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Vida e obra do profeta Jeremias

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O profeta Jeremias é um dos nove personagens chamados Jeremias encontrados na Tanakh (Bíblia Hebraica) que corresponde ao Antigo Testamento nas Bíblias Cristãs, sendo que esse nome é empregado 158 vezes na Bíblia[1]. O significado do nome é incerto, existindo duas teses aceitáveis: "Iahweh exalta", "Iahweh é sublime" ou "Iahweh abre (=faz nascer)"[2].

Jeremias era um rapaz muito humilde. Seria filho de Hilquias (ou Helcias), um dos sacerdotes de Anatote, no território de Benjamim a menos de cinco quilómetros a nordeste do Monte do Templo em Jerusalém. (Jr 1:1; Js 21:13, 17, 18).

Embora de família sacerdotal, está ligado às tradições proféticas do Norte, principalmente a Oséias[2], e não às tradições do sacerdócio e da corte de Jerusalém. Como Miquéias, ele pertence ao mundo camponês. De maneira crítica, ele traz consigo a visão dos camponeses sobre a situação do país[3].

É considerado o autor de dois dos livros da Bíblia:

Livro de Jeremias
Livro das Lamentações de Jeremias

História

O profeta Jeremias (na frente) feito em pedra sabão por Aleijadinho no adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas do CampoO pai de Jeremias, Hilquias, não era o sumo sacerdote que levava este nome, da linhagem de Eleazar, provavelmente era da linhagem de Itamar[4] e possivelmente descendeu de Abiatar, chefe dos levitas em Jerusalém na época do rei David, que foi desterrado para Anatot por Salomão 1Rs 2:26-27[2].

Jeremias era pesquisador e historiador, além de profeta. Acredita-se que tenha sido ele o autor do livro que leva seu nome e possivelmente os dois livros de Reis (tenha escrito adicionando-lhe relativos dados por Natã e Gade ( I Crônicas 29:29) e outros escritores. É a história dos reis de Judá e Israel, desde Davi até Acabe e Jeosafá, num período de 118 a 125 anos), abrangendo a história de ambos os reinos (Judá e Israel) desde o ponto em que os livros de Samuel a deixaram (isto é, na última parte do reinado de Davi sobre todo o Israel), até o fim de ambos os reinos, e após, a queda de Jerusalém, teria escrito o Livro das Lamentações.

Os relatos biográficos em terceira pessoa que encontramos no Livro de Jeremias, que são atribuídos a Baruc, não se encontram em ordem cronológica, entretanto, por meio da seguinte sequência de trechos: 19:1-20:6; 26; 45; 28-29; 51:59-64; 34:8-22; 37-44, pode-se fazer uma leitura destes relatos na ordem cronológica[5]

A atividade profética de Jeremias se iniciou entre os anos de 626 ou 627 AC[2] (1:2; 25:3), quando ele ainda era jovem (1:6), razão pela qual teria demonstrado receio ao assumir tal tarefa[6], e prosseguiu até 586 AC, podendo ser dividida em quatro períodos[3][2]:

Primeiro período: durante o reinado de Josias (627 a 609 AC)

Com apenas oito anos de idade, Josias foi nomeado rei pelo "povo da terra", expressão que indica a camada rural da sociedade[3]. No início deste reinado, Jeremias proclamou um julgamento contra Israel e Judá por causa de sua infidelidade a Iahweh e sua adesão a outros deuses (idolatria), especialmente os deuses que garantiam a fertilidade da natureza, os chamados baalim[2].

No âmbito internacional, a situação política está mudando rapidamente: a Assíria, grande potência da época, se enfraquece cada vez mais. Josias, já maior de idade, aproveita esse enfraquecimento para realizar ampla reforma e procura tomar o território que antes era do Reino de Israel Setentrional, e que pertencia à Assíria desde a queda de Samaria em 722 AC[3].

Josias deixa de pagar os impostos cobrados pelos dominadores e promove a reforma religiosa (cf. 2Rs 22,1-23,27), na qual tenta eliminar todos os ídolos do país e estabelecer novo relacionamento social centrado na Lei[3]. Estranhamente Jeremias não faz nenhuma alusão a esta reforma social e religiosa[2].

Foi um período de prosperidade e otimismo, por isso Jeremias emite bom conceito sobre Josias (Jr 22,15-16)[3].

Foram escritos neste período: 2:1-4:4 e 30:1-31:37[2].

Segundo período: durante o reinado de Joaquim (609 a 598 AC)

Com a decadência da Assíria (queda de Nínive em 612 AC[7]), outros povos entram no cenário: citas, medos, babilônios e também os egípcios que tentam ressurgir depois de um período decadente. Com isso, a Palestina volta a ser palco de disputas políticas e militares. Josias morre em Meguido[7], em 609 AC (2Rs 23:29), quando tenta impedir a incursão do Faraó Necao, que procura deter o avanço da Babilônia.

Necao depõe Joacaz, que sucedera Josias, e coloca no trono de Judá o despótico Joaquim. O povo detestava Joaquim, e Jeremias critica violentamente esse rei (Jr 22,13-19). É dessa época o famoso Discurso sobre o Templo (Jr 7,1-15; cf. cap. 26), que quase custou a vida do profeta[3].

O Discurso contra o Templo, que foi conservado em duas versões: 7,1-15 e 26,1-24. O primeiro destaca o conteúdo, o segundo as circunstâncias do discurso. Ocorreu entre setembro de 609 e abril de 608 AC, quando Jeremias colocou-se no pátio do Templo e denuncia a confiança da população judaíta no Templo de Iahweh como falsa e previu a destruição do santuário, tal qual outrora acontecera com Silo.
Na opinião dos sacerdotes do Templo, Jeremias cometera uma dupla blasfêmia: falara em nome de Iahweh e falara contra a casa de Iahweh. Jeremias confirmou suas palavras perante o tribunal e só não morreu porque alguém se lembrou do profeta Miquéias, que, um século antes, pregara destino parecido para o Templo e para a cidade e nada sofrera.
No começo de seu governo, Joaquim preocupa-se em construir um novo palácio, exatamente no momento em que a crise econômica se agravava, pois Judá estava obrigado a pagar tributos ao Egito. Jeremias denuncia o governo de Joaquim como ganancioso, assassino e violento (22:13-19), pois não cumpre sua função real de exercer a justiça e o direito e de proteger os mais fracos, e vai dizer ao rei que ele, quando morrer, nem merece ser sepultado, mas como um jumento deverá ser jogado para fora das muralhas de Jerusalém, pois, ao contrário de seu pai, Joaquim "não conhece Iahweh".

A Babilônia surge como grande potência, sob o reinado de Nabucodonosor. Jeremias adverte os israelitas que os babilônios, em breve, invadirão o país (4:5-6:30; 5:15-17; 8:13-17). Possivelmente por volta de 605 AC, quando Nabucodonosor venceu o Faraó Necao II e ameaçou Judá, o profeta foi ao pátio do Templo e anunciou a destruição de Jerusalém (19:14-20,6), e, por isso, foi preso por Fassur, chefe da guarda do Templo, surrado e colocado no tronco por uma noite. Depois disso, foi-lhe proibida (36,5), a entrada no Templo[2].

Assim mesmo, Jeremias continua denunciando o povo que se esqueceu de Deus, por falsear o culto, pela falsa segurança, pelas idolatrias e pelas injustiças sociais. E aponta os principais responsáveis: são as pessoas importantes que detêm o poder em Jerusalém (rei, ministros, falsos profetas, sacerdotes)[3], para isso convoca o escriba Baruc e dita-lhe as Profecias de julgamento contra a nação (36:1-32), no quarto ano do governo de Joaquim, em 605 AC.

Em dezembro de 604 AC Jeremias manda Baruc ler o livro, em um momento em que Nabucodonosor atacava a cidade filistéia de Ascalon, vizinha de Judá, é o momento em que o profeta alerta: O "inimigo do norte" está às portas, ou a conversão ou a destruição.

Joaquim mandou queimar o escrito e prender Jeremias e Baruc (36:21-26), que se esconderam e não foram achados. Posteriormente, Jeremias manda que Baruc escrever tudo de novo e ainda acrescenta ao livro outras palavras (36,27-32).

Jeremias também luta para desmascarar os falsos profetas (14:13-16; 23:13-40) que, segundo o profeta: falam em seu próprio interesse, fortalecem as mãos dos perversos, para que ninguém se converta de sua maldade, seduzem o povo com suas mentiras e seus enganos, roubando um do outro a palavra de Iahweh[2].

Jeremias estava com a razão, e sua visão realista se confirmou: em 598 AC, o exército babilônio estava às portas de Jerusalém. Nessa época, o rei Joaquim morreu, provavelmente assassinado. Seu filho e substituto Jeconias, não teve tempo para nada: após três meses Jerusalém era invadida. Então o profeta, juntamente com parte da elite judaica, foi levado para o Exílio na Babilônia em 597 AC. Sedecias, tio de Jeconias, foi instalado por Nabucodonosor, para reinar em Jerusalém[3].

Jeremias apregoara que este castigo seria decorrente ruptura da aliança. Em Judá, Jeremias só via rebeldia contra Iahweh, levando o povo a maldades e crimes sem conta. Não havia o mínimo "conhecimento de Deus", que só é possível através da prática do direito, da justiça, da solidariedade. Os poderosos tramam sistematicamente contra o povo, todos buscam desesperadamente a riqueza e não há paz. A mentira domina, desde o ensinamento dos profetas à lei dos sacerdotes, levando o país ao caos. Todos se tornam inimigos de todos. Impera a idolatria. O fim será trágico, segundo os capítulos 8 e 9 de Jeremias.

Jeremias constata a ausência do direito e da verdade entre as pessoas comuns (5:1), mas maior corrupção encontra entre os grandes e poderosos, que não agem mal por ignorância, senão por determinação consciente e persistente (5:4-5). Quanto mais a crise nacional se aprofunda, mais os líderes se recusam a encontrar soluções. Só procuram satisfazer seus interesses imediatos e deixam o país afundar: "Eles cuidam da ferida do meu povo superficialmente, dizendo: 'Paz! Paz!', quando não há paz", (6:14).

Em 5:26-28 são descritos os poderosos e suas armadilhas para apanhar o povo e escravizá-lo impunemente[2].

Terceiro período: durante o reinado de Sedecias (597 a 586 AC)

Sedecias assume o trono com 21 anos de idade, para dirigir um Judá arruinado, com várias cidades destruídas e uma economia desorganizada[2], se submete aos babilônios e se mostra indeciso. Nesse momento surge uma disputa para determinar a identidade do Povo de Deus entre aqueles que foram para o Exílio na Babilônia e aqueles que ficaram em Judá[3].

Jeremias se nega a participar de uma visão simplista (cap. 24) e coloca o assunto dentro da política realista: Sedecias e a corte de Jerusalém são incapazes de salvar o povo do desastre. Por isso os deportados ainda são os que podem trazer esperança, pois estão aprendendo uma dura lição. Essa idéia leva Jeremias novamente para a prisão[3].

Pressionado por seus oficiais, Sedecias tenta armar uma revolta contra a Babilônia, que, fracassa, conforme previsto por Jeremias. Jerusalém é sitiada pelos babilônios, nesse momento, Jeremias também vê nos camponeses uma luz salvadora (32,15). Em 587 AC ocorre a segunda deportação[3].

Quarto período: depois da queda de Jerusalém (a partir de 586 AC)

Em 586 AC, Nabucodonosor resolve destruir Jerusalém totalmente: incendeia o Templo, o palácio, as casas e derruba as muralhas. Mas permite que Jeremias fique no país, então, o profeta vai viver com Godolias, novo governador da Judéia[3].

Nesse mesmo ano, Godolias é assassinado por um grupo antibabilônico, que se vê forçado a fugir para o Egito, obrigando Jeremias a ir com eles. Esse grupo passa a residir na cidade de Táfnis, cidade situada a leste do Delta do Nilo, onde passa a repreender a idolatria que seus conterrâneos ali praticavam (40,7-44,30).

Segundo o apócrifo Vida dos Profetas, escrito por um judeu da Palestina no séc. I DC Jeremias foi apedrejado e morto por seus conterrâneos quando residia no Egito[2].

Balanço

Pode-se dizer que a missão de Jeremias fracassou em querer que seu povo retornasse à genuína aliança com Deus. Ele se tornou uma espécie de Moisés fracassado, que viu seu povo perder suas instituições e a própria terra[3]. Se apresenta como um grande solitário (15:17), incompreendido e perseguido até pelos membros de sua família (12:6; 20:10; 16:5-9), nunca chegou a ser pai (16:1-4), foi arrastado contra a sua vontade para o Egito, nenhum vestígio restará de sua tumba[8].

No entanto, sua confiança no Deus que é sempre fiel lhe deu a capacidade de mostrar, ao povo e a nós, que esse mesmo Deus manterá seu relacionamento conosco, sem precisar de instituições mediadoras (31,31-34)[3]. Ao colocar em primeiro plano os valores espirituais, destacando o relacionamento íntimo que a alma deve ter com Deus, ele antecipou elementos da Nova Aliança; e sua vida de sofrimentos a serviço de Deus, pode ter inspirado o Segundo Isaías na construção da Imagem do Servo (Isaías 53)[7].

Conclusão

Jeremias foi um crítico da conduta do seu povo e com os julgamentos que este sofreu, mediante uma visão de que Israel era a nação de Deus, vinculada a Ele por meio de um pacto e sujeita à sua Lei, o que eles violavam claramente naqueles dias praticando a idolatria, desrespeitando o descanso no dia do sábado e não libertando os escravos no Ano do Jubileu.

As denúncias de Jeremias reivindicavam a atenção dos príncipes e do povo, para que fossem responsáveis pela Lei, a qual violavam constantemente. Suas críticas eram feitas em discursos acalorados em plena praça pública. Seus principais alvos eram os sacerdotes, profetas, governantes e todos aqueles que seguiam o legalismo do "proceder popular".

Todavia, ele reconhecia que sua comissão era também de 'construir e plantar' (Jr 1:10). Chorou diante da calamidade que sobreviria a Jerusalém (Jr 8:21, 22; 9:1).

O livro de Lamentações constitui evidência do seu amor e da sua preocupação com o povo de Jeová.

Apesar das atitudes para com ele, Jeremias suplicou ao Rei Zedequias, o rei vassalo, para que continuasse a viver(Jr 38:4, 5, 19-23)

Segundo os relatos em seu livro, Jeremias não se julgava justo aos seus próprios olhos, mas incluía a si mesmo ao admitir a iniqüidade daquela nação (Jr 14:20, 21). Depois de liberto por Nebuzaradã, hesitou em abandonar aqueles que estavam sendo levados para o cativeiro babilônico, talvez achando que devia compartilhar a sorte deles, ou desejando continuar servindo aos interesses espirituais deles (Jr 40:5).

Por vezes, em sua longa carreira, Jeremias ficou desanimado e necessitou a confirmação do apoio de Jeová, mas, mesmo em adversidade, não deixou de invocar a Jeová, pedindo-lhe ajuda. - Jr 20:7-13.

Encontrou bons companheiros, a saber, os recabitas, Ebede-Meleque e Baruque. Por meio destes amigos, foi ajudado e livrou-se da morte.

ProfeciasJeremias encenou para Jerusalém vários pequenos dramas como símbolos da condição dela e da calamidade que lhe sobreviria. Entre eles:

A visita à casa do oleiro (Jr 18:1-11) e o incidente com o cinto estragado. (Jr 13:1-11) Ordenou-se a Jeremias que não se casasse; isto servia de aviso das "mortes por enfermidades", das crianças que nascessem naqueles últimos dias de Jerusalém. (Jr 16:1-4) Ele quebrou uma botija diante dos anciãos de Jerusalém, qual símbolo do impendente destroçamento da cidade. (Jr 19:1, 2, 10, 11) Comprou de volta um campo de Hanamel, filho de seu tio paterno, como figura da restauração que viria depois do exílio de 70 anos, quando se comprariam novamente campos em Judá. (Jr 32:8-15, 44) Lá em Tafnes, no Egito, ele ocultou grandes pedras no terraço de tijolos da casa de Faraó, profetizando que Nabucodonosor fixaria seu trono sobre aquele exato ponto. - Jr 43:8-10.

Relação com outras figuras bíblicas

O profeta Daniel com base no estudo das palavras de Jeremias a respeito do exílio de 70 anos, pôde fortalecer e encorajar os judeus a respeito da proximidade da sua libertação. (Dn 9:1, 2; Je 29:10) Esdras trouxe à atenção o cumprimento das palavras dele. (Ed 1:1; veja também 2 Cr 36:20, 21.)

O apóstolo Mateus apontou para o cumprimento de uma das profecias de Jeremias nos dias em que Jesus era criancinha. (Mt 2:17, 18; Jr 31:15)

O autor de Hebreus mencionou os profetas, entre os quais se achava Jeremias, cujos escritos citou, em Hebreus 8:8-12. (Jr 31:31-34) A respeito destes homens, o mesmo escritor disse que "o mundo não era digno deles", e que 'receberam testemunho por intermédio de sua fé'. - Hb 11:32, 38, 39.

Referências1.↑ jeremias, acessado em 12 de agosto de 2010
2.↑ a b c d e f g h i j k l m Perguntas mais Frequentes sobre o Profeta Jeremias, acessado em 12 de agosto de 2010
3.↑ a b c d e f g h i j k l m n o Jeremias acessado em 13 de agosto de 2010
4.↑ Airton José da Silva sustenta que seria da casa de Eli em Perguntas mais Frequentes sobre o Profeta Jeremias, acessado em 14 de agosto de 2010
5.↑ Bíblia de Jerusalém, Nova Edição Revista e Ampliada, Ed. de 2002, 3ª Impressão (2004), Ed. Paulus, São Paulo, p 1.239
6.↑ Por outro lado, a Tradução Ecumênica da Bíblia, Ed. Loyola, São Paulo, 1994, p 709, pondera que é possível que o relato do início da vocação profética no início do Reinado de Josias, baseie-se numa tradição tardia, e que a atividade profética de Jeremias teria se iniciado entre 609 e 608 AC
7.↑ a b c Bíblia de Jerusalém, cit., p 1.240
8.↑ Tradução Ecumênica da Bíblia, cit., p 707
9.↑ a b Tradução Ecumênica da Bíblia, cit., p 1.324
10.↑ Bíblia de Jerusalém, cit., p 1.241

O Livro de Jeremias

É o segundo dos livros dos principais profetas da Bíblia, vem depois do Livro de Isaías e antes do Livro das Lamentações. Os capítulos 1 a 24 registram muitas das suas profecias. Os capítulos 24 a 44 relatam suas experiências. Os remanescentes contém Profecias contra as nações. É provável que seu auxiliar, Baruque, tenha reunido e organizado grande parte do livro. Na história de Babel, foi usado o método Atbash de criptografia.

O autor

Jeremias (em hebraico: יִרְמְיָהוּ, Yirməyāhū) foi um profeta hebreu conhecido por sua integridade e discursos duros contra o pecado.

Filho do sacerdote Hilquias (ou Helcias), da Tribo de Benjamim[1][2], nasceu entre 650 a.C. e 640 AC[3] em Anadote da Tribo de Benjamim[3], um pequeno povoado a nordeste de Jerusalém, e morreu no Egito, em 580 a.C.. Foi sacerdote[4] do povoado de Anadote e previu, segundo a Bíblia,[5][6] entre outras coisas, a invasão babilônica - Nabucodonosor atacou Israel em 597 a.C. e novamente em 586 a.C. (ou 607 a.C., segundo a cronologia dos Testemunhas de Jeová), quando os caldeus destruíram Jerusalém e queimaram o Templo.

O significado do nome é incerto, existindo duas teses aceitáveis: "Iahweh exalta", "Iahweh é sublime" ou "Iahweh abre (=faz nascer)", era um nome bastante comum nos tempos bíblicos, são conhecidos pelo menos sete personagens com este nome[3] que é empregado 158 vezes na Bíblia[7].

Embora de família sacerdotal, está ligado às tradições proféticas do Norte, principalmente a Oséias[3], e não às tradições do sacerdócio e da corte de Jerusalém. Como Miquéias, ele pertence ao mundo camponês. De maneira crítica, ele traz consigo a visão dos camponeses sobre a situação do país[1].

Atividade

Acredita-se que o livro tenha começado a ser escrito por volta de 605 a.C., quando Jeremias, preso, começa a ditá-lo a seu secretário Baruc (36:1.2.4)[8], no quarto ano do reinado de Jeoaquim, quando iniciou-se efetivamente o ministério do profeta, e Deus teria lhe ordenado que escrevesse suas experiências num rolo. Contudo, a obra só foi completada após a destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, sendo que os acontecimentos narrados não se acham em ordem cronológica no livro.

Por outro lado, a Edição Pastoral da Bíblia sustenta que a atividade profética de Jeremias se iniciou entre os anos de 626 ou 627 AC[3] (1:2; 25:3), quando ele ainda era jovem (1:6)[9] e prosseguiu até 586 AC, e pode ser dividida em quatro períodos[1][3]:

Primeiro período: durante o reinado de Josias (627 a 609 AC)

Com apenas oito anos de idade, Josias foi nomeado rei pelo "povo da terra", expressão que indica a camada rural da sociedade[1]. No início deste reinado, Jeremias proclamou um julgamento contra Israel e Judá por causa de sua infidelidade a Iahweh e sua adesão a outros deuses (idolatria), especialmente os deuses que garantiam a fertilidade da natureza, os chamados baalim[3].

No âmbito internacional, a situação política está mudando rapidamente: a Assíria, grande potência da época, se enfraquece cada vez mais. Josias, já maior de idade, aproveita esse enfraquecimento para realizar ampla reforma e procura tomar o território que antes era do Reino de Israel Setentrional, e que pertencia à Assíria desde a queda de Samaria em 722 AC[1].

Josias deixa de pagar os impostos cobrados pelos dominadores e promove a reforma religiosa (cf. 2Rs 22,1-23,27), na qual tenta eliminar todos os ídolos do país e estabelecer novo relacionamento social centrado na Lei[1]. Estranhamente Jeremias não faz nenhuma alusão a esta reforma social e religiosa[3].

Foi um período de prosperidade e otimismo, por isso Jeremias emite bom conceito sobre Josias (Jr 22,15-16)[1].

Foram escritos neste período: 2:1-4:4 e 30:1-31:37[3].

Segundo período: durante o reinado de Joaquim (609 a 598 AC)

Com a decadência da Assíria (queda de Nínive em 612 AC[10]), outros povos entram no cenário: citas, medos, babilônios e também os egípcios que tentam ressurgir depois de um período decadente. Com isso, a Palestina volta a ser palco de disputas políticas e militares. Josias morre em Meguido[10], em 609 AC (2Rs 23:29), quando tenta impedir a incursão do Faraó Necao, que procura deter o avanço da Babilônia.

Necao depõe Joacaz, que sucedera Josias, e coloca no trono de Judá o despótico Joaquim. O povo detestava Joaquim, e Jeremias critica violentamente esse rei (Jr 22,13-19). É dessa época o famoso Discurso sobre o Templo (Jr 7,1-15; cf. cap. 26), que quase custou a vida do profeta[1].

O Discurso contra o Templo, que foi conservado em duas versões: 7,1-15 e 26,1-24. O primeiro destaca o conteúdo, o segundo as circunstâncias do discurso. Ocorreu entre setembro de 609 e abril de 608 AC, quando Jeremias colocou-se no pátio do Templo e denuncia a confiança da população judaíta no Templo de Iahweh como falsa e previu a destruição do santuário, tal qual outrora acontecera com Silo.
Na opinião dos sacerdotes do Templo, Jeremias cometera uma dupla blasfêmia: falara em nome de Iahweh e falara contra a casa de Iahweh. Jeremias confirmou suas palavras perante o tribunal e só não morreu porque alguém se lembrou do profeta Miquéias, que, um século antes, pregara destino parecido para o Templo e para a cidade e nada sofrera.
No começo de seu governo, Joaquim preocupa-se em construir um novo palácio, exatamente no momento em que a crise econômica se agravava, pois Judá estava obrigado a pagar tributos ao Egito. Jeremias denuncia o governo de Joaquim como ganancioso, assassino e violento (22:13-19), pois não cumpre sua função real de exercer a justiça e o direito e de proteger os mais fracos, e vai dizer ao rei que ele, quando morrer, nem merece ser sepultado, mas como um jumento deverá ser jogado para fora das muralhas de Jerusalém, pois, ao contrário de seu pai, Joaquim "não conhece Iahweh".

A Babilônia surge como grande potência, sob o reinado de Nabucodonosor. Jeremias adverte os israelitas que os babilônios, em breve, invadirão o país (4:5-6:30; 5:15-17; 8:13-17). Possivelmente por volta de 605 AC, quando Nabucodonosor venceu o Faraó Necao II e ameaçou Judá, o profeta foi ao pátio do Templo e anunciou a destruição de Jerusalém (19:14-20,6), e, por isso, foi preso por Fassur, chefe da guarda do Templo, surrado e colocado no tronco por uma noite. Depois disso, foi-lhe proibida (36,5), a entrada no Templo[3].

Assim mesmo, Jeremias continua denunciando o povo que se esqueceu de Deus, por falsear o culto, pela falsa segurança, pelas idolatrias e pelas injustiças sociais. E aponta os principais responsáveis: são as pessoas importantes que detêm o poder em Jerusalém (rei, ministros, falsos profetas, sacerdotes)[1], para isso convoca o escriba Baruc e dita-lhe as profecias de julgamento contra a nação (36:1-32), no quarto ano do governo de Joaquim, em 605 AC.

Em dezembro de 604 AC Jeremias manda Baruc ler o livro, em um momento em que Nabucodonosor atacava a cidade filistéia de Ascalon, vizinha de Judá, é o momento em que o profeta alerta: O "inimigo do norte" está às portas, ou a conversão ou a destruição.

Joaquim mandou queimar o escrito e prender Jeremias e Baruc (36:21-26), que se esconderam e não foram achados. Posteriormente, Jeremias manda que Baruc escrever tudo de novo e ainda acrescenta ao livro outras palavras (36,27-32).

Jeremias também luta para desmascarar os falsos profetas (14:13-16; 23:13-40) que, segundo o profeta: falam em seu próprio interesse, fortalecem as mãos dos perversos, para que ninguém se converta de sua maldade, seduzem o povo com suas mentiras e seus enganos, roubando um do outro a palavra de Iahweh[3].

O profeta estava com a razão, e sua visão realista se confirmou: em 598 AC, o exército babilônio estava às portas de Jerusalém. Nessa época, o rei Joaquim morreu, provavelmente assassinado. Seu filho e substituto Jeconias, não teve tempo para nada: após três meses Jerusalém era invadida. Então o profeta, juntamente com parte da elite judaica, foi levado para o Exílio na Babilônia em 597 AC. Sedecias, tio de Jeconias, foi instalado por Nabucodonosor, para reinar em Jerusalém[1].

Jeremias apregoara que este castigo seria decorrente ruptura da aliança. Em Judá, Jeremias só via rebeldia contra Iahweh, levando o povo a maldades e crimes sem conta. Não havia o mínimo "conhecimento de Deus", que só é possível através da prática do direito, da justiça, da solidariedade. Os poderosos tramam sistematicamente contra o povo, todos buscam desesperadamente a riqueza e não há paz. A mentira domina, desde o ensinamento dos profetas à lei dos sacerdotes, levando o país ao caos. Todos se tornam inimigos de todos. Impera a idolatria. O fim será trágico, segundo os capítulos 8 e 9 de Jeremias.

Jeremias constata a ausência do direito e da verdade entre as pessoas comuns (5:1), mas maior corrupção encontra entre os grandes e poderosos, que não agem mal por ignorância, senão por determinação consciente e persistente (5:4-5). Quanto mais a crise nacional se aprofunda, mais os líderes se recusam a encontrar soluções. Só procuram satisfazer seus interesses imediatos e deixam o país afundar: "Eles cuidam da ferida do meu povo superficialmente, dizendo: 'Paz! Paz!', quando não há paz", (6:14).

Em 5:26-28 são descritos os poderosos e suas armadilhas para apanhar o povo e escravizá-lo impunemente[3].

Terceiro período: durante o reinado de Sedecias (597 a 586 AC)

Sedecias assume o trono com 21 anos de idade, para dirigir um Judá arruinado, com várias cidades destruídas e uma economia desorganizada[3], se submete aos babilônios e se mostra indeciso. Nesse momento surge uma disputa para determinar a identidade do Povo de Deus entre aqueles que foram para o Exílio na Babilônia e aqueles que ficaram em Judá[1].

O profeta se nega a participar de uma visão simplista (cap. 24) e coloca o assunto dentro da política realista: Sedecias e a corte de Jerusalém são incapazes de salvar o povo do desastre. Por isso os deportados ainda são os que podem trazer esperança, pois estão aprendendo uma dura lição. Essa idéia leva Jeremias novamente para a prisão[1].

Pressionado por seus oficiais, Sedecias tenta armar uma revolta contra a Babilônia, que, fracassa, conforme previsto por Jeremias. Jerusalém é sitiada pelos babilônios, nesse momento, Jeremias também vê nos camponeses uma luz salvadora (32,15). Em 587 AC ocorre a segunda deportação[1].

Quarto período: depois da queda de Jerusalém (a partir de 586 AC)

Em 586 AC, Nabucodonosor resolve destruir Jerusalém totalmente: incendeia o Templo, o palácio, as casas e derruba as muralhas. Mas permite que Jeremias fique no país, então, o profeta vai viver com Godolias, novo governador da Judéia[1].

Nesse mesmo ano, Godolias é assassinado por um grupo antibabilônico, que se vê forçado a fugir para o Egito, obrigando Jeremias a ir com eles. Esse grupo passa a residir na cidade de Táfnis, cidade situada a leste do Delta do Nilo, onde passa a repreender a idolatria que seus conterrâneos ali praticavam (40,7-44,30).

Segundo o apócrifo Vida dos Profetas, escrito por um judeu da Palestina no séc. I DC Jeremias foi apedrejado e morto por seus conterrâneos quando residia no Egito[3].

Balanço

Pode-se dizer que a missão de Jeremias fracassou em querer que seu povo retornasse à genuína aliança com Deus. Ele se tornou uma espécie de Moisés fracassado, que viu seu povo perder suas instituições e a própria terra[1]. Se apresenta como um grande solitário (15:17), incompreendido e perseguido até pelos membros de sua família (12:6; 20:10; 16:5-9), nunca chegou a ser pai (16:1-4), foi arrastado contra a sua vontade para o Egito, nenhum vestígio restará de sua tumba[11].

No entanto, sua confiança no Deus que é sempre fiel lhe deu a capacidade de mostrar, ao povo e a nós, que esse mesmo Deus manterá seu relacionamento conosco, sem precisar de instituições mediadoras (31,31-34)[1]. Ao colocar em primeiro plano os valores espirituais, destacando o relacionamento íntimo que a alma deve ter com Deus, ele antecipou elementos da Nova Aliança; e sua vida de sofrimentos a serviço de Deus, pode ter inspirado o Segundo Isaías na construção da Imagem do Servo (Isaías 53)[10].

Características literáriasHá quatro tipos de textos no livro de Jeremias[3]:

Profecias em forma de poesia, como 4:5-6:30;
Relatos autobiográficos ou Confissões de Jeremias, em verso ou prosa, como 1:4-19; 11:18-12:6; 15:10-21; 17:14-18; 18:18-23 e 20:7-18, que não chegam a ser uma autobiografia, mas um testemunho comovente, com o estilo empregado no Livro das Lamentações[12].
Relatos biográficos em terceira pessoa, atribuídos a Baruc, que não se encontram em ordem cronológica, entretanto, por meio da seguinte sequência de trechos: 19:1-20:6; 26; 45; 28-29; 51:59-64; 34:8-22; 37-44, pode-se fazer uma leitura destes na ordem cronológica[12].;
Discursos em prosa, em número de 10, de autoria incerta, mas que muitos atribuem aos mesmos autores de Josué, Juízes, I Samuel, II Samuel, I Reis, II Reis, a chamada Obra Histórica Deuteronomista (OHDtr), possivelmente composta por levitas, como 7:1-8.
As longas seções em prosa que ora estão na forma de diálogo e em outras ocasiões como narrativa, embora grande parte da obra esteja esteticamente formatada com forte presença das então denominadas metáforas vivas, utilizando-se com muita habilidade o idioma hebraico.

Segundo alguns estudiosos, o simbolismo utilizado pelo profeta serviria para personificar a sua mensagem, conforme se vê em várias passagens, como a do cinto estragado[13] ou na aquisição de uma propriedade em Anatote.[14]

Adições

A obra contém discursos em prosa com estilo semelhante ao Deuteronômio cuja a redação pode ser uma obra de discípulos posterior ao Exílio na Babilônia, no séc. VII AC ou começo do séc. VI AC[10];
O longo Óraculo contra a Babilônia (caps. 50 e 51) também data do final do Exílio[8];
O cap. 52 é um apêndice histórico paralelo a 2Rs 24:18-25:30[8].

Plano da Obra[15]

1:1-24:14 - Profecias contra Judá;
26:1-45:5 - Profecias de Salvação para Israel e Judá e relatos biográficos (provavelmente redigidos por Baruc[16]);
25:15-38 (Introdução) e 46:1-51:64 - Profecias contra as nações estrangeiras; (na Septuaginta não há descontinuidade entre a introdução e o restante desta parte da obra, pois todo o corpo das "profecias contra as nações estrangeiras" inicia-se no cap 25 e é anterior as "Profecias de Salvação para Israel e Judá";
52:1-34 - Anexo baseado em 2Rs 24:18-25:30.

Processo de Composição

O livro de Jeremias passou por um longo e complicado processo de formação. Profecias (palavras proféticas) isoladas foram sendo reunidos ao longo dos anos, de modo que temos hoje uma antologia da pregação de Jeremias e não uma obra perfeitamente planejada. Mais precisamente, pode-se dizer que temos uma antologia de antologias, em um processo que começou ainda durante a vida de Jeremias e prosseguiu ao longo da época pós-exílica[3].

A Septuaginta tem um texto de Jeremias bem mais curto do que o Texto Massorético, além de colocar várias profecias noutra ordem. Isso permite supor que existiram dois textos independentes de Jeremias: um mais antigo e mais curto, que se perdeu, e que serviu de base para a Septuaginta; outro, mais recente, que recolheu vários acréscimos, e que nos foi transmitido pelos massoretas (= os rabinos "transmissores" do texto hebraico)[3].

Confissões de Jeremias [3]

As "confissões" são diálogos com Iahweh, lamentos, orações, disputas, que ocorreram durante o governo de Joaquim, quando que Jeremias mais sentiu o peso de sua missão. Obrigado a ser do contra, a pregar a desgraça para o seu povo, a remar contra a corrente, ameaçado, rejeitado, caluniado, desprezado, ele se lamenta, amaldiçoando até mesmo o dia em que nasceu.

É possível que tenham sido escritos em 605 AC como um desabafo, podem ser lidos como uma síntese das crises vividas pelo profeta desde o começo de sua atividade. São 5 trechos:

Jr 11:18-12:6 - Lamenta que seus conterrâneos e familiares tentaram matá-lo em Anatot, quando jovem e questiona porque persiste a prosperidade dos ímpios e a paz dos apóstatas, daqueles que vivem falando em Iahweh, mas na verdade estão muito longe dele, daqueles que têm uma fachada de piedade, mas não estão, de fato, com Iahweh.
Jr 15:10-11.15-21 - Questiona se vale a pena ser profeta e confessa estar sendo tentado a desistir, aceitar a cooptação, "ser normal", passar para o lado daqueles a quem ele critica para sair da solidão a que é obrigado a viver.
Jr 17:14-18 - Apela a Iahweh contra os seus perseguidores que lhe cobram a realização da palavra por ele pregada, se sente desacreditado perante seus ouvintes, porque as desgraças prometidas não acontecem.
Jr 18:18-23 - Denuncia nova trama contra a sua vida, seus adversários argumentam que podem tranqüilamente eliminá-lo, já que tem apoio dos sacerdotes, dos sábios e dos profetas ligados aos interesses da corte. Fica triste ao perceber que estes que querem eliminá-lo são os mesmos a quem ele tantas vezes defendeu diante de Iahweh.
Jr 20:7-10.14-18 - Usando fortes imagens, chega ao máximo de sua angústia, acredita que Iahweh o enganou: o seduziu para ser profeta e o dominou, para depois abandoná-lo, quando todos querem sua queda, inclusive seus amigos e por isso, ele quer parar de ser profeta, mas o problema é que não consegue, pois as palavras de Iahweh queimam-no como fogo que atinge até os ossos. Então, amaldiçoa o dia em que nasceu: "Maldito o dia em que eu nasci! (...) Maldito o homem que deu a meu pai a boa nova: 'Nasceu-te um filho homem!' (...) porque ele não me matou desde o seio materno, para que minha mãe fosse para mim o meu sepulcro e suas entranhas estivessem grávidas para sempre. Por que saí do seio materno para ver trabalhos e penas e terminar os meus dias na vergonha?".
Referências1.↑ a b c d e f g h i j k l m n o p Jeremias, Edição Pastoral da Bíblia
2.↑ Por outro lado, Airton José da Silva sustenta que seria da casa de Eli e considera viável a hipótese de ser um descendente de Abiatar, chefe dos levitas em Jerusalém na época do rei David, e que foi desterrado para Anatot por Salomão, segundo 1Rs 2,26-27 em Perguntas mais Frequentes sobre o Profeta Jeremias, acessado em 12 de agosto de 2010
3.↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r Perguntas mais Frequentes sobre o Profeta Jeremias, acessado em 12 de agosto de 2010
4.↑ Por outro lado, Airton José da Silva sustenta que provavelmente jamais assumiu qualquer função sacerdotal em Perguntas mais Frequentes sobre o Profeta Jeremias, acessado em 12 de agosto de 2010
5.↑ Echegary, J. González et ali. A Bíblia e seu contexto (em português). 2 ed. São Paulo: Edições Ave Maria, 2000. 1133 p. 2 vol. ISBN 978-85-276-0347-8
6.↑ Pearlman, Myer. Através da Bíblia: Livro por Livro (em português). 23 ed. São Paulo: Editora Vida, 2006. 439 p. ISBN 978-85-7367-134-6
7.↑ jeremias, acessado em 12 de agosto de 2010
8.↑ a b c Bíblia de Jerusalém, Nova Edição Revista e Ampliada, Ed. de 2002, 3ª Impressão (2004), Ed. Paulus, São Paulo, p 1.241
9.↑ Por outro lado, a Tradução Ecumênica da Bíblia, Ed. Loyola, São Paulo, 1994, p 709, pondera que é possível que o relato do início da vocação profética no início do Reinado de Josias, baseie-se numa tradição tardia, e que a atividade profética de Jeremias teria se iniciado entre 609 e 608 AC
10.↑ a b c d Bíblia de Jerusalém, cit., p 1.240
11.↑ Tradução Ecumênica da Bíblia, cit., p 707
12.↑ a b Bíblia de Jerusalém, cit., p 1.239
13.↑ Jeremias 13:1-11
14.↑ Jeremias 32:6-15
15.↑ Tradução Ecumênica da Bíblia, cit., p 711
16.↑ Tradução Ecumênica da Bíblia, cit., p 712


Última edição por Eduardo em Sáb maio 12, 2012 5:09 pm, editado 2 vez(es)
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Vida e obra do profeta Jeremias :: Comentários

Eduardo

Mensagem Sáb maio 12, 2012 5:06 pm por Eduardo

Onde nasceu o profeta Jeremias?

Jeremias nasceu no povoado de Anatot, pertinho de Jerusalém, entre 650 e 640 a.C. Era filho do sacerdote Helcias, da casa de Eli. Talvez descendesse de Abiatar, chefe dos levitas em Jerusalém na época do rei Davi, e que foi desterrado para Anatot por Salomão, segundo 1Rs 2,26-27.

O que significa o nome Jeremias?

O significado do nome é incerto. Há duas possibilidades. Yirmeyâhû quer dizer "Iahweh exalta", "Iahweh é sublime" ou "Iahweh abre (=faz nascer)". Este nome era bastante comum nos tempos bíblicos. São conhecidos pelo menos sete personagens, mais ou menos importantes, com este nome.

O que sabemos da infância e da formação de Jeremias?

Quase nada. Parece que ele jamais assumiu qualquer função sacerdotal. Pelo contrário, denunciou duramente o papel exercido pelos sacerdotes de seu tempo. O que, por outro lado, aponta para sua rigorosa visão levítica, e possível formação, de como deveria agir um sacerdote. Consta, nesta linha, que o rei Josias (640-609 a.C.) proibira o exercício do ofício aos sacerdotes não provenientes de Jerusalém, segundo 2Rs 23,8-9.

Qual foi a influência do profeta Oséias sobre Jeremias?

Não existe nenhuma dúvida acerca da influência de Oséias sobre o pensamento de Jeremias. Além dos fatores geográficos - Anatot pertence à tribo de Benjamin - e familiares - Jeremias descendia, talvez, de Eli, sacerdote de Silo - é possível que a educação de Jeremias tenha incluído os ensinamentos de Oséias.

Entendo que Oséias e Jeremias foram os dois profetas mais radicais de todo o Israel, pois foram os que mais perto chegaram de uma compreensão profunda das causas da opressão que o povo de Israel vivia naquele tempo. Ambos entendem, por exemplo, que onde o javismo caducou ou se oficializou e foi, por isso, neutralizado por práticas institucionais do aparelho estatal, a corrupção, a opressão e o despotismo generalizado dominaram. O processo (rîbh) que fazem a Israel por não "conhecer a Deus" é sintomático, como em Os 4,1-3 e Jr 2,8;4,22 e a interessantíssima crítica ao rei Joaquim (609-598 a.C.) em Jr 22,13-19.

Onde Jeremias começou a profetizar ?

É possível que Jeremias tenha começado a profetizar em Anatot. Mas foi perseguido, quiseram matá-lo em sua própria terra, segundo Jr 11,18-12,6. Não conhecemos o motivo desse complô armado contra Jeremias por seus conterrâneos (Jr 11,21) e até por seus familiares (Jr 12,6). Talvez por ter apoiado a reforma do rei Josias, que destruiu os santuários regionais e centralizou as atividades cultuais em Jerusalém, ele tenha prejudicado os interesses de sua família de sacerdotes. Ou, quem sabe, o duro teor de sua crítica social e religiosa tenha provocado tão violenta reação. Durante toda a sua vida Jeremias irá incomodar muita gente, que tentará, a qualquer custo, calar a sua boca.

Durante quanto tempo Jeremias atuou como profeta ?

Jeremias atuou cerca de 50 anos, de 627 a ca. 580 a.C., sob os governos de Josias (629-609 a.C.), Joaquim (609-598 a.C.), Sedecias (597-586 a.C.) e Godolias/exílio (586/ca.580 a.C.). Por isso, costumamos dividir, didaticamente, sua atuação segundo estes quatro períodos.

Que tipo de texto há no livro de Jeremias?

Há quatro tipos de textos no livro de Jeremias:






    • Oráculos em forma de poesia, como Jr 4,5-6,30
    • Relatos autobiográficos, como Jr 1,4-19
    • Relatos biográficos, como Jr 26, 1-24
    • Discursos em prosa, como Jr 7,1-8.

Como se convencionou unir em um só os dois primeiros tipos, quase totalmente em forma poética, costuma-se classificar os textos de Jeremias em três tipos:


  • Palavras de Jeremias em verso e relatos autobiográficos em verso e prosa
  • Relatos biográficos, na 3a pessoa, sobre Jeremias, atribuídos por muitos a Baruc, seu secretário
  • Discursos em prosa, em número de 10, de autoria incerta, mas que muitos atribuem aos mesmos autores de Josué, Juízes, 1e 2 Samuel e 1 e 2 Reis, a chamada Obra Histórica Deuteronomista (OHDtr), possivelmente composta por levitas.
Então, nem tudo que está no livro vem do profeta Jeremias?

Não. O livro de Jeremias passou por um longo e complicado processo de formação. Oráculos (= palavras proféticas) isolados foram sendo reunidos ao longo dos anos, de modo que temos hoje uma antologia da pregação de Jeremias e não um livro no sentido moderno. Ou melhor: temos uma antologia de antologias, em um processo que começou ainda durante a vida de Jeremias e prosseguiu ao longo da época pós-exílica. A redação final do livro deve ter acontecido por volta dos séculos V-IV a.C.

A versão grega da Bíblia chamada Setenta ou Septuaginta (= LXX) tem um texto de Jeremias bem mais curto do que o texto massorético (= TM), o nosso texto hebraico, além de colocar vários oráculos noutra ordem. Isso é explicado, em geral, com a existência de dois textos independentes de Jeremias: um mais antigo e mais curto, que se perdeu, e que serviu de base para a tradução dos LXX; outro, mais recente, que recolheu vários acréscimos, e que nos foi transmitido pelos massoretas (= os rabinos "transmissores" do texto hebraico). Fragmentos dos dois textos hebraicos foram encontrados entre os manuscritos de Qumran.

O que fez Jeremias no tempo de Josias?

No tempo de Josias, 10 período de sua atuação, Jeremias proclamou um julgamento contra Israel por causa de sua infidelidade a Iahweh e sua adesão a outros deuses, especialmente os deuses que garantiam a fertilidade da natureza, os chamados baalim.

Os comentaristas reconhecem como sendo deste período Jr 2,1-4,4 e Jr 30,1-31,37, todos textos de tipo A.

Que texto exemplifica bem a sua pregação neste período?

Jr 2,1-37. É um texto escrito em um gênero literário muito usado pelos profetas, o rîbh (= processo). Funciona assim: parte-se do pressuposto de uma aliança entre as duas partes em questão, Iahweh e Israel. Iahweh abre, então, através do profeta, um processo contra Israel, motivado por sua quebra do pacto. Como parte ofendida, Iahweh convoca a natureza como testemunha, questiona o comportamento de Israel, relembra os benefícios passados e ameaça com uma punição.

Neste texto, rico em imagens, à moda de Oséias, Jeremias relembra com nostalgia a fidelidade dos primeiros tempos e a contrapõe à infidelidade atual, pois Israel trocou Iahweh pelos ídolos que nada valem e não podem socorrê-lo na hora do aperto.

Jeremias responsabiliza alguém pela infidelidade ao javismo?

Sim. Em Jr 2,1-4,4 Jeremias responsabiliza quatro tipos de autoridades pela idolatria e pela desgraça em que caiu o país: são os reis, os príncipes, os sacerdotes e os profetas. A volta ao javismo é possível se Israel resolver praticar a verdade ('emeth), o direito (mishpât) e a justiça (sedhâqâh), segundo Jr 4,2.

O que pensava Jeremias da reforma de Josias?

Esta é a coisa mais estranha desta fase da pregação de Jeremias: ele não faz nenhuma alusão à reforma social e religiosa empreendida pelo rei Josias naqueles anos (sobre a reforma cf. 2Rs 22,1-23,27). É possível que, embora visse com muita expectativa a ação do governo, ele tenha se decepcionado com os escassos resultados de um movimento imposto de cima para baixo, pela força das armas. Assim, teria preferido manter prudente silêncio a respeito.

O que fez Jeremias no tempo do rei Joaquim?

Quando Joaquim, de 25 anos de idade, assumiu a mando do faraó do Egito, o governo de Judá em 609 a.C., Jeremias rompeu, de vez, com as instituições do Estado. Jeremias tornou-se, então, um ferrenho adversário da classe sacerdotal de Jerusalém, já que sob os desmandos do governo de Joaquim a reforma de seu pai Josias se perdeu totalmente, restando um culto superestimado como garantia da nação, conseqüência da centralização de todas as atividades religiosas no Templo de Jerusalém e na mão de seus sacerdotes. Culto agora usado para mascarar os males sociais e os crimes contra o povo.

O que fez Jeremias em sua 1a intervenção na época de Joaquim?

Um violento discurso contra o Templo, que foi conservado em duas versões: Jr 7,1-15 (texto tipo C) e Jr 26,1-24 (texto tipo B). O primeiro destaca o conteúdo, o segundo as circunstâncias do discurso.

Entre setembro de 609 e abril de 608 a.C., talvez durante uma festa, Jeremias coloca-se no pátio do Templo e denuncia a confiança da população judaíta no Templo de Iahweh como falsa e promete a destruição do santuário, tal qual outrora acontecerá com Silo.

A morte de Josias em combate contra o faraó, o curto governo de seu filho Joacaz (3 meses), seu exílio, a dependência do Egito sob Joaquim: tudo isso criara um clima de incerteza e insegurança geral. O que faz o povo? Refugia-se na crença de que a presença de Iahweh no Templo garante a cidade e a sua liberdade.

Jeremias denuncia esta crença porque, segundo ele, só a aliança Iahweh-Israel poderia garantir o povo. Mas esta não funcionava, pois nos tribunais não se praticava o direito, oprimiam-se o estrangeiro residente, o órfão e a viúva, condenava-se o inocente e, além disso, seguiam-se deuses estrangeiros.

O que acontece com Jeremias?

Conta-nos Jr 26,1-24 que Jeremias quase morre por fazer tal denúncia. Aos olhos do pessoal do Templo, como sacerdotes e profetas, Jeremias cometera duas blasfêmias: falara em nome de Iahweh e falara contra a casa de Iahweh. Perante o tribunal a que é levado, ele, porém, confirma suas palavras e só não morre porque alguém se lembrou do profeta Miquéias, que, um século antes, pregara destino parecido para o Templo e para a cidade e nada sofrera.

O que disse Jeremias sobre o governo de Joaquim?

Denuncia o governo de Joaquim como ganancioso, assassino e violento, segundo Jr 22,13-19, um dos mais duros oráculos proféticos já pronunciados contra um rei. Jeremias compara Joaquim ao seu pai Josias e denuncia o rei como antijavista, pois não cumpre sua função real de exercer a justiça e o direito e de proteger os mais fracos.

No começo de seu governo, Joaquim preocupa-se em construir um novo palácio - ou um anexo ao antigo - exatamente no momento em que a crise econômica se agravava. Dependente do Egito, a quem pagava tributo, colocou a população para trabalhar de graça na construção. Jeremias vai dizer ao rei que ele, quando morrer, nem merece ser sepultado, mas como um jumento deverá ser jogado para fora das muralhas de Jerusalém, pois, ao contrário de seu pai, Joaquim "não conhece Iahweh".

O que mais ameaça Judá neste momento?

Jr 4,5-6,30 e Jr 8,13-17 falam de um "inimigo que vem do norte". Embora haja várias possibilidades de identificação desse inimigo, muitos comentaristas pensam que Jeremias está falando de Nabucodonosor, o rei babilônico, que invade regiões da Palestina em 605/604 a.C., trazendo o terror da guerra para as fronteiras de Judá.

Muitos dos versos de Jeremias, nestes poemas, são de uma dramaticidade impressionante, como Jr 5,15-17, sobre a nação que vem de longe para atacar Judá: nação antiga, nação duradoura, cujos homens são heróis. Nação que devorará os filhos, os animais e todo o alimento de Judá, destruindo pela espada suas fortalezas. Segundo Jeremias, é Iahweh quem aplicará a Judá tal castigo.

Mas o que motiva tão cruel castigo de Judá?

A ruptura da aliança. Em Judá, Jeremias só vê rebeldia contra Iahweh, levando o povo a maldades e crimes sem conta. Não há o mínimo "conhecimento de Deus", que só é possível através da prática do direito, da justiça, da solidariedade. Os poderosos tramam sistematicamente contra o povo, todos buscam desesperadamente a riqueza e não há paz. A mentira domina, desde o ensinamento dos profetas à lei dos sacerdotes, levando o país ao caos. Todos se tornam inimigos de todos. Impera a idolatria. O fim será trágico, segundo os capítulos 8 e 9 de Jeremias.

Percorrendo as ruas de Jerusalém, Jeremias constata a ausência do direito e da verdade entre as pessoas comuns (Jr 5,1), mas maior corrupção encontra entre os grandes e poderosos, que não agem mal por ignorância, senão por determinação consciente e persistente (Jr 5,4-5). Quanto mais a crise nacional se aprofunda, mais os líderes se recusam a encontrar soluções. Só procuram satisfazer seus interesses imediatos e deixam o país afundar: "Eles cuidam da ferida do meu povo superficialmente, dizendo: 'Paz! Paz!', quando não há paz", diz Jr 6,14.

Com extremo realismo - válido para todas as épocas - em Jr 5,26-28 são descritos os poderosos e suas armadilhas de apanhar o povo e escravizá-lo impunemente.

Por que Jeremias foi proibido de entrar no Templo?

Porque, segundo Jr 19,14-20,6, possivelmente por volta de 605 a.C., quando Nabucodonosor venceu o faraó Necao II e ameaçou Judá, o profeta foi ao pátio do Templo e anunciou a destruição de Jerusalém. Acabou preso por Fassur, chefe da guarda do Templo, surrado e colocado no tronco por uma noite. Depois disso, foi-lhe proibida, segundo Jr 36,5, a entrada no Templo.

Sem poder ir até o povo, o que faz Jeremias?

Convoca o escriba Baruc e dita-lhe os oráculos de julgamento contra a nação. Este episódio da primeira escrita do livro, narrado em Jr 36,1-32, aconteceu no quarto ano do governo de Joaquim,em 605 a.C.

No ano seguinte, em dezembro de 604 a.C. Jeremias manda Baruc ler o livro (= rolo) no Templo. O momento é dramático: Nabucodonosor atacava, então, a cidade filistéia de Ascalon, vizinha de Judá. Por isso, talvez, Jeremias, tenha acreditado ter soado a hora da verdade para Judá. O "inimigo do norte" está às portas. Ou conversão ou destruição, alerta o profeta.

O que fez Joaquim ao tomar conhecimento do manuscrito?

Queimou-o e mandou prender Jeremias e Baruc, segundo Jr 36, 21-26. A leitura feita por Baruc no Templo foi ouvida por membros do governo de Joaquim que não apoiavam as suas atitudes. Na esperança de convencer o rei a mudar sua política, levaram o manuscrito até Joaquim, que o ouviu mas não se convenceu. Jeremias e Baruc, bem escondidos, não foram achados. Após algum tempo, Jeremias, que não é de desistir, manda que Baruc escreva tudo de novo e ainda acrescente ao livro outras palavras, diz Jr 36,27-32.

Todos os profetas da época pensavam como Jeremias?

De modo algum. Acreditam alguns especialistas que talvez o fato mais desorientador para Jeremias nesta época era a análise errada da situação feita por pessoas que se apresentavam para falar em nome de Iahweh como seus profetas.

Por isso, em Jr 14,13-16 e Jr 23,13-40 podemos ver como Jeremias luta para desmascarar os falsos profetas que, falando em seu próprio interesse, "fortalecem as mãos dos perversos, para que ninguém se converta de sua maldade", que seduzem o povo com suas mentiras e seus enganos, roubando um do outro a palavra de Iahweh. Jeremias conclui que dos profetas de Jerusalém saiu a impiedade para todo o país.

Qual o significado das "confissões" de Jeremias?

Mais do que "confissões", deveríamos falar aqui de diálogos com Iahweh, lamentos, orações, disputas. Foi durante este período de sua vida, durante o governo de Joaquim, que Jeremias mais sentiu o peso de sua missão. Obrigado a ser do contra, a pregar a desgraça para o seu povo, a remar contra a corrente, ameaçado, rejeitado, caluniado, desprezado, ele se lamenta, amaldiçoando até mesmo o dia em que nasceu.

São textos difíceis de ser datados com precisão. É possível que tenham sido escritos em 605 a.C. como um desabafo, não como oráculos previamente ditos ao povo. Talvez possam ser lidos como uma síntese das crises vividas pelo profeta desde o começo de sua atividade.

São 5 textos:


    • 1a confissão: Jr 11,18-12,6
    • 2a confissão: Jr 15,10-11.15-21
    • 3a confissão: Jr 17,14-18
    • 4a confissão: Jr 18,18-23
    • 5a confissão: Jr 20,7-10.14-18

O que diz Jeremias em cada uma das cinco "confissões"?

Da primeira "confissão" já falamos na pergunta 5: seus conterrâneos e familiares tentam matá-lo em Anatot,quando jovem. Mas Jeremias amplia o problema, questionando porque persiste a prosperidade dos ímpios e a paz dos apóstatas. Daqueles que vivem falando em Iahweh, mas na verdade estão muito longe dele. Daqueles que têm uma fachada de piedade, mas não estão, de fato, com Iahweh. E Jeremias conclui que este é um problema para o qual ele não tem resposta...

Na segunda confissão a questão colocada por Jeremias é: vale a pena ser profeta? Jeremias confessa estar vivendo a suprema tentação profética, que é a vontade de se acomodar, de desistir, de aceitar a cooptação, de "ser normal", de passar para o lado daqueles a quem ele critica para sair da solidão a que é obrigado a viver.

Na terceira confissão Jeremias apela a Iahweh contra os seus perseguidores que lhe cobram a realização da palavra de Iahweh por ele pregada e o profeta não sabe mais o que fazer. Jeremias se sente desacreditado perante seus ouvintes, porque as desgraças prometidas não acontecem. Vive duramente pressionado.

Na quarta confissão Jeremias denuncia nova trama contra a sua vida. Seus adversários argumentam que podem tranqüilamente eliminá-lo, já que o sacerdote, o sábio e o profeta (ligado aos interesses da corte) não lhes faltarão. Com tristeza o profeta constata: estes que querem eliminá-lo são os mesmos a quem ele tantas vezes defendeu diante de Iahweh...

Na quinta confissão, a mais dramática e a mais conhecida de todas, usando fortes imagens, Jeremias chega ao máximo de sua angústia. Acredita que Iahweh o enganou: o seduziu para ser profeta e o dominou, para depois abandoná-lo. Agora todos querem sua queda, inclusive seus amigos. Por isso, ele quer parar de ser profeta, mas o problema é que não consegue, pois as palavras de Iahweh queimam-no como fogo. Fogo que atinge até os ossos. Então, Jeremias amaldiçoa o dia em que nasceu: "Maldito o dia em que eu nasci! (...) Maldito o homem que deu a meu pai a boa nova: 'Nasceu-te um filho homem!' (...) porque ele não me matou desde o seio materno, para que minha mãe fosse para mim o meu sepulcro e suas entranhas estivessem grávidas para sempre. Por que saí do seio materno para ver trabalhos e penas e terminar os meus dias na vergonha?".

E o que aconteceu com o rei Joaquim?

Em 600 a.C. Nabucodonosor tentou invadir o Egito e não conseguiu. Joaquim rebelou-se e morreu em dezembro de 598 a.C., provavelmente assassinado, enquanto os babilônios marchavam para tomar Jerusalém. Seu filho Joaquin, de 18 anos de idade, o substituiu, mas capitulou 3 meses depois, no dia 16 de março de 597 a.C. O rei foi deportado para a Babilônia com a corte e a classe dirigente.

No seu lugar, os babilônios deixaram seu tio, outro filho de Josias, de nome Sedecias, então com 21 anos de idade, para dirigir um Judá todo arruinado. Com várias cidades destruídas e com a economia do país desorganizada, pouco restava ao fraco Sedecias que pudesse ser feito.

O que fez Jeremias neste 30 período, sob o governo de Sedecias?

Jeremias começa criticando as pretensões do novo governo através da visão dos dois cestos de figos de Jr 24,1-10. Segundo o profeta, os exilados correspondem a figos bons, enquanto o atual governo se parece com figos estragados. É possível que o novo governo, instalado no poder sob Sedecias, se afirmasse como a solução para o país, já que os "maus", os governantes anteriores, tinham sido exilados, pagando por seus crimes. Jeremias é de opinião contrária. Para ele o problema continua. Nada fora resolvido e a sombra do Templo não garantirá ninguém.

Jeremias escreveu uma carta aos exilados?

Sim. Ainda nos primeiros anos do governo de Sedecias Jeremias escreveu aos exilados de 597 a.C., segundo Jr 29,1-23. Ele tenta desfazer as ilusões alimentadas por falsos profetas, durante convulsões sociais acontecidas no império babilônico, de que o exílio estava para acabar. Segundo Jeremias, os exilados devem aprender a viver tranqüilamente entre os babilônios, pois o exílio será longo.

O que pensa Jeremias de uma rebelião contra a Babilônia?

Em Jr 27,1-22 e Jr 28,1-17 ele se opõe radicalmente a tal aventura incitada em Jerusalém pelos pequenos reinos da Síria-Palestina que se encontravam na mesma situação de Judá. Colocando um jugo (= haste apoiada no pescoço e ombros para transportar carga) sobre o próprio pescoço, Jeremias simboliza o domínio babilônico a que estavam submetidos (Jr 27,2-3). Confrontando-se com o profeta Hananias, que, ao quebrar o jugo de Jeremias, simbolicamente prega a necessidade da rebelião e a libertação fácil, Jeremias consegue convencer o governo a se manter quieto.

O que disse Jeremias a Sedecias quando Jerusalém foi sitiada?

Quando Jerusalém foi cercada pelas tropas babilônicas em janeiro de 587 a.C., Jeremias disse ao rei Sedecias que a vitória de Nabucodonosor era inevitável, pois Iahweh entregara a cidade nas mãos do inimigo, já que não houve conversão (Jr 34,1-7).

Por que Jeremias é preso nesta época?

Porque, segundo Jr 37,11-16, ele tentou sair da cidade para ir a Anatot tomar posse de um campo que comprara de um primo. Como o Egito enviara um exército para ajudar Jerusalém, os babilônios tinham levantado temporariamente o cerco da cidade para enfrentá-lo. É nesta ocasião que Jeremias é acusado por oficiais do exército de passar para o lado dos babilônios, é preso e jogado numa cisterna de captação de água, onde quase morre.

Já segundo Jr 38,1-13, Jeremias é preso, acusado de traição pelos nobres, ministros de Sedecias, porque estaria exortando o povo à rendição. É provável que temos aqui dois relatos diferentes do mesmo episódio.

Mas há alguma mensagem de esperança em Jeremias?

"Para arrancar e para destruir": esta foi a principal missão de Jeremias. Mas também para "construir e para plantar", como diz Jr 1,10. Na verdade, espalhados pelo livro de Jeremias, encontramos poucos textos que manifestam alguma esperança. Jr 31,31-34, o famoso texto que fala da nova aliança, é um destes.

Em geral, sua autenticidade tem sido contestada. Argumenta-se, por exemplo, que Jeremias nunca chegou a tais alturas teológicas, porque o texto é perfeito, completo e assim por diante. Porém, alguns pensam que Jeremias pode ter tido tal idéia no começo de sua pregação e a aplicado ao reino do norte, tendo depois, nestes últimos dias, adaptado a fala a Judá. Claro que o texto final, redigido em prosa, tem a mão de algum redator posterior, talvez deuteronomista. Mas isto não é suficiente para negar a paternidade da idéia a Jeremias.

O que diz Jr 31,31-34?

Faz uma contraposição entre a antiga aliança, feita após o êxodo, e a nova aliança, a ser feita no futuro. Enquanto a antiga aliança precisava de intermediários, a nova não precisará, pois a lei será colocada no íntimo (= coração, seio) do povo de Israel. Se a antiga aliança foi rompida pelos pais de Israel, a nova não o será jamais, porque haverá perfeita sintonia entre Iahweh e Israel.

O objetivo desta nova aliança: conhecer Iahweh. É o repetido tema do conhecimento de Iahweh que aqui volta. É um tema da maior importância e explica muitas das atitudes e palavras de Jeremias.

Jeremias chegou mais perto do que ninguém da compreensão do verdadeiro problema de Israel de sua época, que era a estrutura tributária do Estado. Sua rejeição de instituições como o Templo e seu aparelho cultual ou a corte e sua administração é, na verdade, a denúncia dos aparelhos do Estado tributário como antijavistas e perniciosos para o povo.

A proclamação de uma nova aliança, onde o javismo não precisaria de mediações para ser vivido, é a radicalização utópica de sua pregação. É o sonho de Jeremias.

E o 40 período da atuação de Jeremias?

Após a queda de Jerusalém em 19.07.586 a.C., assistimos ao crepúsculo do profeta. Deixado livre pelos babilônios, Jeremias escolheu ficar com o governador Godolias, neto de Safã, escriba chefe da reforma de Josias, membro de uma família que sempre apoiara Jeremias em Jerusalém. Assim, junto ao resto do povo pobre que ficou no país, Jeremias certamente alimenta ainda a esperança de "construir e plantar", como conta o texto que fala de sua vocação em Jr 1,10

E como Jeremias terminou seus dias?

A situação em Judá se complicou rapidamente, quando um príncipe davídico chamado Ismael, que escapara para Amon, voltou e assassinou Godolias, provavelmente em outubro de 586 a.C., segundo Jr 41,1-18. Os sobreviventes, entre eles Jeremias, fogem para o Egito, temendo uma represália babilônica (Jr 42,1-43,7).

Lá no Egito, em Táfnis, cidade situada a leste do delta do Nilo, o incansável profeta, que já devia ter uns 70 anos de idade, passa a repreender a idolatria que seus conterrâneos ali praticavam, segundo Jr 44,1-30.

Depois disso, nada mais sabemos sobre Jeremias. Diz a lenda que o profeta de Anatot foi apedrejado e morto por seus conterrâneos, lá no Egito. Esta lenda está no apócrifo Vida dos profetas, um texto escrito por um judeu da Palestina no século I d.C.

Como faço para saber mais sobre Jeremias?

Em primeiro lugar, é recomendável ler todo o livro de Jeremias. Depois, livros e artigos podem ser lidos ou consultados. Como os seguintes:

BRUEGGEMANN, W. A Commentary on Jeremiah: Exile and Homecoming. Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1998, xiv + 502 p. - ISBN 9780802802804.

BRUEGGEMANN, W. Like Fire in the Bones: Listening for the Prophetic Word in Jeremiah. Minneapolis: Fortress, 2006, 272 p. - ISBN 9780800635619.

CARROLL, R. P. Jeremiah. 2 v. Sheffield: Sheffield Phoenix Press, 2006, vol. I: 512 p. - ISBN 9781905048632; vol II: 384 p. - ISBN 9781905048649.

DA SILVA, A. J. Arrancar e destruir, construir e plantar. A vocação de Jeremias. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 15, p. 11-22, 1987.

DA SILVA, A. J. Nascido profeta: A vocação de Jeremias. São Paulo: Paulus, 1992, 143 p. - ISBN 8505012660.

DA SILVA, A. J. Superando obstáculos nas leituras de Jeremias. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 107, p. 50-62, 2010.

DIAMOND, A. R. P.; O'CONNOR, K. M.; STULMAN, L. (eds.) Troubling Jeremiah. Sheffield: Sheffield Academic Press, 2001, 464 p.

DIAMOND, A. R. P.; STULMAN, L. (eds.) Jeremiah (Dis)Placed: New Directions in Writing/Reading Jeremiah. New York: T & T Clark, 2011, xii + 317 p. - ISBN 9780567641229.

EDELMAN, D.; BEN ZVI, E. (eds.) The Production of Prophecy: Constructing Prophecy and Prophets in Yehud. London: Equinox Publishing, 2009, 256 p. - ISBN 9781845535001.

FISCHER, G. Der Prophet wie Mose: Studien zum Jeremiabuch. Wiesbaden: Harrassowitz Verlag, 2011, xii + 415 p. - ISBN 9783447063944.

FISCHER, G. Jeremia. Der Stand der theologischen Diskussion. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 2007, 191 p. - ISBN 9783534163014.

FRETHEIM, T. E. Jeremiah. Macon: Smyth & Helwys, 2002, 684 p. - ISBN 9781573120722.

HOLLADAY, W. L. Jeremiah 1. Minneapolis: Augsburg Fortress, 1986, 682 p. - ISBN 9780800660178; Jeremiah 2. Minneapolis: Augsburg Fortress, 1989, 543 p. - ISBN 9780800660222.

HOLLADAY, W. L. Jeremiah: Reading the Prophet in His Time - and Ours. Minneapolis: Augsburg Fortress, 2006, 180 p. - ISBN 9780800638993.

LUNDBOM, J. R. Jeremiah 1-20. New Haven: Yale University Press, 1999, 960 p. - ISBN 9780300139631.

LUNDBOM, J. R. Jeremiah 21-36. New Haven: Yale University Press, 2004, 672 p. - ISBN 9780300139648.

LUNDBOM, J. R. Jeremiah 37-52. New Haven: Yale University Press, 2004, 656 p. - ISBN 9780300139655.


MCKANE, W. Jeremiah 1-25. London: T&T Clark, 2000, 850 p. - ISBN 9780567050427; Jeremiah 26-52. London: T&T Clark, 2000, 850 p. - ISBN 9780567097323.

MESTERS, C. O profeta Jeremias: Boca de Deus, boca do povo. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1998, 152 p. - ISBN 9788534912280.

ROSSI, L. A. S. Como ler o livro de Jeremias: profecia a serviço do povo. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2007, 145 p. - ISBN 853491995X.

SCHÖKEL, L. A. & SICRE DIAZ, J. L. Profetas I: Isaías, Jeremias. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2004, 680 p. - ISBN 8505006992.

SCHWANTES, M. et al. Jeremias 37-45. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 91, 2006 (cf. a bibliografia com 48 livros e artigos no final, nas páginas 103-105. A maioria em português).

SICRE, J. L. Profetismo em Israel: O Profeta, os Profetas, a Mensagem. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2008, 540 p. - ISBN 8532615880.

STULMAN, L. Jeremiah. Nashville: Abingdon Press, 2005, 480 p. - ISBN 9780687057962.

>> Bibliografia atualizada em 29.01.2012

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