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Não há vantagem evolutiva na depressão
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30012012
Não há vantagem evolutiva na depressão
[Meus comentários seguem entre colchetes. – MB] Em alguns setores acadêmicos, só se fala em analisar o comportamento humano por meio da biologia evolutiva. Os pesquisadores querem descobrir que vantagens evolutivas estariam escondidas em nossas ações, ou mesmo em nossas patologias [curiosamente, a biologia evolutiva não ajudou em nada no desenvolvimento da medicina]. É a vez de a depressão ser examinada em detalhes. Alguns psicólogos evolucionistas acreditam que essa doença dolorosa e incapacitante pode esconder algo de positivo. Mas, como eu, a maioria dos profissionais que tratam pacientes discorda com veemência. Tome como exemplo uma paciente que analisei há algum tempo, uma mulher de trinta anos de idade cujo marido a havia traído e abandonado. Durante muitas semanas, ela se tornou abatida e se isolou socialmente. Ela desenvolveu insônia e começou a refletir constantemente sobre o que havia feito de errado.
Um psicólogo evolucionista talvez afirmasse que a resposta de minha paciente tinha alguma lógica. Afinal de contas, quando sua rotina normal foi quebrada, ela procurou se isolar, tentou entender a razão para seu abandono e se planejar para o futuro. Talvez você perceba alguma vantagem evolutiva na habilidade que as pessoas depressivas têm de fixar sua atenção de forma rígida e obsessiva em um único problema, desligando-se de tudo e de todos a seu redor.
Alguns estudos parecem dar apoio a essa perspectiva. Paul W. Andrews, psicólogo da Virginia Commonwealth University, relata que sujeitos normais ficam tristes quando tentam resolver um teste de reconhecimento de padrão espacial mais complicado, o que sugere que alguma característica da tristeza possa melhorar a capacidade analítica dos sujeitos.
Com uma abordagem similar, Joseph P. Forgas, psicólogo da Universidade de New South Wales, na Austrália, descobriu que sujeitos tristes obtiveram mais sucesso no reconhecimento de mentiras do que sujeitos felizes submetidos ao mesmo teste. [...]
Resultados como esses podem sugerir alguns benefícios da tristeza, mas, com o tempo, eles foram generalizados para pacientes que sofriam de depressão profunda. Por exemplo, Andrews e o Dr. J. Anderson Thomson Jr., psiquiatra da Universidade da Virgínia, propuseram que a reflexão entre os depressivos seria uma estratégia de adaptação para resolver um problema doloroso. Os psicólogos clínicos, por outro lado, continuam a afirmar que o aspecto sombrio dos depressivos é uma evidência de que seus processos cognitivos estão distorcidos e funcionando de forma errônea. Esses processos devem ser corrigidos, não incentivados. [Assim é com todo tipo de comportamento nocivo ou condenável – aliás, se é condenável é porque existe uma moral absoluta à qual até os ateus e darwinistas apelam. Mesmo a ideia de “sobrevivência do mais apto” deve ser condenada, do ponto de vista sociológico, pelo menos. Resumindo: o pecado é um desvio do plano de Deus; tudo o que causa sofrimento e morte neste planeta não pode ser visto como “normal”, como querem os defensores da teoria da evolução. Devemos sempre lutar contra o mal, a violência, o pecado, as injustiças e promover a disseminação do evangelho no mundo, a fim de que Jesus volte logo e destrua para sempre o mal.]
Há evidências concretas de estudos neuropsicológicos e de imagem cerebral que demonstram que a depressão clínica está ligada a vários tipos de deficiências da memória em todas as faixas etárias e em todos os graus de depressão. Desafiar e modificar os pensamentos disfuncionais da depressão é o objetivo da terapia cognitivo-comportamental, uma das formas mais populares e empiricamente comprovadas de psicoterapia.
Mas quem está certo sobre a depressão, os psicólogos evolucionistas ou os psicólogos clínicos?
Para começar, os sujeitos dos estudos citados eram controles saudáveis, cujo estado de espírito havia sido manipulado para que ficassem temporariamente tristes. Eles não são realmente depressivos do ponto de vista clínico, condição que pode durar por meses ou até anos. [É interessante notar, fazendo um paralelo com esta constatação do Dr. Friedman, que muitas pesquisas de biólogos evolucionistas dependem de modelos computacionais, de interpretações a partir de fósseis e de extrapolações macroevolutivas a partir de evidências de microevolução. Assim, as conclusões acabam se originando de premissas e dados enviesados, mais ou menos como têm feito os psicólogos evolucionistas.] [...]
Sob olhares mais atentos, o caso dos benefícios evolutivos da depressão apresenta grandes problemas. O fato é que o pensamento reflexivo dos deprimidos não é particularmente eficiente na resolução de problemas. Um de meus pacientes disse certa vez: “Eu pensava sempre da mesma maneira e era incapaz de decidir o que fazer. Essa não é uma forma muito criativa de pensar.”
Além disso, a depressão pode surgir sem a influência de qualquer fator psicossocial, o que torna difícil o argumento de que a depressão seria a resposta a uma situação difícil ou a um problema. O Dr. David J. Kupfer, psiquiatra da Universidade de Pittsburgh, descobriu que o primeiro episódio de depressão é quase sempre precedido por um grande fator estressante, mas os episódios recorrentes podem ser desencadeados por pequenos fatores, ou mesmo sem causa aparente.
Caso a depressão aumentasse a capacidade de solucionar problemas, ela nunca iria se transformar em uma condição crônica ou autônoma, mas é isso o que ocorre em praticamente metade dos pacientes.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a depressão é a principal causa de afastamento do trabalho e a quarta doença mais difundida no mundo, devendo alcançar a segunda posição em 2020. Há evidências claras de que ela é um fator de risco para problemas no coração e diversos estudos demonstram que a depressão prolongada está associada a danos seletivos e permanentes no hipocampo, a região do cérebro responsável pela memória e pelo aprendizado. Se adicionarmos ainda o fato de que de 2 a 12 por cento dos deprimidos cometem suicídio, as “vantagens” da depressão deixam de parecer assim tão boas.
Mas, por que ainda existe essa noção de que a depressão traz benefícios e autoconhecimento? [Dr. Richard, essa teimosia, na verdade, é comum em muitos arraiais evolucionistas, pois os darwinistas costumam sempre salvar a teoria dos fatos.]
Recentemente, um paciente me ajudou a compreender essa questão. Ele era um jovem educado e articulado, infeliz porque o mundo era um lugar horrível, segundo dizia. Já que ele tinha diversos outros sintomas da depressão – insônia, fadiga, pouca libido e baixa autoestima – confirmei seu diagnóstico de depressão clínica e lhe disse que sua visão de mundo provavelmente era um resultado da depressão, não sua causa.
Ele zombou, mas estava disposto a tentar um tratamento cognitivo-comportamental associado ao uso de antidepressivos, caso isso o fizesse se sentir melhor. Meses depois, quando já estava recuperado, eu lhe perguntei mais uma vez sobre sua visão de mundo. Para ele, o mundo continuava terrível, mas ele se sentia melhor. Ainda assim, refletiu melancolicamente que sua alegria recém-descoberta não representava o seu verdadeiro eu, que, segundo ele, seria ensimesmado e criativo.
Essa é a razão pela qual a depressão é cada vez mais romantizada. De acordo com esse pensamento, o que é natural, é bom. Se nós fomos projetados para sofrer de depressão como resposta às doenças da vida, deve haver uma boa razão para isso e nós devemos permitir seu curso natural e doloroso. [Na verdade, fomos projetados para ser felizes, por isso resistimos tanto e sofremos ante a perspectiva da dor. Se a morte e a doença são elementos “naturais” constituintes do processo evolutivo, por que, depois de supostos milhões de anos e com tanto avanço na compressão da evolução, ainda não nos acostumamos a isso? Simples: fomos criados para não morrer e nunca nos conformaremos com esse intruso chamado morte.]
Mas, ao contrário da tristeza comum, o curso natural da depressão pode ser devastador e até letal. Mesmo que a tristeza possa ser útil [pelo menos neste lado da eternidade], a depressão clínica assinala uma falha na adaptação à perda ou a situações estressantes, uma vez que diminui a habilidade de resolver os dilemas que a causaram.
Mesmo que a depressão seja “natural” [coisa que não é] e evolua a partir de um estado emocional que, em algum momento, foi vantajoso, isso não significa que ela seja uma doença mais desejável do que outras. A natureza nos oferece infecções, câncer e problemas do coração, e nós fazemos o possível para evitar esses problemas e tratá-los da melhor forma. Não podemos agir de outra forma com a depressão. [E também não deveríamos ignorar o fato de que a causa primária de tudo isso é o pecado. Tratamento? A aceitação da solução proposta por Jesus, que já pagou o preço por nossa redenção. – MB]
(Richard Friedman, UOL)
Nota: Cuidado, Dr. Friedman, ou você pode terminar como este outro médico!
Não há vantagem evolutiva na depressão
Um psicólogo evolucionista talvez afirmasse que a resposta de minha paciente tinha alguma lógica. Afinal de contas, quando sua rotina normal foi quebrada, ela procurou se isolar, tentou entender a razão para seu abandono e se planejar para o futuro. Talvez você perceba alguma vantagem evolutiva na habilidade que as pessoas depressivas têm de fixar sua atenção de forma rígida e obsessiva em um único problema, desligando-se de tudo e de todos a seu redor.
Alguns estudos parecem dar apoio a essa perspectiva. Paul W. Andrews, psicólogo da Virginia Commonwealth University, relata que sujeitos normais ficam tristes quando tentam resolver um teste de reconhecimento de padrão espacial mais complicado, o que sugere que alguma característica da tristeza possa melhorar a capacidade analítica dos sujeitos.
Com uma abordagem similar, Joseph P. Forgas, psicólogo da Universidade de New South Wales, na Austrália, descobriu que sujeitos tristes obtiveram mais sucesso no reconhecimento de mentiras do que sujeitos felizes submetidos ao mesmo teste. [...]
Resultados como esses podem sugerir alguns benefícios da tristeza, mas, com o tempo, eles foram generalizados para pacientes que sofriam de depressão profunda. Por exemplo, Andrews e o Dr. J. Anderson Thomson Jr., psiquiatra da Universidade da Virgínia, propuseram que a reflexão entre os depressivos seria uma estratégia de adaptação para resolver um problema doloroso. Os psicólogos clínicos, por outro lado, continuam a afirmar que o aspecto sombrio dos depressivos é uma evidência de que seus processos cognitivos estão distorcidos e funcionando de forma errônea. Esses processos devem ser corrigidos, não incentivados. [Assim é com todo tipo de comportamento nocivo ou condenável – aliás, se é condenável é porque existe uma moral absoluta à qual até os ateus e darwinistas apelam. Mesmo a ideia de “sobrevivência do mais apto” deve ser condenada, do ponto de vista sociológico, pelo menos. Resumindo: o pecado é um desvio do plano de Deus; tudo o que causa sofrimento e morte neste planeta não pode ser visto como “normal”, como querem os defensores da teoria da evolução. Devemos sempre lutar contra o mal, a violência, o pecado, as injustiças e promover a disseminação do evangelho no mundo, a fim de que Jesus volte logo e destrua para sempre o mal.]
Há evidências concretas de estudos neuropsicológicos e de imagem cerebral que demonstram que a depressão clínica está ligada a vários tipos de deficiências da memória em todas as faixas etárias e em todos os graus de depressão. Desafiar e modificar os pensamentos disfuncionais da depressão é o objetivo da terapia cognitivo-comportamental, uma das formas mais populares e empiricamente comprovadas de psicoterapia.
Mas quem está certo sobre a depressão, os psicólogos evolucionistas ou os psicólogos clínicos?
Para começar, os sujeitos dos estudos citados eram controles saudáveis, cujo estado de espírito havia sido manipulado para que ficassem temporariamente tristes. Eles não são realmente depressivos do ponto de vista clínico, condição que pode durar por meses ou até anos. [É interessante notar, fazendo um paralelo com esta constatação do Dr. Friedman, que muitas pesquisas de biólogos evolucionistas dependem de modelos computacionais, de interpretações a partir de fósseis e de extrapolações macroevolutivas a partir de evidências de microevolução. Assim, as conclusões acabam se originando de premissas e dados enviesados, mais ou menos como têm feito os psicólogos evolucionistas.] [...]
Sob olhares mais atentos, o caso dos benefícios evolutivos da depressão apresenta grandes problemas. O fato é que o pensamento reflexivo dos deprimidos não é particularmente eficiente na resolução de problemas. Um de meus pacientes disse certa vez: “Eu pensava sempre da mesma maneira e era incapaz de decidir o que fazer. Essa não é uma forma muito criativa de pensar.”
Além disso, a depressão pode surgir sem a influência de qualquer fator psicossocial, o que torna difícil o argumento de que a depressão seria a resposta a uma situação difícil ou a um problema. O Dr. David J. Kupfer, psiquiatra da Universidade de Pittsburgh, descobriu que o primeiro episódio de depressão é quase sempre precedido por um grande fator estressante, mas os episódios recorrentes podem ser desencadeados por pequenos fatores, ou mesmo sem causa aparente.
Caso a depressão aumentasse a capacidade de solucionar problemas, ela nunca iria se transformar em uma condição crônica ou autônoma, mas é isso o que ocorre em praticamente metade dos pacientes.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a depressão é a principal causa de afastamento do trabalho e a quarta doença mais difundida no mundo, devendo alcançar a segunda posição em 2020. Há evidências claras de que ela é um fator de risco para problemas no coração e diversos estudos demonstram que a depressão prolongada está associada a danos seletivos e permanentes no hipocampo, a região do cérebro responsável pela memória e pelo aprendizado. Se adicionarmos ainda o fato de que de 2 a 12 por cento dos deprimidos cometem suicídio, as “vantagens” da depressão deixam de parecer assim tão boas.
Mas, por que ainda existe essa noção de que a depressão traz benefícios e autoconhecimento? [Dr. Richard, essa teimosia, na verdade, é comum em muitos arraiais evolucionistas, pois os darwinistas costumam sempre salvar a teoria dos fatos.]
Recentemente, um paciente me ajudou a compreender essa questão. Ele era um jovem educado e articulado, infeliz porque o mundo era um lugar horrível, segundo dizia. Já que ele tinha diversos outros sintomas da depressão – insônia, fadiga, pouca libido e baixa autoestima – confirmei seu diagnóstico de depressão clínica e lhe disse que sua visão de mundo provavelmente era um resultado da depressão, não sua causa.
Ele zombou, mas estava disposto a tentar um tratamento cognitivo-comportamental associado ao uso de antidepressivos, caso isso o fizesse se sentir melhor. Meses depois, quando já estava recuperado, eu lhe perguntei mais uma vez sobre sua visão de mundo. Para ele, o mundo continuava terrível, mas ele se sentia melhor. Ainda assim, refletiu melancolicamente que sua alegria recém-descoberta não representava o seu verdadeiro eu, que, segundo ele, seria ensimesmado e criativo.
Essa é a razão pela qual a depressão é cada vez mais romantizada. De acordo com esse pensamento, o que é natural, é bom. Se nós fomos projetados para sofrer de depressão como resposta às doenças da vida, deve haver uma boa razão para isso e nós devemos permitir seu curso natural e doloroso. [Na verdade, fomos projetados para ser felizes, por isso resistimos tanto e sofremos ante a perspectiva da dor. Se a morte e a doença são elementos “naturais” constituintes do processo evolutivo, por que, depois de supostos milhões de anos e com tanto avanço na compressão da evolução, ainda não nos acostumamos a isso? Simples: fomos criados para não morrer e nunca nos conformaremos com esse intruso chamado morte.]
Mas, ao contrário da tristeza comum, o curso natural da depressão pode ser devastador e até letal. Mesmo que a tristeza possa ser útil [pelo menos neste lado da eternidade], a depressão clínica assinala uma falha na adaptação à perda ou a situações estressantes, uma vez que diminui a habilidade de resolver os dilemas que a causaram.
Mesmo que a depressão seja “natural” [coisa que não é] e evolua a partir de um estado emocional que, em algum momento, foi vantajoso, isso não significa que ela seja uma doença mais desejável do que outras. A natureza nos oferece infecções, câncer e problemas do coração, e nós fazemos o possível para evitar esses problemas e tratá-los da melhor forma. Não podemos agir de outra forma com a depressão. [E também não deveríamos ignorar o fato de que a causa primária de tudo isso é o pecado. Tratamento? A aceitação da solução proposta por Jesus, que já pagou o preço por nossa redenção. – MB]
(Richard Friedman, UOL)
Nota: Cuidado, Dr. Friedman, ou você pode terminar como este outro médico!
Não há vantagem evolutiva na depressão
Eduardo- Mensagens : 5997
Idade : 54
Inscrição : 08/05/2010
Não há vantagem evolutiva na depressão :: Comentários
Resposta a um leitor: sobre depressão e cosmovisões
[A resposta a seguir foi dada a um leitor que comentou/criticou a postagem “Não há vantagem evolutiva na depressão”.] Prezado D., e-mails como o seu são como uma lufada de esperança de que é perfeitamente possível o bom e educado diálogo entre defensores de cosmovisões variantes. Você não imagina a quantidade de reações mal-educadas que costumo receber, carregadas de argumentos ad hominem. Por isso, dada a sua educação, como eu poderia deixar de lhe responder?
Quero começar dizendo que compreendo perfeitamente sua maneira de pensar (até porque já a esposei, de certa maneira) e a respeito.
Você diz que minha opinião é “influenciada” por minha crença religiosa. E como não seria? Você sabe muito bem que a visão de mundo que defendemos sempre será influenciada por nossos pressupostos filosóficos, por nossas idiossincrasias, preconceitos e formação familiar/acadêmica. O importante é termos consciência disso, especialmente quando vamos interagir (sempre em atitude de respeito) com pessoas que sustentam cosmovisões diferentes, como parece ser o nosso caso.
Agradeço a explicação do processo desencadeador da depressão. Muito elucidativa. Na verdade, pude constatar a veracidade de suas palavras na experiência de alguém muito próximo que experimentou essa triste realidade. O que quis com meus comentários ao texto do Dr. Richard Friedman foi destacar o fato de que nem tudo pode ser explicado do ponto de vista da “teoria-explica-tudo” (darwinismo). Os evolucionistas são especialistas em “sequestrar” pesquisas e descobertas e encaixá-las em sua visão naturalista. Note que o Dr. Richard procura evidenciar a nocividade das consequências extremas da depressão sobre o organismo – essas, sim, nem um pouco vantajosas para a sobrevivência do mais apto, pois podem até mesmo levar a pessoa à morte, na pior das hipóteses, ou desencadear problemas físicos desvantajosos, na “melhor” das hipóteses. Não fosse a intervenção médica/terapêutica, nesses casos, a depressão deixaria de ser “vantajosa”, ainda que seja encarada como consequência indireta.
“Transtornos” herdados. Na verdade, nem precisamos falar apenas de doenças. Podemos ficar com outros aspectos negativos próprios da humanidade: a morte, o envelhecimento, o egoísmo, etc. Tudo isso acaba vindo no “pacote”, quando nascemos. Claro que os naturalistas tentarão ver vantagem até nisso, mas quem disse que essa é a interpretação correta dos fatos? Aqui minha cosmovisão me faz interpretar as coisas de maneira diferente (e por que minha visão estaria necessariamente errada? Que evidências você poderia me apresentar para “provar” que o teísmo está errado? Na verdade, com todo respeito, considero temerária sua posição de não levar a sério a existência de Deus. Certamente, seu posicionamento filosófico não está baseado em fatos e nem o pode; portanto, pense na perda que pode advir disso, caso você esteja errado...).
Permita-me fazer uma citação: “Muitos cristãos caem no que J. I. Packer chama de Erro de Sinaleira de York. No pátio de manobras de trem na cidade de Nova York, há um centro de controle contendo um painel eletrônico que mostra, por meio de luzes, a posição de cada trem no pátio de manobras. Na torre de controle, alguém que vê o painel todo pode entender exatamente por que um trem específico foi colocado num determinado lugar ou por que outro trem ficou num desvio em outro lugar, ainda que, para alguém que fica no mesmo patamar dos trilhos, os movimentos dos trens podem parecer inexplicáveis. O cristão que quer saber por que Deus permite cada fracasso em sua vida tem pedido, diz Packer, para estar na caixa de sinal de Deus. Todavia, tanto em tempos bons como maus, não temos acesso a ela. Portanto, é inútil nos torturarmos tentando descobrir a razão pela qual Deus permitiu que este ou aquele desastre abatesse nossas vidas” (J. I. Packer, Knowing God, p. 110, 111, citado por William Lane Craig, Apologética Para Questões Difíceis da Vida, p. 75).
Esse erro não é apenas dos cristãos. Na verdade, com nossa mente finita, às vezes tentamos entender os motivos do Infinito (inciativa que não está de todo errada, mas deve ser levado em consideração o fato de que muitas atitudes de Deus nos serão incompreensíveis). Deus poderia ter criado um mundo sem dor e sofrimento? Sim, mas não um mundo em que houvesse liberdade de escolha – e a latente possibilidade de que o mal se manifestasse. E se há o mal é porque há o bem. E se ambos podem ser definidos e diferenciados, deve haver um referencial maior para servir de baliza. E se Deus entende que a dor e o sofrimento (não planejados por Ele) podem ajudar em Seu plano maior de resolver esse problema em definitivo, como os pais que levam um filho ao dentista visando ao seu bem? (Mais uma vez, a comparação é tremendamente limitada, mas de certa forma útil.)
Gostaria de lhe sugerir que lesse o livro Em Guarda, do doutor em filosofia e teologia William Lane Craig. Nele, o Dr. Craig trata demoradamente dessas e outras questões que estamos discutindo aqui. Acredite: existem bons argumentos para essas questões e eles deveriam ser considerados por você. Com respeito às ideias criacionistas, indico-lhe o meu livro A História da Vida, no qual agrupo e explico os principais argumentos do modelo.
Quando me referi a “comportamento nocivo ou condenável”, obviamente, não estava me referindo à depressão, mas, sim, a coisas como a violência e a injustiça. Levando a extremos o pensamento evolucionista, até mesmo o tratamento de coisas “vantajosas” como a depressão seria impróprio. Por que procurar a cura (ou amenizar os efeitos) de algo que foi selecionado por ser vantajoso? Aliás, por que cuidamos de doentes e portadores de deficiências? Deixemos a seleção agir para o bem da espécie... Claro que isso é absurdo, tendo em vista a compaixão que nos move (boa parte de nós, pelo menos). Mas quem disse que – levando-se em conta que nossos processos mentais são oriundos de um emaranhado de matéria, moléculas e átomos, resultado de milhões de anos de evolução – esses sentimentos são corretos e relevantes? Num contexto puramente naturalista, por que devo me pautar pelo amor, pela compaixão e por outros sentimentos tidos como nobres?
Você fala em “saber se respeitar”, “saber os seus limites”. Mas eu pergunto: Quem ou o que determina esses limites? Em nossa sociedade fortemente influenciada pelos valores judaico-cristãos, prega-se a solidariedade; em outras, as pessoas se devoram umas às outras, “numa boa”. Quem determina que Madre Tereza de Calcutá agiu corretamente e Hitler, não? Curiosamente, a “disposição humana” a que você se refere, quando agiu de modo diverso do pregado pelo cristianismo (mesmo quando cristãos fizeram isso), ocasionou problemas e sofrimento desnecessários.
Que evidências concretas você pode me apresentar de que a moral/ética não existe? O que deve caracterizar um comportamento como “valioso”? Valioso e relação a quê? Quem ou o que determina o que não tem valor, nesse caso?
Você diz: “Se prender a princípios que não apresentem correspondência com a realidade em questão é simplesmente se declarar perdedor, pois, apesar de esses sentimentos [como o amor, por exemplo] serem grandemente universais, nem sempre eles nos favorecem ou podem ser aplicáveis a certos contextos.” Você se dá conta da gravidade e das sérias implicações de suas palavras, se levadas às últimas consequências? Ditadores adoram esse tipo de pensamento e se justificam com ele. É justamente por isso que o cristianismo (se corretamente vivido) é loucura para muita gente. Como assim dar a outra face ao que me agride? Como assim amar quem me persegue? Como assim dar a vida para salvar quem não está nem aí para mim? Bem, foi exatamente isso que o fundador do cristianismo fez. Ele viveu sob os princípios do Céu e não perguntou se eles tinham correspondência com a realidade de um mundo de pecado. Alguns podem até considerá-Lo perdedor por isso, mas Ele mudou a história do mundo e, mais importante do que isso, tem mudado a história de muitas pessoas que resolvem viver essa “loucura”.
Jamais afirmei que “não há um processo de mudança e herança de características biológicas”. Dizer isso seria ignorância científica. O que insisto em defender, como criacionista, é que, embora haja mudanças e transmissão de características genéticas, elas não são e nunca foram responsáveis por acréscimo de informação complexa e específica necessária para aumentar a complexidade dos seres vivos. Defendo a diversificação de baixo nível (microevolução), posto que é fato, mas me oponho à macroevolução, pois se trata de extrapolação metafísica a partir de dados interpretados sob a ótica darwinista. A herança de caracteres ruins é resultado de um processo “natural” de decadência desencadeado pelo pecado (sei, você questiona isso, pois não aceita a revelação que Deus faz dessa história). Mas logo isso será resolvido pelo mesmo Deus que nunca quis que Seus filhos livres fizessem a má escolha que fizeram.
Mais adiante, em seu e-mail, você escreve: “Não tenho intenções de entrar em discussões filosóficas [na verdade, já entramos, pois é inevitável], mas você não acha que vocês (religiosos) são os que mais fazem isso? E ainda acusam quem faz ciência séria [você não sabia que muitos criacionistas fazem ciência séria? Posso lhe dar vários nomes] e que, obviamente, está mais qualificado profissionalmente [outro juízo de sua parte] para estudar essas coisas desse comportamento que vocês são os que mais praticam a troco de politicagem e da vontade, com todo o respeito, infantil de disputar a verdade? [ao acusar religiosos de fazer politicagem, infelizmente, você toma a parte pelo todo; eu poderia cometer a mesma injustiça se acusasse os cientistas de fraudulentos com base no fato de que muitos deles forjam evidências e manipulam dados em pesquisas – e isso está documentado]. Será que é tão doloroso assim estar errado sobre algo?” Na verdade (pelo menos falo por mim, que sou religioso), não se trata de “disputar” a verdade, mas, sim, de seguir as evidências aonde forem dar. Você diz não se preocupar com a ideia de Deus, com a possibilidade de Ele existir, embora haja sérios argumentos na defesa dessa verdade; embora muita gente séria se dedique a essa discussão. Por que evita o assunto? Por que não o encara de maneira séria, analisando os argumentos, concedendo ao tema o “benefício da dúvida” (sincera)? Por que não ser um cético de verdade que, segundo Chesterton, é aquele que duvida até de si mesmo? Não me preocupo em “disputar a verdade”, mas, se ela existe, quero conhecê-la e estar ao lado dela, afinal, como disse Richard Whately, “mais importante do que ter a verdade do nosso lado é estar do lado da verdade”.
Você cita minhas palavras: “Na verdade, fomos projetados para ser felizes, por isso resistimos tanto e sofremos ante a perspectiva da dor. Se a morte e a doença são elementos ‘naturais’ constituintes do processo evolutivo, por que, depois de supostos milhões de anos e com tanto avanço na compressão da evolução, ainda não nos acostumamos a isso? Simples: fomos criados para não morrer e nunca nos conformaremos com esse intruso chamado morte.”
E então questiona: “E se eu pedir qualquer fato que demonstre suas palavras acima, é muito provável que você nada terá a fazer, visto que não há como demonstrar ‘elementos não naturais’ e muito menos que nós somos ‘criados para não morrer’.”
Na verdade, os cientistas ainda não compreendem devidamente o que desencadeia, de repente, o processo degenerativo que leva à morte? Por que as células morrem? Por que o organismo humano (antes capaz de se renovar constantemente) a certa altura da vida começa a morrer? Os darwinistas podem até teorizar que a morte tem lá suas vantagens, mas não terão respondido à pergunta. Algo parecido ocorre quando se pede que eles expliquem por que e como teria surgido a reprodução sexuada. Vão nos dizer que o sexo é vantajoso, do ponto de vista evolutivo. Ok. Isso é sabido. Mas a pergunta é como surgiu a reprodução sexuada, que depende de duas mutações distintas em organismos distintos, numa mesma geração e num mesmo ambiente, a fim de que esses dois organismos pudessem se encontrar e descobrir que essas duas mutações distintas originaram dois complexos sistemas reprodutores totalmente diferentes, mas totalmente compatíveis?
É verdade que não posso fornecer evidências científicas de que não fomos criados para morrer e que não é possível demostrar elementos não naturais, mas posso reverter esse argumento e perguntar: Você pode me provar cientificamente que o naturalismo filosófico é científico? Se não (como prevejo), por que essa visão metafísica serve de base para a ciência, numa confusão (deliberada ou não) entre método e pressupostos? O método científico (ou naturalismo filosófico) é perfeitamente válido como ferramenta humana usada para entender a realidade física que nos rodeia. Mas e se essa realidade extrapolar a capacidade dessa ferramenta? Se houver algo além da nossa capacidade de aferição? Usar o método científico (que lida apenas com o natural) para fazer afirmações sobre uma realidade que pode ser muito maior do que sua capacidade de observação seria como tentar medir estrelas com fita métrica.
Este é o ponto principal da discórdia: criacionistas não se opõem ao método científico que nos foi legado por cientistas criacionistas como Galileu e Newton. Se opõem a interpretações filosóficas que querem posar de método. Criacionistas nunca negam que sua cosmovisão se compõe de aspectos científicos e teológicos. Como têm muitos (mas muitos mesmo) motivos para crer que a Bíblia é uma fonte segura de informações (mas esse é assunto para outra discussão), criacionistas procuram não limitar sua visão da realidade a apenas uma lente: a da ciência. Se a teologia bíblica lhes parece segura, por que não se valer também dessa lente? Por que ignorar a priori a ciência ou a teologia, como se elas não fossem compatíveis? O naturalismo filosófico e o teísmo bíblico são incompatíveis, enquanto filosofia. No entanto, o naturalismo metodológico nada tem que ver com isso.
Você argumenta que minha visão cristã acaba sendo relativa e que eu tentarei, de qualquer maneira, salvaguardar minha crença tentando não distorcer minhas palavras. A verdade é que sempre pensei que Deus não precisa de advogado. Se o cristianismo é verdadeiro, ele se sustentará por si próprio. Se for falso, acabará sendo superado. O que não posso deixar de fazer é criticar respeitosamente uma teoria que posa de puramente científica (método), quando, na verdade, está entranhada na filosofia (naturalismo). Diferentemente dos darwinistas, os criacionistas não procuram esconder sua vertente filosófica/teológica. Por isso, não preciso “distorcer” minhas palavras, uma vez que sempre vou admitir que há aspectos na cosmovisão criacionista que são aceitos unicamente pela fé – mas uma fé calcada em evidências suficientes, portanto, uma fé racional.
A fé cristã não é relativista, pois é fundamentada na crença de que existe uma verdade absoluta que pode ser perscrutada por mentes racionais – na verdade, a própria conectividade entre a mente e a realidade que a cerca (o que torna possível compreender o mundo em que estamos) revela uma criação com propósito. Poderíamos simplesmente não entender as leis da física, por exemplo. Ou então relativizar todo conhecimento humano. Mas, nessas horas, sendo relativista ou não, acreditamos ser possível entender conceitos absolutos. O relativista defende a verdade de que tudo é relativo, menos essa verdade, em si. E, às vezes, nem se dá conta de que ao defender a inexistência de verdades absolutas está, na verdade, defendendo uma. O cristão não precisa se contradizer dessa forma, pois parte do pressuposto de que existe, sim, verdade absoluta: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, disse Jesus. Se Ele, Deus, é o referencial de verdade, pois é a verdade, podemos, sim, falar em “moral absoluta”. Agora, se Deus não existir, o relativismo realmente passa a ser defensável e o mundo pode virar o caos.
Depois de ler o que eu escrevi sobre a redenção, você disse: “Não vejo meios de desenvolver uma lógica partindo do princípio de um ser perfeito fazendo algo imperfeito, para começarmos. Segundo, se nós somos capazes de perdoar uma desobediência entendendo seus motivos, não vejo motivos para um ser tido como superior não o fazer de forma ainda mais louvável, e não replicando todo o sofrimento e desgraça como um legado de algo passado, similar a um ressentimento humano.”
Vou repetir: Deus não criou “algo imperfeito”, criou seres livres com o potencial para desobedecer, se assim o quisessem. São coisas diferentes. A imperfeição, num contexto de pecado, se originou da deliberada escolha errada consciente de criaturas, não do plano original do Criador. Mas o perdão, por parte de Deus, realmente veio “de forma ainda mais louvável” do que qualquer ser criado poderia conceber. A consequência principal do pecado (ou seja, do afastamento de Deus, a fonte da vida) foi a morte. Longe de Deus (e esse afastamento é o que caracteriza o pecado), o ser humano se tornou mortal – e essa mortalidade foi herdada por todos os seres humanos, não o pecado de Adão. A sentença para os desobedientes que escolheram se afastar da Vida foi a morte eterna, mas Deus a experimentou em nosso lugar, na pessoa de Jesus. E na volta dEle, que cremos estar próxima, Ele solucionará esse problema definitivamente, concedendo vida eterna aos que aceitaram Seu plano redentor. Claro que, para uma mente naturalista que rejeita as evidências da existência de Deus e da confiabilidade da Palavra dEle, isso que estou dizendo é loucura. Por isso mesmo Paulo afirma que a mensagem da cruz é loucura para os que se perdem (1Co 1:18).
Um abraço e, mais uma vez, obrigado por manifestar sua opinião.
Michelson Borges
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