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Como os tradutores adventistas ajudam no avanço da missão da igreja
Compreendendo a Palavra
Como os tradutores adventistas ajudam no avanço da missão da igreja
Por Marcos Paseggi
Aprimeira frase não parecia ser um grande desafio. “Jesus is the greatest magnet”, dizia em inglês. Eu sabia as palavras e sabia muito bem como dizê-las em espanhol e escrevi em meu laptop: Jesús es el más grande imán (Jesus é o maior ímã). De repente, deu um estalo em minha mente. Em espanhol, imán tanto é magnético como ímã, que também pode ser o diretor dos rituais muçulmanos de oração. Como eu respeito essa profissão religiosa, em particular, e os muçulmanos em geral, compreendi imediatamente que tal frase, como traduzira, não teria o sentido proposto pelo contexto. Humilhado em minhas habilidades de tradutor, apenas marquei a frase e continuei, esperando que mais tarde surgisse uma alternativa aceitável.
Embora não sejam notados, os tradutores adventistas do sétimo dia realizam uma tarefa vital para o cumprimento da Grande Comissão, a qual consiste em levar a mensagem a “cada nação, e tribo, e língua, e povo” (Ap 14:6). Embora alguns sejam profissionais, muitos são voluntários, que, como trabalho paralelo, ou mesmo gratuitamente, têm a mesma paixão de levar a mensagem em idiomas que podem ser compreendidos por um público-alvo. À medida que a Igreja Adventista avança no século XXI, é muito difícil saber quantos homens e mulheres (fora os que são contratados pelas casas publicadoras da igreja) atualmente trabalham nos projetos de tradução para a igreja com contratos mais ou menos formais. Os tradutores, entretanto, têm acompanhado as publicadoras adventistas desde o começo da igreja.
Primeiros Tradutores Adventistas
Os fundadores da igreja compreenderam rapidamente a importância dos tradutores para o avanço do evangelho. Nos anos 1870, Tiago White, que acreditava na obra de levar o evangelho a terras distantes, usou alguns dos tradutores que já trabalhavam na Review and Herald para lecionar línguas estrangeiras no Colégio Battle Creek, na esperança de formar mais jovens autores. É claro que, como a maioria dos monolíngues, White subestimou o tempo e o esforço necessários para dominar uma segunda língua, e as aulas não foram muito adiante.1 A essa altura, Ellen White já havia escrito, apoiando a formação de jovens no ofício da tradução, embora como o marido, ela parecesse não compreender plenamente quão difícil era para os nativos de língua inglesa reproduzir os materiais da igreja em outras línguas, com qualidade para ser publicado.2
Houve grande avanço em 1874, quando John Andrews foi para a Suíça como o primeiro missionário oficial da igreja. Andrews, que conhecia o hebraico, grego e latim, dedicou-se a aprender francês e alemão. Estudou incansavelmente a gramática francesa de modo a habilitá-lo a avaliar quando um artigo para o Les Signes dês Temps (edição francesa da Sinais dos Tempos) estava pronto para ser publicado. Traduziu também artigos do inglês para o francês, embora, normalmente, utilizasse como revisores pessoas cujo francês era a língua nativa.3
Ao longo dos anos, Ellen White compreendeu melhor o trabalho dos tradutores. Ela definiu duas características como essenciais para os tradutores da igreja: eles deveriam ser “educados” e ter “o temor de Deus”.4 Admitiu ainda que, para traduzir em nível de publicação, os tradutores cuja língua nativa não fosse o inglês deveriam aprender a editar em seu próprio idioma para só então traduzir os seus escritos do inglês para a língua nativa.5 O que ela disse, então, ainda é considerado como a melhor prática no ofício de tradução.
.
Sem dúvida, a experiência de Ellen White no período que passou na Europa foi transformadora. Quando chegou a Basel, descobriu que havia grande interesse na tradução do O Grande Conflito para o francês e o alemão. Houve duas tentativas de tradução para o francês e três diferentes versões em alemão, trabalho realizado por colaboradores bem-intencionados, embora, nas palavras de Willie White, “fosse difícil encontrar mais de duas pessoas que elogiassem qualquer uma delas.”6 Os dois problemas básicos resultavam das ilustrações de Ellen White, as quais, “em alguns casos, eram malcompreendidas pelos tradutores e, ... quando compreendidas, os tradutores não conheciam o suficiente da fraseologia religiosa de sua própria língua para fazer uma tradução correta.”7 Como resolveram esse problema? Bem, Ellen White, os tradutores, editores e revisores começaram a se reunir, todos os dias, para discutir cada capítulo e, assim, terem certeza de que o resultado final eram as palavras da Sra. White. Desse modo, “os tradutores conseguiam captar o espírito da obra e traduziam melhor”.8 Tanto quanto sabemos, essa foi a primeira equipe de tradutores adventistas do sétimo dia.9
Atualmente, graças à Internet, os tradutores não precisam trabalhar em um mesmo local. Na verdade, podem trabalhar em qualquer lugar, em qualquer horário e facilmente discutir as ideias como uma equipe, como faziam em Basel, há tanto tempo. Agora usam o espaço cibernético como escritório. Contudo, os desafios de trabalhar com a linguagem ainda continuam os mesmos.
Tudo em um Dia de Trabalho
Frequentemente, os tradutores têm que lidar com assuntos que não são facilmente compreendidos pelos outros. É comum a idéia de que qualquer pessoa que possua um conhecimento satisfatório de duas línguas pode ser um tradutor. Esse, porém, não é o caso.
Em primeiro lugar, cada idioma é um mundo em si mesmo, com suas próprias regras gramaticais, sistema de pontuação específico, frase e redação. Na maioria dos casos, a tradução literal de uma frase pode não corresponder, em significado, na língua para a qual se traduz.
A tradução implica procurar uma “equivalência dinâmica”, na qual o sentido original tanto é mantido como “recriado” numa nova frase para que, de algum modo, comunique a ideia original do autor. Isso implica mudança na ordem das palavras, sentenças ou estrutura do parágrafo, ou até deixar de lado a primeira e a segunda opção e começar a escrever do zero. É necessário dominar a língua para a qual se traduz para “processar” o uso de expressões idiomáticas, figuras de linguagem e metáforas.
Finalmente, em todos os idiomas há alguns termos “não traduzíveis” e referências culturais que, de algum modo, devem ser explanadas ou “interpretadas” para que sejam completamente compreendidas pelo público-alvo. Como diz Lars Hoem, tradutor do inglês para o norueguês para a Casa Publicadora Adventista Norueguesa: “Se qualquer americano ler ‘vestir-se como Don King’, é muito provável que ele ou ela saiba que você está se referindo ao famoso empresário de boxe, que se veste extravagantemente; mas, para o norueguês comum, isso simplesmente não faz sentido. Por outro lado, para os leitores noruegueses, o termo ‘Kollenbrølet’ é imediatamente reconhecido como o grito do público [que é] ouvido quando o primeiro esquiador aparece poucas centenas de metros antes da linha de chegada. Isso pode ser um pouco mais incompreensível para leitores de outra cultura.”.10
Quando se trabalha com conceitos bíblicos, o desafio é semelhante. Hoem tem mais um exemplo: “Como você explicaria o conceito de ‘Cordeiro de Deus’ a um esquimó que nunca viu um cordeiro na vida? Qual é o melhor conceito para descrever ‘inocência’ a um esquimó? Quem sabe um ‘bebê foca’?
Apesar de todas essas barreiras culturais e linguísticas, para os adventistas interessados em linguagem e comunicação escrita, dificilmente haverá melhor atividade para aplicar suas aptidões do que a arte e o ofício da tradução; e mais, fazê-lo com a convicção de que esse trabalho está ajudando a levar avante a missão da igreja, não apenas compartilhando o evangelho, mas fortalecendo os crentes, antigos e novos. Monique Lemay, tradutora adventista do inglês para o francês, que mora em Quebec, Canadá, diz: “O de que gosto na tradução é o rigor, precisão e preocupação com detalhes que fazem toda a diferença no produto final. Não é necessário dizer que recebo bênçãos espirituais maravilhosas ao traduzir para a igreja.… Creio que traduzir livros e revistas para os crentes que falam francês, é, de fato, uma missão.”11
Traduzindo a Palavra
De João Wycliffe a Martinho Lutero (e também a João Ferreira de Almeida), os estudiosos da Bíblia, com o conhecimento de línguas, têm procurado levar as Escrituras mais perto dos ouvidos e do coração das pessoas comuns, traduzindo-as para seu idioma nativo.
Nos últimos anos, estudiosos adventistas da Bíblia também têm contribuído para novas versões das Escrituras, que visam a levar a mensagem da Palavra de Deus a uma nova geração. Desafios como esse não apenas envolvem grande competência nas línguas originais da Bíblia, mas também a habilidade de ser preciso, mas criativo, e estar disposto a trabalhar em grupo com estudiosos de várias formações religiosas durante um extenso período de tempo.
Um desses estudiosos é Victor Armenteros, linguista adventista e estudioso da Espanha, que trabalhou por vários anos como membro do comitê editorial que recentemente publicou a Biblia Traducción Interconfesional , versão contemporânea intereclesiástica da Bíblia, em espanhol. Relembrando a experiência que ele descreve como “incrível”, Armenteros afirma: “No início, fiquei um pouco apreensivo de contribuir com uma atividade que parecia, de certa forma, ecumênica. Então compreendi que ‘interdenominacional’ não significa ecumênica, mas a possibilidade de trabalhar e partilhar com outros, desenterrando e dando significado contemporâneo aos tesouros ocultos revelados na Palavra de Deus.” E conclui: “Aprendi que em qualquer formato, a Palavra de Deus é viva, e agradeço a Ele por isso.”12
Outro jovem adventista erudito que trabalhou nas traduções da Bíblia é Laurentiu Ionescu, da Romênia, que participou da equipe que trabalhou na tradução contemporânea interdenominacional no Novo Testamento no idioma romeno. Embora concorde que as diferenças doutrinárias, por vezes, tomavam “horas de discussão sobre uma única palavra ou preposição”, também admite que foi uma experiência transformadora, proporcionando-lhe agradáveis surpresas. Quando discutiam sobre que palavra usar para o descanso sabático, por exemplo (pois em muitos idiomas, como o romeno, há duas opções: uma para o dia de descanso geral e outra específico para o sétimo dia da semana), Ionescu ficou surpreso quando os tradutores católicos, entre outros, o apoiaram na escolha do termo romeno que melhor descreve o sétimo dia da semana.13
Tradução na Assembleia da AG em Atlanta
Odette Ferreira será um calmo farol na corrida frenética para ajudar as pessoas a se compreenderem durante a próxima Assembleia da Associação Geral, em Atlanta. Trabalhando para o Departamento de Educação da Divisão Norte-Americana, ela foi encarregada (pela segunda vez) de organizar os bastidores da maior empreitada para traduzir todas as reuniões em 15 idiomas diferentes: espanhol, francês, português, alemão, russo, romeno, tcheco, japonês, coreano, servo-croata, italiano, búlgaro, húngaro, indonésio e linguagem americana de sinais. A estimativa é de que duzentos tradutores voluntários cobrirão diariamente os eventos, nove horas de reuniões, por dez dias. Devido à natureza extenuante da tradução simultânea, cada voluntário traduzirá apenas pequenos blocos e fará parte de um rodízio constante.
A tecnologia sem fio utilizada para a tradução será fornecida pela Rádio Mundial Adventista, com frequências de rádio e pequenos transistores de rádio (e fone de ouvidos). Pela primeira vez, haverá tradutores disponíveis no plenário para que os delegados que não têm suficiente conhecimento do inglês possam dar alguma contribuição à discussão, se o desejarem. A maioria dos tradutores pagará suas despesas de viagem e acomodação em Atlanta. Esse é um exército de voluntários, prontos para doar desinteressadamente seu tempo, talentos e recursos. A igreja mundial agradece.Para Onde Estamos Indo?
Em todo o mundo, os tradutores que trabalham fora da igreja estão atingindo níveis de profissionalismo cada vez mais altos. Na Igreja Adventista do Sétimo Dia, porém, os tradutores ainda são mais artesãos do que profissionais. Muitos começaram a trabalhar na área por um conjunto de circunstâncias incomuns e, geralmente, são profissionais independentes que, nem sempre, têm o apoio de uma equipe de edição e revisão, que garanta a qualidade do trabalho. Svitlana Krushenytska, tradutor adventista que mora na Ucrânia, parece resumir o sentimento geral quando afirma: “Gostaria que nosso trabalho fosse mais valorizado.”14
Muitas vezes, tradutores adventistas mal pagos lutam contra a ignorância sobre seu trabalho, tanto de chefes como de colegas, e o descaso de algumas instituições da igreja. Às vezes, há eventos da igreja com cinco diferentes orçamentos que não incluem os custos de tradução. Assim, mais uma vez, os organizadores são obrigados a recorrer a voluntários que, muitas vezes, não têm conhecimento e competência para tal tarefa, enquanto os tradutores têm de trabalhar muitas horas para honrar seus compromissos financeiros. Ellen White compreendeu plenamente esse problema quando, ao defender o equilíbrio no trabalho dos tradutores, escreveu: “Nosso trabalho é muito mais importante do que muitos supõem e requer muito mais consideração. Os tradutores devem ter menos horas dedicadas ao trabalho intelectual concentrado, a fim não cansar excessivamente o cérebro, prejudicando a concentração, que resulta num trabalho imperfeito.”15
As coisas, porém, estão mudando. Os tradutores adventistas do sétimo dia estão cada vez mais conscientes de que, mesmo em um trabalho solitário, como o de tradução, é necessário o apoio de uma equipe. Os líderes da igreja também estão aprendendo que a missão dada por Deus à igreja requer a compreensão de que, para cumpri-la, um dos melhores investimentos, talvez, seja apoiar cada vez mais aqueles que tornam possível a comunicação do evangelho.
Finalmente, não me lembro de qual solução dei ao problema da tradução da frase “Jesus−magnético−ímã”. Talvez deva ter decidido por algo equivalente em espanhol a “Jesus é o maior atrativo do mundo”, ou algo que o valha. O que sei, entretanto, é que tal frase merece e deve ser compreendida por todo ser humano da Terra. Porque, não importa a linguagem, Jesus é, de fato, o maior atrativo neste mundo. E se a missão da igreja é levar essa mensagem a cada tribo e nação, talvez não haja melhor maneira de realizá-la do que recorrer a tradutores profundamente comprometidos em contar a história de Jesus àqueles que a reproduzirão, em suas línguas nativas, para os quatro cantos da Terra.
1Emmett K. VandeVere, The Wisdom Seekers (Nashville, Tenn.: Southern Publishing Association, 1972), p. 31, 32; citado em Floyd Greenleaf, In Passion for the World: A History of Seventh-day Adventist Education (Nampa, Idaho: Pacific Press, 2005), p. 105, 106.
2Veja, por exemplo, seus comentários para moças em Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 204.
3Para uma descrição completa desse assunto, veja Pietro Copiz, “The Linguist” in J. N. Andrews: The Man and the Mission, ed. Harry Leonard (Berrien Springs, Mich.: Andrews University Press, 1985), p. 164-184.
4Ver Ellen G. White, Carta 140 (1907), p. 2, em Manuscript Releases, v. 8, p. 103.
5Australasian Union Conference Record, 28 de julho de 1899. Ideia similar foi expressa em Testemunhos Para a Igreja, v. 7, p. 169.
6Ellen G. White, Testemunhos Seletos, v. 3, p. 464. Essa seção está no apêndix C e representa uma carta escrita em 1934 por Wllie C. White, em resposta a perguntas levantadas por L. E. Froom.
7Ibid.
8Arquivo de cartas de William C. White v. 2, p. 245, citado em Arthur White, Ellen G. White, v. 3, “The Lonely Years (1876-1891)”, p. 436.
9Para descrição de toda a história, veja p. 436-438.
10Comunicação pessoal.
11Comunicação pessoal.
12Comunicação pessoal.
13Comunicação pessoal.
14Comunicação pessoal.
15Ellen G. White, Manuscript Releases, v. 8, p. 328.
Marcos Paseggi é tradutor oficial do inglês para o espanhol. Mora em Ottawa, Ontário, Canadá, e se dedica a projetos freelance para várias instituições e organizações adventistas. É um dos principais tradutores da edição em espanhol da Adventist World.
Como os tradutores adventistas ajudam no avanço da missão da igreja
Por Marcos Paseggi
Aprimeira frase não parecia ser um grande desafio. “Jesus is the greatest magnet”, dizia em inglês. Eu sabia as palavras e sabia muito bem como dizê-las em espanhol e escrevi em meu laptop: Jesús es el más grande imán (Jesus é o maior ímã). De repente, deu um estalo em minha mente. Em espanhol, imán tanto é magnético como ímã, que também pode ser o diretor dos rituais muçulmanos de oração. Como eu respeito essa profissão religiosa, em particular, e os muçulmanos em geral, compreendi imediatamente que tal frase, como traduzira, não teria o sentido proposto pelo contexto. Humilhado em minhas habilidades de tradutor, apenas marquei a frase e continuei, esperando que mais tarde surgisse uma alternativa aceitável.
Embora não sejam notados, os tradutores adventistas do sétimo dia realizam uma tarefa vital para o cumprimento da Grande Comissão, a qual consiste em levar a mensagem a “cada nação, e tribo, e língua, e povo” (Ap 14:6). Embora alguns sejam profissionais, muitos são voluntários, que, como trabalho paralelo, ou mesmo gratuitamente, têm a mesma paixão de levar a mensagem em idiomas que podem ser compreendidos por um público-alvo. À medida que a Igreja Adventista avança no século XXI, é muito difícil saber quantos homens e mulheres (fora os que são contratados pelas casas publicadoras da igreja) atualmente trabalham nos projetos de tradução para a igreja com contratos mais ou menos formais. Os tradutores, entretanto, têm acompanhado as publicadoras adventistas desde o começo da igreja.
Primeiros Tradutores Adventistas
Os fundadores da igreja compreenderam rapidamente a importância dos tradutores para o avanço do evangelho. Nos anos 1870, Tiago White, que acreditava na obra de levar o evangelho a terras distantes, usou alguns dos tradutores que já trabalhavam na Review and Herald para lecionar línguas estrangeiras no Colégio Battle Creek, na esperança de formar mais jovens autores. É claro que, como a maioria dos monolíngues, White subestimou o tempo e o esforço necessários para dominar uma segunda língua, e as aulas não foram muito adiante.1 A essa altura, Ellen White já havia escrito, apoiando a formação de jovens no ofício da tradução, embora como o marido, ela parecesse não compreender plenamente quão difícil era para os nativos de língua inglesa reproduzir os materiais da igreja em outras línguas, com qualidade para ser publicado.2
Houve grande avanço em 1874, quando John Andrews foi para a Suíça como o primeiro missionário oficial da igreja. Andrews, que conhecia o hebraico, grego e latim, dedicou-se a aprender francês e alemão. Estudou incansavelmente a gramática francesa de modo a habilitá-lo a avaliar quando um artigo para o Les Signes dês Temps (edição francesa da Sinais dos Tempos) estava pronto para ser publicado. Traduziu também artigos do inglês para o francês, embora, normalmente, utilizasse como revisores pessoas cujo francês era a língua nativa.3
Ao longo dos anos, Ellen White compreendeu melhor o trabalho dos tradutores. Ela definiu duas características como essenciais para os tradutores da igreja: eles deveriam ser “educados” e ter “o temor de Deus”.4 Admitiu ainda que, para traduzir em nível de publicação, os tradutores cuja língua nativa não fosse o inglês deveriam aprender a editar em seu próprio idioma para só então traduzir os seus escritos do inglês para a língua nativa.5 O que ela disse, então, ainda é considerado como a melhor prática no ofício de tradução.
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Sem dúvida, a experiência de Ellen White no período que passou na Europa foi transformadora. Quando chegou a Basel, descobriu que havia grande interesse na tradução do O Grande Conflito para o francês e o alemão. Houve duas tentativas de tradução para o francês e três diferentes versões em alemão, trabalho realizado por colaboradores bem-intencionados, embora, nas palavras de Willie White, “fosse difícil encontrar mais de duas pessoas que elogiassem qualquer uma delas.”6 Os dois problemas básicos resultavam das ilustrações de Ellen White, as quais, “em alguns casos, eram malcompreendidas pelos tradutores e, ... quando compreendidas, os tradutores não conheciam o suficiente da fraseologia religiosa de sua própria língua para fazer uma tradução correta.”7 Como resolveram esse problema? Bem, Ellen White, os tradutores, editores e revisores começaram a se reunir, todos os dias, para discutir cada capítulo e, assim, terem certeza de que o resultado final eram as palavras da Sra. White. Desse modo, “os tradutores conseguiam captar o espírito da obra e traduziam melhor”.8 Tanto quanto sabemos, essa foi a primeira equipe de tradutores adventistas do sétimo dia.9
Atualmente, graças à Internet, os tradutores não precisam trabalhar em um mesmo local. Na verdade, podem trabalhar em qualquer lugar, em qualquer horário e facilmente discutir as ideias como uma equipe, como faziam em Basel, há tanto tempo. Agora usam o espaço cibernético como escritório. Contudo, os desafios de trabalhar com a linguagem ainda continuam os mesmos.
Tudo em um Dia de Trabalho
Frequentemente, os tradutores têm que lidar com assuntos que não são facilmente compreendidos pelos outros. É comum a idéia de que qualquer pessoa que possua um conhecimento satisfatório de duas línguas pode ser um tradutor. Esse, porém, não é o caso.
Em primeiro lugar, cada idioma é um mundo em si mesmo, com suas próprias regras gramaticais, sistema de pontuação específico, frase e redação. Na maioria dos casos, a tradução literal de uma frase pode não corresponder, em significado, na língua para a qual se traduz.
A tradução implica procurar uma “equivalência dinâmica”, na qual o sentido original tanto é mantido como “recriado” numa nova frase para que, de algum modo, comunique a ideia original do autor. Isso implica mudança na ordem das palavras, sentenças ou estrutura do parágrafo, ou até deixar de lado a primeira e a segunda opção e começar a escrever do zero. É necessário dominar a língua para a qual se traduz para “processar” o uso de expressões idiomáticas, figuras de linguagem e metáforas.
Finalmente, em todos os idiomas há alguns termos “não traduzíveis” e referências culturais que, de algum modo, devem ser explanadas ou “interpretadas” para que sejam completamente compreendidas pelo público-alvo. Como diz Lars Hoem, tradutor do inglês para o norueguês para a Casa Publicadora Adventista Norueguesa: “Se qualquer americano ler ‘vestir-se como Don King’, é muito provável que ele ou ela saiba que você está se referindo ao famoso empresário de boxe, que se veste extravagantemente; mas, para o norueguês comum, isso simplesmente não faz sentido. Por outro lado, para os leitores noruegueses, o termo ‘Kollenbrølet’ é imediatamente reconhecido como o grito do público [que é] ouvido quando o primeiro esquiador aparece poucas centenas de metros antes da linha de chegada. Isso pode ser um pouco mais incompreensível para leitores de outra cultura.”.10
Quando se trabalha com conceitos bíblicos, o desafio é semelhante. Hoem tem mais um exemplo: “Como você explicaria o conceito de ‘Cordeiro de Deus’ a um esquimó que nunca viu um cordeiro na vida? Qual é o melhor conceito para descrever ‘inocência’ a um esquimó? Quem sabe um ‘bebê foca’?
Apesar de todas essas barreiras culturais e linguísticas, para os adventistas interessados em linguagem e comunicação escrita, dificilmente haverá melhor atividade para aplicar suas aptidões do que a arte e o ofício da tradução; e mais, fazê-lo com a convicção de que esse trabalho está ajudando a levar avante a missão da igreja, não apenas compartilhando o evangelho, mas fortalecendo os crentes, antigos e novos. Monique Lemay, tradutora adventista do inglês para o francês, que mora em Quebec, Canadá, diz: “O de que gosto na tradução é o rigor, precisão e preocupação com detalhes que fazem toda a diferença no produto final. Não é necessário dizer que recebo bênçãos espirituais maravilhosas ao traduzir para a igreja.… Creio que traduzir livros e revistas para os crentes que falam francês, é, de fato, uma missão.”11
Traduzindo a Palavra
De João Wycliffe a Martinho Lutero (e também a João Ferreira de Almeida), os estudiosos da Bíblia, com o conhecimento de línguas, têm procurado levar as Escrituras mais perto dos ouvidos e do coração das pessoas comuns, traduzindo-as para seu idioma nativo.
Nos últimos anos, estudiosos adventistas da Bíblia também têm contribuído para novas versões das Escrituras, que visam a levar a mensagem da Palavra de Deus a uma nova geração. Desafios como esse não apenas envolvem grande competência nas línguas originais da Bíblia, mas também a habilidade de ser preciso, mas criativo, e estar disposto a trabalhar em grupo com estudiosos de várias formações religiosas durante um extenso período de tempo.
Um desses estudiosos é Victor Armenteros, linguista adventista e estudioso da Espanha, que trabalhou por vários anos como membro do comitê editorial que recentemente publicou a Biblia Traducción Interconfesional , versão contemporânea intereclesiástica da Bíblia, em espanhol. Relembrando a experiência que ele descreve como “incrível”, Armenteros afirma: “No início, fiquei um pouco apreensivo de contribuir com uma atividade que parecia, de certa forma, ecumênica. Então compreendi que ‘interdenominacional’ não significa ecumênica, mas a possibilidade de trabalhar e partilhar com outros, desenterrando e dando significado contemporâneo aos tesouros ocultos revelados na Palavra de Deus.” E conclui: “Aprendi que em qualquer formato, a Palavra de Deus é viva, e agradeço a Ele por isso.”12
Outro jovem adventista erudito que trabalhou nas traduções da Bíblia é Laurentiu Ionescu, da Romênia, que participou da equipe que trabalhou na tradução contemporânea interdenominacional no Novo Testamento no idioma romeno. Embora concorde que as diferenças doutrinárias, por vezes, tomavam “horas de discussão sobre uma única palavra ou preposição”, também admite que foi uma experiência transformadora, proporcionando-lhe agradáveis surpresas. Quando discutiam sobre que palavra usar para o descanso sabático, por exemplo (pois em muitos idiomas, como o romeno, há duas opções: uma para o dia de descanso geral e outra específico para o sétimo dia da semana), Ionescu ficou surpreso quando os tradutores católicos, entre outros, o apoiaram na escolha do termo romeno que melhor descreve o sétimo dia da semana.13
Tradução na Assembleia da AG em Atlanta
Odette Ferreira será um calmo farol na corrida frenética para ajudar as pessoas a se compreenderem durante a próxima Assembleia da Associação Geral, em Atlanta. Trabalhando para o Departamento de Educação da Divisão Norte-Americana, ela foi encarregada (pela segunda vez) de organizar os bastidores da maior empreitada para traduzir todas as reuniões em 15 idiomas diferentes: espanhol, francês, português, alemão, russo, romeno, tcheco, japonês, coreano, servo-croata, italiano, búlgaro, húngaro, indonésio e linguagem americana de sinais. A estimativa é de que duzentos tradutores voluntários cobrirão diariamente os eventos, nove horas de reuniões, por dez dias. Devido à natureza extenuante da tradução simultânea, cada voluntário traduzirá apenas pequenos blocos e fará parte de um rodízio constante.
A tecnologia sem fio utilizada para a tradução será fornecida pela Rádio Mundial Adventista, com frequências de rádio e pequenos transistores de rádio (e fone de ouvidos). Pela primeira vez, haverá tradutores disponíveis no plenário para que os delegados que não têm suficiente conhecimento do inglês possam dar alguma contribuição à discussão, se o desejarem. A maioria dos tradutores pagará suas despesas de viagem e acomodação em Atlanta. Esse é um exército de voluntários, prontos para doar desinteressadamente seu tempo, talentos e recursos. A igreja mundial agradece.Para Onde Estamos Indo?
Em todo o mundo, os tradutores que trabalham fora da igreja estão atingindo níveis de profissionalismo cada vez mais altos. Na Igreja Adventista do Sétimo Dia, porém, os tradutores ainda são mais artesãos do que profissionais. Muitos começaram a trabalhar na área por um conjunto de circunstâncias incomuns e, geralmente, são profissionais independentes que, nem sempre, têm o apoio de uma equipe de edição e revisão, que garanta a qualidade do trabalho. Svitlana Krushenytska, tradutor adventista que mora na Ucrânia, parece resumir o sentimento geral quando afirma: “Gostaria que nosso trabalho fosse mais valorizado.”14
Muitas vezes, tradutores adventistas mal pagos lutam contra a ignorância sobre seu trabalho, tanto de chefes como de colegas, e o descaso de algumas instituições da igreja. Às vezes, há eventos da igreja com cinco diferentes orçamentos que não incluem os custos de tradução. Assim, mais uma vez, os organizadores são obrigados a recorrer a voluntários que, muitas vezes, não têm conhecimento e competência para tal tarefa, enquanto os tradutores têm de trabalhar muitas horas para honrar seus compromissos financeiros. Ellen White compreendeu plenamente esse problema quando, ao defender o equilíbrio no trabalho dos tradutores, escreveu: “Nosso trabalho é muito mais importante do que muitos supõem e requer muito mais consideração. Os tradutores devem ter menos horas dedicadas ao trabalho intelectual concentrado, a fim não cansar excessivamente o cérebro, prejudicando a concentração, que resulta num trabalho imperfeito.”15
As coisas, porém, estão mudando. Os tradutores adventistas do sétimo dia estão cada vez mais conscientes de que, mesmo em um trabalho solitário, como o de tradução, é necessário o apoio de uma equipe. Os líderes da igreja também estão aprendendo que a missão dada por Deus à igreja requer a compreensão de que, para cumpri-la, um dos melhores investimentos, talvez, seja apoiar cada vez mais aqueles que tornam possível a comunicação do evangelho.
Finalmente, não me lembro de qual solução dei ao problema da tradução da frase “Jesus−magnético−ímã”. Talvez deva ter decidido por algo equivalente em espanhol a “Jesus é o maior atrativo do mundo”, ou algo que o valha. O que sei, entretanto, é que tal frase merece e deve ser compreendida por todo ser humano da Terra. Porque, não importa a linguagem, Jesus é, de fato, o maior atrativo neste mundo. E se a missão da igreja é levar essa mensagem a cada tribo e nação, talvez não haja melhor maneira de realizá-la do que recorrer a tradutores profundamente comprometidos em contar a história de Jesus àqueles que a reproduzirão, em suas línguas nativas, para os quatro cantos da Terra.
1Emmett K. VandeVere, The Wisdom Seekers (Nashville, Tenn.: Southern Publishing Association, 1972), p. 31, 32; citado em Floyd Greenleaf, In Passion for the World: A History of Seventh-day Adventist Education (Nampa, Idaho: Pacific Press, 2005), p. 105, 106.
2Veja, por exemplo, seus comentários para moças em Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 204.
3Para uma descrição completa desse assunto, veja Pietro Copiz, “The Linguist” in J. N. Andrews: The Man and the Mission, ed. Harry Leonard (Berrien Springs, Mich.: Andrews University Press, 1985), p. 164-184.
4Ver Ellen G. White, Carta 140 (1907), p. 2, em Manuscript Releases, v. 8, p. 103.
5Australasian Union Conference Record, 28 de julho de 1899. Ideia similar foi expressa em Testemunhos Para a Igreja, v. 7, p. 169.
6Ellen G. White, Testemunhos Seletos, v. 3, p. 464. Essa seção está no apêndix C e representa uma carta escrita em 1934 por Wllie C. White, em resposta a perguntas levantadas por L. E. Froom.
7Ibid.
8Arquivo de cartas de William C. White v. 2, p. 245, citado em Arthur White, Ellen G. White, v. 3, “The Lonely Years (1876-1891)”, p. 436.
9Para descrição de toda a história, veja p. 436-438.
10Comunicação pessoal.
11Comunicação pessoal.
12Comunicação pessoal.
13Comunicação pessoal.
14Comunicação pessoal.
15Ellen G. White, Manuscript Releases, v. 8, p. 328.
Marcos Paseggi é tradutor oficial do inglês para o espanhol. Mora em Ottawa, Ontário, Canadá, e se dedica a projetos freelance para várias instituições e organizações adventistas. É um dos principais tradutores da edição em espanhol da Adventist World.
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Inscrição : 19/04/2008
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