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O Helenismo na Judéia
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15102011
O Helenismo na Judéia
Artigo do Rabi Ken Shapiro:
O Helenismo na Judéia
O helenismo já percorria o oriente antes das conquistas de Alexandre, o contato com os gregos mercadores disseminava a cultura helênica. Com a vitória de Alexandre sobre Dario III, rei da Pérsia em 333 a.C., a expansão cultural grega propagou-se integralmente, sobre outras civilizações. Demonstrando influências significativas dos elementos gregos a outros povos, sobre tudo no Oriente. Costumes, arte, princípios educacionais, filosofia, assim como a língua grega comum foi absolutamente difundida, como veículo de comunicação no Oriente Médio.
Mesmo após a morte de Alexandre o helenismo continuou a ser implantado, durante os cem anos seguintes. Sob controle dos Ptolomeus, a Judéia mesmo sendo uma importante rota de passagem, não despertou interesse dos novos dominadores, ainda assim não ficou imune ao helenismo. Durante o governo de Ptolomeu II (282 a.C. – 46. C.) José um jerosolimita1 do clã dos Tobíadas, que não reconhecia na Torá, as leis que regulamentavam a vida, alcançou o cargo de coletor de impostos.
Os Ptolomeus que governavam Alexandria costumavam respeitar as leis locais, diante dos tributos cobrados aos seus tutelados, oferecendo o cargo a um judeu acostumado a interação estrangeira e íntimo aos costumes gregos proporcionou através dos Tobíadas a implantação do helenismo na Judéia “José evidentemente estava à vontade no mundo grego e conseguiu introduzir as altas finanças dos helenos em Jerusalém, tornando-se o primeiro banqueiro judeu. Muitos de seus correligionários orgulhavam-se de seu sucesso”. (Armstrong, 2000, p.135)
A literatura judaica helenística demonstra o tamanho da influência. A primeira tradução dos textos bíblicos em hebraico para outro idioma foi para o grego. Essa tradução data do terceiro século a.C. e visava atender aos judeus da diáspora que não falavam o hebraico, apenas o grego. Entretanto supostamente essa tradução pode ter ocorrido para satisfazer a curiosidade, quanto ao livro dos judeus por Ptolomeu II, filho de um dos principais generais de Alexandre que governou o Egito e a Palestina. Embora os historiadores Arnaldo Momigliano2 e Elias Bickerman3 não compactuem com a idéia de que a ordem para tradução tenha partido de Ptolomeu II.
A maior comunidade judaica da diáspora, com mais de cem mil judeus, encontrava-se em Alexandria, um importante centro disseminador da cultura helênica, onde os judeus eram parte da população local e falavam a língua grega, a educação e os costumes adotados eram helenos.
Palácio de Herodes - Imagem retirada da réplica da Cidade, localizada no Centro Cultural Jerusalém.
Setenta e dois estudiosos foram reunidos na capital ptolomaica para esta tradução, a Septuaginta. A influência dos textos sagrados em grego foi expressiva, pois se tornou a escritura judaica padrão e ainda foi pertinente na formação do Novo Testamento, o livro do Cristianismo, já que as citações foram extraídas da Septuaginta.
De início o monoteísmo judaico conservador do templo, ofereceu resistência ao sincretismo religioso helenístico. A fusão de costumes gregos, persas, egípcios, mesopotâmicos deflagrou ao judeu de Jerusalém um universo confuso e oposto as suas aspirações estritamente religiosas e morais. Não nos cabe a ingenuidade de camuflar o decurso das influências, visto que os judeus já vinham ao longo de sua trajetória em constante contato com diversas culturas, em conseqüência da diáspora.
Muitos desses judeus viam no helenismo a possibilidade da quebra com o tradicionalismo e eram atraídos pela liberdade grega. Essa aculturação helenística sobre os judeus pode ser notada com grande rigor já na segunda metade do século I a.C. e no primeiro século d.C. Quando o helenismo alcançou a elite de Jerusalém, os saduceus [4] sucumbiram a magnificência da arquitetura helenística e do prazer heleno.
No reinado de Herodes o grande, final do séc. I a.C. quando a Judéia era província romana, Herodes criou cidades helenizadas, com anfiteatro, hipódromo, palácios com grandes colunas. Construções monumentais todas em arquitetura helenística. Jerusalém com uma população de aproximadamente cento e vinte mil habitantes, e que no período das peregrinações religiosas ao Templo chegavam a quinhentos mil, dados descritos por Josefo. Demonstram que mesmo sob forte devoção espiritual, o helenismo permaneceu.
A historiografia grega inventariava fragmentos históricos restritos, esmiuçando a historicidade nas interpretações, ao passo que a historiografia judaica preocupava-se em relatar a história desde a criação do mundo, numa pesquisa ampla. Entretanto historiadores e filósofos judeus foram considerados helenistas. Como o historiador Flávio Josefo (37d.C. – 100d.C.) que acredita-se ter escrito apenas “Guerra Judaica” em aramaico. Sua grande obra, Antiguidades Judaicas um paralela a bíblia hebraica foi escrita em grego, assim como o restante de sua obra.
Filon (20 a.C.- 50 d.C) é outro exemplo clássico de judeu helenista nascido na Judéia, mas domiciliado em Alexandria, tentou integrar a filosofia grega a teologia mosaica, escreveu toda sua obra em língua grega, segundo o historiador americano Nathan Ausubel “ele foi um platônico e pitagórico firme, mais um escritor filosófico do que um escritor de filosofia. Era um poeta escrevendo sobre religião em prosa filosófica. Provavelmente nenhum escritor da era helenística, judeu ou gentio, podia-se comparar com ele quanto ao estilo literário cristalino”. (1989, p.330)
Judeus helenizados provenientes da diáspora e de língua grega, já na primeira metade do séc. I d.C. enfadados com o sistema religiosos tradicional, pelo desprezo a que eram submetidos pelos diferentes partidos políticos religiosos, se enveredavam para o cristianismo primitivo, seguindo os apóstolos cristãos.
A literatura judaica esteve apoiada nas bases da literatura helenística. A utilização da língua grega como veículo de comunicação entre várias cidades helenizadas propiciou a expansão do cristianismo, a influência nos judeus helenísticos é facilmente observada nos registros dos escritos sagrados, um exemplo foi o estilo literário do Novo Testamento que apresenta explicações por parábolas e epístolas.
Embora o helenismo fosse conhecido na antiguidade, como a disseminação da língua grega comum o koiné, o helenismo obteve uma conotação mais ampla no séc. XIX com o historiador alemão Johann Gustav Droyser, segundo Gunneweg “…época moderna da Antiguidade. O helenismo, mais do que uma mescla de culturas, é uma metamorfose dos componentes que nela se encontram… O helenismo era uma moda e, ao mesmo tempo, uma necessidade civilizacional onipresente. Quem almejava riqueza e um modo de vida superior precisava abrir-se a ele e, pelo menos aprender grego”. (2005, pag. 250)
Concluindo o helenismo chegou a Judéia, não nós moldes de outras cidades helenizadas, que de início aceitou a helenização como aculturamento, e até mesmo como doutrina civilizatória. O helenismo teve profundo impacto sobre os judeus da diáspora, que estavam longe do templo em Jerusalém. Mas foi relevante também sobre a Judéia, Cesaréia [5] que foi capital da Judéia estava debruçada sobre o helenismo,
Jerusalém não escapou a um verniz helenístico motivado pelos interesses da elite. O tradicionalismo judaico sacerdotal tentou minimizar essa influência, e até por determinados períodos resistiu, como na revolta macabéia [6].Logo podemos concluir que a Judéia não passou imune ao helenismo, ela sobreviveu com ele, e com todas as suas especificidades religiosas.
[1] Jerosolimita aquele que é natural de Jerusalém
[2] Arnaldo Momigliano (1908 – 1987) Historiador italiano, um judeu conhecido por seu profundo conhecimento historiográfico.
[3] Elias Bickerman (1897 – 1981) conhecido como historiador dos judeus, um dos mais importantes historiadores da antiguidade Greco-romana.
[4] Saduceus era um partido político religioso formado por uma aristocracia sacerdotal, não acreditavam na ressurreição e na sobrevivência da alma.
[5] Cesaréia uma antiga colônia de pescadores que Herodes, a transformou em uma vitrine do mundo Greco-romano.
[6] Revolta liderada por Judas o macabeu em 168 a.C.contra a dominação selêucida de Antioco IV, que queria abstrair a cultura judaica para implantar a cultura helenística.
Bibliografia:
ARMSTRONG, Karen. Jerusalém – Uma cidade, três religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
AUSUBEL, Nathan. Conhecimento Judaico. Rio de Janeiro: A. Koogan, 1989.
GUNNEWEG, Antonius H.J. História de Israel. São Paulo: Edições Loyola, 2005.
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. 11ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
LÉVÊQUE, Pierre. O Mundo Helenístico. Tradução Teresa Meneses. Lisboa: Edições 70, 1987.
MOMIGLIANO, Arnaldo. As raízes clássicas da historiografia moderna. São Paulo: EDUSC, 2004.
MOMIGLIANO, Arnaldo. Os Limites da Helenização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991.
Alexandre e os Judeus
Por Rabi Ken Shapiro indice
Estrelados por astros de primeira grandeza, dois filmes sobre Alexandre o Grande parecem estar a pleno vapor... O que não será mostrado são as fascinantes interações que Alexandre teve com o povo judeu e o complexo relacionamento que se desenvolveu entre os gregos e os judeus e que prepararam o cenário para a história de Chanucá.
O Cenário Histórico
Alexandre, nascido em 356 AEC, era filho de Filipe II (382-336 AEC), Rei da Macedônia no norte da Grécia (e considerado um bárbaro pelas cidades-estado ao sul da Grécia). Filipe criou um exército poderoso, profissional, que uniu à força as cidades-estado gregas fracionadas em um só império.
Desde a mais tenra idade, Alexandre mostrou possuir um enorme talento militar, e foi designado como comandante do exército de seu pai aos 18 anos, Tendo conquistado toda a Grécia, Felipe estava para iniciar uma campanha para invadir o arquiinimigo da Grécia, o Império Persa. Antes que pudesse invadir a Pérsia, Filipe foi assassinado, possivelmente por Alexandre, que então se tornou rei em 336 AEC. Dois anos depois, em 334 AEC, ele cruzou o Helesponto (atualmente, Turquia) com 45.000 homens e invadiu o Império Persa.
Em três batalhas colossais – Granicus, Issus e Gaugamela – que ocorreram entre 334 e 331, Alexandre liderou brilhantemente (e com freqüência imprudentemente) seu exército até a vitória contra os exércitos persas que superavam os seus na proporção de dez para um. Em 331 AEC, o Império Persa estava derrotado, o Imperador Dario estava morto, e Alexandre era inquestionavelmente o Imperador do Mediterrâneo. Sua campanha militar durou 12 anos e levou-o, e ao seu exército, a 15 mil quilômetros de distância, até o Rio Indo, na Índia.
Somente a exaustão de seus homens e a morte precoce de Alexandre aos 32 anos pôs fim à conquista grega do mundo conhecido. Diz-se que quando Alexandre contemplava seu império, chorava porque não havia mais nada a conquistar. Seu vasto domínio não sobreviveu à sua morte, mas fragmentou-se em três grandes blocos centralizados na Grécia, Egito e Síria, controlados por seus antigos generais.
Quando estava no auge, o império de Alexandre ia do Egito até a Índia. Ele construiu seis cidades gregas, todas chamadas Alexandria. (Somente a Alexandria do Egito sobrevive até hoje). Estas cidades, e os gregos que se estabeleceram nelas, levaram a cultura grega ao centro das antigas civilizações da Mesopotâmia.
Os gregos não foram apenas imperialistas militares, mas também culturais. Os soldados e os colonizadores gregos levaram seu estilo de vida – idioma, arte, arquitetura, literatura e filosofia – ao Oriente Médio. Quando a cultura grega se fundiu com a do Oriente médio, criou um híbrido cultural – o Helenismo (Hélade é a palavra grega para Grécia) – cujo impacto seria muito maior e duraria muito mais tempo que o breve período do império de Alexandre. Seja através da batalha campal, arte, arquitetura ou filosofia, a influência do Helenismo sobre o Império Romano, Cristianismo e o Ocidente foi monumental. Porém é a interação entre os judeus e os gregos e o impacto do Helenismo sobre o Judaísmo que queremos examinar mais de perto.
Desvio para Israel
Durante sua campanha militar contra a Pérsia, Alexandre fez um desvio para o sul, conquistando Tiro e depois o Egito, passando pelo local que hoje é Israel. Há uma história fascinante sobre o primeiro encontro de Alexandre com os judeus de Israel, que eram súditos do Império Persa.
A narrativa sobre o primeiro encontro de Alexandre com os judeus está registrada tanto no Talmud (Yoma 69a) quanto no Livro da Antiguidade do historiador judeu Josephus (XI, 321-47). Em ambas as narrativas o Sumo Sacerdote do Templo em Jerusalém, temendo que Alexandre destruísse a cidade, saiu para encontrá-lo antes que ele chegasse à cidade. A narrativa descreve como Alexandre, ao avistar o Sumo Sacerdote, desmontou e inclinou-se perante ele. (Alexandre raramente se curvava para alguém). Na narrativa de Josephus, quando seu general Parmerio lhe pediu para explicar sua atitude, Alexandre respondeu: “Eu não me inclinei perante ele, mas perante aquele D’us que o honrou com o Sumo Sacerdócio; pois eu vi esta mesma pessoa num sonho, com esta mesma roupa.”
Alexandre interpretou a visão do Sumo Sacerdote como um bom presságio e assim, poupou Jerusalém, absorvendo pacificamente a Terra de Israel em eu crescente império. Como um tributo à sua conquista benigna, os Sábios decretaram que o primeiro recém-nascido judeu daquela época receberia o nome de Alexandre – que até hoje permanece sendo um nome judaico. E a data do encontro entre eles, 25 de Tevet, foi declarada um feriado de menor importância.
Judeus e gregos
Assim começou o relacionamento mais complexo e interessante do mundo antigo. Os gregos jamais tinham conhecido um povo como os judeus, e os judeus jamais tinham visto alguém como os gregos. A interação inicial pareceu ser bastante positiva. Para os judeus, os gregos eram uma cultura exótica e nova do Ocidente.
Tinham uma profunda tradição intelectual que produzira filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles (que foi tutor de Alexandre durante dois anos). Seu amor pela sabedoria, ciência, arte e arquitetura os destacava de outras culturas que os judeus conheciam, O idioma grego era considerado tão belo que o Talmud por vezes o chamou de mais bonita de todas as linguagens e os Rabinos decretaram até que um Rolo da Torá fosse escrito em grego.
Os gregos jamais tinham conhecido alguém como os judeus – a única nação monoteísta do mundo, com um conceito ímpar de um D’us bom e infinito que cuida da criação e intervêm na História. Os judeus tinham tradições filosóficas e legais profundas e complexas. Tinham taxas de alfabetização e infra-estrutura de bem-estar social incomparável no mundo antigo. Os gregos ficaram tão fascinados com os judeus que se tornaram o primeiro povo a traduzir a Bíblia em outro idioma quando o Rei Ptolomeu II (cerca de 250 AEC) forçou 70 Rabinos a traduzirem a Bíblia Hebraica em grego (conhecida como Septuaginta, que significa “70” em grego).
Dois impérios gregos surgiram no Oriente Médio depois da morte de Alexandre: os Ptolomeus no Egito e os Selêucidas na Síria. A Terra de Israel era a fronteira entre estes dois impérios em guerra. Inicialmente, os judeus estavam sob o controle dos Ptolomeus, mas depois da Batalha de Panias em 198 AEC, Israel viu-se sob o domínio dos Selêucidas e seu rei, Antiochus.
Enquanto grande parte da camada superior da sociedade judaica, juntamente com o restante da população do mundo Mediterrâneo, tivesse prontamente abraçado a cultura helenista (alguns a ponto de denunciar sua identidade judaica), a grande maioria dos judeus permaneceu fiel ao Judaísmo. Esta “rejeição” ao estilo de vida helenista era visto com grande hostilidade por muitos gregos e considerada uma forma de rebelião. As exóticas diferenças que tinham servido certa vez como fonte de atração entre as duas culturas agora criara a faísca para uma guerra cultural.
Para tornar as coisas piores, Israel era a fronteira entre estes dois impérios gregos, e os judeus, que se recusavam a assimilar, eram vistos como uma população desleal numa parte estrategicamente vital do Império Selêucida.
Seria um equívoco enxergar o conflito como puramente gregos versus judeus. A tensão interna na comunidade judaica contribui muito para o conflito. Grande parte dos judeus helenizados tomaram sobre si a tarefa de “ajudarem” seus irmãos mais tradicionais, “arrastando-os” daquilo que consideravam como crenças primitivas para o mundo “moderno” da cultura grega. (Este padrão tem se repetido muitas vezes na história judaica – na Rússia do século 19 e na Alemanha, para citar apenas alguns exemplos.) Para ajudá-los em seus esforços, estes judeus helenizados pediram a ajuda de seus aliados gregos, chegando a aliciar o próprio rei, Antiochus IV Epifanes, ao conflito.
Na metade do século, Antiochus emitiu um decreto inédito até então naquele mundo antigo multicultural e tolerante no sentido religioso: Ele proibiu a religião de outros povos. Baniu o ensinamento e prática do Judaísmo. O Livro dos Macabeus (provavelmente escrito por um cronista judeu no início do Primeiro Século AEC) assim o descreve:
“Não muito depois disso, o rei enviou um senador ateniense para obrigar os judeus a abandonarem as leis de seus antepassados e deixarem de viver pelas leis de D’us, e também a profanarem o Templo em Jerusalém e chamá-lo de Templo do Zeus Olímpico.” (Macabeus II 6:1-2).
Brutais perseguições gregas aos judeus desencadearam a primeira guerra religiosa/ideológica da História – a revolta dos Macabeus. O levante foi liderado pela família sacerdotal de Matitiyáhu e seus cinco filhos, dos quais o mais conhecido era Judah. Contra todas as expectativas, o exército de guerrilha dos Macabeus derrotou os exércitos gregos, muito maiores, mais bem equipados e profissionais. Após três anos de lutas, Jerusalém foi libertada. O Templo, que tinha sido profanado, foi purificado e rededicado a D’us. Foi durante este período que ocorreu o milagre de Chanucá. Uma pequena ânfora de azeite usada pelo Sumo Sacerdote para acender a Menorá no Templo, que teria sido suficiente para apenas um dia, ardeu milagrosamente por oito dias.
O conflito se arrastou por diversos anos ainda, custando a vida de muitos judeus, incluindo Judah Macabeu e vários de seus irmãos, Por fim, os gregos foram derrotados e o Judaísmo sobreviveu.
Alguns argumentam que um milagre ainda maior que o do azeite foi a vitória militar dos judeus sobre o Império Grego. Porém a luz de Chanucá é o símbolo da verdadeira vitória – a sobrevivência da luz espiritual do Judaísmo. A milagrosa sobrevivência do Judaísmo permitiu que os judeus tivessem um impacto muito maior sobre o mundo que o tamanho minúsculo do povo judeu, dando ao mundo o conceito de um único D’us e os valores da santidade da vida, justiça, paz e responsabilidade social, que são os alicerces morais e espirituais da civilização ocidental.Rabi Ken Shapiro é originário de New Rochelle, NY. Diplomou-se no Vassar College com BA em Russo e Literatura, e fez estudos de pós-graduação no Instituto Pushkin em Moscou. Teve sua ordenação rabínica na Yeshivá Aish HaTorah em Jerusalém, e Mestrado em História no Vermont College da Universidade Norwich. Rabi Spiro é também guia de turismo licenciado pelo Ministério do Turismo de Israel. Mora em Jerusalém com a esposa e cinco filhos, onde trabalha como palestrante e pesquisador no programa de divulgaç∫ao da Aish HaTorah.
O Helenismo na Judéia
O helenismo já percorria o oriente antes das conquistas de Alexandre, o contato com os gregos mercadores disseminava a cultura helênica. Com a vitória de Alexandre sobre Dario III, rei da Pérsia em 333 a.C., a expansão cultural grega propagou-se integralmente, sobre outras civilizações. Demonstrando influências significativas dos elementos gregos a outros povos, sobre tudo no Oriente. Costumes, arte, princípios educacionais, filosofia, assim como a língua grega comum foi absolutamente difundida, como veículo de comunicação no Oriente Médio.
Mesmo após a morte de Alexandre o helenismo continuou a ser implantado, durante os cem anos seguintes. Sob controle dos Ptolomeus, a Judéia mesmo sendo uma importante rota de passagem, não despertou interesse dos novos dominadores, ainda assim não ficou imune ao helenismo. Durante o governo de Ptolomeu II (282 a.C. – 46. C.) José um jerosolimita1 do clã dos Tobíadas, que não reconhecia na Torá, as leis que regulamentavam a vida, alcançou o cargo de coletor de impostos.
Os Ptolomeus que governavam Alexandria costumavam respeitar as leis locais, diante dos tributos cobrados aos seus tutelados, oferecendo o cargo a um judeu acostumado a interação estrangeira e íntimo aos costumes gregos proporcionou através dos Tobíadas a implantação do helenismo na Judéia “José evidentemente estava à vontade no mundo grego e conseguiu introduzir as altas finanças dos helenos em Jerusalém, tornando-se o primeiro banqueiro judeu. Muitos de seus correligionários orgulhavam-se de seu sucesso”. (Armstrong, 2000, p.135)
A literatura judaica helenística demonstra o tamanho da influência. A primeira tradução dos textos bíblicos em hebraico para outro idioma foi para o grego. Essa tradução data do terceiro século a.C. e visava atender aos judeus da diáspora que não falavam o hebraico, apenas o grego. Entretanto supostamente essa tradução pode ter ocorrido para satisfazer a curiosidade, quanto ao livro dos judeus por Ptolomeu II, filho de um dos principais generais de Alexandre que governou o Egito e a Palestina. Embora os historiadores Arnaldo Momigliano2 e Elias Bickerman3 não compactuem com a idéia de que a ordem para tradução tenha partido de Ptolomeu II.
A maior comunidade judaica da diáspora, com mais de cem mil judeus, encontrava-se em Alexandria, um importante centro disseminador da cultura helênica, onde os judeus eram parte da população local e falavam a língua grega, a educação e os costumes adotados eram helenos.
Palácio de Herodes - Imagem retirada da réplica da Cidade, localizada no Centro Cultural Jerusalém.
Setenta e dois estudiosos foram reunidos na capital ptolomaica para esta tradução, a Septuaginta. A influência dos textos sagrados em grego foi expressiva, pois se tornou a escritura judaica padrão e ainda foi pertinente na formação do Novo Testamento, o livro do Cristianismo, já que as citações foram extraídas da Septuaginta.
De início o monoteísmo judaico conservador do templo, ofereceu resistência ao sincretismo religioso helenístico. A fusão de costumes gregos, persas, egípcios, mesopotâmicos deflagrou ao judeu de Jerusalém um universo confuso e oposto as suas aspirações estritamente religiosas e morais. Não nos cabe a ingenuidade de camuflar o decurso das influências, visto que os judeus já vinham ao longo de sua trajetória em constante contato com diversas culturas, em conseqüência da diáspora.
Muitos desses judeus viam no helenismo a possibilidade da quebra com o tradicionalismo e eram atraídos pela liberdade grega. Essa aculturação helenística sobre os judeus pode ser notada com grande rigor já na segunda metade do século I a.C. e no primeiro século d.C. Quando o helenismo alcançou a elite de Jerusalém, os saduceus [4] sucumbiram a magnificência da arquitetura helenística e do prazer heleno.
No reinado de Herodes o grande, final do séc. I a.C. quando a Judéia era província romana, Herodes criou cidades helenizadas, com anfiteatro, hipódromo, palácios com grandes colunas. Construções monumentais todas em arquitetura helenística. Jerusalém com uma população de aproximadamente cento e vinte mil habitantes, e que no período das peregrinações religiosas ao Templo chegavam a quinhentos mil, dados descritos por Josefo. Demonstram que mesmo sob forte devoção espiritual, o helenismo permaneceu.
A historiografia grega inventariava fragmentos históricos restritos, esmiuçando a historicidade nas interpretações, ao passo que a historiografia judaica preocupava-se em relatar a história desde a criação do mundo, numa pesquisa ampla. Entretanto historiadores e filósofos judeus foram considerados helenistas. Como o historiador Flávio Josefo (37d.C. – 100d.C.) que acredita-se ter escrito apenas “Guerra Judaica” em aramaico. Sua grande obra, Antiguidades Judaicas um paralela a bíblia hebraica foi escrita em grego, assim como o restante de sua obra.
Filon (20 a.C.- 50 d.C) é outro exemplo clássico de judeu helenista nascido na Judéia, mas domiciliado em Alexandria, tentou integrar a filosofia grega a teologia mosaica, escreveu toda sua obra em língua grega, segundo o historiador americano Nathan Ausubel “ele foi um platônico e pitagórico firme, mais um escritor filosófico do que um escritor de filosofia. Era um poeta escrevendo sobre religião em prosa filosófica. Provavelmente nenhum escritor da era helenística, judeu ou gentio, podia-se comparar com ele quanto ao estilo literário cristalino”. (1989, p.330)
Judeus helenizados provenientes da diáspora e de língua grega, já na primeira metade do séc. I d.C. enfadados com o sistema religiosos tradicional, pelo desprezo a que eram submetidos pelos diferentes partidos políticos religiosos, se enveredavam para o cristianismo primitivo, seguindo os apóstolos cristãos.
A literatura judaica esteve apoiada nas bases da literatura helenística. A utilização da língua grega como veículo de comunicação entre várias cidades helenizadas propiciou a expansão do cristianismo, a influência nos judeus helenísticos é facilmente observada nos registros dos escritos sagrados, um exemplo foi o estilo literário do Novo Testamento que apresenta explicações por parábolas e epístolas.
Embora o helenismo fosse conhecido na antiguidade, como a disseminação da língua grega comum o koiné, o helenismo obteve uma conotação mais ampla no séc. XIX com o historiador alemão Johann Gustav Droyser, segundo Gunneweg “…época moderna da Antiguidade. O helenismo, mais do que uma mescla de culturas, é uma metamorfose dos componentes que nela se encontram… O helenismo era uma moda e, ao mesmo tempo, uma necessidade civilizacional onipresente. Quem almejava riqueza e um modo de vida superior precisava abrir-se a ele e, pelo menos aprender grego”. (2005, pag. 250)
Concluindo o helenismo chegou a Judéia, não nós moldes de outras cidades helenizadas, que de início aceitou a helenização como aculturamento, e até mesmo como doutrina civilizatória. O helenismo teve profundo impacto sobre os judeus da diáspora, que estavam longe do templo em Jerusalém. Mas foi relevante também sobre a Judéia, Cesaréia [5] que foi capital da Judéia estava debruçada sobre o helenismo,
Jerusalém não escapou a um verniz helenístico motivado pelos interesses da elite. O tradicionalismo judaico sacerdotal tentou minimizar essa influência, e até por determinados períodos resistiu, como na revolta macabéia [6].Logo podemos concluir que a Judéia não passou imune ao helenismo, ela sobreviveu com ele, e com todas as suas especificidades religiosas.
[1] Jerosolimita aquele que é natural de Jerusalém
[2] Arnaldo Momigliano (1908 – 1987) Historiador italiano, um judeu conhecido por seu profundo conhecimento historiográfico.
[3] Elias Bickerman (1897 – 1981) conhecido como historiador dos judeus, um dos mais importantes historiadores da antiguidade Greco-romana.
[4] Saduceus era um partido político religioso formado por uma aristocracia sacerdotal, não acreditavam na ressurreição e na sobrevivência da alma.
[5] Cesaréia uma antiga colônia de pescadores que Herodes, a transformou em uma vitrine do mundo Greco-romano.
[6] Revolta liderada por Judas o macabeu em 168 a.C.contra a dominação selêucida de Antioco IV, que queria abstrair a cultura judaica para implantar a cultura helenística.
Bibliografia:
ARMSTRONG, Karen. Jerusalém – Uma cidade, três religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
AUSUBEL, Nathan. Conhecimento Judaico. Rio de Janeiro: A. Koogan, 1989.
GUNNEWEG, Antonius H.J. História de Israel. São Paulo: Edições Loyola, 2005.
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. 11ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
LÉVÊQUE, Pierre. O Mundo Helenístico. Tradução Teresa Meneses. Lisboa: Edições 70, 1987.
MOMIGLIANO, Arnaldo. As raízes clássicas da historiografia moderna. São Paulo: EDUSC, 2004.
MOMIGLIANO, Arnaldo. Os Limites da Helenização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991.
Eduardo- Mensagens : 5997
Idade : 54
Inscrição : 08/05/2010
O Helenismo na Judéia :: Comentários
A Helenização de Israel
Após a morte de Alexandre foi Israel governado por dois regimes sucessivos. O Império Ptolemaico no sul, tendo o Egito como centro, que governou Israel de 301 a.C. a 198 a.C.. O Império Selêucida no norte, com base na Babilônia, trouxe a Israel um helenismo mais assertivo. Os reis Selêucidas, e especialmente Antíoco IV Epífanes (175-164 a.C.), implantam um acelerado processo de helenização dos vários povos e cidades da região. Desde o início houve uma profunda reciprocidade entre os mundos judeu e pagão. O judaísmo foi doador e receptor de novas disciplinas. Forma-se um forte partido pró-helênico, que pretende incrementar o avanço civilizatório grego e, por isso, está em luta com os judeus tradicionais e fiéis à Lei. A ocasião favorável aos partidários da helenização surge quando Onias III, o conservador sumo sacerdote, está em Antioquia cuidando dos interesses de seu povo e Antíoco IV assume o poder.
"Verificou-se desse modo, tal ardor de helenismo e tão ampla difusão de costumes estrangeiros (...) que os próprios sacerdotes já não se mostravam interessados nas liturgias do altar" (2Mc 4,13a.14a).
Um irmão de Onias III, Jasão (Joshua), oferece ao rei alta soma em dinheiro e um rápido programa de helenização dos judeus em troca do cargo de sumo sacerdote.
I Mc 1,11-13 comenta o caso do seguinte modo:
"Por esses dias apareceu em Israel uma geração de perversos (paránomoi) que seduziram a muitos com estas palavras: 'Vamos, façamos aliança com as nações circunvizinhas, pois muitos males caíram sobre nós desde que delas nos separamos'. Agradou-lhes tal modo de falar. E alguns de entre o povo apressaram-se em ir ter com o rei, o qual lhes deu autorização para observarem os preceitos (dikaiômata) dos gentios".
O termo paránomoi indica, segundo Dt 13,14, pessoas que fazem propostas de apostasia da Lei. Daí que "fazer aliança com as nações" indica renegar a Lei e seguir costumes gentios.
Também o dikaiômata tôn éthnôn (preceitos dos gentios) é significativo. Dikaíôma é usado pelos LXX para traduzir o hebraico derek ou mishpat (caminho, direito) significando obrigações legais. Observar os preceitos dos gentios significa, portanto, abandonar as normas da Lei e seguir leis gentias [Cf. SAULNIER, C., Histoire d'Israel III, pp. 110-111].
II Mc 4,7-10 descreve do seguinte modo os fatos:
"Entrementes, tendo passado Selêuco à outra vida e assumindo o reino Antíoco, cognominado Epífanes, Jasão, irmão de Onias, começou a manobrar para obter o cargo de sumo sacerdote. Durante uma audiência, ele prometeu ao rei trezentos e sessenta talentos de prata e ainda, a serem deduzidos de uma renda não discriminada, mais oitenta talentos. Além disso, empenhava-se em subscrever-lhe outros cento e cinqüenta talentos[28], se lhe fosse dada a permissão, pela autoridade real, de construir uma praça de esportes e uma efebia, bem como de fazer o levantamento dos antioquenos de Jerusalém. Obtido, assim, o consentimento do rei, ele, tão logo assumiu o poder, começou a fazer passar os seus irmãos de raça para o estilo de vida dos gregos".
Os judeus de Alexandria criaram uma cultura original, marcada por características judaicas e helenísticas, que influenciou a filosofia do mundo antigo e, em particular, do cristianismo primitivo. A idéia de uma alma separada do corpo, por exemplo, não se encontra no Antigo Testamento e é uma grande novidade trazida pelos apocalípticos (que se servem com mais liberalidade de conceitos estrangeiros); "alma" como essência pre-existente à vida humana surge em 2En 24:4-5, e é aparentemente a doutrina platônica que está presente no Eclo e em 4Mc. Os autores dessas considerações eram, provavelmente, judeus alexandrinos, que seguiam a ortodoxia helenística da região, distinta da Palestina. Em 4Esd encontramos a doutrina oriental relativa à formação do homem a partir dos quatro elementos (ar, água, terra e fogo) já citada por Fílon. Há uma distinção essencial entre os enfoques judaico e grego quanto à natureza humana - para os judeus, ela é una; para os gregos, há um claro dualismo corpo/alma. As referências da apocalíptica judaica a esse tipo de ensinamento são escassas, mas não podem ser ignoradas, introduzindo assim mais um elemento complicador para o estudo das relações Grécia / mundo judaico. [David S. Russell. The Method and Message of Jewish Apocalyptic. Philadelphia: The Westminster Press, 1964. Pp.147-148 e 153]
Origem e história do modelo antropológico binário (dualista) separando alma e corpo nada tem a ver com a revelação bíblica, mas, sim, com uma religião pagã do século VII ªC , a assim chamada "Religiã Órfica da Trácia", na Grécia antiga. A partir desta origem, a concepção binária ou dualista do homem passou por toda uma história de evolução e adaptação, até finalmente se fixar também no cristianismo.
Desde os primeiros séculos da era cristã, essa concepção se tornou o modelo dominante no cristianismo, sustentado pela filosofia do neoplatonismo e pela ideologia religiosa da gnose e de seu dualismo cosmológico.
As várias etapas desta história de absorção de concepções dualistas estão representadas no esquema:
É importante frisar que, a partir do século IV d.C, sobretudo depois de Agostinho, a compreensão cristã do destino humano após a morte baseia-se, cada vez mais, no modelo dualista helênico. Este modelo antropológico já era o dominante dentro do império greco-romano antes da era cristã, e depois do desaparecimento deste império, continuou dentro do pensamento cristão e permanece até os dias de hoje. Ele se fixou de tal maneira, que muitos cristãos estão convencidos de que estamos diante de um fato de revelação divina. Pensam que a base do modelo antropológico dualista seria a própria Bíblia.
Contra tal idéia é importante lembrar que o modelo antropológico tem suas raízes numa cultura alheia à da Bíblia. Ele entrou no cristianismo não por ser revelação divina, mas por razões culturais e ideológicas, ligadas a todo um processo de aculturaçao do cristianismo dos primeiros séculos.
O modelo dualista-binário do homem, conforme o qual este homem é composto de corpo e alma ( e a alma pode viver independente do corpo), não tem a sua raiz na Bíblia, mas na cultura pagã do helenismo.
O termo "alma" aparece centenas de vezes nas traduções do Antigo e Novo Testamento. Entretanto, com exceção dos poucos textos do judaísmo tardio, claramente influenciados pelo helenismo, Quando a Bíblia fala da alma, nunca quer designar com esta palavra, um princípio espiritual autônomo que poderia ser separado do corpo. Dentro de uma visão integrativa, os textos bíblicos apresentam o homem sempre como unidade indivisível, para quem a alma garante a potência de ser para o absoluto.
Os textos bíblicos em que se faz uma justaposição entre corpo e alma, foram, no passado, muitas vezes interpretados de maneira dualista e a partir de um enfoque da filosofia helênica. Isso, no entanto, é errado.
Exemplo típico: um trecho do Evangelho de Mateus, onde uma interpretação dualista falsificaria totalmente aquilo que a Bíblia quer dizer. Neste e em todos os outros textos nos quais aparecem as noções corpo e alma, a Bíblia não faz uma concepção binária do homem. Ela não separa corpo e alma como dois princípios opostos: ela, pelo contrário, já se baseia numa visão muito "moderna" da pessoa humana, compreendendo esta pessoa como um ser único, cuja integridade, exatamente por causa da sua alma, nunca poderá ser destruída e dividida.
"Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode destruir a alma e o corpo na geena" (Mt 10, 28).
O muito prestigiado manual de exegese "Regensburger Neues Testament" (1986, p 228) deixa transparecer isso de maneira bem clara:
"O texto não pressupõe uma alma sem corpo que sobrevive na morte, mas esclarece que Deus pode manter a vida inteira do homem também além da morte. (Psique não significa "alma" no sentido greco-helênico, mas a energia vital no homem.)"
QUESTIONÁRIO
Quando começou a história de Chanucá?
A história de Chanucá começou 169 anos antes de Yehudá, o Macabeu, quando Alexandre, o Grande, conquistou a Terra Santa e grande parte do mundo colonizado, em 332 A.E.C. A conquista de Alexandre introduziu o mundo antigo - inclusive Êrets Yisrael - num contexto cultural e político que antes não existia.
Que mudanças ocorreram no mundo?
O mundo antigo era composto por tribos, civilizações e religiões que não se misturavam umas com as outras. As conquistas dos babilônios e dos persas eram apenas políticas, sem influenciar a cultura e a religião dos conquistados. A chegada de Alexandre provocou uma alteração na base da cultura mundial, trazendo consigo a cultura helenista. Alexandre almejou uma cultura universal. Por exemplo, contam que organizou em Susa (Shushan) uma cerimônia de casamento para dez mil soldados macedônios com dez mil noivas persas. Ele mesmo casou-se com a filha de Dario (Daryávesh), o último rei persa. Seu objetivo era claro - a fusão das culturas, tanto social como étnica. Queria criar unidades socioculturais que constituíssem a base de um império estável.
Esse plano obteve sucesso?
Em muitos aspectos, sim. Após a morte de Alexandre, em 300 A.E.C., o reino foi dividido entre seus três generais, dois dos quais receberam o Império Oriental: Ptolomeu (Talmai) passou a governar o Egito e Seleuco passou a governar Síria, Iraque, Pérsia, Afeganistão, Paquistão e partes da Índia. A Terra de Israel era o ponto de confronto entre os dois governos e passou de um para o outro várias vezes. A maior parte dos primeiros cem anos ficou sob o domínio de Ptolomeu. No ano 200 A.E.C., passou para as mãos de Seleuco, sob cujo governo os judeus vieram a se rebelar 37 anos mais tarde. Porém, a cultura helenista era a dominante em ambos os impérios e continuou a infiltrar-se e a consolidar-se como a cultura única, universal, de todo o mundo.
O que é exatamente a cultura helenista?
Temos que entender a mensagem helenista. Em princípio, era a fusão da cultura grega com a oriental. Porém, na prática, a cultura helenista assimilou dentro de si as culturas orientais e se transformou numa cultura universal. Em Atenas, Alexandria, Ashkelon, Aco, Shushan e Damasco encontravam-se pessoas que falavam o mesmo idioma - o grego - pensavam de maneira semelhante, impregnadas de um contexto cultural comum e serviam aos mesmos ídolos.
Esta foi a primeira vez na História que se desenvolveu uma cultura universal?
De fato, a cultura helenista derrubou as separações tribais, amainou as diferenças entre os povos e cultivou uma cultura geral. Sua influência era tão grande que fez surgir uma cisão entre os gregos (termo geral para os helenistas) e os bárbaros (todo o resto). Quem falava grego, era considerado culto; se não, era considerado bárbaro.
A tolerância da cultura helenista se expressava no fato de não investigar sua origem étnica ou religiosa. Até o
judeu podia ser um grego perfeito. Um aluno de Aristóteles relatou que, certo dia, o filósofo encontrou um judeu e exclamou: "Esse judeu não é apenas grego em sua língua, mas também em sua alma." Era um mundo aberto, atraente e tolerante. Ninguém lhe perguntaria quem foi seu avô.
Todos os povos do Oriente Médio adotaram o helenismo?
Menos os judeus. Todos os povos do Oriente Médio assimilaram integralmente o helenismo numa única geração. Os tsidonim, por exemplo, fundaram uma cidade grega chamada Marêsha, ao lado de Bet Guvrin, onde encontramos uma tumba com os nomes dos enterrados e um fenômeno interessante: os pais tinham nomes orientais, enquanto os filhos já tinham nomes gregos. Toda a Terra de Israel ficou repleta de "pólis" - cidades gregas. Bet Shean transformou-se em Skitópolis; toda a planície litorânea tornou-se grega.
Do outro lado do Rio Jordão, havia uma série de cidades gregas. Somente um bolsão, formado por Jerusalém e Judá (Yehudá), continuou a ser habitado por um pequeno grupo que não se rendeu à torrente desta cultura estranha.
Havia helenismo?
A helenização se procedeu gradualmente, corroendo, de fato, a não capitulação de Yehudá. Convém observar como foi este processo, usando documentos históricos. No lado ocidental do Rio Jordão vivia um judeu chamado Tuvyá, cunhado do Sumo Sacerdote.
Encontramos um papiro com uma carta que Tuvyá enviou ao Ministro das Finanças do Egito. Iniciava assim: "Se todos seus assuntos vão bem e com você tudo está de acordo, estou feliz; um grande louvor aos deuses." Isto foi escrito pelo cunhado do Sumo Sacerdote! Pode-se até dizer que era o texto inicial padrão de uma carta oficial da época. Porém, um judeu que crê jamais escreveria um texto contrário à sua fé no D'us único. Veremos adiante como uma pequena concessão se transforma numa grande transgressão.
O filho desse Tuvyá, Yossef, tornou-se coletor de impostos de Israel. Numa de suas viagens a Alexandria desejou casar-se com uma dançarina egípcia e pediu a seu irmão que fosse o intermediador do casamento, porém advertiu-o: "Não revele a ninguém." Ou seja, como judeu, sabia que era proibido, pediu que o fato não fosse revelado, mas já transpusera a barreira, a cerca, entre Israel e os povos. Seu irmão, tentando impedir a transgressão, casou-o com sua filha e tiveram um filho, Hircano (Horkenus), que se tornou um dos líderes do partido grego em Jerusalém. Aqui vemos um processo que durou três gerações: iniciou-se com a escrita de um avô e terminou com um neto de nome grego que negou seu judaísmo.
E tudo isso ocorreu sem qualquer coação por parte dos gregos?
A primeira fase foi tranqüila para os judeus. Alexandre preservou a autonomia religiosa, usufruída pelos judeus na Terra de Israel durante os duzentos anos do governo persa. Ptolomeu, o rei grego do Egito, traduziu a Torá ao grego, o que prova que os helenistas sabiam valorizar a Torá. No ano 200 A.E.C., Antíoco III, pai de Antíoco Epifânio (o Malvado), conquistou a Terra de Israel e proclamou que a constituição vigente seria a Lei da Torá. Os judeus ficaram felizes. Aparentemente, poderiam esperar por um relacionamento positivo. Porém, em 30 anos, a situação deteriorou-se por completo.
Por quê?
Aqui a história é principalmente política. Os romanos começaram a se aproximar do Oriente Médio. Quando Antíoco Epifânio subiu ao poder, em 175 A.E.C., seu grande sonho era unir todo o Oriente Médio contra os romanos. A homogeneidade religiosa e cultural já fora alcançada, com exceção de um pequeno grupo, que se encontrava num ponto estratégico e mantinha-se isolado com seus costumes. Este povo o preocupava - um grupo diferente e centralizado que pôs em risco a unicidade governamental. Não era possível saber o que ocorreria lá. Antíoco tentou, numa primeira etapa, erguer um governo em Jerusalém que lhe fosse conveniente.
Governo judaico?
Na prática, o líder do povo judeu era o Sumo Sacerdote. Antíoco depôs o Sumo Sacerdote Chonyo e em seu lugar nomeou Jasão. Isso ainda era tolerável, pois Jasão era irmão de Chonyo. Contudo, Jasão transformou Jerusalém em "pólis". Introduziu instituições gregas e um ginásio no qual jovens competiam despidos em jogos atléticos. Não impôs a cultura grega sobre o povo, mas pregou o entrelaçamento da Torá com a sabedoria grega. Jasão criou um clima de helenismo, que influiu até os sacerdotes do Templo. Conta-se sobre sacerdotes que preferiam assistir aos jogos no ginásio a fazer o serviço sagrado do Templo.
O helenismo começa a alçar vôo?
Os helenistas existiam antes disso, mas na época de Jasão ganharam força. O partido dos helenistas incluía, principalmente, a aristocracia judaica de Jerusalém. Interessante notar que os helenistas concentravam-se essencialmente em Jerusalém, enquanto nas aldeias de Yehudá quase não se ouvia sobre suas atividades. A maioria do povo permaneceu fiel à tradição de seus antepassados. Somente a classe alta adotou a cultura grega, pois esta servia como passaporte social e econômico mundo afora.
Antíoco, num esforço de unificar o mundo oriental contra os romanos, planejou invadir o Egito e anexá-lo a seu império. Necessitava de dinheiro para agilizar seu plano. O homem de confiança de Jasão era um judeu, Menelau, helenista mais extremista que o próprio Jasão. Menelau propôs a Antíoco nomeá-lo Sumo Sacerdote no lugar de Jasão em troca dos tesouros do Bet Hamicdash.
Antíoco demitiu Jasão e empossou Menelau. Tinha um bom motivo. Às vésperas das campanhas militares contra o Egito, precisava assegurar a tranqüilidade em Yehudá e Menelau faria este serviço.
Em 168 A.E.C., Antíoco chegou aos portões de Alexandria. Exatamente nesta época, os romanos derrotaram o Império Macedônio na Grécia e enviaram um cônsul a Antíoco, no Egito, com um "conselho amigável": retornar à Síria. Antíoco tentou ganhar tempo e respondeu ao cônsul: "Pensarei no assunto." O cônsul romano desenhou um círculo no chão em volta dos pés de Antíoco e disse: "Pense aqui, dentro deste círculo." A honra de Antíoco fora rebaixada, mas o medo do poderio de Roma era mais forte. Reuniu seu exército e retornou para casa. Os judeus da Terra de Israel, sabendo de sua retirada, supuseram que foi derrotado na batalha e começaram as desordens.
Qual era o quadro para as desordens?
Havia uma efervescência, uma comoção pela intromissão nos serviços sagrados e pela introdução da cultura grega em Jerusalém. Interessante que também Jasão, o helenizado, que fora afastado por Menelau, fazia parte dos baderneiros. Ele achava que Menelau estava passando dos limites; provavelmente sua humilhação pessoal influenciava seus motivos.
Como reagiram os gregos?
Antíoco reagiu com mão de ferro. Enviou uma guarnição a Jerusalém para oprimir os tumultos. Seu próximo passo foi esmagar a fé judaica, o que evitou durante anos.
O que o levou a fazer isso?
Nas pesquisas, os decretos de Antíoco parecem um enigma. Não agiu assim em outros lugares. É importante lembrar que o mundo helenista não era intolerante. Há que se sustentar que Antíoco entendia - ou seus conselheiros ajudavam-no a entender - que, enquanto os judeus estivessem ligados ao judaísmo, permaneceriam um grupo diferente e isolado, o que ele receava. Também a natureza de seus decretos testemunha que não lhe interessava puramente a conversão dos judeus, i.e., salvar suas almas, por assim dizer. Antíoco via na fé judaica um perigo para seu governo e por isso a oprimiu.
Quais foram seus passos?
Introduziu um culto idólatra no Templo Sagrado; o serviço Divino foi interrompido; a estátua de Zeus foi erigida no Bet Hamicdash e sacrifícios impuros eram oferecidos. A intenção era destruir o culto judaico.
Menelau fugiu para Esparta. O governo anunciou a proibição do cumprimento de determinadas mitsvot. Os oficiais do governo - enviados para fazer vigorar as leis pagãs - impuseram aos habitantes que se curvassem perante os ídolos, comessem porco e participassem dos ritos gregos. Estes decretos foram a centelha que acendeu o fogo da rebelião com todo seu ímpeto.
E Modiin?
Modiin era uma cidade de sacerdotes e era importante ao governo obter sucesso justamente ali, para que servisse de exemplo. A família de Matityáhu, o Chashmonai, era da dinastia de Yehoyariv, uma das ordens mais respeitadas e distintas de sacerdotes. Era a família que os gregos queriam destruir. Trouxeram um judeu helenista que tentou ofertar um porco a um ídolo grego. Matityáhu se levantou e disse a seus filhos: "Vamos vingar a honra de D'us, como vingou nosso antepassado Pinechás, filho de El'azar, o sacerdote." Por conta dos decretos do soberano, tomou posição contrária. Percebeu que chegara a hora da verdade. Não havia mais lugar para conciliações. Os gregos não deixaram aos judeus outra opção.
Como se conduziu a revolta?
Usou-se uma clássica tática de guerrilha: atacar e bater em retirada. Yehudá, o Macabeu, aproveitou muito bem as duas condições necessárias para uma guerrilha bem-sucedida: locais de refúgio e população simpatizante. Escolheu conduzir a guerra nas montanhas e não na planície, pois o exército grego baseava-se em tática de falanges: destacamento compacto de soldados de infantaria numa formação sólida e intransponível. Com este tipo de formação é possível se proteger num combate somente em áreas planas, não escalando montanhas.
Os ágeis soldados de Yehudá atacavam os inimigos de surpresa e desapareciam. Assim, por exemplo, foi a batalha de Amaús: o exército de Geórgias e Nicanor acampou na planície de Amaús. Contava com 40 mil homens de infantaria e sete mil cavaleiros. Yehudá e seus homens aguardavam, acampados no mirante, em frente a Jerusalém, com apenas três mil homens. Geórgias dirigiu, numa tentativa, metade de seu exército para empreender um ataque noturno surpresa sobre o acampamento de Yehudá. Este, que conhecia as intenções dos gregos, retirou-se com todo seu acampamento. Saiu com seus homens para um ataque noturno de surpresa sobre o resto das tropas gregas, que ficaram no acampamento em Amaús. Depois que os afugentou, reuniu seus homens para enfrentar Geórgias.
Entrementes, Geórgias, que chegou ao campo abandonado dos judeus, deu meia-volta e tentou retornar a seu acampamento. Qual não foi seu espanto diante das colunas de fumaça que subiam de sua base e ao se deparar com o exército de Yehudá pronto a atacá-lo! Seus soldados atrapalharam-se e, perplexos, espalharam-se para todos os cantos.
Yehudá tinha uma estratégia militar global?
Seu objetivo era chegar a Jerusalém e purificar o Templo. Precisava impedir que outros exércitos gregos se reunissem com o que se encontrava em Jerusalém, no forte de Chacra. Em todas suas grandes batalhas, estava impedindo os exércitos gregos de chegar em Jerusalém. Depois de derrotar os exércitos enviados, subiu a Jerusalém e lá sitiou o forte de Chacra, que enfraqueceu por falta de reforço.
O milagre de sua vitória se expressa também pelo erro básico dos gregos: subestimaram a força de Yehudá. Consideravam-no um inseto incômodo, necessitando ser esmagado, mas não como uma ameaça militar concreta.
Os gregos perceberam seu erro posteriormente. Dois anos depois que os Chashmonaim purificaram o Templo, enviaram um grande exército que chegou aos portões de Jerusalém e quase a conquistou. Se obtivessem êxito, a vitória de Chanucá seria enquadrada apenas como um episódio passageiro. Mas justamente então, eclodiu uma rebelião interna na Síria e o general precisou retornar para lá. Podemos afirmar que este milagre de Chanucá era tão grande quanto aquele que conhecemos.
Toda a rebelião foi um passo lógico?
A revolução iniciou-se como uma luta desesperada, depois que puseram os judeus contra a parede. A causa era somente religiosa, sem finalidades políticas. Porém, quando se iniciou esta marcha, constatou-se que não dava para alcançar a independência religiosa e parar por aí. Sem âmbito político, a religião também ficou em perigo. Fato é que os gregos continuaram tentando acabar com a revolução mesmo após a morte, em batalha, de Yehudá. Somente em 141 A.E.C., na época de Shim'on, foi alcançada a liberdade total e fundado um estado judeu independente. O percurso dos Chashmonaim foi de três estágios: primeiro, a liberdade religiosa, depois, a política e, por fim, a de toda a Terra de Israel, nos dias de Alexandre Yanai.
Qual a lição atual que podemos extrair da história de Chanucá?
Não há dúvida que também hoje enfrentamos uma cultura ocidental. Ela atrai; é fascinante. É um espírito multinacional, mas na verdade é tão perigosa para a sobrevivência do judaísmo como o foi então. Hoje é chamada de cultura ocidental. Ela se traduz, por exemplo, em programas americanos a que assistimos na televisão e na música ocidental. Pode-se perguntar: que mal há nisso? Não há símbolos religiosos proibidos! É só cultura! Mas observe quantas centenas de milhares de israelenses já se mudaram para os Estados Unidos. E há aqueles em perigo iminente de assimilação. Ou seja, a abertura do mundo ocidental pode, de uma certa maneira, colocar-nos em perigo.
Aplicando uma analogia inversa, vejamos o que ocorreu com nossos irmãos na Rússia. O que os salvou? Foi justamente a não-abertura do governo russo. O anti-semitismo russo, que não há no Ocidente, resguardou seu judaísmo - talvez até mesmo contra sua própria vontade. É muito triste dizer isso, mas é a realidade.
O senhor está afirmando que, não fosse a coerção na época dos Chashmonaim, a cultura helenista teria dizimado de maneira elegante e perigosa o povo judeu muito mais do que o fariam os decretos?
De maneira indireta, é possível haver nisto certa razão. A imposição anti-religiosa e a revolução trouxeram o fim do helenismo silencioso que, se continuasse, poderia pôr em risco partes importantes do povo judeu. É o que ocorre em nossos dias. Muitos judeus dizem: "Isso não é assimilação, é apenas um enfeite." E esta é exatamente a pergunta: quando um apêndice externo se torna algo interno e significativo?
Como resumiria a mensagem de Chanucá?
Não há dúvida de que toda a história de Chanucá foi uma postura de proteção perante a torrente de helenismo que varria todo o Oriente. E este escudo é um fenômeno sobrenatural. É característica da onda levar tudo o que encontra em seu caminho. Os judeus obtiveram êxito em deter o andamento natural da História dizendo: "Basta! Até aqui!" Esta cultura pára no limiar; pois se entrar não deixará atrás de si nenhuma essência judaica palpável.
Após a morte de Alexandre foi Israel governado por dois regimes sucessivos. O Império Ptolemaico no sul, tendo o Egito como centro, que governou Israel de 301 a.C. a 198 a.C.. O Império Selêucida no norte, com base na Babilônia, trouxe a Israel um helenismo mais assertivo. Os reis Selêucidas, e especialmente Antíoco IV Epífanes (175-164 a.C.), implantam um acelerado processo de helenização dos vários povos e cidades da região. Desde o início houve uma profunda reciprocidade entre os mundos judeu e pagão. O judaísmo foi doador e receptor de novas disciplinas. Forma-se um forte partido pró-helênico, que pretende incrementar o avanço civilizatório grego e, por isso, está em luta com os judeus tradicionais e fiéis à Lei. A ocasião favorável aos partidários da helenização surge quando Onias III, o conservador sumo sacerdote, está em Antioquia cuidando dos interesses de seu povo e Antíoco IV assume o poder.
"Verificou-se desse modo, tal ardor de helenismo e tão ampla difusão de costumes estrangeiros (...) que os próprios sacerdotes já não se mostravam interessados nas liturgias do altar" (2Mc 4,13a.14a).
Um irmão de Onias III, Jasão (Joshua), oferece ao rei alta soma em dinheiro e um rápido programa de helenização dos judeus em troca do cargo de sumo sacerdote.
I Mc 1,11-13 comenta o caso do seguinte modo:
"Por esses dias apareceu em Israel uma geração de perversos (paránomoi) que seduziram a muitos com estas palavras: 'Vamos, façamos aliança com as nações circunvizinhas, pois muitos males caíram sobre nós desde que delas nos separamos'. Agradou-lhes tal modo de falar. E alguns de entre o povo apressaram-se em ir ter com o rei, o qual lhes deu autorização para observarem os preceitos (dikaiômata) dos gentios".
O termo paránomoi indica, segundo Dt 13,14, pessoas que fazem propostas de apostasia da Lei. Daí que "fazer aliança com as nações" indica renegar a Lei e seguir costumes gentios.
Também o dikaiômata tôn éthnôn (preceitos dos gentios) é significativo. Dikaíôma é usado pelos LXX para traduzir o hebraico derek ou mishpat (caminho, direito) significando obrigações legais. Observar os preceitos dos gentios significa, portanto, abandonar as normas da Lei e seguir leis gentias [Cf. SAULNIER, C., Histoire d'Israel III, pp. 110-111].
II Mc 4,7-10 descreve do seguinte modo os fatos:
"Entrementes, tendo passado Selêuco à outra vida e assumindo o reino Antíoco, cognominado Epífanes, Jasão, irmão de Onias, começou a manobrar para obter o cargo de sumo sacerdote. Durante uma audiência, ele prometeu ao rei trezentos e sessenta talentos de prata e ainda, a serem deduzidos de uma renda não discriminada, mais oitenta talentos. Além disso, empenhava-se em subscrever-lhe outros cento e cinqüenta talentos[28], se lhe fosse dada a permissão, pela autoridade real, de construir uma praça de esportes e uma efebia, bem como de fazer o levantamento dos antioquenos de Jerusalém. Obtido, assim, o consentimento do rei, ele, tão logo assumiu o poder, começou a fazer passar os seus irmãos de raça para o estilo de vida dos gregos".
Os judeus de Alexandria criaram uma cultura original, marcada por características judaicas e helenísticas, que influenciou a filosofia do mundo antigo e, em particular, do cristianismo primitivo. A idéia de uma alma separada do corpo, por exemplo, não se encontra no Antigo Testamento e é uma grande novidade trazida pelos apocalípticos (que se servem com mais liberalidade de conceitos estrangeiros); "alma" como essência pre-existente à vida humana surge em 2En 24:4-5, e é aparentemente a doutrina platônica que está presente no Eclo e em 4Mc. Os autores dessas considerações eram, provavelmente, judeus alexandrinos, que seguiam a ortodoxia helenística da região, distinta da Palestina. Em 4Esd encontramos a doutrina oriental relativa à formação do homem a partir dos quatro elementos (ar, água, terra e fogo) já citada por Fílon. Há uma distinção essencial entre os enfoques judaico e grego quanto à natureza humana - para os judeus, ela é una; para os gregos, há um claro dualismo corpo/alma. As referências da apocalíptica judaica a esse tipo de ensinamento são escassas, mas não podem ser ignoradas, introduzindo assim mais um elemento complicador para o estudo das relações Grécia / mundo judaico. [David S. Russell. The Method and Message of Jewish Apocalyptic. Philadelphia: The Westminster Press, 1964. Pp.147-148 e 153]
Origem e história do modelo antropológico binário (dualista) separando alma e corpo nada tem a ver com a revelação bíblica, mas, sim, com uma religião pagã do século VII ªC , a assim chamada "Religiã Órfica da Trácia", na Grécia antiga. A partir desta origem, a concepção binária ou dualista do homem passou por toda uma história de evolução e adaptação, até finalmente se fixar também no cristianismo.
Desde os primeiros séculos da era cristã, essa concepção se tornou o modelo dominante no cristianismo, sustentado pela filosofia do neoplatonismo e pela ideologia religiosa da gnose e de seu dualismo cosmológico.
As várias etapas desta história de absorção de concepções dualistas estão representadas no esquema:
- Séc VII ªc – Religiões órficas da Trácia ---
- Séc VI ªc Pitágoras – Dualismo ético
- Séc IV ªC Platão – Dualismo ontológico
- GNOSE – Dualismo cosmológico (origem: Pérsia) sécs II ªc e VI d.C
- Doutrina Cristã
- Séc II d.C Maniqueísmo Neoplatonismo
- Séc IV d.C Agostinho
- Séc XVII d.C : Dualismo cartesiano
É importante frisar que, a partir do século IV d.C, sobretudo depois de Agostinho, a compreensão cristã do destino humano após a morte baseia-se, cada vez mais, no modelo dualista helênico. Este modelo antropológico já era o dominante dentro do império greco-romano antes da era cristã, e depois do desaparecimento deste império, continuou dentro do pensamento cristão e permanece até os dias de hoje. Ele se fixou de tal maneira, que muitos cristãos estão convencidos de que estamos diante de um fato de revelação divina. Pensam que a base do modelo antropológico dualista seria a própria Bíblia.
Contra tal idéia é importante lembrar que o modelo antropológico tem suas raízes numa cultura alheia à da Bíblia. Ele entrou no cristianismo não por ser revelação divina, mas por razões culturais e ideológicas, ligadas a todo um processo de aculturaçao do cristianismo dos primeiros séculos.
O modelo dualista-binário do homem, conforme o qual este homem é composto de corpo e alma ( e a alma pode viver independente do corpo), não tem a sua raiz na Bíblia, mas na cultura pagã do helenismo.
O termo "alma" aparece centenas de vezes nas traduções do Antigo e Novo Testamento. Entretanto, com exceção dos poucos textos do judaísmo tardio, claramente influenciados pelo helenismo, Quando a Bíblia fala da alma, nunca quer designar com esta palavra, um princípio espiritual autônomo que poderia ser separado do corpo. Dentro de uma visão integrativa, os textos bíblicos apresentam o homem sempre como unidade indivisível, para quem a alma garante a potência de ser para o absoluto.
Os textos bíblicos em que se faz uma justaposição entre corpo e alma, foram, no passado, muitas vezes interpretados de maneira dualista e a partir de um enfoque da filosofia helênica. Isso, no entanto, é errado.
Exemplo típico: um trecho do Evangelho de Mateus, onde uma interpretação dualista falsificaria totalmente aquilo que a Bíblia quer dizer. Neste e em todos os outros textos nos quais aparecem as noções corpo e alma, a Bíblia não faz uma concepção binária do homem. Ela não separa corpo e alma como dois princípios opostos: ela, pelo contrário, já se baseia numa visão muito "moderna" da pessoa humana, compreendendo esta pessoa como um ser único, cuja integridade, exatamente por causa da sua alma, nunca poderá ser destruída e dividida.
"Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode destruir a alma e o corpo na geena" (Mt 10, 28).
O muito prestigiado manual de exegese "Regensburger Neues Testament" (1986, p 228) deixa transparecer isso de maneira bem clara:
"O texto não pressupõe uma alma sem corpo que sobrevive na morte, mas esclarece que Deus pode manter a vida inteira do homem também além da morte. (Psique não significa "alma" no sentido greco-helênico, mas a energia vital no homem.)"
QUESTIONÁRIO
Quando começou a história de Chanucá?
A história de Chanucá começou 169 anos antes de Yehudá, o Macabeu, quando Alexandre, o Grande, conquistou a Terra Santa e grande parte do mundo colonizado, em 332 A.E.C. A conquista de Alexandre introduziu o mundo antigo - inclusive Êrets Yisrael - num contexto cultural e político que antes não existia.
Que mudanças ocorreram no mundo?
O mundo antigo era composto por tribos, civilizações e religiões que não se misturavam umas com as outras. As conquistas dos babilônios e dos persas eram apenas políticas, sem influenciar a cultura e a religião dos conquistados. A chegada de Alexandre provocou uma alteração na base da cultura mundial, trazendo consigo a cultura helenista. Alexandre almejou uma cultura universal. Por exemplo, contam que organizou em Susa (Shushan) uma cerimônia de casamento para dez mil soldados macedônios com dez mil noivas persas. Ele mesmo casou-se com a filha de Dario (Daryávesh), o último rei persa. Seu objetivo era claro - a fusão das culturas, tanto social como étnica. Queria criar unidades socioculturais que constituíssem a base de um império estável.
Esse plano obteve sucesso?
Em muitos aspectos, sim. Após a morte de Alexandre, em 300 A.E.C., o reino foi dividido entre seus três generais, dois dos quais receberam o Império Oriental: Ptolomeu (Talmai) passou a governar o Egito e Seleuco passou a governar Síria, Iraque, Pérsia, Afeganistão, Paquistão e partes da Índia. A Terra de Israel era o ponto de confronto entre os dois governos e passou de um para o outro várias vezes. A maior parte dos primeiros cem anos ficou sob o domínio de Ptolomeu. No ano 200 A.E.C., passou para as mãos de Seleuco, sob cujo governo os judeus vieram a se rebelar 37 anos mais tarde. Porém, a cultura helenista era a dominante em ambos os impérios e continuou a infiltrar-se e a consolidar-se como a cultura única, universal, de todo o mundo.
O que é exatamente a cultura helenista?
Temos que entender a mensagem helenista. Em princípio, era a fusão da cultura grega com a oriental. Porém, na prática, a cultura helenista assimilou dentro de si as culturas orientais e se transformou numa cultura universal. Em Atenas, Alexandria, Ashkelon, Aco, Shushan e Damasco encontravam-se pessoas que falavam o mesmo idioma - o grego - pensavam de maneira semelhante, impregnadas de um contexto cultural comum e serviam aos mesmos ídolos.
Esta foi a primeira vez na História que se desenvolveu uma cultura universal?
De fato, a cultura helenista derrubou as separações tribais, amainou as diferenças entre os povos e cultivou uma cultura geral. Sua influência era tão grande que fez surgir uma cisão entre os gregos (termo geral para os helenistas) e os bárbaros (todo o resto). Quem falava grego, era considerado culto; se não, era considerado bárbaro.
A tolerância da cultura helenista se expressava no fato de não investigar sua origem étnica ou religiosa. Até o
Em Chanucá, os judeus detiveram o curso natural da História: disseram "não" à onda de helenismo que varria todo o Oriente Médio. | ||
judeu podia ser um grego perfeito. Um aluno de Aristóteles relatou que, certo dia, o filósofo encontrou um judeu e exclamou: "Esse judeu não é apenas grego em sua língua, mas também em sua alma." Era um mundo aberto, atraente e tolerante. Ninguém lhe perguntaria quem foi seu avô.
Todos os povos do Oriente Médio adotaram o helenismo?
Menos os judeus. Todos os povos do Oriente Médio assimilaram integralmente o helenismo numa única geração. Os tsidonim, por exemplo, fundaram uma cidade grega chamada Marêsha, ao lado de Bet Guvrin, onde encontramos uma tumba com os nomes dos enterrados e um fenômeno interessante: os pais tinham nomes orientais, enquanto os filhos já tinham nomes gregos. Toda a Terra de Israel ficou repleta de "pólis" - cidades gregas. Bet Shean transformou-se em Skitópolis; toda a planície litorânea tornou-se grega.
Do outro lado do Rio Jordão, havia uma série de cidades gregas. Somente um bolsão, formado por Jerusalém e Judá (Yehudá), continuou a ser habitado por um pequeno grupo que não se rendeu à torrente desta cultura estranha.
Havia helenismo?
A helenização se procedeu gradualmente, corroendo, de fato, a não capitulação de Yehudá. Convém observar como foi este processo, usando documentos históricos. No lado ocidental do Rio Jordão vivia um judeu chamado Tuvyá, cunhado do Sumo Sacerdote.
Encontramos um papiro com uma carta que Tuvyá enviou ao Ministro das Finanças do Egito. Iniciava assim: "Se todos seus assuntos vão bem e com você tudo está de acordo, estou feliz; um grande louvor aos deuses." Isto foi escrito pelo cunhado do Sumo Sacerdote! Pode-se até dizer que era o texto inicial padrão de uma carta oficial da época. Porém, um judeu que crê jamais escreveria um texto contrário à sua fé no D'us único. Veremos adiante como uma pequena concessão se transforma numa grande transgressão.
O filho desse Tuvyá, Yossef, tornou-se coletor de impostos de Israel. Numa de suas viagens a Alexandria desejou casar-se com uma dançarina egípcia e pediu a seu irmão que fosse o intermediador do casamento, porém advertiu-o: "Não revele a ninguém." Ou seja, como judeu, sabia que era proibido, pediu que o fato não fosse revelado, mas já transpusera a barreira, a cerca, entre Israel e os povos. Seu irmão, tentando impedir a transgressão, casou-o com sua filha e tiveram um filho, Hircano (Horkenus), que se tornou um dos líderes do partido grego em Jerusalém. Aqui vemos um processo que durou três gerações: iniciou-se com a escrita de um avô e terminou com um neto de nome grego que negou seu judaísmo.
E tudo isso ocorreu sem qualquer coação por parte dos gregos?
A primeira fase foi tranqüila para os judeus. Alexandre preservou a autonomia religiosa, usufruída pelos judeus na Terra de Israel durante os duzentos anos do governo persa. Ptolomeu, o rei grego do Egito, traduziu a Torá ao grego, o que prova que os helenistas sabiam valorizar a Torá. No ano 200 A.E.C., Antíoco III, pai de Antíoco Epifânio (o Malvado), conquistou a Terra de Israel e proclamou que a constituição vigente seria a Lei da Torá. Os judeus ficaram felizes. Aparentemente, poderiam esperar por um relacionamento positivo. Porém, em 30 anos, a situação deteriorou-se por completo.
Por quê?
Aqui a história é principalmente política. Os romanos começaram a se aproximar do Oriente Médio. Quando Antíoco Epifânio subiu ao poder, em 175 A.E.C., seu grande sonho era unir todo o Oriente Médio contra os romanos. A homogeneidade religiosa e cultural já fora alcançada, com exceção de um pequeno grupo, que se encontrava num ponto estratégico e mantinha-se isolado com seus costumes. Este povo o preocupava - um grupo diferente e centralizado que pôs em risco a unicidade governamental. Não era possível saber o que ocorreria lá. Antíoco tentou, numa primeira etapa, erguer um governo em Jerusalém que lhe fosse conveniente.
Governo judaico?
Na prática, o líder do povo judeu era o Sumo Sacerdote. Antíoco depôs o Sumo Sacerdote Chonyo e em seu lugar nomeou Jasão. Isso ainda era tolerável, pois Jasão era irmão de Chonyo. Contudo, Jasão transformou Jerusalém em "pólis". Introduziu instituições gregas e um ginásio no qual jovens competiam despidos em jogos atléticos. Não impôs a cultura grega sobre o povo, mas pregou o entrelaçamento da Torá com a sabedoria grega. Jasão criou um clima de helenismo, que influiu até os sacerdotes do Templo. Conta-se sobre sacerdotes que preferiam assistir aos jogos no ginásio a fazer o serviço sagrado do Templo.
O helenismo começa a alçar vôo?
Os helenistas existiam antes disso, mas na época de Jasão ganharam força. O partido dos helenistas incluía, principalmente, a aristocracia judaica de Jerusalém. Interessante notar que os helenistas concentravam-se essencialmente em Jerusalém, enquanto nas aldeias de Yehudá quase não se ouvia sobre suas atividades. A maioria do povo permaneceu fiel à tradição de seus antepassados. Somente a classe alta adotou a cultura grega, pois esta servia como passaporte social e econômico mundo afora.
Antíoco, num esforço de unificar o mundo oriental contra os romanos, planejou invadir o Egito e anexá-lo a seu império. Necessitava de dinheiro para agilizar seu plano. O homem de confiança de Jasão era um judeu, Menelau, helenista mais extremista que o próprio Jasão. Menelau propôs a Antíoco nomeá-lo Sumo Sacerdote no lugar de Jasão em troca dos tesouros do Bet Hamicdash.
Antíoco demitiu Jasão e empossou Menelau. Tinha um bom motivo. Às vésperas das campanhas militares contra o Egito, precisava assegurar a tranqüilidade em Yehudá e Menelau faria este serviço.
Em 168 A.E.C., Antíoco chegou aos portões de Alexandria. Exatamente nesta época, os romanos derrotaram o Império Macedônio na Grécia e enviaram um cônsul a Antíoco, no Egito, com um "conselho amigável": retornar à Síria. Antíoco tentou ganhar tempo e respondeu ao cônsul: "Pensarei no assunto." O cônsul romano desenhou um círculo no chão em volta dos pés de Antíoco e disse: "Pense aqui, dentro deste círculo." A honra de Antíoco fora rebaixada, mas o medo do poderio de Roma era mais forte. Reuniu seu exército e retornou para casa. Os judeus da Terra de Israel, sabendo de sua retirada, supuseram que foi derrotado na batalha e começaram as desordens.
Qual era o quadro para as desordens?
Havia uma efervescência, uma comoção pela intromissão nos serviços sagrados e pela introdução da cultura grega em Jerusalém. Interessante que também Jasão, o helenizado, que fora afastado por Menelau, fazia parte dos baderneiros. Ele achava que Menelau estava passando dos limites; provavelmente sua humilhação pessoal influenciava seus motivos.
Como reagiram os gregos?
Antíoco reagiu com mão de ferro. Enviou uma guarnição a Jerusalém para oprimir os tumultos. Seu próximo passo foi esmagar a fé judaica, o que evitou durante anos.
O que o levou a fazer isso?
Nas pesquisas, os decretos de Antíoco parecem um enigma. Não agiu assim em outros lugares. É importante lembrar que o mundo helenista não era intolerante. Há que se sustentar que Antíoco entendia - ou seus conselheiros ajudavam-no a entender - que, enquanto os judeus estivessem ligados ao judaísmo, permaneceriam um grupo diferente e isolado, o que ele receava. Também a natureza de seus decretos testemunha que não lhe interessava puramente a conversão dos judeus, i.e., salvar suas almas, por assim dizer. Antíoco via na fé judaica um perigo para seu governo e por isso a oprimiu.
Quais foram seus passos?
Introduziu um culto idólatra no Templo Sagrado; o serviço Divino foi interrompido; a estátua de Zeus foi erigida no Bet Hamicdash e sacrifícios impuros eram oferecidos. A intenção era destruir o culto judaico.
Menelau fugiu para Esparta. O governo anunciou a proibição do cumprimento de determinadas mitsvot. Os oficiais do governo - enviados para fazer vigorar as leis pagãs - impuseram aos habitantes que se curvassem perante os ídolos, comessem porco e participassem dos ritos gregos. Estes decretos foram a centelha que acendeu o fogo da rebelião com todo seu ímpeto.
E Modiin?
Modiin era uma cidade de sacerdotes e era importante ao governo obter sucesso justamente ali, para que servisse de exemplo. A família de Matityáhu, o Chashmonai, era da dinastia de Yehoyariv, uma das ordens mais respeitadas e distintas de sacerdotes. Era a família que os gregos queriam destruir. Trouxeram um judeu helenista que tentou ofertar um porco a um ídolo grego. Matityáhu se levantou e disse a seus filhos: "Vamos vingar a honra de D'us, como vingou nosso antepassado Pinechás, filho de El'azar, o sacerdote." Por conta dos decretos do soberano, tomou posição contrária. Percebeu que chegara a hora da verdade. Não havia mais lugar para conciliações. Os gregos não deixaram aos judeus outra opção.
Como se conduziu a revolta?
Usou-se uma clássica tática de guerrilha: atacar e bater em retirada. Yehudá, o Macabeu, aproveitou muito bem as duas condições necessárias para uma guerrilha bem-sucedida: locais de refúgio e população simpatizante. Escolheu conduzir a guerra nas montanhas e não na planície, pois o exército grego baseava-se em tática de falanges: destacamento compacto de soldados de infantaria numa formação sólida e intransponível. Com este tipo de formação é possível se proteger num combate somente em áreas planas, não escalando montanhas.
Os ágeis soldados de Yehudá atacavam os inimigos de surpresa e desapareciam. Assim, por exemplo, foi a batalha de Amaús: o exército de Geórgias e Nicanor acampou na planície de Amaús. Contava com 40 mil homens de infantaria e sete mil cavaleiros. Yehudá e seus homens aguardavam, acampados no mirante, em frente a Jerusalém, com apenas três mil homens. Geórgias dirigiu, numa tentativa, metade de seu exército para empreender um ataque noturno surpresa sobre o acampamento de Yehudá. Este, que conhecia as intenções dos gregos, retirou-se com todo seu acampamento. Saiu com seus homens para um ataque noturno de surpresa sobre o resto das tropas gregas, que ficaram no acampamento em Amaús. Depois que os afugentou, reuniu seus homens para enfrentar Geórgias.
Entrementes, Geórgias, que chegou ao campo abandonado dos judeus, deu meia-volta e tentou retornar a seu acampamento. Qual não foi seu espanto diante das colunas de fumaça que subiam de sua base e ao se deparar com o exército de Yehudá pronto a atacá-lo! Seus soldados atrapalharam-se e, perplexos, espalharam-se para todos os cantos.
Yehudá tinha uma estratégia militar global?
Seu objetivo era chegar a Jerusalém e purificar o Templo. Precisava impedir que outros exércitos gregos se reunissem com o que se encontrava em Jerusalém, no forte de Chacra. Em todas suas grandes batalhas, estava impedindo os exércitos gregos de chegar em Jerusalém. Depois de derrotar os exércitos enviados, subiu a Jerusalém e lá sitiou o forte de Chacra, que enfraqueceu por falta de reforço.
O milagre de sua vitória se expressa também pelo erro básico dos gregos: subestimaram a força de Yehudá. Consideravam-no um inseto incômodo, necessitando ser esmagado, mas não como uma ameaça militar concreta.
Os gregos perceberam seu erro posteriormente. Dois anos depois que os Chashmonaim purificaram o Templo, enviaram um grande exército que chegou aos portões de Jerusalém e quase a conquistou. Se obtivessem êxito, a vitória de Chanucá seria enquadrada apenas como um episódio passageiro. Mas justamente então, eclodiu uma rebelião interna na Síria e o general precisou retornar para lá. Podemos afirmar que este milagre de Chanucá era tão grande quanto aquele que conhecemos.
Toda a rebelião foi um passo lógico?
A revolução iniciou-se como uma luta desesperada, depois que puseram os judeus contra a parede. A causa era somente religiosa, sem finalidades políticas. Porém, quando se iniciou esta marcha, constatou-se que não dava para alcançar a independência religiosa e parar por aí. Sem âmbito político, a religião também ficou em perigo. Fato é que os gregos continuaram tentando acabar com a revolução mesmo após a morte, em batalha, de Yehudá. Somente em 141 A.E.C., na época de Shim'on, foi alcançada a liberdade total e fundado um estado judeu independente. O percurso dos Chashmonaim foi de três estágios: primeiro, a liberdade religiosa, depois, a política e, por fim, a de toda a Terra de Israel, nos dias de Alexandre Yanai.
Qual a lição atual que podemos extrair da história de Chanucá?
Não há dúvida que também hoje enfrentamos uma cultura ocidental. Ela atrai; é fascinante. É um espírito multinacional, mas na verdade é tão perigosa para a sobrevivência do judaísmo como o foi então. Hoje é chamada de cultura ocidental. Ela se traduz, por exemplo, em programas americanos a que assistimos na televisão e na música ocidental. Pode-se perguntar: que mal há nisso? Não há símbolos religiosos proibidos! É só cultura! Mas observe quantas centenas de milhares de israelenses já se mudaram para os Estados Unidos. E há aqueles em perigo iminente de assimilação. Ou seja, a abertura do mundo ocidental pode, de uma certa maneira, colocar-nos em perigo.
Aplicando uma analogia inversa, vejamos o que ocorreu com nossos irmãos na Rússia. O que os salvou? Foi justamente a não-abertura do governo russo. O anti-semitismo russo, que não há no Ocidente, resguardou seu judaísmo - talvez até mesmo contra sua própria vontade. É muito triste dizer isso, mas é a realidade.
O senhor está afirmando que, não fosse a coerção na época dos Chashmonaim, a cultura helenista teria dizimado de maneira elegante e perigosa o povo judeu muito mais do que o fariam os decretos?
De maneira indireta, é possível haver nisto certa razão. A imposição anti-religiosa e a revolução trouxeram o fim do helenismo silencioso que, se continuasse, poderia pôr em risco partes importantes do povo judeu. É o que ocorre em nossos dias. Muitos judeus dizem: "Isso não é assimilação, é apenas um enfeite." E esta é exatamente a pergunta: quando um apêndice externo se torna algo interno e significativo?
Como resumiria a mensagem de Chanucá?
Não há dúvida de que toda a história de Chanucá foi uma postura de proteção perante a torrente de helenismo que varria todo o Oriente. E este escudo é um fenômeno sobrenatural. É característica da onda levar tudo o que encontra em seu caminho. Os judeus obtiveram êxito em deter o andamento natural da História dizendo: "Basta! Até aqui!" Esta cultura pára no limiar; pois se entrar não deixará atrás de si nenhuma essência judaica palpável.
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