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Pode o Papa Reconquistar a Europa?
Publicado em 27/09/2011 por Blog Sétimo Dia
Em 21 de setembro de 2010, Bento 16 declarou oficialmente que o Ocidente precisava de uma “nova evangelização”. A declaração, uma notícia por si só, foi vista como reconhecimento da fraqueza da Igreja Católica, e uma fraqueza que não é temporária; e como reconhecimento de que o catolicismo de hoje representa uma minoria nos países ocidentais, uma minoria que vem encolhendo.
Mas, sob uma perspectiva mais geral, esse foi um passo “geo-religioso” importante para o pontífice.
O papa está convencido da relação estratégica entre o cristianismo e a Europa como sendo seu terreno geográfico e cultural natural de proselitismo. E ele quer que essa relação seja reafirmada e aprimorada.
Quando, em junho de 2010, Bento anunciou seus planos para um novo ministério para revigorar a religião, não foram divulgados detalhes sobre sua estrutura, conteúdo e metas.
Não havia segredo: o Vaticano sabia que precisava lidar com esse problema com urgência, mas ainda não calculara como concretizar essa missão. Bento 16 simplesmente sentia que era preciso fazer alguma coisa muito radical.
Agora, um ano depois de sua criação, o conselho pontifical para a promoção da nova evangelização representa uma referência importante para medir a capacidade do Vaticano de reconquistar alguma influência naquela que foi no passado a “sua” Europa.
CATOLICISMO OCIDENTAL
As coisas estão avançando em termos da organização e mobilização do catolicismo na Europa. Sob a orientação de um bispo dinâmico, Rino Fisichella, ex-reitor da Universidade Lateranense, do Vaticano, foi planejada uma rede de reuniões e iniciativas.
Mas o maior desafio é elaborar um mapa do catolicismo ocidental, identificar suas dificuldades e checar a estratégia instaurada, para avaliar seu êxito. O que a Igreja Católica está enfrentando, na realidade, é principalmente uma dificuldade cultural, não religiosa.
Ela é obrigada a lutar contra o inimigo escorregadio que o Vaticano vê como sendo “a supremacia dos fragmentos”: uma abordagem cultural que tende a isolar e dispersar as sociedades ocidentais, e, por conseguinte, os católicos –uma espécie de “relativismo de base”.
A primeira tarefa que Fisichella determinou para ele mesmo e seu ministério tem sido a de lembrar que o “catolicismo faça-você-mesmo” não á uma solução para a crise da fé. Pelo contrário –representa um perigo grande.
Ele é visto como a resposta errada para se enfrentar os tempos modernos e adaptar-se a eles. A receita católica consiste em seguir os ensinamentos do papa e das conferências episcopais e reunir um “Exército” católico enfraquecido e desorientado pelo secularismo, atingido dolorosamente pelos escândalos de abuso sexual e a concorrência do cristianismo evangélico e do islã.
VISITA
Mas como? A controvérsia com que Bento 16 se deparou em sua visita à Alemanha constitui outro sinal de perigo. A visita foi precedida por um livro sobre a descristianização da Alemanha: “Gesellschaft ohne Gott” (Uma sociedade sem Deus), do sociólogo Andreas Puttman. “A implosão religiosa terá dimensões enormes no longo prazo”, escreve o autor.
Ademais, o jornal do Vaticano “Osservatore Romano” observou em 20 de setembro que hoje há mais muçulmanos praticantes que católicos praticantes na França. Geopolítica e religião não parecem andar de braços dados na Europa. A premissa do Vaticano de que, sem o catolicismo, o Ocidente está fadado a declinar, não é tão largamente compartilhada quanto pode parecer.
Outra fonte de desentendimentos é a desconexão entre o Vaticano e vários governos europeus quanto ao tratamento dado aos escândalos de abuso sexual.
A construção de uma rede católica e do projeto “Missão Metrópole”, previsto para organizar uma data religiosa unificadora em 12 grandes cidades europeias em 2012, parece ter por objetivo mostrar que a força ainda existe: é preciso apenas reunir e reorientar as forças. “Identidade” é a palavra chave.
Mas qual identidade? A Europa de hoje parece ser a pátria não de um catolicismo unido, mas de católicos que pertencem a tribos nacionais diferentes. Isso pode representar uma grande oportunidade ou um obstáculo persistente.
Texto de autoria de Massimo franco para o The Guardian. Tradução de Clara Allain para o Canal Novo Tempo de Notícias.
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