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Paulo e o Evangelho entre os Gentios  10_paulo_apostolo_nacoes

“... e isto lhes agradeço, não somente eu, mas também todas
as igrejas dos gentios” (Rm 16.4)
O Senhor, nosso Deus, não faz acepção de pessoas (Dt 10.17; At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9). Criou tudo e todos e preserva-os pela sua gloriosa bondade e justiça (Sl 36.6; 68.19; 103.13-19; 104.9-31; At 17.25-28). Ele ama a todos indistintamente e deseja a salvação de toda humanidade (Jo 3.16; At 17.30,31; Rm 1.16; Tt 2.11), através de seu Filho, Jesus (Mt 1.21; At 4.12; Rm 3.24; 2 Co 5.18).


OS GENTIOS NO ANTIGO TESTAMENTO


1. As nações descendentes de Noé (Gn 9.18,19). Toda a raça humana descende de um casal criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27; 5.2; Mc 10.6; At 17.25,26). O homem foi criado santo, justo e bom para a glória do nome santo do Senhor (Gn 5.1; Sl 115.1; Ec 7.29; Is 43.7). Todavia, com a Queda e o crescimento da maldade no mundo (Gn 4.8,23; 6.11,12), Deus enviou o Dilúvio, salvando apenas a família do justo Noé (Gn 6 – 9; Hb 11.7; 1 Pe 3.20; 2 Pe 2.5). De seus descendentes, Jafé (Gn 10.2-5), Cam (Gn 10.6-20), e Sem (Gn 10.21-31), formaram-se as nações com suas respectivas geografias (Gn 10 – 11). Entretanto, os homens continuavam desobedecendo a Deus (Gn 11.1-9), apesar dos justos que sempre se mantiveram fiéis ao Deus verdadeiro em todas as gerações (Gn 4.26; 5.22; Gn 7.1). Do interior desse cenário pecador, Deus chama um descendente de Sem, Abraão, para que dele uma nova nação fosse formada (Gn 12.1-3).

2. A exclusividade dos descendentes de Abraão (Gn 15.5,6; Dt 14.2). Ao chamar Abraão para que de seus descendentes fosse constituído uma nova nação ou povo eleito, o Senhor começa uma nova história: A do povo de Israel (Gn 12.1-3; 13.14-17; 15.4-7,17-21). O propósito de Deus para a nação judaica (Gn 18.18; 22.18) era torná-la propriedade peculiar, reino sacerdotal e povo santo (Êx 19.5,6). Israel fora constituída uma nação peculiar e distinta dos outros povos, pois Deus a escolhera para si (Is 44.1-2; Ez 20.5). A partir de então, todas as etnias, raças, ou povos que não fossem descendentes de Abraão ou israelitas eram considerados gôyim, cujo significado básico é “nações”, “estrangeiros”, “gentios” ou “pagãos” (Gn 15.18-21). Essas nações são conhecidas pela idolatria, depravação (Lv 18.22-24), e perversidade com que tratavam os seus filhos (Lv 18.21; 20.2-5). Contudo, a nação de Israel não fora apenas eleita para ser o instrumento pelo qual o Senhor alcançaria os gentios que respondessem positivamente à salvação oferecida pelo Deus de Israel (Gn 12.3; 22.16-18; Sl 67.2-4), mas também o povo pelo qual o Eterno destruiria os gentios rebeldes (Gn 12.3; 15.16; ver Dt 7 – 8; Gl 3.8).

3. A salvação dos gentios anunciada no Antigo Testamento. Apesar de o Senhor estabelecer e amar a Israel, a nação desobedecia-o perversa e continuamente (2 Rs 21.2; 2 Cr 28.3; 36.14; Is 1.1-30; 30.9; 65.1-7; Rm 10.21). Contudo, Deus prosseguiria com seu plano santo para oferecer aos gentios a redenção (Rm 11.25-310). Já ao crente Abraão Deus prometera que os gentios que o abençoassem seriam abençoados, e nele, todas as famílias da terra seriam benditas (Gn 12.3; Gl 3.8,9,13,14; Rm 4.17). Várias passagens das Escrituras revelam o amor de Deus manifestado gratuitamente aos gentios que exerceram fé no Santo de Israel, como por exemplo, Raabe (Js 6.1-27); Rute (Rt 1– 4 ); Naamã (2 Rs 5.1-19), e os ninivitas (Jn 3.1-10). Se isso não bastasse, o Senhor prometera tornar os gentios o seu povo (Is 11.1,10; 421-5; 52.15; 65.1; compare com Mt 12.18-21; At 15.14-18; Rm 9.25-30; 10.19-21; 15.8-12, 19-21).

4. A salvação dos gentios interpretada pelo apóstolo Paulo. Em nossa mais recente obra, Igreja: Identidade e Símbolos, discutimos exaustivamente o tema da igreja entre os gentios, a interpretação de Paulo a respeito da conversão dos pagãos, e o estabelecimento de uma comunidade de redimidos entre eles. A expressão ekklēsiai tōn ethnōn, em Rm 16.4, quer dizer “igreja dos gentios”. Todavia não é impróprio traduzir a expressão por “igrejas das nações”, ou ainda “igrejas étnicas”.

No leitmov paulino ta ethnē corresponde aos gentios em diversas perícopes ( vide Rm 2.14; 9.30; 15.9-11,12,16,27; Gl 2.8,9,14; 3.8,14; Ef 2.11; 3.6; 4.17; 1 Ts 4.5; 1 Tm 4.17; ver ainda Mt 6.32; 12.21; Lc 12.30; At 10.45), aos pagãos (1 Co 12.2), ou às nações não-judaicas (Rm 16.26; cf. Mt 25.32; 28.19; Mc 13.10; Lc 21.24). Em qualquer um desses textos ta ethnē corresponde aos pagãos, aos gentios, às nações não-judaicas, e também às igrejas e cristãos gentílicos.

Especificamente, a perícope paulina de Romanos 15.9-27, apresenta o caráter escatológico da igreja dos gentios desde o Antigo Testamento. As citações do Salmo 18.49 no versículo 9, de Deuteronômio 32.43 no versículo 10, do Salmo 117.1 no versículo 11, e de Isaías 11.1 no versículo 12 (entre outros) fundamentam a realidade histórico-escatológica das igrejas dos gentios como projeto histórico-redentor de Deus na História. Com muita perspicácia, Paulo cita textos da Torá, dos Profetas e dos Escritos a fim de enfatizar, conforme J.J.Pilch, “que toda a Escritura hebraica anunciou que os pagãos se tornariam parte do plano de Deus e se juntariam ao povo escolhido”.

Na primeira referência veterotestamentária, Davi refere-se às nações gentílicas que habitavam nos limítrofes e até mesmo em Israel, conforme a citação de Tiago em Atos 15.16,17. Paulo mantém a tônica dos ensinos de Romanos 9 – 11 em que a salvação dos gentios está relacionada intrinsecamente ao paradoxo da rejeição e salvação de Israel: “Como também diz em Oseias: Chamarei meu povo, ao que não era meu povo; e amada, à que não era amada. E sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu povo, aí serão chamados filhos do Deus vivo” (Rm 9.25,26). Deus, portanto, não chamou à igreja apenas dentre os judeus, mas também dentre os gentios (Rm 9.24), e, segundo Bultmann, como “comunidade escatológica e povo de Deus dos tempos finais”.

Na segunda incursão nos textos hebraicos (v.10), Paulo traduz o hebraico gôy, “nação”, “povo”, mas principalmente “pagãos”, “gentios” por panta ta ethnē, todas as nações, conforme a LXX. Desde os primórdios da tradição patriarcal, os gôyim (plural), apesar da incredulidade e paganismo, participariam, desde que cressem, das bênçãos divinas prometidas a Abraão e a seus descendentes no futuro (Gn 12.1-3).

A ênfase e a estrutura poética de Deuteronômio 32.21 clamam por uma abordagem específica. Contudo, interessa-nos, por enquanto, o vaticínio profético da sentença. A idolatria de Israel provocara a ira do Senhor, e, por conseguinte (ação e reação), Deus provocaria o povo de Israel com “os que não são povo; com nação louca” os despertaria à ira. (ver Dt 31.17,18).

A explicação etno-soteriológica em Paulo entende que se trata insofismavelmente dos gentios. Essa interpretação é reforçada pela leitura paulina do Salmo 117. 1, no versículo 11 de Romanos 15. O plural hebraico gôyim é traduzido, como já afirmamos, por panta ta ethnē pela LXX, opção também seguida por Paulo. Portanto, escreve Paulo à igreja de Roma (1.7), “abundeis em toda esperança pela virtude do Espírito Santo” (Rm 15.13). Não há qualquer restrição à igreja dos gentios a respeito do Pneumatos Hagios. Eles devem “transbordar” (perisseuo) na esperança (elpis), na alegria (khara), na paz (eirene) pelo poder (en dynamei) do Espírito. Contudo, a igreja dos e entre os gentios trazia sua própria identidade antropocultural, muito embora conservasse os principais fundamentos da fé veterotestamentária e possuísse a virtude do Espírito (

OS GENTIOS EM O NOVO TESTAMENTO

1. Nos Evangelhos. Nos Evangelhos encontramos referências aos gentios em Mateus (6.7,32; 12.18; 18.17, etc.), Marcos (10.33) e Lucas (12.30; 18.32; 21.24; 22.25). Na maioria das vezes, os gentios são descritos com suspeição (Mt 20.19; Mc 10.33), no entanto, Mateus 12.18-21 destaca a missão profética do Messias entre os gentios (Is 42.1-4), enquanto Mateus 10.18 o testemunho dos apóstolos entre eles. Embora o objetivo da missão de Cristo e dos Doze fosse anunciar o Reino dos céus às “ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 12.6; 15.24), muito gentios, assim como no Antigo Testamento, foram alcançados pela graça de nosso Senhor Jesus, como por exemplo, a mulher cananeia (Mt 15.21-28), e o centurião (Lc 7.1-10). João afirma que Jesus veio para os judeus, mas eles o rejeitaram (Jo 1.11-13) e crucificaram-no (Jo 19.13-16). Todavia, após a ressurreição, Jesus comissionou os apóstolos para que anunciassem o evangelho a todos os gentios (Mt 28.19,20; Mc 16.15,16), e não somente aos judeus.

2. Nos Atos dos Apóstolos. A primeira menção aos gentios em Atos refere-se ao conluio entre judeus e gentios para crucificar o Messias (At 4.27). Embora Atos 1.8 estabelecesse a missão dos apóstolos entre os gentios, somente em Atos 9.15, com a conversão de Paulo, é que se declara enfaticamente a evangelização dos gentios (ver At 13.44-47). Todavia, a resistência dos apóstolos em evangelizá-los (At 10.9-16) é vencida quando Cornélio e os demais recebem o dom do Espírito Santo (At 10.44-48). O fato trouxe perturbações (At 11.1-3,18), mas após a justificativa de Pedro (At 11.4-17 ver 15.7-11), a igreja glorificou a Deus pelo arrependimento dos gentios (At 10.45; 11.18; 15.3,12). Porém, manteve-se anunciando o evangelho somente aos judeus (At 11.19), e, posteriormente, constrangendo os gentios crentes à circuncisão (At 15.1).

3. Missão e Salvação entre os Gentios. Se Pedro e o evangelho da circuncisão são proeminentes nos capítulos 1 a 12 de Atos, dos capítulos 13 ao 28 serão Paulo e o evangelho da incircuncisão (Gl 1.7). O primeiro diz respeito aos judeus, e o segundo aos gentios (At 13.44-47). Paulo estava consciente que fora chamado por Deus para anunciar o evangelho aos gentios (At 9.15; 13.47; 22.21; Rm 15.16; Ef 3.8), sem os entraves da lei (At 15.19, 28, 29; Rm 4.9-16). Diferentemente dos judeus incrédulos (At 13.46, 50; 14.2) muitos gentios converteram-se ao Senhor (At 11.1,18; 13.20-23), e se interessaram em ouvir o evangelho (At 13.42). Alguns receberam com alegria o evangelho (At 13.48), mas outros, incitados pelos judeus, resistiram (At 14.1-6; 17.13). Contudo, Deus “abrira aos gentios a porta da fé” (At 14.27), e nem mesmo os entraves do legalismo dos crentes judeus impediriam a salvação dos gentios (At 15.20-31; Rm 3.29), como profetizado desde o Antigo Testamento (Rm 16.25-27).

4. As Atividades Evangelísticas entre os Gentios. Em nossa obra Igreja: Identidade e Símbolos, comentamos que F.F.Bruce afirma que durante dez anos, de 47-57 d.C., Paulo realizou intensa atividade missionária nos territórios que margeiam o Mar Egeu. O labor paulino foi dirigido especificamente às províncias romanas da Galácia, Macedônia, Grécia, Acaia e Ásia. Contudo, uma leitura despretensiosa do livro de Atos dos Apóstolos revelará as incursões missionárias:


  • nas cidades das três províncias litorâneas do Mediterrâneo (Lícia, Panfília, Cilícia),
  • das três do litoral do Mar Egeu (Mísia, Lidia, Caria),
  • das três litorâneas ao Mar Negro (Ponto, Bitínia, Paflagônia), e,
  • nas províncias do interior (Galácia, Capadócia, Licaônia, Pisídia, Frígia).

Entre as muitas cidades que foram alvos da missão salvífica do apóstolo, destacam-se: Éfeso, Tessalônica, Corinto, Galácia, Pérgamo, Tiatira, Atenas, Filadélfia, Esmirna, Troade, Mileto, Laodiceia, Colossos, Sardes entre outras. As igrejas edificadas nessas localidades foram citadas direta e indiretamente por Paulo em vários textos de suas epístolas.

Paulo e o Evangelho entre os Gentios  Segunda%2Bviagem

Fonte: http://geografia-biblica.blogspot.com/2010/06/segunda-viagem-missionaria.html


5. A Formação da Igreja entre os Gentios. Ainda em nossa obra Igreja: Identidade e Símbolos, explicamos a formação da igreja gentílica, referindo-nos ao fato de que Paulo faz várias referências à igreja gentílica como uma comunidade local ou doméstica:“igreja que está em Cencreia”; “igreja que está em sua casa”; “em cada igreja” (Rm 16.1.5; 1 Co 4.17). “Em cada igreja” é, por extensão, “toda a igreja” (Rm 16.23; 1 Co 4.17). Febe servia a Deus na comunidade cristã citadina de Cencreia, cidade portuária oriental de Corinto. Provavelmente, a igreja mencionada não se reunia em templos, mas em casa, como atesta o versículo 5 de Romanos 16, a respeito da comunidade cristã que se reunia na casa de Prisca e Áquila (1 Co 16.19).

As ekklēsiai tōn ethnōn, do versículo 4 (Rm 16), são as igrejas gentílicas da Ásia Menor que agradecem ao casal Priscila e Áquila pelo esforço sacrifical a favor de Paulo. Estas igrejas eram “comunidades paulinas”, compostas por cristãos de várias etnias que viviam na Ásia. Entre eles, o Apóstolo dos Gentios destaca o irmão Epêneto, “que é as primícias da Ásia para Cristo” (v.5). Este cristão, a quem Paulo chama de agapētón mou, “meu amado”, fora um dos primeiros convertidos ao evangelho na Ásia Menor. “As primícias da Ásia para Cristo”, refere-se à fundação das igrejas citadinas na Ásia.


JUDEUS E GENTIOS UNIDOS POR DEUS MEDIANTE A CRUZ

1. A igreja de Deus. Pedro em defesa do evangelho entre os gentios afirmou que “Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para o seu nome” (At 15.14). Esse novo povo é a Igreja, formada por judeus e gentios convertidos a Cristo (Rm 9.29). De ambos os povos, judeus e gentios, Cristo fez apenas um, “derribando a parede de separação que estava no meio”, e, pela cruz, “reconciliou ambos com Deus em um corpo” (Ef 2.14-16). Assim, o Espírito Santo revela a Paulo (Ef 3.4,5), que os gentios não são mais estrangeiros (gôyim), nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos, da família de Deus (Ef 2.11-22; 1 Pe 2.5), co-herdeiros e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho (Ef 3.6).

2. Expansão da igreja entre os gentios. Através das viagens missionárias de Paulo, o apóstolo dos gentios (Rm 11.13; Ef 3.7), o evangelho propagou-se entre os povos, raças e culturas que estavam ao alcance dele naqueles dias (Rm 15.19,20). Em várias regiões foram estabelecidas igrejas formadas principalmente por gentios (Rm 16.4). Essas comunidades de redimidos auxiliaram a igreja da Judeia, composta em sua maioria por judeus, em suas necessidades (Rm 15.25-33; 2 Co 8 – 9). O Senhor Jesus estava preservando os cristãos judeus por meio da riqueza da igreja gentílica.

3. A tarefa inacabada. A tarefa de evangelização dos gentios ainda é uma das maiores responsabilidades da igreja moderna. Quando Israel falhou em anunciar a salvação do Senhor entre as nações pagãs, Deus levantou a igreja, formada por gentios e judeus crentes em Jesus. Mas se nós, a igreja do Senhor, não anunciarmos o evangelho aos povos, quem irá? Deus o chama para ser atalaia nesse mundo perverso (Mc 16.15-18).

CONCLUSÃO

A salvação dos gentios sempre foi propósito do Senhor. Ele deseja que todos os homens sejam salvos, pois ama a todos indistintamente. Em pleno século 21, muitos ainda não ouviram falar do evangelho de Jesus. Não queres hoje ir aos gentios e anunciar-lhes a salvação em Cristo?

Se você gostou desse artigo, não se esqueça de adquirir nossa obra Igreja: Identidade e Símbolos, onde tratamos de vários outros detalhes a respeito do estabelecimento e formação da igreja entre os gentios.
Eduardo
Eduardo

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