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[Etimologia] O aio (paidagôgós) que conduz a Cristo
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06032011
[Etimologia] O aio (paidagôgós) que conduz a Cristo
O aio que conduz a Cristo
Quando lidamos com a interpretação de um texto, devemos estar atentos ao fato de que as figuras e conceitos empregados são pressupostos pelo autor como sendo conhecidos pelo destinatário. Assim, para se aproximar mais da compreensão do texto, é preciso que o intérprete se coloque na posição deste destinatário. Sendo assim, na interpretação de um escrito é importante conferir todos os outros textos semelhantes que tratam do mesmo tema, no mesmo idioma. Não que um autor não possa inovar; é notório que muitos intelectuais, especialmente filósofos, poetas e religiosos, dão um novo sentido a antigas expressões. No entanto, na interpretação de uma determinada expressão, é preciso fazer a comparação de seu significado histórico-cultural com os elementos que um texto se lhe atribui. É possível que o próprio texto dê a indicação de que o autor está empregando a expressão no sentido comum. Um exemplo interessante, e muito instrutivo, é Gálatas 3:24.
O que é um aio? Embora em um trabalho inicial seja importante definir o significado dessa palavra na língua portuguesa, o texto original tem absoluta primazia sobre a sua tradução. Assim, devemos buscar na versão grega de Gálatas 3:24 o entendimento desta expressão, na qual consta:
A expressão traduzida por "aio" é παιδαγωγος (pai-da-gô-gós). É a expressão que dá origem a "pedagogo". Mas a comparação com o significado da língua portuguesa é enganosa. O παιδαγωγος não era, entre os gregos, um "pedagogo", um acadêmico especializado; era um escravo responsável por conduzir as crianças. Antes de entrarmos nos detalhes, dois motivos nos são mostrados para o emprego do conceito grego de παιδαγωγος. Para isso, é preciso consultar os autores da época que empregaram a língua grega, e ver em que sentido tratavam o παιδαγωγος.
Primeiro, um pouco da etimologia. A língua grega, em semelhança ao alemão e, em menor escapa, ao inglês, é uma língua caracterizada pela constante formação de palavras por aglutinação. παιδαγωγος é uma expressão que surge da aglutinação de παιδός (genitivo de παῖς, "criança"), e άγω ("conduzir"). Assim, o παιδαγωγος é aquele que conduz a criança. Que tipo de condutor é esse, e que papel social ele desempenha, sabemos pelo que os gregos escreveram. Dentre os autores que na antiguidade usaram tal expressão, iremos tratar de Aristóteles (século IV a.C.), Heródoto (século V a.C.), Platão (séculos IV e V a.C.), Plutarco (séculos I e II d.C.) e Xenofonte (séculos V e IV a.C.). Dois filósofos, um historiador e dois meios-termos. A referência a Plutarco é muito significativa, já que ele viveu em época muito próxima à dos apóstolos. Nas traduções que apresentamos abaixo, apresentamos παιδαγωγος como "aio", mas devemos notar que isso será sempre em um sentido específico da língua grega. Em traduções de textos gregos, geralmente constará como tutor ou preceptor.
Tanto Heródoto (História, livro 8, capítulo 75) quanto Plutarco (Temístocles, capítulo 12) fazem referência a um escravo chamado Sicino, que servia a Temístocles. Segundo Plutarco, Sicino era um escravo de guerra de origem persa (ἦν δὲ τῷ μὲν γένει Πέρσης ὁ Σίκιννος, αἰχμάλωτος). Escreveu Heródoto: τῷ οὔνομα μὲν ἦν Σίκιννος, οἰκέτης δὲ καὶ παιδαγωγὸς ἦν τῶν Θεμιστοκλέος παίδων ("o seu nome era Sicino, o qual era da casa e aio dos filhos de Temístocles"). Plutarco faz referência a outro παιδαγωγος, chamado Ólbio, aio dos filhos de Nicogenes. Até onde podemos perceber aqui, o παιδαγωγος atua como condutor dos filhos de aristocratas. Semelhantemente, Platão, em sua República, coloca os παιδαγωγοι entre os servidores, ao lado das amas, criadas e cozinheiros (livro 2, 373c). Assim, o papel de παιδαγωγος, na cidade-estado grega, não era o de um homem livre, mas o de um escravo. Xenofonte, comentando sobre a Constituição dos Lacedemônios (livro 2), compara a crianção das crianças lacedemônias com as de outras cidades gregas. Ele assim diz: "Em verdade, nas outras [cidades] dos gregos, os que consideram dar aos filhos a mais bela formação colocam os sob os cuidados e controle de um aio assim que puderem entender a fala, e os enviam para a escola para aprender letras, música e exercícios de luta" (τῶν μὲν τοίνυν ἄλλων Ἑλλήνων οἱ φάσκοντες κάλλιστα τοὺς υἱεῖς παιδεύειν, ἐπειδὰν τάχιστα αὐτοῖς οἱ παῖδες τὰ λεγόμενα ξυνιῶσιν, εὐθὺς μὲν ἐπ᾽ αὐτοῖς παιδαγωγοὺς θεράποντας ἐφιστᾶσιν, εὐθὺς δὲ πέμπουσιν εἰς διδασκάλων μαθησομένους καὶ γράμματα καὶ μουσικὴν καὶ τὰ ἐν παλαίστρᾳ). No terceiro livro, Xenofonte completa dizendo que quando o garoto deixa de ser criança, está livre deste aio e do professor (ὅταν γε μὴν ἐκ παίδων εἰς τὸ μειρακιοῦσθαι ἐκβαίνωσι, τηνικαῦτα οἱ μὲν ἄλλοι παύουσι μὲν ἀπὸ παιδαγωγῶν, παύουσι δὲ ἀπὸ διδασκάλων, ἄρχουσι δὲ οὐδένες ἔτι αὐτῶν, ἀλλ᾽ αὐτονόμους ἀφιᾶσιν.
Aristóteles, em sua Ética a Nicômaco, nos dá uma importante dica a respeito do papel dos παιδαγωγοι, comparando o seu serviço ao trabalho que a razão opera sobre os apetites. "Assim, os apetites devem ser moderados e poucos, e não devem opor-se de modo algum à razão. É isso o que queremos dizer com obediência e disciplina. E assim como a criança deve viver como os comandos do seu preceptor, também o elemento apetititvo da nossa alma deve submeter-se à razão." (1119b; διὸ δεῖ μετρίας εἶναι αὐτὰς καὶ ὀλίγας, καὶ τῷ λόγῳ μηθὲν ἐναντιοῦσθαι—τὸ δὲ τοιοῦτον εὐπειθὲς λέγομεν καὶ κεκολασμένον—ὥσπερ δὲ τὸν παῖδα δεῖ κατὰ τὸ πρόσταγμα τοῦ παιδαγωγοῦ ζῆν, οὕτω καὶ τὸ ἐπιθυμητικὸν κατὰ τὸν λόγον). Pelo que nos diz Aristóteles, o παιδαγωγος tinha um papel de disciplinar, de incitar obediência. Assim, o παιδαγωγος, condutor da criança, desempenhava um papel na educação dos filhos do homem poderoso.
No entanto, o seu papel não era propriamente o de um professor. Platão faz uma comparação entre o professor (διδάσκαλός) e o aio, em sua República (livro 8, 563a), de modo que fica claro não serem o mesmo. Falando de um Estado indesejável, ele diz: "o professor (διδάσκαλός) teme e lisonjeia os alunos, assim como os alunos não se importam com os mestres; e isso também com os aios." (διδάσκαλός τε ἐν τῷ τοιούτῳ φοιτητὰς φοβεῖται καὶ θωπεύει, φοιτηταί τε διδασκάλων ὀλιγωροῦσιν, οὕτω δὲ καὶ παιδαγωγῶν). Já nas Leis (livro 7, 808d), ele afirma que as crianças não podem viver sem o aio (...οὐδὲ δὴ παῖδας ἄνευ τινῶν παιδαγωγῶν...).
Por fim, o diálogo Lísis é um dos mais interessantes sobre o tema. Segue um fragmento (208c) do texto (na particular tradução abaixo são eleminados os elementos do discurso indireto, aos quais eu sublinhei no texto grego):
- Mas quem te controla? ἀλλ᾽ ἄρχει τίς σου
- Este aio. ὅδε, παιδαγωγός,ἔφη.
- Ele é, certamente, um escravo. μῶν δοῦλος ὤν
- Por que certamente? Ele é nosso. ἀλλὰ τί μήν; ἡμέτερός γε, ἔφη.
- Quer incrível! Um que é livre sob o poder de um escravo. Mas de que forma esse tutor te controla? ἦ δεινόν, ἦν δ᾽ ἐγώ, ἐλεύθερον ὄντα ὑπὸ δούλου ἄρχεσθαι. τί δὲ ποιῶν αὖ οὗτος ὁ παιδαγωγός σου ἄρχει;
- Talvez me levando ao professor. ἄγων δήπου, ἔφη, εἰς διδασκάλου
Em que sentido esse texto é significativo? Primeiro, porque apresenta a situação daquele que está debaixo do aio. O aio em si é um escravo; no entanto, exerce poder sobre a criança, de modo que ela, sendo livre, deve obedecer-lhe. O verbo empregado na última frase é άγω, que é aquele que faz parte da formação da palavra παιδαγωγός, o que demonstra mais uma vez que o papel do aio era levar (conduzir) a criança. Não era ele mesmo um professor; ele disciplinava a criança para que ela aprendesse com o professor.
Em suma, o aio era um escravo que tinha como papel levar a criança ao professor. Ele disciplinava a criança para que ela contivesse seus desejos. Quando, no entanto, deixava de ser criança, estava livre do poder do aio, tornando-se autônomo (ἀλλ᾽ αὐτονόμους ἀφιᾶσιν, Xenofonte, Const. Lac., livro III).
De volta a Gálatas 3:24,25...
Há, a princípio, terceiro semelhanças entre Gálatas 3:24,25 e o texto de Lísis (208c). Primeiro, ambos os textos se referem ao aio com o papel de direcionar (εις); segundo, ambos os textos colocam o aio como estando sobre aquele que é conduzido, de modo que este está sob (υπο) aquele; e terceiro, em ambos o trabalho do aio é transitório. Fica, assim, evidenciado que o papel ao qual Paulo compara a Lei em Gálatas 3 não é o de instruir, dar sabedoria, mas o de conter, de controlar, até que venha a maturidade.
Gyordano, peccator.
Quando lidamos com a interpretação de um texto, devemos estar atentos ao fato de que as figuras e conceitos empregados são pressupostos pelo autor como sendo conhecidos pelo destinatário. Assim, para se aproximar mais da compreensão do texto, é preciso que o intérprete se coloque na posição deste destinatário. Sendo assim, na interpretação de um escrito é importante conferir todos os outros textos semelhantes que tratam do mesmo tema, no mesmo idioma. Não que um autor não possa inovar; é notório que muitos intelectuais, especialmente filósofos, poetas e religiosos, dão um novo sentido a antigas expressões. No entanto, na interpretação de uma determinada expressão, é preciso fazer a comparação de seu significado histórico-cultural com os elementos que um texto se lhe atribui. É possível que o próprio texto dê a indicação de que o autor está empregando a expressão no sentido comum. Um exemplo interessante, e muito instrutivo, é Gálatas 3:24.
"De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados." (Gálatas 3:24)
O que é um aio? Embora em um trabalho inicial seja importante definir o significado dessa palavra na língua portuguesa, o texto original tem absoluta primazia sobre a sua tradução. Assim, devemos buscar na versão grega de Gálatas 3:24 o entendimento desta expressão, na qual consta:
ωστε ο νομος παιδαγωγος ημων γεγονεν εις χριστον ινα εκ πιστεως δικαιωθωμεν
A expressão traduzida por "aio" é παιδαγωγος (pai-da-gô-gós). É a expressão que dá origem a "pedagogo". Mas a comparação com o significado da língua portuguesa é enganosa. O παιδαγωγος não era, entre os gregos, um "pedagogo", um acadêmico especializado; era um escravo responsável por conduzir as crianças. Antes de entrarmos nos detalhes, dois motivos nos são mostrados para o emprego do conceito grego de παιδαγωγος. Para isso, é preciso consultar os autores da época que empregaram a língua grega, e ver em que sentido tratavam o παιδαγωγος.
Primeiro, um pouco da etimologia. A língua grega, em semelhança ao alemão e, em menor escapa, ao inglês, é uma língua caracterizada pela constante formação de palavras por aglutinação. παιδαγωγος é uma expressão que surge da aglutinação de παιδός (genitivo de παῖς, "criança"), e άγω ("conduzir"). Assim, o παιδαγωγος é aquele que conduz a criança. Que tipo de condutor é esse, e que papel social ele desempenha, sabemos pelo que os gregos escreveram. Dentre os autores que na antiguidade usaram tal expressão, iremos tratar de Aristóteles (século IV a.C.), Heródoto (século V a.C.), Platão (séculos IV e V a.C.), Plutarco (séculos I e II d.C.) e Xenofonte (séculos V e IV a.C.). Dois filósofos, um historiador e dois meios-termos. A referência a Plutarco é muito significativa, já que ele viveu em época muito próxima à dos apóstolos. Nas traduções que apresentamos abaixo, apresentamos παιδαγωγος como "aio", mas devemos notar que isso será sempre em um sentido específico da língua grega. Em traduções de textos gregos, geralmente constará como tutor ou preceptor.
Tanto Heródoto (História, livro 8, capítulo 75) quanto Plutarco (Temístocles, capítulo 12) fazem referência a um escravo chamado Sicino, que servia a Temístocles. Segundo Plutarco, Sicino era um escravo de guerra de origem persa (ἦν δὲ τῷ μὲν γένει Πέρσης ὁ Σίκιννος, αἰχμάλωτος). Escreveu Heródoto: τῷ οὔνομα μὲν ἦν Σίκιννος, οἰκέτης δὲ καὶ παιδαγωγὸς ἦν τῶν Θεμιστοκλέος παίδων ("o seu nome era Sicino, o qual era da casa e aio dos filhos de Temístocles"). Plutarco faz referência a outro παιδαγωγος, chamado Ólbio, aio dos filhos de Nicogenes. Até onde podemos perceber aqui, o παιδαγωγος atua como condutor dos filhos de aristocratas. Semelhantemente, Platão, em sua República, coloca os παιδαγωγοι entre os servidores, ao lado das amas, criadas e cozinheiros (livro 2, 373c). Assim, o papel de παιδαγωγος, na cidade-estado grega, não era o de um homem livre, mas o de um escravo. Xenofonte, comentando sobre a Constituição dos Lacedemônios (livro 2), compara a crianção das crianças lacedemônias com as de outras cidades gregas. Ele assim diz: "Em verdade, nas outras [cidades] dos gregos, os que consideram dar aos filhos a mais bela formação colocam os sob os cuidados e controle de um aio assim que puderem entender a fala, e os enviam para a escola para aprender letras, música e exercícios de luta" (τῶν μὲν τοίνυν ἄλλων Ἑλλήνων οἱ φάσκοντες κάλλιστα τοὺς υἱεῖς παιδεύειν, ἐπειδὰν τάχιστα αὐτοῖς οἱ παῖδες τὰ λεγόμενα ξυνιῶσιν, εὐθὺς μὲν ἐπ᾽ αὐτοῖς παιδαγωγοὺς θεράποντας ἐφιστᾶσιν, εὐθὺς δὲ πέμπουσιν εἰς διδασκάλων μαθησομένους καὶ γράμματα καὶ μουσικὴν καὶ τὰ ἐν παλαίστρᾳ). No terceiro livro, Xenofonte completa dizendo que quando o garoto deixa de ser criança, está livre deste aio e do professor (ὅταν γε μὴν ἐκ παίδων εἰς τὸ μειρακιοῦσθαι ἐκβαίνωσι, τηνικαῦτα οἱ μὲν ἄλλοι παύουσι μὲν ἀπὸ παιδαγωγῶν, παύουσι δὲ ἀπὸ διδασκάλων, ἄρχουσι δὲ οὐδένες ἔτι αὐτῶν, ἀλλ᾽ αὐτονόμους ἀφιᾶσιν.
Aristóteles, em sua Ética a Nicômaco, nos dá uma importante dica a respeito do papel dos παιδαγωγοι, comparando o seu serviço ao trabalho que a razão opera sobre os apetites. "Assim, os apetites devem ser moderados e poucos, e não devem opor-se de modo algum à razão. É isso o que queremos dizer com obediência e disciplina. E assim como a criança deve viver como os comandos do seu preceptor, também o elemento apetititvo da nossa alma deve submeter-se à razão." (1119b; διὸ δεῖ μετρίας εἶναι αὐτὰς καὶ ὀλίγας, καὶ τῷ λόγῳ μηθὲν ἐναντιοῦσθαι—τὸ δὲ τοιοῦτον εὐπειθὲς λέγομεν καὶ κεκολασμένον—ὥσπερ δὲ τὸν παῖδα δεῖ κατὰ τὸ πρόσταγμα τοῦ παιδαγωγοῦ ζῆν, οὕτω καὶ τὸ ἐπιθυμητικὸν κατὰ τὸν λόγον). Pelo que nos diz Aristóteles, o παιδαγωγος tinha um papel de disciplinar, de incitar obediência. Assim, o παιδαγωγος, condutor da criança, desempenhava um papel na educação dos filhos do homem poderoso.
No entanto, o seu papel não era propriamente o de um professor. Platão faz uma comparação entre o professor (διδάσκαλός) e o aio, em sua República (livro 8, 563a), de modo que fica claro não serem o mesmo. Falando de um Estado indesejável, ele diz: "o professor (διδάσκαλός) teme e lisonjeia os alunos, assim como os alunos não se importam com os mestres; e isso também com os aios." (διδάσκαλός τε ἐν τῷ τοιούτῳ φοιτητὰς φοβεῖται καὶ θωπεύει, φοιτηταί τε διδασκάλων ὀλιγωροῦσιν, οὕτω δὲ καὶ παιδαγωγῶν). Já nas Leis (livro 7, 808d), ele afirma que as crianças não podem viver sem o aio (...οὐδὲ δὴ παῖδας ἄνευ τινῶν παιδαγωγῶν...).
Por fim, o diálogo Lísis é um dos mais interessantes sobre o tema. Segue um fragmento (208c) do texto (na particular tradução abaixo são eleminados os elementos do discurso indireto, aos quais eu sublinhei no texto grego):
- Mas quem te controla? ἀλλ᾽ ἄρχει τίς σου
- Este aio. ὅδε, παιδαγωγός,ἔφη.
- Ele é, certamente, um escravo. μῶν δοῦλος ὤν
- Por que certamente? Ele é nosso. ἀλλὰ τί μήν; ἡμέτερός γε, ἔφη.
- Quer incrível! Um que é livre sob o poder de um escravo. Mas de que forma esse tutor te controla? ἦ δεινόν, ἦν δ᾽ ἐγώ, ἐλεύθερον ὄντα ὑπὸ δούλου ἄρχεσθαι. τί δὲ ποιῶν αὖ οὗτος ὁ παιδαγωγός σου ἄρχει;
- Talvez me levando ao professor. ἄγων δήπου, ἔφη, εἰς διδασκάλου
Em que sentido esse texto é significativo? Primeiro, porque apresenta a situação daquele que está debaixo do aio. O aio em si é um escravo; no entanto, exerce poder sobre a criança, de modo que ela, sendo livre, deve obedecer-lhe. O verbo empregado na última frase é άγω, que é aquele que faz parte da formação da palavra παιδαγωγός, o que demonstra mais uma vez que o papel do aio era levar (conduzir) a criança. Não era ele mesmo um professor; ele disciplinava a criança para que ela aprendesse com o professor.
Em suma, o aio era um escravo que tinha como papel levar a criança ao professor. Ele disciplinava a criança para que ela contivesse seus desejos. Quando, no entanto, deixava de ser criança, estava livre do poder do aio, tornando-se autônomo (ἀλλ᾽ αὐτονόμους ἀφιᾶσιν, Xenofonte, Const. Lac., livro III).
De volta a Gálatas 3:24,25...
24 "De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados. 25 Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio." (Gálatas 3:24,25)
24 ωστε ο νομος παιδαγωγος ημων γεγονεν εις χριστον ινα εκ πιστεως δικαιωθωμεν 25 ελθουσης δε της πιστεως ουκετι υπο παιδαγωγον εσμεν
24 ωστε ο νομος παιδαγωγος ημων γεγονεν εις χριστον ινα εκ πιστεως δικαιωθωμεν 25 ελθουσης δε της πιστεως ουκετι υπο παιδαγωγον εσμεν
Há, a princípio, terceiro semelhanças entre Gálatas 3:24,25 e o texto de Lísis (208c). Primeiro, ambos os textos se referem ao aio com o papel de direcionar (εις); segundo, ambos os textos colocam o aio como estando sobre aquele que é conduzido, de modo que este está sob (υπο) aquele; e terceiro, em ambos o trabalho do aio é transitório. Fica, assim, evidenciado que o papel ao qual Paulo compara a Lei em Gálatas 3 não é o de instruir, dar sabedoria, mas o de conter, de controlar, até que venha a maturidade.
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