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O surgimento da Eugenia como Ciência




"Foi Francis Galton (1822-1911), considerado o pai da eugenia, que sob influência da teoria da evolução das espécies, de seu primo, Charles Robert Darwin, escreveu vários artigos, em 1865, reunidos e transformados mais tarde na obra, Hereditary Genius, reacendendo a discussão sobre o tema da higiene racial, desta vez, como ciência. Ele é o criador da biometria, um estudo da biologia voltado para a hereditariedade, além de descobridor dos sulcos das impressões digitais humanas como forma de identificação pessoal. É também considerado o criador do termo “eugenia”, o qual utilizou pela primeira vez na obra, Inquires Into Human Faculty and Development, de 1883. Eugenia deriva do grego eugenes, que quer dizer, boa origem (eu – boa, gene – origem). Nesta obra, conceitua eugenia como “ciência que trata de todos os influxos que melhoram as qualidades inatas de uma raça; portanto, daquelas que desenvolvem as qualidades de forma mais vantajosa”. Para Galton, a evolução da raça humana, segundo a seleção natural das espécies, deveria ficar sob o controle do próprio homem, sendo que a reprodução humana deveria ser realizada com planejamento e não por simples impulsos instintivos.

A teoria da seleção natural, apresentada na obra “A Origem das Espécies
por Meio da Seleção Natural” (1859), do cientista britânico, Charles Darwin (1809-1882), fundamenta-se no princípio da luta pela vida, a qual se dá entre os indivíduos da mesma espécie, através de um lento processo, no qual sobrevivem os mais adaptados, enquanto os menos adaptados vão desaparecendo juntamente com suas características.

Tristão de Athayde aponta Darwin como o verdadeiro precursor da
eugenia, ao comparar o homem ao animal. Para ele, este é o ponto de partida da eugenia moderna: a concepção do homem como animal. Outrossim, assevera que a eugenia também foi fortemente influenciada pela psicologia do super-humanismo, descrita por Nietzsche, Freud e Bernard Shaw.

Assim que apresentados, os pensamentos de Galton foram rechaçados;
porém, em pouco tempo, vários governos simpatizaram com essa forma imediata de evolução da raça humana, como o dos Estados Unidos, da Inglaterra e, posteriormente, da Alemanha nazista.

Somada a essas causas, difundia-se as idéias malthusianas, que pregavam
o “birth control”, como estratégia para evolução e enriquecimento das nações. Segundo esta tese de Thomas R. Malthus (1766-1834), publicada em 1789, a população mundial cresce em progressão geométrica, em detrimento do aumento da quantidade de alimentos, o que gera miséria e fome. Para dirimir esses males, seria necessário o controle de natalidade e abstinência sexual dos indivíduos das classes pobres. Evidentemente, esta teoria teve forte influência sobre o pensamento eugenista no começo do século.

A eugenia cresceu simultaneamente, no início do séc. XX, nos Estados
Unidos e na Inglaterra, alcançando, posteriormente, a Alemanha, onde foi efetivamente empregada por Adolf Hitler.

Nos Estados Unidos, a eugenia foi implementada pelos mais ricos e
poderosos, contra os miseráveis, que foram sendo exterminados sistematicamente, através da estatização do processo de eliminação dos indesejáveis, entre os quais estavam os judeus, os negros, os orientais e até mesmo os vadios, malandros, pequenos ladrões e crianças abandonadas.

O emprego da política eugênica na Alemanha av ançou com velocidade e
ferocidade, sendo sustentada por perversos decretos, tribunais eugenistas, usinas de esterilização em massa e campos de concentração. Tudo com expressa ratificação dos mais importantes eugenistas norte-americanos. A aprovação norte-americana arrefeceu-se um pouco com a entrada dos Estados Unidos na guerra, em dezembro de 1941. Mas, somente com a descoberta, pelo mundo, do extermínio praticado pelos nazistas, o movimento norte-americano entrou realmente em declínio. Em conseqüência, suas instituições eugenistas alteraram seus nomes, substituindo a expressão eugenia por genética.

Como afirma Edwin Black, “descobri que o princípio nazista da
superioridade nórdica não havia sido tramado no Terceiro Reich, e sim em Long Island, décadas antes – e depois agilmente transplantado para a Alemanha.”

---
É isso!


Fonte:
FREDIANO JOSÉ TEODORO: "ABORTO EUGÊNICO: Delito Qualificado pelo Preconceito ou Discriminação". (Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Direito Penal, sob a orientação do Prof. Doutor Dirceu de Mello). Pontifícia universidade Católica de São Paulo. São Paulo – 2005.

Nota:
A imagem em destaque não se inclui na referida tese.



O caminho em direção à eugenia


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"Aos poucos, os termos do problema da inferioridade iriam modificar-se. O escravo moderno ficava nas colônias; e mesmo ali sua tendência era desaparecer. Entre os europeus, o operário substituiria o vassalo e, com ele (mas não em virtude dele), surgiriam os novos fenômenos sociais, urbanos, tais como, entre outros, o aumento da criminalidade ou os surtos epidêmicos resultantes da ocupação desordenada do espaço das cidades. A história é bem conhecida: a liberação de mão-de-obra em razão de seu inaproveitamento nos campos; o processo de industrialização e a formação do proletariado que, sem ter para onde ir, concentrava-se naquilo que cedo se tornaria um conjunto de aglomerados urbanos cada vez maiores; a insalubridade dos locais de trabalho e das moradias. Tudo isso trouxe para (bem) perto das elites um novo e adensado grupo social. Os novos problemas aumentavam, potencializando os antigos. As elites européias, a aristocracia e a alta burguesia, não hesitaram em identificar um “responsável” e arremessar aos ombros dos pobres toda a “culpa”. Malthus viu no crescimento geométrico dos pobres um perigo à sobrevivência das elites, antevendo uma improvável escassez de alimentos; a solução: controlar, não as causas e efeitos da pobreza (como por exemplo, pensar em aumentar a disponibilidade de alimentos), mas, sim, o número de pobres. Se já não era mais possível nem mesmo desejável escravizar continuariam, renovadas, as possibilidades de inferiorizar e suprimir. É desse contexto, obviamente um contexto de longa duração, que veremos surgir a eugenia. No último capítulo de sua autobiografia, Memories of My Life, Francis Galton enumeraria a pobreza como uma dentre as várias características apresentadas pelos “indesejáveis”, os que deveriam ser suprimidos. Seria então necessário

to prevent the free propagation of the stock of those who are seriously afflicted by lunacy, feeble-mindedness, habitual criminality, and pauperism (GALTON; 1908: 311).

Mesmo raquíticos, os argumentos em defesa da escravidão não deram lugar nem à abolição das crenças sobre inferioridade natural nem à instituição de um regime universal que, reconhecendo a unicidade e igualdade biológica dos seres humanos preservasse concomitantemente o direito à diversidade cultural. Perdurou um sentimento que autorizava a continuidade das práticas de submissão, legítimas ou não sob qualquer ponto de vista, fosse ele religioso ou político. O que não significa dizer que elas se fizessem daí por diante da mesma maneira. Entre as tantas coisas que significa o marxismo, ele é também uma maneira de explicar histórica e materialmente, de que e como se originaram as relações sociais e econômicas desiguais a partir do contexto embrionário do capitalismo. Mas, se o marxismo buscava descrever “cientificamente” o processo que conduziu às desigualdades de seu tempo, não faltaram também os defensores do uso do mesmo “método científico” como um modo incontestável de encontrar determinantes biológicos, exteriores a qualquer historicidade, que explicassem a existência de inferiores e lhes quisessem impedir a reprodução. No caso da eugenia, seu objetivo não se restringia a identificar os condicionantes que permitiam a proliferação da imperfeição, mas apresentava-se como um programa de aço contra as forças degenerativas. Num dos inúmeros artigos que escreveu na defesa da eugenia, Francis Galton terminava escrevendo que

Eugenics has a far more than Utopian interest: that it is a living and growing science, with high and practical aims (GALTON; 1908).

Por isso, forçosamente, quando nas relações sociais a igualdade biológica não é considerada um dado a priori vemo-nos face à história da eugenia. Não é com ela, certamente, que começamos a atribuir marcas de superioridade e inferioridade imaginadas como anteriores e determinantes das relaçes sociais. Mas é ela que busca a chancela “científica” para legitimar relações hierárquicas assentadas em “degenerações” biológicas. Isso não seria tão simples quanto dizer que os determinantes biológicos focalizados pela eugenia são parte da natureza humana, e portanto instintivos, porque assim o seriam também, por exemplo, a fala e a capacidade de comunicação. Trata-se de sustentar que o motor da história seriam as diferenças na qualidade dos instintos e da capacidade de manter a própria sobrevivência: a história somente pode começar acompanhando o constante movimento dos mais fortes. Assim, escreve Galton

The sense of Original Sin would show, according to my theory, not that man was fallen from a high estate, but that he was rapidly rising from a low one. It would therefore confirm the conclusion that has been arrived at by every independent line of ethnological research, that our forefathers were utter savages . . . and that af ter myri ads of years of barbarism our race has but very recently grown to be civilized and religious
(GALTON; 1892: 350).

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É isso!

Fonte:
ROGER ANDRADE DUTRA: “O Desencantamento das Ciências Estereótipos e Ambigüidades das Ciências e Tecnociências no Cinema e na Literatura Científica.” (Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em História Social, sob a orientaço da Profa. Dra. Denise Bernuzzi de Sant’Anna Roger Andrade Dutra). PUC-SP, 2005.

Nota:
A imagem em destaque não se inclui na referida tese.



Eduardo
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