alguns meses, o excelente blog Deus em Debate publicou uma das várias palestras do Dr. William Lane Craig (para ver meus outros posts sobre Craig, incluindo uma refutação ao Dilema de Epicuro, [url=http://quebrandooencantodoneoateismo.wordpress.com/?s=william lane craig]clique aqui[/url]). Naturalmente, o material é de alta qualidade. Na sua fala, Craig faz uma breve explanação sobre o assunto “Neutralidade Intelectual” e sua relação com o Cristianismo e com o Relativismo – fechando exatamente com os temas tratados cá nos últimos dias.
O vídeo está abaixo. Tem 40 minutos, mas vale a pena. Se quiser, pode pular direto para 1:22 no primeiro vídeo, pois é onde efetivamente começa a palestra. Volto em seguida.



Comento

Como vocês devem ter notado, Craig fez um sumário sobre os conceitos de verdade no relativismo, matando a charada.

Ora, não há verdade absoluta. Por isso, devemos usá-la e transformar sua percepção segundo “atos de vontade”. A utilidade dela é unicamente instrumental – devemos conseguir conforto, fama, riqueza, paz social, etc. E o pior: quem ousar discordar disso ou dos pontos de vista das “classes oprimidas” é carimbado de “intolerante”, esquecendo, é claro, que a tolerância pressupõe a crença na falsidade da tese do adversário, pois, como diz Craig, “se você não achasse falsa, você não a toleraria, você CONCORDARIA com ela!” .

Sendo assim, para um relativista, a verdade não importa – só o que podemos retirar dela. Lembra bastante o Epicurismo.

Claro, isso até faz sentido dentro desse sistema.

Mas para um teísta, a coisa não é bem assim. Nosso sistema de avaliação da realidade é diametralmente OPOSTO a esse pensamento.

Craig acerta mais uma vez ao dizer que esse é um momento de DUELO de culturas.

No base do relativismo de hoje, está a criação de uma cultura anti-religiosa.Afinal, a religião faz viver “com culpas”. (Sobre isso, ver o seguinte post: Viver sem culpas. Ou: a sociopatia da modernidade)

E o único modo de evitar a marginalização da religião é reagindo INTELECTUALMENTE.

Talvez alguns digam “bem, não me importo que a cultura anti-religiosa seja predominante”. Craig deu três motivos para não considerar essa hipótese. Eu tenho uma opinião levemente diferente, com dois motivos.

O primeiro motivo é a DIGNIDADE. Você vai deixar que lhe chamem e considerem pessoas tal qual você como “estúpidos” e “irracional”? Você é covarde a esse ponto? Aliás, quem é “irracional”? Sugiro uma visita a minha página “Truques Neo-Ateístas” para verificar os argumentos mais usados por neo-ateus e ateus em debates. Depois, conclua quem realmente está falando bobagem e quem não está. Um pouquinho de exercício basta para liquidar a maior parte das besteiras que se usam para atacar o teísmo.

A segunda motivação é POLÍTICA. Nenhuma sociedade sobrevive sem um substrato intelectual que lhe unifique e mais ou menos lhe dê uma direção a ser seguida. Toda cultura se modela de acordo com representações simbólicas que delimitam as possibilidades de pensamento do indivíduo. Com a eliminação das teorias conservadoras, fortalece-se teorias esdrúxulas (baseadas sim, parte, em resíduos da tradição cristã, como a crença em uma redenção final) de uma “sociedade perfeita” remodelada de acordo com padrões coletivos, pela qual vale fazer qualquer coisa para alcançar. Isso, no longo prazo, pode levar à concentração do poder na mão de um grupo de burocratas que se autodenominam os “profetas” desse modelo de sociedade. É ingenuidade achar que alguns “anjos na terra” possam gerir todo um sistema formado por múltiplas ações complexas e caóticas. O que eles vão fazer, tendo esse poder, é aproveitar para tirar o seu e controlar os outros. Daí, para o surgimento de uma tirania coletivista (seja moral ou legal) contra a autonomia da consciência individual é um passo. Tudo fruto da crença no “homem”. (*)

Por isso é hora de REAGIR às mentiras, às picaretagens, às fraudes intelectuais.

Vai demorar?

Talvez.

Mas não podemos esperar resultados imediatos.

Também não podemos ficar parados. Devemos ir debatendo e, ao mesmo tempo, estudando.

Assim, será possível esboçar alguma reação contra a ocupação intelectual esquerdista e anti-religiosa no espaço público e na mídia.

Talvez você ainda não se sinta seguro em conhecimento para debater com alguém. Mas sempre é possível fazer alguma coisa. Se você estuda em uma universidade, não deixe seu professor pregar ateísmo ou materialismo sem passar ele por um questionamento cético (dicas nesse link). Uma pequena reação pode ser bastante útil no futuro.

A necessidade é tornar-se intelectualmente forte. Os frutos se colhem mais tarde.

(*) Observe que eu não estou dizendo que um ateu não possa duvidar da crença no “homem”. Decerto existem vários que não acreditam nessas teorias, como o autor John Gray. Por isso não estou opondo cristianismo ao ateísmo, mas sim conservadorismo ao “progressismo”. No Brasil de hoje, o cristianismo é uma das formas de conservadorismo ainda existente. Atacá-lo de forma feroz é abrir espaço para o progressismo dos “moderninhos”. Eu também não estou propondo nenhum modelo de sociedade, apenas rejeitando uma determinada teoria de “revolução social”. Por exemplo, se alguém chega e me apresenta o nazismo (que era um movimento revolucionário), eu rejeito na hora, dizendo que não acredito nos pressupostos dele. Mas isso não faz eu estar propondo um modelo completo de sociedade, pois, como eu disse, ela surge de um múltiplo de ações que é quase impossível controlar, devendo ser analisadas momento a momento o que deve ser feito governamentalmente.