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A Teoria de Westcott e Hort e o Texto Grego do Novo Testamento: Um Ensaio em Manuscritologia Bíblica*

Duas edições do texto grego do Novo Testamento estão sendo utilizadas por tradutores, comentaristas e pastores protestantes em geral em nossos dias: o Novum Testamentum Graece, conhecido como o texto de Nestle-Aland (seus editores), publicado pelo Deutsche Bibelstiftung, já na 27ª edição; e o The Greek New Testament, editado por uma comissão composta por renomados eruditos da área (Barbara Aland, Kurt Aland, Johannes Karavidopoulos, Carlo M. Martini, e Bruce M. Metzger), publicado pela United Bible Societies (Sociedades Bíblicas Unidas), já na sua 4ª edição.(1)

Estes textos, praticamente idênticos, são o produto de uma teoria textual desenvolvida no século passado e consolidada especialmente por dois eruditos ingleses, de Cambridge: Brooke Foss Westcott e Fenton John Anthony Hort (Westcott-Hort). Em 1881 eles publicaram o The New Testament in the Original Greek, em dois volumes, contendo o texto grego do Novo Testamento e a teoria e métodos empregados na preparação do texto.(2)

Esse texto grego, bem como os demais que nele se basearam a partir de então, passaram a rejeitar a grande maioria dos manuscritos gregos (3) — nos quais até então se baseavam as edições impressas do Novo Testamento — e a adotar alguns poucos manuscritos mais antigos, descobertos nestes últimos séculos (4), e a afastar-se cada vez mais do texto anterior.

Essa teoria revolucionou a crítica textual do Novo Testamento de tal maneira que os livros textos sobre o assunto passaram a ensiná-la, não como teoria, mas como fato consumado; e assim tem sido ensinada em seminários e conseqüentemente empregada nas novas traduções para o português, comentários, obras teológicas e pregações.

Tamanha é a influência dessa teoria sobre a matéria, e tão estabelecido o seu domínio neste século, que poucos têm ousado questioná-la. Assim, quase nada se tem escrito sobre o assunto de outro ponto de vista. No Brasil, até onde este autor tem conhecimento, nenhum livro foi escrito do ponto de vista contrário à teoria de Westcott-Hort e dos textos ecléticos que produziu.(5)

1 Este é o texto grego utilizado por versões em português, como a popular Almeida Revista e Atualizada (já na 2a. edição) e a Nova Versão Internacional. Todas as paráfrases (como a Bíblia na Linguagem de Hoje) também usam este texto.

2 B. F. Westcott & F. J. A. Hort, The New Testament in the Original Greek. Introduction and Appendix (New York: Harper & Brothers, 1882).

3 Cerca de 90% dos manuscritos - representado nas edições críticas modernas pelos símbolos "M" (gótico) = majoritário (Nestle-Aland) ou Byz = bizantino (UBS). Embora os manuscritos mais antigos que contêm o Texto Majoritário não antecedam o século IV (a maioria é dos séculos VI a IX) o texto que refletem era considerado como bem mais antigo, datando mesmo dos primeiros séculos da era cristã.

4 Especialmente os maiúsculos ) (códice Sinaítico) e B (códice Vaticano).

5 O termo "eclético" refere-se ao fato de que o texto de Westcott-Hort é o resultado de várias escolhas feitas entre variantes disponíveis, seguindo critérios de evidências internas (como a leitura que melhor se encaixa no contexto, e a leitura que melhor explica o surgimento de outras variantes), sem maiores considerações para com evidências externas, tais como a história da transmissão do texto.

Por que alguns textos bíblicos aparecem entre colchetes?

Existem mais ou menos cinco mil manuscritos gregos do Novo Testamento, os quais nem sempre concordam entre si. Os textos entre colchetes aparecem em alguns manuscritos gregos, mas não se encontram nos melhores e mais antigos manuscritos gregos existentes . A Comissão de Tradução usou os melhores e mais antigos manuscritos, mas optou por colocar esses outros textos entre colchetes, visto que aparecem em várias outras traduções da Bíblia e não vão contra o que está escrito no restante das Escrituras.

Os muitos manuscritos gregos disponíveis dos textos do NT, podem ser agrupados da seguinte maneira:

1. Textus-receptus (TR) ou Texto-tradicional (TT): maioria, homogêneos, mais novos em idade, porém sempre utilizados na história da igreja.

As traduções Almeida Corrigida e Fiel (ACF) e Almeida Revista e Corrigida (ARC) utilizam basicamente estes.

2. Textus-criticus (TC): minoria, mais antigos em idade, porém descobertos mais recentemente, e utilizados nas traduções bíblicas mais recentes.

Traduções mais novas como Almeida Revista e Atualizada (ARA) e NVI (Nova Versão Internacional) utilizam os dois grupos de manuscritos.

A NVI descreve as diferenças em notas no rodapé, enquanto a ARA coloca entre colchetes o que não está nos manuscritos TC. Diversos versículos são traduzidos de maneira diferente do texto-tradicional.

Exemplo: O episódio que relata o encontro de Jesus com a mulher que ia ser apedrejada (Jo 8,1-11) - Os manuscritos mais antigos não contém essa passagem.


Textus Criticus (Texto Crítico, T.C.) se refere à edição do NT em grego baseada na teoria textual de B.F. Westcott (1825-1901) e F.J.A. Hort (1828-1892), e é essencialmente manifestado na 26a edição de "The Nestle-Aland Greek New Testament" e na 3a. edição de "The United Bible Society Greek New Testament" (UBS-GNT).

O termo “crítico” indica que essas edições permitem que se faça a crítica textual, ou seja, a comparação entre o texto que se considera original e as variantes ou alternativas textuais (inclusive as do textus receptus), que aparecem ao pé da página. Para a edição Revista e Atualizada, decidiu-se traduzir o melhor texto grego disponível naquele momento, que era a 16ª edição do Novo Testamento Grego editado por Erwin Nestle. Esse Novo Testamento Grego, é bom que se registre, foi sendo reimpresso sem alterações até o surgimento da 26ª edição, em 1979.
Uma das diferenças entre o texto crítico e o “texto recebido” diz respeito à extensão do texto. Com o passar do tempo, à medida que se faziam novas cópias do texto grego, anotações colocadas à margem dos manuscritos começaram a ser incorporadas no próprio texto, como se pode verificar a partir de uma comparação com manuscritos mais antigos, que não trazem esses acréscimos. O “texto recebido” reflete essas tendências expansionistas. O texto crítico, por sua vez, por seguir os manuscritos mais antigos, é um texto mais breve, em determinadas passagens. Visto que a edição Revista e Atualizada se baseia numa edição crítica, esses acréscimos, típicos do “texto recebido”, deveriam ter sido tirados na tradução. No entanto, em respeito a Almeida, o tradutor, e ao leitor familiarizado com esses textos, eles foram mantidos, só que entre colchetes, como se pode verificar em Mt 5.22, 6.13, etc. Os colchetes indicam que o texto que eles contêm consta da tradução de Almeida, feita no século XVII, mas não faz mais parte do texto grego do Novo Testamento que hoje é considerado original.

Parâmetros Bibliológicos

Diferenças entre os Textos: Estudiosos da questão textual concordam que os parâmetros do debate textual do Novo Testamento são determinados, em uma frente [do debate], pela diferença entre o TR e o TC, e, em outra frente, pelas diferenças entre o TR e o TM. O Textus Receptus tem 140.521 palavras gregas. O Textus Criticus muda (primariamente pela adição ou [, ainda mais, por] subtração) 9.970 palavras gregas (Donald Waite, Defending the King James Bible, Collingswood, NJ: The Bible For Today Press, 1992, p. xii). Isto resulta em 7% de diferença entre o TC e o TR. Assim, o TR e o TC são idênticos com respeito a 93% de suas palavras, mas diferem em relação a 7% de suas palavras. O TR e o Texto Majoritário são constatados serem idênticos com respeito a 98.7% de suas palavras, e diferirem em 1.838 palavras ou cerca de 1.3% (Daniel Wallace, "The Majority Text Theory: History, Methods and Critique," Journal of the Evangelical Theological Society, June 1994, p. 194). Não há discussões sobre os 93% ou sobre os 98.7% nos quais os textos concordam. No entanto, questões vitais se erguem e sugerem a si mesmas, quanto às palavras que são diferentes. Isto, de fato, é onde o debate textual se centra: [a] São significantes as variantes dentro da área de divergência das palavras? [b] Que abordagem de crítica textual deve ser aplicada às variações dentro da área de desacordo textual, para determinar a leitura original? [c] E, se estas diferenças são significantes, a qual texto (o TR, o TC, ou o TM) devemos nos aferrar?

Qualquer tratado sobre crítica textual relativamente moderno que você examinar, dará testemunho unânime da importância dos manuscritos de Qumrã, e os mais antigos não dão tal testemunho porque esses manuscritos ainda não haviam sido encontrados.

Ha duas características nesses manuscritos que os tornam tão importantes à crítica textual;

1 - São os mais antigos ja encontrados, cerca de duzentos anos mais antigo do que o mais antigo existente até então.

2 - São originários da região da Palestina, perto da própria fonte dos primeiros manuscritos, pertencendo ainda a era relativamente intocada por alterações de copistas ou por tendências heréticas geográficas em comparação com outros unciais.
Eduardo
Eduardo

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