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O criacionista pode aceitar a origem de novas espécies? Empty O criacionista pode aceitar a origem de novas espécies?




PODEM OS CRIACIONISTAS ACEITAR A ORIGEM DE NOVAS ESPÉCIES?
Marcia Oliveira de Paula, Ph.D.
INTRODUÇÃO

No capítulo 1 do livro de Gênesis é descrita a criação de todos os seres vivos por Deus. Todos ele foram criados "segundo sua espécie". No início do século dezenove, a maioria dos acadêmicos aceitava o relato de Gênesis bastante literalmente. Muitos, mesmo, parece que iam além da declaração literal, e afirmavam que as expressões encontradas em Gênesis 1 "segundo a sua espécie" significavam que nenhuma variação poderia ocorrer dentro das espécies básicas. Realmente, a Bíblia não fala em lugar algum de "nenhuma variação". Este ensino relativo a nenhuma variação tem sido chamado de Doutrina da Fixidez Extrema.

Darwin aparentemente iniciou sua viagem ao redor do mundo crendo que "a ausência de variação" constituía a verdade ensinada no livro de Gênesis. Porém, as sua observações, que revelaram muitas variações dentro das espécies, puseram-no em confronto direto com o que entendia ser a doutrina das origens expressa em Gênesis. Infelizmente, parece que Darwin não estudou por si mesmo, com o devido cuidado, o livro de Gênesis. Acreditava que seus mestres haviam interpretado Gênesis corretamente, e que a sua descoberta das variações tinha mostrado que o relato de Gênesis não poderia ser aceito. Tragicamente chegou à conclusão, como muitos desde então, que havia refutado o livro de Gênesis, quando na realidade o que fez foi refutar uma de sua interpretações extremadas. Quem ler Gênesis por si próprio nada encontrará dito a respeito de ausência de variações. Descobrirá, sim, que os tipos básicos foram criados conforme suas espécies.

Então, será que o criacionista pode aceitar a origem de novas espécies? Alguns criacionistas fixistas acreditam que Deus criou todas as espécies que existem atualmente. Mas esse conceito resulta de uma má compreensão do termo "segundo a sua espécie" do livro de Gênesis.

O que são espécies? Segundo Mayr (1963) "As espécies são grupos naturais de populações ativa ou potencialmente entrecruzantes e reprodutivamente isolados de todos os outros grupos similares." Esta definição não se aplica, entretanto, a todos os seres vivos. Certos organismos se reproduzem primária ou exclusivamente por via assexual, o que torna inviável o teste do entrecruzamento; e, algumas vezes, membros de diferentes espécies podem entrecruzar-se com êxito.

Wolfe (1977) fornece uma definição de espécie um pouco mais aberta: "A espécie é um grupo de organismos que se assemelham entre si mais do que os organismos de um outro grupo qualquer e que se distinguem dos integrantes de qualquer outro ao menos por uma característica bem definida. Idealmente, os membros de uma espécie entrecruzam-se exclusivamente entre si para produzir descendentes férteis."

As espécies de animais são consideradas grupos naturais de populações que se cruzam efetivamente ou potencialmente, mas as outras categorias da hierarquia taxonômica são arbitrárias e estabelecidas pelo homem. Elas pretendem refletir níveis diferentes de parentesco entre os animais, baseados na evolução. Duas ou mais espécies com certos caracteres em comum formam um gênero. Por sua vez, gêneros tendo caracteres comuns constituem uma família, as famílias são combinadas em ordens, as ordens em classes e as classes em filos. Todos os filos juntos constituem um reino.

Quais teriam sido então os tipos básicos criados por Deus? Espécies, gêneros ou famílias? Seria bastante difícil chegar a uma conclusão com os dados que temos, mesmo porque a classificação é artificial, e, acima de espécie, não há critérios definidos. Mas é certo que nem todas as espécies que existem foram criadas por Deus: muitas delas, e provavelmente alguns gêneros também, surgiram por modificação dos tipos básicos originais. Veremos a seguir alguns exemplos.

EXEMPLOS DE ESPECIAÇÃO

Existem vários exemplos atuais de surgimento de novas espécies que foram documentados. No Havaí, existem diversas espécies de mariposas do gênero Hedylepta que se alimentam exclusivamente de bananeiras. Todas as outras espécies havaianas desse gênero se alimentam de gramíneas, palmeiras ou leguminosas. O fato notável neste caso é que as bananeiras foram introduzidas nas ilhas do Havaí pelos polinésios há apenas mil anos atrás. Aparentemente o gênero Hedylepta sofreu eventos múltiplos de especiação durante este breve período de tempo, que originaram espécies que só se alimentavam das bananeiras recém-introduzidas no Havaí. Cada espécie de mariposa que se alimenta de bananeiras está confinada às florestas de montanhas de apenas uma ou duas ilhas. É compreensível esta distribuição das espécies em questão: elas ainda não tiveram tempo de se espalharem para muito longe de seus locais de origem.

Outro exemplo que pode ser mencionado ocorreu na Uganda. O lago Nabugabo é um pequeno corpo de água doce desse país, e fica situado às margens do lago Vitória. Evidências geológicas indicam que o lago Nabugabo foi formado a partir do lago Vitória, pelo crescimento de um banco de areia através de uma pequena enseada na margem deste lago. A datação com radiocarbono indica que a separação ocorreu há aproximadamente quatro mil anos atrás. Um fato extraordinário ocorre no lago Nabugabo: ele abriga quatro espécies de peixes da família dos ciclídeos que não são conhecidas em nenhum outro lugar, inclusive no lago Vitória, mas cada uma destas espécies se assemelha a uma espécie do lago ancestral. As espécies do lago Nabugabo diferem das espécies parentais óbvias do lago maior na coloração dos machos e em outras características menores. O padrão de coloração do macho é uma importante característica na identificação das espécies, servindo como um sinal de reconhecimento para o acasalamento. As pequenas populações das espécies parentais do lago Vitória foram aparentemente isoladas quando o banco de areia transformou o Nabugabo em um lago separado, e desde então elas vieram a se tornar novas espécies.

Especiação por poliploidia

Um mecanismo que pode levar à especiação rápida é a poliploidia. Um indivíduo poliplóide é aquele que apresenta um número múltiplo exato do genoma característico da espécie. Os poliplóides são designados triplóides (3n), tetraplóides (4n), pentaplóides (5n) etc., conforme tenham três, quatro, cinco ou mais genomas. Os poliplóides podem se originar de duas maneiras principais:

a) por divisão mitótica incompleta, havendo duplicação do número de cromossomos dentro da própria espécie ou pela união de dois gametas não reduzidos (autopoliplidia)

b) por hibridização interespecífica, seguida por divisão mitótica incompleta (alopoliploidia)

O geneticista russo Karpechenko foi o primeiro a conseguir obter uma espécie nova em laboratório usando a alopoliploidia. Ele cruzou rabanete, Raphanus (2n =18), com couve, Brassica (2n = 18), desejando obter descendentes com raiz de rabanete e folhas de couve. Para sua decepção, o que conseguiu foram plantas com raiz de couve e folha de rabanete. O híbrido obtido era estéril, pois seus 18 cromossomos não se pareavam na meiose, sendo por isso distribuídos irregularmente nos gametas. A duplicação do número de cromossomos nos híbridos produziu plantas tetraplóides que se mostravam férteis, pois nelas 9 cromossomos da couve pareavam com 9 da couve, e 9 do rabanete com 9 do rabanete. Este tetraplóide recebeu o nome de Raphanobrassica e mostrou-se uma nova espécie, geneticamente isolada, tanto da couve como do rabanete, infelizmente sem as qualidades apreciadas daquelas plantas.

Os alopoliplóides, sendo geneticamente isolados dos tipos parentais, constituem novas espécies, nas quais estão combinadas muitas das características de seus ancestrais.

Novas espécies alopoliplóides podem também ser formadas na natureza. Um dos poliplóides mais bem conhecido é uma gramínea de brejo salgado do gênero Spartina. Uma espécie nativa deste gênero, S. maritima, ocorre em brejos ao longo da costa da Europa e da África. Uma segunda espécie, S. alterniflora, do leste da América do Norte, foi acidentalmente introduzida na Grã-Bretanha por volta do ano de 1800 e desenvolveu-se formando grandes colônias locais. A espécie nativa S. maritima possui estatura baixa, mas S. alterniflora é muito mais alta, alcançando freqüentemente 0,5 metro de altura e, ocasionalmente, um metro. Nas proximidades do porto em Southampton, tanto a espécie nativa quanto a introduzida existiram lado a lado , e, em 1870, coletou-se um híbrido estéril, que se reproduzia por rizomas. S. maritima possui um número somático de cromossomos (2n) de 60 e S. alterniflora, 62; o híbrido, devido a alguma divisão meiótica errada, possui também 62 cromossomos somáticos. Este híbrido estéril, que foi denominado S. townsendii persiste até hoje. Por volta de 1890, um vigoroso poliplóide fértil originou-se naturalmente deste híbrido espalhando-se rapidamente por todo o litoral da Grã-Bretanha e noroeste da França. Este poliplóide, S. anglica, com 122 cromossomos, surgiu devido à duplicação dos cromossomos do híbrido. S. anglica é freqüentemente plantado para ligar o lodo dos brejos e tal uso contribuiu para sua rápida disseminação. Na atualidade, está substituindo ambas as espécies parentais.

O PROCESSO DE ESPECIAÇÃO

O material genético de uma população, interagindo com o meio e submetido às forças da mutação, seleção natural, deriva genética e migração, pode levar ao aparecimento de divergência dentro dessa população. Diferenças substanciais podem ocorrer entre dois grupos de uma dada população, a ponto de se poder identificá-los como entidades distintas. Essas diferenças freqüentemente estão associadas à existência de regiões ecologicamente distintas, fato que leva esses grupos a se adaptarem de maneira peculiar. Caracteres de alto valor adaptativo em uma região podem se comportar de maneira diferente em outras. As constituições genéticas de dois ou mais setores de uma populaçãosão passíveis de diversificação, por estarem submetidos a pressões seletivas distintas. Se do cruzamento entre membros de dois grupos resultar descendência fértil, admite-se que esses dois grupos constituam raças. As raças são definidas como populações da mesma espécie, que diferem nas freqüências relativas de genes ou de formas cromossômicas.

Se os mecanismos de isolamento tornarem-se cada vez mais eficientes e o fluxo gênico (intercâmbio gênico através da reprodução) entre as raças for cada vez menor, elas tenderão a divergir até o ponto em que a reprodução entre elas se torne impossível. Quando isto ocorrer, o processo de diversificação tornar-se-á irreversível, não haverá mais troca de genes entre os dois grupos e estes poderão, agora, ser considerados duas espécies distintas (Ver Figura 1).

Este processo de especiação descrito por Stebbins pode ser perfeitamente aceito pelos criacionistas.

O tempo requerido para a formação de uma nova espécie por este processo seria, segundo alguns evolucionistas, em média um milhão de anos. Porém, vários outros cientistas admitem que este processo possa ser muito mais rápido, sendo possível em centenas ou milhares de anos (ver exemplos acima).

Segundo Gibson, o dilúvio e as condições originadas após o seu término teriam fornecido condições muito favoráveis para uma rápida especiação. A maioria dos organismos foi destruída por esta catástrofe, deixando pequenas populações de sobreviventes . Os vertebrados terrestres foram preservados na arca em pequenos números. Após eles serem liberados da arca, eles teriam encontrado recursos quase ilimitados disponíveis, tornando possíveis rápidos aumentos no tamanho das populações, juntamente com níveis reduzidos de competição. Haveria um grande número de nichos ecológicos desocupados, aos quais os organismos poderiam se adaptar. As condições ambientais da terra estariam instáveis, e processos geológicos como os vulcões, terremotos, e mudanças no nível do mar afetariam o clima, criariam e removeriam barreiras para a dispersão e produziriam muitas catástrofes localizadas que tenderiam a isolar populações de espécies em dispersão.

Aquelas espécies que foram preservadas fora da arca também estariam sujeitas a condições favoráveis para especiação. Organismos aquáticos poderiam ser transportados por correntes, possivelmente resultando na dispersão de pequenos grupos de sobreviventes para muitos lugares isolados com diferentes condições ambientais. O mesmo poderia acontecer com grupos terrestre tais como insetos, vermes e outros invertebrados. Plantas e sementes poderiam também ser levadas pelas águas e dispersas por correntes. Estas condições provavelmente resultariam em especiação rápida em muitos grupos de organismos.

1o estágio

Uma única população em um ambiente homogêneo.

2o estágio

Diferenciação do ambiente e migração para novos ambientes produzem diferenciação.

3o estágio

Modificações posteriores e migrações conduzem ao isolamento geográfico de algumas raças e subespécies.

4o estágio

Algumas dessas subespécies isoladas se diferenciam no tocante a modificações gênicas e cromossômicas que controlam mecanismos de isolamento

5o estágio

Modificações no ambiente permitem que populações geograficamente isoladas coexistam novamente na mesma região. Elas agora permanecem distintas por causa das barreiras de isolamento reprodutivo que as separam e podem ser reconhecidas como espécies distintas.

Fig. 1 - Diagrama mostrando a seqüência de acontecimentos que leva à diferenciação de raças, subespécies e espécies, tendo como ponto de partida um grupo homogêneo de populações (segundo Stebbins, 1974).

CONCLUSÃO

Mudança nas espécies através dos tempos são irrefutáveis. Porém, essas mudanças são limitadas. A possibilidade de mudanças nas espécies não deveria surpreender os criacionistas. A má compreensão do termo "segundo sua espécie" no livro de Gênesis levou alguns a pensarem que os animais não podem mudar de maneira significativa. Porém uma leitura cuidadosa mostra que o texto está afirmando que Deus criou muitos tipos de organismos em um dia de criação. O termo não diz nada sobre se eles podem ou não mudar. Ao contrário, o livro de Gênesis claramente afirma que mudanças iriam acontecer (Gênesis 3: 14, 18). Parece então lógico aceitar o conceito de que Deus criou os "tipos" básicos de organismos, originando a grande variedade de vida ao nosso redor, mas ocorreram mudanças morfológicas limitadas e formação de novas espécies e talvez gêneros. Estas mudanças podem ter acontecido em tempos relativamente curtos, após a criação.

BIBLIOGRAFIA

BRAND, L. R. & GIBSON, J. An interventionist theory of natural selection and biological change within limits. Origins, 2: 60 - 82, 1993.

CARVALHO, H.C. Fundamentos de Genética e Evolução. 3a ed. Rio de Janeiro, Livraria Atheneu, 1987. 556 p.

GARDNER, E. J., SIMMONS, M. J. & SNUSTAD, D. P. Principles of Genetics. 8a ed. New York, John Wiley & Sons, 1991. 649 p.

GIBSON, L. J. Are there limits to change in species? Geoscience Research Institute

MARSH, F. L. Variação e fixidez entre os seres vivos - um novo princípio biológico. Folha Criacionista, 21: 17 - 24, 1979.

MAYR, E. Animal species and evolution. Cambridge, Mass., Belknap Press, Harvard Univers. Press, 1963. 797 p.

MORRIS, H. M. O enigma das origens: a resposta. Belo Horizonte, Editora Origens, 1995. 265 p.

RAVEN, P. H., EVERT, R. F. & CURTIS, H. Biologia vegetal. 2a ed. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 1978. 724 p.

STANLEY, S. M. The new evolutionary timetable. Fossils, genes and the origin of new species. New York, Basic Books Inc. Publishers, 1981.

STEBBINS, G. L. Processos de evolução orgânica. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1970. 255 p.

WEBSTER, C. L. A perspectiva de um cientista sobre a criação e o dilúvio. São Paulo, Editora Universitária Adventista, 1999. 31 p.

WOLFE, S. L. Biology: the foundations. Belmont, Califórnia, Wadsworth Publishing Company, 1977. 460 p.
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O criacionista pode aceitar a origem de novas espécies? :: Comentários

Carlstadt

Mensagem Qua Fev 10, 2010 8:54 pm por Carlstadt

O significado de "espécie" no livro de Gênesis

O criacionista pode aceitar a origem de novas espécies? Earth2_medium_thumb%5B14%5D
Quando lemos passagens como esta na Bíblia:


E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim foi." (Gn. 1:11)

Muitos biólogos cristãos tem se deparado com o dilema do significado real da palavra espécie como visto acima, nesta passagem e em outras do livro de Gênesis e muito tem sido os questionamentos acerca de tal conceito.

Para auxiliar no melhor entendimento desta questão, abaixo seguirão algumas perguntas e suas respectivas respostas, elaborada pelo Dr. James Gibson, Diretor da Geoscience Research Institute e disponível na revista Ciência das Origens n.° 12 de Setembro/2006, traduzida na lingua portuguesa com a colaboração da Sociedade Criacionista Brasileira:

1. O que significa "segundo a sua espécie" no livro de Gênesis?

A palavra hebraica traduzida como "espécie" (ou gênero) é min, que tem o sentido de uma "classe", quando, por exemplo, se divide uma coleção de objetos em diversas categorias. A frase "segundo suas espécies" e outras frases similares são utilizadas em três contextos que se encontram em Gênesis 1, 6, e 7, Levítico 11 e Deuteronômio 14. Podemos ilustrá-los com as seguintes passagens. Em Gênesis 1:21 está escrito que Deus criou os seres "segundo sua espécie". Em Gênesis 6:20, o texto assinala que os animais entraram na arca "segundo sua espécie". Em Levítico 11:14 é mencionado, entre as aves imundas, o milhano "segundo sua espécie".

Nenhum dos textos refere-se de qualquer forma à reprodução, nem especifica se as "espécies" podem ou não mudar. Pelo contrário, vê-se que frases tais como "segundo sua espécie" descrevem uma diversidade que abrange em um só termo animais tais como os grandes montros marinhos, animais terrestres, milhanos, etc. Por exemplo, em Gênesis 1:21 fala-se dos grandes montros marinhos "segundo sua espécie". O texto bem poderia ser traduzido como "toda espécie de criaturas que vivem na água".


2. A palavra "espécies" indica que as espécies criadas não poderiam mudar?

Não. Realmente, a Bíblia prediz que as espécies seriam alteradas. Um dos resultados do pecado foi a maldição sobre as plantas, que passaram a produzir espinhos e cardos. Como poderiam estes fazer parte da maldição, se espinhos e cardos tivessem feito parte da criação original?

Essa menção revela que as plantas mudaram. Da mesma forma, a maldição sobre a serpente mostra que os animais também podem mudar. Como poderia o arrastar-se sobre o pó ser uma maldição, se a serpente tivesse sido criada dessa forma?

Isaías 65:25 indica que o plano de Deus não é que os lobos comam as ovelhas, nem que os leões sejam predadores, mas sim que toda a criação viva em harmonia pacífica. A existência de parasitas e aves que não podem voar mostra que as espécies podem mudar.
3. Podem as espécies mudar tanto a ponto de produzir outras espécies?

A Bíblia não fala sobre esse tema, mas isso pode ser explorado empiricamente. Em primeiro lugar, devemos definir o que é uma "espécie". A definição mais comum do termo refere-se a um:
Grupo de populações que tem a capacidade ou a possibilidade de cruzarem-se entre si".
Existem muitos exemplos de populações que praticamente não podem ser diferenciadas como espécies distintas e, no entanto, não se cruzam mais. Por exemplo, o musaranho europeu, um mamífero pequeno, tem numerosos variantes muito semelhantes, mas os estudos revelaram grande número de populações que não se cruzam entre si. Tais populações são classificadas como espécies diferentes, embora não possam ser distinguidas a não ser por um especialista. Esses exemplos indicam que novas espécies tem surgido.

O criacionista pode aceitar a origem de novas espécies? Musaranho_elefante
Figura 1 - Mussaranho-elefante (Elephantulus intufi).

Outras evidências do surgimento de novas espécies são dadas pelas espécies que pertencem a uma região pequena e singular [habitats fragmentados]. Isso se nota especialmente em ilhas. Muitas ilhas contêm espécies que são únicas. Entre os exemplos mais comuns podemos mencionar a iguana marinha das ilhas de Galápagos, o tentilhão havaiano e o porco-babirussa das ilhas Célebes.

O criacionista pode aceitar a origem de novas espécies? Iguana-marinha
Figura 2 - Iguana-marinha (Amblyrhynchus cristatus) das ilhas Galápagos.

Em todos os casos, a explicação mais razoável para esse fenômeno de restrição geográfica é que essas espécies mudaram isoladamente a partir das colônização original de um ancestral que seria classificado como uma espécie diferente.

4. Isso significa que o texto diz que as espécies podem mudar ilimitadamente como propõe o evolucionismo?

Não. O texto exprime com clareza que Deus criou a diversidade desde o princípio. A diversidade faz parte da criação original, tendo ocorrido diversificações posteriores. Existem muitas linhagens criadas de maneira independente, algumas das quais podem conter somente uma ou umas poucas espécies, enquanto outras contam com numerosas espécies. (Uma "linhagem" abrange uma "espécie" criada originalmente, juntalmente com todos os seus descendentes".
5. Podemos utilizar alguma categoria taxonômica para identificar as linhagens criadas?
Não. As categorias taxonômicas são construídas de maneira subjetiva, segundo a conveniência dos taxonomistas. Não existe uma relação direta entre uma categoria taxonômica e as linhagens originais. A identificação dos membros das diversas linhagens é um dos objetivos das pesquisas criacionistas.
(As passagens citadas são da versão Almeida Revista e Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil).

______________________________________________
NOTA:

A taxonomia vigente é a proposta e elaborada por Linneu (Carl Von Linné) no século XVIII, que muito contribuiu para a organização dos seres vivos, facilitando a pesquisa científica e a padronização mundial dos organismos estudados. Todavia, com o advento da Biologia Molecular tem-se percebido a subjetividade da taxonomia que, até então, era praticada apenas com base na morfologia dos seres.

Prova disto temos os FUNGOS, onde a grande dificuldade na identificação/classificação está associada ao fato de que a taxonomia deste grupo envolve classificações de taxóns baseados pura e simplesmente em aspectos morfológicos, dos quais podemos aplicar as chaves de identificação.

Em muitos casos, muitos taxonomistas tem dificuldades para determinar quais são as características que realmente definem um gênero ou uma espécie. Para complicar a situação dos micologistas, existem as fases anamórficas (assexuadas) e teleomórficas (sexuadas) que morfologicamente são distintas, e por isso assim classificadas, apresentando capacidades genéticas distintas de compartilhar material genético, mas genotipicamente, a Biologia Molecular tem demonstrado que são de uma mesma espécie.

Assim, percebe-se que é razoavelmente plausível aceitar que Deus criou todos os seres vivos do planeta, não da mesma forma do que vemos hoje, mas sim em formas ancestrais de grupos que possuíram a capacidade de se adaptarem no meio ambiente. Aceitar a Teoria da Criação não implica, necessariamente, aceitar ao Fixismo, como defendem erroneamente alguns Evolucionistas.

É razoável aceitar que um Deus que tem poder para criar todas os seres vivos da Terra, com tamanha complexidade e perfeição, pudesse também elaborar mecanismos que promovessem o desenvolvimento biológico natural das espécies que Ele mesmo criou.

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