Evangelismo ou "denominaciolismo"?


"Ide e fazei discípulos de todas as nações" (Mateus 28:19) é, seguramente, o mote da maioria das denominações cristãs que hoje existem. Creio mesmo que não deve haver uma única que não inclua nas suas ações a partilha e o testemunho de fé, com vista a trazer outros para aquilo que acreditam ser a verdade.

Claro que os Adventistas não são exceção. Aliás, uma parte da nossa história relata o alargamento de visão que ocorreu quando os nossos pioneiros perceberam que a missão que tinham era para todo o mundo e não apenas para o pequeno lugar onde estavam. É por isso que hoje estamos em quase todos os países do mundo, temos cerca de 17 milhões de membros (número que cresce a grande ritmo) e aproximadamente 25 a 30 milhões de pessoas a cada Sábado nos nossos Cultos.


Nem sempre em todas as igrejas há a possibilidade de se verem representados todos os diferentes ministérios que a igreja desenvolve; contudo, as áreas de evangelismo estão sempre ativas - quer seja pela Escola Sabatina, ministérios pessoais, pequenos grupos, etc., esta componente não pode faltar pois reside na essência daquilo que é a Igreja e a sua missão, que acreditamos ter sido dada por Deus.


Mas "evangelismo" é um conceito que, na prática, deve respeitar aquilo que lhe está inerente: levar o nosso próximo ao conhecimento da grandiosa mensagem da salvação em Jesus, as boas novas que a Bíblia anuncia.


Assim, mais do que fazer membros de igreja, o evangelismo é fazer seguidores, discípulos de Jesus.


Caso contrário, se nos contentamos apenas com o número de batismos (quando há razão para isso...), com o facto das salas da igreja estarem sempre repletas ou as atividades até serem bastante dinâmicas, atrativas e participadas, corremos o risco de não estar exatamente a fazer o evangelismo que nos foi comissionado, mas apenas e só "denominaciolismo", isto é, passando um testemunho que não chega à conversão real à semelhança de Jesus, mas que lamentavelmente se queda a meio do caminho, satisfeito pelo contributo prestado para que alguém passe a, simplesmente, fazer parte da igreja.


Alguém que adere ao evangelho, torna-se um evangelista; alguém que adere, apenas e só, à igreja, torna-se um simples membro.


O sucesso da missão que Jesus deixou mede-se pelo número e qualidade de seguidores, ou seja, aqueles que foram após Ele, tornando-se, passo a passo, como Ele.


Isto é bem mais do que estar de acordo com a mensagem, ver nela bons valores e princípios: é uma transformação de vida segundo essa mensagem.


Algum tempo atrás, falava com um irmão nosso que me contava acerca do seu batismo. Ele disse-me: "nesse dia, não apenas me batizei, como também entreguei o meu coração a Jesus".


Repare como há uma diferença entre o ato exterior de aceitação e a profunda convicção que passa a residir na pessoa a partir dali, logo refletido na prática. Este irmão sentia que não apenas se tinha tornado um membro da denominação, mas também - e mais importante ainda - um seguidor de Jesus!


Não, fazer parte, estar no grupo não é suficiente! Leia estes excertos escritos por Ellen White :

"O amor a Deus é o próprio fundamento da religião. De nada aproveita engajar-se em Seu serviço meramente pela esperança da recompensa ou medo da punição. Uma declarada apostasia não seria mais ofensiva a Deus do que a hipocrisia e um culto meramente formal" (Manuscrito 135, 1899).


"Deus nos deu a regra de conduta que cada um de Seus servos deve seguir. É obediência a Sua lei, não somente a obediência formal, mas a que penetra na vida e se demonstra no caráter. Deus estabeleceu Sua norma de caráter para todos os que se quiserem tornar súditos de Seu reino. Unicamente os que se tornarem coobreiros de Cristo, só os que disserem: Senhor, tudo quanto possuo e sou, Te pertence, serão reconhecidos como filhos e filhas de Deus" (O Desejado de Todas as Nações, p. 523)

O manter este estado de coisas na superficialidade foi-nos claramente denunciado:

"Precisamos quebrar a monotonia de nossa atividade religiosa. Estamos realizando uma obra no mundo, mas não mostramos suficiente atividade e zelo. Se fôssemos mais fervorosos, os homens se convenceriam da verdade de nossa mensagem. A falta de vida e a monotonia de nosso culto a Deus repelem muitos que nos observam para ver em nós zelo profundo, fervente e santificado. A religião formal não serve para este tempo. Podemos praticar todos os atos externos do culto e, não obstante, estar tão destituídos da influência vivificante do Espírito Santo, como o estavam os montes de Gilboa do orvalho e da chuva. Necessitamos da humidade espiritual; bem como dos claros raios do Sol da Justiça para nos enternecer e subjugar o coração" (Review and Herald, 26 de maio de 1903).

Analise a sua experiência como cristão Adventista: será que tem vindo a ser aprofundada pela contemplação de Jesus, que transforma o caráter, ou tem-se reduzido a uma simples frequência dos bancos da igreja que, mais cedo do que pensa, redundará em fracasso espiritual...?


Renovemo-nos a cada dia para vivermos este outro conselho:

"(...) Seja o coração vivificado pelo Espírito de Deus, e sejam vossas palavras proferidas com tal certeza, que os que vos ouvem saibam que a verdade vos é uma realidade" (idem, Evangelismo, p. 296).