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Não dá para viver assim! Postmodern_death

segunda-feira, 13 de junho de 2011

NÃO DÁ PARA VIVER ASSIM!

Na popular série da Showtime Dexter, ficamos diante de um especialista em análise de sangue que atua junto ao departamento de polícia de Miami. Dexter Morgan leva uma vida pacata, ao lado da namorada divorciada e trabalhando no mesmo departamento que a irmã adotiva, uma investigadora. Ao mesmo tempo, Dexter é um serial killer, executando outros assassinos que não puderem ser condenados pela lei. A todo instante, a personagem tem de dissimular a fim de garantir sua sobrevivência; como um psicopata, Dexter não sente emoções, perdas ou remorsos, mas tem de manter as aparências e cumprir diversos papéis sociais, fazendo-se passar por um sujeito comum – o que, em verdade, não deixa de ser um anseio que ele possui.

Talvez o sucesso da série esteja justamente em sugerir que, de certa forma, todos nos vemos confusos, em busca de nosso próprio eu, inseguros diante de papeis contraditórios. Nossa época é marcada pela incerteza. Ela é chamada de pós-modernidade, caracterizando-se por uma negação do racionalismo auto-confiante do período anterior, a modernidade. Como chegamos a esta fase do pensamento humano?
Certamente, Friderich Nietzsche deu fundamental contribuição para que isso ocorresse. Sem dúvida, ao “anunciar a morte de Deus, Nietzsche nomeia a ruptura que a modernidade introduziu na história da cultura com o desaparecimento dos valores absolutos, das essências e do fundamento divino”, conclui uma autora. [1]

Com sua negação de valores absolutos[2], Nietzsche abre as portas para pensadores autenticamente pós-modernos, como Michel Foucault e Jacques Derrida. Se Nietzsche atirou a primeira pedra contra o edifício, eles terminaram de o demolir. Entretanto, esses pensadores não puderem mascarar algumas incoerências que carregavam.

Não dá para viver assim

Michel Foucault dizia que a verdade era apenas uma ficção defendida por aqueles que mantinham o poder. Para ele, não havia algo como certo ou errado – a própria moral era obra dos poderosos. Entretanto ele mesmo chegou a participar de lutas sociais.[3] Ademais, quando convocado por uma comissão para estudar o sistema penitenciário francês, Foucault se viu num terrível dilema: como punir os estupradores? O filósofo sustentava total liberdade quanto à sexualidade; mas se manifestações sexuais não podem ser legisladas, o que dizer do estupro? Infelizmente, Foucault não conseguiu fugir da armadilha causada pelo impasse originado em sua filosofia.[4]

Outro expoente pós-moderno, Jacques Derrida advogava a livre interpretação da linguagem, tanto a escrita, quanto a falada. Assim, uma interpretação textual jamais pode chegar à conclusão alguma![5] Contudo, Jacques Derrida sentiu-se injustiçado em um debate com John Searle por achar que em alguns pontos Searle havia mal-interpretado seu pensamento. Isso o forçou a abandonar sua defesa da livre-interpretação. [6]

Para onde nos conduz o pensamento pós-moderno? Ele hostiliza a verdade revelada; valoriza a interpretação em detrimento do conhecimento; relativiza a verdade (enfatizando a verdade comunitária, aceita por consenso geral); e se restringe à transitoriedade, admitindo uma maleabilidade nos princípios.

Por conta de seu anti-realismo, o pós-modernismo enfrenta dificuldades, porque, na prática, se torna impossível vivê-lo coerentemente: “[...] Os pós-modernos continuam a rejeitar a ilusão modernista – negam que os modelos modernistas representem a realidade – mas, por uma questão prática, admitem que os modelos continuam a servir como ‘ficções úteis’ na vida cotidiana.” [7] Na prática, como alguém já notou, “Qualquer tentativa de persuadir alguém a adotar o relativismo assume o absolutismo.” [8] Podemos resumir a incoerência do pós-modernismo da maneira como se segue:

1. Ao afirmar que não há uma verdade absoluta, o pós-modernismo faz, paradoxalmente, uma afirmação absoluta;
2. Nenhum sistema filosófico pode ser sustentável se possui contradição interna;
3. Logo, o pós-modernismo não é sustentável. [9]

Retorno à Verdade

Se temos de retornar à verdade para dar sentido à existência, a qual verdade retornaremos? Se há tantas visões de mundo, como garantir qual delas seja a correta? Ravi Zacharias nos oferece alguns critérios para aquilatar as propostas de qualquer cosmovisão: “O senso comum diz que ao estabelecer a convicção em uma crença, fazemos mais do que oferecer um desejo do coração ou apresentar alguns elementos isolados das credenciais daquele que faz as reivindicações, com as quais saltamos para conclusões grandiosas. A verdadeira defesa de qualquer reivindicação deve também lidar com as evidências que a questionam ou contradizem. Em outras palavras, a verdade não é somente uma questão de ofensiva, no sentido de fazer algumas afirmações. É também uma questão de defesa, no sentido de que deve ser capaz de dar uma resposta racional e sensível aos argumentos contrários que são suscitados.” [10] Nas palavras de Adela Cortina, “se a fé pretende ser comunicável, deve possuir uma base de argumentação que possibilite o diálogo e destrua a desconfiança que produz sua resistência a deixar-se examinar pela razão.” [11] Isso vale para qualquer fé (crença).

Uma visão de mundo tem de ser avaliada pela forma abrangente como interpreta a realidade, bem como pela suficiência e coerência das respostas que provê a perguntas sobre fundamentação de valores morais, destino final da humanidade, razão de nossa existência, etc. É claro que algumas resposta podem coincidir em alguns sistemas; mas, olhando para o todo, qual visão de mundo possui proposta compatível com nosso anseio irrefreado pela beleza, pela verdade e pela justiça? Talvez seja cedo para darmos uma resposta definitiva. Todavia, mantenha a mente aberta para considerar a proposta cristã. O enfoque que daremos a seguir se propõe a evidenciar quão completa é a cosmovisão do cristianismo.


1. Anelise Pacheco, Das estrelas móveis do pensamento: ética e verdade em um mundo digital (Rio de Janeiro, RJ: Civilização brasileira, 2001), p. 149.
2. Friderich Nietzsche, Vérité et mensonge au sens extra-moral (Paris: Actes Sud. 2002.), p. 181-182, citado em Rafael Haddock-Lobo, Uma brisura: Derrida às margens de Nietzche, disponível em http://www.unirio.br/morpheusonline/Rafael%20Haddock.htm .
3. Norman Gulley, Christ is coming! (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, 1998), p. 32. Gulley segue Schaeffer neste ponto.
4. Nas palavras do próprio Foucault: “[...] por um lado, será que a sexualidade pode ser submetida, na realidade, à legislação? De fato, será que tudo o que diz respeito à sexualidade não deveria ser posto fora da legislação? Mas, por outro lado, o que fazer com o estupro, se nenhum elemento concernente à sexualidade figura na lei ? Eis a questão que eu formei. [...] nesse domínio havia um problema que se deveria discutir, e para o qual eu não tinha solução. Eu não sabia o que fazer com ele, é tudo.” Entrevista com Michel Foucault com J.François e J. de Wit, 22 de Maio de 1981. Citado em Manoel Barros de Motta (org.), Michel Foucault: a problematização do sujeito: Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise (Rio de Janeiro, RJ: Forense Universitária, 2010), 3ª ed., p. 340-341.
5. Stanley J. Grenz, Pós-modernismo: um guia para entender a filosofia de nosso tempo (São Paulo, SP: Vida, 2008), 2ª ed, p. 209-210.
6. Ellis, Against Deconstruction (Princeton, N.J.: University Press, 1989), p. 13-14, apud Gulley, p. 33.
7. Stanley J. Grenz, idem, p. 74.
8. Kenneth D. Boa & Robert M. Bowman Jr., An unchanging faith in a chaging world: understanding and responding to critical issues that Christians face today (Nashville, Tennessee: Thomas Nelson Publishers, 1997), p. 56.
9. Douglas Reis, Marcados pelo Futuro: vivendo na expectativa do retorno de nosso Senhor (Niterói, RJ: ADOS, 2011), p. 82-83. Para uma refutação mais detalhada do pós-modernismo, ver o capítulo 5 da referida obra, A verdade ou a vida?, no qual parte boa parte deste tema foi baseado.
10. Ravi Zacharias, Por que Jesus é diferente (traduzido por Josué Ribeiro. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2003), p. 75.
11. Adela Cortina, Ética mínima (São Paulo, SP: Martins Fontes, 2009), p. 231-232
.


Postado por douglas reis às 18:48 0 comentários
Eduardo
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