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A ligação mente-corpo: algumas descobertas recentes
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10072011
A ligação mente-corpo: algumas descobertas recentes
Linda Caviness
A desgraça nos atinge sem aviso prévio. Tad, nosso filho mais jovem, nos havia trazido muita alegria. Enquanto observávamos seu crescimento, alimentávamos grandes esperanças quanto ao futuro. Embora estivéssemos preocupados com seu crescente número de tropeções e quedas, jamais suspeitávamos que a situação fosse tão séria quanto se tornaria. Depois de intensos exames, os médicos diagnosticaram sua enfermidade como sendo a Síndrome de Niemann-Pick — uma enfermidade degenerativa do cérebro. Tad estava com onze anos. Pouco se sabia sobre essa enfermidade terminal, mas decidi buscar tudo o que fosse possível a respeito. Enquanto os médicos tentavam tratar Tad, assumi a batalha sob outro ângulo. Quis envolver-me com o estado de Tad não apenas emocionalmente, mas também de forma inteligente, para que Tad se sentisse tão confortável e bem tratado quanto possível. Em desespero comecei a estudar anatomia e fisiologia do cérebro. Desejava sondar os mistérios ocultos nessa massa de tecido que atuava como centro de comando da vida de meu filho, de suas atividades e esperanças. A ciência do cérebro subitamente se tornou o foco impulsionador de minha vida.
Tad faleceu seis anos após o diagnóstico, um pouquinho antes de completar seu décimo sétimo aniversário. Embora essa trágica perda deixasse um vazio permanente em nossos corações, a aventura da ciência do cérebro tornou-se-me um catalisador para prover-me de novas percepções sobre a relação mente-corpo. Li todos os livros e artigos que me chegaram às mãos. Assisti conferências e seminários sobre o cérebro. Dissequei o cérebro humano em laboratórios de neuroanatomia. Meu papel como educadora de professores se expandiu, incluindo o conhecimento da neurobiologia do aprendizado. Presentemente, utilizo esse conhecimento para ajudar professores a compreenderem as conexões mente-corpo e facilitar o aprendizado.
Essa pesquisa sobre o cérebro também rendeu uma dissertação doutoral — uma análise comparativa de dois grandes grupos de dados relevantes à educação: a atual pesquisa educacional do cérebro e os conselhos centenários de Ellen G. White aos educadores. Embora esse estudo houvesse comparado dados provenientes de duas perspectivas filosóficas aparentemente dissonantes — naturalismo e teísmo — tal cotejo proveu novas percepções com relação ao vínculo integral entre mente e corpo. O estudo também conduziu a uma postulada conclusão: uma estrutura ativa do tipo fractal (veja a coluna lateral) opera nos processos vitais e pode ser identificada no relacionamento entre mente e corpo.
Uma dinâmica tríade do tipo fractal
O tema penetrante que emergiu desse estudo comparativo é que existe uma relação dinâmica entre os três principais componentes da função cerebral — processamento cortical (pensamento de ordem elevada ou pensamento consciente), estimulação física e influência sócio-espírito-emocional1 sobre as funções do cérebro e do corpo através da neuroquímica. Há cerca de cem anos, Ellen G. White referiu-se a essas três funções como as “capacidades físicas, mentais e espirituais”.2
O fato novo a respeito dessa antiga construção triádica diz respeito aos dados científicos que corroboram e/ou negam aquilo que fora simplesmente especulado filosoficamente. Sabíamos intuitivamente que essa totalidade envolve mente, corpo e espírito. Presentemente, com o conhecimento ampliado sobre o cérebro e suas relações com o corpo, o conceito de integralidade pode basear-se numa perspectiva ainda mais objetiva. Com a ajuda de nova tecnologia de imagens cerebrais, podemos agora ver como o cérebro funciona e não apenas nos envolver em especulação baseada em comportamentos exteriores.
O conhecimento obtido a partir da s novas técnicas de imagens aperfeiçoou-se ainda mais, graças ao crescente conhecimento da neuroquímica — o campo que une mente e corpo. Em 1972, a descoberta de Candace Pert sobre o receptor opiáceo abriu caminho para maior compreensão de como os elementos químicos formam, no interior de nossos corpos, uma dinâmica rede de informações que vincula mente e corpo.3 Pert equipara a neuroquímica às emoções — os fenômenos que ocorrem quando um neurônio se comunica com outro e produz atitudes, espírito e ação. As emoções influenciam todo pensamento potencial antes que esse se processe nas áreas corticais de “ordem elevada”, como pensamento consciente.
De que forma as novas percepções sobre mente-corpo-espírito se relacionam com a teoria fractal? Antes de dar essa explicação, talvez um pouco de história ajude a esclarecer aqueles que não se acham familiarizados com o termo fractal.
Quando criança eu costumava gastar tempo com papai num pequeno avião. Desde as alturas, fascinavam-me os padrões observados nos terrenos não cultivados lá embaixo. Anos mais tarde, os padrões vistos a partir do avião ainda apareciam em pequenos pedaços de rocha sobre os quis eu escrevia versos e os oferecia de presente. Posteriormente ainda, arquétipos similares eram evidentes nos microscópios do laboratório de ciência, ou através de telescópios ao observar galáxias e nebulosas muito além da atmosfera terrestre. Esses padrões repetitivos ou tipo fractal, aparentes no micro e no macrocosmo como eu observara ao longo dos anos, tornaram-se mesmo mais significativos depois que li a obra Leadership and the New Science, de Margareth Wheatley, e me familiarizei com a teoria fractal. Seriam esses padrões naturais a evidência de um grande plano organizacional ou desígnio inteligente?
Em meus estudos do cérebro, uma construção mental repetitiva também veio à tona por meio da palavra de numerosos especialistas sobre cérebro e aprendizado, enquanto descreviam a função em nível neuronal dentro do próprio cérebro como um órgão, e holisticamente no relacionamento entre mente e corpo. Seria essa repetição uma evidência de representação fractal adicional?
Os pesquisadores concordavam claramente que três principais funções contribuíam para a realidade humana — intelecto, emoção e atividade física. Entretanto, teria alguém mais alinhado o estudo do cérebro com a teoria fractal? Uma revisão da literatura confirmou a conexão. Mercier, Bieberich, Ferandez e outros também haviam discutido a função fractal num contexto neurocientífico4.
Comparando esses grandes conjuntos de dados, comecei a ver evidências da reciprocidade holística entre mente, corpo e espírito — microscopicamente ao nível celular, anatomicamente na organização do próprio cérebro, e evidentemente no relacionamento entre cérebro e corpo. Examinemos mais detidamente esses três níveis de forma e função, começando com a estrutura anatômica do cérebro.
Na década de 1970, quando Paul MacLean propôs a teoria cerebral triúna, descreveu três níveis para o cérebro — o córtex, o sistema límbico e o tronco cerebral-cerebelo. Nessa época, MacLean cria que cada uma dessas áreas funcionava como um cérebro dentro do cérebro. Desde então, MacLean se uniu a outros na adoção de uma postura diferente. O pensamento atual sugere que cada uma dessas três áreas funciona como parte de um todo dinâmico. Cada uma das áreas depende das outras duas quando ocorre um processamento simultâneo e simbiótico.
Embora o conceito original de MacLean tenha mudado, as três principais áreas por ele identificadas ainda são consideradas as áreas básicas da anatomia cerebral. Cada área é multifuncional e se integra com as outras duas partes e suas funções. Essas três áreas continuam identificadas com as funções principais que têm lugar em cada área.
O cérebro como órgão fractal
A área cortical do cérebro é comumente identificada como a do pensamento de ordem mais elevada e o pensamento consciente. O centro límbico está associado à emoção, à entrada sensorial provida pelo ambiente e a memória, enquanto que o tronco cerebral e o cerebelo conduzem informações de entrada e saída, dos músculos, órgãos e outros aspectos do corpo físico, e coordenam os movimentos físicos. Em certo sentido, o córtex pode ser visto como o componente mental, a área límbica como o componente emociono-sócio-espiritual, e o tronco cerebral e o cerebelo como o componente físico.
O neurônio como órgão fractal
Em escala menor, o fractal mental-físico-espiritual é novamente evidente. A minúscula célula neuronal responde a sinais neuroquímicos (função emocional), decide suas respostas aos sinais (função mental) e atua sobre essa decisão (função física) através da inibição ou transferência da ação potencial. O neurônio não opera apenas nessas três aptidões, mas também influencia e é influenciado profundamente pelos mesmos elementos. O córtex, o sistema límbico e o tronco cerebral-cerebelo estão constantemente afetando o neurônio e sendo afetados pela função neuronal.
Corpo-mente-espírito como órgão fractal
Observando o corpo-mente a partir de uma perspectiva mais ampla, vemos que o cérebro (mental) controla a cognição, o corpo (físico) provê os aportes que estimulam a função do cérebro e a neuroquímica (emociono-sócio-espiritual) é criada pela estimulação sensorial — geralmente a partir do ambiente, que ativa os elementos neuroquímicos para que atuem em rede e integrem corpo e cérebro. Inquestionavelmente, a interação entre corpo, mente e espírito afeta suas partes constituintes. Seria verdade que corpo, mente e espírito são afetados por uma representação mais ampla desse postulado fractal? Existe abundante evidência de que essa construção fractal é funcional com os ambientes que cercam o indivíduo. Influências mentais, físicas e espirituais não apenas nos rodeiam; elas também contribuem para a qualidade de nossa capacidade intelectual, de nossa saúde física e para as condições e desenvolvimento emocional, social e espiritual. Considere o impacto ambiental entre essas três realidades.
Estímulos mentais no ambiente
Examinemos primeiramente a capacidade intelectual. Durante séculos feriu-se o debate entre natureza versus educação, e tradicionalmente a natureza parece ter tomado a dianteira. A grande questão tem sido: O que determina a inteligência: a genética (natureza) ou a influência ambiental (educação)? Novos conhecimentos sobre o aprimoramento e a capacidade cerebral de mudar e crescer indicam que a natureza e a educação são iguais em determinar a capacidade cognitiva. Influências ambientais têm muito a ver com a ativação de funções genéticas que, de outra forma, poderiam permanecer latentes.
Segundo, as influências filosóficas dominantes também exercem papel significativo sobre o estado mental da pessoa. O sistema de crenças dos pais desempenha poderoso impacto sobre as atitudes, hábitos e relacionamentos dos filhos. Mesmo antes de a criança ter explícita memória de ocorrências biográficas, os que cuidam dela moldam implicitamente sua orientação mental em formas que são extremamente difíceis ou mesmo impossíveis de serem mudadas. Além disso, a escola desenvolve as crenças e orientações da sociedade. Essas impressões mentais moldam nossas vidas e, em grande medida, determinam nossas funções vitais.
Terceiro, aquilo que imaginamos que os outros pensam a nosso respeito exerce profundo impacto sobre nosso autoconceito e capacidade de recuperação. O considerável volume da pesquisa atual sobre o perigo dos estereótipos sugere que, consciente ou inconscientemente, a percepção que os outros têm de nós determina nossas atitudes e desempenho. Esse fenômeno se relaciona intimamente com as considerações seguintes.
Estímulos emocionais, sociais e espirituais no ambiente
A inteligência emocional, uma expressão popularizada por Daniel Goleman na década de 1990, representa agora uma bem fundamentada construção na teoria educacional, graças aos novos conhecimentos sobre a função cerebral. O papel da emoção na cognição é inegavelmente profundo. Mas a emoção também desempenha um papel de primeira grandeza em outras disciplinas. O mundo dos entretenimentos aufere gigantescos lucros ao aplicar o apelo emocional às audiências ao redor do mundo. Novos campos de estudos — neurocardiologia, neuroeconomia e neuropsicologia, para citar apenas uns poucos — também é feito uso desse foco relativamente novo sobre a emoção.
Você pode querer saber de que forma a neurociência relaciona a economia com a emoção. Paul Zak, da Claremont Graduate University, explica que prazer e escolha conduzem o mercado de capitais. Confiança é outro fator significativo. Novas pesquisas sobre confiança sugerem que quando duas pessoas confiam uma na outra, elevam-se os níveis de oxitocina de ambas. A oxitocina é um hormônio — um neuroquímico — que produz relaxamento. Sítios receptores dispostos ao longo do cérebro respondem favoravelmente a níveis apropriados desse neurotransmissor, o qual também produz interligações. Que corretor de ações não gostaria de ter um cliente que se vinculasse profissionalmente a ele e, subseqüentemente, à sua empresa?
A pesquisa sobre feromônios e transferência de sinais de variabilidade no ritmo cardíaco, além de outras influências emocionais, sociais e espirituais, continua provendo informações acerca do poderoso papel da neuroquímica em nosso ambiente. Nossa própria neuroquímica não afeta apenas o que nos cerca; o ambiente impressiona igualmente o nosso interior, de modo consciente ou inconsciente. Os benefícios obtidos por níveis positivos de emoções sobre a mente e corpo, aumentam as funções do sistema imunológico, do coração, da respiração e da digestão.
Muitas pesquisas têm abordado o efeito das emoções negativas sobre o corpo e a mente. Martin E. P. Sligman, ex-presidente da Associação Americana de Psicologia, descreve como as emoções negativas podem conduzir à depressão clínica. Em sua investigação sobre formas de corrigir essa tendência ao desequilíbrio emocional, Seligman começou colaborando com Mihaly Csikszentmihalyi, autor de Flow, um livro acerca do valor da experiência motivacional de pico. Juntos prosseguiram enfocando a emoção positiva.
Barbara Fredrickson, da Universidade de Michigan, está presentemente fazendo especialização em psicofisiologia e os efeitos das emoções positivas sobre a mente e o cérebro. Num artigo para a American Scientist,5 Fredrickson menciona pesquisas que sugerem que as emoções positivas promovem a longevidade, o funcionamento individual e coletivo, o bem-estar psicológico e a saúde física. Ela está pesquisando “como e por que” a ‘bondade’ é importante.”6
Emoções negativas — ira, temor, tristeza, etc. — são “experiências extremamente diferentes” que sinalizam respostas autonômicas específicas, evidenciadas pela expressão facial. Emoções positivas — alegria, entretenimento, serenidade, etc. — são “relativamente indiferenciadas” e “não produzem respostas autonômicas distinguíveis”. As emoções negativas tendem a conduzir-nos para alguma atividade sobrevivencial, ao passo que as emoções positivas nos ajudam a “resolver problemas concernentes ao crescimento e desenvolvimento pessoais”.7
As emoções positivas promovem a saúde física, intelectual e psicossocial, que perdura “muito depois de a emoção positiva haver desaparecido”, sugere Fredrickson. Esse efeito positivo provê aumento da capacidade de recuperação e do otimismo, que podem ajudar a desfazer os efeitos danosos das emoções negativas sobre a mente e o corpo.
“Pessoas que sentem regularmente emoções positivas são, de alguma forma, erguidas numa “espiral ascendente” de contínuo crescimento e realização. Elas se “tornam mais úteis aos outros” e podem “transformar as comunidades em organizações sociais mais coesas e harmoniosas, e de moral mais elevado”.8
Há mais de cem anos Ellen White apresentou um conselho similar. Ela afirmou que quando a mente humana se conecta à mente divina, o Espírito Santo habita no coração. Ela explica que nessa ocorrência, o efeito do amor exerce influência poderosa e benéfica sobre a mente e o corpo. Subseqüentemente, forma-se ao nosso redor uma atmosfera salutar para todos os que se aproximam. Emoções negativas, por outro lado, são-nos daninhas e também aos que nos cercam.9
As emoções não apenas servem para transmitir dados neurológicos entre os neurônios dentro do cérebro, mas também entre cérebro e corpo. Elas também se expandem ativamente para a comunidade que nos cerca, influenciando-a. Pesquisas acerca de emoções positivas provêem novo significado para o valor da função espiritual como mantenedora da saúde da mente e do corpo. O culto congregacional, a confiança no poder divino, as pausas para agradecer pelos alimentos antes das refeições, o desvio do foco de si mesmo para as necessidades alheias, etc., podem ser mais benéficos do que até então se admitia. Talvez escolhas desse tipo representem tendências inatas em busca do holismo.
Estímulos físicos do ambiente
Fisicamente, através do som, tato, paladar, olfato e visão, o ambiente nos estimula à ação, à medida que tentamos sobreviver e desenvolver-nos. O desequilíbrio constitui parte importante desse processo, no sentido de requerer mobilidade através de intercâmbios. Um exemplo tornará mais claro esse ponto.
O Dr. George Javor, bioquímico da Universidade de Loma Linda, Califórnia, sugere que a matéria viva busca constantemente mover-se rumo ao equilíbrio. Contudo, se ela atinge o ponto de equilíbrio e aí permanece, a vida se dissipa.10
James Zull, da Universidade Case Western Reserve, afirma que “movimento é cognição expressa”. Os circuitos internos dos lobos corticais naturalmente movimentam a cognição de forma repetitiva, da integração sensorial para o processamento executivo, e finalmente rumo à ação no centro motor do córtex. Conseqüentemente, as exigências sociais de trabalho e serviço promovem a saúde mental e corpórea.
A natureza da sobreposição dos estímulos ambientais
Quem sabe já lhe haja ocorrido que essas três influências ambientais de alguma forma se sobrepõem em a Natureza. De acordo com a teoria fractal, cada componente — mental, emocional, social, espiritual e físico — contém efetivamente elementos dos outros dois componentes.
O papel vital do serviço
Há cerca de cem anos, Ellen White promoveu a idéia de que o aprendizado resulta do “harmonioso desenvolvimento das capacidades físicas, mentais e espirituais”.11 Além disso, ela declarou que tal desenvolvimento harmonioso “prepara o estudante para a alegria do serviço neste mundo e para o elevado gozo de um serviço mais amplo no mundo futuro”. O serviço, como o quarto componente no cultivo do desenvolvimento humano, é crítico para a função holística. Como fator de desequilíbrio, mantém um estado saudável.
É vital obter benefícios educacionais, relacionais e físicos; contudo, receber constantemente e não retribuir pode truncar o potencial humano. Como o Mar Morto, se recebermos mas não dermos algo altruisticamente para a comunidade que nos cerca, disso resultarão estagnação e perda de potencial. Quando a unidade humana — mente, corpo e espírito — é acionada em benevolência para com a comunidade da qual é uma parte fractal, garante-se a integridade da substância vital e o potencial humano tende a expandir-se.
Equilibrando a Pirâmide
A função holística poderá ocorrer mais provavelmente quando favorecermos o equilíbrio entre mente, corpo e espírito (veja a Figura A). A Figura B mostra como uma parte da tríade fractal pode absorver as outras duas e levar ao desequilíbrio pessoal. Um fractal “achatado” provavelmente truncará o potencial. Quando, porém, as três dimensões se encontram em equilíbrio, e essa integralidade é canalizada em amorável serviço a outros, alcançamos nosso potencial.
Linda Caviness (Ph.D. pela Andrews University) leciona na Escola de Educação da Universidade La Sierra. Endereço: 4700 Pierce Street, Riverside, Califórnia 92515, EUA. E-mail: lindacaviness@sbcglobal.net.
REFERÊNCIAS
1. Embora nem todos os escritores que aplicam a pesquisa do cérebro à educação utilizem o termo espiritual, não é incomum encontrar-se referências às funções holísticas da atividade cerebral nos campos mental, físico, emocional e social. O termo espiritual é utilizado, mas não com tanta freqüência.
2. Ellen G. White, Education (Mountain View, Calif.: Pacific Press Publ. Assn., 1903), p. 13.
3. C. B. Pertner, Molecules of Emotion (New York: Scribner, 1997).
4. Ver F. Mercier, “Anatomy of the Brain Neurogenic Zones Revisited: Fractones and the Fibroblast/Macrophage Network,” Journal of Comparative Neurology, 451 (16 de setembro de 2002) 2:170-88; E. Bieberich, “Recurrent Fractal Networks: A Strategy for the Exchange of Local and Global Information Processing in the Brain,” Biosystems 66 (ago.- set. de 2002):145-164; e E. Ferandez, “Use of Fractal Theory in Neuroscience: Methods, Advantages, and Potential Problems,” Journal of Neuroscience Methods 24 (Aug. 2001) 4:309-321.
5. Barbara L. Frederickson, “The Value of Positive Emotions,” American Scientist 91 (jul.-ago., 2003): 330-335.
6. Idem, p. 330.
7. Idem, p. 332.
8. Idem, p. 335.
9. Ellen G. White, “Life, Love, and Union,” The Signs of the Times, 29 de outubro de 1898, b.; “Sabbath-School Influences,” Sabbath School Worker, 1 de abril de 1886, a; Sons and Daughters of God (Washington, D.C.: Review and Herald Publ. Assn., 1955); Mind, Character, and Personality, 2 vols. (Nashville, Tenn.: Southern Publ. Assn., 1977), vol. 1, p. 802; Reflecting Christ (Hagerstown, Md.: Review and Herald Publ. Assn., 1985), p. 262; Faith and Works (Nashville. Tenn.: Southern Publ. Assn., 1979), p. 65.
10. George T. Javor, “Life: An Evidence for Creation,” Origins 28 (mar. 2000) 1:24-33.
11. White, Education.
A desgraça nos atinge sem aviso prévio. Tad, nosso filho mais jovem, nos havia trazido muita alegria. Enquanto observávamos seu crescimento, alimentávamos grandes esperanças quanto ao futuro. Embora estivéssemos preocupados com seu crescente número de tropeções e quedas, jamais suspeitávamos que a situação fosse tão séria quanto se tornaria. Depois de intensos exames, os médicos diagnosticaram sua enfermidade como sendo a Síndrome de Niemann-Pick — uma enfermidade degenerativa do cérebro. Tad estava com onze anos. Pouco se sabia sobre essa enfermidade terminal, mas decidi buscar tudo o que fosse possível a respeito. Enquanto os médicos tentavam tratar Tad, assumi a batalha sob outro ângulo. Quis envolver-me com o estado de Tad não apenas emocionalmente, mas também de forma inteligente, para que Tad se sentisse tão confortável e bem tratado quanto possível. Em desespero comecei a estudar anatomia e fisiologia do cérebro. Desejava sondar os mistérios ocultos nessa massa de tecido que atuava como centro de comando da vida de meu filho, de suas atividades e esperanças. A ciência do cérebro subitamente se tornou o foco impulsionador de minha vida.
Tad faleceu seis anos após o diagnóstico, um pouquinho antes de completar seu décimo sétimo aniversário. Embora essa trágica perda deixasse um vazio permanente em nossos corações, a aventura da ciência do cérebro tornou-se-me um catalisador para prover-me de novas percepções sobre a relação mente-corpo. Li todos os livros e artigos que me chegaram às mãos. Assisti conferências e seminários sobre o cérebro. Dissequei o cérebro humano em laboratórios de neuroanatomia. Meu papel como educadora de professores se expandiu, incluindo o conhecimento da neurobiologia do aprendizado. Presentemente, utilizo esse conhecimento para ajudar professores a compreenderem as conexões mente-corpo e facilitar o aprendizado.
Essa pesquisa sobre o cérebro também rendeu uma dissertação doutoral — uma análise comparativa de dois grandes grupos de dados relevantes à educação: a atual pesquisa educacional do cérebro e os conselhos centenários de Ellen G. White aos educadores. Embora esse estudo houvesse comparado dados provenientes de duas perspectivas filosóficas aparentemente dissonantes — naturalismo e teísmo — tal cotejo proveu novas percepções com relação ao vínculo integral entre mente e corpo. O estudo também conduziu a uma postulada conclusão: uma estrutura ativa do tipo fractal (veja a coluna lateral) opera nos processos vitais e pode ser identificada no relacionamento entre mente e corpo.
Uma dinâmica tríade do tipo fractal
O tema penetrante que emergiu desse estudo comparativo é que existe uma relação dinâmica entre os três principais componentes da função cerebral — processamento cortical (pensamento de ordem elevada ou pensamento consciente), estimulação física e influência sócio-espírito-emocional1 sobre as funções do cérebro e do corpo através da neuroquímica. Há cerca de cem anos, Ellen G. White referiu-se a essas três funções como as “capacidades físicas, mentais e espirituais”.2
O fato novo a respeito dessa antiga construção triádica diz respeito aos dados científicos que corroboram e/ou negam aquilo que fora simplesmente especulado filosoficamente. Sabíamos intuitivamente que essa totalidade envolve mente, corpo e espírito. Presentemente, com o conhecimento ampliado sobre o cérebro e suas relações com o corpo, o conceito de integralidade pode basear-se numa perspectiva ainda mais objetiva. Com a ajuda de nova tecnologia de imagens cerebrais, podemos agora ver como o cérebro funciona e não apenas nos envolver em especulação baseada em comportamentos exteriores.
O conhecimento obtido a partir da s novas técnicas de imagens aperfeiçoou-se ainda mais, graças ao crescente conhecimento da neuroquímica — o campo que une mente e corpo. Em 1972, a descoberta de Candace Pert sobre o receptor opiáceo abriu caminho para maior compreensão de como os elementos químicos formam, no interior de nossos corpos, uma dinâmica rede de informações que vincula mente e corpo.3 Pert equipara a neuroquímica às emoções — os fenômenos que ocorrem quando um neurônio se comunica com outro e produz atitudes, espírito e ação. As emoções influenciam todo pensamento potencial antes que esse se processe nas áreas corticais de “ordem elevada”, como pensamento consciente.
De que forma as novas percepções sobre mente-corpo-espírito se relacionam com a teoria fractal? Antes de dar essa explicação, talvez um pouco de história ajude a esclarecer aqueles que não se acham familiarizados com o termo fractal.
Quando criança eu costumava gastar tempo com papai num pequeno avião. Desde as alturas, fascinavam-me os padrões observados nos terrenos não cultivados lá embaixo. Anos mais tarde, os padrões vistos a partir do avião ainda apareciam em pequenos pedaços de rocha sobre os quis eu escrevia versos e os oferecia de presente. Posteriormente ainda, arquétipos similares eram evidentes nos microscópios do laboratório de ciência, ou através de telescópios ao observar galáxias e nebulosas muito além da atmosfera terrestre. Esses padrões repetitivos ou tipo fractal, aparentes no micro e no macrocosmo como eu observara ao longo dos anos, tornaram-se mesmo mais significativos depois que li a obra Leadership and the New Science, de Margareth Wheatley, e me familiarizei com a teoria fractal. Seriam esses padrões naturais a evidência de um grande plano organizacional ou desígnio inteligente?
Em meus estudos do cérebro, uma construção mental repetitiva também veio à tona por meio da palavra de numerosos especialistas sobre cérebro e aprendizado, enquanto descreviam a função em nível neuronal dentro do próprio cérebro como um órgão, e holisticamente no relacionamento entre mente e corpo. Seria essa repetição uma evidência de representação fractal adicional?
Os pesquisadores concordavam claramente que três principais funções contribuíam para a realidade humana — intelecto, emoção e atividade física. Entretanto, teria alguém mais alinhado o estudo do cérebro com a teoria fractal? Uma revisão da literatura confirmou a conexão. Mercier, Bieberich, Ferandez e outros também haviam discutido a função fractal num contexto neurocientífico4.
Comparando esses grandes conjuntos de dados, comecei a ver evidências da reciprocidade holística entre mente, corpo e espírito — microscopicamente ao nível celular, anatomicamente na organização do próprio cérebro, e evidentemente no relacionamento entre cérebro e corpo. Examinemos mais detidamente esses três níveis de forma e função, começando com a estrutura anatômica do cérebro.
Na década de 1970, quando Paul MacLean propôs a teoria cerebral triúna, descreveu três níveis para o cérebro — o córtex, o sistema límbico e o tronco cerebral-cerebelo. Nessa época, MacLean cria que cada uma dessas áreas funcionava como um cérebro dentro do cérebro. Desde então, MacLean se uniu a outros na adoção de uma postura diferente. O pensamento atual sugere que cada uma dessas três áreas funciona como parte de um todo dinâmico. Cada uma das áreas depende das outras duas quando ocorre um processamento simultâneo e simbiótico.
Embora o conceito original de MacLean tenha mudado, as três principais áreas por ele identificadas ainda são consideradas as áreas básicas da anatomia cerebral. Cada área é multifuncional e se integra com as outras duas partes e suas funções. Essas três áreas continuam identificadas com as funções principais que têm lugar em cada área.
O cérebro como órgão fractal
A área cortical do cérebro é comumente identificada como a do pensamento de ordem mais elevada e o pensamento consciente. O centro límbico está associado à emoção, à entrada sensorial provida pelo ambiente e a memória, enquanto que o tronco cerebral e o cerebelo conduzem informações de entrada e saída, dos músculos, órgãos e outros aspectos do corpo físico, e coordenam os movimentos físicos. Em certo sentido, o córtex pode ser visto como o componente mental, a área límbica como o componente emociono-sócio-espiritual, e o tronco cerebral e o cerebelo como o componente físico.
O neurônio como órgão fractal
Em escala menor, o fractal mental-físico-espiritual é novamente evidente. A minúscula célula neuronal responde a sinais neuroquímicos (função emocional), decide suas respostas aos sinais (função mental) e atua sobre essa decisão (função física) através da inibição ou transferência da ação potencial. O neurônio não opera apenas nessas três aptidões, mas também influencia e é influenciado profundamente pelos mesmos elementos. O córtex, o sistema límbico e o tronco cerebral-cerebelo estão constantemente afetando o neurônio e sendo afetados pela função neuronal.
Corpo-mente-espírito como órgão fractal
Observando o corpo-mente a partir de uma perspectiva mais ampla, vemos que o cérebro (mental) controla a cognição, o corpo (físico) provê os aportes que estimulam a função do cérebro e a neuroquímica (emociono-sócio-espiritual) é criada pela estimulação sensorial — geralmente a partir do ambiente, que ativa os elementos neuroquímicos para que atuem em rede e integrem corpo e cérebro. Inquestionavelmente, a interação entre corpo, mente e espírito afeta suas partes constituintes. Seria verdade que corpo, mente e espírito são afetados por uma representação mais ampla desse postulado fractal? Existe abundante evidência de que essa construção fractal é funcional com os ambientes que cercam o indivíduo. Influências mentais, físicas e espirituais não apenas nos rodeiam; elas também contribuem para a qualidade de nossa capacidade intelectual, de nossa saúde física e para as condições e desenvolvimento emocional, social e espiritual. Considere o impacto ambiental entre essas três realidades.
Estímulos mentais no ambiente
Examinemos primeiramente a capacidade intelectual. Durante séculos feriu-se o debate entre natureza versus educação, e tradicionalmente a natureza parece ter tomado a dianteira. A grande questão tem sido: O que determina a inteligência: a genética (natureza) ou a influência ambiental (educação)? Novos conhecimentos sobre o aprimoramento e a capacidade cerebral de mudar e crescer indicam que a natureza e a educação são iguais em determinar a capacidade cognitiva. Influências ambientais têm muito a ver com a ativação de funções genéticas que, de outra forma, poderiam permanecer latentes.
Segundo, as influências filosóficas dominantes também exercem papel significativo sobre o estado mental da pessoa. O sistema de crenças dos pais desempenha poderoso impacto sobre as atitudes, hábitos e relacionamentos dos filhos. Mesmo antes de a criança ter explícita memória de ocorrências biográficas, os que cuidam dela moldam implicitamente sua orientação mental em formas que são extremamente difíceis ou mesmo impossíveis de serem mudadas. Além disso, a escola desenvolve as crenças e orientações da sociedade. Essas impressões mentais moldam nossas vidas e, em grande medida, determinam nossas funções vitais.
Terceiro, aquilo que imaginamos que os outros pensam a nosso respeito exerce profundo impacto sobre nosso autoconceito e capacidade de recuperação. O considerável volume da pesquisa atual sobre o perigo dos estereótipos sugere que, consciente ou inconscientemente, a percepção que os outros têm de nós determina nossas atitudes e desempenho. Esse fenômeno se relaciona intimamente com as considerações seguintes.
Estímulos emocionais, sociais e espirituais no ambiente
A inteligência emocional, uma expressão popularizada por Daniel Goleman na década de 1990, representa agora uma bem fundamentada construção na teoria educacional, graças aos novos conhecimentos sobre a função cerebral. O papel da emoção na cognição é inegavelmente profundo. Mas a emoção também desempenha um papel de primeira grandeza em outras disciplinas. O mundo dos entretenimentos aufere gigantescos lucros ao aplicar o apelo emocional às audiências ao redor do mundo. Novos campos de estudos — neurocardiologia, neuroeconomia e neuropsicologia, para citar apenas uns poucos — também é feito uso desse foco relativamente novo sobre a emoção.
Você pode querer saber de que forma a neurociência relaciona a economia com a emoção. Paul Zak, da Claremont Graduate University, explica que prazer e escolha conduzem o mercado de capitais. Confiança é outro fator significativo. Novas pesquisas sobre confiança sugerem que quando duas pessoas confiam uma na outra, elevam-se os níveis de oxitocina de ambas. A oxitocina é um hormônio — um neuroquímico — que produz relaxamento. Sítios receptores dispostos ao longo do cérebro respondem favoravelmente a níveis apropriados desse neurotransmissor, o qual também produz interligações. Que corretor de ações não gostaria de ter um cliente que se vinculasse profissionalmente a ele e, subseqüentemente, à sua empresa?
A pesquisa sobre feromônios e transferência de sinais de variabilidade no ritmo cardíaco, além de outras influências emocionais, sociais e espirituais, continua provendo informações acerca do poderoso papel da neuroquímica em nosso ambiente. Nossa própria neuroquímica não afeta apenas o que nos cerca; o ambiente impressiona igualmente o nosso interior, de modo consciente ou inconsciente. Os benefícios obtidos por níveis positivos de emoções sobre a mente e corpo, aumentam as funções do sistema imunológico, do coração, da respiração e da digestão.
Muitas pesquisas têm abordado o efeito das emoções negativas sobre o corpo e a mente. Martin E. P. Sligman, ex-presidente da Associação Americana de Psicologia, descreve como as emoções negativas podem conduzir à depressão clínica. Em sua investigação sobre formas de corrigir essa tendência ao desequilíbrio emocional, Seligman começou colaborando com Mihaly Csikszentmihalyi, autor de Flow, um livro acerca do valor da experiência motivacional de pico. Juntos prosseguiram enfocando a emoção positiva.
Barbara Fredrickson, da Universidade de Michigan, está presentemente fazendo especialização em psicofisiologia e os efeitos das emoções positivas sobre a mente e o cérebro. Num artigo para a American Scientist,5 Fredrickson menciona pesquisas que sugerem que as emoções positivas promovem a longevidade, o funcionamento individual e coletivo, o bem-estar psicológico e a saúde física. Ela está pesquisando “como e por que” a ‘bondade’ é importante.”6
Emoções negativas — ira, temor, tristeza, etc. — são “experiências extremamente diferentes” que sinalizam respostas autonômicas específicas, evidenciadas pela expressão facial. Emoções positivas — alegria, entretenimento, serenidade, etc. — são “relativamente indiferenciadas” e “não produzem respostas autonômicas distinguíveis”. As emoções negativas tendem a conduzir-nos para alguma atividade sobrevivencial, ao passo que as emoções positivas nos ajudam a “resolver problemas concernentes ao crescimento e desenvolvimento pessoais”.7
As emoções positivas promovem a saúde física, intelectual e psicossocial, que perdura “muito depois de a emoção positiva haver desaparecido”, sugere Fredrickson. Esse efeito positivo provê aumento da capacidade de recuperação e do otimismo, que podem ajudar a desfazer os efeitos danosos das emoções negativas sobre a mente e o corpo.
“Pessoas que sentem regularmente emoções positivas são, de alguma forma, erguidas numa “espiral ascendente” de contínuo crescimento e realização. Elas se “tornam mais úteis aos outros” e podem “transformar as comunidades em organizações sociais mais coesas e harmoniosas, e de moral mais elevado”.8
Há mais de cem anos Ellen White apresentou um conselho similar. Ela afirmou que quando a mente humana se conecta à mente divina, o Espírito Santo habita no coração. Ela explica que nessa ocorrência, o efeito do amor exerce influência poderosa e benéfica sobre a mente e o corpo. Subseqüentemente, forma-se ao nosso redor uma atmosfera salutar para todos os que se aproximam. Emoções negativas, por outro lado, são-nos daninhas e também aos que nos cercam.9
As emoções não apenas servem para transmitir dados neurológicos entre os neurônios dentro do cérebro, mas também entre cérebro e corpo. Elas também se expandem ativamente para a comunidade que nos cerca, influenciando-a. Pesquisas acerca de emoções positivas provêem novo significado para o valor da função espiritual como mantenedora da saúde da mente e do corpo. O culto congregacional, a confiança no poder divino, as pausas para agradecer pelos alimentos antes das refeições, o desvio do foco de si mesmo para as necessidades alheias, etc., podem ser mais benéficos do que até então se admitia. Talvez escolhas desse tipo representem tendências inatas em busca do holismo.
Estímulos físicos do ambiente
Fisicamente, através do som, tato, paladar, olfato e visão, o ambiente nos estimula à ação, à medida que tentamos sobreviver e desenvolver-nos. O desequilíbrio constitui parte importante desse processo, no sentido de requerer mobilidade através de intercâmbios. Um exemplo tornará mais claro esse ponto.
O Dr. George Javor, bioquímico da Universidade de Loma Linda, Califórnia, sugere que a matéria viva busca constantemente mover-se rumo ao equilíbrio. Contudo, se ela atinge o ponto de equilíbrio e aí permanece, a vida se dissipa.10
James Zull, da Universidade Case Western Reserve, afirma que “movimento é cognição expressa”. Os circuitos internos dos lobos corticais naturalmente movimentam a cognição de forma repetitiva, da integração sensorial para o processamento executivo, e finalmente rumo à ação no centro motor do córtex. Conseqüentemente, as exigências sociais de trabalho e serviço promovem a saúde mental e corpórea.
A natureza da sobreposição dos estímulos ambientais
Quem sabe já lhe haja ocorrido que essas três influências ambientais de alguma forma se sobrepõem em a Natureza. De acordo com a teoria fractal, cada componente — mental, emocional, social, espiritual e físico — contém efetivamente elementos dos outros dois componentes.
O papel vital do serviço
Há cerca de cem anos, Ellen White promoveu a idéia de que o aprendizado resulta do “harmonioso desenvolvimento das capacidades físicas, mentais e espirituais”.11 Além disso, ela declarou que tal desenvolvimento harmonioso “prepara o estudante para a alegria do serviço neste mundo e para o elevado gozo de um serviço mais amplo no mundo futuro”. O serviço, como o quarto componente no cultivo do desenvolvimento humano, é crítico para a função holística. Como fator de desequilíbrio, mantém um estado saudável.
É vital obter benefícios educacionais, relacionais e físicos; contudo, receber constantemente e não retribuir pode truncar o potencial humano. Como o Mar Morto, se recebermos mas não dermos algo altruisticamente para a comunidade que nos cerca, disso resultarão estagnação e perda de potencial. Quando a unidade humana — mente, corpo e espírito — é acionada em benevolência para com a comunidade da qual é uma parte fractal, garante-se a integridade da substância vital e o potencial humano tende a expandir-se.
Equilibrando a Pirâmide
A função holística poderá ocorrer mais provavelmente quando favorecermos o equilíbrio entre mente, corpo e espírito (veja a Figura A). A Figura B mostra como uma parte da tríade fractal pode absorver as outras duas e levar ao desequilíbrio pessoal. Um fractal “achatado” provavelmente truncará o potencial. Quando, porém, as três dimensões se encontram em equilíbrio, e essa integralidade é canalizada em amorável serviço a outros, alcançamos nosso potencial.
Linda Caviness (Ph.D. pela Andrews University) leciona na Escola de Educação da Universidade La Sierra. Endereço: 4700 Pierce Street, Riverside, Califórnia 92515, EUA. E-mail: lindacaviness@sbcglobal.net.
REFERÊNCIAS
1. Embora nem todos os escritores que aplicam a pesquisa do cérebro à educação utilizem o termo espiritual, não é incomum encontrar-se referências às funções holísticas da atividade cerebral nos campos mental, físico, emocional e social. O termo espiritual é utilizado, mas não com tanta freqüência.
2. Ellen G. White, Education (Mountain View, Calif.: Pacific Press Publ. Assn., 1903), p. 13.
3. C. B. Pertner, Molecules of Emotion (New York: Scribner, 1997).
4. Ver F. Mercier, “Anatomy of the Brain Neurogenic Zones Revisited: Fractones and the Fibroblast/Macrophage Network,” Journal of Comparative Neurology, 451 (16 de setembro de 2002) 2:170-88; E. Bieberich, “Recurrent Fractal Networks: A Strategy for the Exchange of Local and Global Information Processing in the Brain,” Biosystems 66 (ago.- set. de 2002):145-164; e E. Ferandez, “Use of Fractal Theory in Neuroscience: Methods, Advantages, and Potential Problems,” Journal of Neuroscience Methods 24 (Aug. 2001) 4:309-321.
5. Barbara L. Frederickson, “The Value of Positive Emotions,” American Scientist 91 (jul.-ago., 2003): 330-335.
6. Idem, p. 330.
7. Idem, p. 332.
8. Idem, p. 335.
9. Ellen G. White, “Life, Love, and Union,” The Signs of the Times, 29 de outubro de 1898, b.; “Sabbath-School Influences,” Sabbath School Worker, 1 de abril de 1886, a; Sons and Daughters of God (Washington, D.C.: Review and Herald Publ. Assn., 1955); Mind, Character, and Personality, 2 vols. (Nashville, Tenn.: Southern Publ. Assn., 1977), vol. 1, p. 802; Reflecting Christ (Hagerstown, Md.: Review and Herald Publ. Assn., 1985), p. 262; Faith and Works (Nashville. Tenn.: Southern Publ. Assn., 1979), p. 65.
10. George T. Javor, “Life: An Evidence for Creation,” Origins 28 (mar. 2000) 1:24-33.
11. White, Education.
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