidenciada pelo testemunho de um historiador palestino do quarto século, Epifânio. Ele nos conta que os nazarenos, “descendentes diretos da comunidade primitiva” de Jerusalém, insistiam e persistiam na observância da guarda do sábado do sétimo dia até seu próprio tempo, ou seja, cerca de 350 AD.17 Eu me recordo vividamente da alegria que senti quando dei com este testemunho de Epifânio. Ansiosamente mostrei este documento a meu professor jesuíta, Vincenzo Monachino, que o leu detidamente, e daí exclamou: “Este é o golpe de morte na teoria que faz de Jerusalém o berço da observância do domingo”.
Meu professor de imediato entendeu que se os descendentes diretos da igreja de Jerusalém persistiram na observância do sábado até pelo menos o quarto século, então a igreja de Jerusalém dificilmente poderia ter sido pioneira no abandono do sábado e adoção do domingo durante o tempo apostólico. De todas as igrejas cristãs, a igreja de Jerusalém era tanto étnica como teologicamente a mais próxima e a mais leal às tradições judaicas, e destarte a que teria menor probabilidade de mudar o dia do sábado.
ROMA E A ORIGEM DO DOMINGO
Tendo provado para satisfação de meu professor que a igreja de Jerusalém devia ser excluída como tendo sido o local de origem da observância dominical, prossegui considerando a igreja que maior probabilidade poderia ter iniciado a referida mudança. No decurso de minha investigação descobri evidências cumulativas apontando à igreja de Roma. Foi nessa igreja que encontrei as condições sociais, religiosas e políticas que tornaram conveniente ao bispo de Roma promover o abandono da observância do sábado e a adoção do culto dominical, em seu lugar.
(1) Predomínio dos Conversos Gentios. Em primeiro lugar, a igreja de Roma era composta predominantemente de conversos gentios. Paulo em sua epístola à igreja de Roma afirma explicitamente: “Dirijo-me a vós outros que sois gentios” (Romanos 11:13). Isto significa que enquanto a igreja de Jerusalém era composta quase exclusivamente de cristãos judeus que estavam profundamente comprometidos com suas tradições religiosas, como a observância do sábado, a igreja de Roma compunha-se sobretudo de conversos gentios que foram influenciados por práticas pagãs tais como a adoração do sol, com o seu dia do sol.
(2) A Diferenciação Inicial Com Relação aos Judeus. Em segundo lugar, descobri que a membresia predominantemente gentílica aparentemente contribuiu para uma diferenciação bem cedo dos cristãos com relação aos judeus em Roma. Isso é indicado pelo fato de que em 65 AD Nero culpou os cristãos pela queima de Roma, conquanto o distrito judaico de Trastevere não houvesse sido tocado pelo fogo. Este fato sugere que por 65 AD os cristãos em Roma não mais eram percebidos como uma seita judaica pelas autoridades romanas, mas como um movimento religioso distinto. Muito provavelmente a razão disso é que por essa época os cristãos de Roma não mais participavam nos cultos da sinagoga. Este não era o caso na Palestina onde os cristãos freqüentavam os serviços da sinagoga até o fim do primeiro século, o que se evidencia pelo fato de que a fim de manter os cristãos longe dos cultos na sinagoga, as autoridades rabínicas introduziram pelo ano 90 AD a maldição aos cristãos a ser recitada durante o serviço religioso.
(3) Preeminência da Igreja de Roma. Uma terceira e importante consideração é a “autoridade preeminente” (potentior principalitas) exercida pelo bispo de Roma após a destruição de Jerusalém em 70 AD. Sendo o bispo da capital do Império Romano, o bispo de Roma assumiu a liderança da comunidade cristã em geral. Sua liderança é reconhecida, por exemplo, por Inácio, Policarpo, Irineu, todos os quais viveram no segundo século. Provas tangíveis da liderança do bispo de Roma são suas intervenções contra movimentos sectários como o marcionismo e o montanismo.
Mais importante ainda para nossa investigação é o papel do bispo de Roma em dar início e promover a mudança do festival do sábado para o jejum do sábado, bem como a mudança da data da Páscoa para o domingo de Páscoa. Retornaremos brevemente a este ponto. A estas alturas é suficiente fazer observar que o bispo de Roma emergiu à posição de liderança após a destruição de Jerusalém em 70 AD. Ele era o único que reunia suficiente autoridade para influenciar a maioria dos cristãos a adotar novas observâncias religiosas, tal como o domingo semanal e o domingo de Páscoa anual.18
(4) Medidas Antijudaicas repressivas. Para apreciar por que o bispo de Roma estaria na vanguarda do abandono do sábado e adoção do domingo é importante considerar um quarto importante fator, qual seja, as medidas repressivas de caráter fiscal, militar, político e religioso impostos pelos romanos sobre os judeus, a começar com a Primeira Revolta Judaica contra Roma em 66 AD e culminando com a Segunda Revolta Judaica em 135 AD. Essas medidas, que foram introduzidas pelo governo romano para punir os judeus em vista de suas violentas rebeliões em vários lugares do Império, foram especialmente sentidas na cidade de Roma, que tinha uma vasta população judaica.
Fiscalmente, os judeus eram sujeitos a um imposto discriminatório (o fiscus judaicus), introduzido por Vespasiano e aumentado primeiro por Domiciano (81-96 AD), depois por Adriano. Significava que os judeus tinham de pagar um imposto meramente por serem judeus. Militarmente, Vespasiano e Tito esmagaram a Primeira Revolta judaica (66-70 AD) e Adriano, a Segunda Revolta Judaica (132-135 AD). Religiosamente, Vespasiano (69-79 AD) aboliu o Sinédrio e o ofício do Sumo Sacerdote.
Essas medidas repressivas contra os judeus foram sentidas intensamente em Roma, que tinha uma grande população judaica. De fato, a crescente hostilidade da população romana contra os judeus forçou o Imperador Tito, conquanto “a contragosto” (invitus), a pedir à judia Berenice, irmã de Herodes, a jovem, com quem desejava se casar, a deixar Roma.
(5) Propaganda Antijudaica. Um quinto e significativo fator é a propaganda antijudaica por um bom número de autores romanos que começaram a depreciar os judeus racial e culturalmente, zombando especialmente da guarda do sábado e da circuncisão como supertições judaicas degradantes. Esses autores faziam pouco especialmente da guarda do sábado como exemplo da preguiça dos judeus. Literatura antijudaica zombadora pode ser encontrada nos escritos de Sêneca (65 AD), Pérsio (34-62 AD), Petrônio (ca. 66 AD), Quintiliano (ca. 35-100 AD), Marcial (ca. 40-104 AD), Plutarco (ca.46-119 AD), Juvenal (125 AD) e Tácito (ca. 55-120 AD), todos eles residentes de Roma na maior parte de suas vidas profissionais.
(6) A Legislação de Adriano. O sexto e mais decisivo fator que influenciou a mudança do dia de culto do sábado para o domingo é a legislação antijudaica e anti-sabática promulgada pelo Imperador Adriano em 135 AD. Adriano chegou ao ponto de tornar fora da lei a prática da religião judaica em geral, e da observância do sábado em particular em 135 AD.
Essa legislação antijudaica repressiva foi promulgada por Adriano após três anos de luta sangrenta (132-135 AD) para esmagar a revolta judaica. Suas legiões romanas sofreram muitas perdas. Quando o Imperador finalmente capturou Jerusalém, ele decidiu tratar do problema judaica de modo radical. Matou milhares de judeus e levou milhares deles como escravos para Roma. Tornou Jerusalém uma colônia romana à qual chamou Aelia Capitolina. Ele proibiu os judeus e os cristãos judeus de jamais entrarem na cidade. Mais importante ainda para nossa investigação é que Adriano baniu a prática da religião judaica em geral, e do sábado em particular por todo o Império.
Não é de surpreender que os judeus considerem a Adriano e Hitler como os dos homens mais odiados de sua história. Ambos compartilham a infame distinção de desejarem erradicar a religião judaica e o povo judeu. Adriano tentou abolir o judaísmo como religião e Hitler tentou liquidar os judeus como um povo.
Quando aprendi a respeito da legislação antijudaica e anti-sabática de Adriano, indaguei-me: Como os cristãos, especialmente os que viviam em Roma sob a atenção imediata do Imperador, reagiram a tal legislação? Preferiram permanecer fiéis a sua observância do sábado, mesmo se significasse serem punidos como judeus, ou abandonaram a guarda do sábado a fim de deixar claro às autoridades romanas sua separação e diferenciação dos judeus? A resposta é simples: Muitos cristãos mudaram o tempo e maneira de observância de duas instituições associadas com o judaísmo, ou seja, o sábado e o domingo de Páscoa. Em breve reveremos que o sábado foi alterado para o domingo e a Páscoa para o Domingo de Páscoa a fim de evitar qualquer semelhança com o judaísmo.
(7) A Teologia Cristã de Desprezo Pelos Judeus. Para entender o que contribuiu para essas mudanças históricas, precisamos mencionar um sétimo importante fator, qual seja, o desenvolvimento de uma teologia cristã de desprezo pelos judeus. Isto é o que se passou: quando a religião judaica em geral, e o sábado em particular, foram postos fora da lei pelo governo romano e passou a ser objeto de zombaria de escritores romanos, todo um conjunto de literatura cristã chamada Adversus Judaeos (contra os judeus) começou a aparecer. Seguindo o caminho dos autores romanos, autores cristãos desenvolveram uma teologia “cristã” de separação dos judeus e desprezo por eles. Costumes característicos dos judeus como a circuncisão e a guarda do sábado foram proclamados como sinais da depravação judaica.
A condenação da guarda do sábado como sinal de impiedade judaica contribuiu para a adoção da observância do domingo a fim de esclarecer às autoridades romanas a separação dos cristãos do judaísmo e identificação com o paganismo romano. Essa mudança histórica do sábado para a observância do domingo foi iniciada pela igreja de Roma--predominantemente gentílica que, como feito notar antes, assumiu a liderança das comunidades cristãs após a destruição de Jerusalém em 70 AD. Para apreciar como a igreja de Roma se empenhou em afastar os cristãos da observância sabática e incentivar o culto aos domingos mencionaremos brevemente as medidas teológicas, sociais e litúrgicas tomadas pela igreja de Roma.
Medidas Tomadas Pela Igreja de Roma
Teologicamente o sábado foi reduzido de uma instituição criacional estabelecida por Deus para a humanidade para uma instituição dada exclusivamente aos judeus como marca registrada de sua depravação. Justino Mártir, por exemplo, um líder da igreja de Roma, que escreveu pela metade do segundo século, alega em seu Diálogo com Trifo, que a observância do sábado era uma ordenança mosaica temporária que Deus impôs exclusivamente aos judeus como uma “marca para separá-los para punição de que tanto merecem por suas infidelidades”.
É difícil compreender como líderes da igreja como Justino, que se tornou um mártir da fé cristã, pudesse rejeitar o sentido bíblico do sábado como um sinal do compromisso de um concerto com Deus (Êxo. 31:16, 17; Eze. 20:12, 20), e reduzi-lo, em vez disso, a um sinal da depravação judaica. O que é ainda mais difícil de aceitar é a ausência de qualquer condenação erudita a tal absurdo e à teologia embaraçosa de desprezo pelos judeus--uma teologia que patentemente interpreta errado instituições bíblicas como o sábado, a fim de dar sanção bíblica à repressão política aos judeus.
A triste lição da história é que o desejo de ser politicamente correto por apoiar políticas populares imorais tais como o extermínio dos judeus, muçulmanos e heréticos, ou a perpetração da escravidão, tem levado alguns dirigentes eclesiásticos e especialistas bíblicos a se tornarem biblicamente incorretos. Eles criaram teologias antibíblicas que sancionam práticas imorais. É impossível estimar o dano causado por tais teologias de conveniência à nossa sociedade e ao cristianismo em geral.
Por exemplo, a falha dos líderes eclesiásticos e eruditos de se desculparem pela teologia de desprezo para com os judeus tem contribuído, entre outras coisas, para dar origem à popular teologia dispensacionalista. Essa teologia, acatada por muitas igrejas evangélicas hoje, ensina, entre outras coisas, que Deus arrebatará a igreja secreta e subitamente, antes de derramar Sua ira sobre os judeus durante os sete anos finais da Tribulação. A popularidade do livro e filme Deixado Para Trás, que está tomando a América do Norte de roldão, é uma prova tangível de quão difundidos este ensino enganoso se apresenta hoje em dia.
Socialmente, a reinterpretação negativa do sábado como um sinal da iniqüidade judaica levou a igreja de Roma a transformar a observância do sábado de um dia de celebração e regozijo em um dia de jejum e tristeza. O propósito do jejum no sábado não era para incentivar a observância espiritual do sábado, antes, como enfaticamente declarado na decretal do Papa Silvestre (314-335 AD), o jejum do sábado foi designado para mostrar “desprezo pelos judeus”(exsecratione Judaeorum) e por sua celebração de seu sábado (destructione ciborum). A tristeza e fome resultantes do jejum capacitariam os cristãos a evitarem “parecer que observavam o sábado com os judeus” e os encorajariam a entrar mais ansiosa e alegremente na observância do domingo.
O jejum semanal aos sábados desenvolveu-se como uma extensão ou correspondente ao jejum do sábado santo da estação de Páscoa. Esse era o dia em que todos os cristãos que adotaram o Domingo de Páscoa Romano jejuavam. O jejum do santo sábado de Páscoa, à semelhança do jejum sabático, destinava-se a expressar não só tristeza pela morte de Cristo, mas também desprezo pelos judeus que eram considerados os perpetradores de Sua morte. Por exemplo, um documento do terceiro século conhecido como Didascalia Apostolorum (Os ensinos dos apóstolos--ca. 250 AD) insta os cristãos a jejuarem na sexta-feira de Páscoa e no sábado “por conta da desobediência de nossos irmãos [isto é, os judeus] . . . por que nele o povo matou-se a si mesmo crucificando o nosso Salvador”.
A maioria dos eruditos concorda que a igreja de Roma foi responsável por repudiar o tempo bíblico da Páscoa (14 de Nisã) e promover, em seu lugar, o domingo de Páscoa. A mudança da Páscoa para o Domingo de Páscoa foi introduzida pela igreja de Roma na última parte do segundo século a fim de evitar, como o Prof. Lightfoot expõe, “até mesmo a semelhança de judaísmo”.19 A motivação antijudaica para o repúdio da data bíblica da Páscoa é claramente expressa por Constantino em sua carta aos bispos cristãos no Concílio de Nicéia (325 AD). Nessa carta conciliar, o Imperador insta todos os cristãos a seguirem o exemplo da igreja de Roma em adotar o domingo de Páscoa porque, escreveu ele, “não devemos ter nada em comum com os judeus, pois o Salvador nos mostrou outro caminho . . . Ao unanimemente adotarmos esta maneira [ou seja, o domingo de Páscoa] desejamos, queridos irmãos, separar-nos da detestável companhia dos judeus”. Esta carta do Concílio de Nicéia representa a culminação de uma controvérsia iniciada dois séculos antes que se centralizou em Roma.20
As mesmas motivações antijudaicas que causaram a mudança da Páscoa do domingo de Páscoa também são responsáveis pela substituição da guarda do sábado pela guarda do domingo. Esta conclusão é apoiada não só no fato de que o sábado judaico compartilhava a mesma condenação antijudaica quanto à Páscoa judaica, mas também pela íntima ligação entre a observância do jejum anual do sábado de Páscoa, que era seguido pelo regozijo do domingo de Páscoa, e a observância de seu correspondente semanal, o jejum do sábado, seguido pelo regozijo do domingo. A unidade básica entre essas observâncias anuais e semanais é explicitamente afirmada pelos Pais, e sugere adicionalmente uma origem comum na igreja de Roma ao mesmo tempo e devido a causas semelhantes.
Deve-se notar que a tentativa do Papa em desfazer o brilho do sábado por tornar o dia um tempo de rigoroso jejum não foi recebida favoravelmente por todas as igrejas. As igrejas orientais, por exemplo, resistiram em adotar o jejum do sábado, bem como o domingo de Páscoa. De fato, sua resistência a essas práticas finalmente contribuiu para a ruptura histórica em 1054 entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa Grega.
Liturgicamente, a igreja de Roma decretou que nenhuma assembléia religiosa nem celebrações eucarísticas se realizassem no sábado. Por exemplo, o Papa Inocêncio I (402-417 AD) declarou que “como a tradição da Igreja mantém, nesses dois dias [sexta-feira e sábado] não se deve celebrar absolutamente os sacramentos”. Dois historiadores eclesiásticos contemporâneos, Sócrates e Sozomen, confirmam tal decreto. Sozomen (ca. de 400 AD) nos diz que enquanto “o povo de Constantinopla, e quase por toda parte, se reúnem no sábado, bem como no primeiro dia da semana, tal costume nunca é observado em Roma e Alexandria”.21
Em suma, as evidências históricas acima aludidas indicam que a igreja de Roma empregou medidas teológicas, sociais e litúrgicas para esvaziar o sábado de qualquer significado religioso e promover a observância do domingo em seu lugar.
Teologicamente o sábado foi reduzido de uma instituição criacional estabelecida por Deus para a humanidade para uma instituição dada exclusivamente aos judeus como marca registrada de sua depravação. Justino Mártir, por exemplo, um líder da igreja de Roma, que escreveu pela metade do segundo século, alega em seu Diálogo com Trifo, que a observância do sábado era uma ordenança mosaica temporária que Deus impôs exclusivamente aos judeus como uma “marca para separá-los para punição de que tanto merecem por suas infidelidades”.
É difícil compreender como líderes da igreja como Justino, que se tornou um mártir da fé cristã, pudesse rejeitar o sentido bíblico do sábado como um sinal do compromisso de um concerto com Deus (Êxo. 31:16, 17; Eze. 20:12, 20), e reduzi-lo, em vez disso, a um sinal da depravação judaica. O que é ainda mais difícil de aceitar é a ausência de qualquer condenação erudita a tal absurdo e à teologia embaraçosa de desprezo pelos judeus--uma teologia que patentemente interpreta errado instituições bíblicas como o sábado, a fim de dar sanção bíblica à repressão política aos judeus.
A triste lição da história é que o desejo de ser politicamente correto por apoiar políticas populares imorais tais como o extermínio dos judeus, muçulmanos e heréticos, ou a perpetração da escravidão, tem levado alguns dirigentes eclesiásticos e especialistas bíblicos a se tornarem biblicamente incorretos. Eles criaram teologias antibíblicas que sancionam práticas imorais. É impossível estimar o dano causado por tais teologias de conveniência à nossa sociedade e ao cristianismo em geral.
Por exemplo, a falha dos líderes eclesiásticos e eruditos de se desculparem pela teologia de desprezo para com os judeus tem contribuído, entre outras coisas, para dar origem à popular teologia dispensacionalista. Essa teologia, acatada por muitas igrejas evangélicas hoje, ensina, entre outras coisas, que Deus arrebatará a igreja secreta e subitamente, antes de derramar Sua ira sobre os judeus durante os sete anos finais da Tribulação. A popularidade do livro e filme Deixado Para Trás, que está tomando a América do Norte de roldão, é uma prova tangível de quão difundidos este ensino enganoso se apresenta hoje em dia.
Socialmente, a reinterpretação negativa do sábado como um sinal da iniqüidade judaica levou a igreja de Roma a transformar a observância do sábado de um dia de celebração e regozijo em um dia de jejum e tristeza. O propósito do jejum no sábado não era para incentivar a observância espiritual do sábado, antes, como enfaticamente declarado na decretal do Papa Silvestre (314-335 AD), o jejum do sábado foi designado para mostrar “desprezo pelos judeus”(exsecratione Judaeorum) e por sua celebração de seu sábado (destructione ciborum). A tristeza e fome resultantes do jejum capacitariam os cristãos a evitarem “parecer que observavam o sábado com os judeus” e os encorajariam a entrar mais ansiosa e alegremente na observância do domingo.
O jejum semanal aos sábados desenvolveu-se como uma extensão ou correspondente ao jejum do sábado santo da estação de Páscoa. Esse era o dia em que todos os cristãos que adotaram o Domingo de Páscoa Romano jejuavam. O jejum do santo sábado de Páscoa, à semelhança do jejum sabático, destinava-se a expressar não só tristeza pela morte de Cristo, mas também desprezo pelos judeus que eram considerados os perpetradores de Sua morte. Por exemplo, um documento do terceiro século conhecido como Didascalia Apostolorum (Os ensinos dos apóstolos--ca. 250 AD) insta os cristãos a jejuarem na sexta-feira de Páscoa e no sábado “por conta da desobediência de nossos irmãos [isto é, os judeus] . . . por que nele o povo matou-se a si mesmo crucificando o nosso Salvador”.
A maioria dos eruditos concorda que a igreja de Roma foi responsável por repudiar o tempo bíblico da Páscoa (14 de Nisã) e promover, em seu lugar, o domingo de Páscoa. A mudança da Páscoa para o Domingo de Páscoa foi introduzida pela igreja de Roma na última parte do segundo século a fim de evitar, como o Prof. Lightfoot expõe, “até mesmo a semelhança de judaísmo”.19 A motivação antijudaica para o repúdio da data bíblica da Páscoa é claramente expressa por Constantino em sua carta aos bispos cristãos no Concílio de Nicéia (325 AD). Nessa carta conciliar, o Imperador insta todos os cristãos a seguirem o exemplo da igreja de Roma em adotar o domingo de Páscoa porque, escreveu ele, “não devemos ter nada em comum com os judeus, pois o Salvador nos mostrou outro caminho . . . Ao unanimemente adotarmos esta maneira [ou seja, o domingo de Páscoa] desejamos, queridos irmãos, separar-nos da detestável companhia dos judeus”. Esta carta do Concílio de Nicéia representa a culminação de uma controvérsia iniciada dois séculos antes que se centralizou em Roma.20
As mesmas motivações antijudaicas que causaram a mudança da Páscoa do domingo de Páscoa também são responsáveis pela substituição da guarda do sábado pela guarda do domingo. Esta conclusão é apoiada não só no fato de que o sábado judaico compartilhava a mesma condenação antijudaica quanto à Páscoa judaica, mas também pela íntima ligação entre a observância do jejum anual do sábado de Páscoa, que era seguido pelo regozijo do domingo de Páscoa, e a observância de seu correspondente semanal, o jejum do sábado, seguido pelo regozijo do domingo. A unidade básica entre essas observâncias anuais e semanais é explicitamente afirmada pelos Pais, e sugere adicionalmente uma origem comum na igreja de Roma ao mesmo tempo e devido a causas semelhantes.
Deve-se notar que a tentativa do Papa em desfazer o brilho do sábado por tornar o dia um tempo de rigoroso jejum não foi recebida favoravelmente por todas as igrejas. As igrejas orientais, por exemplo, resistiram em adotar o jejum do sábado, bem como o domingo de Páscoa. De fato, sua resistência a essas práticas finalmente contribuiu para a ruptura histórica em 1054 entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa Grega.
Liturgicamente, a igreja de Roma decretou que nenhuma assembléia religiosa nem celebrações eucarísticas se realizassem no sábado. Por exemplo, o Papa Inocêncio I (402-417 AD) declarou que “como a tradição da Igreja mantém, nesses dois dias [sexta-feira e sábado] não se deve celebrar absolutamente os sacramentos”. Dois historiadores eclesiásticos contemporâneos, Sócrates e Sozomen, confirmam tal decreto. Sozomen (ca. de 400 AD) nos diz que enquanto “o povo de Constantinopla, e quase por toda parte, se reúnem no sábado, bem como no primeiro dia da semana, tal costume nunca é observado em Roma e Alexandria”.21
Em suma, as evidências históricas acima aludidas indicam que a igreja de Roma empregou medidas teológicas, sociais e litúrgicas para esvaziar o sábado de qualquer significado religioso e promover a observância do domingo em seu lugar.
O CULTO AO SOL E A ORIGEM DO DOMINGO
A discussão precedente focaliza-se sobre a interação de fatores sociais, políticos e religiosos que contribuíram para o abandono do sábado. A questão que ainda permanece irrespondida é: por que o domingo foi escolhido para mostrar separação e diferenciação dos judeus? Por que os cristãos não adotaram outro dia como a sexta-feira para celebrar o sacrifício expiatório por nossa redenção?
Adoração do Sol e o Domingo. A resposta a essas perguntas deve ser encontrada especialmente na influência do culto ao sol com seu dia do sol que se tornou “dominante em Roma e em outras partes do Império desde a primeira parte do século II AD”. O deus sol-invencível tornou-se o principal deus do panteão romano e era adorado especialmente no dies solis, que é “o dia do sol”, conhecido no calendário em inglês como “Sunday” (também em alemão, Sonntag), no sentido de “dia do sol”.
Para entender como o Dia do Sol tornou-se o primeiro e mais importante dia da semana romana é importante observar que os romanos adotaram a semana de sete dias dos judeus pouco antes do início do cristianismo. Todavia, em lugar de enumerarem os dias à semelhança dos judeus, os romanos escolheram o nome dos dias da semana segundo os sete planetas, que cultuavam como deuses.
O que é surpreendente, porém, é que inicialmente os romanos fizeram do Dies Saturni (o dia de saturno) o primeiro dia da semana, seguido do Dies Solis (dia do sol), que era o segundo dia. A razão é que durante o primeiro século o deus saturno era visto como sendo mais importante do que o deus sol. Conseqüentemente, o dia de saturno foi tornado o primeiro e mais importante dia da semana. A situação mudou pelo início do segundo século, quando o deus sol tornou-se o deus romano mais importante. A popularidade do deus sol provocou o avanço do dia do sol (domingo) da posição de segundo dia da semana para o primeiro e mais importante dia semanal. Isso exigiu que cada um dos demais dias avançasse um dia, e o dia de saturno destarte tornou-se o sétimo dia da semana para os romanos como havia sido para os judeus e cristãos.
Quando soube a respeito do avanço do Dia do Sol do segundo dia da semana no primeiro século para o primeiro dia da semana no segundo século, indaguei-me: é possível que esta ocorrência influenciou os cristãos de formação pagã a adotarem e adaptarem o dia do sol para o seu culto cristão a fim de demonstrar separação dos judeus e identificação com os romanos ao tempo em que a quebra do sábado era proibida pela lei romana?
Evidências Indiretas. Durante minha investigação descobri abundantes evidências diretas e indiretas apoiando esta hipótese. Descobri que pessoas que haviam adorado o deus-sol em seus dias pagãos traziam consigo para a igreja várias práticas pagãs. A existência do problema é evidenciado pelas freqüentes repreensões de líderes eclesiásticos àqueles cristãos que veneravam o sol, especialmente o dia do sol.
A influência do culto ao sol pode ser vista na arte e literatura cristã primitivas, onde a simbologia do deus-sol é freqüentemente empregada para representar a Cristo. De fato, as mais antigas representações de pinturas de Cristo (datadas de ca. de 240 AD), que foram descobertas sob o confessionário da Basílica de São Pedro, escavada durante 1953-57, é um mosaico que retrata a Cristo como o deus-sol cavalgando a quadriga, carruagem do deus-sol. O nascer do sol também se tornou a orientação para oração e para as igrejas cristãs. O dies natalis solis Invicti, aniversário do Sol Invencível, que os romanos celebravam em 25 de dezembro, foi adotado pelos cristãos para celebrar o nascimento de Cristo.22
Evidência direta. Uma influência mais direta da adoração do sol na adoção cristã do domingo é propiciada pelo uso da simbologia do sol para justificar a real observância do domingo. Os Pais da Igreja freqüentemente invocavam os motivos da luz e do sol para desenvolver uma justificativa teológica para o culto dominical. Por exemplo, Jerônimo explica: “Se é chamado o dia do sol pelos pagãos, nós de mui bom grado o reconhecemos como tal, uma vez que nesse dia a luz do mundo apareceu e nesse dia o Sol da Justiça ergueu-Se”.23
Conclusão. A conclusão de minha investigação conduzida durante um período de cinco anos nas bibliotecas pontifícias e arquivos em Roma, Itália, é de que a mudança do sábado para o domingo ocorreu, não por autoridade de Cristo ou dos apóstolos, mas em resultado de uma interação de fatores sociais, políticos, pagãos e religiosos. Descobri que o anti-judaísmo levou muitos cristãos a abandonarem a observância do sábado para se diferenciarem dos judeus numa época em que o judaísmo em geral, e a guarda do sábado em particular, foram postos fora da lei pelo Império romano. A adoração ao sol influenciou a adoção da observância do domingo para facilitar a identificação cristã e integração com os costumes e ciclos do Império Romano.
Objetivamente exposto, o sábado foi mudado para o domingo por conveniência, ou seja, a necessidade de evitar a legislação romana antijudaica e anti-sabática. Podemos indagar: É a conveniência um motivo legítimo para alterar um mandamento divino? Acaso Jesus alguma feita declarou: “Se tornar-se difícil observar um de Meus mandamentos, não sofram com isso! Apenas alterem!?” Obviamente a resposta é “Não!” Nenhum ensino tal é encontrado na Bíblia. Contudo, vez após vez na história do cristianismo, alguns dirigentes eclesiásticos e organizações religiosas têm escolhido a conveniência e o comprometimento de preferência aos ensinos bíblicos.
A mudança do sábado para o domingo não foi simplesmente de nomes ou números, mas de autoridade, sentido e experiência. Foi uma mudança de um DIA SANTO divinamente estabelecido para nos capacitar a experimentar mais livre e plenamente a consciência da presença divina e paz em nosso viver, num FERIADO para a busca de prazer e ganho pessoais. Essa mudança histórica tem afetado grandemente a qualidade da vida cristã de incontáveis cristãos que ao longo dos séculos têm sido privados da renovação física, mental e espiritual que o sábado tem por fito proporcionar. A mudança também tem contribuído para o enorme declínio de freqüência à igreja que está ameaçando a sobrevivência de igrejas históricas em numerosos países ocidentais.
A recuperação do sábado é especialmente necessária hoje quando nossas almas, fragmentadas, penetradas e dissecadas por uma cultura cacófona e dominada pela tensão clama pela libertação e realinhamento que nos aguardam no dia de sábado.
A redescoberta do sábado nesta era cósmica propicia a base para uma fé cósmica, uma fé que abarca e une a criação, redenção e restauração finais; o passado, presente e futuro; o homem, a natureza e Deus; este mundo e o mundo por vir. É uma fé que reconhece o domínio de Deus sobre toda a criação e a vida humana por consagrar a Ele o sétimo dia; uma fé que cumpre o verdadeiro destino do crente no tempo e eternidade, uma fé que permite que o Salvador enriqueça-nos a vida com uma maior medida de Sua presença, paz e descanso.
A discussão precedente focaliza-se sobre a interação de fatores sociais, políticos e religiosos que contribuíram para o abandono do sábado. A questão que ainda permanece irrespondida é: por que o domingo foi escolhido para mostrar separação e diferenciação dos judeus? Por que os cristãos não adotaram outro dia como a sexta-feira para celebrar o sacrifício expiatório por nossa redenção?
Adoração do Sol e o Domingo. A resposta a essas perguntas deve ser encontrada especialmente na influência do culto ao sol com seu dia do sol que se tornou “dominante em Roma e em outras partes do Império desde a primeira parte do século II AD”. O deus sol-invencível tornou-se o principal deus do panteão romano e era adorado especialmente no dies solis, que é “o dia do sol”, conhecido no calendário em inglês como “Sunday” (também em alemão, Sonntag), no sentido de “dia do sol”.
Para entender como o Dia do Sol tornou-se o primeiro e mais importante dia da semana romana é importante observar que os romanos adotaram a semana de sete dias dos judeus pouco antes do início do cristianismo. Todavia, em lugar de enumerarem os dias à semelhança dos judeus, os romanos escolheram o nome dos dias da semana segundo os sete planetas, que cultuavam como deuses.
O que é surpreendente, porém, é que inicialmente os romanos fizeram do Dies Saturni (o dia de saturno) o primeiro dia da semana, seguido do Dies Solis (dia do sol), que era o segundo dia. A razão é que durante o primeiro século o deus saturno era visto como sendo mais importante do que o deus sol. Conseqüentemente, o dia de saturno foi tornado o primeiro e mais importante dia da semana. A situação mudou pelo início do segundo século, quando o deus sol tornou-se o deus romano mais importante. A popularidade do deus sol provocou o avanço do dia do sol (domingo) da posição de segundo dia da semana para o primeiro e mais importante dia semanal. Isso exigiu que cada um dos demais dias avançasse um dia, e o dia de saturno destarte tornou-se o sétimo dia da semana para os romanos como havia sido para os judeus e cristãos.
Quando soube a respeito do avanço do Dia do Sol do segundo dia da semana no primeiro século para o primeiro dia da semana no segundo século, indaguei-me: é possível que esta ocorrência influenciou os cristãos de formação pagã a adotarem e adaptarem o dia do sol para o seu culto cristão a fim de demonstrar separação dos judeus e identificação com os romanos ao tempo em que a quebra do sábado era proibida pela lei romana?
Evidências Indiretas. Durante minha investigação descobri abundantes evidências diretas e indiretas apoiando esta hipótese. Descobri que pessoas que haviam adorado o deus-sol em seus dias pagãos traziam consigo para a igreja várias práticas pagãs. A existência do problema é evidenciado pelas freqüentes repreensões de líderes eclesiásticos àqueles cristãos que veneravam o sol, especialmente o dia do sol.
A influência do culto ao sol pode ser vista na arte e literatura cristã primitivas, onde a simbologia do deus-sol é freqüentemente empregada para representar a Cristo. De fato, as mais antigas representações de pinturas de Cristo (datadas de ca. de 240 AD), que foram descobertas sob o confessionário da Basílica de São Pedro, escavada durante 1953-57, é um mosaico que retrata a Cristo como o deus-sol cavalgando a quadriga, carruagem do deus-sol. O nascer do sol também se tornou a orientação para oração e para as igrejas cristãs. O dies natalis solis Invicti, aniversário do Sol Invencível, que os romanos celebravam em 25 de dezembro, foi adotado pelos cristãos para celebrar o nascimento de Cristo.22
Evidência direta. Uma influência mais direta da adoração do sol na adoção cristã do domingo é propiciada pelo uso da simbologia do sol para justificar a real observância do domingo. Os Pais da Igreja freqüentemente invocavam os motivos da luz e do sol para desenvolver uma justificativa teológica para o culto dominical. Por exemplo, Jerônimo explica: “Se é chamado o dia do sol pelos pagãos, nós de mui bom grado o reconhecemos como tal, uma vez que nesse dia a luz do mundo apareceu e nesse dia o Sol da Justiça ergueu-Se”.23
Conclusão. A conclusão de minha investigação conduzida durante um período de cinco anos nas bibliotecas pontifícias e arquivos em Roma, Itália, é de que a mudança do sábado para o domingo ocorreu, não por autoridade de Cristo ou dos apóstolos, mas em resultado de uma interação de fatores sociais, políticos, pagãos e religiosos. Descobri que o anti-judaísmo levou muitos cristãos a abandonarem a observância do sábado para se diferenciarem dos judeus numa época em que o judaísmo em geral, e a guarda do sábado em particular, foram postos fora da lei pelo Império romano. A adoração ao sol influenciou a adoção da observância do domingo para facilitar a identificação cristã e integração com os costumes e ciclos do Império Romano.
Objetivamente exposto, o sábado foi mudado para o domingo por conveniência, ou seja, a necessidade de evitar a legislação romana antijudaica e anti-sabática. Podemos indagar: É a conveniência um motivo legítimo para alterar um mandamento divino? Acaso Jesus alguma feita declarou: “Se tornar-se difícil observar um de Meus mandamentos, não sofram com isso! Apenas alterem!?” Obviamente a resposta é “Não!” Nenhum ensino tal é encontrado na Bíblia. Contudo, vez após vez na história do cristianismo, alguns dirigentes eclesiásticos e organizações religiosas têm escolhido a conveniência e o comprometimento de preferência aos ensinos bíblicos.
A mudança do sábado para o domingo não foi simplesmente de nomes ou números, mas de autoridade, sentido e experiência. Foi uma mudança de um DIA SANTO divinamente estabelecido para nos capacitar a experimentar mais livre e plenamente a consciência da presença divina e paz em nosso viver, num FERIADO para a busca de prazer e ganho pessoais. Essa mudança histórica tem afetado grandemente a qualidade da vida cristã de incontáveis cristãos que ao longo dos séculos têm sido privados da renovação física, mental e espiritual que o sábado tem por fito proporcionar. A mudança também tem contribuído para o enorme declínio de freqüência à igreja que está ameaçando a sobrevivência de igrejas históricas em numerosos países ocidentais.
A recuperação do sábado é especialmente necessária hoje quando nossas almas, fragmentadas, penetradas e dissecadas por uma cultura cacófona e dominada pela tensão clama pela libertação e realinhamento que nos aguardam no dia de sábado.
A redescoberta do sábado nesta era cósmica propicia a base para uma fé cósmica, uma fé que abarca e une a criação, redenção e restauração finais; o passado, presente e futuro; o homem, a natureza e Deus; este mundo e o mundo por vir. É uma fé que reconhece o domínio de Deus sobre toda a criação e a vida humana por consagrar a Ele o sétimo dia; uma fé que cumpre o verdadeiro destino do crente no tempo e eternidade, uma fé que permite que o Salvador enriqueça-nos a vida com uma maior medida de Sua presença, paz e descanso.
Notas e Referências
1. From Sabbath to Sunday, The Pontifical Gregorian University Press, Roma, 1977. Para obter uma cópia do livro traduzido ao português, em formato eletrônico, dirija-se ao e-mail: azenilto@yahoo.com.br.
2. Codex Justinianus, lib. 13, it. 12, par. 2 (3).
3. “Dies Domini”, Carta Pastoral de João Paulo II emitida em 31 de maio de 1998.
4. Tomás de Aquino, Summa Theologica, 1947, II, Q. 122 Art.4, p. 1702.
5. Peter Geiermann, The Convert’s Cathecism of Catholic Doctrine, pág. 50. Geiermann recebeu a “bênção apostólica” do Papa Pio X por seus trabalhos em 25 de janeiro de 1910.
6. “Dies Domini”.
7. S. Krauss, “Barkokba” Jewish Encyclopedia, 1907, II, p. 509, assim sumaria a dramática: “Os judeus passaram agora por um período de amarga perseguição; os sábados, as festividades, o estudo da Torah e a circuncisão foram interditados e parecia que Adriano desejava aniquilar o povo judeu. . . . A época subseqüente foi de perigo (sha’at hasekanah’) para os judeus da Palestina, durante a qual se proibiram os costumes rituais mais importantes; por isso o Talmude declara (Geiger’s Jud. Zeit 1, 199, 11, 126; Weis, ‘Dor’, 11, 131; Rev. Et. Juives, xxxii. 41) que certas regras foram promulgadas para enfrentar a emergência. Chamou-se a época do edito (gezarah) ou de perseguição (shemad, Shab. 60a; Caut. R. ii, 5)”, veja também H. Graetz, History of the Jews, 1940, II, pág, 425; S. Grayzel, A History of the Jews, 1947, pág, 187; S. W. Baron, A Social and Religious History of the Jews, 1952, II, pp. 40-41, 107.
8. Publicado posteriormente pela editora evangélica Zondervan.
9. C. S. Mosna, Storia della Domenica, p. 44.
10. J. Daniélou, Bible and Liturgy, p. 243.
11. Op. Cit., pág. 180.
12. Citado pelo tradutor, E. Goodpeed, Apostolic Fathers, 1950, p. 40, 41.
13. Justino Mártir, Dialogue 67, 3-7, citado por Thomas B. Falls, Writings of Saint Justin Martyr, The Fathers of the Church, 1948, pp. 106-107.
14. W. Rordorf, The History of the Day of Rest and Worship in the Earliest Centuries of The Christian Church p. 218.
15. P. K. Jewett, Lord’s Day, p. 57.
16. Eusébio, História Eclesiástica 3, 27, 3 traduzido por Kirsopp Lake, Eusebius, The Ecclesiastical History, 1949, 1, p. 263.
17. Marcel Simon, “La migration à Pella. Legende ou réalité?”, Judéo-christianisme, pp. 47, 48.
18. Ver capítulo “Roma e a Origem do Domingo”, de Do Sábado Para o Domingo, onde há ampla discussão sobre isto.
19. J.B. Lightfoot, The Apostolic Fathers, 1885, II, part I, p. 88.
20. O decreto conciliar do Concílio de Nicéia especificamente ordenava: “Todos os irmãos no Oriente que anteriormente celebravam a Páscoa com os judeus, daqui em diante o farão à mesma época que os romanos, conosco e com todos aqueles que desde os tempos antigos têm celebrado a festividade ao mesmo tempo que nós”. (Ortiz De Urbina, Nicée et Constantinople, 1963, 1, p. 259; conforme Socrates, Historia Ecclesiastica 1, 9).
21. Socrates, Ecclesiastical History, 5, 22; NPNF 2ª 11, p. 132.
22. Franz Cumont, Astrology and Religion Among and Romans, 1960, p. 89: “Um costume bem generalizado exigia que em 25 de dezembro, o nascimento do ‘novo Sol’ fosse celebrado, quando, depois do solstício de inverno, os dias começam a ficar maiores e a estrela “invencível” triunfa novamente sobre as trevas”. Por textos sobre a celebração mitraica do 25 de dezembro, veja CIL I, p. 140.
23. Jerômino, In dies dominica Paschae homilia CCL 78, 550, 1, 52.
1. From Sabbath to Sunday, The Pontifical Gregorian University Press, Roma, 1977. Para obter uma cópia do livro traduzido ao português, em formato eletrônico, dirija-se ao e-mail: azenilto@yahoo.com.br.
2. Codex Justinianus, lib. 13, it. 12, par. 2 (3).
3. “Dies Domini”, Carta Pastoral de João Paulo II emitida em 31 de maio de 1998.
4. Tomás de Aquino, Summa Theologica, 1947, II, Q. 122 Art.4, p. 1702.
5. Peter Geiermann, The Convert’s Cathecism of Catholic Doctrine, pág. 50. Geiermann recebeu a “bênção apostólica” do Papa Pio X por seus trabalhos em 25 de janeiro de 1910.
6. “Dies Domini”.
7. S. Krauss, “Barkokba” Jewish Encyclopedia, 1907, II, p. 509, assim sumaria a dramática: “Os judeus passaram agora por um período de amarga perseguição; os sábados, as festividades, o estudo da Torah e a circuncisão foram interditados e parecia que Adriano desejava aniquilar o povo judeu. . . . A época subseqüente foi de perigo (sha’at hasekanah’) para os judeus da Palestina, durante a qual se proibiram os costumes rituais mais importantes; por isso o Talmude declara (Geiger’s Jud. Zeit 1, 199, 11, 126; Weis, ‘Dor’, 11, 131; Rev. Et. Juives, xxxii. 41) que certas regras foram promulgadas para enfrentar a emergência. Chamou-se a época do edito (gezarah) ou de perseguição (shemad, Shab. 60a; Caut. R. ii, 5)”, veja também H. Graetz, History of the Jews, 1940, II, pág, 425; S. Grayzel, A History of the Jews, 1947, pág, 187; S. W. Baron, A Social and Religious History of the Jews, 1952, II, pp. 40-41, 107.
8. Publicado posteriormente pela editora evangélica Zondervan.
9. C. S. Mosna, Storia della Domenica, p. 44.
10. J. Daniélou, Bible and Liturgy, p. 243.
11. Op. Cit., pág. 180.
12. Citado pelo tradutor, E. Goodpeed, Apostolic Fathers, 1950, p. 40, 41.
13. Justino Mártir, Dialogue 67, 3-7, citado por Thomas B. Falls, Writings of Saint Justin Martyr, The Fathers of the Church, 1948, pp. 106-107.
14. W. Rordorf, The History of the Day of Rest and Worship in the Earliest Centuries of The Christian Church p. 218.
15. P. K. Jewett, Lord’s Day, p. 57.
16. Eusébio, História Eclesiástica 3, 27, 3 traduzido por Kirsopp Lake, Eusebius, The Ecclesiastical History, 1949, 1, p. 263.
17. Marcel Simon, “La migration à Pella. Legende ou réalité?”, Judéo-christianisme, pp. 47, 48.
18. Ver capítulo “Roma e a Origem do Domingo”, de Do Sábado Para o Domingo, onde há ampla discussão sobre isto.
19. J.B. Lightfoot, The Apostolic Fathers, 1885, II, part I, p. 88.
20. O decreto conciliar do Concílio de Nicéia especificamente ordenava: “Todos os irmãos no Oriente que anteriormente celebravam a Páscoa com os judeus, daqui em diante o farão à mesma época que os romanos, conosco e com todos aqueles que desde os tempos antigos têm celebrado a festividade ao mesmo tempo que nós”. (Ortiz De Urbina, Nicée et Constantinople, 1963, 1, p. 259; conforme Socrates, Historia Ecclesiastica 1, 9).
21. Socrates, Ecclesiastical History, 5, 22; NPNF 2ª 11, p. 132.
22. Franz Cumont, Astrology and Religion Among and Romans, 1960, p. 89: “Um costume bem generalizado exigia que em 25 de dezembro, o nascimento do ‘novo Sol’ fosse celebrado, quando, depois do solstício de inverno, os dias começam a ficar maiores e a estrela “invencível” triunfa novamente sobre as trevas”. Por textos sobre a celebração mitraica do 25 de dezembro, veja CIL I, p. 140.
23. Jerômino, In dies dominica Paschae homilia CCL 78, 550, 1, 52.
Apocalipse 1:10 e o "dia do Senhor"
O argumento fracassado dos observadores do domingo – Apocalipse 1:10 (Parte 1)
Os observadores do domingo, em uma tentativa desesperada de defender o indefensável, apelam aos pais da igreja e ao texto de Apocalipse 1:10 para “provar” que o “dia do Senhor” não é o sábado. Leiamos o texto:
“Achei-me em espírito, no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta” Apocalipse 1:10.
Eles pecam em duas coisas:
1) Em usar a autoridade dos pais da igreja no lugar da autoridade da Bíblia (Jo 17:17);
2) Em dizer que a expressão grega Kuriakê heméra (Dia do Senhor), utilizada em Apocalipse 1:10, se refere ao primeiro dia da semana.
Vamos analisar a fragilidade dessa argumentação e mostrar que a Bíblia continua sendo a autoridade para o cristão que respeita a Deus e a autoridade de Sua Palavra.
Os pais da igreja
Mesmo tendo sido homens piedosos em suas épocas, não podemos fazer de tais homens nossa autoridade final em assuntos doutrinários. Isso por que “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens.” (At 5:29).
Veja no que alguns dos pais da igreja acreditavam e conclua por si mesmo se, em matéria de doutrina, eles são confiáveis 100%. As informações a seguir forma extraídas do livro Subtilezas do Erro (1981):
Inácio dizia que se torna assassino quem não jejua no sábado; defende a transubstanciação, considerando herege quem admite apenas o simbolismo da santa ceia e exalta demais a autoridade do bispo, pondo-a acima da de César, chegando ao cúmulo de afirmar que, quem não o consulta, segue a satanás.
Barnabé (se é que existiu tal personagem), diz que a lebre muda a cada ano o lugar da concepção, que a hiena muda de sexo anualmente, e a doninha concebe pela boca. Afirma que Abraão conhecia o alfabeto grego (séculos antes que tal alfabeto existisse) e alegoriza a Bíblia.
Justino ensinava, entre outros absurdos, que os anjos do céu comem maná e que Deus, no princípio do mundo, deu o sol para ser adorado.
Clemente de Alexandria sustenta que os gregos se salvam pela sua sabedoria; afirma que Abraão era sábio em astronomia e aritmética e que Platão era profeta evangélico.
Tertuliano diz regozijar-se com os sofrimentos dos ímpios no inferno. Afirma que os animais oram. Defende o purgatório e a oração pelos mortos.
Eusébio era ariano (negava a Divindade de Cristo)
Irineu quer que as almas, separadas do corpo, tenham mãos e pés. Defende a supremacia de Roma, alegando que a igreja tem mais autoridade que a Palavra de Deus. Defende ardorosamente o purgatório.
Tais homens são as autoridades doutrinárias dos observadores do domingo, caro leitor! Pasmem! Não foi por acaso que Adam Clarck, comentarista evangélico, disse sobre eles: “Em ponto de doutrina a autoridade deles é, a meu ver, nula” – Clarkes’s Commentary, on Proverbs 8.
A expressão Kuriakê heméra (dia do Senhor) se refere ao domingo?
Só para os desinformados. No grego clássico, realmente a expressão foi aplicada por alguns pais da igreja ao domingo. Entretanto, a Bíblia não foi escrita no grego clássico, mas, no grego koinê (comum, do povo). Por isso, precisamos buscar o significado da expressão no tipo de grego utilizado pelos autores do Novo Testamento. Isso é óbvio demais a ponto de nem ser preciso redigir um comentário desses no presente artigo. Mas, por amor à verdade, é bom deixar tudo bem claro.
Eis algumas evidências de que a expressão grega para “dia do Senhor” (no grego bíblico) não se refere ao primeiro dia da semana:
1) A primeira menção ao domingo como “dia do Senhor” encontra-se num escrito falsamente atribuído a Pedro, chamado “Evangelho Segundo Pedro” (cap. 9:35), datado pelo menos uns 70 a 75 anos após o período que João escreveu o Apocalipse.
Uma pergunta aos dominguistas:
Como João iria se referir ao domingo em Apocalipse 1:10, sendo que a primeira citação como sendo este o dia do Senhor aparece cerca de 70 a 75 anos DEPOIS dele escrever este texto? Impossível!
2) Justino Mártir (ano 150 d.C) quando alude a um costume que se implanta entre os cristãos de sua época a reunirem-se no 1o dia da semana, refere-se a esse dia com a expressão “dia do Sol” e não “dia do Senhor”.
3) O evangelho de João teria sido escrito mais ou menos na mesma década que o Apocalipse e, ao referir-se ao domingo, o apóstolo não o chama de “dia do Senhor”, mas meramente “primeiro dia”. Nenhum título de santidade é dado ao domingo (só na imaginação fértil dos que são contra o quarto mandamento da Lei de Deus)
4) Nem o Pai nem o filho reclamaram o domingo como “SEU” em qualquer sentido. Se seguirmos a lógica dos oponentes (em guardar o domingo por que Jesus ressuscitou no primeiro dia), poderíamos santificar a sexta-feira – o dia da crucificação. Ele não tem menos importância para nós cristãos! Por que não chamar o dia da “ascensão” de “dia do Senhor?” Qual critério bíblico é utilizado para dizer que o momento da ressurreição é mais importante que o dia em que Cristo morreu e subiu aos céus?
6) Toda a vez que o Novo Testamento se refere ao primeiro dia da semana, usa a expressão “primeiro [dia] após o sábado” (Mt 28:1; Mc 16:2; Lc 24:1; Jo 20:1,19; At 20:7; 1Co. 16:2). Ou, “segundo [dia] após o sábado”, etc. Isto dá mais valor ao sétimo dia como ponto central da semana, para os escritores evangélicos.
“Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera.” Gênesis 2:1-3 (Não venha me dizer que aqui não é o sábado…)
“Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou.” Êxodo 20:8-11.
“Respondeu-lhes ele: Isto é o que disse o SENHOR: Amanhã é repouso, o santo sábado do SENHOR; o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobrar separai, guardando para a manhã seguinte.” Êxodo 16:23 (Não se esqueça que o aquecer fogo no deserto exigia muito esforço e trabalho. Eles não tinham palitos de fósforos ou isqueiros como nós)
“De que, trazendo os povos da terra no dia de sábado qualquer mercadoria e qualquer cereal para venderem, nada comprariam deles no sábado, nem no dia santificado; e de que, no ano sétimo, abririam mão da colheita e de toda e qualquer cobrança.” Neemias 10:31.
“Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do SENHOR, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs” Isaías 58:13.
“Porque o Filho do Homem é senhor do sábado.” Mateus 12:8 (Aqui e no texto seguinte Jesus não diz que é o “senhor do sábado” para desobedecer e sim para dar o exemplo, ensinando as pessoas a guardarem o sétimo dia da maneira correta).
“De sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado.” Marcos 2:28.
Onde na Bíblia o domingo é chamado de “dia do Senhor”?
Os textos são tão claros para o filho de Deus – regenerado pelo Espírito – que não farei maiores comentários. Cabe a cada um aceitar ou não o que Deus diz e depois prestar contas a Ele pessoalmente (Rm 14:12; 2Co 5:10).
Gostaria que os defensores do domingo me respondessem a pelo menos uma pergunta, das várias que surgiram com esse artigo:
Como João iria se referir ao domingo em Apocalipse 1:10, sendo que a primeira citação como sendo este o dia do Senhor aparece cerca de 70 a 75 anos DEPOIS dele escrever esse texto?
Aguardarei respostas sinceras e embasadas na Bíblia.
“Então, disse o SENHOR a Moisés: Até quando recusareis guardar os meus mandamentos e as minhas leis?” Êxodo 16:28
[Mensagem de Deus aos guardadores do domingo]
Leandro Quadros.
"Achei-me em espírito, no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta." (Apocalipse 1:10) "egenomhn en pneumati en th kuriakh hmera kai hkousa opisw mou fwnhn megalhn wV salpiggoV" (Hagilu Natan Elohim 1:10) A expressão "dia do Senhor" de Apocalipse 1:10 é traduzida de KURIAKE HEMERA, conforme o original grego. KURIAKE vem de KIRIOS ou KURIOS e significa "do Senhor" e HEMERA significa "dia". "kuriakh hmera" é utilizada apenas uma vez na Bíblia e exatamente em Apocalipse 1:10. Algumas traduções bíblicas trocam a expressão "dia do Senhor" por "domingo", fazendo com que muitas pessoas se confundam e acreditem que o "primeiro dia" da semana foi mencionado por João durante a redação do livro de Apocalipse. A palavra "domingo" não aparece em nenhum momento nos livros originais que compõem a Bíblia, este vocábulo é inteiramente desconhecido nas Escrituras. Então, por que traduzir Apocalipse 1:10, colocando-se a palavra "domingo" como correspondente a KURIAKE HEMERA? Ou "domingo" aparece em algumas traduções por engano, ocasionado por falta de atenção ao texto original grego ou por má fé por parte dos editores de tais traduções. Ficamos, não obstante, com a primeira opção. A Origem da Palavra "Domingo" Os dias da semana são denominados, pela Bíblia, de acordo com a cronologia registrada em Gênesis 1, e assim são conhecidos:
Diversas línguas originárias do latim (e influenciadas pelo latim eclesiástico) tiveram a expressão "dominicus dies" como referência ao "primeiro dia" da semana. Foi o caso da língua portuguesa que possui a palavra "domingo" derivada de "dominicus". Assim, a Igreja de Roma disseminou também por este meio, a crença popular e contrária a Bíblia de que o domingo (primeiro dia da semana) é o "dia do Senhor". O "dia do Senhor" na Bíblia A expressão "dia do Senhor" surgi 27 vezes em toda a Bíblia (na versão Almeida Revista e Atualizada) e, distribuída em 25 versos. Com exceção de 2 versos, nos demais a expressão "dia do Senhor" está relacionada com o DIA do: "ajuste de contas", "juízo final", "julgamento", "da volta de Jesus", ou seja, o dia na qual Deus executará Sua justiça de forma plena e definitiva. Os 23 versos que apresentam a expressão "dia do Senhor" com os significados mencionados são: Isaías 2:12 - Isaías 13:6 - Isaías 13:9 - Jeremias 46:10 - Ezequiel 13:5 - Ezequiel 30:3 - Joel 1:15 - Joel 2:1 - Joel 2:11 - Joel 2:31 - Joel 3:14 - Amós 5:18 - Amós 5:20 - Obadias 1:15 - Sofonias 1:7 - Sofonias 1:14 - Zacarias 14:1 - Malaquias 4:5 - Atos 2:20 - I Coríntios 5:5 - I Tessalonicenses 5:2 - II Tessalonicenses 2:2 - II Pedro 3:10. Nesses 23 versos a expressão "dia do Senhor" ocorre 25 vezes. E as duas ocasiões em que a expressão "dia do Senhor" não está relacionada com o "dia do ajuste de contas futuro", isto é, com o "dia do juízo de Deus" são: "Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs." (Isaías 58:13) "Achei-me em espírito, no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta." (Apocalipse 1:10) Das 27 vezes em que a expressão "dia do Senhor" é mencionada na Bíblia, somente em Isaías 58:13 e Apocalipse 1:10, ela tem o significado diferente da grande maioria citada acima. E, uma delas está relacionada com o sábado do sétimo dia, chamado de "dia do Senhor" e, pronunciada diretamente por Deus, como "está escrito" em Isaías 58:13. Baseado nessas informações pode-se concluir que: Ou João estava se referindo ao dia do juízo de Deus, o que seria pouco provável pela exegese do capítulo; ou referia-se ao sábado do sétimo dia, em uma alusão direta à citação do próprio Deus como está registrada em Isaías 58:13. Esta última opção apresenta mais coerência dentro do contexto de Apocalipse capítulo 1. Independente dessas duas interpretações, é fato consumado que: João, definitivamente, não estava se referindo ao "primeiro dia" da semana (domingo) quando escreveu a passagem registrada em Apocalipse 1:10. A afirmação que o "dia do Senhor" nessa passagem se refira indiscutivelmente ao "domingo" é baseada em presunção e a Bíblia condena-a completamente. Finalizaremos este estudo com o depoimento1 de Peter Heylin, erudito de projeção intelectual e escritor eclesiástico da Igreja da Inglaterra: "Tomai o que quiserdes, ou os pais [da igreja] ou os modernos, e não encontraremos nenhum 'dia do Senhor'a instituído por mandamento apostólico: nenhum 'sabbath' [dia de repouso] por eles firmados sobre o 'primeiro dia' da semana. Vemos assim sobre que bases se assenta o 'dia do Senhor': primeiro sobre o costume e a consagração voluntária desse dia para reuniões religiosas; tal costume continuou favorecido pela autoridade da Igreja de Deusb, que tacitamente o aprovava; e finalmente foi confirmado e ratificado pelos príncipes cristãos em todos os seus impérios. E como dia de descanso dos trabalhos e abstenção dos negócios, recebeu sua maior força dos magistrados civis enquanto detinham o poder, e a seguir dos cânones, decretos de concílios, decretais dos papas, ordens de prelados de categoria quando a direção dos negócios eclesiásticos lhes era exclusivamente confiada. Estou certo de que assim não foi com o antigo sábado, o qual nem teve origem no costume - e o povo não se adiantara a ponto de dar um dia a Deus - nem exigiu qualquer favorecimento ou autoridade dos reis de Israel para ser confirmado ou ratificado. O Senhor falou que Ele queria ter um dia em sete, exatamente o sétimo dia da criação do mundo, para ser dia de repouso para todo Seu povo, e este nada mais tinha a fazer senão de boa vontade submeter-se à Sua vontade e obedecer-lhe. Assim, porém, não ocorreu no caso em tela. O 'dia do Senhor' não tem nenhuma ordem para que deva ser santificado; mas foi evidentemente deixado ao povo de Deus determinar este ou outro dia qualquer, para uso notório. E assim foi adotado por eles, e tornado um dia de reunião da congregação para práticas religiosas; contudo, por trezentos anos não houve lei alguma que o impusesse aos crentes e tampouco se exigia a cessação do trabalho ou de negócios seculares nesse dia." - HEYLIN, P. (1636). The History of the Sabbath, London, vol. II, charp. I and III, sec. 12, p. 94-95. 1. Citado em: CHRISTIANINI, A. B. (1981). Subtilezas do Erro, 2.ª ed., p. 203-204. |
O argumento fracassado dos observadores do domingo – Apocalipse 1:10 (Parte 1)
Os observadores do domingo, em uma tentativa desesperada de defender o indefensável, apelam aos pais da igreja e ao texto de Apocalipse 1:10 para “provar” que o “dia do Senhor” não é o sábado. Leiamos o texto:
“Achei-me em espírito, no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta” Apocalipse 1:10.
Eles pecam em duas coisas:
1) Em usar a autoridade dos pais da igreja no lugar da autoridade da Bíblia (Jo 17:17);
2) Em dizer que a expressão grega Kuriakê heméra (Dia do Senhor), utilizada em Apocalipse 1:10, se refere ao primeiro dia da semana.
Vamos analisar a fragilidade dessa argumentação e mostrar que a Bíblia continua sendo a autoridade para o cristão que respeita a Deus e a autoridade de Sua Palavra.
Os pais da igreja
Mesmo tendo sido homens piedosos em suas épocas, não podemos fazer de tais homens nossa autoridade final em assuntos doutrinários. Isso por que “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens.” (At 5:29).
Veja no que alguns dos pais da igreja acreditavam e conclua por si mesmo se, em matéria de doutrina, eles são confiáveis 100%. As informações a seguir forma extraídas do livro Subtilezas do Erro (1981):
Inácio dizia que se torna assassino quem não jejua no sábado; defende a transubstanciação, considerando herege quem admite apenas o simbolismo da santa ceia e exalta demais a autoridade do bispo, pondo-a acima da de César, chegando ao cúmulo de afirmar que, quem não o consulta, segue a satanás.
Barnabé (se é que existiu tal personagem), diz que a lebre muda a cada ano o lugar da concepção, que a hiena muda de sexo anualmente, e a doninha concebe pela boca. Afirma que Abraão conhecia o alfabeto grego (séculos antes que tal alfabeto existisse) e alegoriza a Bíblia.
Justino ensinava, entre outros absurdos, que os anjos do céu comem maná e que Deus, no princípio do mundo, deu o sol para ser adorado.
Clemente de Alexandria sustenta que os gregos se salvam pela sua sabedoria; afirma que Abraão era sábio em astronomia e aritmética e que Platão era profeta evangélico.
Tertuliano diz regozijar-se com os sofrimentos dos ímpios no inferno. Afirma que os animais oram. Defende o purgatório e a oração pelos mortos.
Eusébio era ariano (negava a Divindade de Cristo)
Irineu quer que as almas, separadas do corpo, tenham mãos e pés. Defende a supremacia de Roma, alegando que a igreja tem mais autoridade que a Palavra de Deus. Defende ardorosamente o purgatório.
Tais homens são as autoridades doutrinárias dos observadores do domingo, caro leitor! Pasmem! Não foi por acaso que Adam Clarck, comentarista evangélico, disse sobre eles: “Em ponto de doutrina a autoridade deles é, a meu ver, nula” – Clarkes’s Commentary, on Proverbs 8.
A expressão Kuriakê heméra (dia do Senhor) se refere ao domingo?
Só para os desinformados. No grego clássico, realmente a expressão foi aplicada por alguns pais da igreja ao domingo. Entretanto, a Bíblia não foi escrita no grego clássico, mas, no grego koinê (comum, do povo). Por isso, precisamos buscar o significado da expressão no tipo de grego utilizado pelos autores do Novo Testamento. Isso é óbvio demais a ponto de nem ser preciso redigir um comentário desses no presente artigo. Mas, por amor à verdade, é bom deixar tudo bem claro.
Eis algumas evidências de que a expressão grega para “dia do Senhor” (no grego bíblico) não se refere ao primeiro dia da semana:
1) A primeira menção ao domingo como “dia do Senhor” encontra-se num escrito falsamente atribuído a Pedro, chamado “Evangelho Segundo Pedro” (cap. 9:35), datado pelo menos uns 70 a 75 anos após o período que João escreveu o Apocalipse.
Uma pergunta aos dominguistas:
Como João iria se referir ao domingo em Apocalipse 1:10, sendo que a primeira citação como sendo este o dia do Senhor aparece cerca de 70 a 75 anos DEPOIS dele escrever este texto? Impossível!
2) Justino Mártir (ano 150 d.C) quando alude a um costume que se implanta entre os cristãos de sua época a reunirem-se no 1o dia da semana, refere-se a esse dia com a expressão “dia do Sol” e não “dia do Senhor”.
3) O evangelho de João teria sido escrito mais ou menos na mesma década que o Apocalipse e, ao referir-se ao domingo, o apóstolo não o chama de “dia do Senhor”, mas meramente “primeiro dia”. Nenhum título de santidade é dado ao domingo (só na imaginação fértil dos que são contra o quarto mandamento da Lei de Deus)
4) Nem o Pai nem o filho reclamaram o domingo como “SEU” em qualquer sentido. Se seguirmos a lógica dos oponentes (em guardar o domingo por que Jesus ressuscitou no primeiro dia), poderíamos santificar a sexta-feira – o dia da crucificação. Ele não tem menos importância para nós cristãos! Por que não chamar o dia da “ascensão” de “dia do Senhor?” Qual critério bíblico é utilizado para dizer que o momento da ressurreição é mais importante que o dia em que Cristo morreu e subiu aos céus?
6) Toda a vez que o Novo Testamento se refere ao primeiro dia da semana, usa a expressão “primeiro [dia] após o sábado” (Mt 28:1; Mc 16:2; Lc 24:1; Jo 20:1,19; At 20:7; 1Co. 16:2). Ou, “segundo [dia] após o sábado”, etc. Isto dá mais valor ao sétimo dia como ponto central da semana, para os escritores evangélicos.
O dia do Senhor na Bíblia
“Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera.” Gênesis 2:1-3 (Não venha me dizer que aqui não é o sábado…)
“Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou.” Êxodo 20:8-11.
“Respondeu-lhes ele: Isto é o que disse o SENHOR: Amanhã é repouso, o santo sábado do SENHOR; o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobrar separai, guardando para a manhã seguinte.” Êxodo 16:23 (Não se esqueça que o aquecer fogo no deserto exigia muito esforço e trabalho. Eles não tinham palitos de fósforos ou isqueiros como nós)
“De que, trazendo os povos da terra no dia de sábado qualquer mercadoria e qualquer cereal para venderem, nada comprariam deles no sábado, nem no dia santificado; e de que, no ano sétimo, abririam mão da colheita e de toda e qualquer cobrança.” Neemias 10:31.
“Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do SENHOR, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs” Isaías 58:13.
“Porque o Filho do Homem é senhor do sábado.” Mateus 12:8 (Aqui e no texto seguinte Jesus não diz que é o “senhor do sábado” para desobedecer e sim para dar o exemplo, ensinando as pessoas a guardarem o sétimo dia da maneira correta).
“De sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado.” Marcos 2:28.
Onde na Bíblia o domingo é chamado de “dia do Senhor”?
Os textos são tão claros para o filho de Deus – regenerado pelo Espírito – que não farei maiores comentários. Cabe a cada um aceitar ou não o que Deus diz e depois prestar contas a Ele pessoalmente (Rm 14:12; 2Co 5:10).
Gostaria que os defensores do domingo me respondessem a pelo menos uma pergunta, das várias que surgiram com esse artigo:
Como João iria se referir ao domingo em Apocalipse 1:10, sendo que a primeira citação como sendo este o dia do Senhor aparece cerca de 70 a 75 anos DEPOIS dele escrever esse texto?
Aguardarei respostas sinceras e embasadas na Bíblia.
“Então, disse o SENHOR a Moisés: Até quando recusareis guardar os meus mandamentos e as minhas leis?” Êxodo 16:28
[Mensagem de Deus aos guardadores do domingo]
Leandro Quadros.
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