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A grande mudança de paradigma racialista do século XIX




“No entanto, a grande mudança de paradigma nos estudos racialistas do século XIX vem com a publicação de A origem das espécies (1859), de Charles Darwin. De acordo com Lilia Schwarcz, o impacto dessa obra foi tamanho que as máximas de Darwin passaram a ser referência obrigatória, e significou uma reorientação teórica tanto para monogenistas, quanto para poligenistas (SCHWARCZ, 2008).

Apesar do teor essencialmente biológico da obra, conceitos como “seleção natural”, “evolução”, “adaptação” e “hereditariedade” foram transpostos a diversos campos das ciências sociais e aplicados (muitas vezes de maneira deturpada) ao entendimento das sociedades humanas. Conformava-se então a etnologia social (ou antropologia cultural), que “tinha como foco central a questão da cultura, vista, no entanto, sob uma ótica evolucionista”. Para esses antropólogos culturais, também chamados de evolucionistas sociais, o desenvolvimento das culturas deu-se de maneira sucessiva e linear, sendo cada estágio de evolução único e necessário, indo sempre do mais simples para o mais complexo (SCHWARCZ, 2008, p.57).

Schwarcz chama a atenção para o “princípio otimista” do evolucionismo social, que enxergava progresso e evolução como modelos universais e, de certa forma, obrigatórios a todos os povos, o que transformava as diferenças em contingências – “como se o conjunto da humanidade estivesse sujeito a passar pelos mesmos estágios de progresso evolutivo” (SCHWARCZ, 2008, p.58).

De outro lado estavam as escolas deterministas, entre as quais se destacou o darwinismo social ou teoria das raças. Além de afirmar a existência das raças humanas enquanto fator biológico, os darwinistas sociais acreditavam na “continuidade entre o físico e o moral”, determinando que das diferenças físicas decorreriam diferenças mentais que seriam transmitidas hereditariamente. Advém daí outra característica importante do darwinismo, que é a crença na predominância do grupo sócio-cultural ou étnico sobre o comportamento do indivíduo (SANTOS, 2002).

Para os darwinistas, raça corresponderia a um tipo final e imutável, sendo que cada uma delas teria um potencial ontológico diverso. A miscigenação representaria, por princípio, uma degeneração racial e social, vez que para esses teóricos os indivíduos mestiços seriam sempre mais fracos que seus genitores, pois a eles seriam transmitidos apenas os defeitos e não as qualidades de seus ancestrais (SCHWARCZ, 2008).

Dessa forma, o progresso estaria reservado às raças puras, e a evolução não seria um fenômeno obrigatório a todos os grupos humanos. Nesse sentido, o desenvolvimento das nações estaria diretamente ligado à sua formação racial mais ou menos pura.

Independente do conhecimento “científico” de cada vertente, o fato é que ao identificar e classificar as raças humanas, evolucionistas e darwinistas estabeleceram uma hierarquização dos diferentes grupos, o que tornava certos povos superiores ou inferiores a outros.

Como a escala de valores teve uma origem marcadamente etnocêntrica, a Europa branca e “civilizada” converteu-se no paradigma para a “compreensão” do novo mundo. Assinala Gislene Santos: “Com o apogeu da sociedade industrial e do elogio ao trabalho, os povos que não acompanhassem o grau de desenvolvimento europeu eram condenados à inferioridade” (SANTOS, 2002, p.55).

Enquanto o modelo ideal de civilização humana era a Europa, ao continente africano restou o papel de símbolo mor da barbárie e selvageria. A mitologia criada em torno da África desde os tempos antigos9 encontrava agora respaldo científico, o que formava uma base consistente para a antonimia branco civilizado versus negro primitivo. “A cultura desse povo era encarada como signo de barbárie. A vida sexual, política, social dos povos africanos foi sendo devassada e diminuída diante da vida dos europeus” (SANTOS, 2002, p.55).

No entanto, é importante ressaltar que a construção ideológica da inferioridade dos negros não foi motivada unicamente pelo estranhamento cultural. Por detrás do racismo científico estava a legitimação da conquista, dominação e usurpação dos africanos e de outros povos considerados inferiores. Se na Europa as teorias raciais serviram aos propósitos imperialistas de dominação da África e da Ásia, no Brasil o racismo científico foi utilizado pelas elites nacionais como justificativa de um “imperialismo local” (SCHWARCZ, 2008, p.28), ou seja, a dominação de negros e mulatos para além do ordenamento social escravocrata.”

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É isso!

Fonte:
Carlos Augusto de Miranda e Martins: "Racismo Anunciado: o negro e a publicidade no Brasil 1985-2005". (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade de São Paulo, área de concentração III – Interfaces Sociais da Comunicação, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências da Comunicação. Orientadora: Profa. Dra. Solange Martins Couceiro de Lima). USP. São Paulo, 2009.

Nota:

O título e a imagem inseridos no texto não se incluem na referida tese.
Eduardo
Eduardo

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