Últimos assuntos
Tópicos mais visitados
Tópicos mais ativos
Algumas concepções de ciência
Página 1 de 1
16012011
Algumas concepções de ciência
Algumas concepções de ciência
“Segundo Marilena Chauí (2000), historicamente tem sido três as principais concepções de Ciência ou de ideais de cientificidade: a racionalista, a empirista, e a construtivista.
A concepção racionalista que se estende dos gregos até o final do século VII, tem como modelo de objetividade a matemática. Assim, afirma que a ciência é um conhecimento racional, dedutivo e demonstrativo, capaz de provar a verdade necessária e universal de seus enunciados e resultados, sem deixar qualquer dúvida possível. A ciência é formada por um conjunto de postulados, axiomas e definições, que determinam a natureza e as propriedades de seu objeto. Ela se dá através de demonstrações, que provam as relações de causalidade que regem o objeto investigado.
O objeto científico é uma representação intelectual e universal, necessária e verdadeira, das coisas representadas e corresponde à própria realidade, porque esta é racional e inteligível em si mesma. As experiências científicas são realizadas apenas para verificar e confirmar demonstrações teóricas e não para produzir o conhecimento do objeto, pois este é conhecido exclusivamente pelo pensamento. O objeto científico é matemático, porque a realidade possui uma estrutura matemática.
A concepção empirista, que vai da medicina grega e Aristóteles até o final do século XIX, afirma que a ciência é uma interpretação dos fatos baseada em observações e experimentos que permitem estabelecer induções, e que, ao serem contempladas, oferecem a definição do objeto, suas propriedades, e suas leis de funcionamento. A teoria científica resulta das observações e dos experimentos, de modo que a experiência não tem simplesmente o papel de verificar e confirmar conceitos, mas tem a função de reproduzi-los. Assim, esta concepção se caracteriza pela crença de que a observação é o ponto de origem do conhecimento e que esse se encaminha a partir dos fatos à teoria, do particular para o geral. Daí a importância de se registrar o maior número de dados possíveis sobre o mesmo fenômeno que se quer investigar. Por isso, nesta maneira de fazer ciência, sempre houve um grande cuidado para estabelecer métodos experimentais rigorosos, pois deles dependia a formulação da teoria e a definição da objetividade investigada. Considerando que o conhecimento se origina da experiência, os empiristas partem dos fatos concretos e, portanto, consideram que a origem do conhecimento está no objeto. Para eles, a partir de observações neutras, é possível alcançar a verdade. Esta concepção de ciência é uma reação à tendência racionalista, que negligenciava a experiência e é defendida, geralmente, por cientistas naturais.
De acordo com Chauí (2000), as concepções de cientificidade racionalista e empirista possuíam o mesmo pressuposto, embora o realizassem de maneiras diferentes. Ambas consideravam que a teoria científica era uma explicação e uma representação verdadeira da própria realidade, tal como esta é em si mesma. A ciência era uma espécie de raio X da realidade. Enquanto a concepção racionalista era hipotético-dedutiva, isto é, definia o objeto e suas leis e a partir daí deduzia suas propriedades, efeitos posteriores e previsões, a concepção empirista era hipotético-indutiva, isto é, apresentava suposições sobre o objeto, realizava observações e experimentos e chegavam à definição dos fatos, às suas leis, às suas propriedades, seus efeitos posteriores e previsões.
O positivismo lógico, tendência filosófica hegemônica, a partir do século XIX, e base de todas as ciências naturais, para Chalmers (1993) foi uma forma extrema de empirismo, já que através da experiência, opunha-se ao primado da razão. Assim, objetivamente, o conhecimento científico era tido como válido, metódico, preciso, progressivo e cumulativo, desinteressado e impessoal, útil e necessário, uma combinação de raciocínio e experiência, hipotético, explicativo e prospectivo. A doutrina do positivismo lógico considera que as leis são imutáveis e seria papel da ciência formular essas leis, sem questionar as causas e razões dos fenômenos, sem apresentar juízos de valor e com neutralidade. O conhecimento científico é estabelecido através de procedimentos conhecidos como método experimental, que apresenta passos determinados (observação, formulação de hipóteses, experimentação e estabelecimento de leis) (BORGES, 1996).
Vale ressaltar que, apesar das críticas à concepção empirista,
livros-textos, vários projetos curriculares de Ciências, ainda se caracterizam pela valorização do método científico, que é tido como um conjunto de passos rígidos a serem seguidos para elaboração do conhecimento científico, com destaque para a observação e a experimentação.(LEITE, 2004, p.31).
Lemgruber (2000), em sua pesquisa, nos mostra que a prevalência da concepção empirista-indutivista, no Brasil, foi estimulada, pelos projetos curriculares da década de 1960. Muitas teses e dissertações da área de Educação em Ciências, do período de 1981 a 1995, buscaram a substituição da visão empirista-indutivista presente no ensino, recorrendo à Psicologia Cognitiva e às concepções epistemológicas históricas e culturais.
Por outro lado, a concepção construtivista, iniciada no século XX, considera a ciência uma construção de modelos explicativos para a realidade e não uma representação da própria realidade. Esta concepção propõe que o conhecimento é construído mediante as relações de interação estabelecidas entre sujeito e objeto, portanto, esta relação não é neutra. As observações são precedidas e influenciadas pelas teorias, e assim, a ciência é entendida como um processo dinâmico que pode ser alvo de mudanças. Nela, o cientista combina dois procedimentos: um vindo do racionalismo e outro do empirismo, e a eles acrescenta um terceiro, vindo da idéia de conhecimento aproximativo e corrigível.
Como o racionalista, o cientista construtivista exige que o método lhe permita e lhe garanta estabelecer axiomas, postulados, definições e deduções sobre o objeto científico. Como o empirista, o construtivista exige que a experimentação guie e modifique axiomas, postulados, definições e demonstrações. No entanto, porque considera o objeto construção lógico-intelectual e uma construção experimental feita em laboratório, o cientista não espera que seu trabalho apresente a realidade em si mesma, mas ofereça estruturas e modelos de funcionamento da realidade, explicando os fenômenos observados. Não espera, portanto, apresentar uma verdade absoluta e sim uma verdade aproximada que pode ser corrigida, modificada, abandonada por outra mais adequada aos fenômenos.
Apesar das divergências, a maioria dos filósofos das ciências atuais contesta a postura empirista, o positivismo, a neutralidade da ciência e é partidária à visão construtivista do conhecimento (JUSTINA, 2001). No entanto, a visão de ciência que circula nas escolas é distante da concepção construtivista adota por filósofos contemporâneos, estando de acordo com a concepção empirista. No próximo tópico, baseada na revisão bibliográfica, procuro apresentar as visões de ciência veiculadas nas escolas através da educação científica.”
---
É isso!
Fonte:
GLÁUCIA CASTELO BRANCO DE FRANCISCO: “ENSINO DE GENÉTICA: UMA ABORDAGEM A PARTIR DOS ESTUDOS SOCIAIS DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA – ESCT". (Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Educação, ao Programa de Pós-Graduação, Mestrado em Educação, do Centro de Ciências da Educação da Universidade Regional de Blumenau (FURB). Orientador: Prof. Dr. Adolfo Ramos Lamar). Universidade Regional de Blumenau (FURB). Blumenau, 2005.
Nota:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
Eduardo- Mensagens : 5997
Idade : 54
Inscrição : 08/05/2010
Tópicos semelhantes
» Um canyon em algumas horas
» Resposta a algumas críticas à NVI
» A vida e algumas mentiras de Darwin
» Más notícias para Darwin: cada posição tem características únicas que não podem ser capturadas por algumas mutações
» Algumas críticas ao realismo popperiano
» Resposta a algumas críticas à NVI
» A vida e algumas mentiras de Darwin
» Más notícias para Darwin: cada posição tem características únicas que não podem ser capturadas por algumas mutações
» Algumas críticas ao realismo popperiano
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
Dom Fev 19, 2017 7:48 pm por Augusto
» Acordem adventistas...
Ter Fev 07, 2017 8:37 pm por Augusto
» O que Vestir Para Ir à Igreja?
Qui Dez 01, 2016 7:46 pm por Augusto
» Ir para o céu?
Qui Nov 17, 2016 7:40 pm por Augusto
» Chat do Forum
Sáb Ago 27, 2016 10:51 pm por Edgardst
» TV Novo Tempo...
Qua Ago 24, 2016 8:40 pm por Augusto
» Lutas de MMA são usadas como estratégia por Igreja Evangélica para atrair mais fiéis
Dom Ago 21, 2016 10:12 am por Augusto
» Lew Wallace, autor do célebre livro «Ben-Hur», converteu-se quando o escrevia
Seg Ago 15, 2016 7:00 pm por Eduardo
» Ex-pastor evangélico é batizado no Pará
Qua Jul 27, 2016 10:00 am por Eduardo
» Citações de Ellen White sobre a Vida em Outros Planetas Não Caídos em Pecado
Ter Jul 26, 2016 9:29 pm por Eduardo
» Viagem ao Sobrenatural - Roger Morneau
Dom Jul 24, 2016 6:52 pm por Eduardo
» As aparições de Jesus após sua morte não poderiam ter sido alucinações?
Sáb Jul 23, 2016 4:04 pm por Eduardo