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“Tiros” Interpretativos Que Saem Pela Culatra
Certos textos bíblicos empregados para contestação de alguns ensinos de base bíblica expõem, de fato, exatamente o contrário do que os que os utilizam pretendem ensinar. Eis abaixo alguns exemplos significativos.

* Pelo fato de Jesus “cumprir” a lei, acaso Ele não terminou por revogá-la (ao menos em parte. . .)?

Alegação: O texto de Mateus 5:17-18--“Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas: não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra”--fala de como Ele concluiu a vigência da lei antiga, dando-lhe cumprimento.

Ponderação:

Há quem alegue que nestas passagem Jesus fala de uma nova lei que está para estabelecer (ou já estabeleceu) tendo abolido a antiga que Seus ouvintes conheciam, fazendo-o, contudo, “só em parte”, com as novas regras esparsas aqui e acolá ao longo do Novo Testamento. Ao menos é essa a impressão que fica pela leitura de alguns dos textos divulgados por certos “apologistas cristãos”. O vice-diretor do ministério CACP, de “apologia cristã”, chamado Paulo C. da Silva, dedicou-se a longa e sofisticada explicação semântica sobre o real sentido de “revogar” (ou “ab-rogar”, como constam de algumas traduções em português) oferecendo exemplos da jurisprudência brasileira, que significaria “abolir, mas somente em parte”. Ele, porém, se esqueceu que o texto original do Novo Testamento está em grego, não em português.

A sentença “não vim para revogar” significa isso mesmo, e não outra coisa. Na verdade, o termo no grego para “revogar” é katalusai que significa “destruir”, “pôr de parte”, segundo define o Greek Dictionary of the New Testament, de James Strong. Por outro lado, em “vim para cumprir”, a palavra “cumprir” no grego é plerôsai e tem sentido ligado à idéia de “plenitude”, “completo”, segundo o mesmo dicionário. À luz do texto seguinte, a situação desse intérprete se complica mais ainda. O verso 19 diz: “Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, os que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus”.

Pela interpretação dos que defendem essa teoria, teríamos Jesus se contradizendo e afirmando: “Não vim para abolir, vim para . . . abolir (mas só em parte)! E até que o céu e a terra passem, nem um jota ou til passará da lei, até que tudo seja. . . parcialmente abolido! Aquele, pois que violar um destes mandamentos da parte que não foi revogada, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que observar os desta parte não abolida, e assim ensinar aos homens, esse será considerado grande no reino dos céus”. Confuso, não?

Vejamos, contudo, como um estudo detido do texto à luz de seu contexto comprova, antes que nega, a vigência da lei de Deus para os cristãos: Ao dizer tais palavras, que compõem o seu famoso “Sermão da Montanha”, Jesus Se dirigia a um público de sofridas pessoas, subjugadas sob o poder civil dos romanos e da ditadura religiosa dos hipócritas fariseus e saduceus sobre os quais Cristo tanto os advertiu e aos quais criticou diretamente. Basta ler os versos 16 e 20-28 (de Mateus 5) para perceber a intenção de Cristo nesse discurso. Não era para dizer-lhes que estavam liberados da lei moral de Deus para esperarem alguma outra, supostamente mais favorável e fácil de cumprir. Absolutamente!

Cristo acentua a necessidade de se produzirem obras dignas “diante dos homens” para glorificar a Deus (vs. 16), prestando uma obediência sincera e legítima aos mandamentos divinos que excedesse “em muito” a mera obediência exterior dos seus chefes religiosos (vs. 20). Quando Ele diz, “ouvistes que foi dito aos antigos . . . Eu, porém, vos digo. . .” Cristo não está insinuando que estabeleceria uma suposta “nova” lei Sua que é superior e suplanta a antiga, mas que a lei divina tem caráter muito mais profundo e santo do que a forma como fariseus e saduceus a apresentavam, com ênfase no seu exterior, na “letra”, perdendo de vista o seu verdadeiro sentido espiritual. É o que o autor de Hebreus confirmou ao dizer: “A palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (4:12).

Conclusão:

Foi nesses termos que Cristo “cumpriu” a lei--de modo pleno, perfeito, exemplar. Ele a tinha no coração (comparar Salmo 40:6-8 com Hebreus 10:5-7) e, cumprindo as palavras do profeta, veio para magnificar a lei e fazê-la gloriosa (Isaías 42:21). Como se poderia sugerir que a veio abolir, seja inteiramente ou em parte? Logo, Mateus 5:17-19 à luz de seu contexto é um forte argumento em favor da vigência da lei divina para os cristãos, contrariamente à interpretação de alguns que usam estes versos em sentido exatamente oposto à intenção real da passagem, o que vem a ser um típico “tiro” interpretativo que sai pela culatra.


*A lei de Deus para os cristãos resume-se em amor a Deus e ao próximo (Mat. 22:36-44; Rom. 13:10). Sendo esta a “lei de Cristo”, não tomaria o lugar dos Dez Mandamentos como norma de conduta cristã?

Alegação: Jesus deixou aos Seus discípulos “um novo mandamento” baseado em “amor a Deus e ao próximo”. João disse que “esses mandamentos não são penosos” (João 15:12, 17; 1 João 5:3). Logo, os cristãos só têm que cumprir esses “novos mandamentos”, e não a lei veterotestamentária.

Ponderação:

Quando os fariseus ficaram sem argumentos contra Cristo, um intérprete da lei, “experimentando-O, lhe perguntou: Mestre, qual é o grande mandamento na lei?” (Mat. 22:34-36). A resposta de Cristo, que se resume nos pontos acima levantados, causou a seguinte reação daquele líder religioso dos judeus: “Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que ele [Deus] é o único, e não há outro senão Ele; e que amar a Deus de todo o coração, de todo o entendimento . . . e amar ao próximo como a si mesmo, excede a todos os holocaustos e sacrifícios” (Mar. 10:32, 33). E a reação de Jesus foi: “Vendo Jesus que ele havia respondido sabiamente, declarou-lhe: Não estás longe do Reino de Deus”.

Quanto à reação dos demais diante desse diálogo esclarecedor, eis como a Bíblia a descreve: “E já ninguém mais ousava interrogá-lo”.

Se a resposta de Jesus indicasse uma revolução na legislação divina, com regras totalmente novas, a reação do que queria pegar Jesus em contradição seria bem outra! Sairia dizendo que Jesus contradizia os ensinos de Moisés, anulando a lei dada por Deus para impor novos mandamentos.

Na verdade, aquele jurista judaico só poderia mesmo ter tal reação de aprovação a Cristo, pois Ele apenas citava-lhe as passagens de Deuteronômio 6:5 e Levítico 19:18, que ele bem conhecia. Ou seja, os “novos” mandamentos de amor a Deus e ao próximo não o eram em termos de tempo e sim de renovado significado, perdido de vista pela liderança judaica. Veremos mais abaixo como na discussão do problema do sábado eles também entendiam errado o mandamento e seu objetivo.

A palavra grega para “novo” neste caso é kainós, que significa “algo novo em qualidade”, a mesma empregada para “nova criatura” (2 Cor. 5:17) e “novos céus e nova terra” (Apo. 21:1). Não se trata de novo em substância (o que requereria o adjetivo néos, como no caso dos odres novos, que substituíam os velhos) mas algo que já existia e que passa por uma renovação.

Conclusão:

A lei de Cristo e a lei de Deus são uma só e a mesma, pois Cristo declarou: “Eu e o Pai somos um” (João 10:30). Eles não romperam, com Cristo estabelecendo nova legislação, suplantando a lei divina, como quase dão a entender certos “apologistas cristãos” que adotam uma postura a que chamaríamos “semi-antinomismo”. Sempre, em todos os tempos, a lei de Deus firmou-se no princípio de amor a Deus sobre todas as coisas (os primeiros quatro mandamentos) e amor ao próximo (os últimos seis mandamentos).

Citando vários mandamentos do Decálogo, Paulo conclui em Rom. 13:8-10: “O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” [Obs.: ele diz “é”, e não “era”] (ver também Gál. 5:13 e 14). Ele cita alguns mandamentos, como, “não matarás” e “não adulterarás” e a seguir diz retoricamente, “e se há qualquer outro mandamento. . .”. Ele está abrangendo todo o Decálogo, do qual cita alguns poucos. Isso refuta totalmente a tese do fim da vigência da lei moral dos Dez mandamentos como norma de conduta cristã. A teoria da “nova lei do amor” diferente e “superior” às normas dos Dez Mandamentos representa mais um “tiro” interpretativo que sai pela culatra.


* Estando os cristãos agora sob o regime do Novo Concerto Não Deviam Viver Segundo Um Novo Conjunto de Normas, Não Pela Velha Lei, Abolida Com o Velho Concerto?

Alegação: O “novo concerto” dá fim à velha legislação estabelecida entre Deus e os filhos de Israel, o que inclui os Dez Mandamentos. Sendo que o Novo Testamento apresenta um novo concerto que Deus estabelece com os Seus filhos, fica demonstrado que o Decálogo caducou e a “lei de Cristo”, baseada no amor, é que agora vigora para o cristão. Por isso a promessa do novo concerto é de que Deus escreveria a Sua lei nos corações dos Seus filhos, uma nova lei diferente e superior à antiga, tida até mesmo por defeituosa (Hebreus 8:6-10; 10:16).

Ponderação:

O texto da epístola aos Hebreus 8:6-10 assim expõe a questão da estipulação do Novo Concerto [Novo Testamento]: “Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é Ele também mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas. Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para a segunda. E, de fato, repreendendo-os, diz: “Eis que vem dias, diz o Senhor, e firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá, não segundo a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os conduzir até fora da terra do Egito; pois eles não continuaram na minha aliança, e eu não atentei para eles, diz o Senhor. Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: Nas suas mentes imprimirei as minhas leis, também sobre os seus corações as inscreverei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”“.

É significativo que o texto de Hebreus é uma reprodução de Jeremias 31:31-33 onde Deus promete a Israel a restauração após o fim de seu penoso cativeiro. Deus oferece nova chance ao sofrido povo, um novo concerto, mas esse povo terminou não correspondendo novamente às expectativas divinas. Embora lhes tenha mandado o prometido Messias, não O reconheceram. “Veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam” (João 1:11).

Então, Deus estabeleceu um “novo Israel”, constituído por todo aquele que crê em Jesus, daí tornando-se um israelita espiritual, descendência de Abraão pela fé (Gál. 3:7, 29; Efé. 2: 12 e 13). Estes recebem a mesma promessa de um novo concerto feita por Deus séculos antes da vinda do Messias mediante Jeremias a Seu povo, o Israel literal no passado.

A lei que Deus promete escrever nos corações e mentes dos que aceitam a Cristo como Salvador, segundo esse Novo Concerto, é simplesmente indicada em Hebreus sem indicação de qualquer mudança em seus termos, com relação à lei de Jeremias 31:31-33. Para desconsolo dos semi-antinomistas modernos, que ensinam uma dicotomia entre “lei de Deus” (que seria veterotestamentária) e “lei de Cristo” (neotestamentária), o texto não a chama de “lei de Cristo”, “lei da graça”, “lei da fé” ou “lei do amor”, mas “as minhas leis”, ou seja, de Deus, a mesma que constava da promessa original dirigida aos filhos de Israel em Jeremias 31:31-33 e não outra.

Em Hebreus 9:15-17 lemos que com a morte de um testador, fica selado o testamento, que não mais pode alterar-se. Logo, com a morte de Cristo, o divino Testador, não pode ter havido mudança, seja do sábado pelo domingo, seja do sábado pelo dianenhumismo/diaqualquerismo/tododiaísmo.

O texto em Hebreus mostra que a falha no primeiro concerto não estava na lei divina, base do concerto, pois “a lei do Senhor é perfeita”, “santa, justa e boa”, “espiritual” (Sal. 19:7; Rom. 7:12, 14) e sim no povo: “eles não continuaram na minha aliança, e eu não atentei para eles, diz o Senhor”, vs. 9.

Importante: Não se deve confundir a lei, base do concerto, com o próprio concerto. As regras cerimoniais, prefigurativas do sacrifício de Cristo, é que caducaram na cruz, não a lei moral, proferida solenemente sobre o Sinai como base dos concertos divinos e escrita em tábuas de pedra pelo dedo do próprio Deus (ver Êxodo 20, especialmente vs. 1, 18-20 e 31:18). Por isso Paulo fala de mandamentos divinos que se devem acatar, e mandamentos não mais válidos (ver 1 Coríntios 7:19).

Conclusão:

Na promessa do Novo Concerto Deus escreve nos corações e mentes de Seus filhos a Sua lei, base de ambos os concertos, firmada no “amor a Deus sobre todas as coisas” e “ao próximo como a si mesmo” (Mat. 22:36-42; Rom. 13:8-10). Essa lei, ou “minhas leis”, como indicado em Hebreus 8:6-10 e 10:16, não é diferente da lei conhecida pelo povo ao tempo em que foi primeiro prometida quando da restauração do cativeiro de Judá de sob Babilônia. Os leitores da epístola aos Hebreus, a quem inicialmente a promessa foi feita sob a dispensação cristã, entenderiam perfeitamente isto. Não teriam dúvidas quanto a que lei o texto se aplica. Paulo diz em Romanos 3:31 que a fé estabelece, não anula, a lei de Deus (cf. Rom. 7:22; 8:3 e 4).

O ônus da prova em contrário fica com quem ensine que as leis que Deus escreve nas mentes e corações dos que aceitam os termos do Novo Concerto (ou Novo Testamento), estabelecido com os Seus filhos, são diferentes das constantes da promessa anterior ao Israel literal em Jeremias 31:31-33. Na verdade, os que apresentam tais objeções são incapazes de resolver a seguinte equação: NOVO CONCERTO = NOVA LEI.

Logo se percebe que utilizar a promessa do Novo Testamento da escrita da lei divina nos corações e mentes dos filhos de Deus para negar a vigência do Decálogo na era cristã representa outro significativo “tiro” interpretativo que sai pela culatra.


* Paulo se refere aos Dez Mandamentos como um “ministério da morte”. Não indica isso que não podem mais servir de norma para os cristãos?

Alegação: Paulo em 2 Coríntios 3:3ss refere-se aos Dez Mandamentos, escritos em “tábuas de pedra”, como um “ministério de morte”. Noutra passagem demonstra que a lei tornou-se “enferma pela carne” (Rom. 8:3), assim revelando que o Decálogo precisava mesmo dar lugar a outra lei.

Ponderações:

Tendo por base que em 2 Coríntios 3, ao contrastar a ministração do antigo concerto com o do novo, Paulo atribui-lhe o qualificativo de “ministério da morte”, por mencionar as “tábuas de pedra”, alguns intérpretes bíblicos confundem as coisas e dizem que essas tábuas de pedra representariam o “ministério da morte”. Então, não há saída--o Deus que Se apresentava a Israel como “longânimo, misericordioso, bondoso, piedoso e perdoador” na verdade preparou foi uma terrível armadilha para aquele povo no Sinai, eis que lhes ofereceu ali uma norma legal que resultaria inapelavelmente em morte! Deixou em reserva a “lei do amor e graça” só para o povo do Novo Testamento! É esse o Deus que não faz acepção de pessoas?

Remontando ao ambiente onde a lei divina foi solenemente proclamada ao povo, lemos em Ê xodo 19:10ss a ordem de Deus para Israel na véspera purificar-se, e até abster-se de atividade sexual (vs. 15) para uma dedicação integral a Ele em preparação ao proferimento da lei. Limites foram estabelecidos ao redor do monte para o povo não dirigir-se até ali, e finalmente os Dez Mandamentos foram audivelmente pronunciados, antes de serem escritos nas tábuas de pedra.

Agora, tanta preparação, tanta expectativa, tanta solenidade para a entrega de . . . uma ”lei da morte”! É incrível! Qualquer um se sentiria trapaceado! E, no entanto, é, no fundo, a exegese que se lê nos escritos de intérpretes semi-antinomistas por aí que não conseguem perceber que “a lei do Senhor é perfeita e restaura a alma”, como disse o salmista (Sal. 19:7) referindo-se a TODA a lei (Torah), é verdade, o que significa inclusão, não exclusão, do Decálogo. Entretanto, algo saiu errado nesse concerto, transformando-se sua ministração em algo gerador de morte. Por quê? Onde se situou o problema? Era a lei desse teor, transmissora de morte? Então não poderia ser perfeita.

[Continua no próximo quadro]



Última edição por Bible Researcher em Dom Ago 01, 2010 3:44 pm, editado 4 vez(es)
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"Tiros" Interpretativos Que Saem Pela Culatra :: Comentários

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Mensagem Sáb Jul 31, 2010 9:48 am por Bible Researcher

[Continuação do quadro anterior]

O que muitos também não parecem entender é que o problema não estava com a lei, e sim com o povo que, antes mesmo de conhecer plenamente o que seria pronunciado, precipitadamente declarou ante a proclamação da lei no Sinai: “tudo o que o Senhor falou, faremos” (Êxo. 19:8’). Era um povo de “dura cerviz”, tantas vezes condenado por seus tropeços. Então, é tão fácil de entender isso: o problema não estava na lei, e sim no povo, o que é tornado muito claro na promessa do Novo Concerto já ao tempo de Jeremias--“tirarei o vosso coração de pedra”.

Destarte, quem tinha o coração errado era o povo, daí a necessidade de esse povo mudar de atitude, permitir que Deus operasse uma séria mudança--o coração de pedra eliminado e trocado por um de carne.

E um detalhe importante é que ao Paulo valer-se da alegoria “tábuas de pedra/tábuas de carne”, que é a mesma de Ezequiel (ver 11:19, 20 e 36:26, 27), ele certamente não pensaria em excluir nenhum dos mandamentos das “tábuas de pedra”, tal como Ezequiel não excluiu. Do contrário ele ele teria que explicar que o cristão seria uma carta escrita, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, excluindo-se o mandamento do sábado, ou algo assim.

Conclusão:

Em 2 Coríntios 3 Paulo não diz que a lei é de morte, mas o ministério da velha aliança veio a assim tornar-se. A ilustração paulina de “tábuas de pedra” e “tábuas de carne” trata da antiga promessa divina a Israel em Ezequiel 36:26, 27 de que, por ação do Espírito o coração de pedra lhes seria removido para que um coração de carne, mais maleável, lhes fosse concedido. Nesse coração de carne é que seria escrita a lei moral de Deus completa, como prometido no Novo Concerto (Heb. 8:6-10).

Aliás, o próprio uso da metáfora tábuas de pedra/tábuas de carne mostra que a intenção paulina era incluir TODOS os mandamentos das “tábuas de pedra” como agora devendo achar-se nos “corações de carne”. Do contrário, não faria sentido o próprio uso da comparação e ele teria que usar outra linguagem mais apropriada no vs. 3:3, algo como, “sendo manifestos como carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne do coração, ou seja, só nove dos mandamentos das tábuas de pedra, excluído o do sábado. . .”. Mas não foi essa a linguagem de Paulo, logo o mandamento do sábado DEVE ESTAR INCLUÍDO nas tábuas de carne.

A intenção de Paulo é mostrar que para o cristão renovado pelo Espírito, os termos da lei moral divina deixam as frias tábuas de pedra para registrarem-se nos seus corações aquecidos pela graça (ver Rom. 8: 3 e 4), o que faz da interpretação antinomista de 2 Coríntios 3:3ss outro “tiro” interpretativo que sai pela culatra.


* Quem busca obedecer a lei judaica coloca-se debaixo da lei, em vez de permanecer “debaixo da graça”.

Alegação: Quem se empenha por guardar os mandamentos da lei mosaica põe-se “debaixo da lei” (cf. Romanos 6:14 e Gálatas 5:28). Agora devemos situar-nos “debaixo da graça” .

Ponderação:

Geralmente a referência ao qualificativo de “judaico” quanto às normas do Decálogo termina referindo-se só ao sábado, não aos demais nove mandamentos. Por quê? Quando Paulo recomendou o 5o. mandamento aos efésios (ver Efés. 6:1-3) seria a obediência dos filhos aos pais algo de caráter judaico, ou de validade universal?

Contudo, basta ler todo o contexto de Romanos 6 a 8 para perceber que o apóstolo Paulo não estabelece essa dicotomia entre “lei da dispensação mosaica” e “lei de Cristo”. Ele fala em “lei” simplesmente no sentido que os seus leitores compreenderiam de pronto tratar-se do Decálogo, quando não se referindo especificamente às normas rituais, como a circuncisão, por exemplo.

Paulo costuma usar palavras intercambiavelmente com sentidos paralelos ou contrastantes. Isso se dá, por exemplo, quando emprega o termo “lei” em Romanos 7, ora falando dessa lei em termos positivos, como “santa, justa, boa, prazerosa”, ou aplicando o termo “lei” ao princípio que inspira o pecado--a “lei do pecado e da morte”. Assim também ele fala em “sabedoria de Deus” e “loucura de Deus”, em 1 Coríntios 1:25. Lamentavelmente por não perceberem o uso retórico que o autor bíblico faz de certas palavras, muitos nelas tropeçam e ficam sem entender a mensagem global do autor.

Contudo, basta um exame do contexto de passagens como Romanos 6:1-14 e Gálatas 5:16-21 para perceber que o sentido é exatamente o contrário de como muitos interpretam o texto: os que estão “debaixo da lei” não é por serem a ela obedientes, e sim por serem dela transgressores! O tema não é a prática da lei, e sim a prática DO PECADO. E qual é a definição bíblica de “pecado”? Eis outro texto que os antinomistas e semi-antinomistas detestam: 1 João 3:4-- “Pecado É [e não “era”] a transgressão da lei”. Ademais, Gálatas 4:4 mostra que o próprio Cristo nasceu “sob a lei”!

Em Gálatas fica patente que os que não são “guiados pelo Espírito”, e, conseqüentemente, estão “debaixo da lei” são os que praticam aquela série de pecados alistados nos vs. 19-21. Isso é tão claro de perceber! O próprio título da seção do capítulo 6 de Romanos nas várias versões bíblicas torna isto claro: “Livres do pecado [não da lei] pela graça”, traz a Almeida Revista; “Be dead to sin and alive to Christ” [estar morto para o pecado e vivo para Cristo], aduz a New International Version, “Sin Deposed in the New Life” [o pecado descartado na nova vida], traz o The New Testament in Modern English, “Dead to Sin but Alive Because of Christ” [morto para o pecado mas vivo por causa de Cristo], acrescenta a Contemporary English Version, da American Bible Society, “Dead to Sin, Alive to God”, [morto para o pecado, vivo para Deus], sintetiza The New King James Version, e, finalmente, a versão francesa de Louis Segond traz um título mais longo, porém bem didático neste respeito: “La grâce, loin d’autoriser le péché, délivre de l’empire du péché” [a graça, longe de autorizar o pecado, livra do império do pecado].

Portanto, faz-se necessário ler o contexto em vez de pinçar textos isolados por parecerem favorecer certos pressupostos antinomistas para perceber o real sentido de tais dizeres. De fato Paulo em 1 Coríntios 9:21 diz que não está sem lei de Deus, mas debaixo da “lei de Cristo”. Este texto é interessante pois confirma que “lei de Deus” e “lei de Cristo” são uma só e a mesma, na sua consideração. Agora, o uso da expressão “debaixo” confunde alguns nesta e outras passagens, o que é um perigo à luz de 2 Pedro 3:16 e 17! Mas é o caso do uso retórico de termos que Paulo pratica, como mencionamos acima.

Conclusão:

Estar “debaixo da lei” não significa acatá-la como norma de conduta da vida cristã, e sim não ter abandonado o pecado. O contexto de Romanos 6:14 não diz, “porque a lei não terá domínio sobre vós”, e sim, “o pecado não terá domínio sobre vós”. Isso é ilustrado por 1 Coríntios 9:21 em cujo caso significa estar na jurisdição da “lei de Cristo”, tal como Gálatas 4:4 fala que Cristo nasceu sob a lei, ou seja, na jurisdição das leis todas do Velho Testamento. Estar “debaixo da graça”, em contraste com “debaixo da lei” em Romanos 6:14, significa estar sob a proteção da graça que não condena, como a lei. Logo, os condenados pela lei (não por obedecê-la, mas por não terem abandonado o pecado, como o contexto determina que seja entendido) é que se acham debaixo da mesma, enquanto os que a obedecem movidos pelo Espírito terão “a justiça da lei” cumprida em suas vidas (Rom. 8:3 e 4).

Assim, os textos de Romanos 6:14, Gálatas 5:16-21 e 1 Coríntios 9:21 considerados em sua correta contextuação transformam a sua utilização para “provar” a abolição da lei num “tiro” interpretativo que sai pela culatra.

* Os Debates de Cristo Sobre o Sábado Indicariam a Sua Abolição?

Alegação: Nos Seus debates com os fariseus Jesus declarou-Se “Senhor do sábado” para dar fim à prática judaica de observá-lo (Mateus 12:8’). Assim é que Ele disse que “o sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Marcos 2:27). Com isso Ele está mostrando o pouco valor que dava à prática do sábado, antecipando a sua abolição.

Ponderação:

Nesses debates de Cristo sobre Suas curas no sábado, Ele era continuamente acusado de violar o mandamento do dia de repouso por realizá-las nesse dia. Contudo, Ele Se defendia de tais acusações lembrando: “É lícito fazer bem, aos sábados” (Mat. 12:12). Se lícito significa “de acordo com a lei” pode-se perceber que Cristo nada fazia contrário à lei divina, o que nem se poderia admitir sendo Ele o “Santo, de Deus”.

Cristo desafiou os Seus acusadores certa feita: “Quem dentre vós me convence de pecado?” (João 8:46). E a definição bíblica de pecado é bem patente: “o pecado é transgressão da lei” (1 João 3:4). Que lei seria essa? A “lei da gravidade”? É claro que é [não, “era”] a lei de Deus. O apóstolo João ao definir assim o pecado vale-se do tempo verbal presente, não passado!

Tampouco Ele estava insinuando algo contra o sábado, querendo depreciá-lo em qualquer medida, pois isso se chocaria com o que declarou em Mateus 5:17-19 que já analisamos acima. Convém observar o vs. 19 onde Cristo diz que quem violar um dos mandamentos ou “assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus”. Iria Ele próprio ensinar algo contra um dos mandamentos, e assim desqualificar-Se como “mínimo” no Reino dos céus? Impossível!

Note-se que Cristo não disse para o povo descartar os ensinos dos seus líderes religiosos, mas o mau exemplo e hipocrisia deles, ao recomendar: “Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles [os escribas e fariseus] vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem” (Mat. 23:2, 3).

Então, vejamos--o que eles diziam? Que deviam guardar a lei de Deus, e nisto estavam certos! Mas, como eles próprios a praticavam? Acrescentando suas interpretações e tradições que a invalidavam e impunham uma terrível carga sobre o já opresso povo (ver Marcos 7:7, 8; Mateus 23:4), no que estavam errados!

Por exemplo, diziam ao povo que deviam trabalhar seis dias e observar o sábado, no que estavam certos (ver Luc. 13:14, cf. Êxo. 20:8-11). No entanto, estavam errados em acrescentar regras absurdas ao preceito, contra as quais Cristo Se indispôs, não para insinuar que a guarda do sábado fosse errada (pois Ele mesmo o instituiu na Criação e o observava [Gên. 2:1-3; Mar. 2:27; Mat. 12:8; Luc. 4:16]), porém para corrigir a forma de o observar, pois tinha zelo pelas coisas de Deus.

Vale levantar uma pergunta neste contexto: qual era o teor dos debates de Cristo sobre o sábado--SE era para guardar o sábado, QUANDO era para guardar o sábado, ou COMO observar o dia (em que espírito fazê-lo)? Quem souber respondê-la já terá meio caminho andado na compreensão desta questão.

Aliás, o sábado, juntamente com o matrimônio, são as duas únicas instituições que procedem de ANTES do ingresso do pecado no mundo.

Conclusão:

Assim como Cristo expulsou os vendilhões do Templo para consertar as coisas quanto à legítima adoração a Deus naquele ambiente de culto (ver Mat. 21:12, 13), dizendo em certa ocasião “aqui está quem é maior do que o Templo” (Mat. 12:6), Ele corrigia a maneira de entender a observância sabática porque tinha zelo pelas coisas de Deus. Foi por isso que disse, “Eu sou o Senhor do sábado”, e “o sábado foi feito por causa do homem, não o homem por causa do sábado”. Longe de ter dito isso para diminuir o valor do sábado, Ele está zelando pelo mandamento que Ele próprio estabeleceu no princípio do mundo, como Criador de todas as coisas que é (Gên. 2:1-3; Heb. 1:2).

Logo, utilizar os debates de Cristo com os líderes judaicos como prova do fim do sábado ou concluir que Ele depreciava sua observância é outro “tiro” interpretativo que sai pela culatra.

[Continua no próximo quadro]



Última edição por Bible Researcher em Dom Ago 01, 2010 3:48 pm, editado 2 vez(es)

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Mensagem Sáb Jul 31, 2010 9:49 am por Bible Researcher

[Continuação do quadro anterior]

* Na declaração de Cristo sobre o estabelecimento do sábado fica claro o seu objetivo como instituição somente para os judeus.

Alegação: Os que defendem a guarda do sábado citando a declaração de Cristo de que “o sábado foi estabelecido por causa do homem” deixam de levar em conta a segunda parte da passagem, que diz que “não o homem por causa do sábado”. O texto refere-se ao homem judeu somente.

Ponderação:

Que Jesus referia-Se ao sábado semanal nesta passagem fica claro pelo contexto. Sua declaração parte de argumentos que Ele levanta junto à liderança judaico a respeito de atos e curas de doentes aos sábados. O teor dos debates de Cristo não é SE se devia guardar o sábado, nem sobre QUANDO observar o dia, e sim COMO fazê-lo, no devido espírito.

Cristo mostra noutra ocasião que em Seus atos de cura nada está fazendo contrário à lei, porque “é lícito fazer o bem aos sábados” (Mateus 12:12).

Por outro lado, também é por demais claro que Ele está Se referindo ao “homem universal” (anthropós, no grego), não ao homem judaico. A mesma palavra anthropós é empregada quando Ele declara que o homem “deixará o seu pai e a sua mãe e se unirá a sua mulher”. Logo, não faz o mínimo sentido limitar as Suas palavras ao “homem judeu” porque o casamento não se limita a tal povo. Aliás, juntamente com o sábado, o matrimônio é outra instituição que deriva da criação do mundo antes do ingresso do pecado.

Iria a segunda parte do versículo anular a declaração da primeira? De modo nenhum, pois, ao contrário, além de que isso poria Jesus em contradição, o fato é que essa segunda parte confirma a intenção de Cristo em mostrar a importância e valor do mandamento que não veio abolir, e sim cumprir (ver Mateus 5:17-19). Ele remonta à criação do homem, e o faz no contexto de um debate sobre o sábado. Ora, ao fazer isso Cristo não poderia estar Se referindo ao homem judaico, pois Deus não criou esse tipo de homem, e sim o homem universal.

Faria sentido alterar a declaração de Cristo pelo que os anti-sabatistas prefeririam--“O sábado foi estabelecido por causa do homem judeu, e não o homem judeu por causa do sábado”? Percebe-se logo como a segunda cláusula torna-se inteiramente sem nexo na interpretação dos que combatem o sábado, criando um sentido desnatural e claramente forçado e ilógico--“não o homem judeu criado por causa do sábado”. Afinal, Deus criou o homem, e o fato de depois tornar-se judeu, amorreu, egípcio, dependeu de outros fatores. . .

Conclusão:

A segunda parte de Marcos 2:27 é confirmação da intenção de Cristo em corrigir os excessos dos líderes judaicos quanto à guarda do sábado, e não a limitação do princípio do dia de repouso aos judeus. Portanto, querer empregar Marcos 2:27 como argumento contra o sábado constitui-se em evidente “tiro” interpretativo que sai pela culatra.


* Não diz Tiago Que Não É Mais Para Seguir a Lei em Tiago 2:10 ao dizer que “quem tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos”?

Alegação: Tiago menciona alguns mandamentos do Decálogo mostrando a impossibilidade de observar plenamente a lei, pois a época da lei passou, agora vivemos sob a graça. Assim, se alguém falhar em cumprir um mandamento, torna-se culpado de todos ou terá que observar todos integralmente, inclusive as regras das cerimônias, o não cortar as pontas das barbas, etc.

Ponderação:

Tiago acentua, pelo contexto, não que os temos agora uma regra de obediência menos rigorosa, mas que devemos viver em consonância com a “lei régia”--“amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Tia. 2:8). O fato de mostrar que quem guarda toda a lei mas tropeça num só ponto falhou em cumpri-la e violou todos os preceitos é em função de toda a discussão no capítulo--necessidade de coerência entre os crentes-- não fazer acepção de pessoas, demonstrar dedicação plena a Deus e ao semelhante.

Tenhamos em mente que quando Tiago escreveu sua epístola, o véu do Templo já estava rasgado há muitas décadas e ele, bem como seus leitores imediatos, sabiam disso. Portanto, Tiago não está insinuando que não é mais para observar a lei por esta ter sido abolida, ou que quem buscasse cumprir a lei dos Dez Mandamentos, para não falhar em nada também devia cumprir os muitos preceitos cerimoniais pois estes últimos já estavam abolidos ao terem cumprido sua função prefigurativa.

Conclusão:

Antes que dar a entender que já que não se consegue cumprir a lei perfeitamente podemos relaxar quanto à observância de algum mandamento (ou alguns), as palavras do Apóstolo realçam o mesmo princípio exarado por Cristo: “Sede vós perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mat. 5:48). O próprio contexto fala em necessidade de obediência, não o contrário disso: “Falai de tal maneira, e de tal maneira procedei, como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade. Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia” (Tia. 2:12 e 13). A “lei da liberdade “é uma designação que o Apóstolo atribui à mesma lei da qual está citando e que contém os mandamentos “não adulterarás “e “não matarás” (vs. 11).

Logo, em lugar de desejar pregar o fim da lei ou que podemos relaxar quanto ao cumprimento de suas exigências, Tiago reforça a necessidade de obediência perfeita, tal como o próprio Cristo acentuou em Mateus 5:19, 20, o que só se consegue sob a influência do Espírito de Deus que nos conduziria a “toda a verdade” (João 16:13) e habitaria em nosso íntimo (João 14:23) para guardar a palavra de Cristo e os Seus mandamentos (João 14:15).

Valer-se das palavras de Tiago como pretexto para desrespeitar a lei moral divina em qualquer de seus preceitos é um “tiro” interpretativo que sai pela culatra.


* Seriam os observadores do sábado hoje os modernos judaizantes?

Alegação: Os judaizantes queriam que os cristãos dos primeiros tempos voltassem às velhas regras das leis judaicas, abolidas na cruz, e decerto eram agitadores da questão do sábado junto com a circuncisão (Atos 15). O primeiro concílio da Igreja decidiu dar fim à influência deles e nada recomenda sobre a guarda do sábado, o que prova que não temos que nos preocupar mais com a observância de tal dia, só aplicável aos judeus da velha dispensação.

Ponderação:

Sabe-se quão importante era a guarda do sábado para a vida religiosa e mesmo cultural dos judeus e quão arraigado eram em sua observância, havendo até excessos de zelo nisso, como nos conflitos de Cristo com os fariseus sobre o modo de observá-lo. Se a agitação dos judaizantes, registrada em Atos 15, envolvesse, além da exigência pela circuncisão, a guarda do sábado, então entre as recomendações dos apóstolos constaria algo sobre esse mandamento. Eles trataram do que provocava dúvidas entre o povo e era assunto agitado por alguns. Mas se nada se falou do sábado, nas decisões finais, isso prova, ao contrário do que alguns dizem, que o assunto do sábado não foi agitado por aqueles zelosos judeus convertidos ao cristianismo (ver Atos 15:20, 29).

Se, como se alega, a primitiva igreja de Jerusalém foi pioneira em promover a guarda do domingo por não mais sentir-se à vontade com a observância do sábado judaico, esperar-se-ia encontrar em tal igreja uma ruptura imediata das tradições e culto religiosos judaicos. Deu-se, porém, exatamente o oposto. Tanto o livro de Atos quanto vários documentos judaico-cristãos, como do historiador palestino Epifânio, claramente revelam que a composição étnica e orientação teológica da igreja de Jerusalém eram profundamente judaicas. A caracterização da igreja de Jerusalém, segundo Lucas, de serem seus integrantes “zelosos pela lei” (Atos 21:20), é uma precisa descrição que dificilmente permite ver o abandono de um dos principais preceitos da lei, qual seja, o sábado.

Alguns às vezes citam Atos 15:5 que fala de como esses judaizantes insistiam em que os novos conversos observassem “a lei de Moisés” para dar a entender que isso provaria que o sábado estava em discussão também. Só que se esquecem que, nesse sentido, a “lei de Moisés” não se limitava ao sábado e circuncisão, mas também ao “não matarás”, “não furtarás”, “honra o teu pai e a mãe” . . .

Mais uma prova temos nos vs. 21 de Atos 15, onde é dito que todos os sábados a lei era lida nas sinagogas. Sabe-se que os cristãos primitivos regularmente iam ouvir a leitura das Escrituras nas sinagogas, nos dias de sábado. Eles não dispunham, como nós hoje, de exemplares múltiplos da Bíblia, quando até Bíblias grátis se obtêm para instalar no computador. Qualquer coletânea de rolos da lei era uma fortuna que só congregações inteiras podiam adquirir.

Se esses cristãos fossem às sinagogas outro dia qualquer, ou encontrariam as portas fechadas, ou não haveria leitura das Escrituras. Isso se deu até o fim do primeiro século, quando pelo ano 95 AD os judeus numa assembléia, conhecida como concílio de Jamnia, e proibiram a presença de cristãos no seu meio? Já leu em Atos 9:2 como Paulo tinha ordem para perseguir cristãos encontrados nas sinagogas?

Conclusão:

O silêncio quanto ao sábado nas resoluções do concílio de Jerusalém indica que os judaizantes não estavam buscando restaurar o que já era universalmente aceito pelos cristãos da época--a observância do sábado. Esta é a razão de não haver recomendação alguma quanto à questão do dia de observância entre as coisas recomendadas: “que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue” (Atos 15:20).

É óbvio que o episódio dos judaizantes comprova a vigência do mandamento do sábado entre os cristãos primitivos, não o contrário. Documentos históricos demonstram que os cristãos de Jerusalém, instalados em Pela após a destruição de Jerusalém em 70 AD, onde eram conhecidos como “nazarenos”, observavam o sábado até o IV século da Era Cristã. Usar, pois, o episódio dos judaizantes contra a vigência do sábado constitui outro claro “tiro” interpretativo que sai pela culatra.


* Em Hebreus capítulos 3 e 4 o autor não fala claramente que o sábado é mero símbolo da nova vida em Cristo?

Alegação: Sendo que o autor emprega repetidamente a ilustração do sábado para falar do repouso para o povo de Deus nos capítulos 3 e 4 de Hebreus, é intenção dele ressaltar esse aspecto simbólico, prefigurativo do sábado. Portanto, sendo mero símbolo do repouso espiritual que encontramos em Cristo, ao aceitá-Lo pela fé o sábado deve ser deixado de lado por ter cumprido essa sua função de símbolo do descanso no Senhor.

Ponderação:

Paulo não considerou a lei abolida e sim em vigor (ver Rom. 7:7; 13:8-10 e Efés. 6:1-3), pois declarou: “Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de modo nenhum, antes confirmamos a lei” (Rom. 3:31).

Há quem goste de acentuar que todos os 10 mandamentos são repetidos no Novo Testamento, menos o do sábado. Se for assim, não pareceria estranho pensar que por 30 anos os filhos dos pais cristãos podiam chutar a canela, xingar, desobedecer como quisessem seus progenitores até que Paulo, pelo ano 60 AD, lembrou-se de “restaurar” o 5o. mandamento (Efés. 6:1 e 2)? E assim mesmo, só para os efésios, pois até tal conhecimento abranger todo o corpo de cristãos do mundo, levaria mais umas décadas. . .

Em Hebreus 3 e 4 o autor ilustra o descanso espiritual que o crente obtém em Cristo. Em todo o desenvolvimento de sua discussão ele usa o termo grego katapausin para “descanso”, mas quando chega no 4:9 a palavra utilizada é sabbatismos, que, aliás, aparece com exclusividade em tal texto.

O autor de Hebreus ilustra a questão do descanso espiritual do povo que foi perdido, ou poderia ser desfrutado (dependendo da decisão de cada um), com base no mandamento do sábado. Por aquelas alturas, em torno de 65 AD, se o domingo tivesse sido adotado pela comunidade cristã, seria natural que ele ilustrasse esse “repouso” com o descanso dominical. . . Então, o fato de empregar o sábado como ilustração é altamente significativo. O verso 9 diz, segundo tradução livre compatível com o original: “Resta um descanso do sábado do sétimo dia para o povo de Deus”.

O sentido de sabbatismos segundo se constatou em outras literaturas gregas e judaicas é esse. A palavra significa simplesmente isso--observância do sábado semanal. Por todo o capítulo 4 o autor vale-se do termo katapausin que é “descanso” de modo genérico, mas parece que ao encerrar o seu arrazoado quis recordar aos leitores “hebreus” que ele não estava descartando o descanso literal do 7o. dia ao acentuar o descanso espiritual que se encontra em Cristo.

Sobre o sábado ser símbolo do descanso espiritual em Cristo, o fato é que uma coisa não exclui a outra. Embora como nação Israel falhasse nesse ideal, houve dentro do povo eleito os que fielmente entraram no repouso de Deus, como os heróis alistados em Hebreus 11. E acaso, esses que “entraram no repouso” espiritual deixaram com isso de observar o sábado semanal? De modo nenhum, como no exemplo de Davi que declarou: “Agrada-me fazer a Tua vontade, ó Deus meu; dentro em meu coração está a Tua lei” (Sal. 40:8). Tais palavras representam o que seria o ideal para todo o povo de Deus.

Conclusão:

Hebreus 3 e 4 são evidências adicionais de que o sábado é tratado de modo muito especial pelo autor. Os capítulos 7 a 10 tratam do sentido de todo o cerimonialismo de Israel, e se o sábado tivesse mera função simbólica, cerimonial, seria discutido nesses capítulos. Contudo, recebe é tratamento especial nos caps. 3 e 4, indicativo de que é ainda o repouso que “resta” ao povo de Deus. Empregar, pois, Hebreus 3 e 4 para contrariar a verdade do sábado é outro evidente “tiro” interpretativo que sai pela culatra.

[Continua no próximo quadro]



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Mensagem Sáb Jul 31, 2010 9:50 am por Bible Researcher

[Continuação do quadro anterior]

* Não é o domingo reconhecido com
o dia de descanso, consagrado ao Senhor em comemoração à Ressurreição num primeiro dia da semana (ver João 20:1; Lucas 24:1; Atos 20:7; 1 Coríntios 16:2)?


Alegação: Com a Ressurreição tendo ocorrido no primeiro dia da semana e o aparecimento de Cristo em vários locais nesse dia, ficou estabelecido tal dia como o novo “Dia do Senhor”, em substituição ao sábado do Velho Testamento. Ademais, em Atos 20:7 temos uma reunião num domingo com a Santa Ceia sendo celebrada, e em 1 Coríntios 16:2 as coletas para os pobres eram realizadas num domingo na igreja.

Ponderação:

Os evangelhos falam que Jesus ressuscitou no primeiro dia da semana e apareceu repetidamente aos discípulos que nem sabiam do evento. Estavam “reunidos, com medo dos judeus” (João 20:19) ou viajando para outra cidade (Lucas 24:13) naquele dia, e não celebrando o dia da Ressurreição.

Em Atos 20:7 encontramos o relatório de como Paulo teve uma reunião de despedida “no primeiro dia da semana” que, porém, era o que consideramos “sábado à noite”. O dia dos judeus se inicia no pôr do sol. Por sinal, a tradução bíblica A Bíblia na Linguagem de Hoje, da Sociedade Bíblica do Brasil, refere-se ao episódio como tendo ocorrido num “sábado à noite”. A edição equivalente em inglês, Good News for Modern Man, o confirma, chamando aquele dia “Saturday evening” [sábado à noitinha], o que também é afirmado em nota de rodapé na CEV (Contemporary English Version) da American Bible Society [Sociedade Bíblica Americana].

No contexto percebe-se que o partir do pão na ocasião referida foi apenas uma refeição regular (cf. Atos 2:46), não a cerimônia da Santa Ceia (o que se confirma na mesma nota de rodapé da CEV, acima referida). Ademais, Paulo passou a manhã de domingo seguinte viajando, em lugar de ficar para a “escola dominical”. . . (ver vs. 13-16).

Em 1 Coríntios 16:2 Paulo instrui os cristãos a reunirem recursos para ajudar os pobres de Jerusalém, no primeiro dia da semana. Pelo original grego, porém, isso devia ser feito “em casa” (par” eauto), não na igreja. Também o fato de que isso foi escrito pelo ano 55 a 57 AD é significativo. O dia não recebe o título especial de “dia do Senhor”. Era apenas o “primeiro dia da semana”, que literalmente se traduziria como “primeiro [dia] em referência ao sábado” (em grego: mía twn sabbatwn).

Conclusão:

Embora haja um “dia do Senhor” (Apo. 1:10) referido no Novo Testamento, este não pode ser o domingo pois o único “dia do Senhor” reconhecido tanto no Velho quanto no Novo Testamento como dia de repouso especialmente dedicado a Deus cada semana é o sábado do sétimo dia: Isaías 58:13; Ezequiel 20:12, 20; Mateus 12:8.

O historiador Lucas fala da guarda do sábado pelas mulheres seguidoras de Cristo “segundo o mandamento” 30 anos após o episódio (Luc. 23:56) e as passagens de Atos 20:7 e 1 Coríntios 16:2, em lugar de confirmarem a observância do domingo pelos cristãos primitivos, mostram que era um dia comum para viagens e para fazer cálculos sobre quantias obtidas durante a semana anterior e separar dinheiro para uma campanha especial de coleta em favor dos pobres de Jerusalém. Embora tanto Atos quanto 1 Coríntios hajam sido escritos décadas após a ascensão de Cristo, esses autores bíblicos referem-se ao dia sem atribuir-lhe qualquer título especial--era meramente o “primeiro dia da semana”, com o original indicando a contagem de tempo judaica.

Estes textos, como defesa do domingo são certeiros “tiros” interpretativos que saem pela culatra.


* Teve Pedro a “Visão do Lençol” (Atos 10) Dando-lhe Permissão Para Usar Toda Sorte de Alimento?

Alegação: Na visão que Pedro teve, do lençol com “toda sorte de quadrúpedes, répteis da terra e aves do céu” seguido da ordem, “Levanta-te, Pedro, mata e come” fica provado que “Deus purificou” todos os alimentos outrora proibidos aos judeus. Assim, Deus quis mostrar a Pedro que as leis higiênicas, dadas a Israel, não mais se aplicam aos cristãos que agora--aleluia!--podem comer livremente porcos, urubus, cobras, ratos. . . (Atos 10) .

Ponderação:

Em primeiro lugar, não é significativo que Pedro, tendo convivido com Jesus por três anos e meio, acompanhando-O em suas jornadas pelas poeirentas estradas da Judéia, Galiléia e Samaria, partilhando refeições constantes com Ele, NÃO APRENDEU que devesse comer aqueles estranhos seres que jamais foram recomendados como alimento ideal para o homem, independentemente de fatores religiosos? Será que cobras, corvos, ratos mereceriam um lugar à mesa de um servo de Deus que é biblicamente designado como “templo do Espírito Santo” (1 Cor. 3:16, 17)? É esse o enfoque do texto?

Vejamos o contexto, onde o sentido da visão é finalmente explicado: O vs. 17 diz que Pedro “estava perplexo sobre . . . o significado da visão”. Então, não lhe pareceu evidente que o sentido fosse o de liberdade para comer de tudo. Não foi o que aprendera na convivência com Cristo, com Quem, segundo suas palavras, “comemos e bebemos depois que ressurgiu dentre os mortos” (vs. 41). A visão simplesmente não lhe pareceu significar a liberdade de utilizar alimentos cárneos de quaisquer animais, que jamais seriam recomendados para alimentação humana por qualquer autoridade sanitária de regiões desenvolvidas sobre a Terra.

No vs. 28 é onde encontramos a solução para o enigma: “Vós bem sabeis que é proibido a um judeu ajuntar-se ou mesmo aproximar-se a alguém de outra raça; mas Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo” (ver também Atos 11:17).

Isto é confirmado pelo vs. 34: “Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que O teme e faz o que é justo Lhe é aceitável”.

Mais tarde, o próprio Pedro faz referência evidente ao episódio ao discursar perante o concílio de Jerusalém, registrado em Atos 15, e fala de fato em “purificação”, mas não é de carnes imundas, e sim dos corações dos gentios (Atos 15:7-9).

Há mais um fator interessante que nossos objetores não parecem perceber. Seria tão impossível Pedro matar e comer animais que lhe surgem numa visão quanto o seria chupar um sorvete que aparece numa propaganda da TV! Alguém sugeriu que João numa visão comeu o livrinho que o anjo lhe deu (Apo. 10:8-10). O que ocorre, porém, é que numa visão, como num sonho, a própria pessoa sob tal condição pode ver-se a si mesma como protagonista do que observa nesse sonho ou visão. Ademais, como poderia Pedro alimentar-se tantos animais assim? Só uma cobra sucuri alimentaria toda uma tropa!

Conclusão:

Pedro não entendeu a visão como sendo uma licença para comer livremente de tudo, desconsiderando as regras de higiene dadas por Deus para o melhor bem de Seu povo. O sentido é mostrar-lhe que não devia ter preconceito racial, indo mesmo contra costumes estabelecidos pelo seu povo no objetivo da pregação do evangelho aos não-judeus, considerados, então, “comuns ou imundos”.

Em vez de indicar a anulação das regras alimentares que Deus estabeleceu para Seus filhos, templos do Espírito Santo, alistadas em Levítico 11, a visão de Pedro em Atos 10 confirma que ele não entendeu que tais regras estavam abolidas na dispensação cristã, décadas após a cruz. Decerto, entre “as minhas leis” que Deus escreverá nas mentes e corações dos que aceitam os termos do Novo Concerto (Heb. 8:6-10) constam essas normas higiênicas, pois elas não tinham sentido prefigurativo, mas visavam ao melhor bem do povo de Deus.

Logo, a exploração da visão do lençol por Pedro como licença para comer de tudo, sem preocupações com os aspectos sanitários, representa outro “tiro” interpretativo que sai pela culatra.


* Os textos de Isaías 14:9-11 (a recepção do rei de Babilônia pelos moradores do sheol) e Ezequiel 32:17-32 (os egípcios com outras nações no além) não comprovariam a doutrina da imortalidade da alma no Velho Testamento?

Alegação: A descrição de como os moradores do sheol recebem o Rei da Babilônia (Isaías 14:9-11), revela que não haviam “cessado de existir”, nem estavam “inconscientes”. Ademais, em Ezequiel 32.17-32, no chamado “Rol das Nações ímpias no Sheol”, vemos os ímpios mortos das nações ali referidas, postos no sheol (mundo dos mortos), e não na cova ou sepultura (heb. qeber, qeburah). Estas passagens são importantes para demonstrar a doutrina da imortalidade no Velho Testamento.

Ponderações:

Em Isaías 14:9-11 temos uma ironia bíblica em linguagem logicamente parabólica: a sorte final do orgulhoso rei de Babilônia será a mesma dos que já estão na sepultura, cobertos de vermes. A tradução Almeida Revista diz que “o além desde o profundo se turba por ti” e “desperta as sombras”.

Note-se que a referência aí não é a almas e nem a nenhum inferno de fogo, pois não se fala em chama alguma, só em vermes, uma clara referência à sepultura, com cadáveres “cobertos com bichos”. Ademais, será que se aplicaria o ditado, “quem já foi rei, sempre será majestade” no caso? Pois os “reis” que já partiram do além, ou sepultura, acolhem o novo habitante de seu mundo levantando-se de seus tronos! Haverá tronos no inferno? É claro que temos aí uma óbvia linguagem figurada, mostrando que o rei desprezado iria para o mundo dos mortos, e os que já para lá haviam partido “comemoram” simbolicamente o seu idêntico destino.

O verso anterior, 8, nesse aspecto é também muito significativo, pois fala de ciprestes que “se alegram” e cedros do Líbano que “exclamam”, uma passagem carregada de figuras de linguagem, tal como nos três versos que se seguem.

Por seu turno, o texto de Ezequiel 32:18, 19, 21, 21 tem grandes semelhanças com o que acabamos de analisar. Na Bíblia na Linguagem de Hoje isso parece bem claro. Fala em “mundo dos mortos”, onde estariam “deitados” os que para lá foram! Ora, a linguagem é típica de cadáveres em repouso na sepultura (no inferno as pessoas ficam deitadas?). E também as palavras “sepulcros” e “cova” aparecem no vs. 23 e em várias outras passagem. A repetição desse tipo de linguagem reforça o sentido de simbologia do texto.

A palavra hebraica sheol é diferentemente traduzida nas Escrituras como “sepultura”, “morte”, “abismo”, “inferno”, etc. O sheol é retratado como o lugar de descanso dos mortos, independentemente de sua condição religiosa durante a vida. Não há dúvida de que os crentes e os descrentes eram todos tidos como indo para o sheol quando morrem.

O sheol seria o mais profundo lugar no universo, assim como o céu é o mais elevado. Amós descreve a inescapável ira de Deus nestes termos: “Ainda que desçam ao mais profundo abismo, a minha mão os tirará de lá; se subirem ao céu, de lá os farei descer” (Amós 9:23). Semelhantemente o salmista exclama: “Para onde me ausentarei do Teu Espírito? para onde fugirei da Tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo [sheol] estás também” (Salmo 139: 7 e 8, cf. Jó 11:7-9).

Situando-se abaixo, na terra, os mortos alcançam o sheol por “descerem”, um eufemismo para ser sepultado na terra. Destarte, quando Jacó foi informado da morte de seu filho José, declarou: “Chorando, descerei a meu filho até à sepultura [sheol]”. Também convém recordar o episódio do castigo dos rebeldes de Coré e Dotã que foram engolidos terra abaixo, e o original fala que desceram vivos ao sheol (Números 16:33).

Em Jó 26:6 e Provérbios 15:11 e 27:20 o “além”, ou “inferno” [sheol] e o “abismo” [abaddon surgem em paralelismo. Por isso, conclui o Dr. Samuele Bacchiocchi: “O fato de que sheol está associado com abaddon mostra que o reino dos mortos era visto como o lugar de destruição, não como o lugar de eterno sofrimento para os ímpios”.

O sheol também é caracterizado como “a terra das trevas e da sombra da morte” (Jó 10:21), onde os mortos nunca mais vêem a luz (Sal. 49:20; 88:13). É, igualmente, a “região do silêncio” (Sal. 94:17; cf. 115:17), bem como a terra de onde não há retorno (Jó 7:10). No Salmo 55:15 sheol é claramente identificada com morte e sepultura, como se dá também no Salmo 141:7--”Ainda que sejam espalhados os meus ossos à boca da sepultura [sheol] quando se lavra e sulca a terra”.

Estes textos todos demonstram irrefutavelmente que o sheol não é o repositório de espíritos que nos deixaram, mas o reino dos mortos. Em seu clássico estudo Anthropology of the Old Testament, Hans Walter Wolff faz notar que, ao contrário das religiões do Oriente Médio, em que os mortos eram glorificados, mesmo endeusados, “no Velho Testamento qualquer coisa semelhante é impensável. Geralmente, a referência à descida para o sheol como o mundo dos mortos nada mais significa do que uma indicação do sepultamento como o fim da vida (Gên. 42:38; 44:29, 31; Isa. 38:10, 17; Sal. 9:15, 17; 16: 10; 49:9, 15; 88:3-6, 11; Pro. 1:12)”. (Op. Cit., pág. 103).

A expressão “dormiu com os seus pais” (como em 1 Reis 1:21; 2:10; 11:43) simplesmente reflete a idéia de que os mortos se reúnem com seus predecessores no sheol, num estado sonolento e inconsciente. A idéia de descanso ou sono no sheol é evidente em Jó que clama em meio a seus tormentos físicos: “Por que não morri eu na madre? Por que não expirei ao sair dela? . . . Porque já agora repousaria tranqüilo; dormiria, e então haveria para mim descanso. . . . Ali os maus cessam de perturbar, e ali repousam os cansados”. (Jó 3: 11, 13, 17). Os versos 21 e 22, na seqüência, são altamente significativos no contexto do que foi acima exposto. Ver ainda Jó 17:13-16; 14:12; 19:25-27.

No Novo Testamento, o termo correspondente a sheol é hades. Como todos os mortos, Jesus foi para o hades, isto é, a sepultura, mas diferentemente dos demais, teve vitória sobre a morte. “Porque não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção” (Atos 2:27). Outras traduções dizem “sepultura” e como a permanência de Cristo ali foi de somente três dias incompletos, o Seu corpo não experimentou corrupção. Dada a Sua vitória sobre a morte e a sepultura (hades)--esta tornou-se um inimigo vencido. Por isso Paulo exclama: “Onde está, ó morte, a tua vitória? onde está, ó morte [hades], o teu aguilhão?”

Cristo agora retém as chaves da “morte e do hades” (Apoc. 1:8’), assim Ele tem poder sobre a morte e a sepultura. Isso o capacita a destrancar os sepulcros e chamar os santos adormecidos à vida eterna por ocasião de Seu retorno. O mesmo é verdade em Apoc. 6:8, onde um cavaleiro amarelo, chamado “morte”, que era seguido pelo “hades”. A razão por que a morte é seguida pela sepultura é certamente em vista de que o hades, como sepultura, recebe os mortos.

[Continua no próximo quadro]




Última edição por Bible Researcher em Dom Ago 01, 2010 3:56 pm, editado 2 vez(es)

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Mensagem Sáb Jul 31, 2010 9:53 am por Bible Researcher

[Continuação do quadro anterior]

Ao final do milênio a “morte e o hades” entregarão os seus mortos (Apoc. 20:13) e serão ambos lançados no “lago de fogo” (vs. 14). Estes dois versos são significativos porque nos dizem que finalmente o hades entregará os seus mortos, mais uma prova que se trata da sepultura (fala em “mortos”, não em “almas”), e no fim de tudo desaparecerão no lago de fogo da segunda morte. Com essa vívida figura de linguagem a Bíblia nos dá conta que a morte e a sepultura serão arraigadas de sobre a face da terra. Será a morte da morte.

Agora, uma séria reflexão caberia aqui: Por que, se o ensino da imortalidade da alma é correto, a Bíblia não trata direta e claramente do tema, falando exatamente de “almas” ou “espíritos” nessas passagens? Por que os imortalistas buscam filtrar por todos os meios esses conceitos que nelas não se acham através de termos e descrições que de modo algum, como constante do texto, apresentam tal idéia de modo objetivo? Deduzir noções de “almas” ou “espíritos” imortais a partir da “decodificação” de declarações que evidentemente não tratam de tais pressupostos imortalistas demonstra a fragilidade do argumento de que tais conceitos realmente constem das Escrituras.

Conclusão:

Bem pesadas as passagens acima referidas, de Isaías e Ezequiel, representam “tiros” que saem pela culatra ao se tentar utilizá-las para definir o destino humano.
_________

[Obs.: Boa parte do material do estudo acima, sobre os termos sheol e hades é compilada do livro do Dr. Samuele Bacchiocchi, Imortalidade ou Ressurreição?]


* A declaração “Deus é Deus de Vivos, Não de Mortos” Confirma a Imortalidade da Alma?

Alegação: O texto de Mateus 22:32: “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. . . Ele não é Deus de mortos, e, sim, de vivos. Ouvindo isto, as multidões se maravilhavam da Sua doutrina” não serviria de prova de que Jesus pregava àquela gente a idéia de imortalidade da alma?

Ponderação:

O mesmo episódio desse diálogo de Jesus Cristo com os saduceus, segundo a exposição do evangelista Lucas, apresenta-o de uma maneira mais completa. Vejamos como se encerrou a conversa entre Cristo e os saduceus no relatório de Lucas: “E que os mortos hão de ressuscitar, Moisés o indicou no trecho referente à sarça, quando chama ao Senhor o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. Ora, Deus não é Deus de mortos, e, sim, de vivos; porque para ele todos vivem. Então disseram alguns dos escribas: Mestre, respondeste bem. Daí por diante não ousaram mais interrogá-lo” (Luc. 20:37-40).

A ênfase não é sobre a imortalidade da alma, mas sobre RESSURREIÇÃO! São bem claras as palavras--”e que os mortos hão de ressuscitar. . .” (vs. 37). Ora, os advogados da imortalidade da alma estariam cobertos de razão se Jesus houvesse dito: “E que os mortos vão para o céu com suas almas. . .” Mas não é isso o que Ele disse!
Ademais, a própria discussão se inicia do seguinte modo: “Chegando alguns dos saduceus, homens que dizem não haver ressurreição. . . ” (vs. 27). Na seqüência da fala dos saduceus observa-se a mesma ênfase: “Essa mulher, pois, no dia da ressurreição, de qual deles [dos sete irmãos falecidos] será esposa?” (vs. 33).

E são dignas de nota as palavras de Cristo a certa altura: “. . . os que são havidos por dignos de alcançar a era vindoura e a ressurreição dentre os mortos. . .” (vs. 35).

É claríssimo que em toda a discussão não existe A MÍNIMA pista para qualquer noção de imortalidade da alma. Os saduceus não perguntaram: “E quando esses sete irmãos forem morrendo e suas almas forem chegando no céu. . .” Percebe-se bem que o enfoque jaz totalmente sobre a ressurreição dos mortos?

E deve-se ainda observar o pormenor, relevante ao entendimento global da discussão havida, de que Cristo refere-Se aos que hão de ser dignos de “alcançar a era vindoura [a consumação dos séculos] E A RESSURREIÇÃO DENTRE OS MORTOS”.

Então, esta passagem considerada globalmente, em lugar de favorecer a noção de imortalidade da alma é EXATAMENTE uma confirmação de a expectativa de vida eterna, na era vindoura, dar-se pela ressurreição dos mortos! E nesse contexto é que Cristo encerra o diálogo referindo-se a Moisés dizendo: “E que os mortos hão de ressuscitar, Moisés o indicou . . . quando chama ao Senhor o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó”, para daí concluir: “Ora, Deus não é Deus de mortos, e, sim, de vivos; porque para ele todos vivem”.

E por que para Ele todos vivem? Por terem uma “alma imortal” ou por ressuscitarem dos mortos? Qual é o contexto? Qual é a ênfase? Qual é o sentido lógico lendo-se todo o conjunto dos debates e sua conclusão?

Conclusão:

O episódio de Cristo com os saduceus a respeito da ressurreição dos sete irmãos e da mulher que os enviuvou, longe de comprovar a tese da imortalidade da alma, concentra-se na ressurreição dos mortos, associada ao alcance da “era vindoura”. Tão claro é isso que até os saduceus que queriam pegar Jesus em contradição terminaram O elogiando (“Então disseram alguns dos escribas: Mestre, respondeste bem. Daí por diante não ousaram mais interrogá-lo”). É interessante que esta não é a primeira vez que isso ocorre--os que querem arranjar um pretexto para apanhar Jesus terminam até O elogiando (ver Marcos 12:34).

Logo, utilizar-se do diálogo de Cristo com os líderes judaicos com a expressão de que “Deus não é Deus de mortos, mas Deus de vivos” para provar a imortalidade da alma na verdade, representa um “tiro” interpretativo mais que sai pela culatra.


* Ao falar, o apóstolo Paulo, em deixar o corpo para habitar com o Senhor, não estaria demonstrando sua crença na imortalidade da alma?

Alegação: O apóstolo Paulo declara que “enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor”, assim ele preferia “deixar o corpo e habitar com o Senhor”(2 Coríntios 5: 8 e 6). Esta é uma clara prova de sua crença na imortalidade da alma, também confirmada por suas palavras em Filipenses 1:23 ao referir-se ao seu “desejo de partir e estar com Cristo”.

Ponderação:

O vocábulo soma (corpo), no seu sentido original, denota o ser humano como um todo, um organismo constituído, uma unidade, o ser humano como uma pessoa em sua totalidade. A visão bíblica é essa--holística, o homem completo, corpo, alma, espírito, perfeitamente integrados e funcionando juntos, harmonicamente. Daí que Salomão fala da íntima ligação psicossomática: “O coração alegre é bom remédio, mas o espírito abatido faz secar os ossos”.--Provérbios 17:22.

Em I Tessalonicenses 5:23, quando o apóstolo Paulo fala do seu desejo de que o Deus da paz nos santifique em tudo, e que nosso corpo, alma e espírito sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, ele está se expressando contrariamente ao pensamento de que a alma, o corpo e o espírito são entidades que agem interdependentemente entre si. É digno de nota que o Apóstolo acentua a necessidade do preparo espiritual para a “vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”, não para o momento da morte, quando o indivíduo fosse “partir e estar com Cristo” (Fil. 1:23), entendendo a cláusula na linha de pensamento dualista. Também é importante examinar os vs. 6 e 10 de Filipenses 1 (contexto do vs. 23) onde a ênfase é dada ao preparo espiritual para o “dia de Cristo”, além de Fil. 3:20 e 21, onde Paulo acentua mais uma vez sua expectativa da “cidade celestial” que herdaria quando no Seu retorno Cristo “subordinar a Si todas as cousas”. Com isso, a clara ênfase está na ressurreição quando do Advento de Cristo, não na ida da alma para o céu, imediatamente após a morte.

Não existe na Bíblia concepção de “almas” ou “espíritos” atuando independentemente de modo consciente, a não ser tomando-se textos isolados e desprezando-se sua contextuação, ou forçando o sentido segundo pressupostos infundados, como dizer que quando Jesus declarou “não subi para o Pai” em João 20:17 Ele quis dizer--”minha “alma” é que subiu; agora é que vou completo, corpo e alma . . .” Conclusão absurda, para dizer o mínimo. Afinal, o Verbo divino também teria recebido uma “alma imortal” humana na Encarnação? A profecia a respeito Dele diz só: “corpo me formaste” (Heb. 10:5 ).

Nos dias que antecederam os cristãos, filósofos como Platão e Aristóteles divulgavam ao mundo que o corpo era inerentemente mau, e a mente era boa. Quando Cristo veio a este mundo vestido em um corpo humano, Ele deu ao corpo uma nova dignidade. Mesmo antes de Cristo vemos como os hebreus tinham leis importantes destacando o cuidado com a saúde física e mental. A ciência moderna têm confirmado a validade das regras alimentares e higiênicas da legislação israelita, pois o nosso corpo é, como acentuou o Apóstolo, o “templo do Espírito Santo”. A filosofia grega e de outros povos pagãos não valorizavam o corpo, daí o surgimento de tantas formas de religiosidade mística, e atitudes de flagelações e desprezo do corpo, em favor de valorizar e aprimorar “a alma” ou “espírito”.

É importante para uma boa compreensão, estabelecermos uma relação entre estas duas passagens acentuadas na “Alegação” desta argumentação sob análise (Fil. 1: 23 e 2 Cor. 5:8’). Afinal de contas, trata-se do mesmo autor bíblico tratando exatamente do mesmo tema--o encontro com o Senhor que se dará, não imediatamente com a morte e a partida de uma “alma imortal” para o céu, mas com o “revestir-se” da “habitação celestial”. Unindo-as, teríamos:

“Sim, estamos cheios de confiança, e preferimos deixar a mansão deste corpo, isto é, partir, e estar morando junto ao Senhor, de modo algum achados “despidos”, mas sendo revestidos da nossa habitação celestial, pois isto é muito melhor”.

Ademais, é inevitável o cotejo entre a cláusula do vs. 4, “para que o mortal seja absorvido pela vida” com o texto de 1 Coríntios 15:53, 54: “Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E quando este corpo corruptível se revestir da incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá a palavra: tragada foi a morte pela vitória” (ver Isaías 25:8 e 9).

Por outro lado, quando ele diz que não queria ser achado nu e, ao mesmo tempo, desejava estar junto com o Senhor, fala do seu desejo de ver a volta do Senhor sem passar pela morte, deixar o corpo e ir diretamente estar com o Senhor. Tanto é assim, que o próprio Apóstolo declarou em I Tessalonicenses 4:14-17 que quando o seu Senhor vier, os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro, depois, ele, juntamente com os outros que ficassem vivos, seriam arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para encontrar-se com o seu Senhor nos ares; cria que, juntamente com os outros que “ficassem” vivos nesta ocasião, não precederiam os que dormem.

É muito importante coordenar os vários textos onde o autor trata do mesmo tema para ver qual é o enfoque de seu pensamento--a sua ênfase. E claramente não se sustenta a tese de que a expectativa de Paulo fosse a de partir imediatamente após a morte na forma de uma “alma imortal”, noção a que só se chegará isolando-se um texto de seu sentido natural, como verificado por textos paralelos.

Quando é dado crédito à crença na imortalidade da alma, entendendo-se que a alma recebe sua recompensa para a salvação ou para a perdição imediatamente após a morte, a ressurreição torna-se algo ineficaz, não havendo sequer a necessidade de que esta ocorra; e, conforme nos é mostrado em I Coríntios 15:13 e 14, se não há ressurreição dos mortos, é vã nossa pregação, assim como se torna vã também a nossa fé. A primeira mentira diabólica (“É certo que não morrereis”.--Gên. 3:4) serve a esses propósitos maléficos--diminuir a importância da crença na ressurreição final, no juízo final (pois na morte cada um já segue um destino, dispensando o juízo), e na 2a. vinda de Cristo, todos esses ensinos simplesmente dispensáveis.

É digno de nota observar as palavras paulinas de que a falta da ressurreição tornaria a pregação do evangelho vã. Isso é altamente significativo, pois os que crêem na imortalidade da alma podem tranqüilamente dispensar a ressurreição, pois se as almas dos que morrem já estão “nos páramos da glória” desfrutando sua recompensa, a pregação para esses certamente não teria sido vã pois, afinal, não estão desfrutando o céu, independentemente de ocorrer uma ressurreição futura ou não? Assim, a ressurreição é o que menos preocupa os que já estão garantidos por lá.

Deve-se analisar adicionalmente as implicações dos vs. 16-18 que os imortalistas simplesmente não sabem como interpretar devidamente: se não fosse pela ressurreição dos mortos, confirmada e garantida pela do próprio Cristo, “os que dormiram em Cristo pereceram”. Está bem claro--sem a ressurreição, não só a pregação do evangelho seria vã mas os que ouviram tal pregação e a acolheram estariam perdidos!--sem qualquer esperança de herdar a vida eterna! Simplesmente permaneceriam no pó, para sempre. . . E tal raciocínio adquire tremenda força no vs. 31 e 32: “Dia após dia morro! Eu o protesto, irmãos, pela glória que tenho em vós outros, em Cristo Jesus Nosso Senhor. Se, como homem, lutei em Éfeso com feras, que me aproveita isso? Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã morreremos”.

Portanto, o raciocínio paulino é evidente: se ele até correu risco de vida em Éfeso, de que valeria ter vivido se morresse e não existisse a ressurreição? Então, sem a esperança da ressurreição a única e melhor alternativa é aproveitar ao máximo esta vida materialisticamente: “comamos e bebamos que amanhã morreremos”. Afinal, ele também comentou: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (vs. 19).

Por outro lado, voltando ao texto de 2 Coríntios 5:1-8, o apóstolo Paulo não queria ser achado nu, sem o corpo mortal, terreno, ou o corpo imortal, celestial--isto é, passar pela morte--mas ser revestido. A ilustração paulina do revestir-se da casa celestial, despindo-se do tabernáculo terreno sob o qual gemia, não querendo, pois, ser achado despido, é poderosíssima arma contra as distorções de seus escritos por alguns que querem forçar o apóstolo dos gentios a crer em noções do paganismo que rodeava o mundo cristão de seu tempo e que ele jamais acataria. Pelo contrário, combatia com vigor.

É clara a linguagem de Paulo quanto a “revestir-se” da casa celestial, em contraste com o abandono do tabernáculo terreno, e sua expressão de intenção de não ser achado “despido”. Ora, o que o “revestir-se” e “não estar despido” têm a ver com a idéia de uma alma saindo de um morto? A forma da linguagem é exatamente OPOSTA a tal noção. Indica, de fato, que a esperança de Paulo era ir para o Senhor em corpo, na ressurreição final ou arrebatamento (caso estivesse vivo na volta de Cristo), e não em espírito (ou alma).

Conclusão:

A linguagem de Paulo quanto a “revestir-se” da casa celestial, em contraste com o abandono do tabernáculo terreno, e sua expressão de intenção de não ser achado “despido” comprova que ele esperava herdar a vida eterna, não imediatamente após a morte com a ida de sua alma para o céu, mas quando fosse receber “a coroa da justiça . . . a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda” (2 Tim. 4:8’).

Portanto, as noções de “revestir-se” e “não estar despido”, longe de confirmarem a idéia da alma deixando o corpo na morte, implicam o OPOSTO disso: a expectativa do Apóstolo em encontrar o Senhor na ressurreição final ou arrebatamento dos vivos, caso assim se achasse quando do Advento. Somente então iria “partir e estar com Cristo”.

Logo, utilizar 2 Coríntios. 5:1-8 para justificar a posição dualista é um claro “tiro” interpretativo que sai pela culatra.
_________

[Obs.: Para a discussão deste último tópico sobre 2 Cor. 5:1-8 incluímos material do estudo “Análise de 2 Coríntios 5:8 e Seu Contexto Imediato”, de autoria de Théo Mário Lima Rios, com nossos próprios comentários inseridos entre o seu texto. Usado com permissão].

* Ao dizer, “não temais os que matam o corpo mas não podem matar a alma; temei antes Aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma quanto o corpo” (Mateus 10:28’) não está o Senhor Jesus demonstrando a crença na imortalidade da alma?

Alegação: A linguagem do texto parece por demais clara de que a alma não morre, assim tem-se a confirmação da parte do próprio Senhor Jesus Cristo de que alma não pode morrer..

Ponderação:

O texto nos informa exatamente da possibilidade de a alma vir a “perecer” no geena ao ser ali lançada. Os dualistas buscam neste texto apoio para o conceito de que a alma é uma substância imaterial, mantida em segurança e que sobrevive à morte. Contudo, a referência ao poder de Deus de destruir a alma [psyche] e o corpo no inferno nega a noção de uma alma imortal, imaterial. Como pode a alma ser imortal se Deus a destrói com o corpo no caso dos pecadores impenitentes? Se este texto for lido à luz do sentido ampliado dado por Cristo à alma, o significado da declaração será: “não temais aqueles que podem trazer vossa existência terrena (corpo-soma) a um fim, mas não podem eliminar vosso potencial de obter a vida eterna; mas temais o Deus que é capaz de destruir vosso ser integral eternamente”.

Em nosso idioma costumamos falar em “dobrar o espírito” de uma pessoa no sentido de convencê-la de algo que contraria o que tinha em mente. Como diz um autor evangélico, “A advertência de Nosso Senhor é clara. O poder do homem para matar se detém com o corpo e o horizonte da Presente Era. A morte que o homem inflige não é final, pois Deus chamará os mortos da Terra e concederá a imortalidade aos justos.

A habilidade de Deus em matar e destruir não conhece limites. Atinge mais profundamente do que o físico e vai além do presente. Deus pode matar o corpo e a alma, tanto agora quanto no além”.

[Conclui no próximo quadro]



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Mensagem Sáb Jul 31, 2010 10:05 am por Bible Researcher

[Continuação do quadro anterior e conclusão da série]

É também digno de nota que Lucas reproduz a declaração de Cristo omitindo a referência a alma: “Digo-vos, pois, amigos meus: Não temais os que matam o corpo e, depois disso, nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: Temei aquele que depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos a esse deveis temer” (Lucas 12:4, 5). Lucas omite a palavra alma-psyche, referindo-se, em vez disso, à pessoa integral que Deus pode destruir no inferno. É possível que a omissão do termo “alma-psyche” fosse intencional para impedir um malentendido na mente de leitores gentios acostumados a pensar na alma como um componente independente e imortal que sobrevive à morte. Para torná-lo claro de que nada sobrevive à destruição divina de uma pessoa, Lucas evita empregar o termo “alma-psyche” que poderia ser confusa para os seus leitores gentios.

Tal interpretação confirma-se em Lucas 9:25, onde o termo psyche-alma é omitido; “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou a causar dano a si mesmo?”. Presumivelmente, Lucas empregou aqui o pronome “ele” em lugar de alma-psyche, como usado em Marcos 8:36, porque dirige-se a leitores gentios e desejava evitar ambiguidade, já que esses mantinham conceitos dualistas.

Quando temos em mente o sentido amplo que Cristo dá ao termo “alma”, então o significado de Sua declaração faz-se claro. Matar o corpo significa tirar a vida presente de sobre a Terra. Mas isso não mata a alma, ou seja, a vida eterna potencial recebida por aqueles que aceitaram a provisão da salvação de Cristo. Tirar a vida presente significa pôr uma pessoa a dormir, mas uma pessoa não é finalmente destruída até a segunda morte, que se dará no geena, ou lago de fogo, chamado de “segunda morte” (Apo. 20:14 e 21:8’).

A preservação da alma no ensino de Jesus Cristo não é um processo automático no poder da própria alma, mas um dom de Deus recebido por aqueles que estão dispostos a sacrificarem sua alma (a vida presente) por Ele. Esse sentido expandido de alma relaciona-se intimamente com o caráter ou personalidade de um crente. Pessoas ou forças malignas podem matar o corpo, a vida física, mas não podem destruir a alma, o caráter ou personalidade de um crente, bem como suas convicções íntimas. Deus comprometeu-Se a preservar a individualidade, personalidade, e caráter de cada crente. Por ocasião de Sua gloriosa vinda nas nuvens do céu, Cristo ressuscitará aqueles que morreram Nele, restaurando-lhes a alma, isto é, seu caráter e personalidade distintos.--Boa parte do acima exposto foi condensado da obra Imortalidade ou Ressurreição? do Dr. Samuele Bacchiocchi.

Conclusão:

O texto sob análise, em lugar de comprovar a tese da imortalidade da alma, mostra que Deus pode eliminar esta “alma” fazendo-a perecer no geena, termo original traduzido por “inferno”. A palavra “perecer” nesta passagem é a mesma que Pedro utiliza para falar tanto dos que morreram no dilúvio, quanto dos que perecerão nos fogos do juízo vindouro (ver 2 Ped. 3:6-10). Se ele tenciona ilustrar o castigo final dos pecadores com o que se deu com os pecadores que foram mortos maciçamente no dilúvio é claro que a ilustração limita-se ao fator da morte repentina de todos juntos, pois os que morreram naquela ocasião não ficaram em torturas líquidas desde então.

Portanto, Mateus 10:28, utilizado para defender a doutrina da imortalidade da alma, longe de comprovar tal doutrina, na verdade a nega e constitui um “tiro” interpretativo que sai pela culatra.


* Ao Jesus falar do, “bicho que nunca morre, fogo que nunca apaga” em Marcos 9:48 não estaria comprovando e doutrina da imortalidade da alma e do fogo eterno do inferno?

Alegação: A linguagem do texto parece por demais clara de que a alma não morre, assim tem-se a confirmação da parte do próprio Senhor Jesus Cristo de que alma não pode morrer e de que o fogo do inferno dever ser mesmo infindável.

Ponderação:

Cristo Se vale de uma metáfora anteriormente utilizada por Isaías, em seu capítulo 66, vs. 24. O profeta ali fala das tropas de inimigos de Deus, cujos CADÁVERES são deixados insepultos, com vermes os consumindo. Ele emprega tal linguagem para ressaltar o horror da cena, mas como aparecem “cadáveres”, é claramente uma indicação de morte, não de existência contínua de alguma alma. E Jesus fala de “bicho” que nunca morre, e não de “alma”. Ora, alma é alma, e bicho é bicho.

Em Isaías 34:9 e 10 encontramos outro exemplo de linguagem hiperbólica que João emprega no Apocalipse, bem como em Jer. 17:27 que fala do fogo que queima as portas de Jerusalém “e não se apagará”, contudo não há fogo nenhum queimando as portas de Jerusalém hoje em dia.

Para ilustrar o que vem a ser essa “linguagem hiperbólica”, significa o uso de palavras que “exagerem” algo a que se refiram, para acentuar o seu caráter. É como no hino nacional brasileiro, o “pátria amada, IDOLATRADA”. . . Na verdade ninguém idolatra a pátria nesse sentido, nem mesmo o presidente da República. . .

E temos no Novo Testamento o “juízo eterno” de Heb. 6:2, que não trata de um processo que tem início, mas não tem fim, e sim que é eterno em seus efeitos e conseqüências. E que dizer do “fogo eterno” que queimou Sodoma e Gomorra, mas não está queimando mais hoje (ver Judas 7)? Afinal, o salário do pecado é a morte (Rom 6:23). No próprio Salmo 68:20 lemos: “O nosso Deus é o Deus libertador; com Deus, o Senhor, está o escaparmos da morte”.

Conclusão:

Claramente a linguagem que deve PREVALECER nesse paradoxo é a da morte eterna desses pecadores, contrastada por Cristo com a vida eterna dos salvos: “E irão estes para o castigo eterno, porém os justos para a vida eterna” (Mat. 25:46). Assim, a linguagem hiperbólica utilizada por Cristo em Marcos 9:48, sobre o “bicho que nunca morre”, quando empregada para provar a imortalidade da alma, termina revelando-se uma excelente explicação da condição de morte eterna dos pecadores, sendo, pois, um “tiro” interpretativo que sai pela culatra.

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