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Pósmodernismo e Nova Era: as conexões sutis
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01052011
Pósmodernismo e Nova Era: as conexões sutis
Pósmodernismo e Nova Era: as conexões sutis
Fernando Aranda Fraga
Rute é bela, jovem e piedosa. Freqüentou uma faculdade e tem um emprego atraente, e para sua idade surpreende outros com sua espiritualidade. Espiritualidade numa época secularizada tão profundamente imbuída com a mágica da tecnologia?
Não se surpreenda. Rute achou uma nova espécie de “espiritualidade”. Embora use os avanços tecnológicos de modo rotineiro, ela não é devedora à ciência ou à mágica. Daquela mágica ela saltou para o mistério — o mistério do misticismo, do mundo fascinante de religiões orientais onde o “eu” pode alcançar seu potencial máximo sem a ajuda da razão ou do Deus da Bíblia.
Rute deu um salto quântico. Como filha do pós-modernismmo, ela nega a história, tempo, o Deus do Universo e o significado último da Cruz. Mas ela não é má moral ou eticamente. Abraçou agora os valores da Nova Era. O salto é sutil, convidativo e amiúde parece satisfatório. Ela está feliz. E assim está o diabo.
Rute não está só. Nos últimos anos, milhares como ela, filhos do pós-modernismmo, aderiram à Nova Era. Podem ter crescido como metodistas, católicos, ou mesmo adventistas do sétimo dia. O fato é que a Nova Era tem-se tornado um fenômeno religioso abrangente, atraindo milhares de seguidores cansados e desarraigados do cristianismo tradicional.
Este artigo tratará de quatro questões: O que é pós-modernismo? Qual é a espiritualidade da Nova Era? Há uma relação entre ambos? Que precauções devíamos tomar contra esses perigos sutis?
Que é pós-modernismo?
Pós-modernismo não é uma visão do mundo, mas uma combinação delas.1 Fredric Jameson, professor da Cornell University, define um sinal seguro do pensamento pós-moderno como “surdez histórica”. A pessoa pós-moderna recusa-se a pensar historicamente, e como resultado, está numa posição difícil para definir mesmo o que seja uma “Era”.2
Um sintoma-chave do pensamento pós-moderno, portanto, é a negação do tempo como uma dimensão explanatória de eventos. Em contraste, a Bíblia vê eventos históricos ligados teologicamente, transcorrendo com significado, propósito e direção. A visão bíblica do tempo é governada por uma filosofia da História, cujo tema abarcante é a controvérsia cósmica entre Cristo e Satanás. A visão do tempo tem marcos reconhecíveis: Criação, a Queda, o concerto, o evento de Cristo, a obra da redenção, o juizo investigativo e a segunda vinda de Cristo com promessa de um fim e de um novo começo. A “surdez histórica” pós-modernista nega a relevância da linha bíblico-histórica e a veracidade de seus acontecimentos maiores. Assim, se a História não tem mais valor, tão pouco têm os fatos que a determinam.
O pensamento pós-modernista está preocupado com o presente, não sentindo necessidade de raízes históricas ou de um destino que nos acena. Esta irrelevância da história produz uma superficialidade que permeia a cultura pós-modernista com seus ídolos principais: a vida dividida entre as compulsões da tecnologia e a retórica do mercado; um novo solo emotivo dominado pelas preocupações do presente; e uma irracionalidade que tem sua origem na rejeição da modernidade e sua fé cega na ciência. O resultado é o que J. F. Lyotard3 chama uma negação dos “mestres de narrativa” — programas racionais “que cantaram as esperanças e fé na liberação da humanidade”.4
Assim, enquanto o pós-modernismo possa ter sofrido uma perda radical no que ele rejeitou, constituiu para si mesmo projetos sócio-culturais impressionantes, apoiados por fortes entraves político-religiosas. Estes projetos globais, sob o eufemismo de uma “Nova Ordem Mundial”, são fortemente ideológicos (quão irônico que o pós-modernismo possa escolher uma ideologia, ao mesmo tempo que nega a ideologia da história) e dão à economia um papel central. Naturalmente, a ideologia pós-modernista da ciência econômica não pode estar em pé por si só. Precisa vestir-se da roupagem da democracia em questões políticas e de pluralismo em questões religiosas. O cenário está assim preparado para fundir num movimento hegemônico aquelas idéias cujo ponto de encontro religioso e cultural é a Nova Era.
O pós-modernismo, para ser crível, precisa assumir aspectos antropológicos e sociais. O primeiro aproveita-se da tendência hedonística de uma sociedade pós-industrial e tecnológica e procura satisfazer a busca constante de prazer, pondo fim à ética do dever”.5 O segundo é realizado por um “desligamento institucional em todos os níveis: político-ideológico, religioso, familial, etc.6 O pós-modernismo caracteriza-se, pois, por uma visão fragmentada da realidade, uma orientação operacional, antropocêntrica e relativista.
Em seu zelo de atacar o secularismo e o frio racionalismo que propiciou a modernidade, o pós-modernismo exalta o papel das emoções, sentimentos e a imaginação. Os efeitos sociais e culturais da modernidade estão claramente em evidência: um ambiente natural que perece, seres alienados, aumento de crime e pobreza, falta de identidade individual e nacional. Mas em lugar disso, o que oferece o pós-modernismo? Um movimento contra-cultural com sua gratificação imediata, uma irracionalidade manifestada em novas formas de conhecimento, liberdade sexual e anarquia social.7
Entrementes, a ciência também muda seu paradigma e abandona o modelo racional-empírico e a objetividade absoluta do conhecimento. Como resultado, ela adquire um caráter de parábola, depende mais do que nunca do olho do observador, e não está mais segura no contínuo do passado e do presente. Tal atitude leva os cientistas a sentir que não são diferentes da pessoa na rua ao enfrentarem a miséria da realidade. O impacto de tal posição pode ser facilmente descoberta em conceitos pseudo-científicos, tais como medicina alternativa e astrologia, por exemplo, que são partilhados pelo misticismo oriental.
Assim, nesta contra-cultura pós-moderna, o movimento da Nova Era acha um solo favorável para criar raízes e crescer.
Que é a Nova Era?
Entre os primeiros a abraçar a Nova Era, havia figuras estelares de várias disciplinas, tais como Abraham Maslow, Gregory Bateson, Margaret Mead, Carl Rogers, Aldous Huxley, Paul Tillich e Shirley MacLaine, entre outros. Uma autora, Marylin Ferguson, verdadeira arquiteta da Nova Era8, anunciou em seu livro The Conspiracy on Aquarius o abandono da “Era de Peixes” e a entrada numa era astronômica governada por uma consciência diferente e universal.
A Nova Era assimila a filosofia oriental em seu contexto sócio-cultural próprio. Num tempo na História marcado por ansiedades espirituais,9 a Nova Era oferece mística religiosa numa roupagem sedutora: horóscopos, meditações, cristais e misticismo oriental.10 No seu cerne, a Nova Era tem uma religiosidade que mistura sugestões, mágica, reverência pela natureza, e uma busca do novo e do anômalo, oferecendo uma experiência espiritual “autêntica”.
Mas quais as principais características deste fenômeno da Nova Era? Primeiro, é extremamente diversa. Inclui aspectos tão diversos como espiritualismo, teosofia, ocultismo, astrologia, transcendentalismo e cura mental.
Segundo, inclui tendências em movimentos sociológicos contemporâneos, tais como hedonismo e o anarquismo da década de 60, um abraço com a filosofia Zen, romancismo naturalista, misticismo oriental, e um estilo de vida experimental de drogas e sexo, todos levando a uma experiência utópica.11
Terceiro, a Nova Era inverteu a tendência rebelde e polêmica de 1960 para apresentar-se como uma experiência significativa e integrada que afirma o potencial do indivíduo, permite um estilo de vida “bourgeois”, e provê um disfarce religioso para tais atividades.
Quarto, a Nova Era é religiosa em suas pretensões. Mas a religião existe num ambiente relativista no qual ninguém pretende ter toda a verdade. É a religião de boa vontade e amor, que requer pouco e só oferece recompensas. Não tem lugar para a Cruz, para a graça divina, ou para responsabilidade humana, como o cristianismo bíblico demanda.12
Quinto, a Nova Era, em linha com a posição anti-histórica do pós-modernismo, é uma desintegradora da realidade. Alcança isto por meio de dois conceitos: carma e reencarnação. À base do carma jaz “a convicção inabalável de que não há felicidade imerecida e nada de miséria não merecida, que toda pessoa molda sua própria sorte até nos menores detalhes”.13 Tudo que acontece ocorre por causa do carma; é a força dominante da vida. Reencarnação, outra crença da Nova Era, nega a realidade da morte e afirma a imortalidade da alma. A vida humana nunca morre mas move de existência em existência em diferentes formas e níveis de consciência, até atingir a etapa final de ser igual a Deus. Boas obras são a chave da progressão na encarnação.
Pós-modernismo e Nova Era
Tendo examinado alguns dos princípios básicos da pós-modernidade e da Nova Era, e tendo notado como a primeira proveu o solo no qual a última fincou raiz, agora estamos prontos para examinar alguns elos entre ambas. E há diversos.
Primeiro, embora cada uma esteja ancorada em sua própria filosofia, elas partilham um anti-racionalismo que nega a relevância de uma história teleológica e afirma a supremacia do presente.14 Essa “irracionalidade metódica” é, talvez, a base para outros elementos que constituem os paradigmas da pós-modernidade e da Nova Era.
Segundo, ambas partilham certo apelo pseudo-religioso. A verdade, embora mínima, da Nova Era é uma aliada perfeita da ética pós-modernista, sempre muito fraca. Essa nova espiritualidade de nosso tempo oferece a seus adeptos a segurança da religião e a liberdade da pós-modernidade. A forte combinação das duas rejeita todos os legados do passado e todos os sistemas de valor normativos. Sem nenhuma pretensão de permanência, elas se perdem em todas as culturas, semeando desconfiança em tudo que é básico e fundamental na vida humana. Esta desconfiança é percebida política e socialmente como uma forte predominância de desacordo que substitui o consenso “moderno” prévio. Uma sociedade governada por desacordo logo se torna caótica e insegura. Se tudo é permissível, que é então justo? Que é ético? Que é normativo?
Terceiro, há o nexo de humanismo e religião. A Nova Era e o Pós-modernismo oferecem uma visão humanística da verdade e da vida que leva em conta todo pensamento religioso e cultural a fim de atingir uma harmonia universal. Embora não tenha uso para o mandamento cristão de contemplar a vida do ponto de vista de uma controvérsia universal e de buscar o terreno mais elevado de um estilo de vida redentivo, a Nova Era não hesita em citar a Bíblia, usa ilustração bíblica, e em alguns contextos parece quase cristã. Também não hesita em aproveitar-se de conceitos de outras religiões que ajudam na procura de um apelo universal e sua oferta religiosa de “paz interior”.
Quarto, a Nova Era, funcionando num mundo de pós-modernidade, trabalha incessantemente em direção de um consenso cuja base é distintamente permissiva e cujo conteúdo aponta definitivamente para uma deificação da humanidade, a santidade da natureza e a sobrevivência eterna da alma. Assim pode ser caracterizada como uma utopia do presente — uma aspiração que a humanidade moderna não alcançou, mas que gostaria de alcançar. Essa glorificação do humano, tão central na Nova Era, completa o círculo iniciado pelo naturalismo e o secularismo, cujas raízes remontam à Renascença e o mundo pós-medieval.
Quinto, tanto a Pós-modernidade como a Nova Era perambulam entre a herança agnóstica do ateu e a preocupação neo-panteística do misticismo oriental. É agnóstica porque possui um verniz religioso de tolerância que se acha na indiferença à experiência cristã; é panteística porque acha o sagrado numa identificação da humanidade e a natureza. Ambas as posições se misturam, e nessa mistura mística, os adeptos da Nova Era parecem encontrar sua realização.
Os valores da pós-modernidade estão ancorados numa imanência absoluta. A versão pós-moderna do agnosticismo tenta substituir o divino por uma procura do que é santo em si mesmo: “Sereis como Deus”, disse a serpente no Jardim do Éden, e o Pós-modernismo e a Nova Era parecem dizer: “Você é o deus”.
Os simpatizantes da Nova Era vão argumentar que promovem um retorno a uma verdadeira espiritualidade, que ultrapassa todas as formas conhecidas de religiosidade e leva o humano de volta a Deus e à natureza. Não sejamos ludibriados. A Nova Era não oferece nada disso; é simplesmente neo-panteísmo, levando à glorificação do ser humano.
Cristãos, atenção!
Depois de ver os argumentos, as atrações e as asserções da Pós-modernidade e da Nova Era, que deveríamos fazer como cristãos? Atenção é um bom ponto de partida. Os perigos são tão reais e tão sedutores como no Jardim do Éden, e há pelo menos quatro pontos significativos a serem lembrados:
1. Tudo é válido na Nova Era. O que mais interessa é a realização máxima do potencial humano e a união íntima do humano com a totalidade da natureza.
2. A Nova Era rejeita tudo que é básico no cristianismo. Ignora a realidade do dilema humano: o problema do pecado. E como tal, não dá valor às grandes verdades do cristianismo como a necessidade da reconciliação humana com Deus, a necessidade absoluta da encarnação e da Cruz.
3. A Nova Era é uma pseudo-religião. Enquanto rejeita as verdades fundamentais da Palavra de Deus, tenta estabelecer uma nova religiosidade universal na qual homens e mulheres podem atingir seu pleno potencial sem Deus. A chave é poder e potencial humanos interiores. Fora com qualquer noção de que “todos pecaram e carecem da glória de Deus”! Romanos 3:23. Abaixo com a verdade que todos precisam do poder e da graça de Deus para se livrar do pecado!
4. O poder sedutor da Nova Era e contrafações semelhantes de espiritualidade vão aumentar no futuro, e a única segurança jaz em nos firmarmos em Deus e Sua Palavra. Não há substituto. Cristãos superficiais são uma presa fácil para a Nova Era.
Como cristãos, temos uma responsabilidade para com nós mesmos, para com a boa terra de Deus e com nossos semelhantes. Mas essa gerência não é um monopólio da Nova Era. Ao assumirmos essa gerência e satisfazermos suas demandas, jamais poderemos permitir que interfira com nossa responsabilidade e privilégio fundamentais — aquela comunhão constante e relação amorosa com o Criador, que é pessoal e santo, e que nos motiva a servir a outros por Seu amor. Ele vive, e porque Ele vive, nós viveremos.
Fernando Aranda Fraga leciona e coordena pesquisa na Universidad Adventista del Plata, Argentina. Seu endereço: 25 de Mayo 99; 3103 Libertador San Martín, Entre Rios, Argentina. Endereço E-mail: uap@uap.satlink.net.
Notas e referências
1. José Rubio Carracedo, Educación moral, postmodernidad y democracia: Más allá del liberalismo y del comunitarismo (Madrid: Trotta, 1996) pág. 91. Ver também, “O desafio do pós- modernismo”, Diálogo 8:1 (1996), págs. 5-8.
2. Fredric Jameson, Teoría de la Postmodernidad (Madrid: Trotta, 1996), págs. 9,11.
3. J. F. Lyotard, Le Posmoderne expliqué aux enfants (Paris: Éditions Galilée, 1986), págs. 29-31.
4. Manuel Fernández del Riesgo, “La posmodernidad y la crisis de los valores religiosos”, em Gianni Vattimo et al, En torno a la posmodernidad (Barcelona: Anthropos, 1994), pág.89.
5. Ver Gilles Lipovetsky, Le crépuscule du devoir: L’éthique indolore des nouveaux temps démocratiques (Paris: Gallimard, 1992).
6. Fernández del Riesgo, pág.89.
7. Ver Gianni Vattimo, Credere di credere (Milan: Garzanti, 1996).
8. Ver Russel Chandler, Understanding the New Age (Dallas: Word Publishing, 1988).
9. Ver Jean-Claude Guillebaud, La trahison des Lumières: Enquête sur le désarroi contemporain (Paris: Editions du Seuil, 1995).
10. Fernández del Riesgo, pág. 90.
11. Roberto Bosca, New Age: La utopía religiosa de fin de siglo (Buenos Aires: Atlantida, 1993), págs. 37-41.
12. Bosca, pág. 46.
13. James Hastings, ed., Encyclopedia of Religion and Ethics, (1980), vol.xii, pág. 435.
14. Humberto M. Rasi, “Batalhando em Duas Frentes”, Diálogo Universitário 3:1 (1991), págs. 4-7, 22-23.
Fernando Aranda Fraga
Rute é bela, jovem e piedosa. Freqüentou uma faculdade e tem um emprego atraente, e para sua idade surpreende outros com sua espiritualidade. Espiritualidade numa época secularizada tão profundamente imbuída com a mágica da tecnologia?
Não se surpreenda. Rute achou uma nova espécie de “espiritualidade”. Embora use os avanços tecnológicos de modo rotineiro, ela não é devedora à ciência ou à mágica. Daquela mágica ela saltou para o mistério — o mistério do misticismo, do mundo fascinante de religiões orientais onde o “eu” pode alcançar seu potencial máximo sem a ajuda da razão ou do Deus da Bíblia.
Rute deu um salto quântico. Como filha do pós-modernismmo, ela nega a história, tempo, o Deus do Universo e o significado último da Cruz. Mas ela não é má moral ou eticamente. Abraçou agora os valores da Nova Era. O salto é sutil, convidativo e amiúde parece satisfatório. Ela está feliz. E assim está o diabo.
Rute não está só. Nos últimos anos, milhares como ela, filhos do pós-modernismmo, aderiram à Nova Era. Podem ter crescido como metodistas, católicos, ou mesmo adventistas do sétimo dia. O fato é que a Nova Era tem-se tornado um fenômeno religioso abrangente, atraindo milhares de seguidores cansados e desarraigados do cristianismo tradicional.
Este artigo tratará de quatro questões: O que é pós-modernismo? Qual é a espiritualidade da Nova Era? Há uma relação entre ambos? Que precauções devíamos tomar contra esses perigos sutis?
Que é pós-modernismo?
Pós-modernismo não é uma visão do mundo, mas uma combinação delas.1 Fredric Jameson, professor da Cornell University, define um sinal seguro do pensamento pós-moderno como “surdez histórica”. A pessoa pós-moderna recusa-se a pensar historicamente, e como resultado, está numa posição difícil para definir mesmo o que seja uma “Era”.2
Um sintoma-chave do pensamento pós-moderno, portanto, é a negação do tempo como uma dimensão explanatória de eventos. Em contraste, a Bíblia vê eventos históricos ligados teologicamente, transcorrendo com significado, propósito e direção. A visão bíblica do tempo é governada por uma filosofia da História, cujo tema abarcante é a controvérsia cósmica entre Cristo e Satanás. A visão do tempo tem marcos reconhecíveis: Criação, a Queda, o concerto, o evento de Cristo, a obra da redenção, o juizo investigativo e a segunda vinda de Cristo com promessa de um fim e de um novo começo. A “surdez histórica” pós-modernista nega a relevância da linha bíblico-histórica e a veracidade de seus acontecimentos maiores. Assim, se a História não tem mais valor, tão pouco têm os fatos que a determinam.
O pensamento pós-modernista está preocupado com o presente, não sentindo necessidade de raízes históricas ou de um destino que nos acena. Esta irrelevância da história produz uma superficialidade que permeia a cultura pós-modernista com seus ídolos principais: a vida dividida entre as compulsões da tecnologia e a retórica do mercado; um novo solo emotivo dominado pelas preocupações do presente; e uma irracionalidade que tem sua origem na rejeição da modernidade e sua fé cega na ciência. O resultado é o que J. F. Lyotard3 chama uma negação dos “mestres de narrativa” — programas racionais “que cantaram as esperanças e fé na liberação da humanidade”.4
Assim, enquanto o pós-modernismo possa ter sofrido uma perda radical no que ele rejeitou, constituiu para si mesmo projetos sócio-culturais impressionantes, apoiados por fortes entraves político-religiosas. Estes projetos globais, sob o eufemismo de uma “Nova Ordem Mundial”, são fortemente ideológicos (quão irônico que o pós-modernismo possa escolher uma ideologia, ao mesmo tempo que nega a ideologia da história) e dão à economia um papel central. Naturalmente, a ideologia pós-modernista da ciência econômica não pode estar em pé por si só. Precisa vestir-se da roupagem da democracia em questões políticas e de pluralismo em questões religiosas. O cenário está assim preparado para fundir num movimento hegemônico aquelas idéias cujo ponto de encontro religioso e cultural é a Nova Era.
O pós-modernismo, para ser crível, precisa assumir aspectos antropológicos e sociais. O primeiro aproveita-se da tendência hedonística de uma sociedade pós-industrial e tecnológica e procura satisfazer a busca constante de prazer, pondo fim à ética do dever”.5 O segundo é realizado por um “desligamento institucional em todos os níveis: político-ideológico, religioso, familial, etc.6 O pós-modernismo caracteriza-se, pois, por uma visão fragmentada da realidade, uma orientação operacional, antropocêntrica e relativista.
Em seu zelo de atacar o secularismo e o frio racionalismo que propiciou a modernidade, o pós-modernismo exalta o papel das emoções, sentimentos e a imaginação. Os efeitos sociais e culturais da modernidade estão claramente em evidência: um ambiente natural que perece, seres alienados, aumento de crime e pobreza, falta de identidade individual e nacional. Mas em lugar disso, o que oferece o pós-modernismo? Um movimento contra-cultural com sua gratificação imediata, uma irracionalidade manifestada em novas formas de conhecimento, liberdade sexual e anarquia social.7
Entrementes, a ciência também muda seu paradigma e abandona o modelo racional-empírico e a objetividade absoluta do conhecimento. Como resultado, ela adquire um caráter de parábola, depende mais do que nunca do olho do observador, e não está mais segura no contínuo do passado e do presente. Tal atitude leva os cientistas a sentir que não são diferentes da pessoa na rua ao enfrentarem a miséria da realidade. O impacto de tal posição pode ser facilmente descoberta em conceitos pseudo-científicos, tais como medicina alternativa e astrologia, por exemplo, que são partilhados pelo misticismo oriental.
Assim, nesta contra-cultura pós-moderna, o movimento da Nova Era acha um solo favorável para criar raízes e crescer.
Que é a Nova Era?
Entre os primeiros a abraçar a Nova Era, havia figuras estelares de várias disciplinas, tais como Abraham Maslow, Gregory Bateson, Margaret Mead, Carl Rogers, Aldous Huxley, Paul Tillich e Shirley MacLaine, entre outros. Uma autora, Marylin Ferguson, verdadeira arquiteta da Nova Era8, anunciou em seu livro The Conspiracy on Aquarius o abandono da “Era de Peixes” e a entrada numa era astronômica governada por uma consciência diferente e universal.
A Nova Era assimila a filosofia oriental em seu contexto sócio-cultural próprio. Num tempo na História marcado por ansiedades espirituais,9 a Nova Era oferece mística religiosa numa roupagem sedutora: horóscopos, meditações, cristais e misticismo oriental.10 No seu cerne, a Nova Era tem uma religiosidade que mistura sugestões, mágica, reverência pela natureza, e uma busca do novo e do anômalo, oferecendo uma experiência espiritual “autêntica”.
Mas quais as principais características deste fenômeno da Nova Era? Primeiro, é extremamente diversa. Inclui aspectos tão diversos como espiritualismo, teosofia, ocultismo, astrologia, transcendentalismo e cura mental.
Segundo, inclui tendências em movimentos sociológicos contemporâneos, tais como hedonismo e o anarquismo da década de 60, um abraço com a filosofia Zen, romancismo naturalista, misticismo oriental, e um estilo de vida experimental de drogas e sexo, todos levando a uma experiência utópica.11
Terceiro, a Nova Era inverteu a tendência rebelde e polêmica de 1960 para apresentar-se como uma experiência significativa e integrada que afirma o potencial do indivíduo, permite um estilo de vida “bourgeois”, e provê um disfarce religioso para tais atividades.
Quarto, a Nova Era é religiosa em suas pretensões. Mas a religião existe num ambiente relativista no qual ninguém pretende ter toda a verdade. É a religião de boa vontade e amor, que requer pouco e só oferece recompensas. Não tem lugar para a Cruz, para a graça divina, ou para responsabilidade humana, como o cristianismo bíblico demanda.12
Quinto, a Nova Era, em linha com a posição anti-histórica do pós-modernismo, é uma desintegradora da realidade. Alcança isto por meio de dois conceitos: carma e reencarnação. À base do carma jaz “a convicção inabalável de que não há felicidade imerecida e nada de miséria não merecida, que toda pessoa molda sua própria sorte até nos menores detalhes”.13 Tudo que acontece ocorre por causa do carma; é a força dominante da vida. Reencarnação, outra crença da Nova Era, nega a realidade da morte e afirma a imortalidade da alma. A vida humana nunca morre mas move de existência em existência em diferentes formas e níveis de consciência, até atingir a etapa final de ser igual a Deus. Boas obras são a chave da progressão na encarnação.
Pós-modernismo e Nova Era
Tendo examinado alguns dos princípios básicos da pós-modernidade e da Nova Era, e tendo notado como a primeira proveu o solo no qual a última fincou raiz, agora estamos prontos para examinar alguns elos entre ambas. E há diversos.
Primeiro, embora cada uma esteja ancorada em sua própria filosofia, elas partilham um anti-racionalismo que nega a relevância de uma história teleológica e afirma a supremacia do presente.14 Essa “irracionalidade metódica” é, talvez, a base para outros elementos que constituem os paradigmas da pós-modernidade e da Nova Era.
Segundo, ambas partilham certo apelo pseudo-religioso. A verdade, embora mínima, da Nova Era é uma aliada perfeita da ética pós-modernista, sempre muito fraca. Essa nova espiritualidade de nosso tempo oferece a seus adeptos a segurança da religião e a liberdade da pós-modernidade. A forte combinação das duas rejeita todos os legados do passado e todos os sistemas de valor normativos. Sem nenhuma pretensão de permanência, elas se perdem em todas as culturas, semeando desconfiança em tudo que é básico e fundamental na vida humana. Esta desconfiança é percebida política e socialmente como uma forte predominância de desacordo que substitui o consenso “moderno” prévio. Uma sociedade governada por desacordo logo se torna caótica e insegura. Se tudo é permissível, que é então justo? Que é ético? Que é normativo?
Terceiro, há o nexo de humanismo e religião. A Nova Era e o Pós-modernismo oferecem uma visão humanística da verdade e da vida que leva em conta todo pensamento religioso e cultural a fim de atingir uma harmonia universal. Embora não tenha uso para o mandamento cristão de contemplar a vida do ponto de vista de uma controvérsia universal e de buscar o terreno mais elevado de um estilo de vida redentivo, a Nova Era não hesita em citar a Bíblia, usa ilustração bíblica, e em alguns contextos parece quase cristã. Também não hesita em aproveitar-se de conceitos de outras religiões que ajudam na procura de um apelo universal e sua oferta religiosa de “paz interior”.
Quarto, a Nova Era, funcionando num mundo de pós-modernidade, trabalha incessantemente em direção de um consenso cuja base é distintamente permissiva e cujo conteúdo aponta definitivamente para uma deificação da humanidade, a santidade da natureza e a sobrevivência eterna da alma. Assim pode ser caracterizada como uma utopia do presente — uma aspiração que a humanidade moderna não alcançou, mas que gostaria de alcançar. Essa glorificação do humano, tão central na Nova Era, completa o círculo iniciado pelo naturalismo e o secularismo, cujas raízes remontam à Renascença e o mundo pós-medieval.
Quinto, tanto a Pós-modernidade como a Nova Era perambulam entre a herança agnóstica do ateu e a preocupação neo-panteística do misticismo oriental. É agnóstica porque possui um verniz religioso de tolerância que se acha na indiferença à experiência cristã; é panteística porque acha o sagrado numa identificação da humanidade e a natureza. Ambas as posições se misturam, e nessa mistura mística, os adeptos da Nova Era parecem encontrar sua realização.
Os valores da pós-modernidade estão ancorados numa imanência absoluta. A versão pós-moderna do agnosticismo tenta substituir o divino por uma procura do que é santo em si mesmo: “Sereis como Deus”, disse a serpente no Jardim do Éden, e o Pós-modernismo e a Nova Era parecem dizer: “Você é o deus”.
Os simpatizantes da Nova Era vão argumentar que promovem um retorno a uma verdadeira espiritualidade, que ultrapassa todas as formas conhecidas de religiosidade e leva o humano de volta a Deus e à natureza. Não sejamos ludibriados. A Nova Era não oferece nada disso; é simplesmente neo-panteísmo, levando à glorificação do ser humano.
Cristãos, atenção!
Depois de ver os argumentos, as atrações e as asserções da Pós-modernidade e da Nova Era, que deveríamos fazer como cristãos? Atenção é um bom ponto de partida. Os perigos são tão reais e tão sedutores como no Jardim do Éden, e há pelo menos quatro pontos significativos a serem lembrados:
1. Tudo é válido na Nova Era. O que mais interessa é a realização máxima do potencial humano e a união íntima do humano com a totalidade da natureza.
2. A Nova Era rejeita tudo que é básico no cristianismo. Ignora a realidade do dilema humano: o problema do pecado. E como tal, não dá valor às grandes verdades do cristianismo como a necessidade da reconciliação humana com Deus, a necessidade absoluta da encarnação e da Cruz.
3. A Nova Era é uma pseudo-religião. Enquanto rejeita as verdades fundamentais da Palavra de Deus, tenta estabelecer uma nova religiosidade universal na qual homens e mulheres podem atingir seu pleno potencial sem Deus. A chave é poder e potencial humanos interiores. Fora com qualquer noção de que “todos pecaram e carecem da glória de Deus”! Romanos 3:23. Abaixo com a verdade que todos precisam do poder e da graça de Deus para se livrar do pecado!
4. O poder sedutor da Nova Era e contrafações semelhantes de espiritualidade vão aumentar no futuro, e a única segurança jaz em nos firmarmos em Deus e Sua Palavra. Não há substituto. Cristãos superficiais são uma presa fácil para a Nova Era.
Como cristãos, temos uma responsabilidade para com nós mesmos, para com a boa terra de Deus e com nossos semelhantes. Mas essa gerência não é um monopólio da Nova Era. Ao assumirmos essa gerência e satisfazermos suas demandas, jamais poderemos permitir que interfira com nossa responsabilidade e privilégio fundamentais — aquela comunhão constante e relação amorosa com o Criador, que é pessoal e santo, e que nos motiva a servir a outros por Seu amor. Ele vive, e porque Ele vive, nós viveremos.
Fernando Aranda Fraga leciona e coordena pesquisa na Universidad Adventista del Plata, Argentina. Seu endereço: 25 de Mayo 99; 3103 Libertador San Martín, Entre Rios, Argentina. Endereço E-mail: uap@uap.satlink.net.
Notas e referências
1. José Rubio Carracedo, Educación moral, postmodernidad y democracia: Más allá del liberalismo y del comunitarismo (Madrid: Trotta, 1996) pág. 91. Ver também, “O desafio do pós- modernismo”, Diálogo 8:1 (1996), págs. 5-8.
2. Fredric Jameson, Teoría de la Postmodernidad (Madrid: Trotta, 1996), págs. 9,11.
3. J. F. Lyotard, Le Posmoderne expliqué aux enfants (Paris: Éditions Galilée, 1986), págs. 29-31.
4. Manuel Fernández del Riesgo, “La posmodernidad y la crisis de los valores religiosos”, em Gianni Vattimo et al, En torno a la posmodernidad (Barcelona: Anthropos, 1994), pág.89.
5. Ver Gilles Lipovetsky, Le crépuscule du devoir: L’éthique indolore des nouveaux temps démocratiques (Paris: Gallimard, 1992).
6. Fernández del Riesgo, pág.89.
7. Ver Gianni Vattimo, Credere di credere (Milan: Garzanti, 1996).
8. Ver Russel Chandler, Understanding the New Age (Dallas: Word Publishing, 1988).
9. Ver Jean-Claude Guillebaud, La trahison des Lumières: Enquête sur le désarroi contemporain (Paris: Editions du Seuil, 1995).
10. Fernández del Riesgo, pág. 90.
11. Roberto Bosca, New Age: La utopía religiosa de fin de siglo (Buenos Aires: Atlantida, 1993), págs. 37-41.
12. Bosca, pág. 46.
13. James Hastings, ed., Encyclopedia of Religion and Ethics, (1980), vol.xii, pág. 435.
14. Humberto M. Rasi, “Batalhando em Duas Frentes”, Diálogo Universitário 3:1 (1991), págs. 4-7, 22-23.
Eduardo- Mensagens : 5997
Idade : 54
Inscrição : 08/05/2010
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