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Camelo Pelo Fundo de Uma Agulha?
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30052011
Camelo Pelo Fundo de Uma Agulha?
Publicado em 30/05/2011 por Blog Sétimo Dia
S. Mateus 19:24. Muitos concluem: Os ricos não poderão entrar no reino do Céu, desde que um camelo jamais passará pelo fundo de uma agulha.
Comentários Gerais
A palavra camelo é usada seis vezes no Novo Testamento:
1. Três vezes relatando uma ilustração de Cristo. S. Mat. 19:24; S. Mar. 10:25 e S. Luc. 18:25.
2. Duas vezes com referência às vestes de João Batista. S. Mat. 3:4 e S. Mar. 1:6.
3. Uma crítica de Cristo aos escribas e fariseus que coavam um mosquito e engoliam um camelo. S. Mat. 23:24.
Uma leitura rápida da passagem tem levado muitos à seguinte conclusão: Os ricos nunca poderão entrar no reino dos Céus, desde que um camelo jamais passará pelo fundo de uma agulha.
Vejamos primeiro o estudo do contexto porque ele nos ajudará na boa compreensão do texto.
Um moço rico aproximou-se de Cristo dirigindo-Lhe a pergunta: “Mestre, que farei de bom, para alcançar a vida eterna?” S. Mat. 19:16.
Jesus o informa da necessidade de guardar os mandamentos. A resposta do jovem foi incontinente: “Tudo isso tenho observado; que me falta ainda?”
Preso aos bens materiais, a sua maneira de guardar os mandamentos, não se coadunava com as diretrizes divinas. Diante desta realidade foi que Cristo lhe expôs a necessidade de guardar os mandamentos não de maneira fria, ritualística e farisaica, mas sim de modo consentâneo com o desprendimento celeste.
O jovem rico, embora houvesse guardado os mandamentos literalmente, a sua atitude egoísta não se harmonizava com o que Deus espera de nós, guardara na letra, mas não no espírito, por isso de maneira franca e sincera Cristo lhe apresentou o que lhe faltava – desprender-se completamente das posses terrestres. O pedido do Mestre lhe pareceu exigente demais para ser cumprido, portanto o diálogo foi encerrado.
Cristo espera que Seus filhos não vejam as possessões com o única objetivo de trazer-lhes comodidade e conforto, mas como um privilégio outorgado por Deus para converter-se numa bênção aos mais carentes.
Os judeus tinham noções erradas sobre os ricos e os pobres, Inclinavam-se a pensar que a prosperidade era a prova máxima do favor divino e um símbolo das bênçãos de Deus; iam mesmo além em suas conjeturas, pois criam que era mais fácil a salvação para os ricos do que para os pobres. Cristo teve que desarraigar estas conclusões erradas, por isso O vemos antes deste incidente com o moço citar a parábola do Rico e Lázaro, onde o rico vai para a perdição e o pobre para a salvação. Longe de nós a conclusão simplista de que os ricos vão se perder, e de outro lado os pobres se salvarão. O ensinamento bíblico de acordo com esta passagem é este: É mais difícil para um rico ser salvo do que para um pobre. As riquezas podem ser perigosas para aqueles que as possuem.
O Comentário Adventista tem para o verso 23 a seguinte observação:
“É difícil para um homem rico obter o reino dos Céus, não porque ele é rico mas por causa da sua atitude para com as riquezas.”
O contexto de S. Mateus 19:24 não apresenta a impossibilidade da salvação para os ricos, mas apenas as maiores dificuldades que eles terão de vencer, basta ler os versos 23 e 26.
Os três maiores perigos das riquezas, de acordo com William Barclay, ao comentar S. Mateus 19:24 são estes:
1º) As posses numerosas fomentam uma falsa independência.
Quem tem bens materiais é inclinado a pensar que pode vencer qualquer situação inesperada. O dinheiro leva a pessoa a pensar que pode comprar o caminho da felicidade, bem como aquele que o livrará da dor. Pensa ainda que pode afastar todas as dificuldades sem Deus.
2º) As riquezas prendem as pessoas a este mundo.
“Porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” S. Mat. 6:21.
Se tudo o que o homem deseja pertence a este mundo, se todos os seus interesses estão centralizados aqui, nunca pensa em ir ao mundo do além. Apegado demasiadamente à Terra é possível esquecer que há um Céu.
3º) As riquezas tendem a fazer a pessoa egoísta.
Por mais que possua é natural ao homem desejar um pouco mais. O suficiente é sempre um pouco mais do que se tem. A pessoa que chegou a desfrutar do luxo e da comodidade sempre tende a temer viver sem eles. A vida se converte em uma luta cansativa para reter o que se possui. O resultado é que quando o homem enriquece, em lugar de sentir o impulso de dar, só experimenta o desejo de prender-se às coisas. O seu instinto o leva a possuir mais e mais, em busca da segurança, que crê, as coisas lhe possam dar.
O perigo das riquezas é que estas levam o homem a esquecer que perde o que retém e ganha aquilo que dá aos outros.
Três Interpretações Para S. Mat. 19: 24
1ª) Houve uma substituição da palavra grega – kámilos – corda, para kámelos – o animal. O fundo da agulha considerar-se-ia literalmente.
2ª) A palavra camelo deve ser considerada literalmente, mas o fundo da agulha era uma pequena porta ao lado da porta principal de Jerusalém, pela qual um camelo passaria, após tirar-lhe a carga e, mesmo assim ajoelhado e aos empurrões.
3ª) Tanto o camelo quanto o fundo da agulha são considerados literalmente.
1ª) A Substituição por uma Palavra Semelhante:
Júlio Nogueira em seu livro A Linguagem Usual e a Composição pág. 350, sem citar nenhuma fonte, nem autoridade declara: “Tem-se visto em S. Mateus 19:24 um engano de tradução do texto grego, feita por S. Jerônimo: Em vez de kámilos, corda grossa, cabo, ele tomou a palavra kámelos, camelo.”
O que aconteceu foi o inverso, pois Robertson, na pág. 192, da sua memorável gramática afirma: “Alguns poucas manuscritos cursivos substituem kámelos por kámilos, mas isto é evidentemente um erro, um mero esforço para solucionar uma dificuldade do texto.”
R. C. H. Lenski, na obra The Interpretation of St. Mathew’s Gospel, pág. 755, confirma:
“Antes do quinto século kámelos não foi mudado para kámilos.”
O renomado comentarista Henry Alford na obra An Exegetical and Critical Commentary, vol. l, pág. 197 acrescenta:
“Nenhuma alteração para kámilos é necessária ou admissível. Esta palavra, com o significado de corda ou cabo, parece ter sido inventada para escapar da dificuldade encontrada aqui.”
O Dicionário Enciclopédico da Bíblia da Editora Vozes de Petrópolis corrobora as declarações anteriores:
“Sem muito fundamento autores mais recentes quiseram ler kámilos, corda grossa, em vez de kámelos, alegando que no Talmud se encontram expressões análogas e que no tempo bizantino essas duas palavras pronunciavam-se da mesma maneira.
A Crítica Textual nos esclarece que algum copista, séculos depois de Cristo fez a substituição para kámilos. Este fato apareceu em apenas alguns manuscritos cursivos, isto é, minúsculos.
A prova de que Cristo usou a palavra camelo, nós a temos no fato de que assim aparece nos primitivos manuscritos e nas primeiras traduções da Bíblia, como a Menfítica, Latina e Peshita.
2ª) A Explicação da Porta Estreita Chamada Fundo de Agulha
Aquino apresenta um comentário sobre Anselmo, observe a data (1033-1109 AD) declarando que este autor afirma que em Jerusalém havia certa porta, chamada “fundo de agulha” pela qual um camelo só passava se entrasse de joelhos, depois de lhe ser retirada toda a carga.
Existem muitas outras vagas citações, mais ou menos idênticas à seguinte:
Lorde Nugent, ouviu falar, faz muitos anos em Hebrom de uma entrada estreita para os que passavam a pé, ao lado da porta grande e que se denominava “o fundo de uma agulha”.
Talvez um dos livros que mais contribuiu, para que esta idéia se generalizasse foi Memórias de um Repórter dos Tempos de Cristo do Padre Carlos M. de Heredia, onde ele faz menção a esta porta estreita chamada “fundo de uma agulha”. Devemos notar bem que o próprio autor nos adverte no Prólogo, que sua obra é uma novela.
O comentarista Lenski, no mesmo livro e página já citados, prossegue:
“No século quinze foi tentado o oposto, o fundo de agulha foi aumentado pela referência a um pequeno portal, que era usado por viajores a pé ao entrarem em uma cidade murada, pelo qual um camelo poderia passar ajoelhado, depois de removida a sua carga. Isto mudou o impossível para o possível e tornou-se atrativo porque sugeria que, como o camelo tinha de deixar sua carga e arrastar-se sobre seus joelhos assim o homem rico teria que desprender-se de suas riquezas ou de seu amor por elas e humilhar-se sobre seus joelhos. Mas como em S. Mateus 23: 24 Jesus tinha em mente um mosquito e um camelo reais, assim aqui camelo e fundo de agulha são reais.”
O livro Jóias do Novo Testamento Grego, de Kenneth S. Wuest, pág. 25 diz:
“Alguns têm imaginado que o buraco da agulha referido fosse uma portinhola, no muro de Jerusalém, através do qual pudesse finalmente passar um camelo, depois de muitos puxões e empurrões.
“O grego de S. Mateus 19:24 e de S. Marcos 10:25 fala de uma agulha usada com linha, enquanto que o de S. Lucas 18:25 usa o termo médico que indica uma agulha usada nas operações cirúrgicas. É evidente que ali não é considerada nenhuma portinhola, mas sim, o pequeno orifício de uma agulha de costura.”
A palavra grega usada por Mateus (19:24) é “rhafis” = agulha de costura; enquanto Lucas por ser médico empregou “belone” = agulha cirúrgica.
Note bem a afirmação seguinte, encontrada na obra: A New Testament Commentary, G. C. Howley. Consulting Editors F. F. Bruce e H. L. Ellison:
“A interpretação popular em certos círculos de que o fundo de uma agulha é uma pequena porta dentro do portão de uma cidade é sem fundamento.”
Dentre os mais considerados estudiosos do Novo Testamento Grego se acha Vincent; este autor após comentar o verso 24 de S. Mateus 19, sintetiza enfaticamente:
“A alusão não deve ser explicada como se referindo a uma porta estreita chamada o fundo de uma agulha.”
Segundo o comentarista Broadus, esta explicação nada mais é do que uma conjetura sugerida da seguinte observação alegórica de Jerônimo:
“Assim como os camelos de Midiã e Efá (Isa. 60:6), vindos com dádivas, torcidos e apertados entravam pelas portas de Jerusalém, assim os ricos podem entrar pela porta estreita despojando-se de sua carga de pecados e de toda a deformidade corporal.”
O preeminente estudioso F. F. Bruce, conceituado entre nós por suas notáveis obras, no livro Answers to Questions, págs. 55 e 56, respondeu da seguinte maneira à um de seus inquiridores. Eis a pergunta e a resposta dada:
“Tem-se afirmado recentemente que a passagem que menciona um camelo passando pelo fundo de uma agulha (S. Mar. 10:25) tem sido mal traduzido devido a uma confusão entre as palavras gregas kámelos (‘camelo’) e kámilos (‘corda’), e que nosso Senhor realmente falou de uma corda passando pelo fundo de uma agulha. É isto assim?
“Em S. Marcos 10:25 a evidência textual parece ser unânime em favor de kámelos (‘camelo’). No tocante às duas analogias sinóticas, um punhado de minúsculos e a Versão Armênia atestam kámilos (‘corda’) em S. Mat. 19:24, bem como o fazem um mais recente uncial e uns poucos minúsculos em S. Luc. 18:25. Em todos os três lugares a evidência é esmagadora em favor de ‘camelo’, e isto é reconhecido pela maioria das traduções. Eu penso que no momento a única versão inglesa que dá a tradução de ‘corda’ é The Book of Books, publicada em 1938. Os poucas escribas ou editoras que substituíram ‘camelo’ por ‘corda’ podem ter sido inconscientemente influenciados pelo desejo de fazer a entrada de um rico no reino de Deus levemente menos difícil do que nosso Senhor disse que era.
“O mesmo pode ser dito da idéia de que Suas palavras se referem a uma pequena passagem subterrânea em um grande portão, através da qual um camelo poderia comprimir-se quando as entradas principais estivessem fechadas, por cujo motivo sua carga deveria ser primeiramente removida. Nosso Senhor Se referia aos embaraços na impossibilidade da entrada de um rico no reino. Se víssemos um camelo entrando pelo fundo de uma agulha, diríamos ser isto um milagre; e é igualmente um milagre um homem rico ser salvo. Esta não é minha interpretação, é a clara afirmação de nosso Senhor: ‘Para os homens é impossível, mas não para Deus; porque para Deus todas as coisas são possíveis’ (S. Mar. 10:27). Uma observação adicional: em comparação com as condições da Palestina nos dias de nossa Senhor, muitos de nós que gozamos os padrões do viver comum através de nossa ‘opulenta saciedade’ ocidental, hoje seríamos classificados como ‘ricos’.”
3ª) A Única Explicação Defensável:
“Tanto o camelo, como o fundo da agulha devem ser compreendidos literalmente. . . não é necessário sugerir que camelo poderia significar uma carda, ou que o fundo de agulha era um nome, às vezes, dado a um pequeno portão lateral para passageiros a pé. Nenhum expositor antigo adota este método de explanação, mas toma o fundo de agulha em sentido literal, como podemos crer que Cristo fez.”
Estas declarações foram feitas por Alfred Plummer na obra An Exegetical Commentary on the Gospel of Mathew, pág. 269.
Outro comentarista apreciado, especialmente por suas idéias conservadoras, é William Hendriksen. Em New Testament Commentary (Mathew), págs. 727 e 728, ele nos afirma:
“Para explicar o que Jesus quer dizer é inútil e injustificado tentar mudar camelo para cabo – veja S. Mat. 23:24, onde um camelo real deve ter sido empregado – ou definir o fundo de agulha como o portão estreito no muro de uma cidade, através do qual um camelo pode passar apenas de joelhos e depois de ter sido removida sua carga.”
Os comentaristas nos informam que Jesus Se valeu de uma ilustração, que já existia em forma de provérbio no seu tempo, como prova o Talmud. Em Babilônia, nesta mesma época, havia uma frase idêntica, apenas com a seguinte variante: “É mais fácil um elefante passar pelo fundo de uma agulha.”
Os exemplos poderiam ser multiplicados, como os do The Interpreter’s Bible, The Anchor Bible e muitos outros, porque nesta mesma tecla insistem os exegetas e comentaristas, mas para término de nossas considerações, apenas mais um relato: o do Comentário Adventista sobre S. Mateus 19:24.
Fundo de Uma Agulha
“A explicação que o fundo de uma agulha, se refere a uma porta menor aberta no painel de uma grande porta da cidade pela qual os homens podiam passar quando a grande porta estava fechada para o tráfego principal, originou-se nos séculos depois dos dias de Cristo. Não há portanto nenhum fundamento para tal explicação, embora ela possa parecer plausível, Jesus está tratando com impossibilidades (v. 26) e não há nenhum apoio para se defender uma explicação pela qual se possa traduzir como possível o que Jesus especificamente salientou como impossível.”
Será que há necessidade de aduzir mais exemplos comprobatórios, para a eliminação completa de explicações não alicerçadas em bases seguras?
Conclusão
Das três explicações existentes apenas uma é defensável para os teólogos adventistas, bem como para todos os eruditos das demais organizações religiosas.
Cristo estava usado uma hipérbole, figura que se caracteriza pelo exagero, com o objetivo de despertar a atenção dos ouvintes, para melhor fixar o fato na memória.
A informação de uma porta estreita se espalhou pelo mundo por influência de suposições e de relatos não fidedignos.
Jamais devemos usar explicações populares vulgarizadas, porque não são sancionadas pelos grandes estudiosas da Bíblia.
O seguinte princípio exegético não deve ser esquecido por nós.
O pregador deve ser bastante cuidadoso para não tirar do texto o que seu autor nunca tencionou dizer.
O contexto nos mostra que os impossíveis para os homens, tornam-se possíveis para Deus.
Extraído da Apostila Explicação de Textos Difíceis da Bíblia de Pedro Apolinário.
S. Mateus 19:24. Muitos concluem: Os ricos não poderão entrar no reino do Céu, desde que um camelo jamais passará pelo fundo de uma agulha.
Comentários Gerais
A palavra camelo é usada seis vezes no Novo Testamento:
1. Três vezes relatando uma ilustração de Cristo. S. Mat. 19:24; S. Mar. 10:25 e S. Luc. 18:25.
2. Duas vezes com referência às vestes de João Batista. S. Mat. 3:4 e S. Mar. 1:6.
3. Uma crítica de Cristo aos escribas e fariseus que coavam um mosquito e engoliam um camelo. S. Mat. 23:24.
Uma leitura rápida da passagem tem levado muitos à seguinte conclusão: Os ricos nunca poderão entrar no reino dos Céus, desde que um camelo jamais passará pelo fundo de uma agulha.
Vejamos primeiro o estudo do contexto porque ele nos ajudará na boa compreensão do texto.
Um moço rico aproximou-se de Cristo dirigindo-Lhe a pergunta: “Mestre, que farei de bom, para alcançar a vida eterna?” S. Mat. 19:16.
Jesus o informa da necessidade de guardar os mandamentos. A resposta do jovem foi incontinente: “Tudo isso tenho observado; que me falta ainda?”
Preso aos bens materiais, a sua maneira de guardar os mandamentos, não se coadunava com as diretrizes divinas. Diante desta realidade foi que Cristo lhe expôs a necessidade de guardar os mandamentos não de maneira fria, ritualística e farisaica, mas sim de modo consentâneo com o desprendimento celeste.
O jovem rico, embora houvesse guardado os mandamentos literalmente, a sua atitude egoísta não se harmonizava com o que Deus espera de nós, guardara na letra, mas não no espírito, por isso de maneira franca e sincera Cristo lhe apresentou o que lhe faltava – desprender-se completamente das posses terrestres. O pedido do Mestre lhe pareceu exigente demais para ser cumprido, portanto o diálogo foi encerrado.
Cristo espera que Seus filhos não vejam as possessões com o única objetivo de trazer-lhes comodidade e conforto, mas como um privilégio outorgado por Deus para converter-se numa bênção aos mais carentes.
Os judeus tinham noções erradas sobre os ricos e os pobres, Inclinavam-se a pensar que a prosperidade era a prova máxima do favor divino e um símbolo das bênçãos de Deus; iam mesmo além em suas conjeturas, pois criam que era mais fácil a salvação para os ricos do que para os pobres. Cristo teve que desarraigar estas conclusões erradas, por isso O vemos antes deste incidente com o moço citar a parábola do Rico e Lázaro, onde o rico vai para a perdição e o pobre para a salvação. Longe de nós a conclusão simplista de que os ricos vão se perder, e de outro lado os pobres se salvarão. O ensinamento bíblico de acordo com esta passagem é este: É mais difícil para um rico ser salvo do que para um pobre. As riquezas podem ser perigosas para aqueles que as possuem.
O Comentário Adventista tem para o verso 23 a seguinte observação:
“É difícil para um homem rico obter o reino dos Céus, não porque ele é rico mas por causa da sua atitude para com as riquezas.”
O contexto de S. Mateus 19:24 não apresenta a impossibilidade da salvação para os ricos, mas apenas as maiores dificuldades que eles terão de vencer, basta ler os versos 23 e 26.
Os três maiores perigos das riquezas, de acordo com William Barclay, ao comentar S. Mateus 19:24 são estes:
1º) As posses numerosas fomentam uma falsa independência.
Quem tem bens materiais é inclinado a pensar que pode vencer qualquer situação inesperada. O dinheiro leva a pessoa a pensar que pode comprar o caminho da felicidade, bem como aquele que o livrará da dor. Pensa ainda que pode afastar todas as dificuldades sem Deus.
2º) As riquezas prendem as pessoas a este mundo.
“Porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” S. Mat. 6:21.
Se tudo o que o homem deseja pertence a este mundo, se todos os seus interesses estão centralizados aqui, nunca pensa em ir ao mundo do além. Apegado demasiadamente à Terra é possível esquecer que há um Céu.
3º) As riquezas tendem a fazer a pessoa egoísta.
Por mais que possua é natural ao homem desejar um pouco mais. O suficiente é sempre um pouco mais do que se tem. A pessoa que chegou a desfrutar do luxo e da comodidade sempre tende a temer viver sem eles. A vida se converte em uma luta cansativa para reter o que se possui. O resultado é que quando o homem enriquece, em lugar de sentir o impulso de dar, só experimenta o desejo de prender-se às coisas. O seu instinto o leva a possuir mais e mais, em busca da segurança, que crê, as coisas lhe possam dar.
O perigo das riquezas é que estas levam o homem a esquecer que perde o que retém e ganha aquilo que dá aos outros.
Três Interpretações Para S. Mat. 19: 24
1ª) Houve uma substituição da palavra grega – kámilos – corda, para kámelos – o animal. O fundo da agulha considerar-se-ia literalmente.
2ª) A palavra camelo deve ser considerada literalmente, mas o fundo da agulha era uma pequena porta ao lado da porta principal de Jerusalém, pela qual um camelo passaria, após tirar-lhe a carga e, mesmo assim ajoelhado e aos empurrões.
3ª) Tanto o camelo quanto o fundo da agulha são considerados literalmente.
1ª) A Substituição por uma Palavra Semelhante:
Júlio Nogueira em seu livro A Linguagem Usual e a Composição pág. 350, sem citar nenhuma fonte, nem autoridade declara: “Tem-se visto em S. Mateus 19:24 um engano de tradução do texto grego, feita por S. Jerônimo: Em vez de kámilos, corda grossa, cabo, ele tomou a palavra kámelos, camelo.”
O que aconteceu foi o inverso, pois Robertson, na pág. 192, da sua memorável gramática afirma: “Alguns poucas manuscritos cursivos substituem kámelos por kámilos, mas isto é evidentemente um erro, um mero esforço para solucionar uma dificuldade do texto.”
R. C. H. Lenski, na obra The Interpretation of St. Mathew’s Gospel, pág. 755, confirma:
“Antes do quinto século kámelos não foi mudado para kámilos.”
O renomado comentarista Henry Alford na obra An Exegetical and Critical Commentary, vol. l, pág. 197 acrescenta:
“Nenhuma alteração para kámilos é necessária ou admissível. Esta palavra, com o significado de corda ou cabo, parece ter sido inventada para escapar da dificuldade encontrada aqui.”
O Dicionário Enciclopédico da Bíblia da Editora Vozes de Petrópolis corrobora as declarações anteriores:
“Sem muito fundamento autores mais recentes quiseram ler kámilos, corda grossa, em vez de kámelos, alegando que no Talmud se encontram expressões análogas e que no tempo bizantino essas duas palavras pronunciavam-se da mesma maneira.
A Crítica Textual nos esclarece que algum copista, séculos depois de Cristo fez a substituição para kámilos. Este fato apareceu em apenas alguns manuscritos cursivos, isto é, minúsculos.
A prova de que Cristo usou a palavra camelo, nós a temos no fato de que assim aparece nos primitivos manuscritos e nas primeiras traduções da Bíblia, como a Menfítica, Latina e Peshita.
2ª) A Explicação da Porta Estreita Chamada Fundo de Agulha
Aquino apresenta um comentário sobre Anselmo, observe a data (1033-1109 AD) declarando que este autor afirma que em Jerusalém havia certa porta, chamada “fundo de agulha” pela qual um camelo só passava se entrasse de joelhos, depois de lhe ser retirada toda a carga.
Existem muitas outras vagas citações, mais ou menos idênticas à seguinte:
Lorde Nugent, ouviu falar, faz muitos anos em Hebrom de uma entrada estreita para os que passavam a pé, ao lado da porta grande e que se denominava “o fundo de uma agulha”.
Talvez um dos livros que mais contribuiu, para que esta idéia se generalizasse foi Memórias de um Repórter dos Tempos de Cristo do Padre Carlos M. de Heredia, onde ele faz menção a esta porta estreita chamada “fundo de uma agulha”. Devemos notar bem que o próprio autor nos adverte no Prólogo, que sua obra é uma novela.
O comentarista Lenski, no mesmo livro e página já citados, prossegue:
“No século quinze foi tentado o oposto, o fundo de agulha foi aumentado pela referência a um pequeno portal, que era usado por viajores a pé ao entrarem em uma cidade murada, pelo qual um camelo poderia passar ajoelhado, depois de removida a sua carga. Isto mudou o impossível para o possível e tornou-se atrativo porque sugeria que, como o camelo tinha de deixar sua carga e arrastar-se sobre seus joelhos assim o homem rico teria que desprender-se de suas riquezas ou de seu amor por elas e humilhar-se sobre seus joelhos. Mas como em S. Mateus 23: 24 Jesus tinha em mente um mosquito e um camelo reais, assim aqui camelo e fundo de agulha são reais.”
O livro Jóias do Novo Testamento Grego, de Kenneth S. Wuest, pág. 25 diz:
“Alguns têm imaginado que o buraco da agulha referido fosse uma portinhola, no muro de Jerusalém, através do qual pudesse finalmente passar um camelo, depois de muitos puxões e empurrões.
“O grego de S. Mateus 19:24 e de S. Marcos 10:25 fala de uma agulha usada com linha, enquanto que o de S. Lucas 18:25 usa o termo médico que indica uma agulha usada nas operações cirúrgicas. É evidente que ali não é considerada nenhuma portinhola, mas sim, o pequeno orifício de uma agulha de costura.”
A palavra grega usada por Mateus (19:24) é “rhafis” = agulha de costura; enquanto Lucas por ser médico empregou “belone” = agulha cirúrgica.
Note bem a afirmação seguinte, encontrada na obra: A New Testament Commentary, G. C. Howley. Consulting Editors F. F. Bruce e H. L. Ellison:
“A interpretação popular em certos círculos de que o fundo de uma agulha é uma pequena porta dentro do portão de uma cidade é sem fundamento.”
Dentre os mais considerados estudiosos do Novo Testamento Grego se acha Vincent; este autor após comentar o verso 24 de S. Mateus 19, sintetiza enfaticamente:
“A alusão não deve ser explicada como se referindo a uma porta estreita chamada o fundo de uma agulha.”
Segundo o comentarista Broadus, esta explicação nada mais é do que uma conjetura sugerida da seguinte observação alegórica de Jerônimo:
“Assim como os camelos de Midiã e Efá (Isa. 60:6), vindos com dádivas, torcidos e apertados entravam pelas portas de Jerusalém, assim os ricos podem entrar pela porta estreita despojando-se de sua carga de pecados e de toda a deformidade corporal.”
O preeminente estudioso F. F. Bruce, conceituado entre nós por suas notáveis obras, no livro Answers to Questions, págs. 55 e 56, respondeu da seguinte maneira à um de seus inquiridores. Eis a pergunta e a resposta dada:
“Tem-se afirmado recentemente que a passagem que menciona um camelo passando pelo fundo de uma agulha (S. Mar. 10:25) tem sido mal traduzido devido a uma confusão entre as palavras gregas kámelos (‘camelo’) e kámilos (‘corda’), e que nosso Senhor realmente falou de uma corda passando pelo fundo de uma agulha. É isto assim?
“Em S. Marcos 10:25 a evidência textual parece ser unânime em favor de kámelos (‘camelo’). No tocante às duas analogias sinóticas, um punhado de minúsculos e a Versão Armênia atestam kámilos (‘corda’) em S. Mat. 19:24, bem como o fazem um mais recente uncial e uns poucos minúsculos em S. Luc. 18:25. Em todos os três lugares a evidência é esmagadora em favor de ‘camelo’, e isto é reconhecido pela maioria das traduções. Eu penso que no momento a única versão inglesa que dá a tradução de ‘corda’ é The Book of Books, publicada em 1938. Os poucas escribas ou editoras que substituíram ‘camelo’ por ‘corda’ podem ter sido inconscientemente influenciados pelo desejo de fazer a entrada de um rico no reino de Deus levemente menos difícil do que nosso Senhor disse que era.
“O mesmo pode ser dito da idéia de que Suas palavras se referem a uma pequena passagem subterrânea em um grande portão, através da qual um camelo poderia comprimir-se quando as entradas principais estivessem fechadas, por cujo motivo sua carga deveria ser primeiramente removida. Nosso Senhor Se referia aos embaraços na impossibilidade da entrada de um rico no reino. Se víssemos um camelo entrando pelo fundo de uma agulha, diríamos ser isto um milagre; e é igualmente um milagre um homem rico ser salvo. Esta não é minha interpretação, é a clara afirmação de nosso Senhor: ‘Para os homens é impossível, mas não para Deus; porque para Deus todas as coisas são possíveis’ (S. Mar. 10:27). Uma observação adicional: em comparação com as condições da Palestina nos dias de nossa Senhor, muitos de nós que gozamos os padrões do viver comum através de nossa ‘opulenta saciedade’ ocidental, hoje seríamos classificados como ‘ricos’.”
3ª) A Única Explicação Defensável:
“Tanto o camelo, como o fundo da agulha devem ser compreendidos literalmente. . . não é necessário sugerir que camelo poderia significar uma carda, ou que o fundo de agulha era um nome, às vezes, dado a um pequeno portão lateral para passageiros a pé. Nenhum expositor antigo adota este método de explanação, mas toma o fundo de agulha em sentido literal, como podemos crer que Cristo fez.”
Estas declarações foram feitas por Alfred Plummer na obra An Exegetical Commentary on the Gospel of Mathew, pág. 269.
Outro comentarista apreciado, especialmente por suas idéias conservadoras, é William Hendriksen. Em New Testament Commentary (Mathew), págs. 727 e 728, ele nos afirma:
“Para explicar o que Jesus quer dizer é inútil e injustificado tentar mudar camelo para cabo – veja S. Mat. 23:24, onde um camelo real deve ter sido empregado – ou definir o fundo de agulha como o portão estreito no muro de uma cidade, através do qual um camelo pode passar apenas de joelhos e depois de ter sido removida sua carga.”
Os comentaristas nos informam que Jesus Se valeu de uma ilustração, que já existia em forma de provérbio no seu tempo, como prova o Talmud. Em Babilônia, nesta mesma época, havia uma frase idêntica, apenas com a seguinte variante: “É mais fácil um elefante passar pelo fundo de uma agulha.”
Os exemplos poderiam ser multiplicados, como os do The Interpreter’s Bible, The Anchor Bible e muitos outros, porque nesta mesma tecla insistem os exegetas e comentaristas, mas para término de nossas considerações, apenas mais um relato: o do Comentário Adventista sobre S. Mateus 19:24.
Fundo de Uma Agulha
“A explicação que o fundo de uma agulha, se refere a uma porta menor aberta no painel de uma grande porta da cidade pela qual os homens podiam passar quando a grande porta estava fechada para o tráfego principal, originou-se nos séculos depois dos dias de Cristo. Não há portanto nenhum fundamento para tal explicação, embora ela possa parecer plausível, Jesus está tratando com impossibilidades (v. 26) e não há nenhum apoio para se defender uma explicação pela qual se possa traduzir como possível o que Jesus especificamente salientou como impossível.”
Será que há necessidade de aduzir mais exemplos comprobatórios, para a eliminação completa de explicações não alicerçadas em bases seguras?
Conclusão
Das três explicações existentes apenas uma é defensável para os teólogos adventistas, bem como para todos os eruditos das demais organizações religiosas.
Cristo estava usado uma hipérbole, figura que se caracteriza pelo exagero, com o objetivo de despertar a atenção dos ouvintes, para melhor fixar o fato na memória.
A informação de uma porta estreita se espalhou pelo mundo por influência de suposições e de relatos não fidedignos.
Jamais devemos usar explicações populares vulgarizadas, porque não são sancionadas pelos grandes estudiosas da Bíblia.
O seguinte princípio exegético não deve ser esquecido por nós.
O pregador deve ser bastante cuidadoso para não tirar do texto o que seu autor nunca tencionou dizer.
O contexto nos mostra que os impossíveis para os homens, tornam-se possíveis para Deus.
Extraído da Apostila Explicação de Textos Difíceis da Bíblia de Pedro Apolinário.
Eduardo- Mensagens : 5997
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Inscrição : 08/05/2010
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