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A Teologia, a Filosofia, a História e a Ressurreição de Jesus
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22042011
A Teologia, a Filosofia, a História e a Ressurreição de Jesus
Teologia de Karl Barth
A teologia de Karl Barth, um dos maiores teólogos do século XX (segundo autores como o católico Hans Urs von Balthasar e o protestante André Biéler), é difícil de ser equadrada em uma classificação. Pelo menos, três fases de sua teologia podem ser percebidas: a fase liberal inicial, a fase dialética e a fase madura (caracterizada pela monumental obra Dogmática Eclesiástica).
Posicionamento teológico
O Comentário à Carta aos Romanos
Em 1916, Karl Barth e seu amigo Eduard Thurneysen começaram a estudar juntos a carta aos Romanos. Junto com Thurneysen, Barth iniciou um movimento de retorno à Escritura Sagrada e à teologia dos Reformadores.
Em 1919, Barth escreveu o Comentário à Carta aos Romanos. Em 1922, ele escreveu a segunda edição, completamente reformulada, marcando o surgimento da assim chamada teologia dialética, também conhecida por teologia da crise.
No prefácio à segunda edição, Barth diz: "nesta segunda redação do livro eliminei na medida do possível tudo o que na primeira pudesse deixar entender que a Teologia se funda, se apóia sobre uma Filosofia da existência ou dela receba a justificação." Portanto, a segunda edição do Comentário à Carta aos Romanos é o documento histórico que marca o início da teologia da crise, pois Barth designava a Palavra de juízo divino contra todo o empreendimento humano. O ser humano é descrito como um pecador que virou as costas para Deus, encontrando-se agora numa espécie de cegueira. Por si mesmo, o homem não possui a capacidade de conhecer a Deus. O conhecimento de Deus é uma dádiva a ser recebida pela fé em Cristo. O ser humano precisa se confrontar com a graça revelada em Cristo.
A influência de Kierkegaard
O filósofo e teólogo dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855) posicionou-se contra o sistema filosófico de Hegel. Kierkegaard não admitia que a responsabilidade pessoal fosse reduzida a "um momento" dentro do processo cósmico, que é a marcha do Espírito em direção ao Absoluto.
Para Kierkegaard, há um abismo entre o divino e o humano, enquanto a filosofia de Hegel insistia numa continuidade. O dinamarquês salientou que existe uma "infinita diferença qualitativa" entre Deus e os seres humanos. Em sua queda e finitude, os seres humanos precisam acolher a verdade de Deus mediante uma decisão, um "salto de fé". Conhecer a Deus é uma atitude de fé, o que significa correr o risco de saltar. Deus é pessoal, santo e transcendente. Os seres humanos são finitos, pecadores e dependentes. Deus só pode ser conhecido mediante um relacionamento pessoal. Somente o "salto de fé", o risco pode nos proporcionar o verdadeiro relacionamento com Deus. Enquanto não houver o "salto de fé", podemos ter uma religiosidade ética, mas não seremos cristãos autênticos.
Karl Barth identificou-se com o posicionamento de Kierkegaard contra o cristianismo cultural e a filosofia de Hegel de continuidade entre Deus e o mundo, reino de Deus e cultura. Também Barth entendeu que a fé cristã consiste no relacionamento entre o Deus santo e o ser humano finito e pecador. Era necessário enfatizar a transcendência de Deus, pois a teologia liberal havia encoberto esses temas com o racionalismo e a moralidade.
No prefácio da segunda edição do Comentário à Carta aos Romanos, em 1922, Barth mostrou seu reconhecimento à reflexão de Kierkegaard. "Se tenho um sistema", diz ele, "ele está limitado ao reconhecimento do que Kierkegaard chamou de 'distinção qualitativa infinita' entre o tempo e a eternidade, e à minha opinião de que ela possui uma relevância negativa tanto quanto positiva: 'Deus está no céu e tu estás na terra'. O relacionamento entre esse homem e esse Deus é, para mim, o tema da Bíblia e a essência da filosofia."
A teologia dialética
Barth pretendeu redescobrir o Evangelho sem o auxílio de um sistema filosófico. E assim teve início a teologia da Palavra de Deus (outra designação da teologia dialética ou teologia da crise). Seu postulado teológico é que "a possibilidade do conhecimento de Deus encontra-se na Palavra de Deus e em nenhum outro lugar". Portanto, "o Deus eterno deve ser conhecido em Jesus Cristo e não em outro lugar."
A teologia dialética não rejeita, mas questiona o método histórico-crítico como chave de interpretação da Bíblia. A interpretação histórico-crítica se concentrava demasiadamente em questões periféricas, ao passo que Barth enfatizava a proclamação (querigma) como sendo o fundamental.
Barth enxergou aspectos positivos no método histórico-crítico. Mas, posicionou-se contra o "abuso idealista e reacionário desse método". A teologia de Barth, ao contrário, aponta para a centralidade da Sagrada Escritura, o documento da revelação de Deus. Barth aconselhava, daí, que sejam respeitados os limites do método histórico-crítico.
A autoridade da Palavra de Deus, segundo Barth, não pode ser submetida a critérios de pesquisa. A razão humana não pode ser o critério último para a análise dos escritos bíblicos. Nesse caso, corre-se o perigo de identificar Espírito Santo com razão humana. O método histórico-crítico corre o risco de identificar interpretação racional com a Palavra de Deus. Por isso, tornou-se paradigmática a declaração de Barth: "Mais críticos deveriam ser os histórico-críticos."
De acordo com a crítica barthiana, o método histórico-crítico considera como o histórico apenas o analógico (baseado em semelhança). Tudo o que foge dos esquema de analogia (relação de semelhança) é rotulado de simbólico, lendário e mitológico. Os conceitos de fé naufragam na "onipotência" da analogia. Para Barth, entretanto, os conteúdos decisivos da fé cristã deveriam permanecer com seu caráter transformador.
Segundo Karl Barth, a dimensão escatológica do agir divino, o totaliter aliter (o Totalmente Outro) deve ser preservada. A dialética acentuaria, então, o contraste entre a eternidade e o tempo, entre Deus e a humanidade. O método dialético de Barth coloca os pontos de vista diferentes em confronto. Obtém-se assim um equilíbrio entre as declarações que afirmam e as que negam certa proposição. Desse modo, as respostas são interrogadas, e as perguntas, respondidas. Nas palavras do teólogo suíço:
Barth salientou que existe uma distância infinita e qualitativa entre ser humano e Deus. Além desta distância, existe uma oposição substancial entre Deus e tudo aquilo que é humano: a razão, a cultura, a filosofia. Com sua pretensão de tornar a fé popular com recursos do método histórico-crítico, da cultura e da filosofia, os teólogos liberais teriam diminuído a transcendência de Deus. Barth se contrapôs a isto, afirmando que Deus é "o Totalmente Outro", sendo inútil tentar captá-lo com instrumentos humanos. Segundo ele:
"Deus é o Deus desconhecido […]. A excelência de Deus sobre todos os deuses, a sua característica como Deus, como Criador e Redentor, está no fato de que nós não podemos saber nada de Deus, no fato de que nós não somos Deus, no fato de que o Senhor deve ser temido. Por isso, é legítima a rebelião contra o Deus que é fruto de uma religião que, como a liberal, transforma Deus em ídolo. Ela, porém, não atinge a Deus, mas somente sua caricatura humana […]. Contra Zeus, o não-Deus que tomou o seu lugar, Prometeu revolta-se com toda razão". | — ' |
Afeito à idéia de revelação, Barth descobriu nas Sagradas Escrituras a grande ruptura: a separação entre Deus e o homem, entre o Reino de Deus e o mundo. O Deus do Evangelho - o desconhecido, o Totalmente Outro, e absolutamente transcendente - revela-se e diz não a todos os empreendimentos da cultura e do espírito, mediante os quais o ser humano se esforça para afirmar sua autonomia e seu poder. Dentre todos os empreendimentos humanos, a religião seria o mais pernicioso.
O homem religioso, para Karl Barth, seria aquele que quer captar Deus para seu proveito próprio, e desse modo se afunda na mentira e na idolatria. Sendo assim, nenhum outro empreendimento estimularia mais a mentira e a idolatria do que a religião. A vivência da fé foi transformada em cristianismo, e a igreja cristã passou a se comprometer com o mundo, com a civilização e com a história. Com esta vinculação, cristianismo e igreja teriam recusado o não que Deus pronuncia sobre toda a humanidade.
A percepção deste não divino é, também, a percepção de que o Deus oculto - o Totalmente Outro - está se revelando. De acordo com Barth, ao encontrar o homem, Deus o chama a uma decisão existencial da fé. Portanto, todo o empreendimento humano dever-se-ia reduzir a nada na presença da Palavra de Deus. A revelação de Deus invade a existência humana, levando o homem a uma decisão existencial. O único contato possível entre o divino e o humano se dá por intermédio da encarnação de Deus em Jesus Cristo. Neste instante, segundo a dialética de Karl Barth, o sim de Deus atinge verticalmente o homem e o mundo. O sim de Deus foi pronunciado em Jesus Cristo - o momento central e decisivo desta revelação vertical. Portanto, para Barth (indicando, assim, a herança calvinista) é Deus quem estabelece o relacionamento, não havendo caminho que se dirija da terra para o céu.
Analogia entis X Analogia fidei
Com muita veemência, Barth rejeita qualquer modalidade de teologia natural. Para ele, Deus não pode ser conhecido pela capacidade da razão humana, ele também não se revela na natureza e nem na história.
Essa recusa de Barth a qualquer tipo de teologia natural, levou-o a travar uma disputa com o teólogo reformado Emil Brunner. A rejeição total da teologia natural e a desconsideração por uma revelação mais ampla, por parte de Barth, foram criticadas por Brunner, que reconhecia a existência de um ponto de contato entre o Evangelho e a natureza humana. Em 1934, Barth escreveu uma declaração em resposta a Brunner intitulada Nein (Não), rejeitando a teologia natural. Brunner também observou que a doutrina da eleição, formulada por Barth, desembocava num universalismo.
Acentuando que a revelação de Deus aconteceu exclusivamente em Jesus Cristo, Barth posicionou-se contrário à doutrina católica romana da analogia entis (analogia do ser), contrapondo-a à analogia fidei (analogia da fé).
Para Tomás de Aquino, há uma correspondência (analogia) e até uma semelhança entre Deus e sua criatura, o que nos permitiria aplicar conceitos humanos em referência a Deus. Essa correspondência do ser foi denominada de analogia entis. Barth salientou que a correspondência (analogia) acontece somente numa relação de fé, e exclusivamente por iniciativa de Deus. Ela não acontece naturalmente. Por isso, ele acentuou a analogia fidei. Qualquer pretenso conhecimento racional de Deus vem a ser "culpada arrogância religiosa".
A teologia católica seguia o princípio tomista da analogia entis: a idéia de que é possível falar de Deus a partir do conhecimento humano. Segundo Barth, a analogia entis é o abominável caminho que vai de baixo para cima, com a presunção de que a partir da terra se penetre no mistério divino. O caminho correto seria o que parte da revelação de Deus – de cima para baixo; é o caminho da analogia fidei. É a partir da fé que o cristão compreende a verdade de Deus e não se baseando na sua própria razão. Quando a fé procura suportes racionais, ela deixa de ser fé. Segundo Barth:
Palavra de Deus outra coisa não é do que o próprio Jesus". É neste sentido que pode-se falar da concentração cristológica da teologia de Barth.
Palavra de Deus e Concentração Cristológica
Além de teólogo, Barth foi pastor. Disto decorre a importância do tema da Palavra de Deus em sua teologia. Afinal de contas, a prédica é uma das maiores tarefas pastorais. Daí Barth dizer:
"Independente de minha formação teológica sempre fui impelido cada vez com mais intensidade, por inúmeras circunstâncias, a me ocupar com problemas pastorais como, por exemplo, o da pregação. Buscava - vós o sabeis certamente - abrir caminho entre os problemas da vida humana às voltas com as estranhas contradições da vida, proclamando-lhes a mensagem não menos estranha da Bíblia." | — ' |
Karl Barth enfatiza que Deus é livre, soberano e transcendente. Deus se dirige ao ser humano por intermédio de sua Palavra, que também é livre e soberana. A Palavra é o único fundamento de toda a teologia. Ela procede do próprio Deus, que permanece para sempre o seu sujeito. Por isso, ela tem autoridade.
A teoria barthiana da tríplice manifestação da Palavra relaciona-se à forma como Deus se comunica com o ser humano. A Palavra nos atinge de três modos (em ordem decrescente de importância): 1. o próprio Jesus Cristo, que é a Palavra revelada de Deus; 2. mediante a Bíblia, que é o testemunho a respeito de Jesus Cristo; 3. a proclamação da Igreja, que comunica, através do Espírito Santo, o que diz a Bíblia. De acordo com Barth, por meios naturais o homem é incapaz de ouvir essa Palavra, mas o Espírito Santo imprime a revelação no coração humano.
Para o teólogo suíço, a Palavra de Deus não é resultante de uma reflexão filosófica. Ela também não é um posicionamento sábio diante da angústia humana, mas revela a verdadeira natureza desta af1ição. Por isso, para Karl Barth, o teólogo pode até empregar conceitos filosóficos, mas ele não deve se vincular a uma determinada corrente filosófica. Segundo esta perspectiva, velada ou abertamente, a teologia não poderia ser confundida com alguma corrente filosóflca, nem mesmo poderia ser adaptada às estruturas de alguma escola de pensamento. Numa teologia filosófica, o homem tentaria construir o caminho do conhecimento até Deus. Numa teologia que parte da Bíblia, é Deus quem traça este caminho.
"A dogmática eclesiástica deve ser Cristológica no seu conjunto e em cada uma de suas partes. Pois o seu único critério é a Palavra de Deus revelada, atestada pelas Sagradas Escrituras e pregada pela Igreja; e esta Palavra revelada é idêntica a Jesus Cristo. Quando a dogmática não mais se entende nem sabe se fazer entender fundamentalmente como Cristologia é porque, de certo, caiu sob domínio alheio e começou a perder o seu caráter específico de dogmática eclesiástica." | — ' |
Ver artigo principal: A Declaração Teológica de Barmen
Traços fundamentais
Deus – o Totalmente Outro
Por si mesmo o homem nada pode saber e dizer a respeito de Deus. Só podemos falar verdadeiramente de Deus o que ele mesmo transmitiu. Somente o que Deus revelou de si mesmo pode ser conhecido e comunicado pelo ser humano. A pessoa que pretende falar de Deus a partir de seus sentimentos e de seu raciocínio, está na verdade falando de um ídolo. O verdadeiro Deus é "Totalmente Outro" em relação ao ser humano – em tudo o que a pessoa pensa, sente, deseja, compreende e elabora.
"Deus não é um poder ou uma verdade, Deus não é o Ser a ser descoberto pelo próprio ser humano para então lhe outorgar o título de divindade; ao invés, Deus é aquele que se tornou conhecido do ser humano como seu real Senhor, ao ir ao seu encontro agindo, julgando, perdoando, santificando, prometendo, isto é, ao se revelar a ele." | — ' |
"No início, antes deste nosso tempo e antes deste nosso espaço, antes da criação e, portanto antes de uma realidade distinta de Deus, e objeto de seu amor, antes que ela pudesse ser o palco das ações de sua liberdade, Deus antecipou em si mesmo (no poder de seu amor e liberdade, seu conhecimento e seu querer), já determinou como o alvo e o sentido de todo o seu agir com o mundo que ainda não existia: em seu Filho ser gracioso ao ser humano, pois ele queria se comprometer com ele. No início era a eleição do Pai, tornar verdade esta aliança com o ser humano, a quem entregou o seu Filho, para ele próprio se tornar um ser humano para a consumação de sua graça. No início era a eleição do Filho, para ser obediente à graça e entregar-se a si mesmo e tornar-se um ser humano, para que aquela aliança tenha sua realidade. No início era a resolução do Espírito Santo, para que a unidade de Deus, a unidade do Pai e do Filho por intermédio dessa aliança com o seres humanos não seja destruída, muito menos rasgada, muito mais seja mais gloriosa, para que a divindade de Deus, a divindade de sua liberdade e seu amor justamente nessa entrega do Filho se deva confirmar e comprovar. Essa aliança era no início. E como sujeito e objeto dessa eleição estava Jesus Cristo no início. Ele não estava no início de Deus: Deus não tem início algum. Mas ele estava no início de todas as coisas, no início de todo agir de Deus com a realidade que lhe é distinta. Jesus Cristo era a eleição de Deus em relação a esta realidade. Ele era a eleição da graça de Deus dispensada ao ser humano. Ele era a eleição da aliança de Deus com o ser humano." | — ' |
A Revelação de Deus
Para uma correta compreensão, precisamos retornar às fontes: a auto-revelação de Deus e o testemunho da Sagrada Escritura. Deus é anterior a tudo o mais que existe. Ele também é o absoluto primeiro ao se decidir pela eleição. Ele é absolutamente livre, pois de outra maneira ele nem seria Deus. A demonstração de que o amor de Deus transborda é que ele é em si mesmo suficiente, não padecendo de solidão, mas decidiu, em sua glória divina, compartilhar-se a si mesmo. O transbordamento do amor de Deus é a essência divina. É um amor misericordioso e paciente. Como explica Barth:
A decisão de Deus em Jesus Cristo é uma decisão em graça. Se é verdade que em Jesus Cristo a plenitude da Divindade (Cl 2:9) tomou forma de corpo, então justamente Deus pode em toda plenitude, enquanto se distingue de tudo o que não é Deus, ser recebido como o soberano que se manifesta. Se é verdade que a plenitude de Deus se agradou em fazer morada em Jesus Cristo (Cl 1:19), então o próximo passo para uma doutrina cristã de Deus é inevitável. Também se torna imediatamente claro em que direção esse passo deve acontecer. Jesus Cristo é Deus em sua manifestação ao ser humano. Jesus Cristo é a decisão de Deus para esse procedimento. Ele próprio é esse procedimento divino. Deus não seria Deus sem o Filho sentado à direita do Pai." | — ' |
Ao falarmos de Deus, nós precisamos imediatamente pensar em Jesus Cristo e na humanidade que ele representa.
Jesus Cristo – a Palavra de Deus
A eterna Palavra de Deus se uniu ao ser humano Jesus de Nazaré. E Deus estabeleceu uma aliança com o seu povo. Nós nos relacionamos com o Deus que se manifestou em Jesus Cristo. Esse testemunho da Sagrada Escritura impede que nossos pensamentos se dispersem. A Escritura Sagrada faz nossos pensamentos convergirem para a manifestação de Deus em Jesus Cristo. Deus só pode ser encontrado e conhecido em seu Filho e em sua Palavra.
"Entre Deus e o ser humano encontra-se a pessoa de Jesus Cristo, ele próprio Deus e ele próprio ser humano, e assim intermediando entre ambos. Nele Deus se manifesta ao ser humano. Nele o ser humano reconhece Deus. Nele Deus se posiciona diante do ser humano e o ser humano se encontra diante de Deus, como é a eterna vontade de Deus e como é a eterna determinação do homem, correspondendo à vontade de Deus. Nele está estabelecido o plano de Deus com o ser humano, o juízo de Deus executado sobre o homem, a salvação de Deus consumada para o homem, a dádiva de Deus para o homem presente na plenitude, a reivindicação de Deus e a promessa de Deus pronunciada ao homem. Nele Deus se comprometeu com o ser humano. Ele é a Palavra de Deus, em cuja verdade tudo foi decidido, cuja verdade não pode ser sobrepujada e nem delimitada por nenhuma outra palavra. Ele é a Decisão de Deus, detrás e acima da qual não há anterior e nem superior e nem outra ao lado, contanto que todas as outras resoluções só podem servir para a consecução dessa uma. Ele é o Início de Deus, diante do qual não existe outro, exceto o único início que Deus tem em sei mesmo, assim que fora do próprio Deus ninguém e nada pode provir de outra parte, nem olhar em retrospectiva para um outro início. E é a Eleição de Deus, antes da qual, sem a qual e ao lado da qual Deus não efetivou outra, assim que diante dela, sem ela e ao lado dela ninguém e nada é eleito e desejado por Deus. E justamente ele é a eleição (e portanto também o início, a decisão, a Palavra) da livre graça de Deus. Pois, é livre graça de Deus que Deus elege isto: ser um homem em si mesmo, intermediar-se a si mesmo e vincular-se ao ser humano. Ele, Jesus Cristo, é a livre graça de Deus, na medida em que esta não só permanece idêntica com o ser interior, eterno de Deus, porém é poderosa nos caminhos e atividades de Deus para fora. Justamente por isso não existe nenhuma eleição, nenhum início e resolução, nenhuma Palavra de Deus antes e sobre, ao lado e fora dele. Livre graça é o único fundamento e sentido de todos os caminhos e obras de Deus para fora." | — ' |
"A eleição de Deus é original e propriamente a decisão de Deus para que seja assim como está descrito no Evangélio de João 1:1-2: que verdadeiramente a Palavra – a Palavra, que é este que se chama Jesus – está no início, junto a ele mesmo, semelhante a ele mesmo e com ele sendo um na Divindade. Justamente por isso ela é per se eleição na graça. Que isso seja assim, em verdade não se compreende por si mesmo. Deus não seria Deus, ele não seria livre, se isso assim precisasse ser. […]. O eterno Deus não estava devendo ao ser humano em si mesmo ser o Deus que por essência portasse esse nome. Que ele de fato é este Deus, isto o ser humano não tem merecido, isto só pode lhe ser dado de presente." | — ' |
"Em sua liberdade, ele mesmo se torna em doador e dádiva enquanto ele estabelece a aliança. Observe-se: toda a soberania desse ato já se encontra no conceito da graça." Deus demonstra graça e se evidencia como Salvador e Protetor. Deus elege em sua graça e se volta para o ser humano. É o Deus da eterna eleição em sua graça. "A partir da luz dessa eleição o todo do Evangelho se torna luz. Na medida em que aqui é dito ‘sim’, todas as promessas de Deus são ‘sim’ e ‘amém’ (2 Co 1:20)." | — ' |
"De acordo com a Sagrada Escritura, a eleição de Deus em graça é um determinado e esboçado agir divino que tende para um alvo, cujo objetivo direto e próprio de modo nenhum é a pessoa individual como tal, mas sim uma pessoa singular – e somente nessa pessoa singular o povo é chamado e comprometido (por intermédio dessa pessoa), e só então, nessa coletividade, é que os indivíduos são incluídos para um relacionamento pessoal com Deus. Somente naquela Pessoa singular (Jesus Cristo) é que a determinação divina corresponde a uma certeza para o ser humano. Em seu sentido rigoroso, somente Cristo pode ser entendido a caracterizado como ‘eleito’ (e ‘rejeitado’). Todos os outros são eleitos (ou rejeitados) em Cristo e não em sua própria individualidade." | — ' |
"A eleição em graça é a totalidade do Evangelho." "Ela é em si a essência de toda boa notícia. Como tal ela é compreendida e considerada digna na igreja cristã. Que Deus é em seu ser como aquele que ama em liberdade." "Deus elege. É isto que simplesmente precede todo o outro ser e acontecimento." | — ' |
"Na doutrina da predestinação em si eu preferia ter ficado com Calvino em vez de me distanciar tanto dele." Barth salientou que a eleição está incluída na revelação plena de Deus em Jesus Cristo. Em Jesus se efetivou a eleição e também a condenação. Ele é o homem eleito e também o homem rejeitado (At 2:23). A doutrina da predestinação é a essência do Evangelho. "Ela é Evangelho; boa notícia, alegre, animadora, consoladora, mensagem solícita." "Sem dúvida, ela também projeta uma sombra. Nós não devemos deixar de ver e não devemos ultrapassar esse lado da questão. Mas ela é luz e não escuridão." | — ' |
"Seu ‘sim’ não poderia ser ouvido onde também não é ouvido o seu ‘não’." "Mas em sua substância, ela (a eleição) diz em sua primeira e última palavra ‘sim’ e não ‘não’." "Na eleição de Jesus Cristo, que é a eterna vontade Deus, Deus confere ao ser humano (…) a eleição, a salvação e a vida; e confere a si próprio (…) a reprovação, a perdição e a morte." A doutrina da eleição determina de um modo inequívoco a compreensão do Evangelho. Ela não se encontra – de um modo ou outro – além do ‘sim’ e do ‘não’. "A doutrina da eleição é a essência do Evangelho, pois isto é o melhor que já pôde ser dito e ouvido: Deus escolhe o ser humano e é para ele aquele que ama em liberdade. Ela está fundamentada no conhecimento de Jesus Cristo, porque ele é em unidade o Deus que elege e o ser humano eleito. Ela pertence à doutrina de Deus, porque Deus, ao mesmo tempo que elege o ser humano, não só determina sobre ele, mas de maneira original sobre si mesmo. Sua função consiste no testemunho fundamental da eterna, livre e constante graça como o início de todos os caminhos e atividades de Deus." "Eleição – isso deve inicialmente somente sublinhar e esclarecer o que já é dito com a graça. Deus elege em seu amor alguém outro para a comunhão consigo mesmo. Isso significa por primeiro e acima de tudo: Deus elege a si mesmo em favor desse outro. Deus dá a si mesmo a determinação de não se bastar a si mesmo, na obstante ele ser suficiente para si mesmo. Ele dá a di mesmo a determinação do transbordar, do voltar-se e do descer. Ele se torna a si mesmo uma dádiva." | — ' |
"Ele elege a criação, o homem e a humanidade como o âmbito no qual ele quer ser gracioso." "Deus se elege a si mesmo como Deus da aliança." "Ele elege o homem de Nazaré para aquela unidade de ser consigo mesmo em seu Filho." | — ' |
"A eleição em graça é o eterno início de todos os caminhos e atividades de Deus em Jesus Cristo, na qual Deus em livre graça a si mesmo determina para o ser humano pecador e o homem pecador para ele e, portanto assume para si mesmo a rejeição do ser humano com todas as suas conseqüências e escolhe a pessoa para ter participação em sua própria glória." "O dogma da predestinação consiste pois na sua forma mais simples e mais abrangente nesta fase: a predestinação é a eleição de Jesus Cristo. O conceito de eleição fala pois de um duplo relacionamento: de um que elege e de um que é eleito. E assim também o nome Jesus Cristo encerra um duplo em si: aquele, que assim se chama, é verdadeiro Deus e simultaneamente verdadeiro ser humano. Conforme isso, aquela forma mais simples do dogma da predestinação se desmembra em duas frases, que soam assim: Jesus Cristo é Deus que elege, e Jesus Cristo é o homem eleito." | — ' |
Última edição por Eduardo em Sex Abr 22, 2011 10:10 pm, editado 3 vez(es)
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A Teologia, a Filosofia, a História e a Ressurreição de Jesus :: Comentários
A Providência de Deus
O fundamento da eleição é o livre amor de Deus. É assim que Deus se posiciona a favor de sua criação. Deus preserva sua criação e se entrega a si mesmo. Mas também existe resistência ao amor de Deus. O mundo se encontra numa situação de resistência a esse amor. E assim a eleição também traz consigo o seu oposto. Mesmo assim, Deus continua manifestando o seu amor à sua criatura; é a manifestação de sua graça. É a livre graça de Deus que elege. Deus pronuncia um sim para a sua criação. Ele elege a graça como graça e não como juízo. Deus procede assim em sua absoluta liberdade e movido por sua graça. Sempre de novo Deus procura alcançar sua criatura. A liberdade da graça de Deus é estendida para a pessoa que só pode ainda contar com a graça. A livre graça de Deus quer nos chamar para uma vida em obediência. Devemos viver a partir da força de sua graça. Quando o mistério da graça se torna o centro de nossa vida, então descobrimos que a vontade de Deus é a nossa santificação. O mistério da eleição em graça requer a nossa obediência, pois trata-se do mistério do Deus vivo e vivificador. Resistir ao amor de Deus significa viver fora do âmbito da eleição pela graça, e equivale a viver na inquietação. Viver na eleição pela graça significa viver na paz de Deus. A criatura pode silenciar e se aquietar diante do mistério divino. A justiça de Deus nos leva a constatar que poderíamos nos encontrar no âmbito da não-eleição, da rejeição.
O Criador chama e escolhe, mas também rejeita aquilo que ele não elegeu. Ele pronuncia um "sim" para aquilo que ele quer, e um "não" para aquilo que não faz parte de seu propósito salvífico. Desde a eternidade Deus tem se voltado para o ser humano por intermédio de Jesus Cristo. Mas o homem tem tratado Deus como um estranho. Agora, se o homem quiser se queixar, que se queixe de si mesmo. A criatura traz em si a contradição - no relacionamento com Deus, consigo mesma e com os semelhantes. A criatura sempre convive com a possibilidade de uma queda. Essa realidade ocorre porque a criatura se recusa a viver sob a graça de Deus. Por isso, a culpa dessa ruptura é da criatura e não de Deus. Nós não podemos acusar Deus por ter criado uma criatura sujeita à tentação. Também não podemos acusar Deus por ter permitido a desobediência da espécie humana. Em seu plano eterno, Deus decidiu sustentar sua criatura. Mesmo tentado e dominado pela culpa, o ser humano não é abandonado por Deus. O ser humano se encontra no limite entre criatura de Deus e ouvinte da Palavra. Nesse limite a pessoa é confrontada com sua responsabilidade por aquilo que deveria ter feito e não fez.
O que é então o vazio, o inútil, o desprezível, o fútil, o caos? Somente Deus e sua criatura podem efetivamente ser. Aquilo que foi rejeitado não é nem Deus e nem criatura. Mesmo em se tratando de um não-ser, Deus se ocupa com o caos, lutando contra ele e superando-o. Devemos fazer distinção entre o inútil e desprezível e o lado sombrio da criação. A noite, a dor, a doença, a finitude da vida e toda a carência fazem parte da sombra da criação. E a criatura está sempre beirando esse lado sombrio. No entanto, estas provações nos são necessárias. E a elas podemos resistir. São males relativos e toleráveis. Mas, ao ultrapassar o limite do lado sombrio, a criatura atrai o caos, o desprezível para dentro do mundo criado. Deus é Senhor sobre aquilo está à sua direita e à sua esquerda. O caos, que está à esquerda, não deve ser visto como um segundo deus. O poder, que o desprezível possui, foi-lhe permitido por Deus. Não sendo Deus e nem criatura, o rejeitado é a contradição em si mesmo, é a possibilidade impossível daquilo que foi desprezado por Deus. O inútil se nutre daquilo que Deus não quer.
Essa é a sua possibilidade de subsistir. Mas o inútil não é idêntico ao nada. Deus sempre quer agir de modo positivo, pois é assim que ele manifesta a sua graça. Tudo aquilo que se subtrai à graça de Deus. vem a ser aquilo que Deus não quer e, portanto, rejeita. Toda oposição e adversidade à graça de Deus vêm configurar o retorno do caos. Essa rejeição da graça de Deus é o mal (do ponto de vista cristão). Nesse sentido, o maligno é uma privação. A graça de Deus é o fundamento e a norma de todo o ser, bem como a fonte e a medida de todo o bem. Ao negar a graça de Deus, o desprezível se configura como corrupto e corruptor. O inútil não é neutro. É antes um inimigo, que insulta a Deus e ameaça a criatura. O vazio é o impossível e o insuportável. O vazio toma a forma de pecado e, nessa configuração do mal, gera a morte. Não se trata de um fenômeno da natureza, pois o inútil nem pode ser explicado. Aquilo que conseguimos explicar, pode ser enquadrado em normas e medidas. Mas o inútil é o anormal e o sem medida. O inútil não segue lei alguma. É unicamente desvio, transgressão e maldade. O inútil não pode ser explicado, apenas pode ser constatado como sendo a adversidade. Em sua forma de pecado, o inútil é percebido como culpa, e em sua configuração do mal e morte, como castigo e necessidade. A livre graça de Deus é o princípio básico de todos os relacionamentos do Criador com sua criatura. Mas a livre graça de Deus não fica sem contestação; o inútil se intromete como contradição e adversidade. Concluímos, portanto que o confronto com o inútil vem a se constituir em assunto de Deus. A causa de Deus é combater e vencer o caos. Com suas próprias forças, a criatura não consegue resistir ao inútil.
Gênesis 3 mostra que, na disputa com o inútil, a causa da criatura está perdida. Ao invés de buscar a ajuda de Deus, a criatura tentou disputar por conta própria, procurando se igualar a Deus. A livre graça de Deus é o bem, que é a atuação da misericórdia. Ao se opor à graça de Deus, o inútil vem a se constituir no mal. O Criador conhece o inútil, que é aquilo que ele não escolheu e não quis. Ele conhece o caos e sua dimensão medonha e terrível. Ele conhece esse poder que tem ascendência sobre a criatura. Mas ele permanece Senhor também sobre aquilo que se constitui em ameaça para a criação. Deus jurou fidelidade à sua criatura ameaçada. Ele é solidário com sua criação. O próprio Deus assumiu o confronto com o inútil. Ao enviar seu Filho para a crucificação, Deus preferiu ser um Deus desgraçado, que um Deus bem-aventurado de criaturas desgraçadas. Com a profunda humilhação de Cristo, Deus investiu toda sua glória. O majestoso Deus se apresentou como uma criatura ameaçada, fraca e tentada. E de fato ele se tornou uma frágil criatura em Jesus Cristo. Cabe à criatura escolher unicamente para si o bem, ou seja, colocar-se sob a graça de Deus, e ter o inútil contra si do mesmo modo como Deus o tem. Assim procedendo, não será difícil dominar o inútil.
Escolhendo o auxílio de Deus, a criatura descobre o que unicamente é bom para ela. Deus intervém em favor de sua criatura. Quando alguém se torna receptivo à graça divina, percebe também o quanto é fortalecido em seu viver. No âmbito vazio da auto-suficiência prospera a preguiça do ser humano, que dá espaço ao inútil, para em seguida ser subjugado. Sob as asas da misericórdia de Deus prospera o ânimo. Nosso olhar se volta para a ressurreição de Jesus Cristo, mas também se abre para a sua volta gloriosa. A partir dessa confissão de fé nós podemos chegar a uma só resposta: o inútil é a velha ameaça, a desordem e a corrupção que queria dominar a criação, mas que está vencido por intermédio de Cristo. Derrotado por Cristo, o inútil não precisa mais ser temido. Os reformadores Lutero e Calvino não tinham o menor respeito pelo mal. Sabiam que ele existe, mas não o consideravam digno de respeito. Os reformadores sabiam que existe uma maldade que está além da oposição dos homens. O inimigo de Deus é também inimigo de sua criatura. Nós não devemos fugir das lutas, que devem ser enfrentadas. Nem devemos nos esquivar daqueles sofrimentos, que têm um propósito em nossa vida.
Na oração do Pai Nosso nós pedimos "livra-nos do mal", o que significa: "arranca-nos de suas fauces". O mal tem poder sobre nós porque somos pecadores. Nós precisamos estar atentos para a tentação escatológica, que pode nos levar à queda total, à extinção definitiva. Esse mal supremo e infinito não pertence à criação. Encontra-se no limite sinistro da criação e se nutre a partir da desordem. O mal absoluto se impõe à criação na forma de pecado e morte. Aparece no domínio ilegítimo, incompreensível e inexplicável, e a Bíblia o denomina de Diabo. Sozinha, a criatura não tem como se defender desse perigo. Mas Deus é superior e detém o controle. Sem a proteção de Deus, nada podemos contra o maligno. Ali onde Deus está ausente e não é o Senhor, um outro ocupa o lugar e domina. É totalmente impossível resistir ao mal, se Deus não estiver conosco. Que Deus nos liberte desse pseudo-império, liderado pelo usurpador. O nosso olhar de fé - para o passado e para o futuro - tem como fundamento a Palavra de Deus. A intervenção de Deus derrotou o inútil. Não há mais razão para tributarmos respeito ao inútil. Jesus Cristo reduziu o maligno a um espantalho ridículo. A obediência da fé nos proporciona liberdade. E a nossa fé nos mostra que o inútil foi derrotado por Jesus Cristo, nosso Senhor, que proporciona um novo começo à nossa vida. Não há mais espaço para o inútil na vida de quem tem fé.
A Livre Graça de Deus
Deus estabeleceu uma aliança com a humanidade. Sua decisão primordial em Jesus Cristo é o fundamento e o alvo de todo o seu agir: é a graça.
"Deus se deu a conhecer por intermédio dele mesmo. Ele é o Deus vivo que ama em liberdade." "Deus é amor. Mas ele é também a liberdade absoluta." A manifestação de Deus em Jesus de Nazaré é uma decisão de sua soberania divina. É a demonstração de sua misericórdia, justiça, constância e onipotência. Deus age movido pela sua graça e pelo seu amor. Ele elege em sua liberdade divina.
Existe uma conexão entre a graça e a reivindicação de Deus.
A Igreja de Jesus Cristo e seu Compromisso
A característica essencial da igreja é ouvir a Deus.
É a voz que deve reinar sozinha na Igreja. Deus é o sujeito de tudo aquilo que deve ser dito e ouvido na Igreja. Barth salientou que a dogmática deve ser necessariamente eclesiástica.
Esta é a verdade que a Igreja deve ouvir e ensinar. Barth abordou a ética na exposição da auto-revelação de Deus em Jesus Cristo. A ética foi incluída na doutrina de Deus. E, assim, a ética cristã é considerada novamente como intrínseca à dogmática. Não podemos identificar a ética cristã com a filosófica. A ética cristã é analisada à luz da soberana liberdade de Deus, revelado em Jesus Cristo. A ética cristã se orienta a partir da revelação. E a ética filosófica, a partir da razão. Esta requer "uma reta norma de razão". A ética cristã não está empenhada em encontrar o Bem, assim como a ética filosófica propõe. Para a ética cristã, o Bem já é conhecido e pressuposto. A ética cristã se interessa em saber "o que eu devo fazer, como crente em Jesus Cristo e membro de sua igreja". Para a ética cristã é central o tema da obediência. Observamos, portanto, que a preocupação de uma, não se constitui em tema relevante para a outra. A ética filosófica entende que o homem elabora os seus princípios éticos. A ética cristã tem como ponto de partida a busca pela vontade de Deus, que é determinante para a formulação de princípios de conduta. Deus inicia e estabelece a humanidade do homem. "Precisamente porque a eleição divina é a determinação última do homem, surge a questão da autodeterminação do homem à luz de sua determinação por Deus". A ética cristã não necessita e nem pode rechaçar a ética filosófica, e não o faz. É a ética filosófica que deve rechaçar a ética cristã, e o faz. A ética cristã não repudia e nem ignora a filosófica. A ética teológica deve incluir toda a verdade ética sob o âmbito da graça de Deus. "Porém, precisamente porque tal relação entre a ética teológica e filosófica é básica e concreta, trata-se de uma relação crítica, não de colaboração".
Uma ética cristã tem como origem e base o mandamento de Deus. É neste aspecto que a ética filosófica se torna insuficiente.
Barth enfatiza a íntima relação entre a conduta do homem e a sua existência como pessoa. A preocupação ética é na verdade o questionamento pela bondade, pela integridade, pela retidão, pela autenticidade existencial. E assim Barth conseguiu conduzir o protestantismo da acomodação racionalista liberal para um retorno ao pensamento dos reformadores. Desta maneira ele resumiu sua caminhada teológica: "Quando olho para a minha vida que ficou para trás, vejo-me como alguém que sobe às apalpadelas na escuridão de um campanário. E, ao fazê-lo, sem perceber, ao invés do corrimão da escada, segura uma corda, a corda do sino. E, de repente, cheio de consternação, ele ouve o sino começar a tocar. E, naturalmente, não é só ele que o escuta".
Em 1957, o teólogo católico Hans Küng obteve o grau de doutor em teologia com a tese Justificação: a doutrina de Karl Barth e uma reflexão católica. Hans Küng argumentou que a teologia de Barth concorda com a da Igreja Católica Romana e vice-versa. O Papa Pio XII considerou Karl Barth "o maior teólogo desde Tomás de Aquino".
Referências
A Neo-Ortodoxia e a Ressurreição de Jesus
Postado por Augustus Nicodemus Lopes
A NEO-ORTODOXIA E A RESSURREIÇÃO DE JESUS
O objetivo desse post é demonstrar que a visão neo-ortodoxa padrão da ressurreição de Jesus, embora aparente ter muitas similaridades com aquilo que os ortodoxos acreditam, difere radicalmente da ortodoxia em pelo menos três pontos essenciais. A importância desse assunto reside no fato de que a ressurreição de Jesus sempre foi considerada como uma das doutrinas centrais que estabelecem a linha divisória entre o Cristianismo e outras religiões. Ou seja, crer na ressurreição de Jesus Cristo é o fundamento do Cristianismo. É a pedra sobre a qual se levanta o edifício do autêntico Cristianismo, e por ela se avalia a genuinidade de qualquer movimento ou ministério que se professe cristão.
É preciso salientar que muitos ortodoxos e neo-ortodoxos compartilham algumas perspectivas sobre esse assunto. Ambos acreditam que o túmulo está permanentemente vazio. Ambos acreditam que o túmulo foi esvaziado por um ato sobrenatural de Deus. Eles também compartilham a crença na genuinidade das aparições de Jesus aos discípulos após a sua ressurreição. Num certo sentido, são essas crenças que separam os neo-ortodoxos dos antigos liberais e os aproxima um pouco mais dos conservadores.
As diferenças, todavia, são muito profundas e não devem ser ignoradas em nome das similaridades. Afinal, como já dissemos, a ressurreição é muito importante para que possamos deixar esse ponto sem análise.
A IDENTIDADE NUMÉRICA DO CORPO DE JESUS
A primeira diferença diz respeito à identidade numérica do corpo de Jesus. Explico. Para os conservadores, o corpo com o qual Jesus ressuscitou era numericamente idêntico ao corpo com o qual ele viveu aqui nesse mundo. Era o mesmo corpo, agora glorificado pelo poder de Deus, e tendo, portanto, qualidades, poderes e virtudes distintos daquela primeira fase, como por exemplo, a imortalidade. O Credo dos Apóstolos declara "creio na ressurreição do corpo". A Igreja Cristã sempre confessou sua crença na ressurreição física de Jesus. Encontramos esse conceito nos pais da Igreja – à exceção de Orígenes, que foi condenado por negar isso –, na Igreja Católica do período medieval, nos reformadores e em todas as confissões históricas da Igreja Cristã. Em resumo, a crença de que o corpo da ressurreição era numericamente o mesmo corpo físico de carne e osso de Jesus durante o seu ministério terreno, sempre foi reconhecido pelos cristãos de todas as épocas.
A neo-ortodoxia, todavia, provavelmente influenciada pela mentalidade gnóstica, tem a tendência de espiritualizar a ressurreição de Jesus. Tomemos alguns exemplos. Emil Brunner, um dos pais da neo-ortodoxia, declarou enfaticamente: "ressurreição do corpo, sim; ressurreição da carne, não! A ressurreição do corpo não significa a identidade do corpo da ressurreição com o corpo de carne e ossos, apesar de já transformado; mas, a ressurreição do corpo significa a continuidade da personalidade individual desse lado e no outro lado, a morte." (1)
Todavia, a influência mais radical sobre a visão neo-ortodoxa da ressurreição vem de Rudolph Bultmann. Apesar de acreditar que existiu um Jesus da história, ele nega claramente a historicidade da ressurreição. Ele afirma que a ressurreição "não é um evento da história passada... um fato histórico que envolva a ressurreição de mortos é totalmente inconcebível". Para Bultmann, “é impossível acreditar-se num evento mítico como a ressurreição de um cadáver, pois é isso o que a ressurreição significa”. Portanto, para ele, "Se o evento do domingo de Páscoa for em qualquer sentido um evento histórico adicional ao evento da Cruz, não é nada mais do que o surgimento da fé no Senhor ressurreto...” (2)
Um outro exemplo vem de Wolfhart Pannenberg, que muito embora não possa ser considerado neo-ortodoxo, todavia, respira o mesmo ar que permeia o ambiente da neo-ortodoxia. Ele confessa que Jesus ressuscitou de um túmulo vazio, mas nega que ele foi ressuscitado no mesmo corpo físico de carne e ossos. Na verdade, ele vê o corpo da ressurreição como puramente espiritual ou material. (3)
Essa descontinuidade entre o corpo físico, de carne e ossos de Jesus, antes da ressurreição, e aquele corpo após a ressurreição, identifica a crença neo-ortodoxa e a separa radicalmente da fé do Cristianismo histórico.
A MATERIALIDADE DO CORPO DE JESUS
A igreja cristã sempre acreditou e confessou que Jesus ressuscitou de entre os mortos fisicamente. Ou seja, o que saiu do túmulo vazio não foi um fantasma ou um corpo imaterial, mas um corpo tangível e palpável, que poderia ser tocado e sentido, e que era material em todos os sentidos. Encontramos esse conceito nos escritos dos pais apostólicos bem como em todas as confissões ortodoxas da igreja cristã. A importância da materialidade do corpo de Jesus reside no fato de que ele é o primogênito da ressurreição. Os cristãos sempre ansiaram pela ressurreição do corpo da qual Jesus Cristo é o primogênito. Se, todavia, Jesus não ressuscitou com um corpo real, físico, material, tangível, palpável, essa esperança é na verdade vã.
A neo-ortodoxia padrão, muito embora confessando a ressurreição, nega que ela, em qualquer sentido, representa a revivificação de um cadáver. Conforme vimos acima, representantes da neo-ortodoxia defendem um corpo espiritual e imaterial, ou, como Bultmann, que a ressurreição é apenas a emergência da fé no coração dos discípulos.
A HISTORICIDADE DA RESSURREIÇÃO
É talvez aqui que a diferença entre a posição neo-ortodoxa e aquela do Cristianismo histórico apareça com maior clareza. Já que para a neo-ortodoxia existem dois níveis de história, a historie e a heilsgeschichte, sendo essa última a "história da salvação", cujos eventos não se localizam na história desse mundo, fica fácil para eles transpor a ressurreição de Jesus para a heilsgeschichte, o âmbito dos eventos salvadores não históricos e não verificáveis. Como para a neo-ortodoxia a historicidade dos eventos bíblicos e de suas narrativas não é realmente importante, ao fim das contas pouca diferença fará para a fé se Jesus ressuscitou de fato e de verdade na manhã daquele domingo de Páscoa.
É aqui que mencionamos o nome de Karl Barth. O velho liberalismo negava a historicidade da ressurreição de Jesus Cristo e jogou a narrativa bíblica no descrédito. Barth, todavia, através da sua teologia dialética, resgatou a doutrina da ressurreição. Contudo, mesmo vendo seu longo ministério como um todo, ainda permanecem dúvidas se ele acreditava que a ressurreição tenha sido um evento da história. No início da teologia da crise, em seu comentário de Romanos (1919), ele afirma, "a ressurreição toca a história como uma tangente toca um círculo, isto é, sem realmente tocá-lo”. Aqui Barth aparenta acreditar que a ressurreição de Jesus não pode ser provada nem refutada por evidências históricas, pois como ato de Deus, é histórica num sentido único. O que exatamente Barth quis dizer com isso, não é claro. Alguns defendem que ele mudou seu ponto de vista posteriormente, defendendo a corporeidade física da ressurreição de Jesus. Mas, muitos ainda suspeitam que para o simpático teólogo suíço, não se pode falar da ressurreição como um fato histórico, mas somente como revelação.
O meu objetivo com esse post foi mostrar que alguns expoentes da neo-ortodoxia não receiam negar três aspectos da ressurreição de Jesus Cristo que os cristãos conservadores consideram da mais alta importância: a continuidade entre o corpo antes da ressurreição e o corpo após a ressurreição, a materialidade do corpo da ressurreição, e a historicidade do evento. Não acredito que todos os que se consideram neo-ortodoxos pensem dessa forma. Todavia, acredito que é importante esclarecer que a negação desses aspectos da ressurreição de Jesus Cristo é característica da neo-ortodoxia.
Em conclusão, lembramos que o apóstolo Paulo em 1Coríntios 15 trata a ressurreição de Jesus como um evento ocorrido na história, e não na supra-história, evento esse testemunhado por várias pessoas, cuja historicidade é a base da fé cristã. É interessante que ele diz que se não há ressurreição (entendida como um evento histórico), inclusive o kerygma – a proclamação da Igreja – é vã.
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
(1) Emil BRUNNER, The Christian Doctrine od Creation and Redemption, 1952, p. 372.
(2) Rudolph BULTMANN, Kerygma and Myth: A Theological Debate, 1954, pp. 38-39.
(3) Wolfhart PANNENBERG, Jesus—God and Man, 1968, p. 101.
A Ascensão de Cristo: Mito ou Realidade Histórica?
A Ascensão de Cristo e a Promessa de Sua Vinda
O Apóstolo Paulo, teologizando acerca da ressurreição afirmou em sua primeira epístola aos Coríntios no capítulo 15 e versículo 12-14 que: “Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé”. A polêmica acerca da ressurreição e ascensão de Cristo não é fruto do nosso tempo. Desde os tempos da igreja primitiva havia pessoas que, não mantiveram contato com Jesus, que afirmavam que não havia ressurreição[1] e que, conseguinte, também não haveria ascensão. Paulo combateu esse pensamento sacralizando essa verdade nas Escrituras Sagradas. “Mas, agora, Cristo ressuscitou dos mortos e foi feito às primícias dos que dormem.” (1 Co. 15.21).
Também, durante a história da igreja, havia e ainda há muitos que pretendem diminuir a Pessoa de Cristo e sua Obra. Entretanto, contra fatos não há argumentos. Vamos, portanto, compreender a historicidade da ascensão de Cristo e conhecer alguns pensamentos controversos contrários às Escrituras no tocante a este respeito. Primeiro apresentaremos um Panorama Geral das Principais Perspectivas da Idade Moderna.
O Iluminismo: a ressurreição como algo que não aconteceu
No século XVIII, o distanciamento cronológico, de acordo com Lessing, o fez duvidar da ressurreição, por conta da sua falta desconfiança dos testemunhos registrados. Provocando um abismo terrível. Como se ele pensasse assim: “Uma vez que no presente não vemos homens ou mulheres ressuscitar dos mortos, por que devemos acreditar que tal fato tenha ocorrido no passado?”. [2]
O que se discute aqui é um tema central do Iluminismo: a autonomia humana. De acordo com esta filosofia, a realidade é racional, e, portanto, o homem possui a habilidades epistemológicas necessárias para desvendar essa ordem racional do universo.... Conforme a ótica de Lessing, a ressurreição não passava de um fato que não aconteceu, de um grande equívoco. (ALISTER, 2005, 456 p.)
David Friedrich Strauss: A ressurreição como mito
Em 1835, Strauss traz uma abordagem inovadora. Ele, em sua obra racionalista, atraiu enorme atenção, afirmara que “a raiz da fé em Cristo encontra-se na certeza de sua ressurreição... Libertado, por intermédio de sua ressurreição, do reino das sombras e da morte, e, sendo, ao mesmo tempo, elevado acima da esfera terrena da humanidade, ele havia sido transportado às regiões celestiais, assumindo seu lugar à direita de Deus”.[3]
Entretanto, Strauss procurou adequar a mensagem cristã com o advento do Iluminismo e procurou explicar “a origem da fé na ressurreição de Cristo de forma absolutamente independente de algum milagre”[4]. Assim, ele demonstrou que a fé na ressurreição era simplesmente subjetiva, ou seja, segundo Strauss, Jesus não havia ressuscitado de fato, objetivamente, mas somente na mente dos discípulos.
Portanto, de acordo com ele, um Cristo morto é assim transformado em um Cristo ressurrecto imaginário – mais propriamente falando um Cristo ressurrecto mítico...
Rudolf Bultmann: a ressurreição como evento na experiência dos discípulos
Na mesma linha de Strauss, Bultmann afirmava que era “impossível acreditar em milagres”.[5] Assim, não concebia a ressurreição de Cristo como um fato objetivo. Para Bultmann, “a crença na ressurreição de Jesus como um fato objetivo, embora fosse algo perfeitamente inteligível e legítimo no contexto do século I, não podia ser levado a sério nos dias atuais”.[6]
Por essa razão, a ressurreição deveria ser considerada como “um mito, puro e simples”. A ressurreição era algo que se passara na experiência subjetiva dos discípulos, e não algo que de fato acontecera na história. Para Bultmann, Jesus havia de fato ressuscitado – ressuscitado, no entanto, no âmbito do querigma... De forma consistente com sua abordagem, de modo geral, anti-histórica, Bultmann desvia sua atenção do Jesus histórico para a proclamação de Cristo.
Karl Barth: a ressurreição como fato histórico além da investigação crítica
Barth, um teólogo neo-ortodoxo, procurando contradizer Bultmann, escreveu, em 1952, uma obra entitulada “Rudolf Bultmann – na attempt to understand him” [“Rudolf Bultmann p uma tentativa de compreendê-lo”].[7] Alarmado pelo pensamento existencial de Bultmann acerca da ressurreição, Barth dedicou-se a estudar com mais afinco as Escrituras, principalmente na questão do túmulo vazio. Segundo Barth o túmulo vazo é “‘um sinal indispensável’ que ‘impede qualquer possível erro de interpretação’”.[8] Barth prova que a “ressurreição de Cristo não fora um evento exclusivamente interior ou subjetivo, mas sim algo que deixara um marco na história”.[9] Ocorre que, contraditoriamente, Barth recusava-se “a permitir que as narrativas dos evangelhos fossem submetidas ao escrutínio da crítica histórica”.[10]
Pannenberg: a ressurreição como fato histórico aberto à investigação crítica
Para esse teólogo a teologia cristã “fundamentava-se na análise da história universal e era acessível a todos”.[11] Para ele, a revelação “é essencialmente um fato histórico público e universal, reconhecido e interpretado como um ‘ato de Deus’”.[12] O mais destacado e certamente o mais comentado aspecto da obra de Pannenberg seja sua insistência em defesa da ressurreição de Jesus como fato histórico objetivo, testemunhado por todos que tiveram acesso à evidência.
O argumento de Pannenberg desenvolve-se no seguinte raciocínio. A história, em sua totalidade, somente pode ser compreendida quando vista a partir de seu ponto final. Apenas este ponto fornece perspectiva necessária, a partir da qual o processo histórico pode ser visto por inteiro e, assim, adequadamente compreendido. Contudo, enquanto Marx defendia que as ciências sociais, ao prever o fim da história com a hegemonia do socialismo, forneciam uma chave para a interpretação da história. Pannenberg afirmava que essa chave somente se encontrava em Jesus Cristo. Assim, o fim da história era revelado antecipadamente na história de Jesus Cristo. Em outras palavras, o fim da história, algo que ainda aconteceria no futuro, havia sido revelado de forma antecipada na pessoa e na obra de Cristo... As evidências históricas que apontavam para a ressurreição de Jesus deveriam ser investigadas de forma isenta, sem se deixar contaminar pelo pressuposto dogmático apriorístico de que era impossível que a ressurreição tivesse ocorrido. Havendo defendio a historicidade da ressurreição, Pannenberg passa a tratar de sua interpretação no contexto de uma estrutura de sentido apocalíptica. O fim da história havia sido de certa forma antecipado com a ressurreição de Cristo... Assim, a ressurreição de Jesus está organicamente ligada à auto-revelação de Deus em Cristo; ela define a identidade de Jesus em Deus e permite que esta identidade seja projetada no ministério que Jesus desenvolveu antes da ressurreição. Portanto, a ressurreição atua como fundamento de uma série de proposições cristológicas fundamentais, entre as quais incluem-se a divindade de Cristo e a encarnação. (ALISTER, 2005, 459 p.)
Conclusão: A ressurreição, conseqüente ascensão e a esperança cristã
Percebemos que na Idade Moderna houve pensadores e teólogos que procuraram adaptar a verdade cristã à forma de pensamento moderno. Neste trabalho, perderam-se na compreensão da revelação das Sagradas Escrituras.
O Iluminismo na ânsia de defender a autonomia intelectual do ser humano racionalizou a Palavra de Deus, não considerando a ação de Deus na historiada humanidade. Igualmente Strauss, pretendendo combater o iluminismo errou ao enquadrar a ressurreição no aspecto do mito, trazendo a compreensão errônea de que os discípulos “imaginaram” a ressurreição, e que Cristo, objetivamente, não ressuscitou, mas, apenas, subjetivamente, na cabeça dos discípulos. Bultmann, na mesma linha de Strauss, erroneamente, descreveu que Cristo ressuscitou na mensagem dos discípulos, e não objetivamente, demonstrando, mais uma vez, a subjetividade da ressurreição de Cristo, pois pensava que a mensagem dos Evangelhos estava envelhecida e não cabia na forma de pensar da Idade Moderna, que é extremamente racionalista e existencial. Ledo engano!
Através de Karl Barth, então, foi-se, aos poucos, aproximando o pensamento moderno com a tradição cristã descrita nos Evangelhos. Barth afirma que a ressurreição de Cristo não foi um mito, ou uma subjetividade dos discípulos, mas uma realidade histórica e procurou apresentar essa verdade. Para Barth, Jesus ressuscitou de verdade, numa realidade histórica, objetivamente. E, Pannenberg, finalmente, demonstrou como os fundamentos do cristianismo resistem às tentativas racionalistas e existencialistas do homem moderno de diminuir as verdades do Evangelho.
Jesus ressuscitou, e Ele é o ponto central. Nem antes e nem depois houve alguém como Ele: Jesus Cristo – Deus e Homem. A ressurreição de Cristo o possibilitou a ser ascendido aos céus. Aqui a ressurreição afirma a divindade de Cristo. No Novo Testamento “a posição exaltada de Jesus de Nazaré é vista como algo relacionado a sua ressurreição.
A ressurreição de Cristo sustenta a esperança cristã, com implicações na salvação e nos acontecimentos nos tempos do fim, quando de Sua ascensão, os “varões vestidos de branco” disseram aos discípulos: “Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (Atos 1.11). Aleluias! Ele virá, pois Ele foi e prometeu que voltaria. E ele voltará! “Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente, cedo venho. Amém! Ora, vem Senhor Jesus!” (Ap. 22.21).
Por Ev Valter Borges
Pr AD Thelma
[1] “Naquele dias alguns negavam a ressurreição corpórea de Cristo (v. 12). Respondendo, Paulo declara que se Cristo não ressuscitou, não há perdão, nem livramento do pecado. Fica claro que os que negam a realidade objetiva da ressurreição de Cristo, estão negando totalmente a fé cristã. São falsas testemunhas que falam contra Deus e a sua Palavra. Sua fé não tem valor, e, portanto, não são cristãos autênticos” (BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Pentecostal. Almeida Revista e Corrigida.CPAD, 1995, pg. 1764).
[2] TEOLOGIA Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma introdução a Teologia Cristã. Aliter E. McGrath; [tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes] – São Paulo: Shedd Publicações, 2005. 456 p.
[3] TEOLOGIA Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma introdução a Teologia Cristã. Aliter E. McGrath; [tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes] – São Paulo: Shedd Publicações, 2005. 457 p.
[4] Idem. 457 p.
[5] Ibidem 458 p.
[6] Ibidem 458 p.
[7] TEOLOGIA Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma introdução a Teologia Cristã. Aliter E. McGrath; [tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes] – São Paulo: Shedd Publicações, 2005. 459 p.
[8] Idem. 459 p.
[9] Ibidem 459 p.
[10] Ibidem 460 p.
[11] Ibidem 461 p.
[12] Ibidem 461 p.
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Pentecostal. Almeida Revista e Corrigida.CPAD, 1995.
BÍBLIA. Português. Novo Testamento King James – Edição de Estudo. Tradução King James Atualizada (KJA). São Paulo, Sociedade Ibero-Americana.
CHAMPLIN, Russel Norman. O Antigo Testamento Interpretado: versículo por versículo – volume 3. R. N. Champlin, Ph. D. 1ª Edição – São Paulo: CANDEIA, 2000.
DICIONÁRIO BÍBLICO WYCLIFF. 1ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
DICIONÁRIO DO MOVIMENTO PENTECOSTAL – Organizado por Isael de Araújo. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
LIÇÕES BÍBLICAS. Jovens e Adultos. 1º Trimestre de 2010. CPAD, 2011.
O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA – Edição em 1 Volume. Organizado por J. D. Douglas. Editor da edição em português: R. P. Shedd, M. A., B. D., Ph. D. Tradução João Bentes – São Paulo: Edições Vida Nova, 1997.
TEOLOGIA Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma introdução a Teologia Cristã. Aliter E. McGrath; [tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes] – São Paulo: Shedd Publicações, 2005.
O fundamento da eleição é o livre amor de Deus. É assim que Deus se posiciona a favor de sua criação. Deus preserva sua criação e se entrega a si mesmo. Mas também existe resistência ao amor de Deus. O mundo se encontra numa situação de resistência a esse amor. E assim a eleição também traz consigo o seu oposto. Mesmo assim, Deus continua manifestando o seu amor à sua criatura; é a manifestação de sua graça. É a livre graça de Deus que elege. Deus pronuncia um sim para a sua criação. Ele elege a graça como graça e não como juízo. Deus procede assim em sua absoluta liberdade e movido por sua graça. Sempre de novo Deus procura alcançar sua criatura. A liberdade da graça de Deus é estendida para a pessoa que só pode ainda contar com a graça. A livre graça de Deus quer nos chamar para uma vida em obediência. Devemos viver a partir da força de sua graça. Quando o mistério da graça se torna o centro de nossa vida, então descobrimos que a vontade de Deus é a nossa santificação. O mistério da eleição em graça requer a nossa obediência, pois trata-se do mistério do Deus vivo e vivificador. Resistir ao amor de Deus significa viver fora do âmbito da eleição pela graça, e equivale a viver na inquietação. Viver na eleição pela graça significa viver na paz de Deus. A criatura pode silenciar e se aquietar diante do mistério divino. A justiça de Deus nos leva a constatar que poderíamos nos encontrar no âmbito da não-eleição, da rejeição.
O Criador chama e escolhe, mas também rejeita aquilo que ele não elegeu. Ele pronuncia um "sim" para aquilo que ele quer, e um "não" para aquilo que não faz parte de seu propósito salvífico. Desde a eternidade Deus tem se voltado para o ser humano por intermédio de Jesus Cristo. Mas o homem tem tratado Deus como um estranho. Agora, se o homem quiser se queixar, que se queixe de si mesmo. A criatura traz em si a contradição - no relacionamento com Deus, consigo mesma e com os semelhantes. A criatura sempre convive com a possibilidade de uma queda. Essa realidade ocorre porque a criatura se recusa a viver sob a graça de Deus. Por isso, a culpa dessa ruptura é da criatura e não de Deus. Nós não podemos acusar Deus por ter criado uma criatura sujeita à tentação. Também não podemos acusar Deus por ter permitido a desobediência da espécie humana. Em seu plano eterno, Deus decidiu sustentar sua criatura. Mesmo tentado e dominado pela culpa, o ser humano não é abandonado por Deus. O ser humano se encontra no limite entre criatura de Deus e ouvinte da Palavra. Nesse limite a pessoa é confrontada com sua responsabilidade por aquilo que deveria ter feito e não fez.
O que é então o vazio, o inútil, o desprezível, o fútil, o caos? Somente Deus e sua criatura podem efetivamente ser. Aquilo que foi rejeitado não é nem Deus e nem criatura. Mesmo em se tratando de um não-ser, Deus se ocupa com o caos, lutando contra ele e superando-o. Devemos fazer distinção entre o inútil e desprezível e o lado sombrio da criação. A noite, a dor, a doença, a finitude da vida e toda a carência fazem parte da sombra da criação. E a criatura está sempre beirando esse lado sombrio. No entanto, estas provações nos são necessárias. E a elas podemos resistir. São males relativos e toleráveis. Mas, ao ultrapassar o limite do lado sombrio, a criatura atrai o caos, o desprezível para dentro do mundo criado. Deus é Senhor sobre aquilo está à sua direita e à sua esquerda. O caos, que está à esquerda, não deve ser visto como um segundo deus. O poder, que o desprezível possui, foi-lhe permitido por Deus. Não sendo Deus e nem criatura, o rejeitado é a contradição em si mesmo, é a possibilidade impossível daquilo que foi desprezado por Deus. O inútil se nutre daquilo que Deus não quer.
Essa é a sua possibilidade de subsistir. Mas o inútil não é idêntico ao nada. Deus sempre quer agir de modo positivo, pois é assim que ele manifesta a sua graça. Tudo aquilo que se subtrai à graça de Deus. vem a ser aquilo que Deus não quer e, portanto, rejeita. Toda oposição e adversidade à graça de Deus vêm configurar o retorno do caos. Essa rejeição da graça de Deus é o mal (do ponto de vista cristão). Nesse sentido, o maligno é uma privação. A graça de Deus é o fundamento e a norma de todo o ser, bem como a fonte e a medida de todo o bem. Ao negar a graça de Deus, o desprezível se configura como corrupto e corruptor. O inútil não é neutro. É antes um inimigo, que insulta a Deus e ameaça a criatura. O vazio é o impossível e o insuportável. O vazio toma a forma de pecado e, nessa configuração do mal, gera a morte. Não se trata de um fenômeno da natureza, pois o inútil nem pode ser explicado. Aquilo que conseguimos explicar, pode ser enquadrado em normas e medidas. Mas o inútil é o anormal e o sem medida. O inútil não segue lei alguma. É unicamente desvio, transgressão e maldade. O inútil não pode ser explicado, apenas pode ser constatado como sendo a adversidade. Em sua forma de pecado, o inútil é percebido como culpa, e em sua configuração do mal e morte, como castigo e necessidade. A livre graça de Deus é o princípio básico de todos os relacionamentos do Criador com sua criatura. Mas a livre graça de Deus não fica sem contestação; o inútil se intromete como contradição e adversidade. Concluímos, portanto que o confronto com o inútil vem a se constituir em assunto de Deus. A causa de Deus é combater e vencer o caos. Com suas próprias forças, a criatura não consegue resistir ao inútil.
Gênesis 3 mostra que, na disputa com o inútil, a causa da criatura está perdida. Ao invés de buscar a ajuda de Deus, a criatura tentou disputar por conta própria, procurando se igualar a Deus. A livre graça de Deus é o bem, que é a atuação da misericórdia. Ao se opor à graça de Deus, o inútil vem a se constituir no mal. O Criador conhece o inútil, que é aquilo que ele não escolheu e não quis. Ele conhece o caos e sua dimensão medonha e terrível. Ele conhece esse poder que tem ascendência sobre a criatura. Mas ele permanece Senhor também sobre aquilo que se constitui em ameaça para a criação. Deus jurou fidelidade à sua criatura ameaçada. Ele é solidário com sua criação. O próprio Deus assumiu o confronto com o inútil. Ao enviar seu Filho para a crucificação, Deus preferiu ser um Deus desgraçado, que um Deus bem-aventurado de criaturas desgraçadas. Com a profunda humilhação de Cristo, Deus investiu toda sua glória. O majestoso Deus se apresentou como uma criatura ameaçada, fraca e tentada. E de fato ele se tornou uma frágil criatura em Jesus Cristo. Cabe à criatura escolher unicamente para si o bem, ou seja, colocar-se sob a graça de Deus, e ter o inútil contra si do mesmo modo como Deus o tem. Assim procedendo, não será difícil dominar o inútil.
Escolhendo o auxílio de Deus, a criatura descobre o que unicamente é bom para ela. Deus intervém em favor de sua criatura. Quando alguém se torna receptivo à graça divina, percebe também o quanto é fortalecido em seu viver. No âmbito vazio da auto-suficiência prospera a preguiça do ser humano, que dá espaço ao inútil, para em seguida ser subjugado. Sob as asas da misericórdia de Deus prospera o ânimo. Nosso olhar se volta para a ressurreição de Jesus Cristo, mas também se abre para a sua volta gloriosa. A partir dessa confissão de fé nós podemos chegar a uma só resposta: o inútil é a velha ameaça, a desordem e a corrupção que queria dominar a criação, mas que está vencido por intermédio de Cristo. Derrotado por Cristo, o inútil não precisa mais ser temido. Os reformadores Lutero e Calvino não tinham o menor respeito pelo mal. Sabiam que ele existe, mas não o consideravam digno de respeito. Os reformadores sabiam que existe uma maldade que está além da oposição dos homens. O inimigo de Deus é também inimigo de sua criatura. Nós não devemos fugir das lutas, que devem ser enfrentadas. Nem devemos nos esquivar daqueles sofrimentos, que têm um propósito em nossa vida.
Na oração do Pai Nosso nós pedimos "livra-nos do mal", o que significa: "arranca-nos de suas fauces". O mal tem poder sobre nós porque somos pecadores. Nós precisamos estar atentos para a tentação escatológica, que pode nos levar à queda total, à extinção definitiva. Esse mal supremo e infinito não pertence à criação. Encontra-se no limite sinistro da criação e se nutre a partir da desordem. O mal absoluto se impõe à criação na forma de pecado e morte. Aparece no domínio ilegítimo, incompreensível e inexplicável, e a Bíblia o denomina de Diabo. Sozinha, a criatura não tem como se defender desse perigo. Mas Deus é superior e detém o controle. Sem a proteção de Deus, nada podemos contra o maligno. Ali onde Deus está ausente e não é o Senhor, um outro ocupa o lugar e domina. É totalmente impossível resistir ao mal, se Deus não estiver conosco. Que Deus nos liberte desse pseudo-império, liderado pelo usurpador. O nosso olhar de fé - para o passado e para o futuro - tem como fundamento a Palavra de Deus. A intervenção de Deus derrotou o inútil. Não há mais razão para tributarmos respeito ao inútil. Jesus Cristo reduziu o maligno a um espantalho ridículo. A obediência da fé nos proporciona liberdade. E a nossa fé nos mostra que o inútil foi derrotado por Jesus Cristo, nosso Senhor, que proporciona um novo começo à nossa vida. Não há mais espaço para o inútil na vida de quem tem fé.
A Livre Graça de Deus
Deus estabeleceu uma aliança com a humanidade. Sua decisão primordial em Jesus Cristo é o fundamento e o alvo de todo o seu agir: é a graça.
"Deus se deu a conhecer por intermédio dele mesmo. Ele é o Deus vivo que ama em liberdade." "Deus é amor. Mas ele é também a liberdade absoluta." A manifestação de Deus em Jesus de Nazaré é uma decisão de sua soberania divina. É a demonstração de sua misericórdia, justiça, constância e onipotência. Deus age movido pela sua graça e pelo seu amor. Ele elege em sua liberdade divina.
"Enquanto Deus age em sua livre graça, ele quer, espera e exige algo de seu companheiro de aliança." "Ele o determinou e criou para ser parceiro nessa aliança; para isso ele o elegeu e chamou; como tal ele o atrai para a responsabilidade." "Ele transforma essa responsabilidade no sentido de toda sua existência." "Ele o chama à ordem e o mantém em ordem, na medida em que ele lhe manifesta sua ordem e enquanto ele vigia para que ele se mantenha em ordem." "Aquele que é eleito recebe justamente com isso um Senhor." "Não existe graça sem o senhorio e a reivindicação da graça." | — ' |
Existe uma conexão entre a graça e a reivindicação de Deus.
A Igreja de Jesus Cristo e seu Compromisso
A característica essencial da igreja é ouvir a Deus.
"Aquilo que faz da igreja uma igreja não é isto ou aquilo, por mais indicado e necessário que seja, mas sempre uma só coisa: que a pessoa ouve porque Deus lhe falou, e ela ouve o que Deus lhe falou." "Igreja existe ali onde o ser humano presta ouvidos a Deus." "O caminho da igreja sempre foi e sempre será um caminho estreito." "O mundo nem sempre foi grato à igreja por ela ignorar seus deuses." "(…) a vida na igreja e a vida da própria igreja terão que ser vida em humildade e serviço". "Na vida pública e privada das pessoas sempre haverá dominação. Estado é dominação, cultura é dominação, mesmo o melhor e mais puro desenvolvimento da essência humana é dominação. Ninguém de nós não participa de dominação humana, ninguém deixa de buscá-la de algum modo. Dominação humana sempre é dominação pecaminosa, perversa." "Ela (a igreja) precisa levantar outro sinal que não seja o da dominação." "(…) a dominação religiosa (…) é a mais terrível forma de dominação humana". O clericalismo é uma dominação e uma caricatura da igreja. "O sinal a ser colocado pela igreja, ou melhor, o sinal sob o qual a igreja originalmente está colocada, se chama serviço, e não dominação." "A igreja não é igreja dos devotos, e sim igreja de Jesus Cristo." "A igreja não vive em arbítrio próprio, por mais bem-intencionado que seja, e sim ela vive em obediência." "A voz orientadora, por intermédio da qual nós nos deixamos instruir por Deus mesmo sobre Deus, foi, pois, a voz de Jesus Cristo." | — ' |
"Ninguém poderá ser teólogo dogmático sem ter recebido a missão de ser "doutor da Igreja", isto é, alguém que, na Igreja ensinará à Igreja as doutrinas da Igreja, não na qualidade de simples erudito, mas de um homem realmente chamado a ensinar. Eleição é no Novo Testamento a determinação divina para o discipulado, para o apostolado, para a comunidade: para o apostolado, contanto que este constitui a comunidade, para a comunidade, contanto que esta é constituída de apostolado, de uma maneira ou de outra, a determinação divina para a participação na salvação do futuro messiânico. É aquele ‘livro’ escriturado por Deus (Ex 32:32), que tem sido identificado como razão com a eleição em graça, de acordo com o Sl 69:29 denominado de modo inequívoco o ‘livro dos vivos’ ou de acordo com a designação do Novo Testamento (Fl 4:3; Ap 3:5; 17:8; 20:12.15) o ‘livro da vida’: não se pode permanecer nesse livro; pode-se ser novamente apagado; esse livro não contém eventualmente duas colunas, porém apenas uma." | — ' |
Uma ética cristã tem como origem e base o mandamento de Deus. É neste aspecto que a ética filosófica se torna insuficiente.
"Como se posiciona a ética cristã perante o mundo da moral humana, isto é, diante dos costumes e hábitos, diante das regras de vida, diante das velhas e também diante das novas, diante das tradicionais e talvez também revolucionárias, nas quais o ser humano imagina reconhecer e fazer "o bem" de modo aparentemente independente da história das mesmas? Responde-se a isso: a ética cristã perpassa todo o mundo da moral, prova tudo e mantém o melhor, somente o melhor, e isso significa o modo pelo qual a graça de Deus melhor é louvada. Certamente não pode ser diferente: a ética cristã sempre de novo ocasiona surpresas ao ser humano com seu padrão moral". "A graça de Deus protesta contra toda ética humanamente estabelecida como tal. Porém, é um protesto positivo: a graça não só não nega o homem, senão que afirma mais ainda o homem ao perseguir a solução do problema ético que a graça proporciona em refutação ativa, resolução e suspensão de todas as respostas humanas a esse problema" | — ' |
Em 1957, o teólogo católico Hans Küng obteve o grau de doutor em teologia com a tese Justificação: a doutrina de Karl Barth e uma reflexão católica. Hans Küng argumentou que a teologia de Barth concorda com a da Igreja Católica Romana e vice-versa. O Papa Pio XII considerou Karl Barth "o maior teólogo desde Tomás de Aquino".
Referências
- BARTH, Karl. Carta aos Romanos. São Paulo: Editora Novo Século, 2003.
- BARTH, Karl. Dádiva e Louvor (Artigos Selecionados). São Leopoldo: Editora Sinodal, 1986.
- BARTH, Karl. Kirchliche Dogmatik. (Textos selecionados por Helmut Gollwitzer). München: Siebenstern Taschenbuch Verlag, 1969.
- BARTH, Karl. La Oración. Buenos Aires: Editorial La Aurora, 1968.
- DUMAS, André – BOSC, Jean – CARREZ, Maurice. Novas Fronteiras da Teologia. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1969.
- LANE, Tony. Pensamento Cristão – da Reforma à Modernidade, Volume 2. São Paulo: Abba Press Editora, 1999.
- TILLICH, Paul. Perspectivas da Teologia Protestante nos Séculos XIX e XX. São Paulo: Associação dos Seminários Teológicos Evangélicos (ASTE), 1986.
- TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. São Leopoldo: Sinodal e São Paulo: Paulinas, 1984.
A Neo-Ortodoxia e a Ressurreição de Jesus
Postado por Augustus Nicodemus Lopes
A NEO-ORTODOXIA E A RESSURREIÇÃO DE JESUS
O objetivo desse post é demonstrar que a visão neo-ortodoxa padrão da ressurreição de Jesus, embora aparente ter muitas similaridades com aquilo que os ortodoxos acreditam, difere radicalmente da ortodoxia em pelo menos três pontos essenciais. A importância desse assunto reside no fato de que a ressurreição de Jesus sempre foi considerada como uma das doutrinas centrais que estabelecem a linha divisória entre o Cristianismo e outras religiões. Ou seja, crer na ressurreição de Jesus Cristo é o fundamento do Cristianismo. É a pedra sobre a qual se levanta o edifício do autêntico Cristianismo, e por ela se avalia a genuinidade de qualquer movimento ou ministério que se professe cristão.
É preciso salientar que muitos ortodoxos e neo-ortodoxos compartilham algumas perspectivas sobre esse assunto. Ambos acreditam que o túmulo está permanentemente vazio. Ambos acreditam que o túmulo foi esvaziado por um ato sobrenatural de Deus. Eles também compartilham a crença na genuinidade das aparições de Jesus aos discípulos após a sua ressurreição. Num certo sentido, são essas crenças que separam os neo-ortodoxos dos antigos liberais e os aproxima um pouco mais dos conservadores.
As diferenças, todavia, são muito profundas e não devem ser ignoradas em nome das similaridades. Afinal, como já dissemos, a ressurreição é muito importante para que possamos deixar esse ponto sem análise.
A IDENTIDADE NUMÉRICA DO CORPO DE JESUS
A primeira diferença diz respeito à identidade numérica do corpo de Jesus. Explico. Para os conservadores, o corpo com o qual Jesus ressuscitou era numericamente idêntico ao corpo com o qual ele viveu aqui nesse mundo. Era o mesmo corpo, agora glorificado pelo poder de Deus, e tendo, portanto, qualidades, poderes e virtudes distintos daquela primeira fase, como por exemplo, a imortalidade. O Credo dos Apóstolos declara "creio na ressurreição do corpo". A Igreja Cristã sempre confessou sua crença na ressurreição física de Jesus. Encontramos esse conceito nos pais da Igreja – à exceção de Orígenes, que foi condenado por negar isso –, na Igreja Católica do período medieval, nos reformadores e em todas as confissões históricas da Igreja Cristã. Em resumo, a crença de que o corpo da ressurreição era numericamente o mesmo corpo físico de carne e osso de Jesus durante o seu ministério terreno, sempre foi reconhecido pelos cristãos de todas as épocas.
A neo-ortodoxia, todavia, provavelmente influenciada pela mentalidade gnóstica, tem a tendência de espiritualizar a ressurreição de Jesus. Tomemos alguns exemplos. Emil Brunner, um dos pais da neo-ortodoxia, declarou enfaticamente: "ressurreição do corpo, sim; ressurreição da carne, não! A ressurreição do corpo não significa a identidade do corpo da ressurreição com o corpo de carne e ossos, apesar de já transformado; mas, a ressurreição do corpo significa a continuidade da personalidade individual desse lado e no outro lado, a morte." (1)
Todavia, a influência mais radical sobre a visão neo-ortodoxa da ressurreição vem de Rudolph Bultmann. Apesar de acreditar que existiu um Jesus da história, ele nega claramente a historicidade da ressurreição. Ele afirma que a ressurreição "não é um evento da história passada... um fato histórico que envolva a ressurreição de mortos é totalmente inconcebível". Para Bultmann, “é impossível acreditar-se num evento mítico como a ressurreição de um cadáver, pois é isso o que a ressurreição significa”. Portanto, para ele, "Se o evento do domingo de Páscoa for em qualquer sentido um evento histórico adicional ao evento da Cruz, não é nada mais do que o surgimento da fé no Senhor ressurreto...” (2)
Um outro exemplo vem de Wolfhart Pannenberg, que muito embora não possa ser considerado neo-ortodoxo, todavia, respira o mesmo ar que permeia o ambiente da neo-ortodoxia. Ele confessa que Jesus ressuscitou de um túmulo vazio, mas nega que ele foi ressuscitado no mesmo corpo físico de carne e ossos. Na verdade, ele vê o corpo da ressurreição como puramente espiritual ou material. (3)
Essa descontinuidade entre o corpo físico, de carne e ossos de Jesus, antes da ressurreição, e aquele corpo após a ressurreição, identifica a crença neo-ortodoxa e a separa radicalmente da fé do Cristianismo histórico.
A MATERIALIDADE DO CORPO DE JESUS
A igreja cristã sempre acreditou e confessou que Jesus ressuscitou de entre os mortos fisicamente. Ou seja, o que saiu do túmulo vazio não foi um fantasma ou um corpo imaterial, mas um corpo tangível e palpável, que poderia ser tocado e sentido, e que era material em todos os sentidos. Encontramos esse conceito nos escritos dos pais apostólicos bem como em todas as confissões ortodoxas da igreja cristã. A importância da materialidade do corpo de Jesus reside no fato de que ele é o primogênito da ressurreição. Os cristãos sempre ansiaram pela ressurreição do corpo da qual Jesus Cristo é o primogênito. Se, todavia, Jesus não ressuscitou com um corpo real, físico, material, tangível, palpável, essa esperança é na verdade vã.
A neo-ortodoxia padrão, muito embora confessando a ressurreição, nega que ela, em qualquer sentido, representa a revivificação de um cadáver. Conforme vimos acima, representantes da neo-ortodoxia defendem um corpo espiritual e imaterial, ou, como Bultmann, que a ressurreição é apenas a emergência da fé no coração dos discípulos.
A HISTORICIDADE DA RESSURREIÇÃO
É talvez aqui que a diferença entre a posição neo-ortodoxa e aquela do Cristianismo histórico apareça com maior clareza. Já que para a neo-ortodoxia existem dois níveis de história, a historie e a heilsgeschichte, sendo essa última a "história da salvação", cujos eventos não se localizam na história desse mundo, fica fácil para eles transpor a ressurreição de Jesus para a heilsgeschichte, o âmbito dos eventos salvadores não históricos e não verificáveis. Como para a neo-ortodoxia a historicidade dos eventos bíblicos e de suas narrativas não é realmente importante, ao fim das contas pouca diferença fará para a fé se Jesus ressuscitou de fato e de verdade na manhã daquele domingo de Páscoa.
É aqui que mencionamos o nome de Karl Barth. O velho liberalismo negava a historicidade da ressurreição de Jesus Cristo e jogou a narrativa bíblica no descrédito. Barth, todavia, através da sua teologia dialética, resgatou a doutrina da ressurreição. Contudo, mesmo vendo seu longo ministério como um todo, ainda permanecem dúvidas se ele acreditava que a ressurreição tenha sido um evento da história. No início da teologia da crise, em seu comentário de Romanos (1919), ele afirma, "a ressurreição toca a história como uma tangente toca um círculo, isto é, sem realmente tocá-lo”. Aqui Barth aparenta acreditar que a ressurreição de Jesus não pode ser provada nem refutada por evidências históricas, pois como ato de Deus, é histórica num sentido único. O que exatamente Barth quis dizer com isso, não é claro. Alguns defendem que ele mudou seu ponto de vista posteriormente, defendendo a corporeidade física da ressurreição de Jesus. Mas, muitos ainda suspeitam que para o simpático teólogo suíço, não se pode falar da ressurreição como um fato histórico, mas somente como revelação.
O meu objetivo com esse post foi mostrar que alguns expoentes da neo-ortodoxia não receiam negar três aspectos da ressurreição de Jesus Cristo que os cristãos conservadores consideram da mais alta importância: a continuidade entre o corpo antes da ressurreição e o corpo após a ressurreição, a materialidade do corpo da ressurreição, e a historicidade do evento. Não acredito que todos os que se consideram neo-ortodoxos pensem dessa forma. Todavia, acredito que é importante esclarecer que a negação desses aspectos da ressurreição de Jesus Cristo é característica da neo-ortodoxia.
Em conclusão, lembramos que o apóstolo Paulo em 1Coríntios 15 trata a ressurreição de Jesus como um evento ocorrido na história, e não na supra-história, evento esse testemunhado por várias pessoas, cuja historicidade é a base da fé cristã. É interessante que ele diz que se não há ressurreição (entendida como um evento histórico), inclusive o kerygma – a proclamação da Igreja – é vã.
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
(1) Emil BRUNNER, The Christian Doctrine od Creation and Redemption, 1952, p. 372.
(2) Rudolph BULTMANN, Kerygma and Myth: A Theological Debate, 1954, pp. 38-39.
(3) Wolfhart PANNENBERG, Jesus—God and Man, 1968, p. 101.
A Ascensão de Cristo: Mito ou Realidade Histórica?
A Ascensão de Cristo e a Promessa de Sua Vinda
O Apóstolo Paulo, teologizando acerca da ressurreição afirmou em sua primeira epístola aos Coríntios no capítulo 15 e versículo 12-14 que: “Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé”. A polêmica acerca da ressurreição e ascensão de Cristo não é fruto do nosso tempo. Desde os tempos da igreja primitiva havia pessoas que, não mantiveram contato com Jesus, que afirmavam que não havia ressurreição[1] e que, conseguinte, também não haveria ascensão. Paulo combateu esse pensamento sacralizando essa verdade nas Escrituras Sagradas. “Mas, agora, Cristo ressuscitou dos mortos e foi feito às primícias dos que dormem.” (1 Co. 15.21).
Também, durante a história da igreja, havia e ainda há muitos que pretendem diminuir a Pessoa de Cristo e sua Obra. Entretanto, contra fatos não há argumentos. Vamos, portanto, compreender a historicidade da ascensão de Cristo e conhecer alguns pensamentos controversos contrários às Escrituras no tocante a este respeito. Primeiro apresentaremos um Panorama Geral das Principais Perspectivas da Idade Moderna.
O Iluminismo: a ressurreição como algo que não aconteceu
No século XVIII, o distanciamento cronológico, de acordo com Lessing, o fez duvidar da ressurreição, por conta da sua falta desconfiança dos testemunhos registrados. Provocando um abismo terrível. Como se ele pensasse assim: “Uma vez que no presente não vemos homens ou mulheres ressuscitar dos mortos, por que devemos acreditar que tal fato tenha ocorrido no passado?”. [2]
O que se discute aqui é um tema central do Iluminismo: a autonomia humana. De acordo com esta filosofia, a realidade é racional, e, portanto, o homem possui a habilidades epistemológicas necessárias para desvendar essa ordem racional do universo.... Conforme a ótica de Lessing, a ressurreição não passava de um fato que não aconteceu, de um grande equívoco. (ALISTER, 2005, 456 p.)
David Friedrich Strauss: A ressurreição como mito
Em 1835, Strauss traz uma abordagem inovadora. Ele, em sua obra racionalista, atraiu enorme atenção, afirmara que “a raiz da fé em Cristo encontra-se na certeza de sua ressurreição... Libertado, por intermédio de sua ressurreição, do reino das sombras e da morte, e, sendo, ao mesmo tempo, elevado acima da esfera terrena da humanidade, ele havia sido transportado às regiões celestiais, assumindo seu lugar à direita de Deus”.[3]
Entretanto, Strauss procurou adequar a mensagem cristã com o advento do Iluminismo e procurou explicar “a origem da fé na ressurreição de Cristo de forma absolutamente independente de algum milagre”[4]. Assim, ele demonstrou que a fé na ressurreição era simplesmente subjetiva, ou seja, segundo Strauss, Jesus não havia ressuscitado de fato, objetivamente, mas somente na mente dos discípulos.
Portanto, de acordo com ele, um Cristo morto é assim transformado em um Cristo ressurrecto imaginário – mais propriamente falando um Cristo ressurrecto mítico...
Rudolf Bultmann: a ressurreição como evento na experiência dos discípulos
Na mesma linha de Strauss, Bultmann afirmava que era “impossível acreditar em milagres”.[5] Assim, não concebia a ressurreição de Cristo como um fato objetivo. Para Bultmann, “a crença na ressurreição de Jesus como um fato objetivo, embora fosse algo perfeitamente inteligível e legítimo no contexto do século I, não podia ser levado a sério nos dias atuais”.[6]
Por essa razão, a ressurreição deveria ser considerada como “um mito, puro e simples”. A ressurreição era algo que se passara na experiência subjetiva dos discípulos, e não algo que de fato acontecera na história. Para Bultmann, Jesus havia de fato ressuscitado – ressuscitado, no entanto, no âmbito do querigma... De forma consistente com sua abordagem, de modo geral, anti-histórica, Bultmann desvia sua atenção do Jesus histórico para a proclamação de Cristo.
Karl Barth: a ressurreição como fato histórico além da investigação crítica
Barth, um teólogo neo-ortodoxo, procurando contradizer Bultmann, escreveu, em 1952, uma obra entitulada “Rudolf Bultmann – na attempt to understand him” [“Rudolf Bultmann p uma tentativa de compreendê-lo”].[7] Alarmado pelo pensamento existencial de Bultmann acerca da ressurreição, Barth dedicou-se a estudar com mais afinco as Escrituras, principalmente na questão do túmulo vazio. Segundo Barth o túmulo vazo é “‘um sinal indispensável’ que ‘impede qualquer possível erro de interpretação’”.[8] Barth prova que a “ressurreição de Cristo não fora um evento exclusivamente interior ou subjetivo, mas sim algo que deixara um marco na história”.[9] Ocorre que, contraditoriamente, Barth recusava-se “a permitir que as narrativas dos evangelhos fossem submetidas ao escrutínio da crítica histórica”.[10]
Pannenberg: a ressurreição como fato histórico aberto à investigação crítica
Para esse teólogo a teologia cristã “fundamentava-se na análise da história universal e era acessível a todos”.[11] Para ele, a revelação “é essencialmente um fato histórico público e universal, reconhecido e interpretado como um ‘ato de Deus’”.[12] O mais destacado e certamente o mais comentado aspecto da obra de Pannenberg seja sua insistência em defesa da ressurreição de Jesus como fato histórico objetivo, testemunhado por todos que tiveram acesso à evidência.
O argumento de Pannenberg desenvolve-se no seguinte raciocínio. A história, em sua totalidade, somente pode ser compreendida quando vista a partir de seu ponto final. Apenas este ponto fornece perspectiva necessária, a partir da qual o processo histórico pode ser visto por inteiro e, assim, adequadamente compreendido. Contudo, enquanto Marx defendia que as ciências sociais, ao prever o fim da história com a hegemonia do socialismo, forneciam uma chave para a interpretação da história. Pannenberg afirmava que essa chave somente se encontrava em Jesus Cristo. Assim, o fim da história era revelado antecipadamente na história de Jesus Cristo. Em outras palavras, o fim da história, algo que ainda aconteceria no futuro, havia sido revelado de forma antecipada na pessoa e na obra de Cristo... As evidências históricas que apontavam para a ressurreição de Jesus deveriam ser investigadas de forma isenta, sem se deixar contaminar pelo pressuposto dogmático apriorístico de que era impossível que a ressurreição tivesse ocorrido. Havendo defendio a historicidade da ressurreição, Pannenberg passa a tratar de sua interpretação no contexto de uma estrutura de sentido apocalíptica. O fim da história havia sido de certa forma antecipado com a ressurreição de Cristo... Assim, a ressurreição de Jesus está organicamente ligada à auto-revelação de Deus em Cristo; ela define a identidade de Jesus em Deus e permite que esta identidade seja projetada no ministério que Jesus desenvolveu antes da ressurreição. Portanto, a ressurreição atua como fundamento de uma série de proposições cristológicas fundamentais, entre as quais incluem-se a divindade de Cristo e a encarnação. (ALISTER, 2005, 459 p.)
Conclusão: A ressurreição, conseqüente ascensão e a esperança cristã
Percebemos que na Idade Moderna houve pensadores e teólogos que procuraram adaptar a verdade cristã à forma de pensamento moderno. Neste trabalho, perderam-se na compreensão da revelação das Sagradas Escrituras.
O Iluminismo na ânsia de defender a autonomia intelectual do ser humano racionalizou a Palavra de Deus, não considerando a ação de Deus na historiada humanidade. Igualmente Strauss, pretendendo combater o iluminismo errou ao enquadrar a ressurreição no aspecto do mito, trazendo a compreensão errônea de que os discípulos “imaginaram” a ressurreição, e que Cristo, objetivamente, não ressuscitou, mas, apenas, subjetivamente, na cabeça dos discípulos. Bultmann, na mesma linha de Strauss, erroneamente, descreveu que Cristo ressuscitou na mensagem dos discípulos, e não objetivamente, demonstrando, mais uma vez, a subjetividade da ressurreição de Cristo, pois pensava que a mensagem dos Evangelhos estava envelhecida e não cabia na forma de pensar da Idade Moderna, que é extremamente racionalista e existencial. Ledo engano!
Através de Karl Barth, então, foi-se, aos poucos, aproximando o pensamento moderno com a tradição cristã descrita nos Evangelhos. Barth afirma que a ressurreição de Cristo não foi um mito, ou uma subjetividade dos discípulos, mas uma realidade histórica e procurou apresentar essa verdade. Para Barth, Jesus ressuscitou de verdade, numa realidade histórica, objetivamente. E, Pannenberg, finalmente, demonstrou como os fundamentos do cristianismo resistem às tentativas racionalistas e existencialistas do homem moderno de diminuir as verdades do Evangelho.
Jesus ressuscitou, e Ele é o ponto central. Nem antes e nem depois houve alguém como Ele: Jesus Cristo – Deus e Homem. A ressurreição de Cristo o possibilitou a ser ascendido aos céus. Aqui a ressurreição afirma a divindade de Cristo. No Novo Testamento “a posição exaltada de Jesus de Nazaré é vista como algo relacionado a sua ressurreição.
A ressurreição de Cristo sustenta a esperança cristã, com implicações na salvação e nos acontecimentos nos tempos do fim, quando de Sua ascensão, os “varões vestidos de branco” disseram aos discípulos: “Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (Atos 1.11). Aleluias! Ele virá, pois Ele foi e prometeu que voltaria. E ele voltará! “Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente, cedo venho. Amém! Ora, vem Senhor Jesus!” (Ap. 22.21).
Por Ev Valter Borges
Pr AD Thelma
[1] “Naquele dias alguns negavam a ressurreição corpórea de Cristo (v. 12). Respondendo, Paulo declara que se Cristo não ressuscitou, não há perdão, nem livramento do pecado. Fica claro que os que negam a realidade objetiva da ressurreição de Cristo, estão negando totalmente a fé cristã. São falsas testemunhas que falam contra Deus e a sua Palavra. Sua fé não tem valor, e, portanto, não são cristãos autênticos” (BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Pentecostal. Almeida Revista e Corrigida.CPAD, 1995, pg. 1764).
[2] TEOLOGIA Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma introdução a Teologia Cristã. Aliter E. McGrath; [tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes] – São Paulo: Shedd Publicações, 2005. 456 p.
[3] TEOLOGIA Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma introdução a Teologia Cristã. Aliter E. McGrath; [tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes] – São Paulo: Shedd Publicações, 2005. 457 p.
[4] Idem. 457 p.
[5] Ibidem 458 p.
[6] Ibidem 458 p.
[7] TEOLOGIA Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma introdução a Teologia Cristã. Aliter E. McGrath; [tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes] – São Paulo: Shedd Publicações, 2005. 459 p.
[8] Idem. 459 p.
[9] Ibidem 459 p.
[10] Ibidem 460 p.
[11] Ibidem 461 p.
[12] Ibidem 461 p.
Referências
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Pentecostal. Almeida Revista e Corrigida.CPAD, 1995.
BÍBLIA. Português. Novo Testamento King James – Edição de Estudo. Tradução King James Atualizada (KJA). São Paulo, Sociedade Ibero-Americana.
CHAMPLIN, Russel Norman. O Antigo Testamento Interpretado: versículo por versículo – volume 3. R. N. Champlin, Ph. D. 1ª Edição – São Paulo: CANDEIA, 2000.
DICIONÁRIO BÍBLICO WYCLIFF. 1ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
DICIONÁRIO DO MOVIMENTO PENTECOSTAL – Organizado por Isael de Araújo. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
LIÇÕES BÍBLICAS. Jovens e Adultos. 1º Trimestre de 2010. CPAD, 2011.
O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA – Edição em 1 Volume. Organizado por J. D. Douglas. Editor da edição em português: R. P. Shedd, M. A., B. D., Ph. D. Tradução João Bentes – São Paulo: Edições Vida Nova, 1997.
TEOLOGIA Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma introdução a Teologia Cristã. Aliter E. McGrath; [tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes] – São Paulo: Shedd Publicações, 2005.
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