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“O ateísmo é anormalidade”, diz Chesterton
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21032011
“O ateísmo é anormalidade”, diz Chesterton
“O ateísmo é anormalidade”, diz Chesterton
Gilbert Keith Chesterton (1874-1936), escritor londrino, foi um dos maiores defensores do cristianismo em uma época que o ateísmo era uma tendência entre intelectuais. O progresso técnico e o desenvolvimento científico - principalmente após a Revolução Industrial, no século 18 - despertaram no homem um sentimento de controle da natureza e de independência. As críticas à doutrina e aos mistérios do cristianismo não era novidade entre os filósofos. O pensamento estava presente em iluministas como Voltaire (1694-1778). O mundo se deparava com ideias de Friedrich Nietzsche (1844-1900), Sigmund Freud (1856-1939) e Charles Darwin (1809-1882), um período de afirmações polêmicas e chocantes. Foi nesse cenário que Chesterton defendeu a fé e a existência de Deus. O autor exerceu grande influência e chegou a debater o assunto com Bertrand Russell (1872-1970), o ateu mais famoso e ativo da filosofia contemporânea.
Em O Homem Eterno (Mundo Cristão, 2010) reconta, com o seu característico humor britânico, a história da humanidade apontando a ação de Deus no mundo. Ao argumentar contra os céticos, diz no livro: “o ateísmo é anormalidade”.
Conta-se que o volume foi o responsável pela conversão de C. S. Lewis, autor de As Crônicas de Nárnia, ao cristianismo. Leia, abaixo, um trecho do exemplar.
“Aquela mitologia e aquela filosofia, à luz das quais o paganismo já foi analisado, ambas haviam sido bebidas literalmente até as fezes. Se com a multiplicação da magia o terceiro departamento, que denominamos demônios, estava cada vez mais ativo, ele nunca significou outra coisa que não fosse destruição. Resta apenas o quarto elemento, ou melhor, o primeiro; aquele que em certo sentido fora esquecido por ser o primeiro. Refiro-me àquela primeira, dominante e mesmo assim imperceptível impressão de que o universo no fim das contas tem uma única origem e um único objetivo; e por ter um objetivo deve ter um autor. O que aconteceu nessa época com essa grande verdade no fundo da mente humana talvez seja mais difícil determinar. Alguns dos estoicos sem dúvida viram isso cada vez mais claro à medida que as nuvens da mitologia se abriram e desfizeram; e dentre eles grandes homens fizeram muito lutando até o fim para lançar os fundamentos de um conceito da unidade moral do mundo. Os judeus ainda tinham sua secreta certeza disso ciosamente guardada atrás de altas cercas de exclusividade; no entanto, uma forte característica da sociedade nessa situação é o fato de que algumas figuras em voga, especialmente senhoras, realmente abraçaram o judaísmo. Mas no caso de muitas outras pessoas imagino que nesse ponto surgiu uma nova negação. O ateísmo tornou-se realmente possível nesse tempo anormal, pois o ateísmo é anormalidade. Não é simplesmente a negação de um dogma. É a inversão de um pressuposto subconsciente da alma; a sensação de que existe um significado e uma direção no mundo que ela enxerga. Lucrécio, o primeiro evolucionista que se esforçou para substituir Deus pela evolução, já havia exposto aos olhos dos homens sua dança de cintilantes átomos, com a qual ele concebeu o cosmo sendo criado do caos. Mas não foi sua forte poesia ou sua triste filosofia, imagino eu, que possibilitaram aos homens acalentar essa visão. Foi algo no sentido de uma impotência e um desespero, e com isso os homens ergueram em vão os punhos contra as estrelas, quando viram as mais belas obras da humanidade afundando lenta e fatalmente num lodaçal. Eles poderiam facilmente acreditar que até a própria criação não era uma criação, mas uma perpétua queda, quando viram que as mais sólidas e dignas obras de toda a humanidade estavam caindo devido a seu próprio peso. Poderiam imaginar que todas as estrelas eram estrelas cadentes; e que os próprios pilares de seus solenes pórticos estavam se curvando sob uma espécie de crescente Dilúvio. Para gente naquele estado de espírito havia um motivo para o ateísmo, que em certo sentido é racional. A mitologia poderia desaparecer e a filosofia poderia fossilizar-se; mas, se por trás dessas coisas havia uma realidade, com certeza essa realidade poderia ter sustentado as coisas que iam caindo. Não existia nenhum Deus; se existisse um Deus, com certeza esse era o momento exato para ele agir e salvar o mundo.”
(Folha.com)
Nota: Na Folha... Quem diria...
Leia também: "Homem das cavernas: história mal contada" e "Evolução é explicação?"
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