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Justificação pela fé: Um entendimento adventista

por Peter M. Van Bemmelen, Th.D.

Introdução:

Os Adventistas do sétimo dia crêem que eles têm sido chamados para proclamar o evangelho eterno para cada nação, tribo, povo, língua e povo no contexto das 3 mensagens angélicas de Apocalipse 14:6-12. Essas mensagens são o apelo final de Deus para a raça humana antes da segunda vinda de Jesus Cristo (ver Apocalipse 14:14-20). A expressão “evangelho eterno” que ocorre apenas nessa passagem do Novo Testamento, tem implicações importantes. Primeiro de tudo implica que o Evangelho era o propósito de Deus desde a eternidade. Esse eterno e divino propósito está enraizado no amor eterno de Deus como afirmado em Jeremias 31:3 e João 3:16. Em segundo lugar, implica que há somente um evangelho pelo qual os caídos seres humanos podem ser salvos e que esse é o Evangelho de Jesus Cristo, como Paulo às vezes se refere a ele (Romanos 15:9; 1 Cor 9:12; etc.). Em outras palavras, desde os dias de Adão e Eva até o fim do mundo só houve e só haverá apenas um evangelho, uma maneira de salvação. Nas palavras do apóstolo: “Pois sois salvos pela graça mediante a fé, e isso não vem de vós, é dom de Deus, não de obras para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8-9). Pedro falando de salvação através de Jesus Cristo perante os líderes religiosos de Israel foi bastante enfático: “Pois não há salvação em nenhum outro, não há outro nome dado aos homens debaixo do céu pelo qual devem ser salvos” (Atos 4:12).
Os adventistas sempre perceberam a si mesmos como herdeiros das grandes verdades recuperadas e proclamadas pelos reformadores protestantes. Como afirmado no relatório de conclusão de mais um diálogo bilateral: “Os adventistas têm uma elevada apreciação pela reforma. Eles vêem a si mesmos como herdeiros de Lutero e dos reformadores, especialmente em seu adotar dos princípios de “Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solo Christo”.[i] Isso coloca o adventismo em harmonia com o entendimento evangélico tradicional de Justificação pela fé, e também com a tradição dos pais da igreja, pois, de acordo com Thomas Oden, “os principais reformadores que apelam para Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide são encontradas abundantemente no interpretes patrísticos das Escrituras.” [ii] Nesse documento nós intencionamos apresentar o entendimento adventista da unidade dos ensinamentos da Escritura no tema da justificação pela fé somente em Cristo e somente pela Graça. Em seguida tratarei do alegado conflito entre alguns ensinamentos específicos dos adventistas, como sua ênfase na observância do sábado, e a visão protestante tradicional de justificação pela fé será considerada.


O fundamento do ensino da justificação pela fé no Velho Testamento
A unidade das Escrituras não significa uniformidade. Esperar afirmações teológicas muito explícitas como as encontradas em Paulo no Velho Testamento mostra uma falta de apreciação da diversidade na revelação de Deus para e em relação com os mensageiros inspirados. Ainda assim, o próprio Paulo apela para o Velho Testamento para mostrar a unidade entre seu ensinamento de Justificação pela fé ou justiça pela fé com os ensinamentos de Moisés e dos profetas. “Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas;” (Romanos 3:21). É portanto essencial estudar cuidadosamente o que o Velho testamento ensina sobre justiça e sobre justificação. Obviamente, aqui vamos tratar apenas com alguns dos aspectos mais pertinentes do assunto em pauta.O Velho Testamento proclama a justiça de Deus em todo seu relacionamento com Israel. Na canção majestosa, que Moisés ensinou, por ordem de Deus, os israelitas cantarem, Moisés proclama o nome do Senhor nessas palavras: “Eis a Rocha! Suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e não há nele injustiça; é justo e reto.” (Deuteronômio 32:4). A justiça de Yahweh é manifesta de acordo com as bênçãos e maldições do concerto de deuteronômio 38, em atos de julgamento (ver por exemplo: 2 Crônicas 12:1-6; Daniel 9:3-14; Neemias 9:8) e em atos de salvação. Esses últimos são referidos às vezes como a “tsidqot Yahweh”, que pode ser traduzido como a justiça ou os atos justos do Senhor (ver por exemplo: Juízes 5:10; 1 Samuel 12:6-7; Miquéias 6:5). É importante perceber que no Velho Testamento a justiça de Deus é às vezes equivalente à salvação de Deus como pode ser observado no paralelismo hebraico (ver Isaías 51:6,8).Quando chega à justiça humana, o Velho Testamento apresenta-nos um aparente paradoxo. Há persistentes e enfáticas afirmações de que ninguém é justo, que todos pecaram. Davi pleiteou com Deus “Não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum vivente.” (Salmo 143:2). Salomão reconheceu em sua oração para a dedicação do templo: “não há ninguém que não peque” (1 Crônicas 6:36). Ele repete esse pensamento em Eclesiastes 7:20 “Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque.” Moisés por três vezes disse para que os israelitas não pensassem que o Senhor os estava dando a terra de Canaã por causa da justiça deles. Ele afirmou o contrário, “sois um povo de dura cerviz” (Deut. 9:4-6). O paradoxo é que os mesmos escritores e o Velho Testamento como um todo faz uma distinção da humanidade em duas classes: Os Justos e os Ímpios ou algumas distinções similares a esta. Isso levanta a pergunta crucial: “Como pode qualquer ser humano ser chamado de Just diante da afirmação que ninguém é justo e que todos pecaram?” A importância dessa questão é intensificada quando encontramos pessoas designadas como justas, inculpáveis, ou coisas como: “amigo de Deus” ou “mui amado” como nos casos de Noé, Jó, Abraão e Daniel (ver Gen. 7:1; Jó 1:1; Is. 41:8; Dan. 9:23), como pecadoras e confessando pecados. É evidente que a justiça dessas pessoas não é idêntica a impecaminosidade. Como então eles podem ser chamados de justos ou inculpáveis. Edmund Clowney acentua quão crucial é essa questão: “Como pode um homem ser justo com Deus? Toda a história do Velho Testamento depende da resposta de Deus a essa questão.” [iii] A resposta óbvia é que Yahweh, o Deus do concerto, justifica aquele que nele crê, que confia em suas promessas, que reconhece seu pecado, que se lançam sob a misericórdia de Deus, e se convertem de suas injustiças. De Abraão nós lemos: “Ele creu no SENHOR, e isso lhe foi imputado para justiça.” (Gen. 15:6). Jó, de quem o Senhor testificou que ele era: “homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal.” Foi confrontado com uma pergunta vinda do Senhor: “Acaso, anularás tu, de fato, o meu juízo? Ou me condenarás, para te justificares?” (Jó 40:8). Diante do Santo e justo Deus Jô reconheceu sua pecaminosidade e respondeu: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza.” Jó 42:5-6. Davi, o ungido do Senhor, quando convicto de seu pecado contra Deus por adultério e assassinato, confessou seu pecado e achou perdão (2 Samuel 12:13). De acordo com os salmos 32 e 51 ele foi justificado diante de Deus e pôde cantar: “Alegrai-vos no SENHOR e regozijai-vos, ó justos; exultai, vós todos que sois retos de coração.” (Salmo 32:11). Isso é justificação pela fé pela graça somente. A justiça dos justos no Velho Testamento é um dom concedido pelo Deus justo. Essa é o porquê de Davi por todos os salmos exala a justiça de Deus. Paulo afirmou a verdade quando ele disse que a Lei e os profetas testificaram da “justiça de Deus, separada da Lei” (Romanos 3:21).Esses temas vetero-testamentários são mais plenamente desenvolvidos por Edmund Clowney em eu capítulo: “A doutrina da justificação pela fé” no livro Justo com Deus: a justificação na Bíblia e o mundo, publicado em 1992 por causa da “comunhão do mundo evangélico”. Os adventistas do sétimo dia, creio eu, concordariam de todo o coração com muito, senão com toda a cuidadosa apresentação bíblica de Clowney. Clowney seguindo McGrath, mostra que o verbo hebraico hasdiq “sempre significa [declarar estar correto (justo)] e somente então absolver ou vindicar”. Com um apelo para Deuteronômio 25:1, onde os juízes de Israel são mandados “justificar o justo e condenar o ímpio”, ele afirma ser claro que “condenar” nesse caso significa “declarar ser ímpio”, não “tornar alguém ímpio”, e que “justificar” deve significar “declarar ser justo” e não “tornar alguém justo”. Esse significado é consistente no Velho Testamento. O Senhor admoesta os juízes a dar veredictos justos por que Deus é o supremo juiz, que testifica de si mesmo: “Eu não vou absolver (ou justificar) o culpado” (Êxodo 23:7). Enquanto Deus está aqui falando no contexto de tribunais de justiça terrenos, se torna aparente que quando percorremos as Escrituras vemos que essas admoestações têm um significado soteriológico mais profundo. É necessário sublinhar que o “justificar” é um termo legal, declarando que alguém não é culpado. O significado básico de justificação como um veredicto judicial é mantido mesmo quando conduz a um significado mais amplo na revelação progressiva de Deus e nas reflexões teológicas sobre essa revelação.

Justificação pela fé em Cristo somente

Os adventistas do sétimo dia acreditam firmemente e de todo o coração que a salvação é puramente um dom de Deus em Jesus Cristo. Pecadores como somos, não podemos adicionar nada à perfeita justiça de Cristo, que ele realizou em sua encarnação por sua perfeita obediência á lei de Deus e por sua morte na cruz por nossos pecados. Nas palavras de uma das crenças fundamentais dos adventistas:

Na vida de Cristo, de perfeita obediência à vontade de Deus, e em Seu sofrimento, morte e ressurreição, Deus proveu o único meio de expiação do pecado humano, de modo que os que aceitam essa expiação pela fé possam ter vida eterna, e toda a criação compreenda melhor o infinito e santo amor do Criador. Esta expiação perfeita vindica a justiça da lei de Deus e a benignidade de Seu caráter; pois ela não somente condena o nosso pecado, mas também provê o nosso perdão. – Crenças Fundamentais, 9 “Salvação através de Cristo somente” é algo central para o entendimento adventista e experiência de salvação. Apesar de que durante nossa história de mais de 160 anos ela nem sempre recebeu a ênfase esperada, essa crença central pode ser traçada por todo esse período com acentuação e articulação crescente nos livros, tratados e periódicos fluindo aos milhões a partir das casas publicadoras adventistas por todo o mundo. O mesmo é verdade considerando-se o evangelismo adventista de uma grande variedade de formas diferentes, desde pequenos grupos de estudo em casas particulares até aos evangelismos com alta tecnologia por satélites e pela rede mundial de computadores. Aqui nós podemos apenas pontuar evidências significativas dessa ênfase Cristocêntrica no entendimento adventista da justificação pela fé.Nos escritos de Ellen White, a autora mais lida entre os adventistas, Cristo é consistentemente apresentado como a única esperança e o único meio de salvação para os pecadores seres humanos. Ela escreveu em 1891, “de todos os professos cristãos, os adventistas do sétimo dia deveriam ser os primeiros a levar Cristo perante o mundo” [iv] Ela mesma fez exatamente o que seus escritos testemunhavam.

Relativamente à justificação pela fé, ela foi explícita. Note sua forte ênfase.

“Não há um ponto que necessite ser realçado com mais diligência, repetido com mais freqüência ou estabelecido com mais firmeza na mente de todos, do que a impossibilidade de o homem caído merecer alguma coisa por suas próprias e melhores boas obras. A salvação é unicamente pela fé em Jesus Cristo”. (fé e obras, 19)

“O sangue de Cristo foi derramado para expiação e purificação do pecador. E nós devemos nos apegar aos méritos do sangue de Cristo, e acreditar que temos vida em seu nome. Não permita que as falácias de Satanás te enganem, você é justificado somente pela fé” (Signs of the Times, March 24, 1890)

Não é surpreendente que Ellen White tinha uma grande consideração pela epístola aos Romanos de Paulo. “Com grande clareza e poder a apóstolo apresentou a doutrina da justificação pela fé em Cristo.” Ela comenta o fato de Paulo poder apenas prever diminutamente o longo alcance que suas palavras teriam. “Por todas as eras a grande verdade da justificação pela fé tem se levantado como uma poderosa coluna para guiar os pecadores ao arrependimento e ao caminho da vida”. Ela menciona a experiência de Martinho Lutero e então conclui que pela “epístola para a igreja de Roma, todo cristão tem razão de agradecer a Deus” (Atos dos apóstolos 373, 374). A importância da carta aos romanos e as outras cartas de Paulo para o entendimento adventista do Evangelho é manifestado nas publicações acadêmicas assim como nas publicações bíblicas e devocionais de forma geral. [v] Como afirmado anteriormente, os adventistas acreditam que há apenas uma forma de salvação de Genesis ao Apocalipse e essa forma é a fé em Cristo e sua justiça. Essa crença central pode ser e tem sido expressa em diferentes palavras, da mesma forma como as Escrituras não são monótonas, mas apresentam a verdade do Evangelho eterno de diversas maneiras. Enquanto os eruditos adventistas podem diferir de opinião a respeito de certos aspectos do evangelho, da mesma forma diferenças podem ser encontradas entre os eruditos de outras denominações, há significativa unidade relativamente à justificação pela fé somente. Nas palavras de teólogo adventista Hans LaRondelle:

“Básico ao adventismo é o princípio do evangelho que a salvação humana não é pela lei e nem pelas obras humanas, mas somente pela salvadora graça de Deus. ...a crença adventista aceita a Cristo como um substituto e como um exemplo, nessa ordem irreversível. Fé em Cristo como nosso substituto diante de Deus provê nossa justificação como um ato de declaração de Deus reputando como justo o pecador arrependido. Justificação é vista como o oposto da condenação (ver Romanos 5:16; 8:1, 33, 34). A base da justificação do crente não é sua observância da lei, mas a perfeita obediência de Cristo (Romanos 5:18,19). Indubitavelmente a justificação é primariamente uma declaração judicial de Deus de que o pecador que crê em Cristo é justo. Isso é o oposto da condenação. Mas a fé pela qual somos justificados não é meramente assentimento mental a uma determinada doutrina. É uma fé viva que se apropria de Cristo e de seu sacrifício expiatório. Lutero diferenciou entre “fé adquirida” e “fé verdadeira”. Ele escreveu: “Fé adquirida resulta de seu objetivo e uso da paixão de Cristo em mera especulação. A fé verdadeira resulta de seu objetivo e uso da paixão em vida e salvação... A fé verdadeira abraça de braços abertos o filho de Deus entregue por si e diz “eu sou do meu amado e o meu amado é meu” [vi] Ellen White de uma forma semelhante escreveu que “há milhares que crêem no evangelho e em Jesus Cristo como redentor do mundo, mas eles não são salvos por essa fé. Isso é apenas um concordar com o julgamento que virá em breve...” Ela chama isso de fé geral e a contrasta coma fé que se apega a Cristo como o salvador que perdoa o pecado, uma fé que conduz ao arrependimento, “uma fé que faz uma obra naquele que a recebe, uma fé no sacrifício expiatório, uma fé que atua pelo amor e que purifica a alma” [vii] Ele clarifica adiante essa fé com as palavras: “o momento em que se exercita fé verdadeira na expiação de Cristo, o aceitando como salvador pessoal é o momento no qual o pecador é justificado perante Deus, pois é perdoado.” [viii] Algumas áreas alegadamente problemáticas no ensino adventista relacionado à justificação pela fé

Os adventistas do sétimo dia não têm escapado de acusações de não crer no ensinamento bíblico da justificação pela fé pela graça somente e através da fé. Anthony Hoekema em seu livro “As quatro maiores seitas”, expressa sua convicção que os adventistas “apesar de dizerem ensinar a salvação somente pela graça” eles são na verdade culpados de uma forma de legalismo misturado. [ix] Ele baseia essa declaração no ensino adventista do juízo investigativo e em seu ensino a respeito da necessária observância do sábado do sétimo dia, o verdadeiro dia do Senhor (especialmente na configuração escatológica de Apocalipse 13:11-17). [x] Por essas e uma quantidade de outras razões ele classifica o adventismo do sétimo dia como uma seita. Críticas similares têm sido levantadas por outras pessoas, e não poucos são ex-adventistas. E nem todos concordam com os argumentos de Hoekema. É digno de nota que o erudito evangélico Walter Martin em seu trabalho “o império das seitas” demonstra várias inconsistências nas racionalizações de Hoekema. Apesar de o próprio Martin não concordar com certas crenças dos adventistas, ele aceita como genuína a enfática afirmação deles: “a salvação vem tão somente pela graça de Deus através da fé no sacrifício de Jesus Cristo sobre a cruz” [xi] É verdade que os adventistas do sétimo dia acreditam que os 10 mandamentos, incluindo-se a santificação do sábado do sétimo dia ainda estão vigentes sobre toda a humanidade, mas isso não significa que eles crêem em qualquer sentido que pecadores possam ser justificados através da obediência aos mandamentos. Neste aspecto a crença adventista concorda com a posição dos reformadores protestantes como afirmado, por exemplo, na segunda confissão Helvética de 1566, que diz no capítulo 12, intitulado: A Lei de Deus

Nós acreditamos que esta lei não foi dada aos homens que eles não podem ser justificados por guardá-la, mas para que nos ensinasse qual (nossa) fraqueza, pecado e condenação, e, em desesperança diante de nossa própria força, pudéssemos ser convertidos a Cristo em fé. Pois o apóstolo declara abertamente: "A lei traz a ira", e "Pela lei vem o conhecimento do pecado" (Rm 4:15; 3:20), e "Se a lei tivesse sido dada e pudesse justificar ou trazer vida, então a justiça seria de fato pela lei. Mas a Escritura (isto é, a lei) encerrou todos sob o pecado, para que a promessa que era da fé em Jesus pudesse ser dada para aqueles que acreditam .... Portanto, a lei nos serviu de aio para Cristo, para que pudéssemos ser justificados pela fé "(Gal.3: 21 e ss.).

O mesmo artigo, contudo, se inicia afirmando que “acreditamos que a vontade de Deus é explicada para nós pela lei de Deus, o que Ele quer ou não o quer que nós façamos, o que é bom e justo, ou o que é mau e injusto. Portanto, confessamos que a lei é boa e santa.” [xii] Os adventistas, aceitando tal ensinamento como congruente com as Escrituras, crêem que a promessa da nova aliança do Senhor, como dada por Jeremias e repetida em Hebreus 8:10 “... na sua mente imprimirei as minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.” Será cumprida na vida daqueles que aceitam a Jesus como seu Senhor e Sumo sacerdote. Enquanto Paulo enfaticamente mantém “que o homem é justificado pela fé separado das obras da lei” o que é verdade para judeus e para gentios, no mesmo contexto afirma que através dessa fé nós não anulamos a lei, “antes confirmamos a lei” (Rom. 3:28 e 31). Em outro lugar ele coloca a afirma a mesma coisa com palavras diferentes: “circuncisão é nada, e incircuncisão não é nada, guardar os mandamentos de Deus é o que conta” (1 Cor 7:19). Essa obediência resulta da fé e amor de Cristo, implantado pelo Espírito Santo, “Pois em Cristo nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor.” (Gál. 5:6). Jesus nas palavras finais a seus discípulos antes d sua crucifixão, falou várias vezes sobre essa obediência nascida do amor. “Se me amais, guardareis os meus mandamentos.” (Jo 14:15). “Como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço.” (Jo 15:9-10). “Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando.” (Jo 15:14). Os adventistas crêem que é essa obediência de amor a que Paulo se refere quando diz que “o cumprimento da lei é o amor” (Rom. 13:10). Enquanto os adventistas crêem que os cristãos são chamados “à obediência da fé” (Rom. 1:5) e que nós fomos “criados em Cristo Jesus para as boas obras, que preparou para nela andássemos” (Efésios 2:10). Eles rejeitam fortemente qualquer sugestão que tal obediência e tais boas obras sejam de qualquer forma meritórias. O concílio de Trento em seu decreto sobre justificação diz que a justificação aumenta “através da observância dos mandamentos de Deus e da igreja, com a fé cooperando com as boas obras;” ensina também o mérito das boas obras como fruto da justificação.[xiii] Seu cânon sobre justificação pronunciou essa condenação a qualquer um que dissesse que “a justiça recebida não é preservada e também não é aumentada diante de Deus através das boas obras, mas que essas obras são meramente os frutos e sinais da justificação, mas sua causa ou o aperfeiçoamento da justificação, que seja anátema.” Outro anátema condenou qualquer pessoa que dissesse “que as boas obras daqueles que é justificado são de tal forma um dom de Deus que elas não constituem méritos benignos pertencentes ao justificado.” [xiv] Em outras palavras, a justificação é aumentada (aperfeiçoada) pela obediência e pelas boas obras, as boas obras não são apenas dons da graça de Deus, mas méritos daqueles que foram justificados. Essa crença foi confirmada no catecismo da igreja católica romana, publicado com a benção papal de João Paulo Segundo. [xv] O catecismo também confirmou a posição do concílio de Trento que “justificação não é apenas remissão de pecados, mas também santificação e renovação do homem interior” [xvi] Essa visão de justificação foi e ainda é enfaticamente rejeitada por qualquer protestante consistente, incluindo-se os adventistas do sétimo dia. Que esse tópico é relevante no século 21 tanto quanto foi no século 16 é evidente a partir do fato que Francis Beckwith, que era o presidente da sociedade teológica evangélica, no último mês de maio, rejeitou a presidência e qualquer participação como membro dessa sociedade depois que em abril voltou ao catolicismo (a igreja na qual havia crescido). De acordo com a revista Christianity Today Beckwith mudou sua visão sobre justificação por que achou que “a visão protestante, que afirma que a santificação segue a justificação, é inadequada” [xvii] Beckwith se convenceu que a visão católica de justificação “tem maior poder explanatório tanto para o texto bíblico assim como para o entendimento histórico da salvação anterior a reforma, até à igreja do primeiro século”[xviii] Isso enfatiza a importância máxima e a centralidade da doutrina da justificação pela fé para todos aqueles que aceitam o princípio Sola Scriptura. De acordo com o editorial de Christianity Today os reformadores “acertadamente ensinaram que somente os méritos de Jesus eram relevantes diante de Deus e que apenas através da fé que esse mérito pode ser nosso” [xix] Os adventistas concordam com isso de todo o coração. A partir da discussão precedente deveria estar claro os adventistas do sétimo dia acreditam que guardar os mandamentos, inclusive o sábado do sétimo dia da semana, é visto como parte da obediência da fé. É fruto da justificação, e nunca a raiz ou fonte da justificação. Cristo refere-se a si mesmo como Senhor do Sábado (Mc 2:28), obviamente não ara abolir o sábado, mas para que todos que são justificados pela fé sigam seu Senhor guardando o sábado como um memorial da criação assim como um sinal de sua libertação da escravidão do pecado através de Cristo (Ex 20: 8-11; 31: 12-17; Dt 5: 12-15; Ez 20: 12, 20). Não há nenhum traço de legalismo em tal observância do sábado. Se nossa justificação é somente através da graça mediante a fé, a obediência da fé tem alguma coisa que ver com nossa salvação? Ou para colocar a questão de forma diferente: Os nossos pensamentos, palavras e ações tomam parte em determinar nosso destino eterno? Essas são questões cruciais e que estão intimamente relacionadas à questão do juízo final. As Escrituras falam muita coisa a respeito do juízo final, e se vê isso nos ensinamentos de nosso Senhor preservados nos Evangelhos. Jesus disse: “Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo; porque, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado.” Mateus 12:36-37 Aqui nosso Senhor fala de justificação e condenação (as declarações judiciais de inocência ou culpa) no contexto do dia do julgamento. Obviamente, há um aspecto escatológico na justificação. Os adventistas acreditam baseados nas Escrituras que o dia do juízo é um conceito bastante compreensível e muita literatura adventista a respeito desse tema já foi publicada. [xx] É suficiente dizer que eles sustentam que o julgamento deve ser distinguido em investigativo e executivo. É a crença adventista em um juízo investigativo que leva à acusação de que eles não acreditam realmente nos princípios da reforma de Sola fide, Sola gratia (só fé e só graça). Em nossa conclusão vamos dar uma olhada nessa questão. Em Romanos 8:1 Paulo nos diz que “não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus.” Anteriormente ele afirmou que “justificados pois pela fé, temos paz com Deus através de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rom. 5:1). Tudo isso são realidades presentes. Em outro lugar está escrito: “Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem.” (2 Tim. 2:19). Às vezes é argumentado que tais textos mostram que aqueles que estão em Cristo não necessitam ser julgados e que o conceito de juízo investigativo não é bíblico, pois tira a certeza da salvação aos crentes. Contudo esse tipo de racionalização ignora o claríssimo ensino das Escrituras de que todos serão julgados. O apóstolo Paulo é muito enfático nessa questão: “Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus... Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus.” (Romanos 14:14 e 12). “Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo.” (2 Cor 5:10). Outras passagens das Escrituras poderiam ser acrescentadas. Salomão escreveu no fim de sua vida: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más.” (Ecl. 12:13-14). O apóstolo Pedro nos informa que o julgamento começará pela família de Deus. Todos que de alguma forma professaram fé em Deus e em Cristo serão julgados antes ”daqueles que não obedecem o evangelho de Deus” (1 Pe 4:17). Essas afirmações destroem a segurança da justificação?A resposta óbvia a essa questão é: “Não! Se permanecermos em Cristo” Na parábola da vinha e dos ramos é sublinhado um fato de crucial importância sobre permanecer nele. “Eu sou a vinha, vós sois os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jô 15:5). Ele acrescenta que se alguém não permanecer nele será semelhante a um ramo seco que será lançado fora e queimado (verso 6). O julgamento final trará a luz àqueles que permaneceram em Cristo e aqueles que não. Será manifesto se nossa fé em Cristo produziu fruto na obediência da fé ou se foi uma fé estéril (Tiago 2:17, 26). Trará a luz à presença de todo universo quem manteve a fé em Cristo e quem se perdeu diante do caminho, da verdade e da vida. A segurança de Paulo de ter vida eterna é enraizada no fato de que ele “guardou a fé” (2 Tim.4:7). Sua fé em Cristo como seu Salvador e Senhor, o justo juiz de quem ele receberia a coroa da justiça. LaRondelle destaca a relação entre a presente justificação dos crentes e e sua justificação no juízo final.“Paulo baseou nossa certeza de salvação futura na realidade de nossa presente salvação. A certeza de nossa futura justificação na realidade de nossa presente justificação. “Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.” (Romanos 5:9; ver também verso 17). Em outras palavras, quando Jesus nos justifica, nós temos plena certeza de que seremos justificados no julgamento final se permanecermos nele.” [xxi]De uma forma diferente, P. T. O’Brien, que contribuiu com o livro “Justo com Deus”, também destaca a relação entre justificação pela fé e julgamento de acordo com as obras. Ele deixa claro, entretanto, que “A base da justificação não está nas obras, nem na fé, mas na “revelação da graça de Deus abraçada pela fé”. As obras são indispensáveis, pois demonstram a presença da verdadeira fé e são evidências de alguém estar unido com Cristo em sua morte e ressurreição.” [xxii] Os adventistas concordam e acreditam que o julgamento, tanto investigativo quanto executivo, é uma boa nova para todos que, como Paulo, pela graça de Deus mantém a fé, fé em Jesus. Notas

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[i] Lutherans & Adventists in Conversation: Report and Papers Presented 1994-1998 (Silver Springs, Maryland: General Conference of Seventh-day Adventists; Geneva, Switzerland: The Lutheran World Federation, 2000), 8.
[ii] Thomas C. Oden, The Justification Reader (Grand Rapids, Michigan; Cambridge, United Kingdom: William B. Eerdmans Publishing Co., 2002), 162.
[iii] Edmund P. Clowney, “The Biblical Doctrine of Justification by Faith,” in Right With God: Justification in the Bible and the World, ed. D.A. Carson, Published on behalf of the World Evangelical Fellowship (Paternoster Press; Baker Book House, 1992), 24; cf. page 23, “Indeed, it is the great question for the whole Old Testament.”
[iv] Ellen G. White, Gospel Workers (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Assn., 1915), 156; Idem, Manuscript Releases, Volume 9 (Silver Springs, Maryland: E.G. White Estate, 1990), 294.
[v] George R. Knight, Walking With Paul Through the Book of Romans (Hagerstown, Maryland: Review and Herald Publishing Assn., 2002).
[vi] Luther on Justification (St. Louis, Missouri: Concordia Publishing House, 1975), 30.[vii] Ellen G. White, “Justified by Faith,” in Manuscript Releases, Volume 8 (Silver Springs, Maryland: E.G. White Estate, 1990), 356.
[viii] Ibid., 357.
[ix] Anthony A. Hoekema, The Four Major Cults (Exeter, United Kingdom: Paternoster Press, 1969), 126.
[x] Ibid., 126-128.
[xi] Walter Martin, The Kingdom of the Cults (Minneapolis, Minnesota: Bethany House Publishers, 1985), 435.
[xii] Arthur C. Cochrane, ed., Reformed Confessions of the 16th Century (Philadelphia: Westminster Press, 1966), 247.
[xiii] H. J. Schroeder, trans., Canons and Decrees of the Council of Trent (Rockford, Illinois: Tan Books and Publishers, 1978), 36 and 40-42.
[xiv] Ibid., 45 (Canon 24) and 46 (Canon 32).
[xv] Catechism of the Catholic Church (Mahwah, New Jersey: Paulist Press, 1994), 487, paragraph 2010.
[xvi] Catechism of the Catholic Church, 482, paragraph 1989.
[xvii] Editorial, “Virtue That Counts: Why Justification by Faith Alone Is Still Our Defining Doctrine,” Christianity Today, July 2007, 20.
[xviii] Collin Hansen, “Leaving for Rome,” Christianity Today, July 2007, 14.
[xix] Editorial, “Virtue That Counts,” Christianity Today, July 2007, 20.
[xx] See for instance Roy Gane, Who’s Afraid of the Judgment? (Nampa, Idaho: Pacific Press Publishing Association, 2006); Gerhard F. Hasel, “Divine Judgment” in Handbook of Seventh-day Adventist Theology, Commentary Reference Series, Vol. 12, ed. Raoul Dederen (Hagerstown, Maryland: Review and Herald Publishing Association, 2000), 815-856; Frank B. Holbrook, The Atoning Priesthood of Jesus Christ (Berrien Springs, Michigan: Adventist Theological Society Publications, 1996).
[xxi] Hans K. LaRondelle, Assurance of Salvation (Nampa, Idaho: Pacific Press Publishing Association, 1999), 99. Herman Ridderbos succinctly discusses the subject, “Judgment According to Works,” in his excellent book Paul: An Outline of His Theology, trans. John Richard De Witt (Grand Rapids, Michigan: William B. Eerdmans Publishing Company, 1975), 178-181.
[xxii] P. T. O’Brien, “Justification in Paul and Some Crucial Issues of the Last Two Decades,” in Right With God: Justification in the Bible and the World, ed. D. A. Carson, Published on behalf of the World Evangelical Fellowship (Paternoster Press; Baker Book House, 1992), 94. The quotation within the quotation is taken from Paul: An Outline of His Theology, 180.
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