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Mariologia à Luz da Bíblia – por Samuele Bacchiocchi

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Mariologia à Luz da Bíblia – Estudo de Samuele Bacchiocchi

Publicado em
outubro 5, 2010 por Seventh Day

Escritores religiosos muitas vezes falam da era moderna como a “Era de Maria”. Um artigo de capa da revista Time, intitulado “The Search for Mary – A Busca por Maria”, observa: “Numa época em que cientistas debatem as causas do nascimento do universo, tanto a adoração como os conflitos envolvendo Maria subiram para níveis extraordinários. Um renascimento das bases da fé na Virgem está ocorrendo em todo o mundo. Milhões de fiéis estão se reunindo em seus santuários, muitos deles jovens. Ainda mais notável é o número das alegadas aparições da Virgem, da Iugoslávia ao Colorado, nos últimos anos.”[1]

O artigo relata que milhões de “pessoas do mundo inteiro estão viajando grandes distâncias para demonstrarem pessoalmente sua veneração à Nossa Senhora. O final do século 20 tornou-se a idade da peregrinação mariana” [2]. Vários exemplos informativos são citados. “Em Lourdes, o maior dos 937 santuários de peregrinação na França , o comparecimento anual nos últimos dois anos aumentou 10%, para 5,5 milhões.”

“Em Fátima, Portugal, a capela que marca a aparição de Maria diante de três crianças em 1917, atrai uma constante de 4,5 milhões de peregrinos ao ano, de um número cada vez maior de países . . . Em Czestochowa, Polônia, as visitas na Capela da Madona Negra já chegam a 5 milhões por ano, concorrendo com Fátima e Lourdes desde a visita de João Paulo em 1979. Ali, em agosto passado, o Papa falou a um milhão de jovens católicos. No ano passado,em Emmitsburg, Md., a presença de pessoas dobrou para 500.000, num dos mais antigos dos 43 principais locais marianos no Estados Unidos, a Capela Nacional da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes”.[3]

Num artigo de capa semelhante, intitulado “O significado de Maria”, a revista Newsweek sumaria a história de Maria dizendo:”O segredo do misterioso poder de Maria talvez seja apenas isto: por não ter história própria, ela atrai cada nova geração a criar uma imagem dela. A Bíblia oferece apenas pequenos relatos para se trabalhar. . . A partir dessa pequena linha de desenvolvimento, Maria gradualmente cresce. Surpreendentemente esta mãe judia desconhecida absorveu e transformou as mais poderosas deusas pagãs. Ela foi a Madona que dá a vida, mas também a Pietà que recebe os mortos. Uma vez que o ascetismo se tornou um caminho privilegiado para a santidade cristã, ela se tornou a perpétua virgem, um modelo de castidade e negação própria. Em 431, o Concílio de Éfeso emitiu a primeira declaração dogmática sobre Maria: ela estava para ser honrada como Theotokos ou a Mãe de Deus. . . . No século 19, tempos depois do culto a Maria ser rejeitado por muitos reformadores protestantes como um papismo sem sentido, o Papa Pio IX proclamou o dogma católico da Imaculada Conceição. ”[4]

João Paulo: Um Papa mariano

O crescimento de peregrinos às capelas marianas é quase ofuscado por relatos de alegadas novas aparições de Maria em diferentes partes do mundo. Esse crescimento trouxe grande satisfação ao hoje falecido Papa João Paulo II, cuja devoção a Maria era abundante em sua pátria polaca.

Quando João Paulo se tornou bispo em 1958, ele colocou um M dourado no seu brasão de armas e escolheu como seu lema Totus Tuus, que em latim significa “Totalmente Seu”, referindo-se a Maria, não a Cristo. “Durante suas incontáveis visitas às capelas marianas, João Paulo invocava a Madona em quase todos os discursos e orações que fazia. Ele pessoalmente acreditava que a intercessão especial de Maria poupou a sua vida quando foi baleado em 1981 na Praça de São Pedro. Além disso, como muitos outros, estava convencido que ‘Maria trouxe um fim ao comunismo na Europa.’[5]

Maria é vista como uma Ponte Ecumênica

Em 21 de novembro de 1964, o Concílio Vaticano II previu na sua Constituição Dogmática sobre a Igreja, chamada Lumen Gentium, que a intercessão de Maria “diante do Filho na comunhão de todos os santos” pode conseguir “reunir em paz e harmonia e, em um único Povo de Deus” todas as famílias da Terra (# 69). Àquelas alturas, protestantes viam essa predição como ridícula, mas hoje a situação mudou. Publicações recentes de protestantes a respeito de Maria indicam que ela realmente pode ser a ponte ecumênica que se está construindo para unir cristãos de todos os credos, minando a rejeição existente sobre os dogmas católicos de Maria.[6]

Após listar as sete principais publicações escritas em colaboração entre estudiosos católicos e protestantes, o anglicano John Macquarrie conclui: “Paradoxalmente, as mais importantes interpretações da doutrina mariana neste século chegaram até nós através de estudiosos protestantes de uma variedade de denominações. Ela é a mãe daqueles que ‘têm o testemunho de Jesus Cristo.’”[7]

Há uma crescente aceitação de Maria por escritores protestantes como a esperança da união ecumênica de todas as fés. No seu livro A Protestant Pastor Looks at Mary (Um pastor protestante encara Maria), o estudioso luterano Charles Dickson fala de Maria como um “modelo reluzente da genuína esperança cristã. É a esperança para toda a humanidade. Uma releitura e uma compreensão iluminada por parte da comunidade protestante ajudarão a recentrar a atenção de todo o mundo cristão em Maria, não como ponto de divisão, mas como a verdadeira ponte para a unidade de todos nós. “[8]

Em seu artigo “Protestants and Marian Devotion: What About Mary?” (Protestantes e Devoção Mariana: O que há sobre Maria?) o estudioso metodista Jason Byassee escreve: “Dizer ‘Santa Maria, cheia de graça, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte’ parece expressar um acréscimo extraescriturístico. Mas talvez pedir para Maria por rogo, ou orações, não é em si mesmo não-protestante. Fazendo isso pode-se talvez até mesmo manter o dogma cristológico e defender-se do patriarquismo. Quem sabe? Maria poderia ser exatamente a chave para o futuro ecumenismo, afinal de contas”.[9]

A busca ecumênica para uma redescoberta de Maria é exemplificada na colaboração entre eruditos católicos e protestantes para determinar o valor de Maria no Novo Testamento. O resultado mais notável desta busca conjunta é o livro Mary in the New Testament (Maria no Novo Testamento, 1978, 340 páginas), escrito por uma equipe de católicos e um grupo de Igrejas protestantes de destaque. Uma conferência entre anglicanos e teólogos ortodoxos orientais resultou no importante trabalho The Mother of God (A Mãe de Deus). Uma série de conferências entre eruditos católicos e luteranos produziu o livro The One Mediator, The Saints and Mary (O único mediador, os Santos e Maria, 1992). Paradoxalmente nos últimos anos, algumas das mais importantes reavaliações de Maria têm vindo de eruditos protestantes das mais diferentes denominações.

Maria poderia tornar-se a ponte entre católicos e muçulmanos

Maria também poderia ser a ponte entre católicos e muçulmanos, porque ela é reverenciada por ambos. Este ponto foi salientado por oradores em uma recente conferência cristã-muçulmana sobre o papel que desempenha Maria em cada religião. Na conferência, Janan Najeeb, diretor da Coalisão das Mulheres Muçulmanas de Milwaukee (Milwaukee Muslin Women´s Coalition), abordou o papel que Maria desempenha na fé islâmica.

Ela disse: “os muçulmanos não acreditam que Maria, conhecida como ‘Mariam”, em sua fé, é a mãe de Deus. Também não acreditam que ela seja livre da pecaminosidade humana porque não têm noção de pecado original. Muçulmanos, no entanto, reverenciam Maria como mãe de Jesus, um dos cinco maiores profetas–embora não o filho de Deus. Na fé islâmica, nós o vemos como uma ‘santa aperfeiçoada’ cuja pureza e fidelidade fazer dela um exemplo a seguir por todos os muçulmanos.

“Todos os muçulmanos são ensinados desde a mais tenra idade a amar, reverenciar e honrar Maria. É difícil encontrar um muçulmano que não seja espiritualmente elevado ao ler a história de Maria. Maria é mencionado mais vezes no Corão do que na Bíblia, de acordo com Najeeb. O 19º capítulo do Corão–intitulado “Mariam”–é dedicado a Maria, e que ela é a única mulher mencionada no texto sagrado islâmico pelo nome dado a ela e não por referências como ‘esposa de’ ou ‘ filha de’. Tão significativa é a posição dela no Islã que muitos teólogos acreditam que ela fosse uma profeta”. [10]

Nos últimos anos tanto o Papa João Paulo II como Bento XVI têm trabalhado duro para desenvolver um novo relacionamento entre o papado e o Islã. Esta parceria baseia-se na convicção de que católicos e muçulmanos adoram o mesmo Deus de Abraão e veneram a mesma Maria, a Mãe de Jesus. Esta crença é claramente expressa no novo e oficial Catecismo da Igreja Católica, que afirma: “A Igreja tem também uma grande consideração para com os muçulmanos. Eles adoram Deus, que é Único, Eterno e Subexiste, Todo-Poderoso e Misericordioso, Criador do céu e da terra, que também falou aos homens. Eles empenham-se em apresentar-se sem reservas aos decretos de Deus, assim como Abraão apresentou-se ao plano de Deus, cuja fé os muçulmanos associam à própria fé deles . Embora não reconhecendo Jesus como Deus, veneram a Jesus como um profeta, e também honram a sua Mãe virgem, e até mesmo, às vezes, devotamente a invocam.”[11]

É evidente que a estima católica sobre o Islã sofreu uma mudança fundamental de religião dos “infiéis”, para a de fiéis que adoram o mesmo Deus de Abraão e veneram a mesma Maria, Mãe de Jesus. A determinação dos Papas a desenvolver uma parceria com os muçulmanos decorre do simples fato de que os 1,3 bilhões de muçulmanos ultrapassa o 1 bilhão de católicos. Ao reconhecer a legitimidade da fé islâmica, o papa está facilitando a aceitação por parte dos muçulmanos de seu papel como o líder de uma futura Nova Ordem Mundial.

Objetivos do presente capítulo

À luz do crescente culto de Maria dos católicos e do aumento da devoção a Maria pelos protestantes como a esperança para a unidade ecumênica de todas as fés, é imperativo analisar as crenças populares sobre Marria à luz da Escritura. Este é o objetivo deste capítulo.

Por uma questão de clareza nosso estudo das crenças populares sobre Maria segue esta ordem sequencial:
1) A Perpétua Virgindade de Maria
2) A Imaculada Conceição de Maria
3) A Assunção Corporal de Maria
4) O Papel de Maria Como Mediadora
5) A Veneração de Maria

O procedimento que seguimos na análise destas crenças populares sobre Maria é simples. Primeiro declaramos a defesa católica e, em alguns casos, também protestante de suas crenças sobre Maria, e em seguida, submeteremos tais crenças à avaliação bíblica. Isto significa que o capítulo está dividido em cinco partes, de acordo com cada uma destas crenças.

Parte I – A Perpétua Virgindade de Maria

Foi o Sínodo Laterano de 649 AD que ressaltou pela primeira vez, o caráter tríplice da virgindade de Maria, a saber, que “Maria era uma Virgem antes, durante e após o nascimento de Jesus Cristo.”[12] Isto significa, conforme afirmado pelo apologisto católico Ludwig Ott, que “Maria deu nascimento em forma miraculosa sem a abertura do ventre e lesões ao hímen e, conseqüentemente, também sem dores.”[13]

A crença católica de que Maria foi uma virgem perpétua, ou seja, que ela viveu toda a sua vida como virgem e morreu virgem, é celebrada na liturgia católica como Aeparthenos, “Sempre-virgem.” O Novo Catecismo da Igreja Católica afirma esta crença, dizendo: “O nascimento de Cristo ‘não diminuem a integridade virginal de sua mãe, antes a santificou. Assim, a liturgia da Igreja celebra Maria como Aeparthenos, a ‘Sempre-virgem.’”[14]

O Catecismo resume a crença na virgindade perpétua de Maria, dizendo: “Maria permaneceu virgem ao conceber o seu Filho, virgem ao dar à luz a ele, virgem em carregá-lo, virgem em amamentá-lo em seu peito, sempre virgem.”[15] A virgindade de Maria é vista como uma condição prévia essencial para que ela “servisse no mistério da redenção com ele e dependentes dele, por graça de Deus.”[16]

O Catecismo continua dizendo: “Ser obediente, ela se tornou a causa de salvação para si e para toda a raça humana. Daí, não poucos dos primeiros Pais [da Igreja] comprazem-se em afirmar . . . “O nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria: o que a virgem Eva amarrou por sua incredulidade, Maria soltou por sua fé. Comparando-a com Eva, eles chamam Maria ‘a mãe de todos os viventes’ e com freqüência afirmam: “Morte por Eva, vida por Maria “.[17]

É importante observar que para os católicos a perpétua virgindade de Maria e perfeição vitalícia, a capacita a servir como uma Redentora e dispenseira da graça de Cristo. Esta crença, como veremos em breve, está claramente expressa na Encíclica Ubi Primum, de Pio IX, promulgada em 2 de fevereiro de 1849. Esse tipo de ensino é claramente negado pela Escritura que ensina que “há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus” (1 Tim 2:5).

Defesa Católica da Perpétua Virgindade de Maria

Tomás de Aquino emprega vários argumentos para defender a perpétua virgindade de Maria. Por exemplo, ele argumenta que, se Maria tivesse relações sexuais com José após o nascimento de Jesus, isso seria “uma afronta ao Espírito Santo, cujo santuário foi o ventre vaginal, onde ele havia formou a carne de Cristo; portanto, seria ilegítimo que fosse profanado pela intervenção sexual com um homem.”[18]

Aquino conclui sua defesa da perpétua virgindade de Maria, dizendo: “Precisamos, portanto, simplesmente afirmar que a Mãe de Deus, como ela foi virgem em concebê-Lo e virgem em dar-Lhe nascimento, assim permaneceu virgem posteriormente. . . . Maria deu à luz em forma miraculosa sem abertura do ventro e lesões ao hímen e, consequentemente, também sem dores.”[19] Esta crença católica é expressa pelo título “perpétua virgindade”.

Os Reformadores Criam na Virgindade Perpétua de Maria

Surpreendentemente, os reformadores protestantes afirmaram a sua crença na perpétua virgindade de Maria. Martinho Lutero (1483-1546), por exemplo, foi fiel à tradição católica, quando escreveu: “É um artigo de fé que Maria é Mãe do Senhor, e ainda virgem. . . . Cristo, acreditamos, veio de um útero deixado perfeitamente intacto.”[20]

O reformador francês João Calvino (1509-1564) não foi tão liberal em seu louvor de Maria como Martinho Lutero, mas ele não nega a sua perpétua virgindade. A expressão que ele mais comumente usa em referência a Maria é “Santíssima Virgem”[21]

O reformador suíço Ulrico Zwinglio (1484-1531), escreveu, sobre a perpétua virgindade de Maria: “Acredito firmemente que Maria, de acordo com as palavras do evangelho, como uma pura virgem trouxe-nos o Filho de Deus e no parto e após o parto manteve-se sempre uma virgem pura e intacta.”[22] Noutro lugar Zwinglio afirmou: “Eu estimo imensamente a Mãe de Deus, a sempre casta, imaculada Virgem Maria; Cristo nasceu de uma maioria Virgem incontaminada.”[23]

A aceitação quase universal dos Reformadores da contínua virgindade de Maria, bem como a sua relutância generalizada em declarar Maria uma pecadora, foi sendo progressivamente rejeitada por seus seguidores. O motivo de sua ruptura com o passado em parte deu-se a um novo exame das passagens bíblicas utilizados para apoiar a perpétua virgindade de Maria. Além disso, as práticas idolátricas que se desenvolveram em associação com a veneração de Maria e a rejeição do celibato clerical, finalmente levaram a maioria das Igrejas protestantes a rejeitar várias crenças católicas sobre Maria.

Anglicanos e Católicos Concordam Sobre Maria

Em anos recentes, como referido anteriormente, a oposição protestante à veneração de Maria enfraqueceu consideravelmente. Exemplo disso é declaração de 57 páginas emitida pela Comissão Internacional Conjunta Anglicana-Católica Romana sobre a doutrina e devoção marianas. Um ponto-chave discutido no acordo é a “visão não-católica de que a imaculada concepção de Maria, a sua liberdade de pecado original e resultante isenção de pecado, contradiz o ensinamento da Bíblia de que ‘todos pecaram’ (Rm 3:23), e que Jesus é a única exceção (Heb. 4:15). O acordo responde a esta tradicional opinião protestante dizendo: “podemos afirmar conjuntamente que a obra redentora do Cristo ‘remonta’ em Maria às profundezas do seu ser, e a seus inícios sem violar a Escritura.”[24]

Com respeito à rejeição protestante da crença católica na assunção de Maria para o céu no fim de sua vida, o acordo declara: “podemos afirmar conjuntamente o ensino de que Deus tomou a Bendita Virgem Maria na plenitude de sua pessoas à Sua glória em consonância com a Escritura, uma vez que Deus recebeu a outros (Elias, Estêvão, o ladrão na cruz).”

Em outras crenças católicas significativas sobre a perpétua virgndade de Maria, o seu papel redentor, e sua veneração por orar a ela, o acordo mostra que teólogos anglicanos estão procurando maneiras de abraçar, pelo menos em parte, tais crenças. É evidente que a oposição protestante à devoção e veneração marianas está enfraquecendo gradualmente.

Argumentos Católicos da Escritura

O dogma católico da perpétua virgindade de Maria é baseado em suposições dogmáticas, não em ensinos bíblicos comprovados. Isto é evidenciado pelo fato de que os eruditos católicos citam apenas alguns versos bíblicos para apoiar a alegada perpétua virgindade de Maria. Por exemplo, o apologista católico, Ludwig Ott resume-os da seguinte forma: “A partir da pergunta que Maria dirige ao anjo, Lucas 1:34: “Como se fará isso, uma vez que não conheço varão?” é inferido [por alguns teólogos católicos] que ela tinha tomado a resolução de constante virgindade com base na iluminação Divina especial. Outros observam que o fato de o Redentor morimbundo confiou Sua Mãe à proteção do Discípulo João (João 19:26), “Mulher, eis aí o teu Filho”, pressupõe que Maria não teve outros filhos, somente Jesus.”[25]

As referências aos “irmãos” de Jesus (cf. Mat. 13:55; Marcos 6:3; Gal. 1:19) são interpretadas pelos católicos como referindo-se a “primos” de Jesus, não a irmãos de sangue. Outros acadêmicos católicos sugerem que talvez eles fosse filhos de José de um casamento anterior, preservando, assim, a perpétua virgindade de Maria. Este último ponto é muito importante nos ensinamentos católicos, porque sexo é associado com o pecado. Virgindade é visto como um pré-requisito para alcançar um nível mais elevado de pureza e, em última análise, santidade.

RESPOSTA BÍBLICA À PERPÉTUA VIRGINDADE DE MARIA

A Origem Pagã e as Implicações da Perpétua Virgindade

A Bíblia ensina claramente que Maria fora uma virgem antes e no momento do nascimento de seu filho Jesus (Isa. 7:14; Mat. 1:18-25, Luc. 1:26-27), mas nada sugere que ela continuou a ser virgem depois. As raízes do dogma da perpétua virgindade de Maria devem ser procuradas no ambiente pagão da era pós-apostólica quando houve uma forte ênfase no celibato dentro de certas religiões pagãs (as virgens vestais de Roma pagã) e seitas gnósticas “cristãs”. O intercurso sexual, mesmo dentro do casamento, era frequentemente carregado de suspeita de delito. Este ponto de vista finalmente levou Agostinho (354-430) a ensinar que o pecado original é transmitido através da procriação mediante relações sexuais.

A associação de sexo com pecado finalmente deu origem à idéia de que era inconcebível que Maria pudesse ter-se envolvido em relações conjugais normais após o nascimento de Jesus. Para ser santa Maria tinha que ser virgem antes e depois do nascimento de seu filho, Jesus. Seu hímen teve que permanecer intacto durante e após Jesus nascer, a fim de que ela alcançasse o mais alto estado de santidade. Esta idéia foi consolidada na tradição do celibato para padres e freiras.

A noção toda da perpétua virgindade de Maria compromete a integridade e humanidade da encarnação de Cristo, ao propor que Ele não só foi concebido, como também nasceu milagrosamente pelo Espírito Santo. Como homem-Deus, Cristo dificilmente poderia ter sido “em tudo feito semelhante a seus irmãos” (Hb 2:17) pela participação “das mesmas coisas” (Hb 2:14), se Ele foi arrebatado para fora do útero Maria milagrosamente, deixando o hímen de Maria intacto. Se tanto o nascimento quanto a concepção de Cristo foram rigorosamente obra do Espírito Santo que apenas tomou emprestado o ventre de Maria por nove meses, então a integridade e humanidade de Sua encarnação estão seriamente comprometidas.

Deus Criou o Sexo

A idéia toda da perpétua virgindade de Maria é baseada na perversa crença de que o sexo é pecaminoso. Essa crença é negada pela Escritura. A primeira declaração relativa à sexualidade humana é encontrada em Gênesis 1:27: “Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. É digno de nota que, embora depois de cada ato de criação anterior a Escritura diga que Deus viu que “era bom” (Gên 1:12, 18, 21, 25), após a criação do homem como macho e fêmea, ele diz que Deus viu que “era muito bom” (Gên. 1:31).

Esta primeira divina apreciação da sexualidade humana como “muito bom” mostra que a Escritura vê as relações sexuais homem/mulher como parte da bondade e perfeição da criação original de Deus. Assim, o dogma da perpétua virgindade de Maria anula a visão bíblica positiva do sexo, além de rebaixar as mulheres que optem pelo casamento, em vez de celibato.

Nos ensinamentos católicos uma mulher que se dedica à sua família, educando os filhos no temor de Deus dificilmente pode alcançar o mesmo estado de santidade de uma mulher que opta por permanecer virgem para servir ao Senhor. Tal ensino dificilmente pode ser apoiado pelas Escrituras, que exalta mulheres consagradas a Deus como Ana por dedicar-se à educação de Samuel (1 Sam. 1 e 2).

O Nascimento de Cristo foi Normal

A crença de que Maria permaneceu virgem durante e depois do nascimento de Cristo, é desacreditada por todas as descrições do evento, que indicam um nascimento normal. Lucas, por exemplo, escreve: “E deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em panos” (Luc. 2:7). Paulo fala de Cristo como “nascido de mulher” (Gal. 4:4). Em Mateus o anjo explica para José: “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome Jesus” (Mat. 1:21).

Nenhum desses versos usa as palavras comuns para milagre, sinal ou maravilha. Não há referência a anjos ou ao Espírito Santo arrebatando Jesus miraculosamente do útero de Maria. Eles nos dizem simplesmente que foi Maria que “deu à luz ao seu primeiro filho” (Luc. 2:7). A idéia de um parto miraculoso de Cristo, sem passar pelo canal de parto ou sem causar dor, se encontra nos escritos apócrifos agnósticos do segundo e terceiro século, mas não na inspiração do Novo Testamento.

José e Maria eram Sexualmente Íntimos Após o Nascimento de Cristo?

Mateus sugere que Maria e José eram sexualmente íntimos após o nascimento de Jesus. Por exemplo, Mateus afirma que “antes de se ajuntarem, ela [Maria] achou-se ter concebido do Espírito Santo” (Mat. 1:18). O termo “ajuntar” (de sunerchomai) inclui a idéia de intimidade sexual (cf. 1 Cor. 7:5). O que fica implícito é que em última instância José e Maria “se ajuntaram” e vivenciaram a intimidade sexual.

Mateus declara que José “não a conheceu até que deu à luz seu filho” (Mat. 1:25). A frase “não a conheceu” sugere que José não teve relações sexuais com Maria até após o nascimento de Cristo. Nas Escrituras um homem conhece uma mulher ao se tornar sexualmente íntimo dela. “E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu” (Gên. 4:1).

A frase “E deu à luz a seu filho primogênito” (Luc. 2:7; Mat. 1:25), sugere que Maria deu à luz de maneira natural, não de modo miraculoso. Foi Maria que pariu a Jesus. Não há menção de envolvimento do Espírito Santo no nascimento de Jesus.
O advérbio “até-heos hou” na frase José “não a conheceu até que deu à luz seu filho” (Mat. 1:25), implica que após o nascimento de Jesus, eles tiveram relações conjugais normais. Como Jack Lewis assinala, “no restante do Novo Testamento (Mat. 17:9; 24:39; João 9:19) a palavra até (heos hou) seguida por uma negação sempre implica que a ação negada se realizava posteriormente”.[26] Não há razão válida para assumir que Mateus 1:25 é uma exceção. Tivesse Mateus desejado transmitir a idéia da virgindade perpétua de Maria, ele simplesmente teria escrito: “Mas ele nunca teve qualquer união com ela”.

Jesus é Chamado de “Primogênito” de Maria.

Em Lucas 2:7 Jesus é chamado de o “primogênito-prototokon”. Enquanto o termo “primogênito” não mostra inequivocamente que Maria teve outros filhos, o significado natural é que ela teve. Se a virgindade perpétua de Maria era uma crença comum nos tempos de Novo Testamento, Lucas teria simplesmente escrito que ela deu à luz a seu “único” filho. Isto certamente teria resolvido o problema.

Vale salientar que Lucas escreveu muito depois do nascimento de Cristo, possivelmente após o falecimento de José e Maria. Se Jesus fosse o único filho de Maria, em retrospectiva, ele usaria a palavra “unigênito-monogene,” não a palavra “primogênito-prototokon”. No contexto “primogênito” implica que Maria teve outros filhos. Isto é confirmado pelo fato de que todos os evangelhos afirmam que Jesus tinha irmãos e irmãs.

Quem Foram os “Irmãos e Irmãs” de Jesus?

Há várias referências claras aos “irmãos e irmãs” de Jesus no contexto de Sua família próxima (primeiro grau). Estes textos sugerem que eles eram irmãos reais, não primos. Por exemplo, Mateus escreve: “Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs?” (Mat. 13:55-56). Este texto sugere que Jesus tinha uma grande família de pelo menos quatro irmãos e duas irmãs.

João, o mais místico de todos os evangelhos, sugere que Jesus não era filho único. “Depois disto desceu a Cafarnaum, ele, e sua mãe, e seus irmãos, e seus discípulos” (João 2:12). “Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui, e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes” (João 7:3).

Paulo também se refere a Tiago como “irmão do Senhor”. “Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver a Pedro, e fiquei com ele quinze dias. E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor”. (Gál. 1:18-19). “Não temos nós direito de levar conosco uma esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?” (1 Cor. 9:5; ênfase acrescentada).

Duas explicações principais são dadas por apologistas católicos para conciliar estes textos com sua crença na virgindade perpétua de Maria. Alguns argumentam que a menção a “irmãos e irmãs” dizia respeito a meio-irmãos e meio-irmãs de Jesus. Eles seriam filhos de José de um casamento anterior, preservando assim a perpétua virgindade de Maria. Outros seguem o argumento de Jerônimo, de que esses eram primos de Jesus, não irmãos de sangue.[27]

O principal argumento usado para defender estas interpretações é que no idioma hebraico não há nomes específicos para a parentela. A palavra hebraica ah e a aramaica aha, podem significar irmão, meio-irmão, primo, sobrinho ou qualquer parente de sangue. Isto é verdade para o idioma hebraico, mas não para o grego. Esta interpretação ignora que todos os quatro evangelhos foram escritos em grego, não hebraico.

No idioma grego há duas palavras distintas para irmãos e primos, para irmão adelphos e para primo anepsios. A última é usada em Colossenses 4:10, onde Marcos é descrito como o primo-anepsios (sobrinho em algumas versões) de Barnabé. Mas a palavra primo nunca é usada em referência aos irmãos e irmãs de Jesus. Soubessem os escritores dos evangelhos que Tiago, José, Simão e Judas eram primos de Jesus, eles teriam usado a palavra anepsios para evitar qualquer confusão.

As palavras “irmão” e “irmã” são consistentemente usadas no Novo Testamento na definição de uma família, e sempre se referindo a um irmão ou irmã de sangue (Mar. 1:16,19; 13:12; João 11:1-2; Atos 23:16; Rom. 16:15). Por que se deve presumir que os termos “irmãos” e “irmãs” são usados figurativamente por Mateus, quando ele usa o termo “mãe” literalmente? Se “irmã” é literal em Atos 23:16 (irmã de Paulo), não há razão para interpretar a mesma palavra num sentido diferente em Mateus 13:56. É um princípio hermenêutico estabelecido que palavras devem ser entendidas no seu sentido literal a menos que a interpretação literal envolva uma contradição óbvia.

Apoio indireto para essa conclusão é provido pelas descrições das viagens de José e Maria, primeiro para Belém e depois para o Egito. Lucas nos conta que José e Maria viajaram de Nazaré para Belém “a fim de alistar-se” (Luc. 2:5). Se José tivesse pelo menos seis filhos de um casamento anterior, esperaríamos que viajassem com ele como uma família. O fato de que apenas José e Maria são mencionados por Lucas, sugere que pelo tempo de seu noivado José não tinha filhos. É difícil acreditar que um homem piedoso como José iria abandonar seus filhos para se casar com Maria.

Apoio para essa conclusão é também fornecido pela descrição de Mateus da fuga para o Egito. Um anjo instrui José num sonho dizendo: “Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e demora-te lá até que eu te diga” (Mat. 2:13). Depois da morte de Herodes, o mesmo anjo diz para José: “Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel; porque já estão mortos os que procuravam a morte do menino” (Mat. 2:20).

Em ambos os casos, a viagem consiste somente de José, Maria e o menino Jesus. Não há menção das seis crianças que José supostamente teve de um casamento anterior. Teria José os deixado sozinhos em Nazaré por vários anos até que ele e Maria retornassem do Egito com Jesus? Este dificilmente seria o caso, uma vez que todos os membros da família deviam ser alistados. Estas considerações nos levam a concluir que Maria provavelmente teve outros filhos além de Jesus.

Maria Decidiu Permanecer Perpetuamente Virgem?

Da pergunta que Maria faz ao anjo em Lucas 1:34: “Como se fará isto, visto que não conheço homem algum?” alguns católicos inferem que ela tinha resolvido permanecer virgem pelo resto de sua vida. Mas a pergunta de Maria dificilmente sugere que ela tinha feito um voto de virgindade. Tivesse feito isso, por que ela se tornaria noiva de José antes de ficar grávida (Mat. 1:18)?

A noção de José e Maria vivendo num estado celibatário perpétuo é contrário aos ideais de Deus para o casamento, que se destina a unir um homem e uma mulher como”uma carne” (Gen. 2:24; Mat. 19:5-6). Depois da primeira ligação física, há a responsabilidade contínua de marido e mulher honrarem seus deveres conjugais: “O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher ao marido” (1 Cor. 7:3). Qualquer abstinência deve ser por consentimento mútuo “por algum tempo . . . e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência” (1Cor. 7:5).

Por que Jesus Confiou sua Mãe a João?

O fato de que na cruz Jesus confiou Sua mãe a João dizendo: “Mulher, eis aí o teu filho” (João 19:26), é vista por apologistas católicos como uma evidência de que Maria não tinha outros filhos além de Jesus. Por exemplo, Ludwig Ott escreve: “O fato de que o Redentor, à beira da morte, confiou Sua mãe à proteção do discípulo João (João 19:26), ‘Mulher, eis aí o teu filho,’ pressupõe que Maria não tinha outros filhos além de Jesus”.[28]

Esta suposição ignora o fato de que naquela época os irmãos de Jesus não eram crentes (João 7:5) e presumivelmente não estavam presentes junto à cruz. O argumento que de acordo com a lei mosaica, o parente mais próximo é requerido cuidar de Maria, ignora o fato de que Jesus estava mostrando compaixão por Sua mãe, na ausência de quem deveria cuidar dela.

Além disso, Cristo ensinou que o compromisso para com Ele supera os laços sanguíneos mais próximos. Quando Sua mãe e Seus irmãos apareceram enquanto ensinava, Ele disse: “Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos? E, estendendo a sua mão para os seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; Porque, qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe” (Mat. 12:48-50). Com exceção de Sua mãe, Sua própria família naquela época não cria nEle. Assim Ele poderia apenas confiar Sua própria mãe a mãos crentes. E João era próximo de Jesus e poderia ser encarregado de cuidar de Sua mãe.

Conclusão:

O dogma católico da virgindade perpétua de Maria é despojado de qualquer evidência bíblica razoável. As poucas passagens que são empregadas na defesa do dogma, nem mesmo tratam do assunto. Mas a Igreja Católica não depende de autoridade bíblica para definir seus ensinos. Ela clama a autoridade para definir seus próprios dogmas, para escrever suas próprias regras e para criar seus próprios “intercessores” (2 Tes. 2:4).

O dogma da virgindade perpétua de Maria é uma das principais superstições antigas que foram empurradas às almas sinceras as quais lhes foi ensinado a nunca questionarem a voz da sua Igreja. É uma triste realidade que hoje milhões de pessoas sinceras, mas de forma ignorante e acrítica seguem um sistema autocrático que abertamente se opõe verdades reveladas por Deus.

Parte II – A Imaculada Conceição de Maria

Há uma progressão lógica nos dogmas católicos sobre Maria, cada um construído sobre o outro e finalmente aumentando a lacuna entre os ensinamentos bíblicos e os ensinamentos marianos católicos. Philip Schaff, um renomado historiador da Igreja do século XIX, corretamente observa que “do ponto de vista romano este dogma [da imaculada conceição] completa a Mariologia e Mariolatria, que passo a passo avançaram da virgindade perpétua de Maria a sua isenção de pecado após a concepção do Salvador, até à isenção de pecado após o parto, e finalmente a sua isenção do pecado original e hereditário [na concepção]. A única coisa que resta agora é proclamar o dogma de sua assunção ao céu, que foi durante muito tempo uma opinião mística na Igreja Católica”.[29]

A predição de Schaff de que o último passo na glorificação de Maria seria a proclamação do dogma de sua assunção ao céu foi cumprida em 1950, isto é, 57 anos depois de sua morte, ocorrida em 1893. Schaff nota que a glorificação progressiva de Maria corresponde ao “progresso na adoração de Maria, bem como a multiplicação de suas festas, festas essas que sempre ofuscam a adoração a Cristo. Ela, terna, compassiva e amável mulher, é invocada pela sua poderosa intercessão, em vez de seu Divino Filho. Ela é feita a fonte de toda graça, a mediadora entre Cristo e é virtualmente colocada no lugar do Espírito Santo. Quase não existe um epíteto de Cristo que os católicos romanos não apliquem à Virgem”.[30]

Definição do Dogma da Imaculada Conceição

Algumas pessoas confundem o dogma católico da imaculada conceição de Maria com a doutrina bíblica da concepção virginal de Cristo. A concepção de Jesus foi quase seguramente imaculada (sem pecado), mas este dogma se refere a Maria, não Jesus. Este doma alega que Maria foi preservada de pecado original desde o momento de sua concepção até o final de sua vida. Como isso supostamente aconteceu será explicado a seguir.

O dogma oficial da imaculada conceição, conhecido como ineffabilis Deus, foi promulgado pelo Papa Pio IX em 8 de dezembro de 1854, por ocasião da Festa da Conceição. Na presença de mais de 200 cardeais, bispos e outros dignitários, Pio IX solenemente definiu e promulgou este dogma dizendo: “Nós declaramos, pronunciamos e definimos, que a doutrina que afirma que a Bendita Virgem Maria, do primeiro momento de sua concepção, por graça singular e privilégio do Todo-Poderoso Deus, e em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador da raça humana, foi preservada livre de qualquer mancha de pecado original, é uma doutrina revelada por Deus e, por essa razão, precisa ser firme e constantemente acreditada por todos os fiéis”.[31]

A Glorificação de Maria como um Canal de Graça e Redenção

A promulgação do dogma da imaculada conceição representa a culminação do processo de glorificação de Maria como um canal de graça e redenção para a humanidade. O objetivo do dogma é revelado na encíclica Ubi Primum que Pio IX enviou para os bispos em 2 de fevereiro de 1849, para solicitar a opinião e encorajar a cooperação deles em promover a aceitação do dogma da imaculada conceição, que logo seria promulgado.

A Encíclica contém citações reveladoras: “Nós grandemente ansiamos que, assim que possível, vós nos deis apreciação da consideração de devoção que anima vosso clero e vosso povo com respeito à imaculada conceição da Bendita Virgem, e quão ardentemente incandesce o desejo de que esta doutrina seja definida pela Sé Apostólica. E especialmente, veneráveis irmãos, desejamos saber o que vós mesmos, em vosso sábio julgamento, pensais e desejais sobre esta questão. . . . Temos certeza que será vosso prazer cooperar zelosa e diligentemente com nossos desejos, e que prontamente nos suprireis com as respostas que requisitamos”.[32]

Depois de apelar aos bispos para aceitar e gerar apoio popular para a crença na imaculada conceição de Maria, a Encíclica continua declarando: “O fundamento de toda nossa confiança, como bem sabeis, veneráveis irmãos, é encontrado na Bendita Virgem Maria. Pois Deus entregou a Maria a mordomia de todas as coisas boas, a fim de que todos possam saber que através dela são obtidas toda esperança, toda graça e toda a salvação. Por isso é vontade de Deus que nós obtenhamos tudo através de Maria”[33] Mais de seiscentos prelados responderam, e com exceção de quatro, todos aprovaram a definição papal da imaculada conceição.

Note que esta Encíclica papal claramente expressa o que frequentemente apologistas católicos tendem a negar, ou seja, a crença de que através de Maria “são obtidas toda esperança, toda graça e toda a salvação. Por isso é a vontade de Deus que nós obtenhamos tudo através de Maria”. Por fazer de Maria a dispenseira de “toda esperança, toda graça e toda a salvação,” a Igreja Católica finalmente minimiza o papel redentor de Cristo. Se esperança, graça e salvação podem ser obtidas através de Maria, o ministério intercessório e redentor de Cristo dificilmente se faz necessário. Finalmente, a adoração de Maria em devoções populares suplanta a adoração de Cristo. O resultado final é a adoração idólatra da criatura em lugar do Criador.

Os Mecanismos da Imaculada Conceição

Para entender a definição católica da imaculada conceição de Maria, é necessário explicar primeiro a visão católica dualística da natureza humana. Expressado de maneira simples, católicos e a maioria dos protestantes acreditam que todo ser humano nasce com um corpo mortal e uma alma imortal. Já temos feito notar [em diferentes artigos e livros de minha lavra] que recentemente um grande número de estudiosos católicos e protestantes rejeitou a visão dualística platônica da natureza humana, abraçando em lugar a visão holística bíblica.

De acordo com a visão dualística, na concepção um corpo é formado no útero da mãe como resultado da inseminação de um pai. No momento da concepção do corpo, uma alma é criada e infundida no corpo. Esse processo é chamado de animação, isto é, a implantação de uma anima (que é o termo latim para alma) no corpo. Cada alma é infundida no corpo com a mancha de pecado original. Sobre circunstâncias normais tal mancha é supostamente removida no batismo logo após o nascimento da criança.

No caso de Maria, no entanto, a mancha do pecado original não foi removida no batismo, mas foi excluída por completo de sua alma no momento da concepção. Em outras palavras, o corpo de Maria foi infundido com uma alma limpa sem a mancha de pecado original. Em adição, uma santidade especial foi concedida a ela de tal forma que excluiu do seu corpo a presença de todas as emoções, paixões e inclinações pecaminosas.

A imunidade de pecado original na alma, assim como a exclusão do pecado hereditário do corpo, foram dados a Maria no momento da concepção pelo mesmo Cristo que purifica os crentes do pecado pelo batismo. Deste modo, a concepção de Maria foi imaculada, porque ela estava eximida da presença de pecado original na sua alma, e de pecado hereditário no seu corpo. Este é o significado essencial do dogma católico da imaculada conceição.

Este dogma vai além de atribuir concepção sem pecado a Maria, por também reivindicar que ela viveu uma vida totalmente sem pecado. Como declarado no Catecismo da Igreja Católica, “a Mãe de Deus ‘a toda santa’ (Panagia) . . . [era] ‘imune de toda mancha de pecado, tendo sido plasmada pelo Espirito Santo, e formada como uma nova criatura’. Pela graça de Deus, Maria permaneceu pura de todo pecado pessoal ao longo de toda a sua vida”.[34]Assim, de acordo com o ensinamento católico oficial, Maria foi concebida sem nenhum traço de pecado e permaneceu sem pecado durante sua vida inteira. Logo veremos que este ensinamento é claramente condenado pelas Escrituras, que ensinam que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rom. 3:23; ênfase acrescentada).

Uma Questão Muito Debatida

Teólogos católicos têm debatido por séculos a questão da imaculada conceição de Maria. A questão mais polêmica era se Maria foi santificada, isto é, purificada do pecado, antes ou depois da infusão de uma alma em seu corpo, um processo conhecido como animação. No século III, John Duns Scotus e os monges franciscanos, promoviam a visão de que Maria fora purificada do pecado na concepção de seu corpo e antes da infusão de uma alma sem a mancha de pecado original. Assim, para eles, tanto o corpo como a alma de Maria nunca foram expostos ao pecado.

Essa visão foi contestada por Tomás de Aquino e subsequentemente pelos monges dominicanos. A razão dada por Aquino pode parecer cavilosa e detalhista para uma mente moderna não familiarizada às argumentações minuciosas de eruditos. Aquino escreve: “A santificação [purificação do pecado] da Bem-aventurada Virgem, não pode ser entendida como tendo tido lugar antes da animação [infusão da alma], por duas razões. Primeiro porque a santificação, da qual estamos falando, não é nada mais do que a purificação do pecado original. . . . Segundo porque . . . antes da infusão da alma racional, a descendência concebida não é devedora ao pecado”.[35]

Simplesmente expresso, Aquino argumenta que a purificação do pecado de Maria tomou lugar depois da infusão da alma, porque é a alma que faz uma pessoa racional e sujeita ao pecado. Se tanto o corpo como a alma de Maria foram sem pecado desde a concepção, então ela não precisaria de um Salvador. Tal visão, de acordo com Aquino, é “depreciativa à dignidade de Cristo” que é “o Salvador universal de todos”.[36] Maria precisava de um Salvador como qualquer outro ser humano. Isto é uma verdade bíblica inegável.

A solução adotada por Aquino é que Maria foi purificada do pecado depois de sua concepção e recepção da alma, mas antes do nascimento efetivo. Em outras palavras, Maria foi imaculada, isto é, sem pecado, não da concepção, mas do tempo do seu real nascimento. A diferença entre os dois parece insignificante para uma pessoa leiga, mas é de grande importância para a teologia católica, porque isto determina se Maria era sem pecado antes de sua concepção ou do seu nascimento efetivo.

Note que, para os católicos o caso não é Maria sem pecado. Neste ponto todos eles concordam que Maria o era. A única questão debatida é: “Quando Maria se tornou sem pecado, na concepção com a infusão da alma, ou nove meses depois no momento de seu nascimento propriamente dito?” O dogma da Imaculada Conceição abrigou a questão, declarando que Maria era sem pecado no exato momento de sua concepção.

Este dogma tem o propósito de reassegurar aos fiéis católicos, como declarado por Pio IX, que Maria pode dispensar “toda a esperança, toda graça e toda a salvação” porque ela foi concebida sem pecado e viveu toda a sua vida sem qualquer traço de pecado. Sua pureza a qualifica a ser uma co-redentora–uma crença popular católica examinada mais tarde neste capítulo.

A Imaculada Conceição Deriva da Visão Dualística da Natureza Humana

latônica dualística da natureza humana, de acordo com ela, a alma é infundida no corpo no momento da concepção e deixa o corpo na morte. Já temos feito notar que tal ensinamento é estranho à Bíblia, que ensina a visão holística da natureza humana.

Vimos que a Bíblia ensina que a natureza humana consiste de uma unidade indissolúvel, onde o corpo, alma e espírito representam diferentes aspectos da mesma pessoa, e não diferentes entidades funcionando de maneira independente. A alma não é infundida no corpo na concepção, mas é o princípio animado do corpo. Simplesmente expresso, nas Escrituras um corpo vivo é uma alma viva e um corpo morto é uma alma morta.

A visão holística bíblica da natureza humana remove a base da imaculada conceição de Maria, porque nega a noção de infusão da alma na concepção. Em lugar algum a Bíblia sugere que o pecado original é uma realidade biológica transmitida através da infusão da alma na concepção. Pecado original é uma condição moral básica de nossa natureza caída que influencia tudo em nós e sobre nós. “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rom 3:23). O dogma da Imaculada Conceição representa uma das muitas heresias que derivam da visão dualística da natureza humana.

Cenário Histórico do Dogma da Imaculada Conceição

É muito instrutivo olhar para o cenário histórico do dogma da imaculada conceição Ineffabilis Deus, promulgado em 1854 pelo Papa Pio IX. Seu pontificado foi o maior da história, de 1846 a 1878. Este é um tempo paradoxal para o papado. O maior desses paradoxos foi que enquanto os papas estavam perdendo poder territorial e temporal, eles tentaram compensar isso solidificando o seu poder religioso, promulgando dogmas para provar sua autoridade e infalibilidade (um movimento conhecido como “ultramontanismo”).

Em 1849 Pio IX foi exilado de Roma e impedido de voltar até que a França interviesse a seu favor. Depois de sua restauração, ao invés de continuar algumas das avaliações reformatórias, ele tentou governar como um monarca absoluto. Confrontou as principais forças europeias do seu tempo, até que em 20 de setembro de 1870, as tropas do novo Reino da Itália tomaram os Estados papais.

Justo Gonzales, um dos mais respeitados historiadores da Igreja de nossos tempos, perceptivelmente nota que “Enquanto perdia seu poder, Pio IX insistiu em reafirmá-lo, mesmo se isto pudesse ser feito apenas de maneiras religiosas. Assim, em 1854 ele proclamou o dogma da Imaculada Conceição. De acordo com este dogma, Maria por si mesma, por virtude de sua eleição para ser a mãe do Salvador, foi mantida pura de toda mácula de pecado, incluindo o pecado original. Isto foi uma questão que teólogos católicos debateram por séculos, sem chegar a nenhuma conclusão”.[37]

Gonzales continua apontando que “o fato mais significativo de um ponto de vista histórico, foi que, ao proclamar este dogma como uma doutrina da Igreja, Pio IX se tornou o primeiro papa a definir um dogma por conta própria, sem o apoio de um concílio. Em certo sentido, a bula Ineffabilis, que promulgava a Imaculada Conceição de Maria, foi um teste para ver como o mundo reagiria. Desde que a bula não encontrou muita oposição, o palco estava preparado para a promulgação da infalibilidade papal [em 1870]”.[38]

Os historiadores Nicholas Perry e Loreto Echeverria enfatizam a conexão significativa entre os dogmas da Imaculada Conceição e da Infalibilidade Papal. Eles escrevem: “Longe de ter gestação coincidente, os dois dogmas estão se reforçando mutuamente e se complementando. Eles são a consumação de uma aliança entre Roma e ‘Maria’ desde os primeiros tempos. Como a supervisora materna invisível da Igreja, tornou-se como Deus–ou tão ‘pura’ quanto a Segunda Pessoa de Trindade—assim sua contraparte paternal visível faz um avanço comensurável. Quando o mundo questiona a Cadeira de Pedro e suas prerrogativas, é requerida confirmação celestial. Por sua vez, este fator sobrenatural pode ser ratificado somente por uma voz super-humana: a da infalibilidade”.[39]

Com o sucesso do dogma da Imaculada Conceição, Pio IX, subsequentemente convocou o Concílio Vaticano I que formalmente declarou a infalibilidade papal. A Imaculada Conceição foi o primeiro dogma católico definido somente pela autoridade papal. O Papa pediu a opinião dos Bispos na encíclica Ubi Primum, mas ao promulgar o dogma ele não fez qualquer menção em representar os pontos de vista da Igreja em sua maioria. Como expresso por Maurice Hemington no seu clássico livro Hail Mary?: The Struggle for Ultimate Womenhood in Catholicism, “Foi um decreto solitário. Maria foi usada como um instrumento para solidificar o poder hierárquico no catolicismo”.[40]

De uma perspectiva histórica, a promulgação do dogma da Imaculada Conceição em 1854 representa o esforço unilateral do Papa Pio IX para provar sua autoridade papal de modo religioso num momento em que o poder político dos papas estava chegando a um fim. O resultado final é que a Igreja Católica hoje está afetada por dogmas não-bíblicos que não podem ser desfeitos porque foram promulgados ex catedra, isto é, como um pronunciamento oficial infalível do papa.

UMA RESPOSTA BÍBLICA AO DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO

Fontes católicas reconhecem a falta de apoio bíblico direto para o dogma da Imaculada Conceição. Por exemplo, A Enciclopédia Católica admite que “nenhuma prova convincente direta ou categórica do dogma pode ser tirada da Escritura”.41 Dois textos principais são geralmente usados para apoiar a Imaculada Conceição: Gênesis 3:15 e Lucas 1:28. Veremos que nenhum desses textos nem mesmo lembram essa doutrina.

Gênesis 3:15: Maria é a Mulher em Inimizade com a Serpente?

Católicos acreditam que “a primeira passagem bíblica [Gên. 3] que contém a promessa de redenção, menciona também a Mãe do Redentor”:[42]“E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gên. 3:15). Fontes católicas sempre interpretam a inimizade entre Satanás e a mulher como representando o conflito entre Satanás e Maria.

Por exemplo, A Enciclopédia Católica interpreta o texto dizendo: “A mulher em inimizade com a serpente é Maria. Deus colocou inimizade entre ela e Satanás da mesma maneira e medida como há inimizade entre Cristo e a semente da serpente. Maria sempre devia estar no estado exaltado de alma que a serpente destruiu no homem, i.e. em graça santificante. Somente a contínua união de Maria com a graça explica suficientemente a inimizade entre ela e Satanás. O pré-evangelho [Gên. 3], então, no texto original, contém uma promessa direta do Redentor, e em união com isto, a manifestação da obra prima de Sua Redenção, a perfeita preservação de Sua Virgem Mãe do pecado original”.[42]

A identificação da mulher em inimizade com a serpente como Maria, não pode ser justificada pelo sentido literal do texto. “O sentido literal é que Eva (não Maria) e sua posteridade ganharão a batalha moral contra Satanás e sua semente. A ‘mulher’ é obviamente Eva, a ‘descendência’ é claramente a descendência literal de Eva (cf. Gên. 4:1, 25), e a vitória é a vitória de Cristo sobre Satanás (cf. Rom 16:20)”.[43]

Mesmo permitindo por extensão uma aplicação indireta da mulher a Maria, é um salto gigantesco disto para sua imaculada conceição, que não está implícito no texto. O fato é que não há conexão necessária ou lógica entre Maria ser a mãe do Messias e sua concepção sem pecado.

Lucas 1:28: “Cheia de Graça” Implica Ser Sem Pecado?

A saudação do anjo a Maria “Salve, agraciada; o Senhor é contigo” implica que ela foi concebida sem nenhum traço de pecado? Esta é a interpretação do novo Catecismo da Igreja Católica: “Ao longo dos séculos, a Igreja tomou consciência de que Maria, ‘cumulada de graça’ por Deus foi redimidadesde a concepção. É isso que confessa o dogma da Imaculada Conceição. . . . Pela graça de Deus, Maria permaneceu pura de todo pecado pessoal ao longo de toda a sua vida”.[44]

A interpretação católica de “cheia de graça” ou “cumulada de graça” como significando que “por Deus foi redimida [Maria] desde a concepção . . . [e] pela graça de Deus, Maria permaneceu pura de todo o pecado pessoal ao longo de toda a sua vida”, revela muita inventividade e quatro sérios problemas.

Primeiro, a frase “cheia de graça” é uma tradução imprecisa baseada na Vulgata Latina “gratia plena”. O original grego kecharitomene é corretamente traduzido até mesmo pela Catholic New American Bible, simplesmente como “favorecida”. A tradução imprecisa da Vulgata se tornou a base para a idéia de que Maria teve graça estendida por toda a sua vida. Tal graça a capacitou a viver uma vida sem pecado–um ensinamento alheio à Escritura.

Segundo, o contexto indica que a saudação do anjo se refere apenas ao estado de Maria naquele momento, não para sua vida toda. Isto não afirma que ela era cheia de graça da concepção à transladação. Especialmente o contexto mostra que Maria foi “grandemente favorecida” (versão King James) porque Deus lhe concedeu o privilégio de dar à luz ao Seu filho. Nos versos 30-31, o anjo diz a Maria: “Maria, não temas, porque achaste graça [favor, KJ] diante de Deus. E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus”. Mais tarde Isabel cumprimenta Maria dizendo: “Bendita [abençoada, KJ] és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre” (Lucas 1:4).

Estes textos indicam que Maria foi grandemente favorecida e abençoada porque Deus a escolheu para carregar Seu filho. Como Norval Geldenhuys comenta: “Deus deu a ela Sua graça livre e desinteressada em uma medida única, escolhendo-a para ser a mãe de Seu Filho”.45 Mesmo uma leitura rápida do contexto revela que a graça por ela recebida foi a tarefa de ser a mãe do Messias, não a de impedi-la de pecar ao longo de sua vida.

Terceiro, a ênfase no “cheia de graça” é equivocada, desde que até mesmo apologistas católicos reconhecem que Maria era uma pecadora em necessidade de redenção. Por exemplo, Ludwig Ott diz que Maria “necessitava de redenção e foi redimida por Cristo”.[46]É biblicamente injustificável sugerir que Maria fosse isenta de pecados hereditários. Ao invés disso, ela foi habilitada pela graça de Deus para superar o pecado.

Finalmente, o mesmo termo para “graça-charito” é usado para fiéis em geral. Em seu excelente tratado sobre Mariologia, intitulado The Cult of the Virgn (O Culto da Virgem), Miller e Samples fazem notar que o termo grego para “cheio de graça” charito “é usado para os crentes em Efésios 1:6 sem implicar em pureza perfeita ou sem pecado. Então, novamente não há nada sobre Lucas 1:28 que estabeleça a doutrina da Imaculada Conceição. Que Maria foi favorecida de maneira única para ser a mãe do seu Senhor é a única inferência necessária”.[47]

Maria Conhecia Sua Necessidade de um Salvador

No Magnificat, Maria louva a Deus como seu Redentor dizendo: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador” (Luc. 1:46-47; ênfase acrescentada). A razão pela qual Maria chama a Deus de meu Salvador é porque sabia que como uma descendente de Adão, fora concebida em pecado.

O dogma da Imaculada Conceição questiona a integridade da natureza humana de Maria, reduzindo-a a uma imagem e fazendo de sua vida uma fantasia. Isto implica que Maria nunca foi um ser humano real e nunca viveu uma vida humana real.

Na Bíblia, redenção não é uma intervenção miraculosa executada na concepção sem a participação humana. O Espírito Santo não trabalha impessoalmente, sem uma participação humana livre. A pureza de Cristo não foi mecanicamente garantida por Sua concepção miraculosa, mas foi Sua própria conquista durante Sua vida inteira através do poder concedido pelo Espírito Santo.

Conclusão:

A glorificação de Maria como sem pecado desde sua concepção é uma heresia que afeta a singularidade do Filho de Deus, colocando uma criatura em pé de igualdade com Ele. Pureza é uma qualidade reservada a Cristo somente. Salvador é um nome que só Cristo merece. O Anjo instruiu José dizendo: “e chamarás o seu nome Jesus; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mat. 1:21). Jesus é a única pessoa que nasceu, viveu e morreu sem pecado. Ele é o único qualificado para nos salvar dos pecados porque Ele somente é Deus. O dogma da Imaculada Conceição é biblicamente sem fundamento, historicamente injustificado e doutrinariamente doentio.

Referências:

1. Richard N. Ostling, “The Age of Mary,” Time, 30 de dezembro de 1991, p. 42.
2. Ibid.
3. Ibid.
4. “The Meaning of Mary,” Newsweek, 25 de agosto de 1997, p. 36.
5. Time (note 1), p. 42.
6. Veja por exemplo, Beverly Roberts Gaventa, Mary; Glimpses of the Mother of Jesus (1995) e a coleção de composições que ela co-editou chamada Blessed One; Protestant Perspectives on Mary (2002). Robert Jenson defende o papel de Maria em seu dois volumes monumentais de Systematic Theology (1997 and 1999) e na coleção de composições que ele co-editou, Mary; Mother of God (2004). Todos estas composições elevam o papel de Maria no Plano da Salvação. Anos de diálogo ecumênico entre católicos franceses e protestantes produziram um livro intitulado Mary in the Plan of God and in the Communion of the Saints (1999). O livro chama tanto católicos como protestantes para uma “conversão” no assunto de Maria.

7. Eric Mascall, “Modern Protestant on Mary,”
www.mariology.com/sections/modern.html.
8. Charles Dickson, A Protestant Pastor Looks at Mary (1996), p. 110.
9. Jason Byassee, “Protestants and Marian Devotion: What about Mary?”
www.religion-online.org/showarticle.asp?title=3156.
10. Will Ashenmacher, “Muslim, Christians Discuss Mary,” The Marquette Tribune, September 14, 2004, Section on News.
11. Catechism of the Catholic Church, (San Francisco, CA, 1994) Parágrafo 841, Ênfase acrescentada.
12. Ludwig Ott, Fundamentals of the Catholic Dogmas (1960), p. 203.
13. Ibid., p. 205.
14. Catechism of the Catholic Church (Libreria Editrice Vaticana, 1994), p. 126, parágrafo 500.
15. Ibid., p. 128, parágrafo 510.
16. Ibid., p. 124, parágrafo 494.
17. Ibid.

18. St. Thomas Aquinas, Summa Theologica (1947), Pt. III, Q. 28, p. 2173.
19. Ibid., p. 2174.
20. Weimar’s The Works of Luther, tradução em inglês por Pelikan, Concordia, St. Louis, v.11, pp. 319-320; v. 6. p. 510.
21. Calvini Opera, Corpus Reformatorum, Braunschweig-Berlin, 1863-1900, v. 45, p. 348, 35.
22. Zwingli Opera, Corpus Reformatorum, 1905, v. 1, p. 424.
23. Citado por E. Stakemeier em De Mariologia et Oecumenismo, 1962, p. 456.
24. Richard N. Ostling, “Anglicans, Catholics Agree on Mary,” Deseret News (Salt Lake City), May 28, 2005.
25. Ibid.
26. Jack Lewis, The Gospel According to Matthew (1976), Vol. 1, p. 42.
27. Ludwig Ott (Nota 12), p. 207.
28. Ibid.
29. Philip Schaff, Creeds of Cristendom, with a History and Critical Notes (1893), vol. 2, pp.211-212.

30. Ibid.
31. Henry Denzinger, The Sources of Catholic Dogma, (1957), parágrafo 2803; Citado também no Catechism of the Catholic Church (nota 11), p. 124, parágrafo 491.
32. Ubi Primum, Sobre a Imaculada Conceição, Encíclica do Papa Pio IX, 2 de Fevereiro de 1849, Papal Encyclical Online,
http://www.papalencyclicals.net/Pius09/p9ubipr2.htm.
33. Ibid.
34. Catechism of the Catholic Church (nota 11), p. 124, parágrafo 493. Ênfase acresentada.
35. St. Thomas Aquinas (nota 18), Parte 3, Q. 27, vol. 2, p. 2164.
36. Ibid.
37. Justo Gonzales, The Story of Christianity, (1984), vol. 2. p. 297.
38. Ibid.
39. Nicholas Perry and Loreto Echeverria, Under the Heel of Mary (1989), p. 122.

40. Maurice Hemington, Hail Mary?: The Struggle for Ultimate Womenhoon in Catholicism (1995), p. 19.
41. Frederick G. Holweck, “The Doctrine of the Immaculate Conception,” The Catholic Encyclopedia (1910), vol. 7, p. 242.
42. Ibid.
43. Norman Geisler and Ralph E. MacKenzie, Roman Catholics and Evangelicals. Agreements and Differences (2004), p. 307.
44. Catechism of the Catholic Church (nota 11), p. 124.
45. Norval Geldenhuys, Commentary on the Gospel of Luke (1983), p. 75.
46. Ludwig Ott (nota 12), p. 212.
47. Elliot Miller and Kenneth R. Sample, The Cult of the Virgin: Catholic Mariology and the Apparitionss of Mary (1992), p. 34.

Estudo de Autoria do já falecido Dr. Samuele Bacchiocchi
Professor jubilado de teologia da Universidade Andrews, publicado através da
[url=http://www.biblicalperspectives.com/endtimeissu


Última edição por Ronaldo em Qua Out 06, 2010 10:52 pm, editado 1 vez(es)
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Mariologia à Luz da Bíblia – por Samuele Bacchiocchi :: Comentários

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Mensagem Qua Out 06, 2010 10:48 pm por Eduardo

Parte 03 – A Assunção Corporal de Maria

Outra indicação importante da tentativa da Igreja Católica de elevar Maria para o mesmo lugar de Cristo, é o dogma da Assunção corporal de Maria ao céu. O paralelo entre Cristo e Maria é auto-evidente. O ensinamento bíblico de que Jesus subiu ao céu como Rei dos Reis, é acompanhado pela alegação católica de que Maria foi assunta ao céu, para servir como “Rainha de todas as coisas.”

Os dogmas católicos romanos em relação a Maria revelam uma glorificação progressiva de seu status. Notamos como Maria tem sido progressivamente elevada de um ser inocente a um ser concebido imaculadamente, sendo corporalmente assunta ao céu, e venerada como Co-redentora e mediadora da graça (Medianeira) e Rainha dos Céus.

A crescente exaltação e adoração a Maria está pressionando o papa a promulgar um dogma final, que oficialmente elevaria a Maria ao status de Co-redentora. Este ensino será discutido mais detalhadamente na seção seguinte deste capítulo. Mais de seis milhões de católicos de cerca de 150 países já assinaram uma petição pedindo ao papa para fazer uma definição formal do dogma mariano final “que a Virgem Maria é Co-redentora com Jesus e coopera plenamente com seu Filho na redenção da humanidade.” [49] Se e quando o Papa promulgar este dogma que declara Maria como Co-Redentora e mediadora de todas as graças e advogada do povo de Deus, a glorificação de Maria, terá atingido o estágio final de sua deificação.

A promulgação do dogma da Assunção corporal de Maria

Este dogma da Assunção corporal de Maria, foi oficialmente promulgado pelo Papa Pio XII em 01 novembro de 1950, um dia observado pelos católicos como “Festa de Todos os Santos”. Pio XII declarou solenemente: “Pela autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e pela nossa própria autoridade, nós pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a Imaculada Mãe de Deus , a sempre Virgem Maria, tendo concluído o curso de sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial” [50].

Para assegurar que esse dogma fosse aceito sem questionamento, Pio XII acrescentou esta advertência assustadora: “Se alguém, que Deus não permita, ousar, voluntariamente, negar ou pôr em dúvida o que temos definido, que ele saiba que tem se afastado completamente da fé divina e católica. . . . É proibido a qualquer homem mudar esta nossa declaração, pronunciamento e definição, ou tentar se opor e contrariá-la. Se alguém presumir fazer tal tentativa, deixe-o saber que nele incorrerá a ira do Deus Todo Poderoso e dos Bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo” [51].

O Catecismo amplia o significado deste dogma, dizendo: “A Assunção da Santíssima Virgem é uma participação singular na ressurreição de Seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos:”No parto você [Maria] manteve sua virgindade, em sua Dormição [dormindo na sepultura] você não deixa o mundo, ó Mãe de Deus, mas se junta à fonte da vida. Você concebeu o Deus vivo e por suas orações, vai entregar as nossas almas da morte.’ [52]

Através da promulgação do dogma da Assunção corporal de Maria, Pio XII conseguiu elevar Maria a mais alta posição como Rainha dos Céus. “Maria finalmente atingiu a maior coroa dos seus privilégios, e estaria imune à corrupção do sepulcro e, da mesma forma como seu filho, ela iria vencer a morte e ser levada de corpo e alma à glória do céu sobrenatural, onde como Rainha iria brilhar diante da mão direita do seu mesmo Filho,o Rei imortal dos séculos” [53].

Maria é retratada como a Rainha do Céu em Apocalipse?

A crença na coroação de Maria como a Rainha do Céu é claramente negada pela visão do trono de Deus encontrada em Apocalipse capítulos quatro e cinco. Na visão João viu Deus sentado no trono, cercado por 24 anciões e quatro seres viventes. Cristo, o Cordeiro, está no trono. Milhares de anjos circundam o trono. Não há Rainha do Céu, ao lado do trono de Cristo, pois isso seria uma abominação ao Senhor.

Jeremias adverte o povo de Judá, contra o culto da Rainha do Céu, dizendo: “Assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel: “Vocês e suas mulheres cumpriram o que prometeram quando disseram: “Certamente cumpriremos os votos que fizemos de queimar incenso e derramar ofertas de bebidas à Rainha dos Céus”.” “Prossigam! Façam o que prometeram! Cumpram os seus votos!” Mas ouçam a palavra do Senhor. . .Vigiarei sobre eles para trazer-lhes a desgraça e não o bem…perecerão pela espada e pela fome até que sejam todos destruídos”(Jr 44:25-27; grifo nosso).

A razão para a condenação de Deus daqueles que promovem essa adoração à Rainha dos Céus, é que Ele é o único a ser adorado e glorificado. ”Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os confins da terra; porque eu sou Deus, e não há outro.”(Is 45:22). Aqueles que promovem a adoração de falsos deuses como a Rainha do Céu, são advertidos em Apocalipse que eles beberão “do vinho do furor de Deus que foi derramado sem mistura no cálice da sua ira” (Ap 14:10).

A reação do Segundo Concílio do Vaticano

A glorificação por Pio XII de Maria como Rainha dos Céus à direita do seu Filho, teve uma reação retardada no Segundo Concílio do Vaticano (1962-1965). Em um artigo na revista Time, intitulado “Cover Stories: Handmaid or Feminist? - Histórias de Capa: Serva ou feminista” Richard Osling escreve: “Antes do Vaticano II, os papas tinham proclamado a Maria Co-redentora com Jesus. Durante o Concílio, os bispos estavam sob pressão dos fiéis para que ratificassem a doutrina da Co-redenção; em vez disso não emitiram nenhum decreto sobre Maria, mas ela foi incorporada na Constituição sobre a Igreja, um movimento que colocou a Virgem entre a comunidade dos crentes em Cristo ao invés de algo semelhante a uma posição de co-igual”[54.]

Osling explica que uma razão para o baixo papel de Maria no Concílio Vaticano II era “uma preocupação com a transformação de Maria em uma divindade competitiva, uma tradição comum a muitas das religiões pagãs que o cristianismo substituiu. ”O grande temor era que ela fosse adorada acima de seu filho.” [55]

A preocupação do Vaticano II se justifica, porque a piedade popular tem ignorado a advertência do Conselho, preferindo muitas vezes venerarem e adorá-la acima do próprio Cristo. Na minha terra natal, a Itália, por exemplo, os católicos exibem muito mais em suas casas o ícone do Sagrado Coração de Maria do que o de Cristo. A oração popular na sequência do Rosário diz: “Salve, Rainha, Mãe de Misericórdia! Vida, doçura e esperança nossa, salve!” Esta é a maneira piedosa dos crentes oferecerem a sua vida e esperança para a Rainha dos Céus.

Na ladainha oficial da liturgia católica, Maria é chamada “Rainha dos Anjos, Rainha dos Patriarcas, Rainha dos Profetas, Rainha dos Apóstolos, Rainha dos Mártires, Rainha dos Confessores, Rainha das Virgens, Rainha de todos os santos, Rainha concebida sem pecado original, Rainha assunta ao céu, Rainha do sacratíssimo Rosário, Rainha da Paz “[56] A elevação de Maria ao papel da Rainha do Céu e de todos os crentes que já viveram, é uma invenção puramente católica, condenada na Escritura como abominação ao Senhor.

A Adoração Pagã à Rainha do Céu

O culto à Rainha dos Céus pode ser rastreado até os tempos antigos. Observamos anteriormente que os israelitas infiéis adoraram à Rainha dos Céus. ”Os filhos ajuntam a lenha, os pais acendem o fogo, e as mulheres preparam a massa e fazem bolos para a Rainha dos Céus. Além disso, derramam ofertas a outros deuses para provoca rem a minha ira” (Jr 7:18). Esta é uma reminiscência dos antigos fenícios que chamavam à lua Ahstoreth ou Astarte, a Rainha dos Céus.

Em seu artigo “Maria e o Papa: Observações sobre o Dogma da Assunção de Maria”, o Prof Hermann Sasses reconhece claramente que “O culto mariano foi a substituição cristã para o culto das grandes divindades femininas, que desempenharam um papel tão importante na vida da humanidade pagã pré-cristã, as santas virgens e mães divinas, a Ishtar babilônica, cujo culto já havia forçado o seu caminho em Israel, a Rainha do Céu Síria, a grande mãe da Ásia Menor, a egípcia Ísis, cujo favor do Ocidente é atestado pelo uso prolongado do nome “Isidor” entre judeus e cristãos. Mas infelizmente não foi apenas uma substituição cristã para uma religião pagã, era igualmente uma religião pagã numa roupagem cristã. O culto mariano é o último dos grandes cultos à uma divindade feminina, que fez o seu caminho do Oriente para o mundo romano, pois na segunda Guerra Púnica Roma havia adotado o culto à Mater Magna da Ásia Menor”. [57]

O Prof Sasses continua observando que o motivo para o triunfo da veneração de Maria na cristandade é encontrado no fato de que o homem pecador “perverte a ordem de Deus, porque ele não reconhece Deus como Senhor, e prefere fazer Deus sujeito a ele, portanto, a necessidade de uma divindade feminina é da essência do homem natural, caído. “[58] A divindade feminina concebida para satisfazer as necessidades humanas, pode ser mais facilmente manipulada, porque afinal de contas ela é terna Mãe de Deus, e não o intransigente Deus Pai da Bíblia.

Argumentos da Escritura para a Assunção de Maria

O dogma da assunção corpórea de Maria ao céu é um surpreendente dogma que a igreja católica defende, apelando para a Escritura e a tradição. Mas o fato é que não há apoio bíblico ou histórico para este dogma. Notáveis defensores deste dogma católico reconhecem esse fato. Por exemplo, o apologista católico Ludwig Ott admite que “provas diretas e expressas das Escrituras não são obtidas.” [59] Do mesmo modo o autor católico romano Eamon Duffy admite que “não existe, evidentemente, nenhuma evidência bíblica ou histórica para isso… ” [60]. No entanto, alguns estudiosos católicos ainda buscam encontrar apoio indireto em alguns poucos textos bíblicos que vamos examinar brevemente.

Será que Mateus 27:52-53 Apoia à Assunção de Maria?

A abertura dos túmulos após a ressurreição de Jesus, que ocasionou a ressurreição de alguns santos sugere a alguns católicos a “probabilidade” da assunção corpórea de Maria. Ott diz que “Se os justificados da Antiga Aliança eram chamados para a perfeição da salvação, imediatamente após a conclusão da obra redentora de Cristo, então é possível e provável que a Mãe do Senhor foi chamado para ele também.” [61]

Esta interpretação é desacreditada por dois motivos principais. Primeiro, o texto fala apenas que “os sepulcros se abriram, e muitos corpos de santos que tinham dormido foram ressuscitados” (Mateus 27:52). Não nos é dito que estes santos foram ressuscitados, como Lázaro ou transladados em seus corpos imortais para o céu depois de completarem sua missão de testemunho. Se eles foram ressuscitados imortais, eles representam as “primícias dos que dormem” (1 Coríntios 15:20). Mas Paulo aplica esta frase exclusivamente à ressurreição de Cristo, embora ele enumere as várias aparições de Cristo. É surpreendente que a ressurreição de alguns santos no momento da ressurreição de Cristo, só é mencionada por Mateus. Se estes santos foram finalmente transladados para o céu, um evento tão importante não poderia ter escapado à atenção dos escritores do Novo Testamento.

Um segundo ponto importante é que Maria não é mencionada no grupo que foi ressuscitado, nem a Bíblia jamais sugere que ela foi elevada em um momento posterior. Assim, este texto não oferece qualquer suporte à crença de que Maria foi assunta ao céu corporalmente.

Apocalipse 12:1-6 Apoia a Assunção de Maria?

Apocalipse fala de uma mulher que “deu à luz um filho, um varão que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono” (Ap 12:5). Alguns autores católicos defendem que esta mulher representa a mãe de Cristo, que foi assunta ao céu. [62]

Esta interpretação não pode ser apoiada por esta passagem, por duas razões principais. Em primeiro lugar, a mulher representa, não Maria, mas a Igreja que foi protegida por Deus durante um período profético dos 1.260 dias. O dragão tentou “varrê-la para longe com uma inundação” de perseguições, mas ele não teve sucesso porque Deus a protegeu.

Em segundo lugar, não era a mulher, mas Cristo quem “foi arrebatado para Deus e para o seu trono” (Ap 12:5). Uma leitura objetiva do texto não pode suportar a crença na assunção corpórea de Maria ao céu. Da mesma forma, a imagem celestial de “uma mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12:1), dificilmente pode representar Maria, a Rainha do Céu, como retratada na bandeira europeia. A razão é simples. Em Apocalipse, a mulher não é “arrebatada para Deus” no céu, mas “fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus, para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias.” (Apocalipse 12: 6).

É evidente que os teólogos católicos estão ávidos por textos de prova para defender a assunção corpórea de Maria ao céu. Tais textos não existem porque a Bíblia ensina claramente que só Cristo subiu ao céu e foi “exaltado à destra de Deus” (Atos 2:33). Afirmar que Maria ressuscitou dos mortos e foi levada para o céu para lhe ser concedido um status semelhante ao de Cristo, em última análise, denigre o papel único de Cristo como redentor.

Argumentos da Tradição para a Assunção de Maria

O dogma da Assunção de Maria carece não só de suporte bíblico, mas também de evidencia cristã. Nenhum escritor cristão jamais afirmou ter visto uma relíquia do corpo de Maria e nenhuma cidade jamais afirmou ter Maria permanecido. Em contrapartida, todos parecem saber que os túmulos de Pedro e Paulo estavam em Roma e os de João e Timóteo em Éfeso.

Durante séculos, na Igreja primitiva houve um silêncio total sobre o final de Maria. A primeira menção é de Epifânio, um nativo da Palestina que se mudou para Chipre, em 390, onde foi eleito Bispo de Salamina. Ele afirma especificamente que ninguém sabe o que realmente aconteceu a Maria. Ele escreveu: “Mas se alguns pensam que estamos enganados, investigue as Escrituras. Eles não encontrarão a morte de Maria, não vão descobrir se ela morreu ou não morreu, não vão descobrir se ela foi enterrada ou não foi enterrada. . . A Escritura é absolutamente omissa sobre o fim de Maria. . . Da minha parte, eu não me atrevo a falar, mas eu mantenho meus próprios pensamentos e a prática do silêncio. . .pois o fim dela ninguém sabe ” [63].

Como, então, o ensino da Assunção corporal de Maria se tornou tão proeminente que, eventualmente, ele foi declarado um dogma em 1950? A resposta pode ser encontrada na circulação de um evangelho apócrifo no final do século V conhecido como o Beatae Transitus Mariae (As Viagens de Santa Maria). Este evangelho apócrifo deu origem a uma gama de cômputos em Trânsito em copta, grego, latim, siríaco, árabe, etíope e armênio. O primeiro pai da Igreja a afirmar explicitamente a assunção de Maria foi Gregório de Tours, em 590 dC. Ele baseou seu ensinamento sobre os apócrifos Transitus Mariae Beatae. O problema é que a literatura de Trânsito é considerada por todos os historiadores sérios como uma completa invenção. A mariologista Católica, Juniper Carol, afirma explicitamente: “A literatura Transitus é reconhecidamente sem valor, como história, como um relato histórico da morte de Maria e da assunção corpórea, sob esse aspecto o historiador é justificado em descartá-la com um desgosto crítico.” [64] Em um semelhante sentido, o teólogo católico Karl Rahner reconhece que “não há nada de valor histórico, em tais obras apócrifas.” [65]

Literatura Apócrifa Transitus Condenada pelos Papas

Contrariamente à afirmação do Papa Pio XII que a Assunção de Maria é um “dogma verdadeiro divinamente revelado”, a realidade histórica é que a Igreja Católica desenvolveu este ensino com base em documentos heréticos, que foram condenados pela Igreja primitiva. Entre 494-496 dC, o Papa Gelásio emitiu um decreto intitulado Decretum de Libris Canonicis Ecclesiasticis et Apocryphis, em que oficialmente estabelecia a distinção entre os escritos canônicos como sendo aceitos e os escritos apócrifos como sendo rejeitados. Entre os escritos apócrifos a serem rejeitados, Gelásio incluiu o Liber qui apellatur Transitus, id est Assumptio Sanctae Mariae, Apocryphus (O livro apócrifo, chamado Transitus, que é a Assunção de Maria Santíssima) “[66]

O Papa Gelásio condenou explicitamente a literatura Transitus e o ensino que ela promovia, dizendo: “Este e trabalhos semelhantes a este. . . não só têm sido rejeitados, mas também banidos de toda a Igreja Católica Apostólica Romana, e seus autores e seguidores foram condenados para sempre sob o vínculo indissolúvel do anátema” [67].

Vale ressaltar que todo este decreto e sua condenação foi reafirmado pelo Papa Hormisdas no século VI dC em torno de 520, [68] Estes fatos históricos provam que a Igreja primitiva via os ensinamentos da literatura Transitus como sendo uma heresia digna de condenação, e não como uma legítima expressão da crença piedosa dos fiéis. A condenação da literatura Transitus, pode explicar por que antes do sétimo e oitavo séculos há um silêncio patrístico completo sobre a doutrina da Assunção de Maria. O renomado liturgista Católico, Gregory Dix, aponta que “Em Roma, nenhuma das cinco grandes festas da nossa querida Mulher são mais velhas que 700 dC. Nessa época os festivais da Purificação, Anunciação, Assunção e do nascimento de Maria foram assumidos pelo Papa Sérgio I, um sírio de Bizâncio. A Imaculada Conceição foi desenvolvida como um festival e doutrina primeiramente na Inglaterra anglo-saxônica, no início do século XI, com base em uma mais antiga e diferente forma de origem bizantina. “[69]

Conclusão

Em 1950, Pio XII declarou o dogma da assunção corpórea de Maria como sendo revelado por Deus. Mas nosso estudo mostrou que tal dogma não tem tanto apoio bíblico como histórico. O único fundamento católico para acreditar que este dogma é “infalível”, é porque a Igreja o declara. Os fatos acima mostraram que a pretensão de infalibilidade é completamente infundada.

Como pode um Papa promulgar um dogma sendo, supostamente infalível, quando os papas anteriores condenaram este ensino como herético? Como pode um decreto papal inicial anatimizar aqueles que acreditavam na assunção de Maria, como ensinado nos evangelhos apócrifos, e agora os decretos papais condenarem aqueles que não crêem nisso? A conclusão é que os ensinamentos da assunção corpórea de Maria ao céu, deriva da lendária tradição dos homens, e não a partir da revelação bíblica.

Os Papeis de Mediadora e Redentora de Maria

Outra tentativa católica significativa para elevar Maria a uma posição semelhante à de Cristo, pode ser visto no impulso de proclamar o dogma mariano final atribuindo a Maria os papéis de Mediadora e redentora. Até o presente momento a Igreja Católica definiu quatro grandes dogmas marianos como verdades centrais: a Maternidade de Deus (teotokos), proclamada no Concílio de Éfeso, em 431, a virgindade perpétua de Maria, proclamada no Sínodo de Latrão, em 649, a Imaculada Conceição proclamado pelo Papa Pio IX em 08 de dezembro de 1854, e a assunção corpórea ao céu proclamada pelo Papa Pio XII em 01 de novembro de 1950.

Muitos Católicos acreditam que agora é o momento do clímax da universalmente designada “Era de Maria”, de anunciar e definir o quinto e último dogma mariano, ou seja, a mediação universal de Maria como Co-redentora, Medianeira de todas as graças e advogada para o Povo de Deus.

Um movimento internacional de leigos, liderado pelo Vox Populi Mariae Mediatrici (A Voz do Povo para a Maria Medianeira) já recolheu mais de 7 milhões de petições assinadas em mais de 155 países. As petições estão sendo enviadas para a Congregação para a Doutrina da Fé, a uma taxa de mais de 100.000 por mês. Estes católicos estão pedindo ao papa para promulgar este dogma, dificilmente podem ser chamados de lunáticos, uma vez que incluem 43 cardeais e mais de 550 bispos.

O Vox Populi, acredita que o dogma mariano de Co-redentora, Medianeira e Advogada, iria responder as perguntas: O que o corpo e a alma de Maria estão fazendo no céu? Se ela é Rainha do Céu, como ela governa seus súditos? Para responder a essas questões, eles estão pedindo ao papa para fazer uma declaração infalível de que “a Virgem Maria é Co-redentora com Jesus e coopera plenamente com seu Filho na redenção da humanidade.” [70] Se isso fosse feito, Maria “seria uma figura muito mais poderosa, algo parecido com o quarto membro da Santíssima Trindade e a face feminina primária através da qual os cristãos experimentam o divino” [70].

É incerto ou não que o Papa Bento XVI irá promulgar este dogma mariano final. Mas o fato é que existe um forte apoio à coroação de Maria com o título dogmático de Co-redentora, Medianeira e Advogada.

Maria, Como Medianeira de Todas as Graças

De acordo com os ensinamentos católicos “, embora Cristo seja o único mediador entre Deus e o homem (1Tm 2:5), pois somente Ele, por Sua morte na cruz, completamente reconciliou a humanidade com Deus, isto não exclui uma mediadora secundária, subordinada a Cristo.” [71]

Maria foi chamada de “mediadora” na bula Ineffabilis de 1854 do Papa Pio IX, o mesmo documento que proclamou a concepção da Maria Imaculada. Autoridades católicas tomam o termo para significar duas coisas: “1. Maria é a Medianeira de todas as graças por sua cooperação na Encarnação. E 2. Maria é a Medianeira de todas as graças por sua intercessão no céu. ” [72]

Em sua encíclica Magnae Dei Matrix (Grande Mãe de Deus), promulgada em 08 de setembro de 1892, o Papa Leão XIII declara: “nada desse imenso tesouro de todas as graças que o Senhor nos trouxe. . . é concedido para nos salvar por meio de Maria, para que, assim como ninguém pode vir ao Pai, exceto através do Filho, da mesma maneira, ninguém possa ir a Cristo senão por Sua Mãe “. [73]

A alegação de que ninguém pode vir a Cristo, exceto por meio de Maria, está em clara contradição com as palavras de Jesus: “Eu sou a porta: se alguém entrar por mim, será salvo, e entrará e sairá e encontrará pastagem” ( João 10:9). ”Ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai [não por Maria], não lhe for concedido” (João 6:65). ”Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28). Os convites de Cristo são sempre pessois e diretos. Eles não admitem intermediários. Ele nos ensinou a nos aproximar de Deus diretamente como o “Pai nosso que estás nos céus”, não como “Nossa rainha que estais no Céu”. Interpor mediadores humanos entre Deus ou Cristo e o crente, significa interpretar mal a natureza de Deus, tornando-o em um punitivo e inacessível Ser, a ser temido ao invés de amado. No final, acabam adorando os intercessores da criação humana, ao invés do Deus da revelação divina.

Maria como Co-redentora com Cristo

Ao longo dos anos o termo Co-redentora, tem vindo a denotar um papel mais ativo de Maria na redenção oferecida por meio de seu Filho. No último capítulo da Constituição Lumen Gentium, dedicado a Maria, o Concílio Vaticano II declara: “sofrendo com Ele quando morreu na cruz, ela cooperou na obra do Salvador, de uma forma completamente singular, pela obediência, fé, esperança e amor ardente, para restaurar sobrenaturalmente a vida das almas. “[74]

O texto do Concílio sublinha fortemente Maria sofrendo na Cruz de seu Filho. ”Ela sofreu com seu Filho unigênito, a intensidade de Seu sofrimento, … consentindo com amor na imolação da vítima, nascida dela” [75].

De acordo com o Concílio Vaticano II, o papel redentor de Maria, que começou nesta terra continua no céu: “Assunta aos céus, ela não abandonou esta missão salvadora, mas por sua intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna.” Por este motivo, “a Virgem é invocada na Igreja sob os títulos de advogada, auxiliadora, ajudadora e Medianeira” [76]

O título de Co-redentora não aparece nos textos do Concílio.”Sensibilidade ecumênica” foi sem dúvida um fator primordial na sua prevenção. O conceito, entretanto, é transmitido por diversas vezes, na “Lumen Gentium”, que fala de Maria como “embaixo e com ele [Cristo], servindo o mistério da redenção pela graça do Deus Todo-Poderoso” e como “cooperou livremente na obra da salvação do homem”. O documento fala ainda da” união da mãe com o Filho na obra da salvação” [77].

O Uso de Co-redentora por João Paulo II

A relutância do Vaticano II para descrever Maria como Co-redentora, foi superado por João Paulo II, que freqüentemente usava o termo, tanto em suas declarações como discursos publicados. Se o assunto da co-redenção Mariana recuperou a respeitabilidade depois de uma longa “noite escura” pós-concílio, isto é devido em grande medida ao ensino vigoroso e persistente do Papa João Paulo II, um homem que foi totalmente dedicado a Maria.

Por exemplo, em saudação aos doentes após a audiência geral de 08 de setembro de 1982, o Papa disse: “Maria, embora concebida e nascida sem a mácula do pecado, participou de uma forma maravilhosa nos sofrimentos de seu divino Filho, a fim de ser Co-redentora da humanidade”[78].

Em um discurso no santuário mariano em Guayaquil, Equador, João Paulo II disse que “ao aceitar e assistir ao sacrifício do seu filho, Maria é a aurora da Redenção;. . . Crucificada espiritualmente com seu Filho crucificado (cf. Gal. 2:20), ela contemplou com amor heróico a morte de seu Deus, ela com “amor consentiu a imolação da vítima que ela mesma produziu. . . . Ela estava de maneira especial perto da cruz de seu Filho, ela também tinha que ter uma experiência privilegiada da sua Ressurreição. Na verdade, o papel de Maria como Co-redentora não cessa com a glorificação de seu Filho” [79].

Em comemoração ao sexto centenário da canonização de Santa Brígida da Suécia, em 06 de outubro de 1991, João Paulo disse: “Brigida olhou para Maria como seu modelo e apoio em vários momentos de sua vida. Ela falou energicamente sobre o privilégio divino da Imaculada Conceição de Maria. Contemplou a sua missão surpreendente como Mãe do Salvador. Ela a invocava como a Imaculada Conceição, Nossa Senhora das Dores, e Co-redentora, exaltando o papel singular de Maria na história da salvação e da vida do povo cristão. “[80]

Na Carta Apostólica Salvifici doloris (11 de fevereiro de 1984) , João Paulo II combina o sofrimento intenso de Maria com o de Cristo, tornando-os a base de nossa redenção: “Nela [Maria], os numerosos e intensos sofrimentos, foram acumulados de maneira tão interligada que não eram apenas uma prova de sua fé inabalável, mas também uma contribuição para a redenção de todos. . . . . Foi no Calvário que o sofrimento de Maria, ao lado do sofrimento de Jesus, atingiu uma intensidade que dificilmente pode ser imaginada a partir de um ponto de vista humano, mas que foi misteriosamente e sobrenaturalmente fecundo para a redenção do mundo. A sua subida ao calvário e ela ao pé da cruz, juntamente com o discípulo amado era um tipo especial de participação na morte redentora de seu filho. [81]

Esta citação da Salvifici doloris mostra como a mistura de João Paulo II do sofrimento de Cristo com o de Maria os torna “frutíferos para a redenção do mundo.” Muitas outras declarações de João Paulo II podem ser citadas expressando a mesma crença. É evidente que ele contribuiu em grande medida para promover vigorosamente o papel de co-redentora de Maria. Ele acreditava firmemente que Maria participou ativamente da missão redentora de seu Filho. Por exemplo, em sua audiência geral de 22 de junho de 1994, João Paulo II afirmou: “Maria cooperou com Cristo na sua obra de redenção, não só preparando Jesus para sua missão, mas também se juntando a seu sacrifício para a salvação de todos” [82].

Maria como Cooperadora na redenção da humanidade

Estudiosos católicos estão ansiosos para salientar que o papel redentor de Maria “não deve ser concebido no sentido de uma equação da eficácia de Maria com a atividade redentora de Cristo, único Redentor da humanidade (1 Tm 2:5). . . “, ela mesmo necessitava de redenção e de fato foi redimida por Cristo.” [83]

No entanto, os estudiosos católicos afirmam que Maria participou na redenção de Cristo, compartilhando seu sofrimento. ”Com a força da graça da redenção merecida por Cristo, Maria, por sua espiritual entrada no sacrifício do seu divino Filho pelos homens, fez expiação pelos pecados dos homens, e mereceu a aplicação da graça redentora de Cristo. Desta forma ela colabora na redenção subjetiva da humanidade.” [84]

Argumentos Bíblicos para se chamar Maria de Co-redentora e Mediadora

Não há nenhuma evidência bíblica para chamar Maria de mediadora e co-redentora. Os apologistas católicos reconhecem este fato. Por exemplo, Ludwig Ott admite que “expressas provas bíblicas estão faltando. . . . Teólogos procuram um fundamento bíblico em uma interpretação mística de João 19:26″ [85] O texto diz: “Vendo Jesus sua mãe e junto a ela o discípulo amado, disse: Mulher, eis aí teu filho.”

A interpretação mística católica toma “mulher” para significar Maria como a mãe da humanidade. Os comentários do Catecismo da Igreja Católica sobre este texto, diz: “Jesus é o único filho de Maria, mas a sua maternidade espiritual se estende a todos os homens que ele veio para salvar” [86] A implicação é que Jesus, chamando Maria “mulher”, reconheceu ela como a mediadora da humanidade. Esta interpretação mística é tão absurda que só enfraquece o caso da doutrina. Ela só serve para mostrar que os estudiosos católicos estão buscando em vão o apoio bíblico para a doutrina proveniente exclusivamente de especulações subjetivas.

A questão da mediação entre Deus e o crente é muito séria, porque é somente através do homem-Deus, Jesus Cristo, que uma pessoa é colocada em uma relação salvadora com Deus. Cristo disse: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida: ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6). “Nele temos a redenção pelo seu sangue, o perdão dos nossos pecados, segundo as riquezas da sua graça que ele derramou sobre nós” (Ef 1:7;. Cf. Col 1,14). “Não há salvação em nenhum outro, pois não há outro nome debaixo do céu dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4:12).

“Porquanto há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1 Tm 2:5). O argumento católico de que “um” em grego (monos) não significa apenas um (eis), porque existem outros intercessores humanos sobre a terra (1 Tm 2:1-2), ignora que o texto fala de intercessores celestiais para nossa salvação , não de interecessores humanos orando pelo bem-estar dos reis e governantes (1 Tm 2:1-2). O fato de que existem intercessores humanos sobre a terra, não implica que existem intercessores no céu além de Cristo.

Há um dilema inerente à doutrina católica sobre o papel mediador de Maria. Pois, por um lado, admite que Cristo oferece a todos os crentes a graça e a salvação que eles precisam. Mas, por outro lado, muitos documentos católicos exaltam o papel de Maria como a dispensadora de todas as graças. Este é um exemplo clássico de discurso duplo. Há um dilema impossível, neste ensinamento. Ou o papel de Maria é supérfluo ou a auto-suficiência da mediação de Cristo é insuficiente. Católicos comuns que oram a Maria como sua mediadora materna, dificilmente colocam toda a sua fé e confiança em Cristo como seu único Redentor.

A única saída para este dilema é os católicos reconhecerem a verdade bíblica fundamental que Jesus Cristo é o único Mediador no céu. ”Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa” (Atos 16:31). Esta é uma verdade bíblica sólida que o Vaticano continua a negar, exaltando Maria como Mediadora feminina, Co-redentora, advogada, e rainha dos céus.

Não há dúvida de que Maria, como a mãe terrena de Jesus, era uma mulher piedosa usada por Deus como um canal para trazer o Redentor a este mundo. Mas, elevar Maria a uma posição semi-divina no céu, governando como a Rainha do Céu, atuando como Co-redentora, e dispensando graças, equivale a atribuir à Maria as funções e prerrogativas que legitimamente pertencem somente a Deus.

Parte 05 – A Veneração de Maria

Uma indicação significativa da tentativa final da Igreja Católica elevar Maria para o mesmo lugar de Cristo, é a veneração popular à Maria. Esta prática representa o resultado natural dos dogmas e ensinamentos marianos proclamados ao longo dos séculos pela Igreja Católica. Ao proclamar a virgindade perpétua de Maria, sua imaculada concepção, sua assunção corporal aos céus, seu papel como mediadora celestial e Co-redentora, a Igreja Católica promoveu a veneração popular à Maria, que muitas vezes ultrapassa a adoração à Cristo. Isto é evidente em uma das orações católicas mais populares, conhecida como a “Ave Maria”, que termina: “Santa Maria, Mãe de Deus. Rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. “

Maria um digno exemplo de pureza, amor e piedade

Como a mãe do Salvador do mundo, Maria, sem dúvida, mantém para sempre um lugar especial entre todas as mulheres e na história da redenção. Ela trouxe a Jesus no temor de Deus, mesmo tendo uma família disfuncional, onde o Salvador não era inicialmente aceito por seus irmãos e irmãs.

É perfeitamente natural admirar a Maria como o melhor modelo feminino de pureza, amor e piedade. Ela é um brilhante exemplo de dedicação materna, humildade e pureza.Verdadeiramente ela foi “bendita entre as mulheres” (Lucas 1:42).

A Exaltação não-bíblica de Maria

O problema é que ambas as igrejas tanta aCatólica como a Ortodoxa Grega não param por aí. A partir de meados do século V (o Concílio de Éfeso, em 431, quando Maria foi proclamada Theotokos – Mãe de Deus), elas ultrapassaram os limites bíblicos. Elas transformaram a “mãe do Senhor” (Lucas 01:43) na Mãe de Deus, a humilde “serva do Senhor” (Lucas 1:38) na Rainha do Céu, a “agraciada” (Lc 1 : 28) na Distribuidora das Graças, a “bendita entre as mulheres” (Lucas 1:42) na celeste Co-redentora, Mediadora e Advogada. Poderíamos dizer que ela foi transformada de filha remida da queda de Adão no pecado à Co-redentora da humanidade.

No início, Maria foi isenta das tendências pecaminosas herdadas, mesmo depois do pecado original. Depois de séculos de debates, ela foi proclamada em 1854 tendo sido concebida imaculadamente, ou seja, sem qualquer mancha de pecado. Ao longo dos séculos, a veneração de Maria gradualmente se tornou o culto popular de Maria. O resultado é que os católicos devotos de hoje dificilmente deixam escapar um Pater Noster, sem uma Ave Maria. Eles se voltam com mais freqüência para a mãe, compassiva para intercessões, do que ao divino Filho de Deus, porque pensam que através de Maria qualquer petição será mais certamente respondida.

A distinção entre a adoração e veneração

A Igreja Católica ensina que há uma distinção básica entre a adoração à Deus, conhecida como latria, a veneração geral dos santos, chamada dulia, e a especial veneração de Maria, chamada hiperdulia. Em seu livro “Introdução à Maria: O Coração da Doutrina e da devoção mariana”, o professor Mark Miravalle explica os diferentes significados dos três termos.

“Adoração, que é conhecida como latria na teologia clássica, é o culto e homenagem que justamente é oferecido a Deus sozinho. É o reconhecimento da excelência e perfeição de uma pessoa, incriada e divina. . . Veneração, conhecido como dulia na teologia clássica, é a honra devida a excelência de uma pessoa criada. . . .Na categoria de veneração vemos a honra e reverência que os santos justamente recebem. . . .

“Dentro da categoria geral de veneração, podemos falar de um único nível de veneração. . . a classicamente chamada hiperdulia, [que é] a devoção atribuída à Virgem Maria. Hiperdulia ou especial veneração a Maria continua sendo completamente diferente e inferior à adoração que é devida somente a Deus. A devoção a Maria nunca rivaliza na natureza ou grau de adoração adequado somente a Deus. Apesar da veneração da Santíssima Virgem ser sempre inferior à adoração dada exclusivamente a Deus, ela sempre será superior a devoção dada a todos os outros santos e anjos.” [87]

Estas distinções teóricas entre a adoração de Deus, a veneração geral dos santos, e a veneração especial à Maria, existe principalmente na mente dos teólogos católicos, mas eles são desconhecidos ou ignorados na vida devocional da maioria dos católicos. Isto é evidente quando consideramos as orações oferecidas a Maria.

Argumentos Bíblicos para a Veneração de Maria

Textos bíblicos usados para apoiar a veneração de Maria

A defesa católica para a veneração de Maria é em grande parte derivada de sua exaltação, expressa nos dogmas e ensinamentos marianos gradualmente promulgados ao longo dos séculos. É baseada nas funções atribuídas a ela pela Igreja Católica como Mãe de Deus, Rainha do Céu, Medianeira, Co-redentora, Advogada, Intercessora e Dispensadora de graças.

A base bíblica para a veneração de Maria não existe. Os poucos textos que são geralmente usados, não fazem alusão a qualquer forma de culto devido à Maria. O apologista católico Ludwig Ott resume os textos utilizados para a veneração de Maria acima de todas as outras criaturas, mas abaixo de Deus. Ele escreve: “A fonte das Escrituras sobre a veneração especial devida à Madre de Deus pode ser encontrada em Lucas 1:28: “Salve, ó cheia de graça, o Senhor é contigo”, no louvor de Isabel, cheia do Espírito Santo, Lucas 1:42: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre “, nas palavras proféticas da Mãe de Deus, Lucas 1:48:”Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada”, nas palavras da mulher na multidão, Lucas 11:27: “Bem-aventurada aquela que te concebeu, e os seios que te amamentaram!” [88].

A conclusão destes textos é que “em vista de sua dignidade como Mãe de Deus e sua plenitude de graça, uma veneração especial é devida a Maria.” [89] Esta conclusão dificilmente pode ser extraída de uma simples leitura dos textos citados.

A resposta bíblica para a veneração de Maria

Os textos citados não dizem nada sobre a veneração de Maria acima de todas as criaturas, mas abaixo de Deus. O elogio de Isabel “Bendita és tu entre as mulheres” (Lucas 1:42), sugere que Maria era verdadeiramente “abençoada” pelo favor de Deus concedido a ela para levar seu filho. Maria reconhece este privilégio único, dizendo: “Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada” (Lucas 1:48). Mas note-se que nada é atribuído a Maria que não seja atribuído a outra pessoa “abençoada” na Bíblia.

Rebeca foi abençoada antes de sair de sua casa para se casar com Isaque: “Abençoaram a Rebeca e lhe disseram: És nossa irmã; sê tu a mãe de milhares de milhares, e que a tua descendência possua a porta dos seus inimigos”(Gn 24:60). Abimeleque, abençoou Isaque, dizendo: “Tu és agora o abençoado do Senhor” (Gn 26:29). Moisés pronuncia uma bênção sobre toda a nação de Israel: “Bendito serás mais do que todos os povos; não haverá entre ti nem homem, nem mulher estéril, nem entre os teus animais” (Dt 7:14).

A Bíblia declara como “abençoado” todas as pessoas que seguem a Deus: “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios. . . mas seu prazer está na lei do Senhor “(Sl 1:1-2). ”Bem-aventurados são todos aqueles que confiam n’Ele” (Sl 2:12). Muitas pessoas na história bíblica foram encontradas no “favor” de Deus (1 Sm 2:26; Pv 12:2). Em nenhum lugar a Bíblia indica a veneração à pessoas”Bem-aventuradas”.Contrariamente aos ensinamentos católicos, Maria não foi abençoada acima de todas as mulheres, mas foi a mais bendita entre todas as mulheres. Mesmo a Nova Bíblia Católica americana diz: “Bendita és tu entre as mulheres” (Lucas 1:42; grifo nosso). Há uma diferença significativa entre os dois termos, porque ser bendita entre as mulheres, não torna Maria digna de veneração acima de todas as outras mulheres.

A não veneração de Maria no Novo Testamento

“Não há um único exemplo no Novo Testamento, onde foi dada veneração a Maria. Quando vieram os Magos à manjedoura para visitar o menino Jesus, Mateus 2:11 declara que “Prostrando-se, o adoraram” não adoraram à Maria.[90]
Além disso, as Escrituras claramente proíbe nos curvar-nos em veneração, diante de qualquer criatura, incluindo os anjos. Quando João, o Revelador, curvou-se aos pés de um anjo, foi-lhe dito: “Você não deve fazer isso! Eu sou um servo como tu e teus irmãos, os profetas, e aqueles que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus” (Ap 22:9).

A Bíblia ensina claramente que não devemos fazer “ídolos” de qualquer criatura ou mesmo nos curvar a elas em um ato de devoção religiosa (Ex 20:4-5). Na Igreja Católica as imagens ou estátuas de Maria são produzidos em massa como ícones para fins de culto. Elas são consideradas como auxiliares de culto, no sentido de que o crente se ajoelha e reza diante delas, a fim de formar uma imagem mental real de Maria a quem eles estão adorando.

A Escritura condena a idolatria do uso de imagens como auxílio para o culto. Paulo explica que a idolatria envolve a troca da glória do Deus imortal por imagens de seres mortais: “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível” (Rm 1:22-23) . Venerar Maria como a Rainha do Céu, curvando-se e orando diante de seu ícone ou estátua, descrevendo-a com 12 estrelas em sua cabeça, lembra-nos da antiga e idolátrica adoração pagã à Rainha dos Céus condenada na Bíblia (cf. Jer 7 : 18). Também promover o culto à Maria, conhecido como Mariolatria é idolatria.

Nenhuma diferença real entre veneração e adoração

Apesar das tentativas de teólogos católicos para diferenciar a adoração reservada a Deus, conhecida como latria, da veneração geral dos santos, chamada dulia, e da especial veneração à Maria, chamada hiperdulia, não há distinções na vida de devoção dos católicos praticantes . Eles não mudam de marcha mental quando se deslocam do Pater Noster a Ave Maria. Oração é oração, seja ela dirigida ao Pai, ao Filho, ao Espírito Santo, ou a Maria e os santos.

As muitas orações católicas devotadas à Maria, dificilmente fazem uma distinção entre adoração e veneração.Tomemos, por exemplo, o popular livro “Novena de orações em honra à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”, publicado com o imprimatur oficial católico. Uma oração diz:

“Não temos uma maior ajuda,
nenhuma esperança maior do que você,
Ó puríssima Virgem; ajude-nos, então,
Nossa esperança está em você, nos gloriamos em você,
nós somos seus servos.
Não nos desaponte” [91].

No mesmo livro devocional, há orações semelhantes, onde o poder de Maria é descrito como superior ao de Jesus. Esta é uma delas: “Vinde em meu auxílio, nossa Mãe querida, que eu recomendo-me a ti. Em tuas mãos ponho minha salvação eterna, e para ti confio a minha alma. Conte-me entre os teus servos mais devotos; ter-me sob a vossa proteção, é suficiente para mim. Pois, se tu me proteger, querida Mãe, não tenho medo de nada: nem dos meus pecados, porque tu queres obter o perdão deles, nem do diabo, porque és mais poderosa do que todo o inferno juntos, nem mesmo de Jesus, o meu juiz, porque, por uma oração sua, Ele vai ser apaziguado”92.

A noção de que uma oração à Maria tem o condão de aplacar Jesus, denigre Jesus num juiz punitivo que precisa ser amaciado pela sua mãe compassiva. Tais ensinamentos são uma blasfêmia para dizer o mínimo.

Similares e marcantes exemplos do culto à Maria podem ser encontrados no famoso livro de Afonso de Ligório (1696-1787), “As Glórias de Maria” (1750 dC), um livro que foi publicado em mais de 800 edições, com a aprovação oficial católica (imprimatur) . Liguori foi canonizado como um santo em 1831 pelo Papa Gregório XVI. A circulação em massa de seu livro em 72 línguas, tem desempenhado um papel importante na promoção de alegações absurdas a respeito de Maria. Alguns exemplos bastarão para mostrar as alegações extravagantes do livro

“Não devemos hesitar em pedir a ela para nos salvar, quando” o caminho da salvação está aberto de nenhuma outra forma que não através de Maria. “
“Muitas coisas”, diz Nicephoros “, são pedidas à Deus e não são concedidas: elas são pedidas à Maria, e são obtidas. “Ao comando de Maria todos obedecem, mesmo Deus.” [93]

Afirmações como estas sobre o caminho da salvação a ser aberta apenas por meio de Maria, e que tem a capacidade de manipular a Deus para fazer sua vontade, são repugnantes, se não blasfemos, para qualquer cristão familiarizado com a visão bíblica da salvação e do caráter de Deus. O caminho da salvação é aberto, não por meio de Maria, mas somente através de Cristo: “Não há salvação em nenhum outro, pois não há outro nome debaixo do céu dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4:12). É absurdo supor que o Deus Criador é obrigado a receber ordens de uma criatura humana, Maria.

A amostragem das declarações acima são suficientes para mostrar que a distinção teórica entre a adoração à Deus e a veneração à Maria, quase não existe no nível experiencial de católicos devotos. Parte do motivo é que algumas das orações à Maria a exaltam acima do próprio Deus. O resultado final é que milhões de católicos sinceros hoje cultuam uma deusa fabricada por sua Igreja, e não o Deus da revelação bíblica.
O culto à Maria é promovido durante todo o ano, especialmente através das conhecidas Festas de Santa Maria. O calendário litúrgico católico mostra que todos os principais fatos e ficções da vida de Maria são celebrados com nada menos que 35 festas marianas. Algumas das festas anuais, como a Anunciação, a Imaculada Conceição, a Purificação e a Assunção ao céu, são a contrapartida das festas do nascimento, ressurreição e ascensão de Cristo. O objetivo é estabelecer um paralelo inconfundível entre Maria e Cristo, que conduz finalmente os católicos devotos ao culto de Maria como um ser semi-divino.

Conclusão

Nosso estudo dos dogmas e ensinamentos marianos proclamados ao longo dos séculos pela Igreja Católica, revelaram que tem havido uma elevação gradual e crescente de Maria para o mesmo lugar de Jesus Cristo. As estratégias subjacentes à promulgação dos dogmas marianos foi provar que Maria compartilha as qualidades e funções similares a do próprio Senhor.

Ao proclamar a virgindade perpétua de Maria, sua imaculada concepção, sua assunção corporal aos céus, seu papel como mediadora celestial, Co-redentora e dispensadora de graças, a Igreja Católica tem promovido uma veneração popular à Maria, que ultrapassa de longe a adoração de Cristo. Isto é evidente, como já vimos, em algumas das orações a Maria que mostram a extraordinária influência que ela exerce no seio da Trindade.

A implicação mais grave da veneração à Maria, que os católicos devotos experimentam como adoração real, é que ela diminui a majestade de Cristo e da honra devida somente a Ele.. Cada exaltação a Maria, em última análise resulta na depreciação de Cristo. Ao exaltar a mãe humana de Jesus como um canal celestial de intercessão e de redenção, a Igreja Católica está obstruindo e tornando desnecessário, o acesso imediato dos crentes ao ministério redentor de Cristo no santuário celestial.

A ordem e promessa do Senhor a quem é enganado pelos enganosos ensinos e práticas marianas é clara: ““saiam do meio deles e separem-se”, diz o Senhor. “Não toquem em coisas impuras, e eu os receberei” “e lhes serei Pai, e vocês serão meus filhos e minhas filhas”, diz o Senhor todo-poderoso” (2 Coríntios 6:17-18).

Referências

49. http://zenit.org/article-17236?l=english
50. Munificentissimus Deus, Selected Documenst of Pope Pius XII (Washington, 19? ), p. 45.
51. Ibid., p. 47.
52. Catechism of the Catholic Church (note 11), p. 252, paragraph
53. Henry Denzinger (note 31), p. 647, no. 2331.
54. Richard N. Osling, “Cover Stories: Handmaid or Feminist?” Time (Monday, December 30, 1991).
55. Ibid.
56. www.webdesk.com/catholic/prayers/litany-of-the-blessed-virgin-mary.html
57. www.clai.org.au/articles/sasse/marypope.htm
58. Ibid.
59. Ludwig Ott (note 12), p. 208.
60. Eamon Duffy, What Catholics Believe About Mary (1989), p. 17.
61. Ludwig Ott (note 12), p. 209 .
62. Ibid.
63. Epiphanius, Panarion Haereses 78.10-11, 23. Cited by Juniper Carol, O.F.M. ed., Mariology (1957), vol. 2, pp. 139-140.
64. Juniper Carol (note 63), vol. 1, p. 150.
65. Karl Rahner, The Mother of Our Lord (1963), p. 16.
66. Pope Gelasius 1, Epistle 42, Migne Series, M.P.L. vol. 59, col. 162.
67. Henry Denzinger (note 31), p. 70.
68. Migne Series, vol. 62. cols. 537-542.
69. Gregory Dix, The Shape of the Liturgy (1947), p. 376.
70. www.religioustolerance.org/mary_cor.htm
71. Ludwig Ott (note 12), p. 211.
72. Ibid., pp. 212-213.
73. Elliot Miller and Kenneth R. Sample (note 42), p. 50.
74. Lumen Gentium 61-62.
75. Catechism of the Catholic Church (note 11), p. 251, paragraph 964.
76. bid., p. 252, paragraph 969.
77. Lumen Gentium #57
78. Insegnamenti di Giovanni Paolo II ( 1982), vol. 1, p. 404.
79. Ibid., vol. 1, p. 318-319.
80. Insegnamenti di Giovanni Paolo II ( 1991), vol. 2, p. 756.
81. Salvifici Doloris #25.
82. L’Osservatore Romano, weekly edition in English, (June 22, 1994), vol. 1347, p. 11.
83. Ludwig Ott (note 12), p. 212.
84. Ibid., p. 213.
85. Ibid., p. 214.
86. Catechism of the Catholic Church (note 11), p. 127, paragraph 501.
87. Mark Mirvalle, Introduction to Mary: The Heart of the Marian Doctrine and Devotion (1993), p. 12.
83. Ludwig Ott (note 12), p. 215.
89. Ibid.
90. Norman Geisler and Ralph E. MacKenzie (note 44), p. 322.
91. Novena Prayers in Honor of Our Mother of Perpetual Help (Sisters of St. Basil, 1968), p. 16.
92. Ibid., p. 19. Emphasis supplied.
93. Alphonsus de Liguori, The Glories of Mary (Redemptionist Fathers, 1931), pp. 169, 180, 137.

Estudo de Autoria do já falecido Dr. Samuele Bacchiocchi
Professor jubilado de teologia da Universidade Andrews, publicado através da
Newsletter End Time Issues nr. 192 no site Biblical Perspectives. Crédito da Tradução: Blog Sétimo Dia http://setimodia.wordpress.com/

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