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Como lidar com as diferenças entre os detalhes nos evanvagélhos
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02042010
Como lidar com as diferenças entre os detalhes nos evanvagélhos
Como lidar com as diferenças entre os detalhes nos evanvagélhos
Apesar da explicação simples, porém concisa, com que o Pr. e autor John Piper respondeu à questão do estudante, sabe-se que as teses mais eruditas sobre o tema em questão não fogem, essencialmente, ao que foi dito. Sou professor da disciplina "Evangelhos", em um curso de Teologia (Bacharelado) que leciono, e atualmente utilizo o autor indicado por Piper, Craig Bloomberg, autor de "Jesus e os Evangelhos", nas minhas aulas. O livro é realmente bom e tem um razoável nível de erudição conservadora sobre o assunto, assim como o de Broadus David Hale, "Introdução ao Estudo do Novo Testamento". Há muito material sendo feito e de boa qualidade. Contudo, é necessário que o cristão entenda que questões não resolvidas não implicam, necessariamente, em ´erros´ e ´contradições´ nos Evangelhos.
O estudo destas ´discrepâncias´ entre os evangelhos chama-se "Harmonia dos Evangelhos". Um bom exemplo de um texto traduzido para a língua portuguesa é o livro de nomo homônimo, de Stanley Gundry. Este livro, por exemplo, coloca os textos evangelísticos (inclusive o de João) em paralelo, e observa-se com mais clareza as diferenças nas ênfases dos relatos. Como disse o Pr. Piper, a intencionalidade de cada evangelística de cada autor deve ser levada em consideração, e os autores modernos pensam exatamente assim. Sabe-se que os autores dos Evangelhos têm "propostas teológicas" com um elemento invariável e comum, o messiânico, porém com outros elementos variáveis, peculiares a cada evangelista e que estavam em função de seus respectivos destinatários.
Assim, hoje (de um modo praticamente unânime, entre os autores mais conservadores), estabeleceu-se - a partir da análise da Crítica Textual -, o seguinte quadro:
"Mateus" - escreveu imediatamente para os judeus e, mediatamente, para uma comunidade gentílica. É o único dos evangelistas bíblicos que apresenta a palavra "Igreja" (ekklessia, no grego. Ex. capítulo 16). Sua "teologia da mensagem" versa sobre a "Realeza de Cristo (Messias)". É o que mais fala no Reino de Deus - particularmente no "Reino dos Céus", expressão que lhe é peculiar, talvez por um cuidado rabínico em não expressar constantemente o nome de Deus (daí não usar o termo "Reino de Deus").
"Lucas" - o evangelho que leva o nome de um dos maiores colaboradores do apóstolo Paulo é o único que tem o destinatário especificado, "Teófilo" (cap. 1, vss 1-4). Lucas, como os demais sinóticos e o Evangelho de João também enfatiza o messianismo de Jesus, com a particularidade de evidenciar o aspecto humano deste. É o Evangelho em que mais se vê a expressão "Filho do Homem" e é o único em que a genealogia de Jesus retroage até o primeiro homem, Adão. Isto pode denotar a ideia de que Lucas, que era grego, queria ressaltar que Jesus Cristo, antes de ser "Filho de Davi" ou "Filho de Abrão" - expressões que carregam uma forte conotação etnocêntrica -, era o "Filho do Homem", com uma ligação com toda a humanidade.
"João" - não é considerado um sinótico com os demais, pois não é semelhante aos mesmos. João é, na verdade, 93% diferente dos Evangelhos sinóticos. Isto se dá pela ênfase do relato joanino, que, como os demais, também enfatiza o aspecto messiânico de Jesus. Contudo, João escreve o Evangelho que leva seu nome de uma maneira mais peculiar: estão evidenciadas no relato os discursos de Jesus que o ligam à divinidade, ou seja, àqueles que revelam que Jesus era Deus. Os discursos "Eu Sou..." de Jesus, exclusivos de João, consolidam esta idéia. Neste Evangelho Jesus é, por exemplo, "o Caminho, a Verdade e a Vida" (14:6), aliando-se especialmente à divindade. O "prólogo" joanino é um dos mais conhecidos de toda a literatura bíblica ("No princípio era a Palavra (Verbo), e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus" - vs. 1). Uma cristologia apurada já pode ser observada neste texto, no qual o autor (João) liga Jesus ("a Palavra") a Deus, sem confundi-lo com Deus Pai. Assim, Jesus está com Deus e é Deus, corroborando o tradicional e ortodoxo dogma da divinidade e humanidade de Jesus.
Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo
Apesar da explicação simples, porém concisa, com que o Pr. e autor John Piper respondeu à questão do estudante, sabe-se que as teses mais eruditas sobre o tema em questão não fogem, essencialmente, ao que foi dito. Sou professor da disciplina "Evangelhos", em um curso de Teologia (Bacharelado) que leciono, e atualmente utilizo o autor indicado por Piper, Craig Bloomberg, autor de "Jesus e os Evangelhos", nas minhas aulas. O livro é realmente bom e tem um razoável nível de erudição conservadora sobre o assunto, assim como o de Broadus David Hale, "Introdução ao Estudo do Novo Testamento". Há muito material sendo feito e de boa qualidade. Contudo, é necessário que o cristão entenda que questões não resolvidas não implicam, necessariamente, em ´erros´ e ´contradições´ nos Evangelhos.
O estudo destas ´discrepâncias´ entre os evangelhos chama-se "Harmonia dos Evangelhos". Um bom exemplo de um texto traduzido para a língua portuguesa é o livro de nomo homônimo, de Stanley Gundry. Este livro, por exemplo, coloca os textos evangelísticos (inclusive o de João) em paralelo, e observa-se com mais clareza as diferenças nas ênfases dos relatos. Como disse o Pr. Piper, a intencionalidade de cada evangelística de cada autor deve ser levada em consideração, e os autores modernos pensam exatamente assim. Sabe-se que os autores dos Evangelhos têm "propostas teológicas" com um elemento invariável e comum, o messiânico, porém com outros elementos variáveis, peculiares a cada evangelista e que estavam em função de seus respectivos destinatários.
Assim, hoje (de um modo praticamente unânime, entre os autores mais conservadores), estabeleceu-se - a partir da análise da Crítica Textual -, o seguinte quadro:
"Mateus" - escreveu imediatamente para os judeus e, mediatamente, para uma comunidade gentílica. É o único dos evangelistas bíblicos que apresenta a palavra "Igreja" (ekklessia, no grego. Ex. capítulo 16). Sua "teologia da mensagem" versa sobre a "Realeza de Cristo (Messias)". É o que mais fala no Reino de Deus - particularmente no "Reino dos Céus", expressão que lhe é peculiar, talvez por um cuidado rabínico em não expressar constantemente o nome de Deus (daí não usar o termo "Reino de Deus").
"Marcos" - hoje, há um debate, que se iniciou no século XIX, sobre a chamada "prioridade de Marcos". Se isto for estabelecido, "Marcos" foi o primeiro dos Evangelhos bíblicos escritos, e não "Mateus". Sabe-se que os livros bíblicos não estão na ordem cronológica de sua composição, mas no caso dos Evangelhos isto não era verdade. Marcos é o menor dos evangelhos (em termos de quantidade de texto) e também traz como tema central o messianismo de Jesus. Contudo, por causa de características peculiares ao seu relato - em que mostra um estilo prático no conteúdo e na forma -, afirma-se que o Evangelho é o que enfatiza o "Messias-Servo de Deus".
"Les Quatre Evangélistes" ("Os Quatro Evangelistas", 1678), do pintor flamengo Jacob Jordaens.
"Les Quatre Evangélistes" ("Os Quatro Evangelistas", 1678), do pintor flamengo Jacob Jordaens.
"Lucas" - o evangelho que leva o nome de um dos maiores colaboradores do apóstolo Paulo é o único que tem o destinatário especificado, "Teófilo" (cap. 1, vss 1-4). Lucas, como os demais sinóticos e o Evangelho de João também enfatiza o messianismo de Jesus, com a particularidade de evidenciar o aspecto humano deste. É o Evangelho em que mais se vê a expressão "Filho do Homem" e é o único em que a genealogia de Jesus retroage até o primeiro homem, Adão. Isto pode denotar a ideia de que Lucas, que era grego, queria ressaltar que Jesus Cristo, antes de ser "Filho de Davi" ou "Filho de Abrão" - expressões que carregam uma forte conotação etnocêntrica -, era o "Filho do Homem", com uma ligação com toda a humanidade.
"João" - não é considerado um sinótico com os demais, pois não é semelhante aos mesmos. João é, na verdade, 93% diferente dos Evangelhos sinóticos. Isto se dá pela ênfase do relato joanino, que, como os demais, também enfatiza o aspecto messiânico de Jesus. Contudo, João escreve o Evangelho que leva seu nome de uma maneira mais peculiar: estão evidenciadas no relato os discursos de Jesus que o ligam à divinidade, ou seja, àqueles que revelam que Jesus era Deus. Os discursos "Eu Sou..." de Jesus, exclusivos de João, consolidam esta idéia. Neste Evangelho Jesus é, por exemplo, "o Caminho, a Verdade e a Vida" (14:6), aliando-se especialmente à divindade. O "prólogo" joanino é um dos mais conhecidos de toda a literatura bíblica ("No princípio era a Palavra (Verbo), e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus" - vs. 1). Uma cristologia apurada já pode ser observada neste texto, no qual o autor (João) liga Jesus ("a Palavra") a Deus, sem confundi-lo com Deus Pai. Assim, Jesus está com Deus e é Deus, corroborando o tradicional e ortodoxo dogma da divinidade e humanidade de Jesus.
Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo
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