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Os primeiros evangelhos judeu-cristãos
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12112011
Os primeiros evangelhos judeu-cristãos
Representação da ressurreição de Jesus Cristo, fundamento do Cristianismo narrado nos evangelhos
Os Evangelhos são um gênero de literatura do cristianismo primitivo que contam a vida de Jesus, a fim de preservar Seus ensinamentos ou revelar aspectos da natureza de Deus. O desenvolvimento do Cânon do Novo Testamento deixou quatro evangelhos canônicos, que são aceitos como os únicos evangelhos autênticos para a maioria dos cristãos.
Entretanto, existem muitos outros evangelhos. Eles são conhecidos como apócrifos e foram escritos depois dos quatro evangelhos canônicos. Alguns destes evangelhos deixaram vestígios importantes na tradição cristã, incluindo a iconografia.
Índice |
Os evangelhos são um género único na literatura universal. Não são meros relatos, mas também um convite à adesão ao cristianismo. A sua primeira intenção não é a biográfica. Apresentam Cristo como messias, filho de Deus e salvador da humanidade. Contém coleções de discursos, de parábolas e relatos, como o da paixão de Cristo (A Paixão de Cristo) e sua ressurreição.
Evangelhos canônicos
Os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João são chamados evangelhos canónicos por serem os únicos que o Cristianismo primitivo admitiu como legítimos e hoje integram o Novo Testamento da Bíblia, sendo também os únicos aceitos pelos grupos que sucederam (como os evangélicos). As igrejas cristãs só aceitam estes quatro evangelhos como tendo sido inspirados e fazendo parte do Cânon. As igrejas protestantes tem na Bíblia Sagrada, incluindo os evangelhos, a base de sua fé e de sua prática..
O Evangelho de Mateus foi escrito para convencer os judeus de que Jesus era mesmo o Messias que estava por vir, por isso enfatiza o Antigo Testamento e as profecias a respeito desse ungido.
O Evangelho de Marcos (discípulo de Pedro) foi escrito para evangelizar principalmente os romanos, e relata somente quatro das parábolas de Jesus, enfatizando principalmente as ações de Jesus.
O Evangelho de Lucas foi escrito para os gentios (não-judeus), enfatizando a misericórdia de Deus através da salvação por Jesus Cristo, principalmente para os pobres e humildes de coração.
O último dos Evangelhos, o de João, foi escrito para doutrinar os novos convertidos. Não cita nenhuma das parábolas de Jesus (afinal, as parábolas já eram conhecidas no meio cristão, através dos relatos contidos nos outros evangelhos), porém combate com firmeza as primeiras heresias surgidas no princípio do cristianismo, como por exemplo: o gnosticismo (que negava a verdadeira encarnação do Filho de Deus) e outras seitas semelhantes, que também negavam a divindade de Jesus Cristo.
Evangelhos apócrifos
Centenas de outros evangelhos foram escritos na antiguidade, que são chamados evangelhos apócrifos.Entre os manuscritos encontrados no Egito, conhecidos como os da biblioteca de Nag Hammadi, figuram os evangelhos atribuídos a apóstolos de Cristo: o evangelho de Tomé, o evangelho de Filipe, o evangelho de Pedro e o evangelho de Judas. Contêm também o evangelho de Maria.
Etimologia
Literalmente, evangelho significa "boa mensagem", "boa notícia" ou "boas-novas", derivando da palavra grega ευαγγέλιον, euangelion (eu, bom, -angelion, mensagem).
A palavra grega "euangelion" deu também origem ao termo "evangelista" para a língua portuguesa.
Os primeiros evangelhos judeu-cristãos
A língua e o estilo de Mateus têm sido definidos como "grego sinagogal": sintaticamente melhora muitas vezes sua fonte, Marcos; usa um léxico mais preciso e mais elevado; mas é também mais conciso, quer apresentar o essencial dos relatos, com uma intenção didática. Seu estilo é intencionalmente influenciado pela língua da Septuaginta.
Papias de Hierápolis (Eusébio, "História Eclesiástica" III, 39, 17) conhecia uma tradição segundo a qual "Mateus compôs os logia em língua hebraica, cada um depois os interpretou segundo suas capacidades". Todavia, o Mateus que possuímos não é uma tradução de uma língua semítica, mas depende de textos gregos como Marcos e Q, usa a Septuaginta como texto bíblico, seu estilo é grego, e contém trocadilhos gregos (24,30 kopsontai/opsontai). Os outros autores antigos dependem de Papias; Irineu acrescenta que Mateus escreveu primeiro, enquanto Pedro e Paulo pregavam em Roma ("Contra as Heresias" III, 1, 2). Mas são lendas. A época da composição de Mateus é certamente posterior à destruição de Jerusalém em 70 (22,7; 23,38); se este acontecimento, como pensa Luz, ainda é ressentido como dolorosa ruptura, a redação do evangelho poderia situar-se nos primeiros anos 80. Quanto ao lugar, entre as muitas hipóteses, a mais convincente é a de uma cidade da Síria de língua grega, provavelmente Antioquia, onde existiam mais comunidades cristãs, de diversas tendências, e onde encontramos este evangelho (provavelmente) utilizado por Inácio por volta de 110. Todavia, com base em 19,1 que situa a Judéia para além do Jordão, G. Theissen pensa numa comunidade situada a leste do Jordão.
("História da Literatura Cristã Antiga Grega e Latina", Ed. Loyola, 1996, de Cláudio Moreschini e Enrico Norelli, vol. I, pág. 92)
8. Evangelhos judeu-cristãos
Costuma-se designar como evangelhos judeu-cristãos alguns evangelhos, não tornados canônicos, em uso no seio de comunidades de origem judaica, e dos quais restam só alguns fragmentos em tradição indireta. Sua caracterização constitui um problema bastante difícil, porque as citações que no-los fazem conhecer são amiúde imprecisas na atribuição a um ou a outro deles. Mesmo seu número é incerto; o único cujo título é registrado pelos escritores antigos é o Evangelho dos Hebreus. Mas a tese de um só evangelho judeu-cristão (eventualmente em duas reelaborações) está hoje abandonada, e distinguem-se seja dois evangelhos (o dos hebreus ou dos nazarenos, e o dos ebionitas ou dos Doze Apóstolos), seja três (dos hebreus, dos nazarenos e dos ebionitas ou dos Doze). Essa última solução parece preferível, pelas razões a seguir (para ulterior aprofundamento, cf. antes de mais nada Vielhauer-Strecker, cit. na Bibliografia):
Clemente de Alexandria atesta a existência de um Evangelho segundo os Hebreus, do qual cita (Stromata, II, 9, 45) um logion que reporta de forma mais completa (sem citar a fonte) a Stromata V, 14,96; também reaparece no Pap. Ox. 654, e no evangelho de Tomé de Nag Hammadi, onde está em segundo lugar. Do mesmo Evangelho dos Hebreus, Orígenes cita (Com. A João II, 12,87; mesma citação em "Homilias sobre Jeremias" 15,4, sem indicação da fonte) uma sentença de Jesus, que narra ter sido tomado por sua mãe, o Espírito Santo, e transportado sobre o grande monte Tabor; o contexto devia ser uma reelaboração do relato das tentações. A idéia do Espírito Santo (feminino nas línguas semíticas) como mãe de Jesus parece excluir que Jesus seja filho de José, como afirmava a seita judeu-cristã dos ebionitas, para quem este evangelho deve ser distinto do dos ebionitas. Eusébio de Cesaréia menciona entre os livros cuja canonicidade é discutida o Evangelho dos Hebreus (História Eclesiástica III, 25,2). Pouco adiante, Eusébio trata dos ebionitas: todos recusam a preexistência de Cristo, enquanto uma parte deles não recusa o nascimento virginal; servem-se apenas do Evangelho segundo os Hebreus (História Eclesiástica III, 27,3-4). Visto que dois fragmentos atestados para o Evangelho dos Hebreus pressupõem a preexistência de Cristo, permanece dúbio se os ebionitas realmente o usaram. Eusébio afirma ademais que Papias de Hierápolis relatava a história de uma mulher acusada de muitos pecados diante do Senhor, história contida (segundo Eusébio, não Pápias) no Evangelho dos Hebreus (História Eclesiástica III, 39,17). Enfim, a última menção desse evangelho junto a Eusébio se acha a propósito de Hegesipo, o qual "faz algumas citações do evangelho segundo os hebreus e do siríaco, e particularmente em língua hebraica" (IV, 22, 8). Eusébio distingue depois o Evangelho dos Hebreus de um evangelho em língua aramaica (= "siríaca"), do qual provêm evidentemente as citações de Hegesipo em "hebraico".
Ora, Eusébio, na Teofania, cita dois fragmentos de evangelhos, atribuindo o primeiro (IV, 22) ao "evangelho que nos chegou em caracteres hebraicos", o segundo (numa parte da Teofania conservada só em siríaco, IV, 12) ao "evangelho que em língua hebraica é (difundido) entre os judeus". Esse evangelho aramaico, contraposto por Eusébio em ambos os casos ao Mateus canônico, deve provavelmente identificar-se com o citado por Hegesipo, e certamente distinto daquele segundo os hebreus; Eusébio o conheceu diretamente, coisa que, por outro lado, permanece incerta para o Evangelho dos Hebreus.
Epifânio de Salamina trata dos nazarenos (judeu-cristãos da Celessíria) no cap. 29 do seu "Panarion", e afirma que "têm o evangelho segundo Mateus, inteiro e em hebraico, ainda conservado com eles em caracteres hebraicos, como foi escrito originalmente" (29, 9,4). Todavia, o contexto esclarece que Epifânio não o viu (não sabe se contém a genealogia de Jesus). Ele conhece, por outro lado, o evangelho usado pelos ebionitas: "também eles aceitam o evangelho segundo Mateus; como os seguidores de Cerinto e Merinto, também eles de fato se servem só deste. Chamam-no porém segundo os hebreus, a bem da verdade, porque só Mateus no Novo Testamento fez a exposição e o anúncio do evangelho em hebraico e com caracteres hebraicos" (Panarion 30, 3,7). Mais adiante (30, 13,2) Epifânio esclarece que este evangelho de Mateus, que chamam "o hebraico", foi falsificado por eles e mutilado. No contexto, cita sete fragmentos dele; Epifânio, portanto, conhece-o bem, ao contrário do dos nazarenos. Entre outras coisas, sabe que falta ali a genealogia e que se inicia com a pregação de João Batista no tempo de Herodes (o incipit é citado duas vezes: 30, 13,6; 14,3). A informação de Epifânio concorda com a de Ireneu de Lião, segundo o qual os ebionitas se serviam apenas do evangelho de Mateus ("Contra as Heresias", I, 26,2; III, 11,7), mas eliminaram dele o nascimento de Jesus (III, 21,1; V, 1,3). Os fragmentos citados por Epifânio mostram que esse evangelho não é de fato um original aramaico do Mateus canônico (que foi composto em grego), mas uma reelaboração grega dele. A identificação com Mateus em ambos os autores deve depender da idéia, divulgada por Papias, de que Mateus fora composto originariamente em aramaico: Epifânio a menciona em 29, 9,4.
Daí resulta que os evangelhos dos nazarenos e dos ebionitas são diferentes; mas o segundo - embora Epifânio pareça conhecê-lo como "segundo os hebreus" ou "hebraico" - tampouco deve ser identificado com o Evangelho segundo os Hebreus conhecido por Clemente e Orígenes, porque este último admitia a preexistência de Jesus e o papel do Espírito Santo no seu nascimento. A identificação de Epifânio é provavelmente uma ilação influenciada pela informação de Eusébio sobre o uso do Evangelho dos Hebreus por parte de um ramo dos ebionitas (vide acima).
Jerônimo fornece numerosas citações, mas a terminologia com que designa suas fontes é confusa: evangelho segundo os hebreus, dos hebreus, hebraico, hebraico segundo Mateus, uma vez evangelho segundo os apóstolos. Ele afirma ("Homens Ilustres" 3) que um exemplar era conservado em seu tempo na biblioteca de Cesaréia, mas acrescenta tê-lo visto e copiado junto aos nazarenos em Beréia da Celessíria. A localização em Cesaréia (onde Jerônimo, contudo, esteve) pode muito bem ser uma ilação baseada na identificação do evangelho por ele conhecido como o usado por Eusébio. Um exemplo do modo de proceder de Jerônimo é a definição seguinte: "O evangelho usado pelos nazarenos e pelos ebionitas, por nós recentemente traduzido em grego da língua hebraica, e que é chamado por muitos Mateus hebraico" (Com. a Mat. 12,13). Verificamos que os evangelhos dos nazarenos e dos ebionitas são diferentes; antes disso (Homens Ilustres 2-3), Jerônimo fala de uma tradução sua em latim desse evangelho (nos escritos posteriores não mencionará mais nenhuma tradução, nem verossimilmente jamais a fez); a identificação como Mateus hebraico é atribuída a outros. Tende-se hoje a desconfiar largamente das afirmações de Jerônimo; certamente, acreditou na existência de um só evangelho judeu-cristão e referiu a ele todos os dados que encontrava em outros autores. Ademais, é provável que tenha utilizado apenas fragmentos, os quais é difícil dizer como chegaram ao seu conhecimento. Talvez tenha extraído de autores precedentes (certamente Orígenes) alguns trechos provenientes do Evangelho dos Hebreus, e transcrito pessoalmente passagens do Evangelho dos Nazarenos. Três manuscritos dos evangelhos (566, século IX; 899, século XI; 1424, século IX/X) contêm algumas variantes marginais extraídas de um evangelho designado como "to Ioudaikon", mencionado nas subscriptiones de 36 manuscritos que se referem a um exemplar conservado na "montanha santa", o monte Sião em Jerusalém. A. Schmidtke (1911) mostrou que o modelo deve ter sido uma edição dos evangelhos realizada entre 370 e 500 e conservada na basílica sobre o monte Sião. Tratava-se provavelmente de um texto em aramaico, semelhante, se não idêntico, ao Evangelho dos Nazarenos. Um fragmento (provavelmente espúrio) de Cirilo de Jerusalém que nos chegou em tradução copta refere, como que tirado do Evangelho dos Hebreus, uma passagem sobre o nascimento de Jesus segundo a qual Maria era a encarnação de uma potência celeste chamada Miguel. Por outro lado, um fragmento do Evangelho dos Hebreus conservado por Orígenes e Jerônimo (cf. acima) afirma que a mãe de Jesus era o Espírito Santo, e por isso fica duvidoso se o fragmento de Cirilo pertence à mesma obra. Restam, enfim, citações medievais: Aimão de Auxerre (cerca de 850) atribui ao Evangelho dos Nazarenos uma citação sobre a conversão de muitos judeus à morte de Jesus; um manuscrito do século XIII traz à margem da "Aurora" - uma versificação da Bíblia escrita por Pedro de Riga no século XII - uma citação dos "livros dos evangelhos utilizados pelos nazarenos"; uma catequese céltica do ms. Vat. Regin. Lat. 49 (século IX) contém uma citação do Evangelho dos Hebreus sobre o dia do juízo que ocorrerá no tempo pascal. B. Bischoff publicou e estudou, ademais um fragmento sobre a adoração dos magos citado num comentário a Mateus de Sedúlio Escoto como proveniente do Evangelho dos Hebreus, uma indicação atribuída ao Evangelho dos Hebreus num comentário irlandês a Lucas; dados extracanônicos tirados deste e de um comentário a Mateus, que o estudioso atribui ao mesmo evangelho; e sete fragmentos adscritos ao Evangelho dos Nazarenos numa "História a paixão do Senhor" contida num manuscrito do século XIV, um dos quais corresponde a uma indicação citada duas vezes por Jerônimo. Mais que das obras originais, tais fragmentos parecem de fato ter passado aos autores medievais, sobretudo irlandeses, por meio de florilégios, e parece notável a parte desempenhada pelos escritos de Jerônimo nesta transmissão.
Parece justificado distinguir três evangelhos, que cabe agora caracterizar.
a) Ao Evangelho dos Nazarenos, assim intitulado só nos testemunhos medievais, devem-se atribuir os seguintes fragmentos. (1) Pseudo-Orígenes, "Com. a Mt", 15,14 (sobre Mt 19,16-30: variante do episódio do rico). (2) Eusébio, "Teofania" IV, 22 (variante da parábola dos talentos Mt 25,14-30). (3) Eusébio, "Teofania" siríaca IV, 12 (sobre a divisão das famílias, cf. Mt 10,34-36). Entre as citações de Jerônimo: (4) Talvez "Homens Ilustres" 3 (ali se encontrariam as duas citações "Do Egito chamei o meu filho" e "Porque será chamado nazireu", tiradas do contexto bíblico hebraico e não da Septuaginta; mas é possível, pelo contexto, que Jerônimo se refira aqui simplesmente a Mt 2, 15-23). (5) "Com. a Mateus" 6,11 e "Tratado sobre o Salmo 135" (para epiousion de Mt 6,11 este evangelho tem mahar, "de amanhã"). (6) "Com. a Mt" 12,13 (desenvolvimento romanceado sobre o homem da mão seca, Mt 12,9-13). (7) "Com. a Mt" 23,35 (Zacarias filho de Joiada em vez de filho de Baraquias em correspondência de Mt 23,35). (8) "Com. a Mt" 27,16 )Barrabás explicado como "filho do mestre [deles]"). (9) "Com. a Mt" 27,51 e "Carta 120 a Edibias"; mesmo tema na "Historia passionis Domini" (desabamento da arquitrave do Templo à morte de Jesus, diferentemente de Mt 27,51). (10) "Diálogos contra os pelagianos" III, 2 (Jesus recusa a exortação de seus familiares de se fazer batizar por João). (11) "Dial. Contra os pelagianos" III, 2; um paralelo no Ioudaikon a Mt 18,22 (perdoar setenta vezes sete, porque até nos profetas se achou pecado; cf. Mt 18,21-22). Variantes do Ioudaikon a: (12) Mt 4,5; (13) Mt 5,22; (14) Mt 7,5 (melhor: 7,21-23); (15) Mt 10,16; (16) Mt 11,12; (17) Mt 11,25; (18) Mt 12,40; (19) Mt 15,5; (20) Mt 16,2-3; (21) Mt 16,17; (22) Mt 26,74; (23) Mt 27,65; cf. ademais n. (11). São também atribuíveis a este evangelho, cf. n. (9), também, todos ou em parte, os testemunhos medievais enumerados acima, entre os quais ele é porém expressamente mencionado só por Aimão, pelo manuscrito da "Aurora", pela "Historia passionis Domini".
O n. (5) mostra que este evangelho estava escrito em aramaico; mahar não pode porém ser o original semítico do raríssimo epiousios, mas, em vez disso, uma sua interpretação. Devia tratar-se, pois, de uma versão aramaica do Mateus grego, contendo modificações e ampliações secundárias. Ampliações romanceadas estão em (1) e (6), em ambos os casos com o acréscimo de um interesse social. Motivo romanceado, mas também alusão mais nítida que em Mateus à destruição do Templo de Jerusalém e ao fim da antiga aliança, em (9). Se o n. (4) diz respeito a este evangelho, ele continha a história do nascimento de Jesus; a ela se refere também o fragmento de Sedúlio Escoto, atribuído porém por este ao Evangelho dos Hebreus. Também as palavras de Jesus mostram desenvolvimentos secundários, como é evidente em (2). O n. (14) insere em Mt 7,21-23 um logion não-canônico que nos foi conservado por 2 Clemente 4,5. Visto que este é verossimilmente o evangelho "siríaco" utilizado por Hegesipo segundo Eusébio (cf. acima), sua composição se situa entre a de Mateus e a obra de Hegesipo (cerca de 180), provavelmente nos mesmos ambientes judeu-cristãos nos quais era usado no tempo de Epifânio e de Jerônimo, em Beréia da Celessíria.
b) Ao Evangelho dos Ebionitas devem-se atribuir as sete citações de Epifânio, "Panarion" 30. (1) 13,2-3 ("certo homem, de nome Jesus, de cerca de trinta anos" evoca o chamado dos discípulos). (2) 13,4 (atividade de João Batista; alimenta-se de doces, não de gafanhotos como nos sinóticos). (3) 13,6 (início do evangelho: batismo de João, filho de Zacarias e Elisabete, ao tempo de Herodes e Caifás). (4) 13,7-8 (batismo de Jesus). (5) 14,5 (quem são a mãe, os irmãos e as irmãs de Jesus, cf. Mt 12,47-50). (6) 16,5 (Jesus veio abolir os sacrifícios). (7) 22,4 (Jesus se recusa a comer carne na ceia pascal).
Segundo Epifânio, os ebionitas chamavam-no evangelho segundo Mateus, o que concorda com a notícia de Irineu. O n. (6) tem um paralelo só em Mateus. Errônea é, em todo caso, a identificação com o Evangelho dos Hebreus efetuada por Epifânio. A língua era o grego, como demonstra o trocadilho entre akris (gafanhoto) e enkris (docinhos) em (2). Faltavam os relatos do nascimento, ao passo que havia a última Ceia e sem dúvida a Paixão. O n. (1) é narrado por um dos discípulos que usa o "nós"; talvez Mateus, situado em posição de destaque no fim da lista citada por Jesus ("e tu, Mateus, que sentavas no banco de câmbio"). Todo o evangelho era assim narrado? Incerta é a identificação com o "Evangelho dos Doze" mencionado por Orígenes e Jerônimo. D. A. Bertrand demonstrou que esse evangelho é uma harmonia evangélica, isto é, construído somando e conciliando todos os dados de Mateus, Marcos e Lucas (não de João, diferentemente do que fará Taciano); Os traços teológicos tipicamente ebionitas são evidentes já nesses poucos fragmentos. A ausência dos relatos do nascimento corresponde à recusa ebionita da concepção virginal; no mesmo sentido, a insistência em Jesus como "homem" no n. (1); Jesus torna-se Filho de Deus quando, no batismo, o Espírito entra nele, n. (4). Jesus veio abolir o culto sacrifical do Templo, ferozmente combatido pelos ebionitas, n. (6); João não come gafanhotos, mas doces, n. (2) e Jesus não quer comer carne, n. (7), o que corresponde ao vegetarianismo ebionita. Os doze apóstolos dão testemunho para Israel, n. (1), o que se enquadra bem num evangelho judeu-cristão. G. Howard sugeriu todavia que as lições "heréticas" deste evangelho não teriam sido criadas ad hoc pela seita, mas escolhidas por ela dentro de um repertório de variantes que na origem eram teologicamente neutras e entre as quais cada autor de evangelho podia selecionar as que melhor se adaptavam às suas idéias. A data de composição se situa entre a época em que os três sinóticos são difundidos e aceitos (início do século II) e Ireneu; o lugar é provavelmente o território a leste do Jordão, onde Epifânio e outros autores situam a atividade dos ebionitas.
c) Ao Evangelho dos Hebreus devem-se atribuir antes de tudo os fragmentos transmitidos por Clemente de Alexandria e Orígenes. O primeiro tem (1) o logion "quem se assombra reinará, e tendo reinado repousará" (Stromata II, 9, 45, 5), citado de novo em Stromata V, 14, 96, 3 sem indicação da fonte, mas numa forma mais completa que acha correspondência no logion 2 do evangelho copta de Tomé (NHC II 80, 14-15) e em P. Oxy. 654. (2) Orígenes, "Com. a João" 2,12, repetido em "Homilias sobre Jeremias" 14,4; também em Jerônimo, "Com. a Miquéias" 7,6; "com. a Isaías 4,9"; "Com. a Ezequiel" 16,13 ("agora há pouco, minha mãe, o Espírito Santo, me tomou por um de meus cabelos e me transportou sobre o grande monte Tabor"). (3) Dídimo de Alexandria, "Com. sobre os Salmos" do Papiro de Tours, org. M. Gronewald 1968, p. 184 (o discípulo Levi não deve ser identificado com Mateus, mas com o Matias de At 1,23). (4) (Pseudo-?)Cirilo de Jerusalém, "Discurso sobre Maria Theotokos", trad. Copta, org. E. A. W. Budge 1915, pp. 60 e 637 (gestação de Cristo por sete meses por uma potência celeste chamada Miguel, descida à terra sob a forma de Maria). Fragmentos transmitidos por Jerônimo (além do n. (2)): (5) "Com. a Efésios" 5,4 ("não estejais nunca alegres senão quando tiverdes olhado vosso irmão com amor"). (6) "Homens Ilustres" 2 (o Senhor ressuscitado vai até Tiago, celebra a eucaristia com ele e o exorta a desfazer o voto, que fizera durante a Ceia, de não comer pão até que tivesse visto Jesus ressuscitado). (7) "Com. a Isaías" 4, sobre Is 11,2 (quando Jesus sai da água do batismo, "toda a fonte do Espírito Santo" desce e repousa sobre ele, dizendo tê-lo esperado por intermédio de todos os profetas). (8) "Com. a Ezequiel", sobre Ez 18,7 (entre os pecados mais graves está aquele de quem entristece o espírito do próprio irmão). (9) Eusébio de Cesaréia, "História Eclesiástica" III, 39, 17, atribui ao evangelho segundo os hebreus a história, referida por Papias de Hierápolis, de "uma mulher acusada de muitos pecados junto ao Senhor", que não precisa obrigatoriamente ser identificada com Jo 7,53 - 8,11, porque circulavam diversas histórias de encontros de Jesus com mulheres pecadoras; nosso evangelho pode muito bem ter contido uma versão deles, mas não sabemos de onde Eusébio - que de resto não parece conhecer este evangelho - pode ter tomado a informação.
O título "Evangelho segundo os Hebreus" é citado já em Clemente e Orígenes; é, portanto, original, à diferença dos outros dois. Segundo a "Esticometria" de Nicéforo, o texto contava 2.200 estíquios, 300 menos que Mateus. Os fragmentos conservados representam apenas uma ínfima parte. Que o n. (4) pertença a ele não é coisa segura, porque exprime um forte docetismo que não encontra confirmação nos outros testemunhos; não estamos seguros de que contivesse o nascimento de Jesus, mas, se assim era, o relato era fortemente mitológico. Continha porém o batismo, n. (7), e a tentação, n. (2), ainda que com evidentes diferenças em relação aos sinóticos. Bastante diferente também era a história da Paixão, na qual grande destaque era dado a Tiago, que tem um lugar importante na Ceia e que goza da primeira aparição do Ressuscitado (após o servo do sacerdote); já a tradição pré-paulina em 1 Cor 15,7 conhece uma aparição a Tiago, mas Paulo não a considera como a primeira. Tiago representa pois para este evangelho a principal autoridade; isto atesta o caráter judeu-cristão da obra, mas constitui também um outro elo - além do n. (1) - com o evangelho copta de Tomé (logion 12).
O n. (7) pertence a uma linha de pensamento enraizada na reflexão sapiencial do Antigo testamento; a Sabedoria de Deus transmigra de geração em geração por intermédio das almas de profetas e amigos de Deus (Sabedoria 7,27); ela buscou repouso em todos os povos antes de encontrá-lo em Israel (Sr 24,7). Segundo as Pseudoclementinas, o "verdadeiro profeta" preexistente se manifesta numa série de pessoas ao longo da história do mundo, até encontrar em Jesus o repouso definitivo (Homilias III, 20,2, cf. Reconhecimentos II, 22,4). Neste fragmento e no n. (2) Jesus aparece como o filho do Espírito Santo, como no "Apócrifo de Tiago" de Nag Hammadi. Que o Espírito Santo seja compreendido como mãe de Jesus deve-se a seu gênero feminino nas línguas semíticas, o que porém não significa que este evangelho fosse escrito numa língua semítica. O "repouso" é um termo-chave também no n. (1), onde indica o repouso escatológico, ponto de chegada do progresso do fiel, que passa também pelo assombro; essa atmosfera se encontra na mística helenística e na gnose cristã. Aparentemente privados de tais subentendidos são os dois ditos de Jesus (5) e (8), que alguns atribuem ao Evangelho dos Nazarenos (as indicações de Jerônimo são confusas); em todo caso, o motivo do "entristecer o espírito" tem um pano de fundo "técnico" judeu-cristão (cf. "Pastor de Hermas", preceito 10). O interesse pelo amor do irmão pode fazer pensar que nosso evangelho era usado numa comunidade mais restrita, com fortes laços internos e uma certa separação do mundo, na qual se praticava um cristianismo com traços místicos, voltado ao progresso interior e à busca do "repouso".
Escrito em grego (usa a Septuaginta), o Evangelho dos Hebreus decerto devia seu nome à utilização numa comunidade de cristãos de proveniência judaica. Todas as atestações orientam para o Egito (Jerônimo depende certamente de Orígenes). Seu conhecimento por parte de Hegesipo fixa para cerca de 180 o terminus ante quem; mas, à diferença dos outros dois evangelhos, este não parece depender dos evangelhos canonizados, mas sim de tradições próprias. Um terminus post quem não pode então ser estabelecido.
("História da Literatura Cristã Antiga Grega e Latina", Ed. Loyola, 1996, de Cláudio Moreschini e Enrico Norelli, vol. I, pág. 100/108)
O EVANGELHO E O CRISTIANISMO PRIMITIVO |
Nesses textos, analisados e traduzidos do hebraico e do grego, temos encontrado grandes diferenças quando comparamos o que existe no original e o que suas traduções têm resultado para o português. As pesquisas arqueológicas e os estudos realizados em busca da comprovação dos fatos têm demonstrado que nem tudo ocorreu como narram os textos sobre as origens do cristianismo. Até o final do século II, parece que o Cristianismo teve uma característica diferente do que passou a apresentar após esta data. Poderíamos dizer que existiram dois períodos distintos. O primeiro durante o século I com Tiago, o irmão de Jesus. O Cristianismo de Tiago foi judaico-cristão e baseado nos ensinamentos de Jesus. Depois disto, esse sofreu total influência com a mensagem de Paulo dirigida aos pagãos, gentios ou goim. numa visão totalmente diferente da de Tiago. A mensagem de Paulo, baseada na fé em Jesus, na crença e no seu sacrifício para o perdão dos pecados e com a promessa de uma vida eterna, pela sua força, foi a que mais preponderou até os nossos dias. Nossas pesquisas e análises sobre as origens e as traduções de textos, em hebraico, culminaram com a produção de três obras. A primeira chama-se “Analisando as Traduções Bíblicas”, seguida do “Sermão do Monte” e “Bereshit - Deus e a Criação”. Na sequência, tentamos aprofundar mais as nossas pesquisas dirigindo-as para a história das raízes do Cristianismo Primitivo, dos caminhos e ensinamentos de Jesus, bem como da sua história e da mensagem dos Evangelhos. Já produzimos e publicamos, nesta linha, uma tradução e análise crítica sobre a Didaqué, juntamente com os pesquisadores Fabrício Possebon e Sérgio Pereira da Silva, como parte do trabalho do nosso grupo de pesquisa chamado “BERESHIT”, na Universidade Federal da Paraiba. Didaqué significa instrução ou ensino, e foi um documento criado para as comunidades integrantes do cristianismo primitivo. Nesta obra, especificamente, tentamos aprofundar a questão das raízes dos evangelhos, analisando os acontecimentos através da história, buscando fatos e costumes da época de Jesus. Nela buscamos a essência da mensagem dos evangelhos, essência esta do idioma e dos conceitos judaicos do seu tempo para poder tornar melhor compreensível o conteúdo espiritual dos textos e o que Jesus, como judeu, queria realmente nos dizer nos seus evangelhos. Já se escreveu muito sobre Jesus e seus feitos, no entanto, nem sempre se busca as suas atitudes e condutas sob a ótica de um judeu. Poucos refletem que Jesus falou para o povo judeu. Veja, por exemplo, o que Ele diz para a mulher Siro-Fenícia em Mt. 15:24: “Eu vim para as ovelhas perdidas da casa de Israel”. Ao enviar seus discípulos, deu-lhes a seguinte recomendação: “Não tomem o caminho dos gentios ou pagãos, e não entrem nas cidades dos samaritanos” (Mt. 10:5). Estas recomendações ratificam a sua condição judaica e a preocupação de que sua mensagem chegasse primeiro aos hebreus que, na visão de Jesus, assemelhavam-se a ovelhas perdidas ou desgarradas. Realmente Jesus, um homem com uma mensagem transmitida em um idioma diferente do nosso, falado no mundo ocidental, foi um judeu diferente que primou sempre pela justiça e pela paz. Nem sempre foi possível fazer-se uma correta análise sobre Jesus, causa esta que resultou em uma mensagem in-completa ou alterada dos seus ensinamentos. Hoje já podemos concluir, depois de muitas pesquisas, que tanto as mensagens como a pessoa de Jesus foram desfiguradas. Não é possível aceitar um Jesus desfigurado, descaracterizado e com atitudes que não sejam de amor. Defendemos, pois, um Jesus autêntico, amável, bondoso e, sobretudo, justo. Nunca existiu um Jesus violento, desamoroso com a sua família ou injusto com ninguém. A avaliação feita é que Ele foi um judeu inigualável em sua conduta, mensagem e realizações. Ninguém, até o presente, foi capaz de fazer o que Ele fez. Jesus nunca foi cristão, nem frequentou igrejas, mas sinagogas; pregava nos campos, em barcos no mar da Galileia, e todos os seus atos e pregações culminaram com a origem do Cristianismo. Jesus falava línguas semitas, o hebraico, a língua dos hebreus e o aramaico, idioma vigente em sua época, a língua dos arameus, que habitavam a antiga Síria, não se tendo notícias de que Ele falasse ou conhecesse o grego e o latim. No entanto, em virtude das conquistas helênicas e romanas na Sua terra e proximidades, é possível que tenha tido contato com estes idiomas. É importante ressaltar que, na condição de judeu, Jesus declarou fidelidade à Torá. No Evangelho de Mateus, capítulo 5, versículos 17, 18 e 19, encontramos o registro destas declarações que podem ser conferidas no texto hebraico, extraído do Evangelho de Mateus utilizado pelos Ebionitas. Texto Hebraico – Versículo 17 אל תחשבו שבאתי לבטל את התורה או את הנביאים לא באתי לבטל אלא למלא ׃ A tradução do versículo acima é: “Não penseis que eu vim destruir a Torá ou os profetas, eu não vim para destruir, mas para cumprir”.Mt. 5:17. Texto Hebraico – Versículo 18 באמת אני אומר לכם כי עד שיעברו שמים וארץ יוד אחת או עוקץ אחד לא תבטל מהתורה שהכל יתקיים ׃ Em verdade eu vos digo: enquanto os céus e a terra não passarem, nem um “iud”[1], nem um sinal da Torá passará, antes que tudo seja cumprido (Mt. 5:18).Texto Grego - Versículo 18 Texto Hebraico – Versículo - 19 ואשר יעבור אחת מן המצוות האלה וילמד כן את בני האדם הוא בן הבל יקרא במלכות יהוה ואשר יעשה וילמד הוא יקרא גדול במלכות יהוה ׃ Tradução “Assim, o homem que deturpa um desses manda-mentos, por menor que seja, e ensina aos homens, será chamado o menor no reino dos céus. Mas quem pratica e ensina, este será chamado “Grande” no reino dos céus” (Mt. 5:19). Está claro que Jesus falava como judeu e para judeus, portanto, não podemos esquecer este importante fato para que possamos entender a sua mensagem. Como já mencionamos, não existe registro de que Jesus falasse o grego. No entanto, lamentavelmente, tudo que temos sobre ele, sobretudo nos Evangelhos, foram praticamente os escritos em grego. A exceção a esta regra está no Evangelho de Mateus, que, segundo alguns pesquisadores, foi escrito em hebraico. Justifica-se esta assertiva, pelo fato de Mateus haver escrito o seu Evangelho para os judeus da época, por isto, em seu idioma hebraico. Quando realizamos a leitura dos Evangelhos em grego, não conseguimos separar a mensagem ou conteúdo semítico, que existe por trás dos seus textos. Isto se deve ao fato de que aqueles que escreveram os Evangelhos, mesmo em grego, possuíam e pensavam com uma mente semita. O cristianismo deveria ter sido uma religião natural-mente derivada do judaísmo. No entanto, o sectarismo e o anti-semitismo que predominou nos séculos III e IV, período da fundação, sobretudo, da Igreja Católica, levou o cristianismo a deixar de ser judaico para se romanizar e helenizar. Quando Paulo foi preso e levado a Roma, esperava-se que, com sua chegada àquela cidade, ela fosse cristianizada, mas ocorreu exatamente o contrário. A mensagem de Paulo parece totalmente diferente da mensagem de Tiago, irmão de Jesus. A mensagem de Tiago vigorou durante o século I e terminou com a destruição de Jerusalém e do Templo pelo general Tito no ano 70 da nossa era. A partir daí, o que se tem como Cristianismo é a mensagem implantada por Paulo. A influência grega e romana no Cristianismo foi o que de pior podia lhe acontecer, pois juntos os romanos e os gregos alteraram a essência da mensagem de Jesus. A influência romana do imperador Constantino sobre o Cristianismo Primitivo o transformou em um “cristianismo” católico, apostólico, romano. Estes fatos registrados na história nos dirigem para uma busca constante da mensagem original de Jesus nos Evangelhos. A dificuldade de bases e buscas científicas, à luz da história, nos tem demonstrado o quanto é difícil afirmar-se, categoricamente, o que nos falam os escritos sobre Jesus. As afirmativas de David Flusser sobre esta questão devem ser registradas aqui. Segundo ele, “um estudo do Novo Testamento e do cristianismo primitivo, sem um conhecimento íntimo das fontes judaicas, leva a resultados fragmentários e incorretos”. Acrescenta, ainda: “é essencial que o estudioso tenha não apenas livre acesso a todas as fontes judaicas disponíveis, como também conhecimento bem fundamentado e sólido de todas as tendências e grupos do judaísmo na antiguidade”. Os nossos estudos sobre o judaísmo e o conhecimento da língua hebraica, as pesquisas históricas, os achados arqueológicos e as pesquisas na literatura vigente têm sido de muita utilidade em nossa busca. Viagens a Israel, visitas às sinagogas e nossa convivência com amigos judeus têm sido outro fator de muita importância para o entendimento dos ensinamentos de Jesus. Em Israel, visitando algumas localidades por onde Jesus passou e viveu, recebemos felizes e inesquecíveis revelações. Entendemos tudo como um feliz e precioso presente de LUZ vindo da espiritualidade superior. Este livro é fruto de uma busca pessoal e constante empreendida sobre Jesus, seus ensinamentos e suas realizações. Aqui, o leitor poderá encontrar tudo o que foi possível coletar em nossas pesquisas, além de uma análise crítica sobre a verdadeira e original mensagem de Jesus. Procuramos evidenciar o sentido mais original possível dos textos dos evangelhos. O nosso objetivo é buscar e trazer, à tona, o que foi escondido nestes séculos de predomínio dos conceitos greco-romanos e paulinos. Esperamos que Jesus nos ajude e nos inspire a ser o mais coerente possível em nossas análises e críticas, na busca de sua construtiva e libertadora mensagem. Temos consciência do quanto esta tarefa é difícil, porém, em meu espírito, torna-se uma busca feliz e agradável. Tentaremos de uma forma coerente unir ciência e espiritualidade. Nem sempre é fácil esta união, pois o cientista tem sempre a tendência de ignorar a espiritualidade. No entanto, aqui faremos o possível para demonstrar que ciência e espiritualidade podem caminhar juntas sem haver nenhum choque. Afinal, concordamos plenamente com a sabedoria do grande bacteriologista francês, Louis Pasteur: “Pouca ciência afasta de Deus e muita ciência a Ele conduz”. O autor [1] “iud”- menor letra do alfabeto hebraico. |
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