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A causa final e a causa certa
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12072010
A causa final e a causa certa
O blog da revista VUNESP CIÊNCIA promoveu recentemente uma discussão que, além de interessante, serve como exemplo à postura ditatorial de alguns veículos de comunicação, os quais apenas tecem crítica aos que defendem o conceito de design inteligente, (desenho, planejamento), sem, no entanto, oferecer-lhes espaço para exporem publicamente o que pensam. Inicialmente publicou-se o texto "Design inteligente e a volta à causa final", com o qual Maurício Tuffani criticava os defensores do "design", mais exatamente acerca daquilo que denominou de "causa final". Em seguida, em contestação à dúbia acusação do darwinista, o cientista Marcos N. Eberlin respondeu com o seu "O Design Inteligente e a volta à causa certa", como se seguem:
Por: Maurício Tuffani
Desta vez não é acusação de nenhum darwinista, mas reconhecimento por parte de um renomado defensor do Design Inteligente (DI), que em alto e bom som disse, com todas as letras, que essa proposta teórica para a evolução da vida é uma retomada da causa final – ou seja, do modelo explicativo que foi banido da ciência a partir da revolução copernicana. Em outras palavras, isso implica admitir – mesmo sem o querer – que o fundamento do DI é metafísico, e não científico no sentido da cientificidade pós-medieval.
O reconhecimento de que o DI ressuscita a causa final foi feito por Marcos Nogueira Eberlin, professor titular do Departamento de Química Orgânica do Instituto de Química da Unicamp, membro titular da Academia Brasileira de Ciências, comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, autor de mais de 400 artigos científicos em publicações internacionais, os quais tiveram mais de 4.500 citações até 2009. O fato se deu após sua palestra “A viabilidade da evolução química ao nível molecular: as moléculas falam, e não mentem!”, proferida na noite de quinta-feira da semana passada, dia 29 de abril, no encerramento do III Seminário Internacional Darwinismo Hoje, realizado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.
Convicções à parte, a palestra de Eberlin é brilhante e didática. Com base no que ele afirma serem os conhecimentos atuais da bioquímica, a apresentação defende a tese de que a probabilidade de a vida ter surgido por causas naturais seria da ordem de (1/10)195, ou seja, ela não seria alcançada nem mesmo por todos os recursos probabilísticos do universo. Em vista disso, ele infere que determinados processos evolutivos bioquímicos que levaram à formas mais primitivas e simples de vida somente poderiam ter ocorrido por meio da ação de “uma mente inteligente”.
Segundo Eberlin e outro expositor, Enézio de Almeida Filho, que proferiu a palestra “A teoria do Design Inteligente: ciência ou religião?”, estão em estado de ignorância aqueles que não admitem essa inferência da “mente inteligente”, que, segundo ambos, seria a única aceitável com base no conhecimento atual da bioquímica. Mesmo que admitamos como corretas todas as premissas de Eberlin (e há quem conteste essa linha de raciocínio, como Pete Dunkelberg e outros da iniciativa The Talk Origins Archive), o problema é que essa inferência – baseada na confusão de improbabilidade com impossibilidade – tem um outro pressuposto: o de que nunca haverá conhecimentos que modifiquem essa compreensão. Em outras palavras, apesar de os dois vibrantes expositores tacharem de ignorantes os que discordam dessa inferência, esta incorre irônica e justamente naquilo que em lógica se chama de falácia do argumento da ignorância: “não conheço uma determinada coisa, portanto ela não existe”. Nesse caso: “não conheço uma causa natural, então nego que ela exista e postulo que há uma causa sobrenatural”.
Uma das principais características da passagem do saber teológico medieval para a ciência moderna foi justamente a eliminação da causa final, aquela exterioridade que, segundo Aristóteles, guiaria a ação (causa eficiente) a imprimir uma forma (causa formal) na matéria (causa material). Pois bem: logo ao final da apresentação de Eberlin, o mediador perguntou ao palestrante: o DI traz a causa final de volta para a ciência? A resposta do pesquisador foi afirmativa. Poucas horas antes, no mesmo seminário, o mediador havia feito a mesma pergunta para mim após minha palestra “O confronto entre evolucionismo e criacionismo na esfera pública”, proferida na parte da tarde, na qual ressaltei o abandono do modelo de explicação finalista na ciência moderna.* E minha resposta também foi afirmativa.
Na verdade, Eberlin não é o primeiro expoente do DI a admitir abertamente que essa teoria retoma a causa final. Por exemplo, o matemático e teólogo norte-americano William Dembski, professor do Southwestern Baptist Theological Seminary, já o havia feito em um artigo de 1996 (“Teaching Intelligent Design as Religion or Science?”), dando a ela um rótulo especial: “causa inteligente”. Para Dembski, é preciso distinguir “causa inteligente como fé” (por exemplo, na crença cristã de que Deus criou o mundo) e “causa inteligente como inferência científica” (como explicado por Eberlin). O problema é que essa inferência supostamente científica transforma uma teoria em algo nada científico.
Não sou um defensor do critério de demarcação entre ciência e pseudociência adotado por Karl Popper (1902-1994) em sua obra A Lógica da Pesquisa Científica, de 1934. Mas não há como negar que esse critério serve perfeitamente para demarcar teorias que comportam predições das que não as comportam. Para esse filósofo, tal critério é a falseabilidade das predições que se podem deduzir logicamente dos axiomas de uma teoria. Ocorre que a noção de uma “mente inteligente” condutora da evolução da vida adotada como axioma pode fazer com que de sua teoria se possa inferir inferir tanto uma predição expressa por um enunciado A como sua negação não-A. Afinal, tudo estará subordinado à vontade dessa “mente inteligente” capaz de direcionar as mutações para qualquer direção.
Em outras palavras, a ressurreição da causa final desse modo na ciência não serve para promover o avanço do conhecimento da evolução das espécies e também não acrescenta a ela nada além de Deus como pressuposto. Enfim, parece ser um fracasso no que se refere ao ideal de fazer a ciência avançar no conhecimento. Mas talvez tenha o mérito de forçar os evolucionistas a rever seus pressupostos e serem um pouco mais autocríticos. Seja como for, para aqueles que, de um lado ou de outro, estão acostumados a se dirigir apenas às suas próprias platéias e julgam terem vencido a parada, vale a pena lembrar a máxima de Nietzsche de que o sucesso sempre foi o maior mentiroso (Além do Bem e do Mal, § 269).
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Por: Marcos N. Eberlin
O post “O Design Inteligente e a volta à causa final”, publicado neste blog em 7 de maio pelo jornalista Maurício Tuffani, diretor de redação da revista Unesp Ciência, é muito didático e melhor ainda, fomentador de um debate inteligente, científico, filosófico e teológico que há muito perdemos no tempo, e na teoria. Ele distinguiu o cerne da questão da relação entre a teoria do Design Inteligente (TDI) e a ciência, e nos remeteu à reflexão de aspectos fundamentais de como se dá o conhecimento científico. Todavia, em detrimento à posição cética sui generis, sua análise foi prejudicada pela influência da visão estereotipada e pré-conceituosa que o materialismo filosófico tem a respeito da TDI.
Quanto à causa final, Tuffani confunde implicações com fundamentos, e opiniões com postulados. Não é correto, sabemos, usar colocações filosóficas e teológicas sobre as implicações indiretas da TDI, feitas por qualquer de seus adeptos (que além de cientistas são também gente), sobre suas convicções pessoais a respeito da natureza da inteligência no Design e suas implicações indiretas sobre o funcionamento e alcance da ciência, tentando transformar, por força da retórica, essas avaliações legítimas, mas subjetivas, em fundamento da teoria que eles defendem. Não cola!
A TDI incita, sim, a discussão sobre as possíveis implicações filosóficas e teológicas de seu postulado, mas não se baseia em nenhuma delas. Não assume a priori qualquer causa, primeira ou final, natural ou sobrenatural. Terrestre ou extra-terrestre. Pré ou pós-Aristóteles! Que vá ou não alterar toda a ordem do Universo, até a lei da gravidade, como se inferiu.
TDI tem apenas um postulado, uma única regra de prática, sem fé: Vamos seguir os dados onde quer que nos levem! E vamos interpretá-los, livres de qualquer amarra, pré-conceito ou predefinição; por exemplo, livres daquele “pacto” pós-medieval iluminista que fizeram com o materialismo filosófico e que nos constrange quanto ao que devemos e o que não podemos concluir. Livres de qualquer demarcação chique e perfumada, que nos força a procurar explicações até mesmo onde elas simplesmente não existem.
E assim, nessa análise sem pré-conceitos ou paixões, a TDI faz também uma única conclusão, revolucionária sabemos: há sinais claros da ação de uma mente inteligente e consciente na Vida e no Universo! Só isto e nada mais! Somos livres, como cientistas e gente, para especular sobre as implicações metafísicas desta grande descoberta, a maior de todos os tempos em Ciência, mas proibidos pela regra única de prática sem fé da TDI de transformar nossas especulações filosóficas e/ou teológicas em pré-conceitos inibidores da TDI em sua busca de fazer Ciência plena e sem pré-conceitos.
A TDI resgata, sim, uma causa. Mas não a causa final efêmera pré-coperniana. Resgata uma causa legítima, conhecida e invocada amplamente pela ciência, em várias áreas não diretamente “regidas” pelo “pacto”. Uma causa suficiente e necessária, a única causa que sabemos hoje em ciencia ser capaz de gerar informação aperiódica funcional e gerenciá-la através de códigos múltiplos e interligados, códigos dentro de códigos, informação zipada, criptografada, com estrutura “topdown hard-disk like”.
Tuffani se equivoca também quando diz que, em relação a evolução química, confundi em minha palestra improbabilidade com impossibilidade. Confundi não! Assistam à minha palestra (disponível no site do III Simpósio Internacional Darwinismo Hoje, do Mackenzie) e vocês verão e ouvirão que conclui, não pela improbabilidade da evolução química, mas pela sua total impossibilidade, e por conseqüência pela morte da evolução biológica pela raiz. É porque sei que a evolução química é impossível que eu a refuto. É porque sei que as forças naturais são contra a Vida, e não a seu favor, que concluí, à luz do conhecimento, e pela força dos dados, sobre a impossibilidade absoluta de toda a cadeia da evolução.
Tuffani se engana também quando afirma que “…tachamos de ignorantes os que discordam dessa inferência.” Nunca fiz nem faria tal adjetivação, mesmo que indiretamente. Sei que os evolucionistas são pessoas inteligentes e muito bem informadas, e principalmente muito criativas. Eles não são ignorantes, não! São pré-conceituosos. Assumem que tudo é “matéria e energia” e, assim, guiados por este pré-conceito, necessariamente concluem o inevitável: a evolução ocorreu! Posso não saber como foi, mas um dia vou descobrir. Posso não ter explicação alguma agora, mas como Mauricio mesmo me sugeriu no simpósio, o máximo que farei é admitir total ignorância, jamais rever meu pré-conceito.
Mas é esse pré-conceito chique e perfumado, iluminado, pós-medieval, que está impedindo a ciência hoje de ver o óbvio. De escutar o que as moléculas da Vida falam com tanta clareza, com tanta veemência, e em voz alta! Ecos de nossa existência que soam cada vez mais forte! A teimosia fica evidente, porém, quando persistimos em procurar explicações filtradas pelo materialismo filosófico. E de classificar de obscurantista pré-medieval Aristoteliano qualquer um que ouse encontrar outra causa! Mesmo que esta causa seja uma causa cientificamente legítima, conhecida, suficiente e necessária.
Quanto ao critério de demarcação entre ciência e pseudociência de Karl Popper, não há dúvida que a TDI se enguadra nele. Palestras no III Simpósio abordaram esse aspecto. Mas a ironia maior se observaria se constatássemos que a TDI, segundo Popper, é mesmo uma pseudociência. Que deveríamos fazer, então? Às favas com Popper e sua demarcação! Pois o que queremos não é demarcar a ciência, ou obedecer a Popper ou qualquer outro “pai da ciência”! Queremos encontrar a resposta certa, não a “cientificamente aceitável”. Remova-se então a demarcação de Popper, pois ela estaria prestando um grande desserviço justamente a quem deveria servir. Estaria deixando de fora o que ela deveria estar acolhendo: a resposta certa! Aquela resposta que segue os dados e os interpreta livre de pré-conceitos que nos dizem a priori o que podemos e devemos concluir!
Tuffani se engana também quando classifica a TDI de “um fracasso científico”, no que se refere ao ideal de fazer a ciência avançar no conhecimento. Mas a TDI é mesmo um fracasso, só porque inibe as pesquisas em evolução? Em ciência, tão bom quanto descobrir uma rota certa é descobrir uma rota errada. Pois ao descobrirmos que uma rota é impossível, nunca mais a utilizaremos. Não consigo mesmo transformar ferro em ouro, alquimicamente, e ponto final! E isto vai nos poupar tempo e muito dinheiro. Vai evitar que eu repita meu erro, persista nele. Um dos grandes sucessos da TDI é exatamente esse – o de mostrar que a rota para a Vida a partir de matéria inamimada e processos naturais não guiados é inviável, impossível, probabilidade zero mesmo! É querer, pedalando, chegar à Lua. Livres da persistência nesse erro, de transformar ferro (matéria inanimada) em ouro (Vida), poderemos então nos concentrar em questões ainda mais relevantes. Podemos fazer agora as perguntas certas! Não perguntaremos mais como esse código evoluiu, pois códigos são, por princípio (e por constatação), imutáveis, mas sim: qual a lógica e a inter-relação dos diversos códigos da Vida, e onde e como estão armazenados? Podemos aprender com eles, com sua inteligência? E usar este conhecimento em benefício da Vida? Ou seja, a TDI quer soltar a perna da ciência, que jaz presa no materialismo filosófico, e permitir a ela passos livres e bem mais largos!
Tuffani acerta em cheio, porém, quando diz que o maior mérito da TDI é “…de forçar os evolucionistas a rever seus pressupostos e serem um pouco mais autocríticos”. Perfeito! Isso nós queremos, sim. Que nossos amigos evolucionistas, gente boa e bem informada, inteligentes e cultos, conhecedores de toda a complexidade irredútivel, a informação aperiódica funcional, e a antevidência genial que superlota a Vida, e a cada dia mais, não fiquem à espera de explicações materialistas que teimam em não vir. Mas que, deixando de lado o seu pré-conceito materialista filosófico, sigam os dados aonde eles nos levam! Que sejam autocríticos a ponto de perceber que sua subjetividade materialista os impede de ver o que os dados mostram hoje com tanta clareza: uma mente inteligente e consciente orquestrou a Vida e o Universo, não resta dúvida!
É isso!
Design Inteligente e a volta à causa final
Por: Maurício Tuffani
Desta vez não é acusação de nenhum darwinista, mas reconhecimento por parte de um renomado defensor do Design Inteligente (DI), que em alto e bom som disse, com todas as letras, que essa proposta teórica para a evolução da vida é uma retomada da causa final – ou seja, do modelo explicativo que foi banido da ciência a partir da revolução copernicana. Em outras palavras, isso implica admitir – mesmo sem o querer – que o fundamento do DI é metafísico, e não científico no sentido da cientificidade pós-medieval.
O reconhecimento de que o DI ressuscita a causa final foi feito por Marcos Nogueira Eberlin, professor titular do Departamento de Química Orgânica do Instituto de Química da Unicamp, membro titular da Academia Brasileira de Ciências, comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, autor de mais de 400 artigos científicos em publicações internacionais, os quais tiveram mais de 4.500 citações até 2009. O fato se deu após sua palestra “A viabilidade da evolução química ao nível molecular: as moléculas falam, e não mentem!”, proferida na noite de quinta-feira da semana passada, dia 29 de abril, no encerramento do III Seminário Internacional Darwinismo Hoje, realizado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.
Convicções à parte, a palestra de Eberlin é brilhante e didática. Com base no que ele afirma serem os conhecimentos atuais da bioquímica, a apresentação defende a tese de que a probabilidade de a vida ter surgido por causas naturais seria da ordem de (1/10)195, ou seja, ela não seria alcançada nem mesmo por todos os recursos probabilísticos do universo. Em vista disso, ele infere que determinados processos evolutivos bioquímicos que levaram à formas mais primitivas e simples de vida somente poderiam ter ocorrido por meio da ação de “uma mente inteligente”.
Segundo Eberlin e outro expositor, Enézio de Almeida Filho, que proferiu a palestra “A teoria do Design Inteligente: ciência ou religião?”, estão em estado de ignorância aqueles que não admitem essa inferência da “mente inteligente”, que, segundo ambos, seria a única aceitável com base no conhecimento atual da bioquímica. Mesmo que admitamos como corretas todas as premissas de Eberlin (e há quem conteste essa linha de raciocínio, como Pete Dunkelberg e outros da iniciativa The Talk Origins Archive), o problema é que essa inferência – baseada na confusão de improbabilidade com impossibilidade – tem um outro pressuposto: o de que nunca haverá conhecimentos que modifiquem essa compreensão. Em outras palavras, apesar de os dois vibrantes expositores tacharem de ignorantes os que discordam dessa inferência, esta incorre irônica e justamente naquilo que em lógica se chama de falácia do argumento da ignorância: “não conheço uma determinada coisa, portanto ela não existe”. Nesse caso: “não conheço uma causa natural, então nego que ela exista e postulo que há uma causa sobrenatural”.
Uma das principais características da passagem do saber teológico medieval para a ciência moderna foi justamente a eliminação da causa final, aquela exterioridade que, segundo Aristóteles, guiaria a ação (causa eficiente) a imprimir uma forma (causa formal) na matéria (causa material). Pois bem: logo ao final da apresentação de Eberlin, o mediador perguntou ao palestrante: o DI traz a causa final de volta para a ciência? A resposta do pesquisador foi afirmativa. Poucas horas antes, no mesmo seminário, o mediador havia feito a mesma pergunta para mim após minha palestra “O confronto entre evolucionismo e criacionismo na esfera pública”, proferida na parte da tarde, na qual ressaltei o abandono do modelo de explicação finalista na ciência moderna.* E minha resposta também foi afirmativa.
Na verdade, Eberlin não é o primeiro expoente do DI a admitir abertamente que essa teoria retoma a causa final. Por exemplo, o matemático e teólogo norte-americano William Dembski, professor do Southwestern Baptist Theological Seminary, já o havia feito em um artigo de 1996 (“Teaching Intelligent Design as Religion or Science?”), dando a ela um rótulo especial: “causa inteligente”. Para Dembski, é preciso distinguir “causa inteligente como fé” (por exemplo, na crença cristã de que Deus criou o mundo) e “causa inteligente como inferência científica” (como explicado por Eberlin). O problema é que essa inferência supostamente científica transforma uma teoria em algo nada científico.
Não sou um defensor do critério de demarcação entre ciência e pseudociência adotado por Karl Popper (1902-1994) em sua obra A Lógica da Pesquisa Científica, de 1934. Mas não há como negar que esse critério serve perfeitamente para demarcar teorias que comportam predições das que não as comportam. Para esse filósofo, tal critério é a falseabilidade das predições que se podem deduzir logicamente dos axiomas de uma teoria. Ocorre que a noção de uma “mente inteligente” condutora da evolução da vida adotada como axioma pode fazer com que de sua teoria se possa inferir inferir tanto uma predição expressa por um enunciado A como sua negação não-A. Afinal, tudo estará subordinado à vontade dessa “mente inteligente” capaz de direcionar as mutações para qualquer direção.
Em outras palavras, a ressurreição da causa final desse modo na ciência não serve para promover o avanço do conhecimento da evolução das espécies e também não acrescenta a ela nada além de Deus como pressuposto. Enfim, parece ser um fracasso no que se refere ao ideal de fazer a ciência avançar no conhecimento. Mas talvez tenha o mérito de forçar os evolucionistas a rever seus pressupostos e serem um pouco mais autocríticos. Seja como for, para aqueles que, de um lado ou de outro, estão acostumados a se dirigir apenas às suas próprias platéias e julgam terem vencido a parada, vale a pena lembrar a máxima de Nietzsche de que o sucesso sempre foi o maior mentiroso (Além do Bem e do Mal, § 269).
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O Design Inteligente e a volta à causa certa
Por: Marcos N. Eberlin
O post “O Design Inteligente e a volta à causa final”, publicado neste blog em 7 de maio pelo jornalista Maurício Tuffani, diretor de redação da revista Unesp Ciência, é muito didático e melhor ainda, fomentador de um debate inteligente, científico, filosófico e teológico que há muito perdemos no tempo, e na teoria. Ele distinguiu o cerne da questão da relação entre a teoria do Design Inteligente (TDI) e a ciência, e nos remeteu à reflexão de aspectos fundamentais de como se dá o conhecimento científico. Todavia, em detrimento à posição cética sui generis, sua análise foi prejudicada pela influência da visão estereotipada e pré-conceituosa que o materialismo filosófico tem a respeito da TDI.
Quanto à causa final, Tuffani confunde implicações com fundamentos, e opiniões com postulados. Não é correto, sabemos, usar colocações filosóficas e teológicas sobre as implicações indiretas da TDI, feitas por qualquer de seus adeptos (que além de cientistas são também gente), sobre suas convicções pessoais a respeito da natureza da inteligência no Design e suas implicações indiretas sobre o funcionamento e alcance da ciência, tentando transformar, por força da retórica, essas avaliações legítimas, mas subjetivas, em fundamento da teoria que eles defendem. Não cola!
A TDI incita, sim, a discussão sobre as possíveis implicações filosóficas e teológicas de seu postulado, mas não se baseia em nenhuma delas. Não assume a priori qualquer causa, primeira ou final, natural ou sobrenatural. Terrestre ou extra-terrestre. Pré ou pós-Aristóteles! Que vá ou não alterar toda a ordem do Universo, até a lei da gravidade, como se inferiu.
TDI tem apenas um postulado, uma única regra de prática, sem fé: Vamos seguir os dados onde quer que nos levem! E vamos interpretá-los, livres de qualquer amarra, pré-conceito ou predefinição; por exemplo, livres daquele “pacto” pós-medieval iluminista que fizeram com o materialismo filosófico e que nos constrange quanto ao que devemos e o que não podemos concluir. Livres de qualquer demarcação chique e perfumada, que nos força a procurar explicações até mesmo onde elas simplesmente não existem.
E assim, nessa análise sem pré-conceitos ou paixões, a TDI faz também uma única conclusão, revolucionária sabemos: há sinais claros da ação de uma mente inteligente e consciente na Vida e no Universo! Só isto e nada mais! Somos livres, como cientistas e gente, para especular sobre as implicações metafísicas desta grande descoberta, a maior de todos os tempos em Ciência, mas proibidos pela regra única de prática sem fé da TDI de transformar nossas especulações filosóficas e/ou teológicas em pré-conceitos inibidores da TDI em sua busca de fazer Ciência plena e sem pré-conceitos.
A TDI resgata, sim, uma causa. Mas não a causa final efêmera pré-coperniana. Resgata uma causa legítima, conhecida e invocada amplamente pela ciência, em várias áreas não diretamente “regidas” pelo “pacto”. Uma causa suficiente e necessária, a única causa que sabemos hoje em ciencia ser capaz de gerar informação aperiódica funcional e gerenciá-la através de códigos múltiplos e interligados, códigos dentro de códigos, informação zipada, criptografada, com estrutura “topdown hard-disk like”.
Tuffani se equivoca também quando diz que, em relação a evolução química, confundi em minha palestra improbabilidade com impossibilidade. Confundi não! Assistam à minha palestra (disponível no site do III Simpósio Internacional Darwinismo Hoje, do Mackenzie) e vocês verão e ouvirão que conclui, não pela improbabilidade da evolução química, mas pela sua total impossibilidade, e por conseqüência pela morte da evolução biológica pela raiz. É porque sei que a evolução química é impossível que eu a refuto. É porque sei que as forças naturais são contra a Vida, e não a seu favor, que concluí, à luz do conhecimento, e pela força dos dados, sobre a impossibilidade absoluta de toda a cadeia da evolução.
Tuffani se engana também quando afirma que “…tachamos de ignorantes os que discordam dessa inferência.” Nunca fiz nem faria tal adjetivação, mesmo que indiretamente. Sei que os evolucionistas são pessoas inteligentes e muito bem informadas, e principalmente muito criativas. Eles não são ignorantes, não! São pré-conceituosos. Assumem que tudo é “matéria e energia” e, assim, guiados por este pré-conceito, necessariamente concluem o inevitável: a evolução ocorreu! Posso não saber como foi, mas um dia vou descobrir. Posso não ter explicação alguma agora, mas como Mauricio mesmo me sugeriu no simpósio, o máximo que farei é admitir total ignorância, jamais rever meu pré-conceito.
Mas é esse pré-conceito chique e perfumado, iluminado, pós-medieval, que está impedindo a ciência hoje de ver o óbvio. De escutar o que as moléculas da Vida falam com tanta clareza, com tanta veemência, e em voz alta! Ecos de nossa existência que soam cada vez mais forte! A teimosia fica evidente, porém, quando persistimos em procurar explicações filtradas pelo materialismo filosófico. E de classificar de obscurantista pré-medieval Aristoteliano qualquer um que ouse encontrar outra causa! Mesmo que esta causa seja uma causa cientificamente legítima, conhecida, suficiente e necessária.
Quanto ao critério de demarcação entre ciência e pseudociência de Karl Popper, não há dúvida que a TDI se enguadra nele. Palestras no III Simpósio abordaram esse aspecto. Mas a ironia maior se observaria se constatássemos que a TDI, segundo Popper, é mesmo uma pseudociência. Que deveríamos fazer, então? Às favas com Popper e sua demarcação! Pois o que queremos não é demarcar a ciência, ou obedecer a Popper ou qualquer outro “pai da ciência”! Queremos encontrar a resposta certa, não a “cientificamente aceitável”. Remova-se então a demarcação de Popper, pois ela estaria prestando um grande desserviço justamente a quem deveria servir. Estaria deixando de fora o que ela deveria estar acolhendo: a resposta certa! Aquela resposta que segue os dados e os interpreta livre de pré-conceitos que nos dizem a priori o que podemos e devemos concluir!
Tuffani se engana também quando classifica a TDI de “um fracasso científico”, no que se refere ao ideal de fazer a ciência avançar no conhecimento. Mas a TDI é mesmo um fracasso, só porque inibe as pesquisas em evolução? Em ciência, tão bom quanto descobrir uma rota certa é descobrir uma rota errada. Pois ao descobrirmos que uma rota é impossível, nunca mais a utilizaremos. Não consigo mesmo transformar ferro em ouro, alquimicamente, e ponto final! E isto vai nos poupar tempo e muito dinheiro. Vai evitar que eu repita meu erro, persista nele. Um dos grandes sucessos da TDI é exatamente esse – o de mostrar que a rota para a Vida a partir de matéria inamimada e processos naturais não guiados é inviável, impossível, probabilidade zero mesmo! É querer, pedalando, chegar à Lua. Livres da persistência nesse erro, de transformar ferro (matéria inanimada) em ouro (Vida), poderemos então nos concentrar em questões ainda mais relevantes. Podemos fazer agora as perguntas certas! Não perguntaremos mais como esse código evoluiu, pois códigos são, por princípio (e por constatação), imutáveis, mas sim: qual a lógica e a inter-relação dos diversos códigos da Vida, e onde e como estão armazenados? Podemos aprender com eles, com sua inteligência? E usar este conhecimento em benefício da Vida? Ou seja, a TDI quer soltar a perna da ciência, que jaz presa no materialismo filosófico, e permitir a ela passos livres e bem mais largos!
Tuffani acerta em cheio, porém, quando diz que o maior mérito da TDI é “…de forçar os evolucionistas a rever seus pressupostos e serem um pouco mais autocríticos”. Perfeito! Isso nós queremos, sim. Que nossos amigos evolucionistas, gente boa e bem informada, inteligentes e cultos, conhecedores de toda a complexidade irredútivel, a informação aperiódica funcional, e a antevidência genial que superlota a Vida, e a cada dia mais, não fiquem à espera de explicações materialistas que teimam em não vir. Mas que, deixando de lado o seu pré-conceito materialista filosófico, sigam os dados aonde eles nos levam! Que sejam autocríticos a ponto de perceber que sua subjetividade materialista os impede de ver o que os dados mostram hoje com tanta clareza: uma mente inteligente e consciente orquestrou a Vida e o Universo, não resta dúvida!
É isso!
Eduardo- Mensagens : 5997
Idade : 54
Inscrição : 08/05/2010
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