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Manuel Lacunza: a Conexão Adventista
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19102010
Manuel Lacunza: a Conexão Adventista
Manuel Lacunza: a Conexão Adventista
Sérgio Olivares
"Você poderia mostrar-me este livro, por favor?"
Esta pergunta passou do rotineiro para o clássico. Quase todos os visitantes que vêm à biblioteca de nossa universidade desejam ver "o livro". A biblioteca não tem o livro completo, mas apenas parte de um manuscrito com o título, "A Vinda do Messias em Glória e Majestade". Escrito por Manuel Lacunza, um sacerdote jesuíta, o manuscrito está belamente composto em espanhol do século 19, e foi escrito com caligrafia artística. Suas páginas amarelecidas exalam o cheiro da antiguidade. Datado de 1820, e escrito sob o pseudônimo de Juan Josafat Ben-Ezra, o manuscrito foi aparentemente copiado pelos Padres Trinitarianos de São Carlos, em Roma, usando quatro possíveis fontes européias. Uma nota de rodapé dá testemunho de sua autenticidade: "Nada foi perdido do autor, em frases ou conceitos, porque esta é uma cópia original em espanhol daquilo que ele próprio compôs."1
Para mim, historiador profissional, adventista, e chileno como o autor, todas as coisas a respeito do livro são extraordinárias. Quem foi o real autor? O que o levou a escrever este texto controvertido? Que influência este livro teve? Tem o seu conteúdo qualquer relevância para nós, que vivemos quase dois séculos depois?
O autor
Manuel Lacunza nasceu em uma família aristocrática, em Santiago, Chile. Embora bem situado economicamente, ele optou pela vida religiosa e uniu-se à ordem jesuíta. Como estudante, ele era inteligente, dedicado, sociável e alegre. Cedo em sua vida, ele destacava-se como orador público e posteriormente tornou-se um professor.2
Em 1768, quando Carlos II, o monarca espanhol, expulsou os jesuítas da Espanha e de todas as suas colônias, Lacunza e seus colegas jesuítas foram presos e levados para a Europa. Depois de meses em uma torturante viagem em navios em que entrava água, os prisioneiros foram jogados na cidade de Imola, perto de Bolonha, Itália. Ali eles permaneceram até 1799, quando a coroa espanhola suspendeu as restrições contra os jesuítas e permitiu que eles retornassem as suas terras de origem. Lacunza recusou retornar. Em 18 de junho de 1801, seu corpo foi encontrado nas cercanias de Imola, com a causa de sua morte desconhecida.3
Lacunza devotou os 10 anos de exílio em Imola à reflexão e a escrever. Manteve consistente correspondência com sua família e amigos no Chile. Em suas cartas nostálgicas ele se imaginava regressando ao Chile, encontrando recreação em seu cenário. Perdeu seus queridos e sua alimentação nativa. Ele escreveu: "Apenas aqueles que o perderam sabem o que é o Chile. Não há aqui a mínima compensação -- e esta é a pura verdade."4 O exílio foi doloroso. Ele se identificou com a sorte dos seus irmãos banidos: "Todos olham para nós como olhariam para uma árvore totalmente seca, incapaz de reviver, ou como para um cadáver enterrado em esquecimento."5
Contudo, o sofrimento não foi em vão; viu nele uma oportunidade para partilhar dos sofrimentos de Cristo: "Porque para servir a Deus em verdade, não há nada com melhor propósito do que o presente estado em que nos encontramos, isto é, a humilhação de carregar a nossa cruz."6 Embora amargo, o exílio não foi sem frutos. Desta solidão e sofrimento emergiu sua grande contribuição ao mundo cristão: "A Vinda do Messias em Glória e Majestade."
A obra de Lacunza
O que motivou Lacunza a escrever este livro? Seus detratores apontam para a frustração psicológica do exílio e a posterior suspensão de sua ordem religiosa.7 Outros o interpretam como reação conservadora ao iluminismo, especialmente ao deísmo, o qual estava em voga tanto entre os católicos como entre os protestantes.8 Outros ainda, o viram como resultado de intenso estudo pessoal da Bíblia mantido por Lacunza, especialmente dos livros de Daniel e Apocalipse, independente dos pais da igreja ou teólogos.9
O próprio Lacunza oferece três razões para escrever o livro: (1) para estimular os sacerdotes a sacudirem o pó de suas Bíblias; (2) para chamar a atenção daqueles que estavam correndo para o "abismo da incredulidade por falta de conhecimento do nosso Senhor Jesus Cristo"; e (3) para ajudar os judeus, provendo-lhes um "pleno conhecimento do Messias deles".10
A metodologia de Lacunza é de interesse particular: estudo da Bíblia, reflexão e oração. Quando ele encontrava um ponto que era difícil de entender, diz o seu secretário de anotações, Frei Gonzalez Carvajal, ele dizia: "Vamos suspender o trabalho enquanto pedimos com maior insistência a iluminação divina." A ele é atribuída a declaração: "Este livro foi mais resultado dos joelhos do que da cabeça."11 Mesmo os críticos de Lacunza reconhecem sua profunda espiritualidade e genuína vida de oração.12
O livro de Lacunza está dividido em três partes. Na primeira ele esboça o seu método, em contraste com os sistemas tradicionais. Isto inclui um estudo da interpretação das Santas Escrituras, argumentando em favor da interpretação literal. Depois ele discute o valor da tradição na interpretação das Escrituras, distinguindo entre "artigos de fé e conjecturas controvertidas". Ele avança para elaborar sua premissa básica:
"Jesus Cristo retornará do Céu à Terra quando o tempo se cumprir, no tempo apropriado e no momento que o Pai colocou sob o Seu próprio poder. Ele virá acompanhado não apenas dos anjos, mas também dos santos anteriormente ressuscitados -- dos quais eu digo, que serão julgados dignos do tempo e da ressurreição dos mortos... Ele não virá às pressas, mas sim mais deliberadamente do que é usualmente imaginado. Ele não virá apenas para julgar os mortos, mas também e em primeiro lugar, os vivos. Conseqüentemente, este julgamento dos vivos e dos mortos não pode ser apenas um julgamento, mas dois julgamentos distintos, não apenas em essência e maneira, mas também em tempo. A partir disto concluímos (e este é o ponto principal que merece atenção) que deve haver considerável espaço de tempo entre o esperado Senhor e o julgamento dos mortos ou a ressurreição universal."13
A segunda parte da obra de Lacunza é dedicada a examinar e interpretar as profecias de Daniel 2 e 7 e o anticristo. Na terceira parte Lacunza elabora sobre o segundo advento de Cristo, o julgamento, o novo céu e a nova terra, a nova Jerusalém, o milênio, o julgamento final e a felicidade eterna dos remidos.
Reações internacionais
A obra de Lacunza teve um impacto imediato. Enquanto ele ainda estava escrevendo, versões parciais do texto circularam em forma manuscrita, causando grande perturbação ao autor, por causa das más interpretações que começaram a aparecer.14 Como poderia ser esperado, os primeiros a verem o trabalho e a reagirem foram seus colegas sacerdotes católicos. Alguns o aplaudiam; outros denunciavam, tanto o conteúdo como a metodologia de sua obra.
Os críticos se concentravam especialmente em cinco áreas: (1) a tácita rejeição dos pais da igreja como fonte primária da interpretação bíblica; (2) a aceitação de uma interpretação literal da Bíblia, em oposição ao tradicional método alegórico; (3) sua identificação do anticristo como um corpo moral; (4) sua crítica indireta à hierarquia romana, relacionando a segunda besta de Apocalipse 13 com a prostituta do capítulo 17; (5) o projetado papel do povo judeu na escatologia. Lacunza também ensinou um milênio terrenal, separado por duas ressurreições -- uma para os justos, a outra para os ímpios. Este ensino despertou muita controvérsia, uma vez que a Igreja Católica havia abandonado tal doutrina desde o terceiro século.15
Muitos dos admiradores e defensores de Lacunza eram seus colegas jesuítas.16 Um deles escreveu: "Acerca da obra de Manuel Lacunza, creio que ela foi escrita para trazer grande glória ao nosso Senhor e para o benefício da santa igreja... Deixe que o Pai das luzes seja infinitamente louvado, por ter iluminado o autor no entendimento das Santas Escrituras."17 As reações dos escritores sul-americanos também merecem menção. Um historiador elogiou a obra como "o livro chileno que alcançou o mais alto cume, como um esforço inteligente; em outras palavras, como o trabalho de uma mente que foi capaz de aprofundar um conceito e apresentá-lo ao mundo com a força espiritual necessária para despertar sua atenção e penetrar profundamente na alma humana... Esta é a obra chilena que alcançou a mais alta celebridade e a única que teve repercussão universal até o presente."18
Tão importante foi o livro na história religiosa da América do Sul que um dos pais fundadores da Argentina, Manuel Belgrano, providenciou com seus recursos pessoais, em 1816, em Londres, a publicação da obra de Lacunza, numa edição de quatro volumes. Cortés, em seu dicionário biográfico, considera Lacunza "uma das glórias da teologia deste século", a qual "levou a exegese bíblica a uma altura que nenhum outro autor moderno alcançou, quer na Europa ou nas Américas".19
Félix Torres Amat, renomado tradutor da versão Vulgata da Bíblia em espanhol, recomendou a obra de Lacunza em uma de suas notas como "digna da mais profunda reflexão, particularmente por aqueles que se dedicam ao estudo das Escrituras, na medida em que ela oferece luz para o entendimento de muitas passagens obscuras."20
A reação oficial romana católica surgiu em 1819, oito anos depois que a primeira edição em espanhol foi impressa em Cádiz, em 1811. Em 15 de janeiro, o Tribunal do Santo Ofício, em Madri, determinou que o livro fosse retirado de circulação. Posteriormente, em setembro de 1824, a obra de Lacunza foi incluída pelo Papa Leão XII no índice dos livros proibidos, com a anotação, "em qualquer língua".
Contudo, uma obra deste calibre não poderia permanecer confinada ao círculo espanhol ou ao círculo católico espanhol-americano. Através de várias traduções nas principais línguas européias, o livro de Lacunza foi amplamente lido e discutido. Edward Irving, propagador presbiteriano popular, publicou em 1827 uma versão em inglês, com o título The Coming of the Messiah.21 Entretanto, em sua introdução, Irving observou como ele discordava de Lacunza em algumas áreas. Irving interpretou um dia em profecia como um ano. Ele rejeitou a interpretação futurista de Apocalipse e afirmou que o anticristo era um indivíduo.22
Como resultado da vasta circulação dos escritos de Lacunza na Europa, seus pontos de vistas foram amplamente discutidos durante as conferências proféticas interdenominacionais, realizadas em Albury Park, Inglaterra, de 1826 a 1830.
A conexão milerita
Através do Atlântico, nos anos 1830, vários dos associados de Guilherme Miller se familiarizaram não apenas com os escritos de Irving, mas também com a discussão profética de Albury Park. Josias Litch, um dos líderes mileritas, atribuiu o interesse de Irving nas profecias bíblicas à leitura de Lacunza.
"[Seu] livro caiu nas mãos de Edward Irving. Os olhos deste renomado e eloqüente pregador foram abertos para a gloriosa verdade da vinda pre-milenial de Cristo, da qual ele se tornou um ardoroso aderente. Ele começou a traduzir Ben-Ezra e então a escrever numerosas obras sobre o mesmo tópico. Durante algum tempo, estas obras produziram na Europa a mesma ressonância que Miller obteve anos mais tarde em seu país."23
Assim Lacunza tornou-se um elo chave na cadeia de intérpretes da profecia bíblica, o qual viu a história humana avançando inexoravelmente para o glorioso retorno de Cristo. Este ponto foi claramente demonstrado por Alfred Vaucher, um erudito adventista, que por muitos anos conduziu cuidadosa pesquisa nas melhores bibliotecas da Europa e das Américas, sobre a vida e obra de Lacunza.24
Lacunza e a interpretação adventista
Nenhum estudo de Lacunza seria completo sem observar que embora haja uma conexão entre sua obra, o movimento milerita e o início da Igreja Adventista do Sétimo Dia, há também importantes diferenças entre sua interpretação profética e a nossa. Estas diferenças, as quais foram indicadas por Vaucher, podem ser sumariadas da seguinte forma:
Nós não partilhamos da interpretação de Lacunza de Daniel 2, a qual funde Babilônia com a Medo-Pérsia. Nem aceitamos sua dupla identificação das bestas simbólicas de Daniel com desvios espirituais tais como heresia, siquismo, hipocrisia e idolatria, ligados a reinos específicos. Embora nos aproximemos do conceito de Lacunza quanto ao anticristo, como um sistema ou um corpo moral, não aceitamos sua interpretação dos símbolos apocalípticos. Também divergimos dele quanto a sua crença de que os judeus, como uma raça, se converterão e que eles terão um papel decisivo nos eventos finais, particularmente no reino milenial. De acordo com o sumário avaliador de Vaucher: "O sistema escatológico de Lacunza, como todos os sistemas humanos, é imperfeito e sujeito a revisões. Ele contém alguns elementos superados."25
E as similaridades entre nossa interpretação e a de Lacunza? Pelo menos dois pontos devem ser enfatizados: (1) sua categórica posição de favorecer o texto bíblico acima da tradição, e (2) sua tese principal quanto à vinda do Messias em glória e majestade acompanhada pela ressurreição dos justos, seguida por um julgamento universal depois do milênio.
Curiosidade ou prontidão?
Voltemos à questão inicial com a qual iniciamos este artigo: "Você poderia mostrar-me este livro, por favor?" Todos os que visitam a nossa universidade estão curiosos para ver o livro de Lacunza -- tocá-lo, senti-lo e mesmo cheirá-lo. Mas a mensagem do livro não é acerca de curiosidade. O coração de Lacunza ardia com a paixão pelo retorno do seu Senhor.
A escatologia não pode ser relegada à curiosidade ou controvérsia, mas à prontidão. Um cuidadoso estudo da Bíblia deve guiar à transformação da vida, compromisso e gozo. As fortes palavras de Lacunza são ainda relevantes: "Jesus Cristo retornará do Céu à Terra quando o tempo se cumprir, no tempo apropriado e no momento em que o Pai colocou sobre o Seu próprio poder." Maranata!
Sérgio Olivares é o presidente do Centro Educacional Adventista Chileno, em Chilan, Chile.
Notas e Referências
1. Este valioso manuscrito está sob a custódia da biblioteca da Universidade Adventista do Chile. As citações que aparecem no texto deste artigo foram traduzidas do espanhol pelo autor.
2. Walter Hanish Espíndola, "El Padre Manuel Lacunza (1731-1801): Su hogar, su vida y la censura española", Historia [Pontificia Universidad Católica de Chile] 8 (1969), págs. 181.185.
3. Diego Barros Arana, Obras Completas (Santiago de Chile, 1911), págs. 139-168.
4. Juan Luis Espejo, "Cartas del Padre Manuel Lacunza", Revista Chilena de Historia y Geografía 9 (1914), pág. 219.
5. Ídem., pág. 214.
6. Ídem., pág. 217.
7. Francisco Enrich, Historia de la Compañía de Jesús en Chile, citado por Emilio Vaisse, "El Lacunzismo: sus Antecedentes Históricos y su Evolución", Revista Chilena de Historia y Geografía 4 (1917), págs. 410-411.
8. Mario Góngora, "Aspectos de la Ilustración Católica en el Pensamiento y la Vida Eclesiástica Chilena (1770-1814)", Historia [Pontificia Universidad Católica de Chile] 8 (1969), pág. 61.
9. Francisco Mateos, "El Padre Manuel Lacunza y el Milenarismo", Revista Chilena de Historia y Geografía 115 (1950), pág. 142-143.
10. Manuel Lacunza, La Venida del Mesías en Gloria y Magestad, Dedicatory, London (1826).
11. Mateos, pág. 143.
12. Marcelino Menéndez Pelayo, Historia de los Heterodoxos Españoles, VI (Madri 1930), pág. 482 e além.
13. Citado por Walter Hanish Espíndola, "Lacunza o el Temblor Apocalíptico", Historia [Pontificia Universidad Católica de Chile] 21 (1986), págs. 356-357.
14. Walter Hanish Espíndola, "El Padre Manuel Lacunza", Historia 8 (1969), pág. 202.
15. Juan Buenaventura Bestard, citado por Mario Góngora, "La Obra de Lacunza en la Lucha Contra el Espíritu del Siglo en Europa, 1771-1830", Historia [Pontificia Universidad Católica de Chile] 15 (1980), pág. 47.
16. Miguel Rafael Urzúa, "El R. P. Manuel Lacunza (1731-1801)", Revista Chilena de Historia y Geografía 11 (1914), pág. 288.
17. José Valdivieso, "Carta Apologética en Defensa de la Obra de Juan Josafat Ben-Ezra", incluída como apêndice ao volume 3 da obra de Lacunza La Venida del Mesías en Gloria e Magestad (London: Carlos Wood, n. d.), pág. 332.
18. Francisco Antonio Encina, Historia de Chile (Santiago de Chile: Editorial Nascimiento), vol. 5 (1946), pág. 531-632.
19. Citado por Miguel Rafael Urzúa, Las Doctrinas del P. Manuel Lacunza (Santiago de Chile: Editorial Universo, 1917), pág. 9.
20. Félix Torres Amat, Sagrada Biblia, comentário sobre o Apocalipse, capítulo 20.
21. Esta foi a segunda tradução em inglês, seguindo a edição de Ackerman, em Londres, 1826, a qual é considerada a mais exata.
22. Ver Félix Alfredo Vaucher, Lacunza, un heraldo de la Segunda Venida de Cristo (Mountain View, Calif.: Publicaciones Interamericanas, 1970), pág. 54.
23. Ídem., pág. 60.
24. Ver Vaucher, Une célébrité oubliée: Le P. Manuel de Lacunza y Diáz (1731-1801), (Collonges-sous-Saleve, Haute Savoie, França, Imprimerie Fides, 1941); segunda edição revisada, sob o título de Lacunziana: Essai sur les propheties bibliques, 1968. Nota 22, acima, provê informação sobre a edição em espanhol da obra de Vaucher.
25. Vaucher, Lacunza, pág. 101.
Sérgio Olivares
"Você poderia mostrar-me este livro, por favor?"
Esta pergunta passou do rotineiro para o clássico. Quase todos os visitantes que vêm à biblioteca de nossa universidade desejam ver "o livro". A biblioteca não tem o livro completo, mas apenas parte de um manuscrito com o título, "A Vinda do Messias em Glória e Majestade". Escrito por Manuel Lacunza, um sacerdote jesuíta, o manuscrito está belamente composto em espanhol do século 19, e foi escrito com caligrafia artística. Suas páginas amarelecidas exalam o cheiro da antiguidade. Datado de 1820, e escrito sob o pseudônimo de Juan Josafat Ben-Ezra, o manuscrito foi aparentemente copiado pelos Padres Trinitarianos de São Carlos, em Roma, usando quatro possíveis fontes européias. Uma nota de rodapé dá testemunho de sua autenticidade: "Nada foi perdido do autor, em frases ou conceitos, porque esta é uma cópia original em espanhol daquilo que ele próprio compôs."1
Para mim, historiador profissional, adventista, e chileno como o autor, todas as coisas a respeito do livro são extraordinárias. Quem foi o real autor? O que o levou a escrever este texto controvertido? Que influência este livro teve? Tem o seu conteúdo qualquer relevância para nós, que vivemos quase dois séculos depois?
O autor
Manuel Lacunza nasceu em uma família aristocrática, em Santiago, Chile. Embora bem situado economicamente, ele optou pela vida religiosa e uniu-se à ordem jesuíta. Como estudante, ele era inteligente, dedicado, sociável e alegre. Cedo em sua vida, ele destacava-se como orador público e posteriormente tornou-se um professor.2
Em 1768, quando Carlos II, o monarca espanhol, expulsou os jesuítas da Espanha e de todas as suas colônias, Lacunza e seus colegas jesuítas foram presos e levados para a Europa. Depois de meses em uma torturante viagem em navios em que entrava água, os prisioneiros foram jogados na cidade de Imola, perto de Bolonha, Itália. Ali eles permaneceram até 1799, quando a coroa espanhola suspendeu as restrições contra os jesuítas e permitiu que eles retornassem as suas terras de origem. Lacunza recusou retornar. Em 18 de junho de 1801, seu corpo foi encontrado nas cercanias de Imola, com a causa de sua morte desconhecida.3
Lacunza devotou os 10 anos de exílio em Imola à reflexão e a escrever. Manteve consistente correspondência com sua família e amigos no Chile. Em suas cartas nostálgicas ele se imaginava regressando ao Chile, encontrando recreação em seu cenário. Perdeu seus queridos e sua alimentação nativa. Ele escreveu: "Apenas aqueles que o perderam sabem o que é o Chile. Não há aqui a mínima compensação -- e esta é a pura verdade."4 O exílio foi doloroso. Ele se identificou com a sorte dos seus irmãos banidos: "Todos olham para nós como olhariam para uma árvore totalmente seca, incapaz de reviver, ou como para um cadáver enterrado em esquecimento."5
Contudo, o sofrimento não foi em vão; viu nele uma oportunidade para partilhar dos sofrimentos de Cristo: "Porque para servir a Deus em verdade, não há nada com melhor propósito do que o presente estado em que nos encontramos, isto é, a humilhação de carregar a nossa cruz."6 Embora amargo, o exílio não foi sem frutos. Desta solidão e sofrimento emergiu sua grande contribuição ao mundo cristão: "A Vinda do Messias em Glória e Majestade."
A obra de Lacunza
O que motivou Lacunza a escrever este livro? Seus detratores apontam para a frustração psicológica do exílio e a posterior suspensão de sua ordem religiosa.7 Outros o interpretam como reação conservadora ao iluminismo, especialmente ao deísmo, o qual estava em voga tanto entre os católicos como entre os protestantes.8 Outros ainda, o viram como resultado de intenso estudo pessoal da Bíblia mantido por Lacunza, especialmente dos livros de Daniel e Apocalipse, independente dos pais da igreja ou teólogos.9
O próprio Lacunza oferece três razões para escrever o livro: (1) para estimular os sacerdotes a sacudirem o pó de suas Bíblias; (2) para chamar a atenção daqueles que estavam correndo para o "abismo da incredulidade por falta de conhecimento do nosso Senhor Jesus Cristo"; e (3) para ajudar os judeus, provendo-lhes um "pleno conhecimento do Messias deles".10
A metodologia de Lacunza é de interesse particular: estudo da Bíblia, reflexão e oração. Quando ele encontrava um ponto que era difícil de entender, diz o seu secretário de anotações, Frei Gonzalez Carvajal, ele dizia: "Vamos suspender o trabalho enquanto pedimos com maior insistência a iluminação divina." A ele é atribuída a declaração: "Este livro foi mais resultado dos joelhos do que da cabeça."11 Mesmo os críticos de Lacunza reconhecem sua profunda espiritualidade e genuína vida de oração.12
O livro de Lacunza está dividido em três partes. Na primeira ele esboça o seu método, em contraste com os sistemas tradicionais. Isto inclui um estudo da interpretação das Santas Escrituras, argumentando em favor da interpretação literal. Depois ele discute o valor da tradição na interpretação das Escrituras, distinguindo entre "artigos de fé e conjecturas controvertidas". Ele avança para elaborar sua premissa básica:
"Jesus Cristo retornará do Céu à Terra quando o tempo se cumprir, no tempo apropriado e no momento que o Pai colocou sob o Seu próprio poder. Ele virá acompanhado não apenas dos anjos, mas também dos santos anteriormente ressuscitados -- dos quais eu digo, que serão julgados dignos do tempo e da ressurreição dos mortos... Ele não virá às pressas, mas sim mais deliberadamente do que é usualmente imaginado. Ele não virá apenas para julgar os mortos, mas também e em primeiro lugar, os vivos. Conseqüentemente, este julgamento dos vivos e dos mortos não pode ser apenas um julgamento, mas dois julgamentos distintos, não apenas em essência e maneira, mas também em tempo. A partir disto concluímos (e este é o ponto principal que merece atenção) que deve haver considerável espaço de tempo entre o esperado Senhor e o julgamento dos mortos ou a ressurreição universal."13
A segunda parte da obra de Lacunza é dedicada a examinar e interpretar as profecias de Daniel 2 e 7 e o anticristo. Na terceira parte Lacunza elabora sobre o segundo advento de Cristo, o julgamento, o novo céu e a nova terra, a nova Jerusalém, o milênio, o julgamento final e a felicidade eterna dos remidos.
Reações internacionais
A obra de Lacunza teve um impacto imediato. Enquanto ele ainda estava escrevendo, versões parciais do texto circularam em forma manuscrita, causando grande perturbação ao autor, por causa das más interpretações que começaram a aparecer.14 Como poderia ser esperado, os primeiros a verem o trabalho e a reagirem foram seus colegas sacerdotes católicos. Alguns o aplaudiam; outros denunciavam, tanto o conteúdo como a metodologia de sua obra.
Os críticos se concentravam especialmente em cinco áreas: (1) a tácita rejeição dos pais da igreja como fonte primária da interpretação bíblica; (2) a aceitação de uma interpretação literal da Bíblia, em oposição ao tradicional método alegórico; (3) sua identificação do anticristo como um corpo moral; (4) sua crítica indireta à hierarquia romana, relacionando a segunda besta de Apocalipse 13 com a prostituta do capítulo 17; (5) o projetado papel do povo judeu na escatologia. Lacunza também ensinou um milênio terrenal, separado por duas ressurreições -- uma para os justos, a outra para os ímpios. Este ensino despertou muita controvérsia, uma vez que a Igreja Católica havia abandonado tal doutrina desde o terceiro século.15
Muitos dos admiradores e defensores de Lacunza eram seus colegas jesuítas.16 Um deles escreveu: "Acerca da obra de Manuel Lacunza, creio que ela foi escrita para trazer grande glória ao nosso Senhor e para o benefício da santa igreja... Deixe que o Pai das luzes seja infinitamente louvado, por ter iluminado o autor no entendimento das Santas Escrituras."17 As reações dos escritores sul-americanos também merecem menção. Um historiador elogiou a obra como "o livro chileno que alcançou o mais alto cume, como um esforço inteligente; em outras palavras, como o trabalho de uma mente que foi capaz de aprofundar um conceito e apresentá-lo ao mundo com a força espiritual necessária para despertar sua atenção e penetrar profundamente na alma humana... Esta é a obra chilena que alcançou a mais alta celebridade e a única que teve repercussão universal até o presente."18
Tão importante foi o livro na história religiosa da América do Sul que um dos pais fundadores da Argentina, Manuel Belgrano, providenciou com seus recursos pessoais, em 1816, em Londres, a publicação da obra de Lacunza, numa edição de quatro volumes. Cortés, em seu dicionário biográfico, considera Lacunza "uma das glórias da teologia deste século", a qual "levou a exegese bíblica a uma altura que nenhum outro autor moderno alcançou, quer na Europa ou nas Américas".19
Félix Torres Amat, renomado tradutor da versão Vulgata da Bíblia em espanhol, recomendou a obra de Lacunza em uma de suas notas como "digna da mais profunda reflexão, particularmente por aqueles que se dedicam ao estudo das Escrituras, na medida em que ela oferece luz para o entendimento de muitas passagens obscuras."20
A reação oficial romana católica surgiu em 1819, oito anos depois que a primeira edição em espanhol foi impressa em Cádiz, em 1811. Em 15 de janeiro, o Tribunal do Santo Ofício, em Madri, determinou que o livro fosse retirado de circulação. Posteriormente, em setembro de 1824, a obra de Lacunza foi incluída pelo Papa Leão XII no índice dos livros proibidos, com a anotação, "em qualquer língua".
Contudo, uma obra deste calibre não poderia permanecer confinada ao círculo espanhol ou ao círculo católico espanhol-americano. Através de várias traduções nas principais línguas européias, o livro de Lacunza foi amplamente lido e discutido. Edward Irving, propagador presbiteriano popular, publicou em 1827 uma versão em inglês, com o título The Coming of the Messiah.21 Entretanto, em sua introdução, Irving observou como ele discordava de Lacunza em algumas áreas. Irving interpretou um dia em profecia como um ano. Ele rejeitou a interpretação futurista de Apocalipse e afirmou que o anticristo era um indivíduo.22
Como resultado da vasta circulação dos escritos de Lacunza na Europa, seus pontos de vistas foram amplamente discutidos durante as conferências proféticas interdenominacionais, realizadas em Albury Park, Inglaterra, de 1826 a 1830.
A conexão milerita
Através do Atlântico, nos anos 1830, vários dos associados de Guilherme Miller se familiarizaram não apenas com os escritos de Irving, mas também com a discussão profética de Albury Park. Josias Litch, um dos líderes mileritas, atribuiu o interesse de Irving nas profecias bíblicas à leitura de Lacunza.
"[Seu] livro caiu nas mãos de Edward Irving. Os olhos deste renomado e eloqüente pregador foram abertos para a gloriosa verdade da vinda pre-milenial de Cristo, da qual ele se tornou um ardoroso aderente. Ele começou a traduzir Ben-Ezra e então a escrever numerosas obras sobre o mesmo tópico. Durante algum tempo, estas obras produziram na Europa a mesma ressonância que Miller obteve anos mais tarde em seu país."23
Assim Lacunza tornou-se um elo chave na cadeia de intérpretes da profecia bíblica, o qual viu a história humana avançando inexoravelmente para o glorioso retorno de Cristo. Este ponto foi claramente demonstrado por Alfred Vaucher, um erudito adventista, que por muitos anos conduziu cuidadosa pesquisa nas melhores bibliotecas da Europa e das Américas, sobre a vida e obra de Lacunza.24
Lacunza e a interpretação adventista
Nenhum estudo de Lacunza seria completo sem observar que embora haja uma conexão entre sua obra, o movimento milerita e o início da Igreja Adventista do Sétimo Dia, há também importantes diferenças entre sua interpretação profética e a nossa. Estas diferenças, as quais foram indicadas por Vaucher, podem ser sumariadas da seguinte forma:
Nós não partilhamos da interpretação de Lacunza de Daniel 2, a qual funde Babilônia com a Medo-Pérsia. Nem aceitamos sua dupla identificação das bestas simbólicas de Daniel com desvios espirituais tais como heresia, siquismo, hipocrisia e idolatria, ligados a reinos específicos. Embora nos aproximemos do conceito de Lacunza quanto ao anticristo, como um sistema ou um corpo moral, não aceitamos sua interpretação dos símbolos apocalípticos. Também divergimos dele quanto a sua crença de que os judeus, como uma raça, se converterão e que eles terão um papel decisivo nos eventos finais, particularmente no reino milenial. De acordo com o sumário avaliador de Vaucher: "O sistema escatológico de Lacunza, como todos os sistemas humanos, é imperfeito e sujeito a revisões. Ele contém alguns elementos superados."25
E as similaridades entre nossa interpretação e a de Lacunza? Pelo menos dois pontos devem ser enfatizados: (1) sua categórica posição de favorecer o texto bíblico acima da tradição, e (2) sua tese principal quanto à vinda do Messias em glória e majestade acompanhada pela ressurreição dos justos, seguida por um julgamento universal depois do milênio.
Curiosidade ou prontidão?
Voltemos à questão inicial com a qual iniciamos este artigo: "Você poderia mostrar-me este livro, por favor?" Todos os que visitam a nossa universidade estão curiosos para ver o livro de Lacunza -- tocá-lo, senti-lo e mesmo cheirá-lo. Mas a mensagem do livro não é acerca de curiosidade. O coração de Lacunza ardia com a paixão pelo retorno do seu Senhor.
A escatologia não pode ser relegada à curiosidade ou controvérsia, mas à prontidão. Um cuidadoso estudo da Bíblia deve guiar à transformação da vida, compromisso e gozo. As fortes palavras de Lacunza são ainda relevantes: "Jesus Cristo retornará do Céu à Terra quando o tempo se cumprir, no tempo apropriado e no momento em que o Pai colocou sobre o Seu próprio poder." Maranata!
Sérgio Olivares é o presidente do Centro Educacional Adventista Chileno, em Chilan, Chile.
Notas e Referências
1. Este valioso manuscrito está sob a custódia da biblioteca da Universidade Adventista do Chile. As citações que aparecem no texto deste artigo foram traduzidas do espanhol pelo autor.
2. Walter Hanish Espíndola, "El Padre Manuel Lacunza (1731-1801): Su hogar, su vida y la censura española", Historia [Pontificia Universidad Católica de Chile] 8 (1969), págs. 181.185.
3. Diego Barros Arana, Obras Completas (Santiago de Chile, 1911), págs. 139-168.
4. Juan Luis Espejo, "Cartas del Padre Manuel Lacunza", Revista Chilena de Historia y Geografía 9 (1914), pág. 219.
5. Ídem., pág. 214.
6. Ídem., pág. 217.
7. Francisco Enrich, Historia de la Compañía de Jesús en Chile, citado por Emilio Vaisse, "El Lacunzismo: sus Antecedentes Históricos y su Evolución", Revista Chilena de Historia y Geografía 4 (1917), págs. 410-411.
8. Mario Góngora, "Aspectos de la Ilustración Católica en el Pensamiento y la Vida Eclesiástica Chilena (1770-1814)", Historia [Pontificia Universidad Católica de Chile] 8 (1969), pág. 61.
9. Francisco Mateos, "El Padre Manuel Lacunza y el Milenarismo", Revista Chilena de Historia y Geografía 115 (1950), pág. 142-143.
10. Manuel Lacunza, La Venida del Mesías en Gloria y Magestad, Dedicatory, London (1826).
11. Mateos, pág. 143.
12. Marcelino Menéndez Pelayo, Historia de los Heterodoxos Españoles, VI (Madri 1930), pág. 482 e além.
13. Citado por Walter Hanish Espíndola, "Lacunza o el Temblor Apocalíptico", Historia [Pontificia Universidad Católica de Chile] 21 (1986), págs. 356-357.
14. Walter Hanish Espíndola, "El Padre Manuel Lacunza", Historia 8 (1969), pág. 202.
15. Juan Buenaventura Bestard, citado por Mario Góngora, "La Obra de Lacunza en la Lucha Contra el Espíritu del Siglo en Europa, 1771-1830", Historia [Pontificia Universidad Católica de Chile] 15 (1980), pág. 47.
16. Miguel Rafael Urzúa, "El R. P. Manuel Lacunza (1731-1801)", Revista Chilena de Historia y Geografía 11 (1914), pág. 288.
17. José Valdivieso, "Carta Apologética en Defensa de la Obra de Juan Josafat Ben-Ezra", incluída como apêndice ao volume 3 da obra de Lacunza La Venida del Mesías en Gloria e Magestad (London: Carlos Wood, n. d.), pág. 332.
18. Francisco Antonio Encina, Historia de Chile (Santiago de Chile: Editorial Nascimiento), vol. 5 (1946), pág. 531-632.
19. Citado por Miguel Rafael Urzúa, Las Doctrinas del P. Manuel Lacunza (Santiago de Chile: Editorial Universo, 1917), pág. 9.
20. Félix Torres Amat, Sagrada Biblia, comentário sobre o Apocalipse, capítulo 20.
21. Esta foi a segunda tradução em inglês, seguindo a edição de Ackerman, em Londres, 1826, a qual é considerada a mais exata.
22. Ver Félix Alfredo Vaucher, Lacunza, un heraldo de la Segunda Venida de Cristo (Mountain View, Calif.: Publicaciones Interamericanas, 1970), pág. 54.
23. Ídem., pág. 60.
24. Ver Vaucher, Une célébrité oubliée: Le P. Manuel de Lacunza y Diáz (1731-1801), (Collonges-sous-Saleve, Haute Savoie, França, Imprimerie Fides, 1941); segunda edição revisada, sob o título de Lacunziana: Essai sur les propheties bibliques, 1968. Nota 22, acima, provê informação sobre a edição em espanhol da obra de Vaucher.
25. Vaucher, Lacunza, pág. 101.
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