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"A outra face de Darwin"

Acabou o “ano de Darwin!”

Todavia, certamente não se irão os aplausos solenes, os cortejos servis, as bajulações excessivas e os louvores não fingidos ao “homem que teve a idéia mais brilhante do mundo.” Não me lembro de um vulto histórico que tenha recebido tantas homenagens quanto o naturalista Charles Darwin, em seu 200º aniversário.

Ele não descobriu remédios para curar enfermidades, não criou leis para diminuir as desigualdades sociais entre os homens, não elaborou projetos para o bem estar das sociedades, não se engajou em prol da harmonia entre os povos, não inventou máquinas para ajudar as pessoas nos seus labores diários, não formulou conceitos a partir dos quais a guerra e a violência fossem suprimidas do convívio humano, não trouxe, enfim, nenhuma contribuição realmente significativa para as práticas médicas, no entanto, ainda assim foi aplaudido como um grande libertador. Por quê?

Simples. Darwin “revolucionou” a moral humana, “destronando” o homem de seu “pedestal divino”, “mostrando” sua "ínfima origem" e aniquilando a pretensão religiosa de um ser maravilhosamente coroado por Deus. Ou seja, a grande e espetacular contribuição de Charles Darwin ao mundo está pautada essencialmente em questões de natureza filosófica, e não naquilo que se pode testar em tubos de ensaio no laboratório. Daí todo esse interesse por sua vida e obra.

Se as homenagens dadas a Darwin fossem realmente conseqüências de suas realizações científicas, o mesmo deveria ser feito, por exemplo, em relação a Isaac Newton, Louis Pasteur, Antonine Lavoisier, Albert Sabin entre outros grandes cientistas, esses sim que tornaram o mundo muito melhor com suas descobertas. Aliás, Darwin nada fez que Wallace não tenha feito. A sua única “vantagem” foi ter nascido num berço de ouro e de ter conquistado a simpatia da Academia mediante seu status social na sociedade inglesa. Não fora isso, o pobre Wallace também teria sua hora vez, assim como teve “Augusto Matraga” ((rs)).

Bem, mas aqui a gente mata a cobra a mostra a cobra!

Inicio o ano desmascarando mais uma vez essa a falsa imagem de um Darwin que lutou por “uma causa sagrada”. Não tenciono, é claro, desmerecer os feitos filosóficos deste naturalista. Absolutamente. Também seria muita ingenuidade buscar desprestigiar a Teoria da Evolução por meio do que se segue. De forma alguma. Meu único objetivo e tentar, ainda que inutilmente, mostrar nesse banal blog da Internet, a outra face de Darwin.

Certa feita, quando debatia acerca das intenções racistas de Darwin, um desses seus apaixonados admiradores, acusou-me de “
obsessão religiosa recalcada e iracunda”. Vá lá, todos tem sua própria “obsessão”: futebol, política, religião etc. A minha é descer a lenha em ideologias travestidas de ciência, como é o caso de certa vertente darwinista.

Bom, mas a questão que vou tratar é: teve Darwin aspiração eugenista? Ou será que apenas nutria de um racismo bem próprio à época?

Uma das besteiras mais comuns da galera de Darwin quando na sua defesa, diz respeito a falso argumento da “unanimidade”. – Darwin - dizem eles - era tão racista quanto qualquer outra pensador que viveu naquele instante histórico. Mas não preciso ir muito longe para desfazer essa falsa retórica. Machado de Assis fora contemporâneo de Darwin e, no entanto, jamais defendeu qualquer postura racista. – Ah, porque ele era mulato! Mas o racismo não se manifesta apenas em relação ao negro. O racismo de Hitler, por exemplo, era contra seu próprio povo considerado “inferior” por ser judeu. Ademais, temos ainda aqui no Brasil o grande exemplo de Castro Alves, autor do estupendo “Navio Negreiro”:

Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!


A seguir, vou postar um texto-base de autoria de Charles Darwin, e a partir dele farei menção de quatro autores, todos abordando o assunto em questão.


CHARLES DARWIN – EM “A ORIGEM DO HOMEM”:
"O homem analisa escrupulosamente o caráter e a ascen­dência dos seus cavalos, do seu gado e dos seus cães antes de acasalá-los; mas, quando chega a época das núpcias, ra­ramente ou nunca toma semelhante cuidado. Ele é levado por motivos quase análogos àqueles dos animais inferiores, quando são entregues à sua livre escolha, embora seja tão superior a eles que pode avaliar altamente as qualidades mentais e as virtudes. Por outro lado, sente forte atração pela simples riqueza ou pela posição. Todavia, mercê da se­leção, ele poderia de algum modo agir não só sobre a estru­tura física e a conformação óssea da sua prole, mas sobre as suas qualidades intelectuais e morais. Ambos os sexos de­veriam abster-se do matrimónio se acentuadamente fracos no corpo e na mente; mas estas esperanças são utópicas e nunca serão concretizadas nem mesmo parcialmente, enquanto as leis da hereditariedade não forem conhecidas amplamente. Todo aquele que prestar alguma ajuda para se colimar este fim estará fazendo obra boa. Quando os princípios da pro­criação e da hereditariedade forem melhor conhecidos, não ouviremos mais alguns membros ignorantes da nossa legisla­tura rejeitar com desprezo um plano que tente a verificar se o matrimónio entre consanguíneos é ou não prejudicial ao homem.

O progresso do bem-estar do g
énero humano é um pro­blema mais complexo: todos aqueles que não podem evitar a pobreza para os próprios filhos deveriam evitar o matrimó­nio; na verdade, a pobreza não só representa um grande mal, mas tende ao próprio incremento, levando à desconsideração do matrimónio. Por outro lado, Galton observou que, se o prudente evita o matrimónio enquanto que o incauto se casa, os membros inferiores tendem a suplantar os membros me­lhores da sociedade. Como qualquer outro animal, o homem sem dúvida chegou à sua atual condição elevada através de uma luta pela existência, devida ao seu rápido progresso; se deve progredir ainda mais, teme-se que deva estar sujeito a uma dura batalha. Se assim não fosse, chafurdaria na indo­lência e os mais dotados não teriam mais êxito na luta pela vida do que os menos dotados. Por isso a nossa natural taxa de aumento, embora leve a muitos prejuízos óbvios, não deve ser de algum modo muito reduzida. Deveria estar aberta a competição para todos os homens; e com as leis e os costu­mes não se deveria impedir que os mais capazes tivessem melhor êxito e que criassem o maior número de filhos. Por mais importante que a luta pela existência tenha sido e ainda continue sendo, contudo no que diz respeito ao desenvolvi­mento das qualidades mais elevadas da natureza humana exis­tem outros fatores mais importantes. Com efeito, as quali­dades morais progrediram, tanto direta como indiretamente, muito mais por efeito do hábito, das faculdades raciocinantes, da instrução, da religião, etc., do que pela seleção natural; muito embora a esta última se possam com segurança atribuir os instintos sociais, que constituíram a base para o desenvol­vimento do senso moral.

A conclus
ão principal a que se chegou nesta obra, isto é, a de que o homem descendeu de alguma forma menos orga­nizada, nem sequer gosto de pensar, desagradará bastante a muitos. Mas dificilmente podemos duvidar que não tenhamos descendido de bárbaros. Jamais esquecerei o espanto que tive quando pela primeira vez vi uma reunião de fueguinos numa praia selvagem e impérvia, diante da ideia que logo me veio à mente — assim eram os nossos antepassados. Esses homens estavam completamente pelados e tinham o corpo pintado, com os longos cabelos emaranhados, as bocas espu­mavam de excitação e tinham uma expressão selvagem, apa­vorada e cheia de suspeita. Malmente tinham alguma arte e viviam como animais selvagens daquilo que conseguiam capturar e eram impiedosos com o que não fosse da sua tribo. Quem tiver visto um selvagem em sua terra nativa não sentirá muita vergonha se for constrangido a reconhecer que em suas veias corre o sangue das mais humildes criaturas. Quanto a mim, quisera antes ter descendido daquela pequena e heróica macaquinha que desafiou o seu terrível inimigo para salvar a vida do próprio guarda; ou daquele velho babuíno que, des­cendo da montanha, levou embora triunfante um companheiro seu jovem, livrando-o de uma matilha de cães estupefatos, ao invés de descender de um selvagem que sente prazer em tor­turar os inimigos, que encara as mulheres corno escravas, que não conhece o pudor e que é atormentado por enormes su­perstições.

Releva-se ao homem se sente algum orgulho por ter gal­gado, embora n
ão por méritos próprios, o cume da escala dos viventes; e o fato de ter-se elevado desta maneira, ao invés de ter sido colocado ali desde as origens, pode permitir que se embale na esperança de um destino ainda mais elevado num futuro longínquo. Mas acontece que aqui não nos ocupa­mos de esperanças e de temores e sim apenas da verdade, pois a nossa razão nos permite descobri-la e para tanto apresentei provas dentro do máximo das minhas capacidades.


Contudo, cumpre que reconhe
çamos — pelo menos é o que me parece — que o homem, com todas as suas nobres qualidades, com a "simpatia" que experimenta pêlos mais in­fortunados, com a benevolência extensiva, não somente a todos os homens-, mas às mais humildes criaturas viventes, com o seu intelecto quase divino que penetrou nos movimen­tos e na estrutura do sistema solar, com todos estes enorme? poderes — cumpre reconhecer que ele traz ainda na sua es­trutura física a marca indelével da sua ínfima origem."

Fonte:
CHARLES DARWIN. “A Origem do Homem e a Seleção Sexual”. Tradução: Attílio Cancian e Eduardo Nunes Fonseca. Hemus Livraria Editora LTDA. São Paulo, 1974, p. 710-712.

COMENTÁRIOS:

1 – NÉLIO BIZZO (darwinista professor da Universidade de São Paulo), EM "O QUE É DARWINISMO":

“A idéia de
que o darwinismo era uma doutrina que se aplicava apenas aos seres vivos não-humanos é outra versão absolutamente incorreta. No Origem das Espécies, Darwin passa comodamente ao largo das implicações de sua teoria com o homem. No entanto, no seu Origem do homem, ele penetra na questão e aí, suas opiniões deixam pouca margem de dúvida.

Darwin
e seu primo Francis Galton, juntamente com uma série de pensadores seus contemporâneos, acreditavam que a “raça” humana poderia ser melhorada se fossem evitados “cruzamentos indesejáveis”. A sociedade era vista com uma clara divisão: de um lado, os membros “superiores”, sadios, inteligentes, ricos e, obviamente, brancos; do outro lado, os membros “inferiores”, mal nutridos, doentes, pobres, de constituição racial duvidosa. Estes deveriam ser impedidos de se reproduzirem, pois acabariam por “rebaixar toda a raça”. A evolução biológica do homem poderia ser “acelerada”, limitando-se os mesmos rituais de seleção “vistos” na natureza. Os mais aptos, evidentemente, estavam entre os indivíduos das classes dominantes.

Darwin
chegava até a prever a completa extinção de raças inteiras, consideradas “inferiores”. Escreveu pouco antes da morte, numa carta de 1881: “Eu poderia esforçar-me e mostrar o que a seleção natural fez e ainda faz para o progresso da civilização, mais do que aquilo que pareceis admitir.Lembrai-vos do perigo que correram as nações européias, alguns séculos atrás, de serem esmagadas pelos turcos e de quanto este idéia nos parece ridícula hoje em dia. As raças mais civilizadas, que chamamos de caucásicas, bateram os turcos em campo raso na luta pela existência. Fazendo um relance sobre o mundo, sem olhar num porvir muito longínquo, quantas raças inferiores serão em breve eliminadas pelas raças que têm um grau de civilização superior!”
Se lembrarmos do jovem naturalista na Austrália, veremos que era exatamente este o raciocínio que utilizou para prever o futuro do canguru: seria dizimado pelos magricelas galgos ingleses. Se esta previsão estava errada, desgraçadamente Darwin acertou com relação aos “civilizados”: assassinaram impiedosamente os povos primitivos que não aceitaram a submissão ao seu domínio.



No Origem do homem, deixava muita claras suas posições racistas:

"A seleção permite ao homem agir de
modo favorável, não somente na constituição física deseus filhos, mas em suas qualidades intelectuais e morais (sic). Os dois sexos deveriam ser impedidos dedesposarem-se quando se encontrassem em estado deinferioridade muito acentuada decorpo ou espírito”. E mais adiante: Todos aqueles que não podem evitar uma abjeta pobreza para seus filhos deveriam evitar dese casar, porque a pobreza não é apenas um grande mal, mas ela tende a aumentar; (...) enquanto os inconscientes se casam e os prudentes evitam o casamento, os membros inferiores da sociedade tendem a suplantar (em número) os membros superiores. Como todos os animais, o homem chegou certamente ao seu alto grau dedesenvolvimento atual mediante luta pela existência, que é conseqüência desua multiplicação rápida; e, para chegar a um mais alto grau ainda, é preciso que continue a ser mantida uma luta rigorosa (...). Deveria haver concorrência aberta para todos os homens e dever-se-iam fazer desaparecer todas as leis e todos os costumes que impedem os mais capazes deconseguir seus objetivos e criar o maior número possível decrianças.

O grande Charles
Darwin não declara expressamente a que grupo pertencia. Mas pelo fato de ter tido dez filhos e de ser uma pessoa rica, deduz-se facilmente...

É comum dizer-se que
Darwin não afirmou que o homem descendia do macaco. Darwin dizia coisa muito pior. Seu racismo não o abandonava. Afirmava que o homem descendia dos selvagens! E não parava aí. Dizia que preferia descender de um forte e valente macaco, do que ter um desses selvagens como ancestral.

A aplicação de
sua teoria ao homem, ou, mais propriamente, e extensão ao organismo humano dos valores burgueses de propriedade privada e acumulação, resultou no que se chamou eugenia. O melhoramento da raça através de recomendações da eugenia eram os ideais do nazismo. O Estado Nazista não era portanto nada mais do que um Estado capitalista onde a melhoria do corpo dos cidadãos fazia parte da estratégia global de aumento do produtividade.

Hitler garantia procriação aos cidadãos alemães e possuíssem cabelos loiros, boa estrutura, queixo bem formado, nariz fino a arrebitado, olhos claros e profundos e pele rosado. Os homens selecionados poderiam ingressar na tropa de
elite, a SS, e poderiam ter o número de filhos que desejassem, sem precisar casar. O Estado cuidaria de criar e educar tais crianças, segundo os ideais do nazismo. A trajetória do nazismo é bem conhecida. As Câmaras de gás e os seis milhões de assassinatos, também... O que pouco se fala é que os Estados Unidos também adotavam políticas eugenistas na mesma época...”.

Fonte:
Nélio Marco Vizenzo Bizzo: “O que é Darwinismo” – Editora Brasiliense – páginas: 67 a 712.


2 - MARCEL BLANC, EM "OS HERDEIROS DE DARWIN":
"A eugenia (como vimos no primeiro capítulo) foi uma doutrina fundada em 1883 pelo primo de Darwin ,Francis Galton (1822-1911). Tinha como objetivo aperfeiçoar a raça (leia-se raça superior) encorajando a reprodução dos indivíduos mais dotados (leia-se os inventores, os dirigentes, etc.), e desencorajando a dos menos aptos. As ligações do darwinismo social com o racismo científico foram meticulosamente elaborados pelo antropólogo francês Georges Vacher de Lapouge (1854-1936), que publicou, notadamente, uma obra intitulada L' Aryen. Para ele, o sucesso social estava relacionado ao fato de se pertencer a uma raça, e as raças eram desiguais, algumas superiores, como os arianos, outras inferiores (judeus, negros, etc.).

Vacher de Lapouge criticava o darwinismo social e é preciso reconhecer que alguns trabalhos de Darwin caminhavam no sentido do racismo científico.

Um bom número de biólogos atuais dificilmente o aceitam e chegam a negá-lo pura e simplesmente. No entanto, mesmo o título completo da principal obra de Darwin é por demais explícito:
Sobre a origem das espécies por meio da seleçãoção natural ou a preservação das raças favorecidas na luta pela existência. E em The Descent of Man, algumas passagens são claras.

Darwin escreveu neste livro que existe uma hierarquia das raças, com as inferiores sendo representadas pêlos selvagens (os negros da África e da Oceania; os índios da América do Sul, etc.); as superiores pêlos civilizados, com as nações européias representando o topo da civilização, segundo a expressão do próprio Darwin. E acrescenta: foi a evolução por meio da seleção natural que conduziu imperceptivelmente, por gradações sucessivas, raças inferiores a superiores.

Reconhece-se aqui a aplicação dessa teoria evolucionista, por ele estabelecida, ao homem: a transição gradual
de um tipo de população a outro, mais evoluído. De acordo com ele, em todos os estágios da evolução da espécie humana, sempre houve duas categorias de seres humanos: os intelectualmente superiores e os inferiores. Desde a pré-história, os primeiros sempre tiveram mais sucesso em todas as atividades e deixaram um número maior de filhos.

Foi assim que a inteligência humana progrediu e que as raças superiores foram formadas.
Aliás, nessa obra, Darwin reconheceu que seu primo Galton tinha razão: nas nações mais civilizadas, comete-se o erro de contrariar o processo de eliminação pela seleção natural com a instituição de diversas formas de auxílio aos pobres, de hospitais para os doentes, etc. ("nossos médicos vão inclusive fazer o melhor possível para salvar qualquer pessoa", impressiona-se)”.

E nas últimas páginas
de The Descent of Man, Darwin apregoa de modo totalmente explícito sua adesão aos ideais eugenistas de seu primo: "Os membros tantodeum sexo comodeoutro deveriam abster-sedese casar em casodeinferioridade manifesta no corpo ou no espírito." Alfred Russel Wallace disse, aliás, que em uma de suas últimas conversas com Darwin (antes de sua morte) este teria expresso um ponto de vista pessimista quanto ao futuro da humanidade: Se Darwin foi incontestavelmente um darwinista social, um racista científico e um eugenista convicto, a posteridade dessas doutrinas revelou-se sinistra (e é sem dúvida por isso que muitos cientistas abominam a idéia de associar Darwin a essas correntes). Em nome da eugenia, esterilizou-se nos Estados Unidos, entre 1900 e 1940, quase 36 mil pessoas: doentes mentais, todos os tipos de desviados (marginais, vagabundos, etc.) ou, de modo mais geral, pessoas que tiveram o azar de encontrar-se sem recursos e viram-se internadas em algum hospital psiquiátrico por alguma (má) razão.

Mas muitos outros países democráticos também conheceram ondas de
esterilização antes da Segunda Guerra Mundial, pela instigação das ligas eugenistas a que se associavam um bom número dos neodarwinistas mais eminentes (como por exemplo, o matemático R. Fisher, da Grã-Bretanha).

Sabemos que as teorias de
Vacher de Lapouge e de Galton foram especialmente retomadas por Hitler e pêlos ideólogos nazistas como bem entenderam (o darwinismo social, por sua vez, foi propagado na Alemanha a partir do final do século XIX pelo discípulo alemão de Darwin: Ernst Haeckel, biólogo ainda de grande renome). Sem dúvida, não é exagerado dizer que o Estado racial desejado por Hitler, assim como sua doutrina da luta das raças, que culminou com o genocídio de judeus e de ciganos, deve uma boa parte de seus fundamentos ao darwinismo social, à eugenia e ao racismo científico”.

Fonte:
Marcel Blanc: “Os Herdeiros de Darwin”. Editora Scritta. São paulo, 1994, p. 184-187.


3 - JOSÉ OSVALDO DE
MEIRA PENNA (ex-professor da Universidade de Brasília (UnB) de 1982 a 1989, autor de, entre outros: “Nietzsche e a Loucura”): EM “POLEMOS: UMA ANÁLISE CRÍTICA DO DARWINISMO”:

“Em A descendência do homem e a seleção sexual, que apareceu pela primeira vez em 1871, Darwin
expressa opiniões similarmente notáveis que resumem sua postura filosófica quanto ao problema da seleção e da contra-seleção, aplicadas ao homem. O eugenismo aí está implícito. O eugenismo e a crítica a certos efeitos anti-seletivos da civilização moderna - argumentos que serão, futuramente, aproveitados de modo peculiar. Vejamos o que diz o biólogo:

Com os selvagens, os indivíduos fracos de corpo e de espírito são prontamente eliminados e os sobreviventes não tardam, ordinariamente, a se fazer notar por sua saúde vigorosa. No que diz respeito a nós, homens civilizados, fazemos pelo contrário todos os esforços para deter a marcha da eliminação; construímos hospitais para os idiotas, os achacados e os doentes; fazemos leis que prestam assistência aos indigentes; nossos médicos esforçam-se com toda a sua ciência para prolongar ao máximo a vida de cada um... Os membros mais débeis podem assim reproduzir-se indefinidamente. Ora, quem quer que se tenha ocupado da reprodução dos animais domésticos sabe, sem dúvida, como essa perpetuação dos seres débeis deve ser prejudicial à raça humana. Nosso instinto de simpatia nos induz a socorrer os infelizes. A compaixão constitui um dos produtos acidentais que adquirimos, no princípio, do mesmo modo como os outros instintos sociais de que faz parte. A simpatia, aliás, tende sempre a tornar-se mais larga e mais universal. Não saberíamos restringir nossa simpatia, mesmo se admitirmos que a razão inflexível disso fizesse uma lei, sem prejudicar a parte mais nobre de nossa natureza...

Devemos portanto sofrer, sem nos queixar, os efeitos incontestavelmente perversos que resultam da persistência e da propagação dos seres débeis. Parece, contudo, que existe um freio a essa propagação, no sentido
de que os membros malsãos da sociedade se casam menos facilmente do que os membros sãos. Esse freio poderia ter uma eficácia real se os fracos de corpo e de espírito se abstivessem do casamento. Mas é isso uma situação que é mais fácil desejar do que realizar”.
Em outros trechos, parece Darwin lamentar que o homem civilizado procure anular, graças à medicina, o processo de eliminação dos inferiores. A vacina descoberta por Pasteur e Jenner estava preservando milhares cuja constituição franzina teria sucumbido à varíola ou à peste. "Assim os mem¬bros fracos da sociedade civilizada se propagam" e "ninguém duvida que isso é prejudicial à raça do homem". Comparando essa prática com a iniciativa inteligente do próprio homem quando domestica os animais, Darwin estava, sem se dar conta, lançando as bases de uma concepção de eugenismo radical que encontraria sua suprema e mais terrível expressão no racismo nazista”.

Não seria Hitler darwinista? E Himmler, e Rosenberg, e Mengele e os SS também?

Aliás, o próprio Nietzsche, tão infenso ao nacional-socialismo estatizante alemão, também escreveria na coletânea do Wille zur Macht que, para gerar o super-homem, seria necessário "formar o homem futuro pela educação seletiva (Züchtung) e, por outro lado, aniquilar milhões de
malogrados".

Naquela obra, em seus aforismos 397 e 398, Nietzsche volta repetidamente ao tema eugenista. Sabemos que o eugenismo hitleriano adotou metodicamente o programa e que. mesmo antes do Holocausto e do início da guerra em 1939, já estava esterilizando e, mais tarde, assassinando em massa os imbecis, os mentecaptos, os doentes incuráveis, os homossexuais e os incapacitados de
várias espécies.

A eugenia justificou o genocídio: os cálculos variam entre 11 e 26 milhões de
massacrados das raças ditas "inferiores" -judeus, russos, poloneses, ciganos, iugoslavos, etc”.

Fonte:
JOSÉ OSVALDO DE MEIRA PENNA. “Polemos: uma análise crítica do darwinismo. Editora UnB (da Universidade de Brasília). Brasília, 2006, p. 235, 236.


4 – DENIS BUICAN (professor na Universidade de Paris X e doutor em Ciências Naturais e Ciências Humanas pela Sorbonne): EM “[i]DARWIN E O DARWINISMO
”:

Para Darwin, a jóia da civilização europeia é o mun­do anglo-saxão: "A superioridade notável que tiveram, so­bre outras nações europeias, os ingleses, como coloniza-dores, superioridade atestada pela comparação dos pro­gressos realizados pêlos canadenses de origem inglesa com os de origem francesa foi atribuída à sua 'energia persistente e à sua audácia'; mas quem poderia dizer como os ingleses adquiriram essa energia? Certamente, há muita verdade na hipótese que atribui ã seleção na­tural os maravilhosos progressos dos Estados Unidos, assim como o caráter de seu povo; os homens mais cora­josos, mais enérgicos e mais empreendedores de todas as partes da Europa emigraram durante as dez ou doze últimas gerações, para irem povoar esse grande país e lá prosperaram."

Assim, Darwin volta
à sua teoria da seleção natu­ral, para explicar o progresso da humanidade e dos po­vos: "Se não tivesse sido submetido à seleção natural durante os tempos primitivos, o homem, certamente, nunca teria atingido a posição que ocupa hoje. Quando vemos, em muitas partes do mundo, regiões extremamen­te férteis, povoadas por alguns selvagens errantes, en­quanto poderiam alimentar numerosas famílias próspe­ras, inclinamo-nos a pensar que a luta pela existência não foi suficientemente rude para forçar o homem a atin­gir seu estado mais elevado."

Falando da a
ção da seleção natural sobre as nações "civilizadas", Darwin fica muito próximo das ideias de Wallace e Galton, isto é, da eugenia: "Entre os selvagens, os indivíduos fracos de corpo ou de espírito são pron­tamente eliminados, e os sobreviventes são geralmente notáveis por seu vigoroso estado de saúde. Quanto a nós, homens civilizados, fazemos, ao contrário, todos os es­forços para deter a marcha da eliminação; construímos hospitais para os idiotas, os inválidos e os doentes; fa­zemos leis para ajudar os indigentes; nossos médicos utilizam toda a sua ciência para prolongar, tanto quanto possível, a vida. Podemos crer que a vacina preservou milhares de indivíduos que, fracos de constituição, te­riam outrora sucumbido à varíola. Os membros débeis das sociedades civilizadas podem, pois, reproduzir-se in­definidamente. Ora, quem trata de reprodução de ani­mais domésticos sabe perfeitamente quanto essa perpe­tuação dos seres débeis deve ser nociva à raça humana".

Apesar desse temor pela descend
ência do homem, na ausência da seleção natural, Darwin, moderado por uma concepção humanista, não leva seu raciocínio até um eugenismo exacerbado, pois, diz ele, abandonando os fra­cos e os inválidos, "só poderíamos ter em vista uma van­tagem eventual, às custas de um mal presente, conside­rável e certo. Devemos, pois, suportar sem nos queixar­mos os efeitos incontestavelmente maus, que resultam da persistência e da propagação dos seres débeis. Parece, todavia, que existe um freio para essa propagação, pois os membros doentios da sociedade se casam menos fa­cilmente que os membros sãos. Esse freio poderia ter uma eficácia real, se os fracos de corpo e de espírito se abstivessem do casamento; mas esse é um estado de coi­sas que é mais fácil desejar que realizar".

Fonte:
DENIS BUICAN. “Darwin e o Darwinismo”. Jorge Zahar Ediror. Rio de Janeiro, 1987, p. 66-67.

É isso!
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Eduardo
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