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[História da Igreja] A Reforma Protestante e os Mártires da Fé
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07052010
[História da Igreja] A Reforma Protestante e os Mártires da Fé
https://www.youtube.com/playlist?p=4F4A47990B14F760 A História da Igreja Restaurando as Raízes Hebraicas da Fé Cristã (Por: Arlindo Machado) Uma igreja de judeus Vejamos alguns relatos do livro de atos: Atos 11:19 “Aqueles, pois, que foram dispersos pela tribulação suscitada por causa de Estevão, passaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos Judeus.” Atos 13:46 – “45 - Mas os Judeus, vendo as multidões, encheram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo falava. 46- Então Paulo e Barnabé, falando ousadamente, disseram: Era mister que a vós se pregasse em primeiro lugar a palavra de Deus; mas, visto que a rejeitais, e não vos julgais dignos da vida eterna, eis que nos viramos para os gentios”. Atos 21:20 = “Bem vês, irmão, quantos milhares de Judeus há que crêem, e todos são zeladores da lei.” Judeus aceitando o Messias Atos 2:9, 10 “Nós, partos, medos, e elamitas; e os que habitamos a Mesopotâmia, a Judéia e a Capadócia, o Ponto e a Ásia, a Frígia e a Panfília, o Egito e as partes da Líbia próximas a Cirene, e forasteiros romanos, tanto Judeus como prosélitos Atos 2:41 De sorte que foram batizados os que receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas;” Atos 4:4 – Esta acontecimento inicia-se em atos 3:1 quando Pedro e João iam para o “Templo” e lá ensinavam a cerca de Jesus e atos 4:4 conclui: “ Muitos, porém, dos que ouviram a palavra, creram, e se elevou o número dos homens a quase cinco mil.” Pedro estava no templo, ensinando aos Judeus, portanto os muitos que ouviram a palavra e creram eram Judeus. Atos 13:42, 43 – “Quando iam saindo, rogavam que estas palavras lhes fossem repetidas no sábado seguinte. E, despedida a sinagoga, muitos Judeus e prosélitos devotos seguiram a Paulo e Barnabé, os quais, falando-lhes, os exortavam a perseverarem na graça de Deus.” Atos 14:1 – “Em Icônio entraram juntos na sinagoga dos Judeus e falaram de tal modo que creu uma grande multidão tanto de Judeus como de gregos.” Atos 15:5 – “Mas alguns da seita dos fariseus, que tinham crido, levantaram-se dizendo que era necessário circuncidá-los e mandar-lhes observar a lei de Moisés.” Também se sabe que os escribas do Novo Testamento eram Judeus, e os apóstolos e os primeiros discípulos também eram Judeus. Eles guardavam o Shabat, celebravam as festas e iam à sinagoga. Mesmo os membros da iniciante Igreja em Jerusalém e nas vizinhanças da Judéia, Samária e Galiléia, eram predominantemente Judeus. As congregações em outras partes do Império Romano também tinham raízes judaicas ou hebraicas relativamente profundas, Você pode constatar nas viagens de Paulo que em cada cidade que ele entrava havia uma sinagoga, portanto, havia a presença de Judeus, Atos 18:8 fala de uma sinagoga em Corinto: Atos 18:8 “Crispo, chefe da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo, criam e eram batizados.” Jesus também pregava nas sinagogas Lc 4:16 – “Chegando a Nazaré, onde fora criado; entrou na sinagoga no dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.”. Paulo fazia o mesmo tanto em Israel como fora. Sempre que chegava a uma cidade, ia ele ensinar numa sinagoga. Vemos isso, por exemplo, em Atos 13:14, quando ele chegou à Antioquia da Pisídia e passou a ensinar a Torah e a Haftará (os livros de Moises e os profetas) para aqueles que lá estavam presentes. Atos 13:14 “Mas eles, passando de Perge, chegaram a Antioquia da Psídia; e entrando na sinagoga, no dia de sábado, sentaram-se.” Encontramos outros inúmeros exemplos, como aquele registrado em Atos 18:4, onde Paulo chegando à sinagoga de Corinto discutia todos os sábados e persuadia a Judeus e Gregos. Atos 18:4. Onde o elo se rompeu |
Após a derrota dos Judeus em 70, e a destruição do Segundo Templo, houve uma reunião de sobreviventes em Jebneh, uma cidade nas Planícies de Sharon, perto de Joppa. Esta conferência produziu resultados que fragilizaram ainda mais o relacionamento das duas comunidades. A seita dos Fariseus ganhou importância, tendo conseguido influenciar a legislação que acabou por ser adotada.
Por volta do ano 100 d.C, o Rabi Gamaliel II introduziu no Shemoneh Esré (Dezoito Bênçãos - parte da liturgia sinagogal diária – explicação abaixo) uma décima nona benção chamada de Birkat haMinim, que fala contra os hereges e pede "que não haja esperança para os apóstatas e que o reino do orgulho seja prontamente erradicado em nossos dias; os Nosrim (Nazarenos, ou seja, Cristãos) e os Minim (hereges) morram subitamente, e sejam cancelados do livro dos vivos e não sejam contados no número dos justos. Bendito sejas, ó Senhor, que abaixas os orgulhosos!"
“Amidah” (significa oração), também chamada de “Shemoneh Esrei” (as 18 bênçãos), é a oração central da liturgia Judaica. Como oração Judaica por excelência, a “Amidah” é frequentemente designada simplesmente como “tefilah” (oração) na liturgia rabínica. Judeus observantes recitam a “Amidah” cada manhã, tarde e noite a cada serviço de oração do dia. A “Amidah” é também o centro do “Mussaf”(adicional) serviço, que é recitado no Shabbat, (Sábado Judeu), Rosh Chodesh (lua nova), e Festas, depois da leitura matinal da Torah.
A “Amidah” semanal consiste de 19 bênçãos, embora originalmente tenha apenas 18; daí o nome "Shemoneh Esrei". (Fonte: Wikipedia)
Birkat haMinim nome da benção que foi adicionada a “Shemone Esrei”.
Uma das finalidades desta inclusão era a de descobrir os nazarenos que estavam em seu meio, para então expulsá-los da sinagoga, pois era evidente que os nazarenos (Cristãos), de maneira nenhuma, iriam proferir esta benção (que na verdade era uma maldição) e que era contra eles próprios, e por ficarem em silêncio enquanto todos a recitavam, eram então descobertos e expulsos da sinagoga.
A evolução da liturgia referente a esta oração é explicada por A.Z. Idelson em seu livro "Jewish Liturgy and its Development":
"Birkat Ha-minim ou Ha-tzidukkim ou Ha-zzedim (b. Ber. 28 b; Jer. Ber IV, 3; Tanhuma, final Korah; M.R. Bamidbar 18,17) Esta bênção, ou 'maldição', como é chamada por Kohler (K. Kohler, H.U.C. Annual I, 1923), foi composta, de acordo com fontes talmúdicas, por Samuel um Jovem por volta do ano 100 d. C. a pedido do Rabi Gamaliel e contra os sectários e heréticos entre o povo Judeu. Mesmo assim, Kohler crê ter esta prece sido composta antes da Destruição. 'O reino hostil aqui mencionado em termos tão orgulhosos pode apenas dizer respeito ao quarto reino mundial de Daniel, seja o da Síria ou o de Roma. ' As expressões 'o arrancar das raízes, o esmagar e o jogar por terra o reino da arrogância... Que quebra os inimigos e humilha o arrogante'- tudo isso aponta para a arrogância e rudeza dos romanos. 'Mas então', conclui Kohler, 'quando estes malignos Cristãos no próprio interior das sinagogas tornaram-se uma ameaça ao povo Judeu, e o Rabi Gamaliel pediu a alguns de seus discípulos que formulassem uma prece contra os Minim, ou heréticos, Samuel Hakatan levantou-se e deu à prece contra o poder de Roma uma nova implicação mudando as palavras iniciais a uma referência direta aos Minim. Como se tratava, ainda assim, de uma mera mudança casual de palavras, ele não conseguiu, no ano seguinte, lembrar-se de quais teriam sido as palavras exatas empregadas no ano anterior... Desde então as várias versões apresentam termos diferentes para as palavras iniciais, enquanto o resto reteve a antiga forma.'...
Os Judeus voltariam a tentar outra revolta, desta vez por intermédio de Bar Kochba, em 135 d.C. (Ver: Revoltas dos Judeus contra a ocupação pelo Império Romano). Nesta grande revolta, os Cristãos tinham razões acrescidas para mais uma vez não participar. Bar Kochba havia sido apontado como Messias pelo Rabi Aquiva. Os Cristãos sabiam que o Messias era Jesus e não Bar Kokhba , portanto participar desta revolta junto com os Judeus, significaria trair suas crenças e admitir a possibilidade de Bar Kokhba ser o Messias Judeu, embora tivessem o mesmo interesse na recuperação de Jerusalém e da reconstrução do templo, decidiram não participar. Este ato foi igualmente interpretado pelos Judeus como traição e deserção e mais uma ruptura ocorre entre os nazarenos (critãos) e os Judeus.
No ano 135 todos os Judeus foram expulsos de Jerusalém, após a derrota do suposto Messias Bar Kokhba .
Quando a revolta foi esmagada pelo Imperador Hadriano em 135 D.C. Hadriano expulsou todos os Judeus de Jerusalém, permitindo que retornassem apenas um dia por ano, em Tisha Be'av, para o luto pela destruição do Templo. E daí, portanto, o registro do primeiro nome grego na liderança da Igreja de Jerusalém, como resultado da proibição romana da entrada de Judeus na cidade. Hadriano também reconstruiu Jerusalém como uma cidade romana e mudou seu nome para Aelia Capitolina e o nome da Judéia para Síria Palestina. Isto foi feito para apagar qualquer ligação judaica com a cidade de Jerusalém e com a terra de Israel.
“Colonia Aelia Capitolina (ou, simplesmente, Aelia Capitolina) era uma cidade construída pelo Imperador Hadriano. e ocupada por uma colônia romana, no sítio das ruínas de Jerusalém.
O nome Aelia vem do nomen gentile de Hadriano; Capitolina, porque a nova cidade foi dedicada a Júpiter Capitolino, a quem um templo foi construído no sítio do Templo Judeu. A fundação de Aelia Capitolina resultou da fracassada revolta judia de Bar Kokhba; os Judeus foram proibidos de entrar na nova cidade e um destacamento da Décima Legião foi designado para guardar a cidade e assegurar a proibição de acesso.
O plano urbano da cidade seguia o modelo típico romano, com grandes avenidas que se cruzavam, inclusive um Cardo maximus (avenida principal).
A palavra latina Aelia é a origem do termo árabe Iliya, usado em certa época pelos muçulmanos para designar Jerusalém.”(fonte: wikipedia)
Gentios maioria |
Para o Cristianismo o período que se abre em 70d.C. e que segue até aproximadamente 135d.C. caracteriza-se como o inicio da organização da hierarquia e da liturgia. No Oriente, estabelece-se o episcopado monárquico: a comunidade é chefiada por um bispo, rodeado pelo seu presbitério e assistido por diáconos.
Por esta época, a Igreja tinha efetivamente se separado do convívio com os Judeus não crentes, porém seguiam celebrando as festas bíblicas, observando o shabat e fazendo as orações em hebraico.
Com o crescimento da Igreja, em sua maioria de gentios, o poder teológico e político pouco a pouco foi se transferindo dos líderes Judeu-Cristãos para centros de liderança cristã de gentios, como Alexandria, Roma e Antioquia. É importante entender esta mudança, porque ela provocou os primeiros Patriarcas da Igreja a fazerem declarações anti-semita.
Com a expansão da Igreja dentro do Império Romano e com o crescimento das congregações de não-Judeus, o pensamento grego e romano começou a se infiltrar dentro da Igreja e mudar completamente a orientação da interpretação bíblica através de uma mentalidade grega e não judia ou hebraica. Isto depois resultaria em muitas heresias, algumas das quais ainda existentes nos nossos dias.
Apesar de separado dos Judeus, suas práticas são genuinamente judaicas:
De "A Apologia" de Aristides (séc. 2º)
Os Cristãos observam as leis de Deus - "Os Cristãos trazem gravadas em seu coração as leis de Deus e observam-nas na esperança do século futuro. Por isso não cometem adultério, nem fornicação; não dão falso testemunho; não se apossam dos depósitos que receberam; não desejam aquilo que não lhes diz respeito; honram o pai e a mãe, fazem o bem ao próximo; e, quando são juizes, julgam com justiça. Não adoram ídolos de forma humana; tudo aquilo que não querem que os outros lhes façam, eles não o fazem a ninguém. Não comem carnes oferecidas aos ídolos, porque são contaminadas. Suas filhas são puras e virgens e fogem da prostituição; o homem abstém-se de qualquer união ilegítima e de toda impureza; suas mulheres igualmente são castas, na esperança da grande recompensa no outro mundo..."
Vivem na justiça e na santidade - "Observam exatamente os mandamentos de Deus, vivendo santa e justamente, assim como o Senhor Deus prescreveu-lhes; dão-lhe graças todas as manhãs e todas as noites pelo alimento ou bebida e por todos os outros bens...”
Dos "Livros a Autolico" de São Teófilo de Antioquia (Séc. 2º)
A vida dos Cristãos demonstra a grandeza e a beleza de sua religião (livro III, 15)"Encontra-se nos Cristãos um sábio domínio de si, exerce-se a continência, observa-se o matrimônio único, a castidade é conservada, a injustiça é excluída, o pecado extirpado em sua raiz, pratica-se a justiça, a lei é observada, a piedade é apreciada com fatos. Deus é reconhecido, a verdade, considerada norma suprema.”
SÉCULO I
Socrates Scholasticus, Eccl. History (sec 1º.) “Quase todas as Igrejas no mundo celebram os sagrados mistérios [da Ceia do Senhor] no sábado de cada semana.”
Eusebius’s Ecclesiastical History (sec 2º.) “Então a semente espiritual de Abraão [os Cristãos] fugiram para Pela, do outro lado do rio Jordão, onde encontraram um lugar de refúgio seguro, e assim puderam servir a seu Mestre e guardar o Seu sábado.”
Filo, filósofo e historiador, afirma que o sábado correspondia ao sétimo dia da semana.
SÉCULO II
D. T. H. Morer (Church of England), Dialogues on the Lord’s Day, Londres, 1701 (sec 3º.) - “Os Cristãos primitivos tinham grande veneração pelo sábado, e dedicavam o dia para devoção e sermões. ... Eles receberam essa prática dos apóstolos, conforme vários escritos para esse fim.”
SÉCULO I, II, III, IV
John Ley, Sunday A Sabbath, Londres, 1640 - “Desde o tempo dos apóstolos até o Concílio de Laodicéia [364 d.C.), a sagrada observância do sábado dos Judeus persistiu, como pode ser comprovado por muitos autores, não obstante o voto contrário do concílio.”
Fonte: http://www.ahistoriadaigreja.org/site/page1.aspx
[História da Igreja] A Reforma Protestante e os Mártires da Fé :: Comentários
A Separação dos Caminhos
Anne Amos
Introdução
A cisão entre Judaísmo e Cristandade era gradual e aconteceu em graus diferentes em lugares diferentes. Há notavelmente pouco consenso entre cientistas no que precisamente causou a racha, e as estimativas variam sobre a data, do meio do primeiro século dC até o meio do quarto dC.
O professor Alan Crown de Sydney vai além da reserva da maioria dos cientistas, datando "a divisão dos caminhos" ao Concílio de Nicéia 325 dC, data que aceito. O Concílio de Nicéia foi convocado pelo imperador Constantino, para assentar algumas diferenças teológicas que estavam dividindo o Império Cristão. O primeiro ato dos trezentos bispos reunidos era fixar a data para a Páscoa distinta da Páscoa Judaica, separando por isso efetivamente os judeus e os cristãos.
O primeiro estágio
"A divisão dos caminhos" tem dois estágios distintos. O primeiro, no primeiro século, era a pré-ocupação com determinar quem era cristão e quem não o era. O segundo estágio era mais longo, mais tortuoso, penoso e destrutivo para as sensibilidades judaicas. Era marcado por um movimento da preocupação com autodefinição puramente cristão para formular a Igreja uma como entidade distinta do Judaísmo, um movimento herético para judeus.
No primeiro estágio, a Igreja primitiva fazia parte do corpo político do Judaísmo e está chegando a ser comum adicionar cristãos judaicos à lista de Josefo das seitas do primeiro século, as quais eram os saduceus, fariseus, essênios e zelotes. O primeiro século era pluralista, mas judaicamente pluralista.
A Igreja judaica primitiva era judaica em liderança e em qualidade de membros. Funcionava em sinagogas e tinha tradições farisaicas e nunca perdeu seus traços da Halakáh [lei religiosa] rabínica. Era natural que os cristãos estariam ansiosos pela sua autodefinição e pelo que definiria o seu status. Observadores greco-romanos que os viram ir ao Templo definiram-nos como judeus que achavam que gozassem os benefícios de religio licita [religião permitida]. Por razões diferentes, os rábis de Yafneh também não lhes deram um status distintivo. Para os rábis, os cristãos judaicos eram heréticos.
Em Yafneh, as onze bênçãos tradicionais da `AMIDáH [a oração judaica das 18], uma excomunhão formal de sectários, se dirigiu contra aqueles que foram judaicos, mas agora se identificaram como cristãos. Foram invocadas anteriormente contra os saduceus, sendo mais tarde invocadas contra judeus gnósticos. Essa evidência sugeriria que emYafneh a duodécima benção se dirigiu contra judeus desviados, sendo os cristãos percebidos como judeus desviados.
Ao longo da ambigüidade do status dos cristãos andava a familiaridade dos seus ensinos. Esses estavam conhecidos alhures no Judaísmo entre uma ou outra das suas assim chamadas filosofias. Bastem dois exemplos:
Paulo era um judeu radical convertido à Cristandade Judaica. Deixou o movimento farisaico para trás, mas não o Judaísmo ou a Toráh. Mas é que vivia em tensão com o particularismo judaico, tendo que repensar alguns valores do seu passado num modo consoante com os seus interesses na missão gentílica. Estou devendo a Alan Segal pela sua cuidadosa análise dos argumentos de Paulo para demonstrar que o método de Paulo de inverter os valores do seu passado é farisaico.
A reflexão de Paulo sobre a Toráh é o mais problemático para judeus. Paulo ainda respeita a Toráh, mas sutilmente muda seu lugar na sua vida, assim que ela tenha a autoridade última como profecia, mas não como uma norma comunal para a salvação. A nova importância primária da Toráh é a profecia prognosticando o messíah crucificado e a conversão dos gentílicos. "Mas agora a retidão de Deus foi manifestada à parte da lei, embora a lei e os profetas a testemunham" (Rm 3,21-31).
Paulo, no entanto, não se retira à posição de a Toráh seja característico étnico dos judeus. Paulo entende que a Toráh provê um padrão universal de retidão em assuntos étnicos para judeus e gentílicos igualmente. Esse entendimento do valor da Toráh está de acordo com visões judaicas posteriores de que os preceitos morais gerais da Toráh, os Mandamentos Noahicos, estejam com incumbência em gentílicos bem como em judeus. Só as leis especiais são de incumbência em judeus.
Esse argumento de Paulo, segundo Alan Segal, pode ser interpretado em dois modos. Paulo pode estar oferecendo ao convertido duas escolhas iguais: a escolha entre se tornar um cristão judeu com todas as regras operantes, ou de adotar um princípio novo de salvação - conversão por batismo em Cristo que, por definição, seria mais fácil para gentílicos.
Ou, como a Igreja advogava, Paulo não pode estar dando ao Judaísmo um lugar positivo continuado tal no plano de Deus (Rm 11,17-22). Pode, de fato, estar advogando fé como princípio alternado de guardar a Toráh. Isso representa a distinção entre o auto-entendimento religioso judaico e cristão. A preocupação judaica é para a prática reta, a preocupação cristã é para a fé reta.
A minha própria opinião é que Paulo nunca resolveu esse enigma para si e, nisso, era representativo do seu tempo. A Toráh, a circuncisão e as leis de pureza ameaçavam a teologia de conversão e a unidade da seita cristã infantil. Isso era, para Paulo, nas suas próprias palavras, "um sofrimento grande e uma agonia incessante" (Rm 9,2). Era a Igreja dos primeiros séculos, com as suas necessidades de fazer as escrituras cristãs congruentes com os seus próprios ensinamentos, que obscureceu as origens e concernências farisaicas de Paulo, interpretando os seus ensinamentos para os seus próprios objetivos polêmicos.
Isso, não obstante, era a divisão impetuosa entre a comunidade rabínica e os teólogos cristãos nascentes. Ambos designavam uma resposta à destruição do Templo em 70 dC. Esse ponto maior da historia do Judaísmo terminou a instituição de sacrifício animal e do serviço cultico a D'us. O Templo fora também parte do governo complexo e toda a maquinaria de estado tivera de ser reconstruída. Essa tarefa caía aos fariseus que transcenderam diversas respostas apocalípticas que eram existentes para desenvolver um sistema de pensamento judaico, o qual tem preservado o povo judaico até o dia de hoje.
Algumas das respostas cristãs eram para ver a destruição do Templo um como sinal da parousia [aparência de Cristo] e uma punição atual para os judeus. Não falaram nenhumas palavras de conforto e puseram o lamento dos judeus "por causa dos nossos pecados fomos exilados da nossa terra" para palavras de acusação: "por causa dos vossos pecados fostes exilados da vossa terra".
Os judeus chegaram a ser os "outros". O que não sabemos é se essa criação do "outro" era étnica - os judeus separados dos gentílicos - ou religiosa: os judeus separados dos cristãos. Seja qual for, os modos começaram para divergir como os cristãos lutavam para estabelecer uma identidade distinta.
O Segundo Estágio
O segundo estágio, a constituição da Igreja como uma instituição distinta do Judaísmo, era uma luta para a legitimidade contra a antiguidade e atratividade do Judaísmo. Pelo fim do primeiro século, a influência das práticas judaicas na liturgia, crenças e morais de Igreja infantil era evidente. Havia autoridade dada à prática e crença judaicas que chegou a ser ameaça à Igreja, particularmente no Oriente Cristão, o qual tinha a maior concentração de comunidades judaicas. Aí, os cristãos freqüentavam tanto igreja como a sinagoga, observavam festivais tanto judaicos como cristãos, e algumas das fundações do Judaísmo foram entesouradas na liturgia cristã.
A) Os Cristãos no Talmude
Em olhos judaicos, a Igreja era uma adventícia, mas é difícil determinar a extensão atual em que a Igreja aturdia os intelectuais judaicos. Sabemos que foram absorvidos pela elaboração de escritos rabínicos, mas isso não é a única razão pela escassez de referências à Cristandade nos escritos rabínicos, os quais podem agora somente ser pesquisados "no mar do Talmude", para citar Marcel Simon.
A palavra de cristão não aparece e, se é que for, foi removida por edições posteriores. No entanto, há um número de textos que têm nuanças polêmicas, dirigindo-se a todos chamados de MINÍM. A definição de MINÍM é elástica, mas se acha que, por vezes, se refere a cristãos.
Há textos no Talmude que tratam da antigüidade do Judaísmo sobre os MINÍM, a autoridade contínua dos escritos rabínicos com a Lei de D'us também revelada no Monte Sinai e a validade contínua da Lei.
O rábi Samuel ben Nahum estava indubitavelmente pensando em cristãos quando disse: "De acordo com a lei estrita, a pessoa deve recitar os dez mandamentos cada dia. E porque não os recitamos? Por causa das reivindicações dos MINÍM; para que não diriam: 'só esses foram dados a Moisés no Sinai'."
A intenção do rábi Samuel ben Nahum parece estar para enfatizar a unidade da revelação do Sinai e para enfrentar a objeção cristã que tentava desassociar a lei moral, isso é o decálogo, do código convencional segundo, principalmente do ritualista.
Igualmente, quando os rábis negam enfaticamente que D'us tinha qualquer filho, isso deve ser alusão ao dogma cristão, mesmo se os MINÍM não sejam identificados nos textos relevantes. A evidência acumulada no Talmude, em resumo, aponta para controvérsias reais que transcenderam a especulação acadêmica, porque estão dirigidas contra uma comunidade oponente, a Igreja.
Igualmente, quando os rábis negam enfaticamente que D'us tinha qualquer filho, isso deve ser alusão ao dogma cristão, mesmo se os MINÍM não sejam identificados nos textos relevantes. A evidência acumulada no Talmude, em resumo, aponta para controvérsias reais que transcenderam a especulação acadêmica, porque estão dirigidas contra uma comunidade oponente, a Igreja.
B) Literatura Cristã Anti-semítica
Há um corpo significante de literatura anti-semítica cristã que evidencia que o Judaísmo representava ameaça real à Igreja.
Preciso pousar aqui para definir o modo em que o anti-semitismo descreve o anti-judaismo do mundo antigo. Havia uma hostilidade pelo mundo pagão ao separatismo do Judaísmo que não era necessariamente hostilidade racial. A Cristandade herdou tais atitudes pagãs, havendo queixas populistas contra judeus. No entanto, pelo século quarto, havia também condenação eclesial e erudita, a qual estava sendo alimentada pela leitura particular da escritura para apoiar tais afirmações como deicídio e supersessionismo.
A literatura anti-semita era desigual na sua invectiva, variando dum estilo polêmico consistente com as formas literárias do dia até franco abuso que só pode ser descrito como vendeta deliberada.
Vou tomar só três exemplos do corpo histórico, aquele de Justino Mártir, São João Crisóstomo e Afraates, para demonstrar o grau de sentimento anti-semita. Os assuntos examinados era consistente: circuncisão, Sábado, leis dietéticas, chamada de gentílicos, a esperança judaica.
Justino Mártir
Justino Mártir (100-165) estava escrevendo no período justamente antes a Cristandade Judaica como seita foi separada da Igreja. A excomunhão de cristãos judaicos pelo Conselho de Jerusalém era mais um marco miliário na "separação dos caminhos". Justino Mártir editou um "Diálogo com Trifo" (o judeu). Trifo está modelado num judeu farisaico atual, representando nitidamente as atitudes farisaicas. Justino Mártir tanto se dirige a Trifo como o ouve num diálogo intelectual respeitoso.
Dirigindo-se a Trifo, acusa os judeus de "amaldiçoais nas vossas sinagogas aqueles que crêem em Cristo", referindo-se a duodécima bênção da`AMIDáH. Semelhantemente, Trifo tem a sua fala sobre uma das razões básicas de rejeição da Cristandade pelos judeus: "Pondes a sua esperança num homem que foi crucificado", diz Trifo pasmado.
O contexto era o restabelecimento das fés gêmeas de Judaísmo e Cristandade depois da destruição do Templo. Os assuntos de prática de culto, o lugar do Favor Divino e a identidade do Israel verdadeiro eram o sujeito do debate vivo, mas respeitoso, num tempo quando os judeus e os cristãos ainda tinham um concurso significante. No fato, Justino Mártir aprendeu hebraico dum rábi para interpretar melhor as Escrituras Hebraicas. O recurso à Escritura era a base de argumento antijudaico. A fim de ter algum efeito em judeus, a prova tinha de ser fundada no texto escritural.
Há três temas que correm consistentemente pela literatura, sem considerar da data de escrever ou do contexto geográfico:
São João Crisóstomo
São João Crisóstomo, escrevendo de Antioquia 386-398 dC, era o mestre de invectiva antijudaica sem questão. Mistura os preconceitos do anti-semitismo popular aos ressentimentos teológicos contra os judeus, particularmente sobre a atração do ritual judaico a cristãos. Denuncia também a reivindicação dos judeus à benção contínua de Abraão.
Crisóstomo, bispo de Antioquia, emitiu "Oito Homilias contra os judeus" para a instrução e reformação moral da cidade nominalmente cristã de Antioquia. Era um grande orador, sendo a sua audiência real a sua congregação de Domingo, esta que também estava sendo atraída à Sinagoga. Havia um sincretismo em obra que perturbava Crisóstomo. Os seus cristãos observavam os festivais judaicos, observavam o Sábado e ainda foram à sinagoga para fazer promessas.
A Antioquia da Síria era a terceira cidade do Império Romano e a cidade na qual os discípulos de Cristo foram primeiramente chamados de cristãos (At 1,26). Havia também uma grande comunidade judaica na Antioquia, sendo a sinagoga uma influência viva. A força do anti-semitismo de Crisóstomo era proporcional à força numérica da comunidade judaica.
Há pausas abruptas na documentação dessas invectivas, como se a pópria congregação de Crisóstomo estivesse chocada e protestou.
Nas "Oito Homilias" há discussão teológica sobre, outras coisas, a data e o significado da Páscoa, que Crisóstomo chama de Páscoa Cristã. O "Peçah", Crisóstomo manda, "não deve ser celebrado, mas sim substituído pelo sacramento da Santa Comunhão celebrado várias vezes por semana". "Ainda", Crisóstomo diz, "é ofensivo estabelecer a data da morte de Cristo referindo a questão aos seus executores".
Crisóstomo não praticava a restrição de obras anteriores como os Didascalia, uma ordem da Igreja do terceiro século. Os Didascalia aceitavam que o Peçah judaico era popular e não podia ser posto fora, assim mudou seu caráter transformando-o dum festival alegre celebrando a fuga do Egito para um dia de penitência vicária pelos pecados dos israelitas cegos. No entanto o tom dos Didascalia é cortês e a sua referência para os judeus sincera, embora descaminhada. Crisóstomo o viu diferentemente. Atacou a atração que os cristãos judaicos tinham pelo Peçah de ponta-cabeça.
Crisóstomo usa alusão bíblica contra os judeus com destreza senão justiça e precisão. O seu legado era uma teologia de deicídio e supersessionismo que influenciou a Igreja até o dia presente.
Afraates
Afraates vivia fora do Império no meio duma comunidade judaica forte. Foi flanqueado pelas grandes controvérsias do Império. Era o primeiro dos Padres Eclesiais, vivendo pelas perseguições de Shapur II (310-345) na Pérsia. O nosso conhecimento dele vem de "23 Demonstrações" (337-345), as quais são a sua avaliação da fé cristã.
A sua cristologia é arcaica, retendo a simplicidade da primeira geração de cristãos. Está completamente indiferente às subtilidades da especulação teológica grega, mas as suas visões sobre religião e culto são ortodoxas. Cristo é o objeto de fé e culto. Embora a sua especulação esteja completamente semítica, não manchado pela influência do helenismo.
Afraates replica à objeção judaica que os cristãos distorçam o monoteísmo citando precedentes sobre "filiação" das Escrituras Hebraicas. Afraates diz que, quando os cristãos chamam Cristo de "Deus" e "Filho de D'us", isso não é extraordinário. D'us disse de Israel que Israel era o Seu filho. D'us usa a mesma apelação de Salomão. Adão, gerado pelo pensamento de D'us, é Seu filho, no sentido próprio da palavra. Afraates não vê problema para judeus no nomear Cristo como o Filho de D'us, como o protótipo está na escritura Hebraica e, para Afraates, não substituído.
Afraates codificou as observâncias cristãs, distinguindo-as daquelas de Israel, mas modelando a sua obra estreitamente nelas. Fazendo isso, Afraates se mostra estando profundamente embutido como espírito judaico. Apelou para moderação consistentemente: "Não vamos procurar dificuldades e disputas sobre palavras. Não nos favorecem. O que está importante é o coração puro que observa os mandamentos e mantém as festas, as temporadas de culto e os ofícios diários."
O cientista judaico americano, Jacob Neusner, está apreensivo de Afraates. Vê a sua obra como um inquérito genuíno, respeitoso do Judaísmo e propriamente congruente com pensamento e estudo semíticos das escrituras Hebraicas. Outros perguntaram pensativamente se e como os caminhos se teriam partidos diferentemente, tivesse-se dado ao Afraates da Igreja primitiva a posição autoritativa. A sua conexão à Cristandade primitiva e pensamento semítico e a sua apreciação do seu oponente dá a suas polêmicas um teor inteiramente diferente.
C) O Apelo Popular do Judaísmo
O apelo do Judaísmo era uma ameaça, não só para a formulação de doutrina cristã, mas também para as práticas populares da Igreja. As pessoas que advogavam a retenção de costumes judaicos na Igreja estavam conhecidas com judaizantes. Havia um movimento popular. Pôs os elementos tomados do Judaísmo e da Cristandade lado a lado, uma forma de sincretismo.
Os escritores cristãos que insistem mais vigorosamente na caducidade da chamada de Israel são aqueles que estão mais preocupados com combater a pressão dos judaizantes, sendo isso verdade de Justino Mártir, Crisóstomo e Afraates.
Os concílios da Igreja primitiva estavam também preocupados com proibir as práticas judaicas. Proibiram o casamento com judeus de cada sexo, o fazer o Sábado um festival e a bênção da colheita por elas. É mais difícil determinar o que a resposta prática de judeus era para a influência da Cristandade por razões apresentadas acima. Seria difícil acreditar que havia nenhuma particularmente, já que havia concurso contínuo entre judeus e cristãos que se encontravam diariamente na praça da feira.
Os cristãos e os judeus não eram somente influenciados pelo sincretismo. A superstição das massas fazia parte duma experiência universal. A celebração da lua nova, observância do Sábado, o batismo cristão, a celebração do dia de nascimento do imperador de acordo com os ritos pagãos e a ornitomancia foram todos liquidados num mundo figurado pelo paganismo. Nas mentes embaraçadas dos fiéis, a lógica jogou parte pequena. Qualquer coisa podia ser invocada para prevenir os efeitos do mau olhar. A superstição e a magia eram fundamentais para o modo antigo de pensar.
Outra vez é saudoso especular. Tivesse a coletividade tido mais influência na teologia - pensamento impossível para o mundo antigo! - o quê poderia ter sido diferente?
Conclusão
Na minha introdução, nomeei o Concílio de Nicéia como o evento que marcou "a separação dos caminhos". Era decisão doutrinal significante para a Igreja oficialmente se separar do Judaísmo. Os imperata teológicos dados ao "separar dos caminhos" foram reforçados politicamente pelos Imperadores Cristãos de Roma e Bizâncio, que conseqüentemente legislaram para separar os judeus dos cristãos e para determinar o status subordinado dos judeus.
O Concílio de Nicéia foi convocado pelo imperador Constantino em 325 dC para assediar a disputa ariana sobre a pessoa de Cristo. O próprio imperador, embora não batizado, presidiu, e o partido ortodoxo tinha a vitória. Cristo foi declarado co-igual e co-eterno com o Pai. A heresia ariana que declarava que Cristo não era nem verdadeiro Deus nem verdadeiro homem foi derrotada. Constantino alcançara o seu fim: soldar o Império num bloco espiritual cristão por razões políticas.
Um dos primeiros atos oficiais de Constantino fora banir o proselitismo judaico como competição perigosa para a Igreja. Isso era desigualdade fragrante. Os cristãos eram livres para evangelizar, mas os judeus eram proibidos para aumentar o número dos seus membros. O contexto em que a proibição aparece é significante. Constitui a segunda parte duma lei que visava proteger os judeus que se converteram à Cristandade de represálias infligidas pelo seus correligionários.
Essa proibição de proselitismo alterou o status dos judeus que alegadamente gozavam de igualdade com pagãos e cristãos sob o Edicto de Milão, passado logo depois da vitória inicial de Constantino sobre todo o Império. O Edito proclamava direitos iguais para pagãos, judeus e cristãos, permitindo a judeus ocuparem ofícios públicos. O seu Patriarca era absolvido de obrigação militar, um privilégio também gozado por todos os líderes religiosos.
O status igual concedido aos judeus sob o Edicto de Milão foi corroído pouco a pouco até que o imperador Teodósio (379-395) fundou um estado cristão ortodoxo, banindo a prática de qualquer outra religião. No período intermediário entre Constantino e Teodósio, os direitos civis dos judeus foram mais que comprometidos.
Em 388, a população cristã botou fogo na sinagoga de Calínico, pequena cidade na Mesopotâmia. As autoridades civis informaram Teodósio, que instruiu o bispo a reconstruir a sinagoga à sua despesa própria e a punir os incendiários. São Ambrósio, bispo de Milão, ouvindo disso, fez representação a Teodósio ao longo das linhas de que queimar sinagogas era agradando a D'us, e de que o príncipe cristão não teria direito de intervir. A história é complexa e, para a abreviar, basta dizer que Teodósio estava sendo forçado a submeter-se a Ambrósio e revogar as suas instruções para a restituição da sinagoga.
Esse episódio é significante, porque exemplifica a mudança do império pluralista para o estado cristão. Teodósio começou a sua resposta à queima da sinagoga em Calínico se comportando como um imperador pagão o teria feito, ansioso de manter lei e ordem, respeitando os direitos aceitos dos judeus. Ambrósio desafiou o auto-entendimento da sua qualidade de imperador, encarregando-o a comportar-se como imperador cristão, que não deveria mostrar boa vontade aos judeus, ou até equidade simples. Isso era, segundo Ambrósio, inconsistente com Cristandade. O negócio do imperador cristão era garantir o triunfo da verdade (cristã) sobre o erro (judaico). Teodósio capitulou, e a Igreja tinha a última palavra. A separação da Igreja do Judaísmo efetivada teologicamente no Concílio de Nicéia era agora lei sob os imperadores cristãos, que tomaram os seus conselhos da Igreja. O incidente de Calínico é o símbolo da conquista do anti-semitismo eclesial. A Igreja podia manejar e é que manejou para influenciar a legislação imperial num modo danoso para os judeus.
Recomendações para leitura ulterior: veja no fim do texto inglês
A rev.dª Anne Amos é ministra da Uniting Church, Austrália.
Texto em inglés Tradução: Pedro von Werden SJ - C. P. 206 - 78005-970 Cuiabá-MT - BRASIL - pv-werden@uol.com.br)
2004-10-01
http://www.jcrelations.net/pt/?area=Artigos&start=30&length=30
Anne Amos
Introdução
A cisão entre Judaísmo e Cristandade era gradual e aconteceu em graus diferentes em lugares diferentes. Há notavelmente pouco consenso entre cientistas no que precisamente causou a racha, e as estimativas variam sobre a data, do meio do primeiro século dC até o meio do quarto dC.
O professor Alan Crown de Sydney vai além da reserva da maioria dos cientistas, datando "a divisão dos caminhos" ao Concílio de Nicéia 325 dC, data que aceito. O Concílio de Nicéia foi convocado pelo imperador Constantino, para assentar algumas diferenças teológicas que estavam dividindo o Império Cristão. O primeiro ato dos trezentos bispos reunidos era fixar a data para a Páscoa distinta da Páscoa Judaica, separando por isso efetivamente os judeus e os cristãos.
O primeiro estágio
"A divisão dos caminhos" tem dois estágios distintos. O primeiro, no primeiro século, era a pré-ocupação com determinar quem era cristão e quem não o era. O segundo estágio era mais longo, mais tortuoso, penoso e destrutivo para as sensibilidades judaicas. Era marcado por um movimento da preocupação com autodefinição puramente cristão para formular a Igreja uma como entidade distinta do Judaísmo, um movimento herético para judeus.
No primeiro estágio, a Igreja primitiva fazia parte do corpo político do Judaísmo e está chegando a ser comum adicionar cristãos judaicos à lista de Josefo das seitas do primeiro século, as quais eram os saduceus, fariseus, essênios e zelotes. O primeiro século era pluralista, mas judaicamente pluralista.
A Igreja judaica primitiva era judaica em liderança e em qualidade de membros. Funcionava em sinagogas e tinha tradições farisaicas e nunca perdeu seus traços da Halakáh [lei religiosa] rabínica. Era natural que os cristãos estariam ansiosos pela sua autodefinição e pelo que definiria o seu status. Observadores greco-romanos que os viram ir ao Templo definiram-nos como judeus que achavam que gozassem os benefícios de religio licita [religião permitida]. Por razões diferentes, os rábis de Yafneh também não lhes deram um status distintivo. Para os rábis, os cristãos judaicos eram heréticos.
Em Yafneh, as onze bênçãos tradicionais da `AMIDáH [a oração judaica das 18], uma excomunhão formal de sectários, se dirigiu contra aqueles que foram judaicos, mas agora se identificaram como cristãos. Foram invocadas anteriormente contra os saduceus, sendo mais tarde invocadas contra judeus gnósticos. Essa evidência sugeriria que emYafneh a duodécima benção se dirigiu contra judeus desviados, sendo os cristãos percebidos como judeus desviados.
Ao longo da ambigüidade do status dos cristãos andava a familiaridade dos seus ensinos. Esses estavam conhecidos alhures no Judaísmo entre uma ou outra das suas assim chamadas filosofias. Bastem dois exemplos:
- Paulo faz declaraç o sobre a circuncis o, a qual está sendo mal-entendida por tanto crist os como judeus contemporâneos como uma demiss o da sua significância: "A circuncis o é nada e é a incircuncis o é nada; mas obedecer aos mandamentos de Deus é alguma coisa" (1Cor 1,19). No entanto, o ensino de Paulo está congruente com uma atitude Lei que pode ser encontrada no Judaísmo do primeiro século - que se gentílicos se esforçarem observar a Lei, a qual n o pode ser embutida na sua identidade, eles podem n o ser inclinados a darem as suas mentes a D'us, sendo melhor que as suas mentes e espíritos sejam dados a D'us do que observem o que lhes poderia ser uma formalidade.
- Na Gálatas, Paulo ensina que o Templo pode ser posto ao lado, e o próprio povo pode chegar a ser o templo espiritual (1Cor 6,19). Esse ensinamento está sendo encontrado nos Rolos do Mar Morto, cujos escritores voltaram as suas costas ao Templo de Jerusalém. A partir da Toráh, os rábis ensinam que o povo é um povo santo dedicado a Deus.
Paulo era um judeu radical convertido à Cristandade Judaica. Deixou o movimento farisaico para trás, mas não o Judaísmo ou a Toráh. Mas é que vivia em tensão com o particularismo judaico, tendo que repensar alguns valores do seu passado num modo consoante com os seus interesses na missão gentílica. Estou devendo a Alan Segal pela sua cuidadosa análise dos argumentos de Paulo para demonstrar que o método de Paulo de inverter os valores do seu passado é farisaico.
A reflexão de Paulo sobre a Toráh é o mais problemático para judeus. Paulo ainda respeita a Toráh, mas sutilmente muda seu lugar na sua vida, assim que ela tenha a autoridade última como profecia, mas não como uma norma comunal para a salvação. A nova importância primária da Toráh é a profecia prognosticando o messíah crucificado e a conversão dos gentílicos. "Mas agora a retidão de Deus foi manifestada à parte da lei, embora a lei e os profetas a testemunham" (Rm 3,21-31).
Paulo, no entanto, não se retira à posição de a Toráh seja característico étnico dos judeus. Paulo entende que a Toráh provê um padrão universal de retidão em assuntos étnicos para judeus e gentílicos igualmente. Esse entendimento do valor da Toráh está de acordo com visões judaicas posteriores de que os preceitos morais gerais da Toráh, os Mandamentos Noahicos, estejam com incumbência em gentílicos bem como em judeus. Só as leis especiais são de incumbência em judeus.
Esse argumento de Paulo, segundo Alan Segal, pode ser interpretado em dois modos. Paulo pode estar oferecendo ao convertido duas escolhas iguais: a escolha entre se tornar um cristão judeu com todas as regras operantes, ou de adotar um princípio novo de salvação - conversão por batismo em Cristo que, por definição, seria mais fácil para gentílicos.
Ou, como a Igreja advogava, Paulo não pode estar dando ao Judaísmo um lugar positivo continuado tal no plano de Deus (Rm 11,17-22). Pode, de fato, estar advogando fé como princípio alternado de guardar a Toráh. Isso representa a distinção entre o auto-entendimento religioso judaico e cristão. A preocupação judaica é para a prática reta, a preocupação cristã é para a fé reta.
A minha própria opinião é que Paulo nunca resolveu esse enigma para si e, nisso, era representativo do seu tempo. A Toráh, a circuncisão e as leis de pureza ameaçavam a teologia de conversão e a unidade da seita cristã infantil. Isso era, para Paulo, nas suas próprias palavras, "um sofrimento grande e uma agonia incessante" (Rm 9,2). Era a Igreja dos primeiros séculos, com as suas necessidades de fazer as escrituras cristãs congruentes com os seus próprios ensinamentos, que obscureceu as origens e concernências farisaicas de Paulo, interpretando os seus ensinamentos para os seus próprios objetivos polêmicos.
Isso, não obstante, era a divisão impetuosa entre a comunidade rabínica e os teólogos cristãos nascentes. Ambos designavam uma resposta à destruição do Templo em 70 dC. Esse ponto maior da historia do Judaísmo terminou a instituição de sacrifício animal e do serviço cultico a D'us. O Templo fora também parte do governo complexo e toda a maquinaria de estado tivera de ser reconstruída. Essa tarefa caía aos fariseus que transcenderam diversas respostas apocalípticas que eram existentes para desenvolver um sistema de pensamento judaico, o qual tem preservado o povo judaico até o dia de hoje.
Algumas das respostas cristãs eram para ver a destruição do Templo um como sinal da parousia [aparência de Cristo] e uma punição atual para os judeus. Não falaram nenhumas palavras de conforto e puseram o lamento dos judeus "por causa dos nossos pecados fomos exilados da nossa terra" para palavras de acusação: "por causa dos vossos pecados fostes exilados da vossa terra".
Os judeus chegaram a ser os "outros". O que não sabemos é se essa criação do "outro" era étnica - os judeus separados dos gentílicos - ou religiosa: os judeus separados dos cristãos. Seja qual for, os modos começaram para divergir como os cristãos lutavam para estabelecer uma identidade distinta.
O Segundo Estágio
O segundo estágio, a constituição da Igreja como uma instituição distinta do Judaísmo, era uma luta para a legitimidade contra a antiguidade e atratividade do Judaísmo. Pelo fim do primeiro século, a influência das práticas judaicas na liturgia, crenças e morais de Igreja infantil era evidente. Havia autoridade dada à prática e crença judaicas que chegou a ser ameaça à Igreja, particularmente no Oriente Cristão, o qual tinha a maior concentração de comunidades judaicas. Aí, os cristãos freqüentavam tanto igreja como a sinagoga, observavam festivais tanto judaicos como cristãos, e algumas das fundações do Judaísmo foram entesouradas na liturgia cristã.
A) Os Cristãos no Talmude
Em olhos judaicos, a Igreja era uma adventícia, mas é difícil determinar a extensão atual em que a Igreja aturdia os intelectuais judaicos. Sabemos que foram absorvidos pela elaboração de escritos rabínicos, mas isso não é a única razão pela escassez de referências à Cristandade nos escritos rabínicos, os quais podem agora somente ser pesquisados "no mar do Talmude", para citar Marcel Simon.
A palavra de cristão não aparece e, se é que for, foi removida por edições posteriores. No entanto, há um número de textos que têm nuanças polêmicas, dirigindo-se a todos chamados de MINÍM. A definição de MINÍM é elástica, mas se acha que, por vezes, se refere a cristãos.
Há textos no Talmude que tratam da antigüidade do Judaísmo sobre os MINÍM, a autoridade contínua dos escritos rabínicos com a Lei de D'us também revelada no Monte Sinai e a validade contínua da Lei.
O rábi Samuel ben Nahum estava indubitavelmente pensando em cristãos quando disse: "De acordo com a lei estrita, a pessoa deve recitar os dez mandamentos cada dia. E porque não os recitamos? Por causa das reivindicações dos MINÍM; para que não diriam: 'só esses foram dados a Moisés no Sinai'."
A intenção do rábi Samuel ben Nahum parece estar para enfatizar a unidade da revelação do Sinai e para enfrentar a objeção cristã que tentava desassociar a lei moral, isso é o decálogo, do código convencional segundo, principalmente do ritualista.
Igualmente, quando os rábis negam enfaticamente que D'us tinha qualquer filho, isso deve ser alusão ao dogma cristão, mesmo se os MINÍM não sejam identificados nos textos relevantes. A evidência acumulada no Talmude, em resumo, aponta para controvérsias reais que transcenderam a especulação acadêmica, porque estão dirigidas contra uma comunidade oponente, a Igreja.
Igualmente, quando os rábis negam enfaticamente que D'us tinha qualquer filho, isso deve ser alusão ao dogma cristão, mesmo se os MINÍM não sejam identificados nos textos relevantes. A evidência acumulada no Talmude, em resumo, aponta para controvérsias reais que transcenderam a especulação acadêmica, porque estão dirigidas contra uma comunidade oponente, a Igreja.
B) Literatura Cristã Anti-semítica
Há um corpo significante de literatura anti-semítica cristã que evidencia que o Judaísmo representava ameaça real à Igreja.
Preciso pousar aqui para definir o modo em que o anti-semitismo descreve o anti-judaismo do mundo antigo. Havia uma hostilidade pelo mundo pagão ao separatismo do Judaísmo que não era necessariamente hostilidade racial. A Cristandade herdou tais atitudes pagãs, havendo queixas populistas contra judeus. No entanto, pelo século quarto, havia também condenação eclesial e erudita, a qual estava sendo alimentada pela leitura particular da escritura para apoiar tais afirmações como deicídio e supersessionismo.
A literatura anti-semita era desigual na sua invectiva, variando dum estilo polêmico consistente com as formas literárias do dia até franco abuso que só pode ser descrito como vendeta deliberada.
Vou tomar só três exemplos do corpo histórico, aquele de Justino Mártir, São João Crisóstomo e Afraates, para demonstrar o grau de sentimento anti-semita. Os assuntos examinados era consistente: circuncisão, Sábado, leis dietéticas, chamada de gentílicos, a esperança judaica.
Justino Mártir
Justino Mártir (100-165) estava escrevendo no período justamente antes a Cristandade Judaica como seita foi separada da Igreja. A excomunhão de cristãos judaicos pelo Conselho de Jerusalém era mais um marco miliário na "separação dos caminhos". Justino Mártir editou um "Diálogo com Trifo" (o judeu). Trifo está modelado num judeu farisaico atual, representando nitidamente as atitudes farisaicas. Justino Mártir tanto se dirige a Trifo como o ouve num diálogo intelectual respeitoso.
Dirigindo-se a Trifo, acusa os judeus de "amaldiçoais nas vossas sinagogas aqueles que crêem em Cristo", referindo-se a duodécima bênção da`AMIDáH. Semelhantemente, Trifo tem a sua fala sobre uma das razões básicas de rejeição da Cristandade pelos judeus: "Pondes a sua esperança num homem que foi crucificado", diz Trifo pasmado.
O contexto era o restabelecimento das fés gêmeas de Judaísmo e Cristandade depois da destruição do Templo. Os assuntos de prática de culto, o lugar do Favor Divino e a identidade do Israel verdadeiro eram o sujeito do debate vivo, mas respeitoso, num tempo quando os judeus e os cristãos ainda tinham um concurso significante. No fato, Justino Mártir aprendeu hebraico dum rábi para interpretar melhor as Escrituras Hebraicas. O recurso à Escritura era a base de argumento antijudaico. A fim de ter algum efeito em judeus, a prova tinha de ser fundada no texto escritural.
Há três temas que correm consistentemente pela literatura, sem considerar da data de escrever ou do contexto geográfico:
- a pessoa de Jesus Cristo e a rejeiç o ou aceitaç o da sua divindade;
- a observância ou abnegaç o da Lei Judaica, especialmente da Lei ritual;
- as reivindicaç es rivais de Israel e da Igreja para herdar a b nç o de Abra o.
São João Crisóstomo
São João Crisóstomo, escrevendo de Antioquia 386-398 dC, era o mestre de invectiva antijudaica sem questão. Mistura os preconceitos do anti-semitismo popular aos ressentimentos teológicos contra os judeus, particularmente sobre a atração do ritual judaico a cristãos. Denuncia também a reivindicação dos judeus à benção contínua de Abraão.
Crisóstomo, bispo de Antioquia, emitiu "Oito Homilias contra os judeus" para a instrução e reformação moral da cidade nominalmente cristã de Antioquia. Era um grande orador, sendo a sua audiência real a sua congregação de Domingo, esta que também estava sendo atraída à Sinagoga. Havia um sincretismo em obra que perturbava Crisóstomo. Os seus cristãos observavam os festivais judaicos, observavam o Sábado e ainda foram à sinagoga para fazer promessas.
A Antioquia da Síria era a terceira cidade do Império Romano e a cidade na qual os discípulos de Cristo foram primeiramente chamados de cristãos (At 1,26). Havia também uma grande comunidade judaica na Antioquia, sendo a sinagoga uma influência viva. A força do anti-semitismo de Crisóstomo era proporcional à força numérica da comunidade judaica.
- Os judeus são cumulados pelos benefícios de D'us e rejeitaram todos eles. Eram os filhos de D'us, por adoção, e chegaram a ser cachorros. O seu Dia de Arrependimento está sendo mal usado como uma oportunidade de festivais indecentes. São culpados do assassínio de Cristo.
Há pausas abruptas na documentação dessas invectivas, como se a pópria congregação de Crisóstomo estivesse chocada e protestou.
Nas "Oito Homilias" há discussão teológica sobre, outras coisas, a data e o significado da Páscoa, que Crisóstomo chama de Páscoa Cristã. O "Peçah", Crisóstomo manda, "não deve ser celebrado, mas sim substituído pelo sacramento da Santa Comunhão celebrado várias vezes por semana". "Ainda", Crisóstomo diz, "é ofensivo estabelecer a data da morte de Cristo referindo a questão aos seus executores".
Crisóstomo não praticava a restrição de obras anteriores como os Didascalia, uma ordem da Igreja do terceiro século. Os Didascalia aceitavam que o Peçah judaico era popular e não podia ser posto fora, assim mudou seu caráter transformando-o dum festival alegre celebrando a fuga do Egito para um dia de penitência vicária pelos pecados dos israelitas cegos. No entanto o tom dos Didascalia é cortês e a sua referência para os judeus sincera, embora descaminhada. Crisóstomo o viu diferentemente. Atacou a atração que os cristãos judaicos tinham pelo Peçah de ponta-cabeça.
- Ninguém deve celebrar o Peçah. O Peçah não devia ser celebrado exceto em um lugar, Jerusalém. Agora, como a cidade tem sido destruída, o rito não está mais válido, e D'us, autorizando a destruição, intentou separar os judeus, apesar de eles mesmos, do seu uso ancestral. Persistir na sua manutenção é violar a lei.
Crisóstomo usa alusão bíblica contra os judeus com destreza senão justiça e precisão. O seu legado era uma teologia de deicídio e supersessionismo que influenciou a Igreja até o dia presente.
Afraates
Afraates vivia fora do Império no meio duma comunidade judaica forte. Foi flanqueado pelas grandes controvérsias do Império. Era o primeiro dos Padres Eclesiais, vivendo pelas perseguições de Shapur II (310-345) na Pérsia. O nosso conhecimento dele vem de "23 Demonstrações" (337-345), as quais são a sua avaliação da fé cristã.
A sua cristologia é arcaica, retendo a simplicidade da primeira geração de cristãos. Está completamente indiferente às subtilidades da especulação teológica grega, mas as suas visões sobre religião e culto são ortodoxas. Cristo é o objeto de fé e culto. Embora a sua especulação esteja completamente semítica, não manchado pela influência do helenismo.
Afraates replica à objeção judaica que os cristãos distorçam o monoteísmo citando precedentes sobre "filiação" das Escrituras Hebraicas. Afraates diz que, quando os cristãos chamam Cristo de "Deus" e "Filho de D'us", isso não é extraordinário. D'us disse de Israel que Israel era o Seu filho. D'us usa a mesma apelação de Salomão. Adão, gerado pelo pensamento de D'us, é Seu filho, no sentido próprio da palavra. Afraates não vê problema para judeus no nomear Cristo como o Filho de D'us, como o protótipo está na escritura Hebraica e, para Afraates, não substituído.
Afraates codificou as observâncias cristãs, distinguindo-as daquelas de Israel, mas modelando a sua obra estreitamente nelas. Fazendo isso, Afraates se mostra estando profundamente embutido como espírito judaico. Apelou para moderação consistentemente: "Não vamos procurar dificuldades e disputas sobre palavras. Não nos favorecem. O que está importante é o coração puro que observa os mandamentos e mantém as festas, as temporadas de culto e os ofícios diários."
O cientista judaico americano, Jacob Neusner, está apreensivo de Afraates. Vê a sua obra como um inquérito genuíno, respeitoso do Judaísmo e propriamente congruente com pensamento e estudo semíticos das escrituras Hebraicas. Outros perguntaram pensativamente se e como os caminhos se teriam partidos diferentemente, tivesse-se dado ao Afraates da Igreja primitiva a posição autoritativa. A sua conexão à Cristandade primitiva e pensamento semítico e a sua apreciação do seu oponente dá a suas polêmicas um teor inteiramente diferente.
C) O Apelo Popular do Judaísmo
O apelo do Judaísmo era uma ameaça, não só para a formulação de doutrina cristã, mas também para as práticas populares da Igreja. As pessoas que advogavam a retenção de costumes judaicos na Igreja estavam conhecidas com judaizantes. Havia um movimento popular. Pôs os elementos tomados do Judaísmo e da Cristandade lado a lado, uma forma de sincretismo.
Os escritores cristãos que insistem mais vigorosamente na caducidade da chamada de Israel são aqueles que estão mais preocupados com combater a pressão dos judaizantes, sendo isso verdade de Justino Mártir, Crisóstomo e Afraates.
Os concílios da Igreja primitiva estavam também preocupados com proibir as práticas judaicas. Proibiram o casamento com judeus de cada sexo, o fazer o Sábado um festival e a bênção da colheita por elas. É mais difícil determinar o que a resposta prática de judeus era para a influência da Cristandade por razões apresentadas acima. Seria difícil acreditar que havia nenhuma particularmente, já que havia concurso contínuo entre judeus e cristãos que se encontravam diariamente na praça da feira.
Os cristãos e os judeus não eram somente influenciados pelo sincretismo. A superstição das massas fazia parte duma experiência universal. A celebração da lua nova, observância do Sábado, o batismo cristão, a celebração do dia de nascimento do imperador de acordo com os ritos pagãos e a ornitomancia foram todos liquidados num mundo figurado pelo paganismo. Nas mentes embaraçadas dos fiéis, a lógica jogou parte pequena. Qualquer coisa podia ser invocada para prevenir os efeitos do mau olhar. A superstição e a magia eram fundamentais para o modo antigo de pensar.
Outra vez é saudoso especular. Tivesse a coletividade tido mais influência na teologia - pensamento impossível para o mundo antigo! - o quê poderia ter sido diferente?
Conclusão
Na minha introdução, nomeei o Concílio de Nicéia como o evento que marcou "a separação dos caminhos". Era decisão doutrinal significante para a Igreja oficialmente se separar do Judaísmo. Os imperata teológicos dados ao "separar dos caminhos" foram reforçados politicamente pelos Imperadores Cristãos de Roma e Bizâncio, que conseqüentemente legislaram para separar os judeus dos cristãos e para determinar o status subordinado dos judeus.
O Concílio de Nicéia foi convocado pelo imperador Constantino em 325 dC para assediar a disputa ariana sobre a pessoa de Cristo. O próprio imperador, embora não batizado, presidiu, e o partido ortodoxo tinha a vitória. Cristo foi declarado co-igual e co-eterno com o Pai. A heresia ariana que declarava que Cristo não era nem verdadeiro Deus nem verdadeiro homem foi derrotada. Constantino alcançara o seu fim: soldar o Império num bloco espiritual cristão por razões políticas.
Um dos primeiros atos oficiais de Constantino fora banir o proselitismo judaico como competição perigosa para a Igreja. Isso era desigualdade fragrante. Os cristãos eram livres para evangelizar, mas os judeus eram proibidos para aumentar o número dos seus membros. O contexto em que a proibição aparece é significante. Constitui a segunda parte duma lei que visava proteger os judeus que se converteram à Cristandade de represálias infligidas pelo seus correligionários.
Essa proibição de proselitismo alterou o status dos judeus que alegadamente gozavam de igualdade com pagãos e cristãos sob o Edicto de Milão, passado logo depois da vitória inicial de Constantino sobre todo o Império. O Edito proclamava direitos iguais para pagãos, judeus e cristãos, permitindo a judeus ocuparem ofícios públicos. O seu Patriarca era absolvido de obrigação militar, um privilégio também gozado por todos os líderes religiosos.
O status igual concedido aos judeus sob o Edicto de Milão foi corroído pouco a pouco até que o imperador Teodósio (379-395) fundou um estado cristão ortodoxo, banindo a prática de qualquer outra religião. No período intermediário entre Constantino e Teodósio, os direitos civis dos judeus foram mais que comprometidos.
Em 388, a população cristã botou fogo na sinagoga de Calínico, pequena cidade na Mesopotâmia. As autoridades civis informaram Teodósio, que instruiu o bispo a reconstruir a sinagoga à sua despesa própria e a punir os incendiários. São Ambrósio, bispo de Milão, ouvindo disso, fez representação a Teodósio ao longo das linhas de que queimar sinagogas era agradando a D'us, e de que o príncipe cristão não teria direito de intervir. A história é complexa e, para a abreviar, basta dizer que Teodósio estava sendo forçado a submeter-se a Ambrósio e revogar as suas instruções para a restituição da sinagoga.
Esse episódio é significante, porque exemplifica a mudança do império pluralista para o estado cristão. Teodósio começou a sua resposta à queima da sinagoga em Calínico se comportando como um imperador pagão o teria feito, ansioso de manter lei e ordem, respeitando os direitos aceitos dos judeus. Ambrósio desafiou o auto-entendimento da sua qualidade de imperador, encarregando-o a comportar-se como imperador cristão, que não deveria mostrar boa vontade aos judeus, ou até equidade simples. Isso era, segundo Ambrósio, inconsistente com Cristandade. O negócio do imperador cristão era garantir o triunfo da verdade (cristã) sobre o erro (judaico). Teodósio capitulou, e a Igreja tinha a última palavra. A separação da Igreja do Judaísmo efetivada teologicamente no Concílio de Nicéia era agora lei sob os imperadores cristãos, que tomaram os seus conselhos da Igreja. O incidente de Calínico é o símbolo da conquista do anti-semitismo eclesial. A Igreja podia manejar e é que manejou para influenciar a legislação imperial num modo danoso para os judeus.
Recomendações para leitura ulterior: veja no fim do texto inglês
A rev.dª Anne Amos é ministra da Uniting Church, Austrália.
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