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A teleologia (do grego τέλος, finalidade, e -logía, estudo) é o estudo filosófico dos fins, isto é, do propósito, objetivo ou finalidade. Embora o estudo dos objetivos possa ser entendido como se referindo aos objetivos que os homens se colocam em suas ações, em seu sentido filosófico, teleologia refere-se ao estudo das finalidades do universo e, por isso, a teleologia é inseparável da teologia (a afirmação de que um ser superior, Deus, realiza seus propósitos no universo).

Atualmente, muitos seguem utilizando as explicações teleológicas para oferecer explicações científicas. O exemplo talvez mais difundido disto é o Design inteligente.

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A persistência da Teleologia nas Ciências Biológicas

“A causal final ou teleológica serviria para respondermos, ante um processo ou entidade, a pergunta “Para quê?” Os conceitos e idéias a respeito da teleologia passaram por uma série de transformações ao longo do tempo. Entretanto, Ayala (ibid.) afirma que não há hoje um consenso sobre o conceito de teleologia, de forma que não se tem uma única idéia sobre o tema.

Em vários contextos inquisitivos, particularmente na Biologia e no estudo das relações humanas, a resposta teleológica se caracteriza como uma das melhores opções, ao elucidar as funções de uma unidade, mantendo as características de um sistema ao qual pertence, ou indicando o papel instrumental que exerce em função de um objetivo a alcançar. Contemporaneamente, entretanto, os argumentos teleológicos são vistos por alguns cientistas apenas como uma forma de expressão para tornar rápida e convenientemente inteligível o comportamento de estruturas desenvolvidas ao longo do tempo por meio da seleção natural normalizadora. As explicações teleológicas não exigem de seus “agentes” que sejam conscientes, como é o caso dos movimentos dos corpos na Física de Aristóteles, ou seja, nem sempre as explicações teleológicas possuem fundamentos antropomórficos, embora as mesmas se apropriem legitimamente dos fenômenos oriundos do comportamento humano.

Como nos referimos anteriormente, Souza (1999), destaca o embate durante todo o processo histórico de formação da Biologia, no qual duas formas de concebê-la são apresentadas. De um lado, a perspectiva mais vitalista e teleológica. De outro, uma visão mais materialista e causalista. Se por um lado a concepção naturalista da Biologia subsidiada em uma visão de mundo escolástica, na sua perspectiva teleológica, ganha espaço porque se aproxima da religião, por outro, perde em objetividade e rigor (Smocovitis, 1996; Foster, 2005). Quando o caminho inverso é tomado por uma nova visão de Biologia, matematizada e com todos os requisitos de rigorosidade e objetividade que o modelo de ciência positivista da época exige, corre-se o risco da perda de sua identidade, enquanto campo “autônomo” e independente de conhecimento (Smocovitis, 1996).

Os trabalhos de Darwin desempenharam um papel fundamental neste contexto quando as idéias de Spencer e admite que o termo ”persistência do mais apto” é mais exato e por vezes mais cômodo que a seleção natural. O sentido da competitividade se acirrava novamente, os mais bem adaptados são aqueles que saem vitoriosos na luta pela sobrevivência que mimetiza a competição mercantil da época. O fato é que Origem das espécies de Charles Darwin subsidiou diferentes discussões, em diferentes áreas do conhecimento e em diferentes práticas sociais. Gerou também muitas expectativas e uma delas girava em torno da exclusão dos aspectos metafísicos das Ciências Biológicas. É dentro deste contexto que a história da Biologia se edifica, entremeada por conflitos de ordem metafísica, há muito entranhada nas ciências naturais, e conflitos de ordem político-econômica e social.

Parece ser de consenso geral que o Iluminismo – mais precisamente a revolução científica dos séculos XVII e XVIII – desmantela a visão teleológica dos mundos da natureza, da ciência, da religião, do Estado e da economia; embora Foster (2005) ressalte que neste período houve tentativas poderosas de restabelecer a religião nesta perspectiva. Acreditava-se até então, que o advento das teorias de Charles Darwin pudessem eliminar de vez a visão teleológica de mundo. Como epílogo deste evento, diferentes autores (Foster, 2005; Mayr 1998a, Brody & Brody, 1999 e outros) destacam o famoso debate ocorrido no dia 30 de junho de 1860 na Associação Britânica para o Progresso da Ciência, entre Thomas Huxley (fiel discípulo de Darwin) e o bispo Samuel Wilberforce (ornitólogo e matemático) como marco da separação entre ciência e religião, e, portanto o começo da extirpação da teleologia na Biologia
.

Contudo, inúmeros sinais apontam para a presença da teleologia na Biologia. Segundo Martinez & Barahona (1998), Asa Gray – destacado botânico do século XIX – afirmou que a maior contribuição de Darwin foi reincorporar a teleologia às Ciências Naturais. Para o botânico, o aporte dado por Darwin consiste na explicação estável de fenômenos naturais a partir de “forças cegas” como a seleção natural. As implicações dos trabalhos de Darwin na discussão filosófica acerca do que é na verdade uma explicação científica são profundas e o retorno da teleologia as ciências naturais - mais precisamente à Biologia - é bastante significativo.

Martinez & Barahona (1998) ressaltam que este é o primeiro passo para um tipo de naturalismo que será defendido por Pierce e Dewey dentre outros filósofos do final do século XIX. Trabalhos como os de Wimsatt (1998) e Becker (1998), propõem posições intermediárias que possibilitem, em certa medida, mostrar que a teleologia pode sim se unir a ciência, mais como recurso explicativo. E é neste sentido que autores como Ayala (1998) crêem que as explicações teleológicas são compatíveis com as explicações causais. Para este autor as explicações teleológicas em Biologia evolutiva podem mostrar o desenvolvimento de um órgão, porque revelam como este contribui para a adequação do organismo.

Uma das perguntas que os Biólogos se fazem sobre as características dos organismos é: Para que? Qual é a função ou o papel de uma determinada estrutura no processo? A resposta a esta pergunta pode-se realizar teleologicamente. Uma explicação causal do funcionamento do olho não responde satisfatoriamente, ainda que esteja correta, porque não nos diz tudo que é importante sobre o olho, que na realidade serve para ver. Ferreira (2003) argumenta que quando obtemos respostas acerca de como se dá um fenômeno podemos chegar a conseqüências úteis do conhecimento, úteis no sentido de dominação da natureza.

Na descrição histórica das seqüências evolutivas, o problema às vezes se inverte: é fácil identificar a função que um órgão cumpre e mais difícil saber por que essa característica aumentou o sucesso reprodutivo que o favoreceu pela seleção natural. As explicações teleológicas têm grande valor heurístico na biologia evolutiva. Assim existem dois tipos de problemas para explicar a evolução mediante a seleção natural: determinar se a seleção natural está envolvida em uma determinada mudança genética e identificar concretamente a adaptação envolvida na mudança genética.

A seleção natural é o processo responsável pelas adaptações dos organismos, porque fomenta a multiplicação de variantes genéticas úteis a seus portadores. E assim como a seleção natural explica as adaptações dos organismos, como os olhos, as asas e a flores da mesma forma que explica a multiplicidade de espécies. Para Ayala (1998), a seleção natural foi o grande descobrimento de Darwin, que torna possível explicar cientificamente a teleologia do mundo vivo.”

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Fonte:
Maicon J. C. Azevedo: “Explicações teleológicas no ensino de evolução: um estudo sobre os saberes mobilizados por professores de Biologia”. (Dissertação de Mestrado apresentada ao programa de Pós-graduação em Educação, da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Educação. Orientadora: Prof.a Dra. Sandra L. Escovedo Selles. Co-orientadora: Prof.a Dra. Ana Cléa M. Ayres). Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2007.


Nota:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
Eduardo
Eduardo

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